Read online book «Meu Irmão E Eu» author Paulo Nunes

Meu Irmão E Eu
Paulo Nunes
"O bilionário Gaius Barrys está com vinte e dois anos, quando resolveu escrever um livro em que narra ao leitor todos os acontecimentos de sua vida até aquele momento. De forma descontraída e simples, sua narrativa torna-se um mergulho no inferno do trauma infantil e no submundo do sexo. Não compreendendo por que determinados acontecimentos o instigam, e muito envolvido sexualmente com o belo Pablo Flores, o narrador oscila entre seu tesão e a loucura de manter um relacionamento amoroso com o homem misterioso e cheio de segredos, que o provoca a acessar lugares obscuros dentro de si mesmo. A perturbação mental o desorganiza, incitando-o a abandonar todos as convenções sociais já existentes a partir da moralidade humana. Com Gaius, o leitor de ”Meu irmão e eu” poderá descobrir nessa trama psicológica e sexual se é possível sair do inferno de uma mente atordoada depois que as portas já foram abertas e os fantasmas da psique humana foram libertos.
Um dos livros mais vendidos e lidos em amazon.com.br e Kindle App, ”Meu irmão e eu” proporciona um mergulho violento no inferno do trauma infantil e no submundo do sexo.

Resultado de dez anos de pesquisa, e quatro de escrita, o livro ”Meu irmão e eu”, do acadêmico em psicologia e escritor Paulo Nunes, expõe ao mundo a história verídica do amor mais controverso e escandaloso de todos os tempos. A todos, um recado sincero. Cuidado! É possível que o livro revele que o leitor não se conhece tão bem quanto pensa.

O bilionário Gaius Barrys está atormentado com a morte da mãe. Perdido entre lembranças e sentimentos confusos, ele busca consolo em seu irmão Marcus, que se vê incapaz de ajudá-lo. O sentimento de rejeição e a instabilidade emocional provocam nele a adrenalina da luta, a fim de aniquilar o sofrimento de qualquer forma. Enquanto Gaius se aventura na busca de ajuda e paz, Pablo orquestra seu plano de vingança contra a família Barrys. O encontro entre os dois é transformador e visceral, repleto de violências, abusos e revelações do passado. E mesmo não enxergando, a roupa do sexo serve bem aos propósitos de cada um. Presos em traumas infantis e perdas dolorosas, seus caminhos são marcados por flores secas, sangue derramado, beleza e redenção. A trama psicológica e sexual atinge seu orgasmo, quando os dois se veem provocados a decidirem se permanecem ou não no berço onde foram obrigados a viverem por suas mães. Dos porões de suas almas para a libertação, enfrentar uma sociedade convencional será o menor de seus problemas. O maior desafio será conciliar um tórrido relacionamento amoroso com os fantasmas que assombram suas mentes. A instigante narrativa de ”Meu irmão e eu” é livremente inspirada em uma história verídica, e, em outras palavras, poderia se dizer ser o casamento perfeito entre o tesão e a loucura.

Não perca a irresistível sequência de ”Meu irmão e eu” com os três próximos livros: ”Castrado”, ”Tesão e loucura”, e ”Vaidade e vômito”.

A ordem de leitura dos quatro livros da série ”Meu irmão” é:

* LIVRO UM: ”Meu irmão e eu”.
À venda em e-book desde o dia 08 de agosto de 2020 em amazon.com.br, e em papel desde o dia 08 de dezembro de 2020 em loja.uiclap.com.

* LIVRO DOIS: ”Castrado”.
À venda em e-book desde o dia 29 de abril de 2021 em amazon.com.br, e em papel desde o dia 29 de julho de 2021 em loja.uiclap.com.

* LIVRO TRÊS: ”Tesão e loucura”.
Tem previsão de lançamento em e-book e em papel até o dia 08 de agosto de 2021.

* LIVRO QUATRO: ”Vaidade e vômito”.
Tem previsão de lançamento em e-book e em papel até o dia 28 de fevereiro de 2022.

A tetralogia ”Meu irmão” é livremente inspirada em uma história verídica, e está registrada e protegida juridicamente como propriedade intelectual e de direitos autorais pertencentes exclusivamente ao autor, Paulo Nunes. Qualquer variação artística, uso indevido do texto, modalidade de plágio ou distribuição será combatido judicialmente, conforme a legislação internacional de proteção à propriedade de direitos autorais e intelectuais.


MEU IRMÃO
E EU

PAULO NUNES
Copyright © 2020 Paulo Nunes Ltda
O autor publicou a versão completa em e-book com exclusividade em Kindle Direct Publishing, unidade de publicação de livros eletrônicos da amazon.com.br, em 08 de agosto de 2020. Nenhuma versão anterior, partes ou capítulos isolados desta obra foram publicados na internet ou distribuídos gratuitamente anterior a esta data. O autor publicou a versão completa para a impressão na plataforma de autopublicação da uiclap.com em 08 de dezembro de 2020. O livro está disponível em e-book em amazon.com.br, e em papel em loja.uiclap.com.

TÍTULO ORIGINAL
Meu irmão e eu

CAPA
Ester Costa / E-mail: estercosta.capas@gmail.com
Victor Castro / E-mail: victor.castro@hotmail.com (mailto:victor.castro@hotmail.com)

PREPARAÇÃO
Paulo Nunes

REVISÃO
André Leone / E-mail: andreleonefacundo@gmail.com
Carmen Quadro / E-mail: carmenquadros@faccat.br (mailto:carmenquadros@faccat.br)
Gisela Seolino / E-mail: gisela.sb@gmail.com (mailto:gisela.sb@gmail.com)
Ítalo Moraes / E-mail: itlpsicologia@outlook.com (mailto:itlpsicologia@outlook.com)
Jards Nobre / E-mail: jardsnobre@gmail.com (mailto:jardsnobre@gmail.com)
Joney Ribeiro / E-mail: joney.goncalves@enova.educacao.ba.gov.br
Paulo Nunes / E-mail: escritorpaulonunes@gmail.com (mailto:escritorpaulonunes@gmail.com)
Ricardo Ondir / E-mail: contato@revisorondir.com (mailto:contato@revisorondir.com)
Wescley Jorge / E-mail: wescleyjorge@gmail.com (mailto:wescleyjorge@gmail.com)

DIAGRAMAÇÃO
Paulo Nunes / E-mail: escritorpaulonunes@gmail.com (mailto:escritorpaulonunes@gmail.com)
Waboo Creative / E-mail: waboocreative@gmail.com (mailto:waboocreative@gmail.com)
Wendel Conninck / E-mail: contatoabnt@gmail.com

ASIN
B08DRR7HVT

ID DE DIREITOS AUTORAIS: DA-2020-005017

ISBN: 978-65-00-13439-1

FICHA CATALOGRÁFICA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Nunes, Paulo
Meu irmão e eu / Paulo Nunes. -- 1. ed. --
Canela, RS : Paulo Nunes, 2020. -- (Meu irmão ; 1)
ISBN 978-65-00-13439-1
1. Ficção brasileira 2. Ficção de suspense
3. LGBTQIA - Siglas I. Título II. Série.
20-51243 CDD-B869.3
Índices para catálogo sistemático:
1. Ficção : Literatura brasileira B869.3
Maria Alice Ferreira - Bibliotecária - CRB-8/7964

EDIÇÃO DIGITAL E EM PAPEL
2020

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS A PAULO NUNES
E-mail: escritorpaulonunes@gmail.com (mailto:escritorpaulonunes@gmail.com)
Tel./WhatsApp: +55 54 9 9707 8071 (https://api.whatsapp.com/send?phone=+5554997078071)
Redes sociais: @escritorpn7 (https://www.instagram.com/escritorpn7/)
SUMÁRIO

CAPÍTULO UM (#ulink_5aa1eaf5-1f44-5a24-adda-d125e437aa55)
CAPÍTULO DOIS (#ulink_1d18e066-7bb7-54f2-8fce-c9f2aec9e325)
CAPÍTULO TRÊS (#ulink_a5805056-bebb-52b1-9076-0392f8393114)
CAPÍTULO QUATRO (#ulink_b9d90958-000a-5b35-ac1c-c9f5b54923ed)
CAPÍTULO CINCO (#ulink_e4fa0e14-9152-5e9e-a60f-1fb1ab563375)
CAPÍTULO SEIS (#ulink_41602307-a605-5623-ae4b-5b5528b75dbc)
CAPÍTULO SETE (#ulink_52de18dc-4b4a-5e65-ac4c-35a4bdca6e30)
CAPÍTULO OITO (#ulink_a6595e60-396a-543b-a2fe-090588c6e09d)
CAPÍTULO NOVE (#ulink_02066870-0a61-50e9-828e-d1533debe96d)
“Uma história interessante e emocionante
sobre vaidade, sexo, poder, amor e abandono.”
Gisela Seolino. Psicóloga.

“O descortinar da vida. Do que se é ao que se pode
ser ou tornar-se. Uma história envolvente que leva o
leitor a possibilidades, talvez, nunca antes imaginadas.”
Wescley Jorge. Assessor de imprensa.

“Entre paixões e o poder, uma experiência
envolvente pela vida de Gaius.”
André Leone. Geógrafo.

“Uma trama que envolve o sentimento de ambivalência e
contradição. Por que dormir com o inimigo é tão
perigoso e delicioso ao mesmo tempo?”
Gustavo Cardoso. Jornalista.

“A sexualidade, os relacionamentos e os dramas
humanos são muito bem abordados neste livro.”
Ítalo Moraes. Psicólogo.

“Falo de amor, pois só assim me sinto pleno.”
Paulo Nunes. Escritor.
Livremente inspirado em uma história verídica.

CAPÍTULO UM
Meus três homens

__________________

Alguns culparão a minha beleza. Outros não verão beleza em nada. Sinceramente, nem eu mesmo consigo dizer ao certo o que é a minha vida. Meu nome é Gaius Barrys, e resolvi escrever a minha história.
Era véspera de Natal. Estávamos todos à mesa: papai, Marcus, Núbia, Arthur e eu. A cadeira vazia da mamãe era uma lembrança constante da dor que sua morte causou a todos nós. Tentávamos aceitar que, talvez, tenha sido melhor que ela tivesse partido, embora ainda nos doesse o peito a sua ausência. Foi o primeiro Natal sem ela, e muitos outros seriam como aquele: tristes. Dispensei a sobremesa, mil-folhas recheado com creme pâtissière, e pedi licença a todos para ir ao meu quarto.
— Gaius, Emmanuelle fez a sobremesa que você mais gosta. Coma pelo menos um pouco, filho— solicitou meu pai na tentativa de manter-me mais tempo à mesa, enquanto eu arrastava a cadeira e me levantava.
— Desculpe, pai. Com licença — respondi, saindo da mesa.
Naquela noite, somente a companhia do meu travesseiro e o carinho do meu irmão podiam suavizar aquela dor que não cansava de maltratar meu coração. Já não suportava mais. Caí no choro e me entreguei à saudade e à revolta. Onde está Marcus? Onde está meu irmão? Pensei em meio às lágrimas. Ele não estava ali, mas sei que logo chegaria.
No dia seguinte à ceia, sob o tímido sol que me invadia os olhos, percebi um caminhar elegante. As imagens não eram nítidas. Havia um homem em meu quarto. Ele segurava em suas mãos algo vermelho e pendular.
— Quem é?— perguntei, ainda sonolento.
— Hora de acordar, maninho —respondeu Marcus, deitando na cama e me abraçando por trás.
— O que você trouxe?
— Uma tulipa. Sei que você gosta. Feliz Natal! Eu amo você! — e me beijou a nuca.
Não me contive, deixei escapar uma fina lágrima e solucei.
— Olhe!Sei que não está sendo fácil para você, e nem para mim, mas temos que reagir. Não pode se entregar. Olhe para mim. Mamãe não ficaria feliz se o visse assim, sofrendo tanto.
Encarei seus olhos e respondi:
— Marcus, não estou conseguindo. Não estou conseguindo! Você entende o que digo? — gritei.
—Gaius, você tem que conseguir. Nós estamos aqui. Papai, Núbia, Arthur, eu... Todos vamos ajudar você. Sei que era muito apegado à mamãe, mas ela se foi. Olhe! Deixe-me fazer uma pergunta: Você queria que ela continuasse sofrendo daquele jeito? Não foi melhor ela ter partido em paz? — questionou ele na tentativa de acalentar-me e acalmar-me.
— Por favor, abrace-me. Abrace-me, meu irmão! — e, chorando, estendi os braços para recebê-lo em meu peito.
Quando esta história que estou contando começou, meu irmão não morava em Monte Carlo. Os negócios da House’s Barrys o prendiam em Nova Iorque, embora fosse da vontade dele e da esposa morar em Mônaco conosco. Mas quando se é dono de uma das maiores redes de imobiliárias dos Estados Unidos, os deveres sempre precedem os desejos. Assim aconteceu com meu pai a vida inteira e, à época, acontecia com ele. Ele tinha vontade de estar conosco, mas não podia. Marcus estava nos visitando com a família apenas para as festas de fim de ano. Antes disso, só nos encontramos no enterro da mamãe e no início do ano, quando eu ainda morava com ele em Nova Iorque para terminar os estudos. Naquele mesmo ano, depois de concluir o colegial, resolvi sair da vida agitada de Manhattan para cuidar de mamãe, abandonando, assim, o convívio prazeroso com ele. Depois que ela morreu, precisava do meu irmão mais que nunca. E, como sempre, ele nunca hesitou em me salvar. E lamento que isso tenha mudado com o tempo.
Naquela manhã de Natal, depois de abraçar-me, Marcus me convidou para passear. Disse-me que Monte Carlo estava abarrotada de turistas por causa das festas de fim de ano. Tinha a clara intenção de me animar. Realmente, havia um agradável clima de celebração, afinal era Natal, e, também, estava fazendo calor naquele fim de ano, mesmo que estivéssemos no inverno. Depois que tomamos café, ele sugeriu que inaugurássemos o presente que eu tinha ganhado de papai há alguns dias, uma BMW Z4 preta. Meu irmão sempre foi apaixonado por carros. Então, aceitei o convite, e fomos ao Monte Carlo Beach, sentindo o vento bater em nosso rosto. Era contagiante a alegria do meu irmão, pois trocava a música, abria o capô do carro, cantava, sorria... Feliz estava igual a uma criança com brinquedo novo. Conseguiu-me arrancar algumas discretas risadas ao quase atropelar um casal de turistas. Que susto tive, meu Deus! Ele estava feliz, e eu, vendo-o tão entusiasmado, fui possuído por esse mesmo sentimento.
Chegando ao clube, fomos direto às mesas em torno da piscina. Que bom que a piscina é aquecida e coberta. Pensei. E, logo, pedimos um kir royal ao garçom. Algumas horas se passaram, enquanto conversávamos descontraidamente. Disse-me que gostaria de ter mais tempo para visitar ao papai e a mim mais vezes.
— Eu gosto daqui... Monte Carlo é melhor que Nova Iorque para se viver. Espero que possa vir morar com vocês daqui a alguns anos — disse ele.
Em suas palavras, vi-o desejoso de alguma coisa que não tivesse ligação com o trabalho, o que não era comum. Marcus era mais velho que eu, e meu único irmão. Era um homem de quem não se deveria esperar extroversão e sentimentalismos. Nunca se permitia dizer o que queria, pensava, sentia... Era formal, tímido, discreto, responsável e, talvez, misterioso, além de ser possuidor de uma beleza serena. As responsabilidades dos negócios o fizeram assim, um pouco diferente de mim. Recordo-me que, depois de almoçarmos, pedimos mais um kir e falávamos em entrar na piscina. Foi quando eu o vi. Ele vinha em nossa direção. E a sua presença mudou todo o curso daquele dia.
— Você não sabe quem está vindo até nós — comentei em voz baixa, mas sem dar tempo ao meu irmão de tentar adivinhar.
E antes que Marcus olhasse para trás, uma mão molhada tocou o seu paletó azul royal.
— Meu amigo! Não sabia que estava aqui! — exclamou Marcus ao vê-lo.
Era Aidan. E logo senti que deveria sair daquele clube o mais rápido possível. Marcus se surpreendeu, mas demonstrou estar feliz de tê-lo encontrado, sendo civilizado com ele.
— Você, por aqui? Pensei que não gostasse de Mônaco. Senta conosco? — perguntou Marcus.
— E não gosto! Mas estava entediado em Nova Iorque e resolvi passar o ano novo aqui. Olá, Gaius! — disse, olhando-me.
E, logo, sentou-se ao meu lado, depois de me beijar o rosto.
— Oi, Aidan! Como vai? — retribuí, meio envergonhado.
— Ao seu lado, bem melhor — respondeu, sorrindo.
Aidan era um velho amigo do meu irmão. Talvez, o único que teve de verdade. Estudaram o colegial juntos e moraram em Harvard no mesmo período. O pai dele tinha negócios com nossa empresa, e isso estreitou mais a sua relação conosco. Era holandês, alto, loiro, forte, másculo, belo e rico. Um bom partido para namorar. Quem olhasse, jamais imaginaria que fosse gay. A meu ver, só tinha um defeito, era obsessivo por mim. Na época em que morei em Nova Iorque, não foram poucas as vezes em que Aidan me procurou. Quase sempre se apresentava insistente e inconveniente. Como esquecer o vexame que ele me fez passar na minha festa de aniversário daquele mesmo ano, poucos meses antes daquele inesperado encontro em Monte Carlo? Lembro-me bem daquele dia. Um amigo chamado Richard convidou-me para a vernissage de um artista plástico latino. Depois, fomos jantar. Na volta, pegamos um táxi, e ele me deixou em frente ao prédio do meu irmão, seguindo para sua casa. Ao entrar no apartamento, emocionei-me:
— Parabéns pra você! Parabéns pra você!... — cantavam algumas pessoas, sorrindo e olhando para mim.
Na sala de estar estavam Marcus, Núbia, Arthur, dois ou três conhecidos do meu irmão, um garçom, e Aidan. Depois dos parabéns, dei um beijo de agradecimento em cada um. Arthur, meu sobrinho de cinco anos, segurava o bolo e dizia com voz angelical:
— Tio, tem que fazer um pedido e apagar a velinha.
Como resistir a tanta doçura deste menino? Pensei. Fiz o pedido e apaguei a vela sob aplausos discretos. Quando percebi as bebidas, a música tocando e Aidan me olhando, pensei: Preciso de Richard aqui, agora! Ele vai me salvar. Necessitava de apoio, caso Aidan aprontasse. E ele sempre aprontava comigo, principalmente em público.Tomei o celular e liguei para Richard.
— Meu irmão fez uma festa surpresa aqui em casa. Por favor, volte rápido!
Não podia deixar de dizer algumas palavras a todos, mas queria que Richard estivesse presente. Então, esperei. Passeei discretamente pelos convidados, agradecendo a presença, até chegar ao meu irmão.
— Eu amo muito você, sabia? Obrigado! — disse a Marcus, abraçando-o e beijando-lhe o rosto.
— Você sabe que papai não está aqui por causa da mamãe, não é, maninho? — justificava ele.
E, antes que eu dissesse algo, uma mão se apossou da minha cintura e pressionou meu corpo contra ela. Era Aidan.
— O seu presente. Espero que goste — disse ele.
Aidan estendeu diante dos meus olhos uma caixinha preta aveludada. No alto da caixinha, um cisne negro e um S ao lado em alto-relevo prateado chamava a atenção.
— Será o que estou pensando? — perguntei, curioso, com meio sorriso nos lábios.
— Abra-a! — respondeu, levando o copo de uísque à boca, tentando disfarçar a ansiedade.
— Ah! Não acredito! — exclamei.
Era um lindo par de abotoaduras.
— Deixe-me mostrar uma coisa — falou ele, tirando a mão da minha cintura e, por trás de mim, mostrando os cristais Swarovski & Ônix Negro nas bordas das abotoaduras.
— A vendedora me disse que é o último lançamento da marca para os homens. Imaginei que você ainda não tivesse — completou ele.
E não tinha.
— Obrigado, Aidan! Gostei muito! — disse, dando-lhe um beijo demorado no rosto, enquanto ele apertava minha cintura contra a dele, suavemente.
O presente não impressionou somente a mim. Núbia, minha cunhada, aproveitou o momento para alfinetar meu irmão.
— Nossa, Gaius! Que presente, hein? Também gostaria de ganhar um desses de vez em quando.
Nossas risadas deixaram Marcus constrangido, mas ele conseguiu se safar elegantemente:
— Claro, meu amor — comentou ele, dando um gole no champanhe, levemente envergonhado.
Núbia era uma mulher de pouco mais de trinta anos. Tinha uma estatura mediana, cabelos curtos e pretos, que combinavam com seus olhos escuros. Sua pele clara e o corpo conservado, resultado de horas de ginástica na academia e de uma alimentação balanceada, faziam dela uma mulher bela e sexy. Tinha bom gosto para se vestir. Não trabalhava, e passava parte do dia cuidando do meu sobrinho, que sofria de asma, e precisava de atenção. A beleza dela com a de Marcus faziam deles um casal admirável.
Estávamos ali, comemorando meu aniversário, enquanto bebíamos, comíamos alguns aperitivos servidos pelos garçons, e falávamos amenidades, entre uma risada e outra. Havia um clima amistoso e descontraído entre nós. Lembro-me que comentava que ainda me sentia imaturo para ir à faculdade, pois não sabia o que queria fazer. Era apaixonado por fotografias, e pensava em trilhar esse caminho profissionalmente. Não queria apressar-me, afinal estava fazendo apenas dezessete anos e ainda tinha tempo para discernir o que fazer da minha vida. Papai sempre tentou me levar para o mundo dos negócios, da administração, dos escritórios, mas, vendo a vida do meu irmão, nunca me senti atraído. E, realmente, papai nunca conseguiu o que queria. Enquanto falava, fui interrompido pela campainha.
— É Richard! Com licença — disse, dando as costas a Marcus e Aidan, caminhando até a porta.
— Meu amigo, que bom que veio. Vejo que trouxe alguém com você. Quem é? — perguntei, enquanto o abraçava.
— Este é Pablo. Este é Gaius. A festinha está animada. Nós queremos beber — respondeu, entrando no apartamento com seu amigo Pablo.
O garçom recebeu os casacos deles, e eu os levei até o meu irmão.
— Pablo, este é o meu irmão Marcus, a esposa dele, Núbia, e um amigo da família, Aidan. Bom, Richard todos vocês já conhecem, não é? — comentei, descontraidamente, fazendo as devidas apresentações.
Aproveitei que todos estavam conversando e fui em busca do garçom, e pedi:
— Por favor, desligue a música e me traga uma taça de champanhe.
Pedi a atenção de todos para o discurso.
— Um minuto, por favor. Hoje é um dia muito especial para mim...
Uma voz estridente se sobressaiu à minha, interrompendo-me. Era Aidan, visivelmente bêbado.
— Peço a todos que escutem o que eu tenho a dizer: Hoje é um dia muito importante para nós que somos amigos de Gaius. Afinal, quem não se lembra dos seus dezessete, não é? Bom, às vezes é melhor não lembrar.
As gargalhadas o interromperam, mas ele continuou mirando em meus olhos e discursando:
— Desejamos toda a felicidade do mundo a você, pois o amamos e lhe queremos bem.
Neste momento, caminhou em minha direção.
— Não é segredo para muitos aqui que gosto de você. Nunca escondi o que sinto, e sabe disso. Lamento que seus pais não estejam aqui para ouvir o que tenho a dizer. Mas quero falar diante do seu irmão: eu amo muito você, e quero passar todos os dias da minha vida ao seu lado.
Ele segurou minha mão, olhou-me com os olhos marejados e perguntou:
— Gaius, você quer namorar comigo?
Não sabia se socava a cara de felicidade de Richard ou o rosto de bobo apaixonado de Aidan, que visivelmente estava mais bêbado do que supus. Que vergonha! Que vergonha, meu Deus! Estavam todos me olhando. Alguns, surpresos. Outros, ansiosos. E eu ali, em silêncio, vendo nas expressões faciais de cada um a expectativa pela minha resposta. Os segundos tornaram-se horas, e a angústia apossava-se de mim. Bruscamente, larguei a mão de Aidan, e o encarei com raiva.
— Com licença! — e corri ao meu quarto, trancando-me.
Como num lampejo, toda essa história me veio à mente, quando vi Aidan naquela piscina em Monte Carlo. Desde aquele dia desagradável, não tinha estado com ele, pois, poucas semanas depois decidi morar com meus pais em Mônaco para cuidar da minha mãe. Ele mandou-me flores, quando soube do falecimento dela, e o cartão era o reflexo do que sentia sobre a dor da morte da minha mãe e o vexame no meu aniversário:
“Sinto muito pela sua mãe. Sinto muito pelo que aconteceu no dia do seu aniversário. Gosto de você! Aidan”.
E ele estava ali, diante de mim.
— Gaius, Gaius! Oi? — disse meu irmão.
— Sim — respondi, forçando um sorriso.
— Parece distante, maninho.
— Não. Não estou. Tudo bem.
Fiz sinal ao garçom e pedi mais um Kir na tentativa de evitar iniciar uma conversa com Aidan, embora soubesse que era impossível, pois só estávamos nós três à mesa. Marcus percebeu meu desconforto e, logo, perguntou-lhe como estava seu pai. Eles dois sempre foram bom de papo, então os deixei conversarem. Instantes depois, comentei:
— Acho que vou mergulhar.
— Você trouxe calção de banho? — perguntou Marcus.
— Se você quiser, Gaius, pode usar o meu. Na minha suíte tem tudo de que precisa — disse Aidan antes que eu respondesse.
— Você está hospedado aqui, Aidan? Por que não ficou na nossa casa? Papai gosta tanto de você — indagou meu irmão.
Aidan enrubesceu e olhou para mim.
— É que eu não sabia que você estava aqui, meu amigo. E acho que Gaius não iria querer me receber.
Olhei-o com ódio. Como ele pôde dizer isso? Que cínico, meu Deus! Pensei.
— Não se preocupe, Aidan. Nossa casa é muito grande. Nem iríamos nos encontrar. Com licença — respondi, debochado, levantando-me e saindo da mesa.
— Você quer que eu o acompanhe até a... — ofereceu-se ele.
E, antes que ele terminasse a frase, intervi:
— Não precisa! Vou sozinho!
Dei alguns passos em direção ao hall do hotel, mas ainda consegui ouvir o comentário deles dois:
— É, meu amigo, você se apaixonou por um garoto bem bravinho — disse meu irmão.
— E você acha que eu já não percebi? — respondeu Aidan.
Ouvi as risadas. E eu mesmo ri.
Ao entrar na suíte, dei de cara com A ponte japonesa pendurado na parede acima da cama. Que bálsamo! Adoro Monet, meu Deus! E com a televisão ligada também. Que desleixado! Pensei. Caminhei vagarosamente até o banheiro, apreciando a clássica decoração inspirada no estilo Luís XVI. Dois pequenos abajures, um de cada lado da cama, uma cortina de tecido grosso de cor pastel e com bordas vermelho escuro, duas poltronas aveludadas brancas e um tapete de cor dourado envelhecido, que cobria o assoalho de madeira fina, ofereciam um ar imponente ao ambiente. No banheiro, o aroma do Givenchy Gentleman me recepcionou. Será que ele só usa Givenchy porque está em Mônaco? Não importa. Pensei. Precisava de um calção. Procurei nas gavetas e achei dois, um preto de cintura larga, e um branco, de cintura ajustável. Não poderia usar o preto, era largo demais e eu iria me perder lá dentro. Sobrou-me o branco. Ainda bem que estou de cueca preta. Pensei. Tirei minhas roupas e sapatos e dispus tudo sobre a cômoda do espelho. Vesti o calção e ajustei a cintura. Realmente estou muito magro. Papai está certo. Tomei um dos pares de sandálias de dedo que estavam ao chão do banheiro e virei-me para sair. Foi quando me assustei. Oh, meu Deus! O que ele está fazendo aqui? Não acredito que estava me olhando trocar de roupa! Que ódio! Que ódio, meu Deus! Pensei. Aidan estava parado na porta da suíte, olhando-me. Meio desconcertado, com a voz gaguejando, sem decidir se seus olhos paravam em minha cintura ou em meu rosto e, coçando sua barba suavemente, disse:
— É que... eu não lhe disse que... que o calção estava na gaveta do banheiro. Você saiu tão rápido da mesa e... e eu não tive tempo. Fiquei com medo de não achar.
— Não se preocupe, Aidan. Eu achei — comentei, com indiferença, caminhando em direção à porta.
— Espere! É melhor levar uma toalha e um protetor. Você tem a pele muito branca. A piscina é coberta, mas entra sol. Eu vou pegar.
Ele passou por mim em direção ao banheiro, e eu fui ao lugar onde ele estava. Depois, entregou-me uma toalha branca e um protetor solar, comentando:
— Se você quiser, posso passar nas suas costas.
— Peço para o meu irmão. Obrigado — e dei as costas para sair, quando ele segurou meu braço e me virou de frente para ele.
— Olha, Gaius! Sei que as coisas ficaram estranhas entre nós depois do seu aniversário, mas quero que saiba que sinto muito pelo que aconteceu naquela noite. Não foi minha intenção constranger você, eu só... — falou, olhando-me com cara de arrependido.
— Você só bebeu demais e tentou forçar uma história que não existe entre nós, Aidan! E, por favor, largue o meu braço — completei, irritado, olhando-o nos olhos.
Depois que ele me soltou, dei as costas, saí da suíte e caminhei em direção ao elevador, que ficava no final do corredor. Quantos quadros bonitos, meu Deus! Este hotel tem bom gosto! Pensei. Ao lado do elevador, um grande espelho refletia a imagem de Aidan, fechando a porta da suíte e encarando minhas costas. Ele vestia somente um calção branco, seus cabelos castanhos estavam molhados e bagunçados, e seus olhos estavam cheios de luxúria. Tenho certeza, meu Deus! Ele quer fazer sexo comigo. Pensei.
Chegando à piscina, vi meu irmão ao celular. Estendi o protetor diante dele e sentei-me de costas. Marcus falava sobre negócios, enquanto espalhava o protetor solar primeiro em meus ombros, depois no meio das costas, e, por último, já perto das nádegas. Que mãos fortes têm o meu irmão! Pensei. Dei um tchauzinho a ele e mergulhei. Havia poucas pessoas na piscina, talvez três ou quatro casais, mais dois homens e algumas crianças. A água estava morna, e eu nadava de uma ponta a outra, quando uma câimbra me paralisou.
— Não acredito! Ai que dor, meu Deus! Está doendo demais! — exclamei.
A dor era insuportável, e eu fiquei paralisado no meio da piscina na esperança de ela me deixar. Mas não passava e eu fazia cara feia, quando vi que dois homens me olhavam, curiosos.
— Oi! Você está bem? — perguntou-me um homem de olhos pretos.
Como não respondi, eles foram em minha direção.
— Oi! O que você tem? — perguntou-me outro homem, mais jovem que o primeiro, e com a pele queimada pelo sol.
— É que minha perna está doendo. Acho que é uma câimbra.
— Vamos tirar você da água, certo? — disse o primeiro homem.
Eles encaixaram seus ombros sobre meus braços abertos, um de cada lado, ajudando-me a sair da piscina. O homem de olhos pretos segurou-me nos braços e me levava em direção às cadeiras de sol, quando Aidan avistou-nos de longe e correu ao nosso encontro.
— O que houve? O que você tem? — perguntou, ansioso.
— Não foi nada. Ele só teve uma câimbra — respondeu calmamente o homem que me carregava, enquanto me deitava na cadeira.
De costas para mim, Marcus continuava ao celular e não viu nada do que acontecia.
— Obrigado! Por favor, você pode chamar meu irmão? É aquele que está ao celular — pedi ao homem de pele queimada, que parecia ter menos de vinte anos.
— Está sentindo alguma coisa? — perguntou-me o de olhos pretos.
— É que está doendo muito — agarrei a perna na tentativa de fazer parar a dor e comecei a chorar.
— Ei! Calma. Olhe! Eu sou fisioterapeuta. Vou fazer uma massagem e, logo, vai passar. Certo?
Aidan, rapidamente, trouxe um óleo para a pele, e o homem massageava minha perna, enquanto conversava comigo. Dizia-me ele que ter câimbra em piscinas é normal, e, também, que certos alimentos ajudam a evitá-las, e ficou a citar alguns. Sorridente, afirmou que iria pedir à minha mãe para cuidar melhor da minha alimentação. Naquele instante, fitei-o.
— Minha mãe morreu há alguns meses — comentei baixinho.
Ele enrubesceu e se desculpou pelo comentário:
— Eu não sabia. Sinto muito.
Era tarde demais, pois o choro havia se apossado de mim.
Marcus e o outro homem chegaram e encontram Aidan agachado, tentando me consolar, o fisioterapeuta em pé, e eu, chorando.
— Ei, maninho. O que foi? O que houve? — perguntou meu irmão, beijando-me o rosto, tentando me acalmar.
— Eu... eu quero ir embora — disse eu, e enxugava as lágrimas com as mãos, tentando não tremer o queixo.
Aidan explicava que eu tive uma câimbra na piscina e que aqueles homens me ajudaram.
— Olhe, maninho. Foi só uma câimbra. Já vai passar. Calma, certo? — repetia Marcus, acarinhando-me os cabelos.
Meu irmão apresentou-se aos homens que me ajudaram e franziu a testa ao olhar para o fisioterapeuta. Então, falou:
— Conhecemo-nos de algum lugar? — olhando-o, curioso.
Foi quando uma surpresa invadiu meus ouvidos.
— Acho que estive no apartamento do Senhor em Nova Iorque com Richard no aniversário dele. Sou Pablo, e este é o meu irmão Juan.
Parei de chorar no mesmo instante. Olhei para eles dois e pensei: O quê? Que mundo pequeno, meu Deus!
Ao lado da piscina, um espaço aberto permitia que respirássemos o ar daquele entardecer. O sol se escondia lentamente diante de nossos olhos. A noite dava as caras em Monte Carlo, e os últimos raios do crepúsculo só poderiam ser apreciados por mais alguns instantes antes de ela firmar-se por completo. A tarde aquecida dava lugar ao vento refrescante e agradável da noite. Mais parecia vento de verão, mas não era, pois estávamos no inverno. Lembro-me bem que aquela mescla de vento, pôr do sol e chegada da noite tornou-se mágica para mim. Aquilo me despertou sensações e desejos. No dia seguinte àquele é que descobri que eu não estava inebriado de alguma força sobrenatural e sob os efeitos das belezas da natureza. Era bebida mesmo. Eu estava quase bêbado! Mas como foi bom estar relaxado naquele dia, e melhor ainda foi o que aconteceu à noite! Que noite! Que noite, meu Deus! Depois do incidente com a minha perna e da feliz coincidência de todos nós termos nos reencontrado, meu irmão, civilizado como era, convidou Pablo e Juan para sentarem conosco. Horas de conversa e muitos drinks foram o suficiente para que meus olhos faiscassem diante do belo Pablo.Ele era latino, nascido no México. Os cabelos pretos e lisos chamavam a atenção, quando iam de encontro ao vento. A barba por fazer e o sorriso travesso eram um charme à parte. E o corpo? Que corpo, meu Deus! Era alto, forte, de pele queimada e exibia uma tatuagem pouco acima da axila esquerda. Todas as vezes que ele levava as mãos ao cabelo por causa do vento, eu tentava adivinhar que tatoo era aquela. Como ele se sentou perto de mim, e do outro lado da mesa estavam Marcus, Juan e Aidan, conversando empolgadamente, nós ficamos mais à vontade. De início, falávamos amenidades. Contou-me ele que, no dia do meu aniversário, poucas horas antes de ir ao apartamento do meu irmão, quase tinha sido atropelado na Times Square, mas,felizmente, nada de grave houve. Disse, ainda, que estava morando em Nova Iorque havia pouco tempo, e que estava gostando de trabalhar como fisioterapeuta. Falávamos sobre os bons lugares de se frequentar em Manhattan, e também sobre como era a vida dele no México. Entre drinks e risadas, um pensamento me invadiu: Será que ele é gay? Não vou dizer nada comprometedor, pois acho que não é. Mas que é um homem bonito, é! Ele é tão masculino! A certeza viria poucos instantes depois.
— Sua perna está melhor? — perguntou ele, olhando-me com aqueles olhos pretos e brilhantes.
— Sim. Não está mais doendo.
— Deixe-me ver — pediu, tomando minha perna, apoiando-a em sua coxa.
Levemente, ele apalpava minha panturrilha direita, enquanto me olhava e perguntava se doía. A cada “não” que eu respondia, ele subia as mãos um pouco mais e suavizava a voz.
— Dói aqui? ... E aqui? ... E aqui?
E continuou perguntando até o sorriso tomar conta de nós dois e eu perceber que ele estava me fazendo um carinho e me olhando com desejo em vez de me examinar.
— Que olhos,meu Deus! — pensei e falei.
E ele ouviu.
— Você gosta dos meus olhos? — perguntou-me, sorrindo, meio envergonhado, com a voz baixa.
— Gosto — respondi, baixinho, mirando bem em sua pupila.
Uma tossida nos desconcentrou. Era Aidan, olhando-nos. Que inferno! Ele está aqui, e de cara feia! Tirei minha perna da coxa do Pablo e pensei: Nunca vi Aidan falando espanhol. Ele é holandês e mora em Nova Iorque desde pequeno. Não deve saber nada da língua latina. Resolvi arriscar a conversar com Pablo em espanhol. E, mentalmente, agradeci à minha mãe e as professoras particulares que tive durante toda a infância, por me ensinarem a falar fluentemente três línguas antes dos dezessete anos:
— Pablo, vou aproveitar que você é mexicano e praticar meu espanhol. Acho que ele não vai entender nada do que dissermos — comentei, diminuindo a voz para que Aidan não escutasse.
Pablo, que já tinha presenciado o vexame de Aidan no dia do meu aniversário, e, naquele dia, a cara feia dele para nós a tarde inteira, entendeu o que quis dizer.
— Sim! Como você quiser. Posso lhe dizer uma coisa? — respondeu ele, diminuindo a voz, em espanhol.
— Sim! — disse, curioso.
— Quero beijar você desde a primeira vez que nos vimos em Nova Iorque. E hoje, durante toda a tarde, fiquei com mais vontade ainda — falou, encarando-me com seus lindos olhos pretos, cheios de malícia.
— Oh, meu Deus! — e ri, timidamente, meio nervoso com o que ouvi, mas mesmo assim fazendo charme para ele.
Minha comunicação com Pablo em espanhol estava funcionando. Aidan olhava-nos com a testa franzida, tentando ouvir e descobrir o que falávamos. E isso quase nos arrancou algumas gargalhadas de tão engraçado que foi.
— Quer ir à piscina comigo? — perguntei a Pablo, insinuando-me para ele.
— Sim — respondeu-me, animado.
Nós saímos da mesa, sob os olhares curiosos de todos. Pablo mergulhou primeiro, e depois fui ao encontro dele. Já era quase noite, e não se via mais a luz do sol. Não havia ninguém na piscina, somente ele e eu nadando de um extremo ao outro, fazendo apostas para ver quem chegava primeiro à outra ponta. Às mesas, apenas alguns casais distraídos. Com certeza, eram turistas ou franceses.
— Eu não sabia que os mexicanos nadavam tão mal assim — brinquei com ele.
— Mas eu ganhei quase todas as apostas — retrucou ele, jogando-me água no rosto.
E rimos, quando pedi ao garçom que nos trouxesse mais um kir para mim.
— O que está bebendo mesmo, Pablo? — perguntei.
— Senhor, um mojito, por favor — disse ele, exibindo-se ao garçom em espanhol.
Aproximei-me dele e fiquei nadando em círculos, enquanto o encarava. Ah, esses olhos pretos!
— Adoro quando você fala espanhol, sabia? — comentei.
— Você pode gostar de outras coisas que eu sei dizer também — completou.
— Uau!Que excitante! — exclamei.
Ele mergulhou e eu o perdi de vista. Passaram-se segundos e nada dele. Encostei-me à borda da piscina, estendi os braços para fora e o procurava com os olhos. E lá vinha ele, nadando por debaixo d’água com sua sunga preta. Parecia um atleta. Chegou perto demais de mim e, roçando o corpo dele no meu, subiu à superfície.
— Oi — disse baixinho.
— Oi — respondi, sorrindo.
Ele tomou minha cintura em seus braços, puxou-me para ele e me beijou. Afastei-me e disse envergonhado:
— Eles estão olhando, Pablo — referindo-me ao meu irmão, Aidan e Juan, que tinham suas cabeças viradas em nossa direção.
— Não me importo — e selou sua boca na minha novamente.
Os lábios dele eram ásperos. Sua língua era ousada, tinha gosto de limão e álcool. Ele beijava com ímpeto, passeando vagarosamente sua mão pelas minhas costas. Encaixou sua perna no meio das minhas e me pressionou contra a parede da piscina. Eu estava preso, mas adorando tudo aquilo. O som do caminhar do garçom, depois de deixar as bebidas ao chão da borda da piscina, não me distraiu, mas o que ele disse com voz empolgante, sim:
— Senhor Barrys, boa noite! Seja bem-vindo! Posso ajudá-lo?
— Estou procurando meus filhos. Eles estão aqui?
Não acreditava no que estava ouvindo. Meu Deus! Meu Deus! É meu pai! Ele está aqui!
Imediatamente, larguei a boca do mexicano e o empurrei.
— O que houve? — perguntou-me ele, sem nada entender.
— Meu pai está aqui!
Deixei Pablo de braços cruzados, rindo do meu desespero, e mergulhei para o outro extremo da piscina. Quando subi à superfície, papai, que já se encaminhava à nossa mesa, viu-me.
— Oi, filho! Por que vocês não me disseram que iriam passar o dia todo aqui? Teria vindo com vocês.
Fique calmo, fique calmo, Gaius. Ajude-me, meu Deus! Dizia eu em meus pensamentos.
— Oi, pai! Nós almoçamos por aqui e perdemos a hora. Quer entrar? A água está bem quentinha.
Eu mal terminei de falar, quando Pablo subiu à superfície perto de mim. Como ele veio tão rápido? E por que ele faz isso?
— Boa noite! — exclamou ele, cumprimentando meu pai, meio sorridente.
— Boa noite! É seu amigo, filho? — retribuiu papai.
— Sim, papai. Este é Pablo. Ele é mexicano e vai passar o fim de ano aqui em Monte Carlo.Pablo, esse é meu pai, Lucas Barrys.
Pablo assumiu um semblante sério no rosto. Parecia incomodado naquele momento. Meio desconcertado, disse ele a papai:
— Boa noite, Senhor Barrys!
Lembro bem do rosto de papai naquele instante. Sua expressão era de quem estava desconfiado. Aquela testa franzida não era só curiosidade. Papai nos deixou e foi ao encontro de Marcus, que estava na mesa com Juan. Onde está Aidan? Não importa! Pensei. Disse a Pablo que devíamos voltar à mesa e dar um pouco de atenção a papai.
— Certo. Mas só se me prometer que vamos nos ver mais tarde — condicionou ele, tentando agarrar minha cintura por baixo d’água.
— Pablo, meu pai está aqui! E nós dois ainda não conversamos sobre eu ser gay. Entende isso? — exclamei com intensidade.
— Tudo bem, tudo bem. Mas vamos nos ver mais tarde?
— Eu... acho que sim. — respondi, cambaleando a voz e com um meio sorriso nos lábios, fazendo charme para ele, enquanto jogava água em seu rosto.
À mesa, papai conversava com os irmãos latinos, e contou que visitou o México há alguns anos, passando parte dos dias em Tijuana. Percebendo que todos estavam empolgados na conversa, aproximei-me do meu irmão e perguntei:
— Onde está Aidan?
— Ele viu você e Pablo se beijando, e saiu. Parecia irritado — respondeu, sussurrando.
— Que droga! Eu não morro de amores por ele, mas também não quero machucá-lo. Que inferno!
A voz do meu pai nos interrompeu.
— O que vocês estão falando tão baixinho aí, hein?
— Nada importante, papai. Gaius perguntou onde estava Aidan, e eu respondi que ele já tinha saído. Que droga, Marcus! Você não devia ter comentado que Aidan está aqui! Pensei.
— Aidan está aqui? Onde está? — perguntou papai a Marcus.
— Acho que ele foi até à suíte pegar alguma coisa, mas não sei se ainda vai voltar.
— Marcus, quero ver Aidan. Mande chamá-lo.
Agora eu estou fodido, meu Deus! Marcus me olhava na esperança de que eu mesmo dissesse o que ele deveria fazer. O que eu faço agora? Papai era muito amigo do pai de Aidan, o Senhor Daan. Praticamente enriqueceram juntos. Dizia sempre que Aidan era o filho loiro que ele não teve. Quando eles três se encontravam nos eventos da empresa ou até mesmo para jogar golfe, não se desgrudavam um minuto. Por vezes, o companheirismo de papai com Aidan no esporte arrancava comentários enciumados do Senhor Daan. Lembro-me que, certa vez, ele comentou que gostaria que Aidan morasse conosco, pois apreciava muito a sua companhia. O que papai não sabia era que, assim como eu, Aidan era gay. E aquele louco queria me pedir em namoro no dia do meu aniversário aos meus pais. Papai iria dar uma surra nele. Grosso do jeito que é! O que faço? Aidan está com raiva. Saiu daqui furioso. E se ele disser a papai que eu estava beijando Pablo? Oh, meu Deus! O que faço? Foi quando minha boca ultrapassou a velocidade do meu pensamento.
— Vou chamá-lo, papai! Vou ao banheiro, e aproveito para chamá-lo! — gritei, tentando controlar a ansiedade da voz, depois que percebi que papai me olhava intrigado.
Ainda tinha as mãos trêmulas, quando apertei o botão 6 do elevador. Olhava para o visor e pensava: vai rápido, vai rápido. E lá estava no mesmo corredor dos belos quadros, que apreciei no início da tarde. O espelho da luxúria me lembrou da última conversa com Aidan, e como o deixei falando sozinho. Droga!Preciso que ele não diga nada a papai sobre o beijo com Pablo. Pensei. A porta da suíte estava entreaberta e, vagarosamente, empurrei-a. Vi-o em pé na sacada da suíte, descalço, apenas de bermuda, com os cabelos molhados e penteados, tendo apenas a companhia de uma garrafa deuísquee um cinzeiro que servia de descanso para o fim de mais um cigarro. Olhava concentrado para o horizonte ou para o grande bosque nos arredores do hotel, ou até mesmo para o nada. Aos primeiros passos, fui recepcionado por nocturne, de Chopin. Minha mãe adorava essa peça. Pensei. Dois abajures acesos ofereciam uma iluminação intimista ao ambiente. Alguns passos meus foram o suficiente para que minha presença fosse percebida por ele. Nisso, virou-se em minha direção. Ele tinha a mandíbula fechada, os olhos vermelhos e o semblante triste. Encarou-me direto na pupila, e deixou que os segundos de silêncio falassem o que sua boca se recusava a dizer. Não foi preciso muito tempo daquele olhar constrangedor para saber o quanto eu o tinha machucado. Mas o ápice da minha consciência se deu quando uma tímida lágrima escorreu dos seus olhos. Ele virou-se para o horizonte novamente e tentou disfarçar, enxugando-a com as costas da mão. Envergonhado, com um nó na garganta, aproximei-me lentamente e pus-me a olhar para horizonte com ele.
— Minha mãe adorava Chopin, sabia? — comentei.
Tive silêncio como resposta. Apenas os uivos dos ventos e a maciez de Chopin podiam ser ouvidos. Era embaraçoso estar ali, principalmente depois do que vi instantes antes.
— Papai perguntou por você — comentei novamente, tentando ver sua reação de soslaio.
— Por que está aqui, Gaius? — perguntou, encarando meu rosto de frente.
— É que você saiu... E papai quer que você vá vê-lo. Então, vim chamá-lo — respondi, gaguejando e sem conseguir olhá-lo direito.
— Acho que prefiro não ver seu pai hoje — comentou, com a voz suave, porém firme.
Virei-me de frente para ele e disse:
— Aidan, sinto muito pelo que aconteceu na piscina. Quero que saiba...
— Você sabe por que estou aqui, Gaius? — interrompeu-me, olhando-me nos olhos, com a voz meio exaltada.
Depois, continuou:
— Vim até aqui por você. Porque senti sua falta. Depois que foi embora de Nova Iorque,vi-me perdido, distante de quem eu amo. Nunca escondi que gostava de você. E não esconderei! O que aconteceu entre nós naqueles dias que passamos juntos foi muito forte para mim. Talvez, não tenha sido para você, mas para mim foi! Você nunca soube, mas é bom que saiba agora que foi o primeiro homem com quem fui para a cama. Não foi o único, mas foi o primeiro. Depois daqueles dias, eu quis ter uma relação, mas você sempre fugiu e me evitou, nunca atendeu ao celular ou quis me encontrar. Então, conversei com seu irmão e disse que estava apaixonado e, também, que iria conquistar você. Marcus sempre me apoiou, incentivou e aconselhou, mas você nunca me deu nenhuma chance de mostrar o quanto eu o amo e o quero fazer feliz. Nunca pensou em como eu me sentia, quando o convidava para uma vernissage ou mesmo para ir ao teatro e você inventava uma desculpa, dizendo que não podia? Nunca pensou em como eu me senti todas as vezes que chegava ao apartamento do seu irmão para ver você, e via quando se trancava no quarto até eu ir embora? Nunca passou pela sua cabeça que eu gostasse de você de verdade? Nunca considerou que o que eu sinto por você é amor? E então eu venho aqui para vê-lo, e o que encontro? Você beijando um cara que mal conhece? É isso que mereço por amar você? Que droga, Gaius! Que droga! O que é que preciso fazer para que entenda que eu amo você, droga? — e, num ato impulsivo e violento, tomou a garrafa de uísque na mão, atirou-a com força na parede, encarando-me ferozmente com aqueles olhos cor de âmbar.
Era janeiro em Nova Iorque. O frio de dezembro e a decoração de Natal desapareciam diante de nossos olhos dia após dia. Os americanos deixavam para trás as emoções das festas e retomavam novamente suas rotinas de trabalho. Tudo voltava ao normal. Ainda morava com Marcus e Núbia em Manhattan, mas já estava preocupado com o estado de saúde da minha mãe, e pensava, seriamente, em mudar para Monte Carlo. Lembro-me que no início daquela primeira semana do ano, meu irmão comentou que iria viajar na sexta-feira paraConnecticut para participar de um congresso sobre serviços financeiros imobiliários e que iria aproveitar para descansar. Disse-me que ficaria na cidade uns dois ou três dias a mais depois do fim de semana. Núbia e Arthur iriam com ele.
— E vou ficar sozinho aqui? — perguntei, indignado.
— Olhe, maninho! Se quiser ir conosco, pode ir, não tem problema, mas vou passar o fim de semana inteiro no congresso. Somente na segunda é que vou poder passear. Núbia marcou de encontrar umas amigas do colegial que moram lá para passar o tempo. E na segunda é o aniversário dela. Estamos pensando em ficar um pouco sozinhos, sabe? Ela até já conseguiu para que Arthur fique na casa de uma amiga dela na segunda e na terça. Mas se você quiser ir conosco, tudo bem. Só acho que você não vai gostar.
Estava claro que meu irmão sugeriu, educadamente, que eu não fosse com eles. Que saco! Pensei. Na noite de quinta-feira, depois do jantar, despedi-me deles, visto que iriam sair antes do nascer do sol. Dei um beijo em cada um e fui dormir. Na manhã de sexta-feira aproveitei para organizar alguns livros e jogar fora os cadernos do colegial. Graças a Deus que acabou! Pensei. Eram quase 13h, quando resolvi fazer um sanduíche para almoçar: pão integral, pasta de espinafre com ricota e tomate seco. O sono me chamou, e me entreguei a ele. Eram quase 17h, quando o telefone da sala me acordou. Por que não fechei a porta do quarto, meu Deus?
— Oi. Oi, Aidan. Como vai? — disse, ainda sonolento, ao atender.
Ele comentou que tinha convites para a inauguração de uma confeitaria, no centro de Manhattan, e que passaria às 19h para nos pegar.
— Aidan, meu irmão não está aqui. Ele viajou com Núbia para Connecticut.
Perguntou-me se não queria acompanhá-lo. E, brevemente, respondi:
— Desculpe, Aidan. Fica para outro dia. Tchau — e desliguei.
Corri ao meu quarto e me atirei na cama. Voltei a dormir. Era uma melodia suave, de ritmo constante, mas insistente. O que é isso? Pensei. A campainha da porta tocava insistentemente. Não acredito. Que saco! Acordei.
— Já vai! Calma! — gritava, irritado, encaminhando-me à porta.
Era Aidan. E quando me viu, logo levantou a mão para me mostrar os doces que trouxe.
— Trouxe para você — disse ele, beijando-me o rosto e entrando no apartamento, dirigindo-se para a cozinha, antes que eu o convidasse a entrar.
Tomou um prato, dispôs sobre a mesa, abriu o embrulho e tirou três sonhos americanos recheados com doce de leite. Hum! Adoro doce de leite! Estou com fome. Que horas são? Pensei.
— Obrigado por vir, Aidan. Desculpe, mas não vou lhe acompanhar na inauguração da confeitaria.
Ele sorriu.
— Ei, garoto! A inauguração já acabou. Já são quase 22h.
Como eu dormi, meu Deus! Pensei.
Estávamos ali, comendo sonhos e conversando. Ele me perguntava o que fiz o dia todo, e depois me contou que seu pai, o Senhor Daan, tinha se sentido mal naquela semana. Explicou-me que, com a idade que o pai tinha, não podia mais beber e fumar como fazia antes. Aliviado, falou que foi apenas um susto, mas que o ocorrido tinha chamado sua atenção para a saúde do pai. Foi quando percebi que os sonhos acabaram.
— Não tem mais? — perguntei, sorrindo.
— Se quiser, vou comprar mais para você — ofereceu-se, gentilmente.
— Não precisa. Estou brincando. Vou tomar banho e depois assistiremos a um filme. Certo? — perguntei, dando as costas e caminhando ao meu quarto.
— Espero-o — respondeu, com a voz alta para que o ouvisse.
— Tem bebida na geladeira! — gritei, já tirando a roupa e entrando no chuveiro.
Rapidamente, sequei meu corpo e vesti um calção de pijama branco, penteei os cabelos e pus o meu Luna Rossa. Hum! Adoro Prada, meu Deus! Pensei. Chegando à sala de estar, já o encontrei sentado no sofá com a cabeça recostada e os olhos fechados. Os braços estavam apoiados nas almofadas e ele tinha uma cerveja à mão. Estava descalço, com as pernas abertas e tinha desabotoado os dois primeiros botões da camisa. Ele vestia uma calça sarja cáqui e uma camisa social de manga longa branca. Parei e o olhei. Não conseguia não olhar. E, enquanto meus olhos passeavam vagarosamente por aquele corpo exuberante, seu rosto encontrou o meu, e, abrindo os olhos, penetrou-me ele a pupila com seu olhar. Minha respiração parou. Meu coração acelerou e a adrenalina se apossou de mim. Oh, meu Deus! Estou com tesão! Pensei.
— Oi! Sente aqui. O que quer ver? — perguntou, calmamente, ainda me olhando.
— Não sei. Gosto mais dos filmes do streaming que da TV a cabo — respondi, sentando sobre minhas pernas no sofá ao lado dele.
Tomei o controle remoto e procurava algo para assistirmos, quando vi Patrick Dempsey na capa de uma comédia romântica.
— Adoro esse filme! — comentei, empolgado.
Ele sorriu.
— O que foi? Você não gosta? — indaguei.
— Achei que poderíamos ver um filme policial, mas tudo bem.
— Assistimos a este e, depois, a outro. Certo?
— Como você quiser — comentou, conformado com a minha escolha.
Fiquei feliz por Aidan ter aparecido. Estava me sentindo sozinho. Lembro-me que não gostava da ideia de passar tanto tempo sem o meu irmão. A presença dele me dava uma sensação de segurança. Estar com ele, naquela noite, era quase como estar com o meu irmão.
— Quer outra cerveja? — perguntei.
— Você não vai beber? — indagou ele.
— Não bebo.
— Você tem quantos anos mesmo?
— Dezesseis. Faço dezessete em março.
— Qual é o dia?
— Vinte e dois. Aidan, quer deixar eu assistir ao filme? Que coisa! — falei, querendo rir.
— Tá! Não falo mais. Vou pegar uma cerveja — e levantou-se sorrindo, caminhando até a cozinha, olhando para trás com aquele sorriso doce nos lábios.
Quando ele saiu, estiquei minhas pernas no sofá e deitei-me, apoiando a cabeça numa almofada, pertinho do lugar onde ele estava sentado. Retornando, ele disse:
— Levante a cabeça, por favor.
Forcei meu corpo para frente, ainda olhando para a TV. Ele sentou-se e disse baixinho:
— Pode deitar.
Concentrado no filme, inclinei meu corpo para deitar-me e percebi minha nuca repousando nas coxas dele. O quê? Estou no colo dele? Oh, meu Deus! Pensei. Ele logo tomou mais um gole de cerveja e a deixou na mesinha do telefone, ao seu lado direito. Respirou fundo e pôs a mão em meus cabelos, massageando-os levemente com a ponta dos dedos. Eu estava estático. Não conseguia falar. O coração a mil. Nenhum de nós falava nada. Ao longe, ouvia-se um barulho, parecia um toque de celular, mas não sabia ao certo. Será meu celular? Pensei. Depois não ouvi mais. Ainda com suas mãos por entre meus cabelos, percebi que ele me olhava e respirava aceleradamente. Parecia nervoso. Eu estava ansioso, e não conseguia me mover. O telefone fixo do apartamento, ao lado dele, desconcentrou-me. Tentei mover-me para atender, mas ele segurou minha cabeça e falou baixinho:
— Não, não. Fique aqui. Fique assim. Eu atendo — esticando a mão e tomando o telefone.
Era Marcus. Aidan perguntou como estava a viagem, e comentou que tinha passado no apartamento para saber se eu estava bem. E, ainda, que estávamos assistindo a um filme. E finalizou, perguntando quando ele voltaria.
— Claro! Vou passar o telefone para ele. Um abraço, meu amigo — encerrando a conversa com Marcus, dando-me o telefone, enquanto tomava mais um gole de cerveja.
— Seu irmão quer falar com você — sussurrou.
Já comecei dizendo que estava com saudade e que queria que ele me trouxesse um presente. Marcus me perguntou se Aidan iria dormir no apartamento, e eu disse que não sabia, mas achava que não. Ele lembrou-me que, se ele fosse dormir lá, poderia usar o quarto dele, avisando-me que no closet havia lençóis limpos. Disse, ainda, que estava com saudades, e prometeu que voltaria na quarta ou quinta.
— Se precisar de alguma coisa, peça a Aidan, certo? Um beijo, maninho. Amo você! — disse meu irmão, encerrando a ligação.
Aidan tomou o telefone e pôs-se a acarinhar meus cabelos novamente. Comentou, tentando quebrar o silêncio que ficou entre nós:
— Ele disse que a viagem foi boa, e que você não deve se preocupar com nada, e me pediu para lhe fazer companhia.
— Quero que ele volte logo — respondi.
Minutos depois, o filme já estava quase no final. Por alguns instantes, fechei meus olhos e apenas me entreguei àquele carinho gostoso. Aidan passeava a mão por todo o meu cabelo e fazia-me cócegas ao tocar minha nuca com os dedos. Sua mão estava mais suave e vagarosa, quase imperceptível. Foi quando não a senti mais. Por que ele parou? Pensei. E a resposta viria a seguir: ouvi um ressono. Ele adormeceu. Fiquei quieto por mais alguns instantes e baixei o volume da TV. Levemente, afastei-me e consegui me levantar sem o acordar. Desliguei a TV e caminhava ao meu quarto, quando olhei para trás. Vi-o. Estava relaxado, dormindo com a cabeça pendida em minha direção. Que homem, meu Deus! Ele é lindo! Pensei. Lá, apaguei as luzes e deitei-me na cama. Fechei os olhos e me percebi pensando em tudo que aconteceu. Por que ele fez isso? Os pensamentos não me deixavam dormir. O que está acontecendo comigo? Pare com isso, Gaius. Durma! Tentando pôr ordem em minha mente. Depois de muito me mexer na cama, senti que começava a adormecer. Ai que bom. Vou dormir. Era uma sensação suave, mas havia algo estranho no meu quarto. Estava frio e eu abraçava meu corpo debaixo das cobertas. Virei-me e abri os olhos. Vi-o. Estava agachado junto à minha cama, olhando-me. Não tive reação. Só o olhei, meio surpreso.
— Está frio lá na sala. Posso deitar aqui com você? — perguntou ele, com a voz baixa, esfregando as mãos.
— Aidan, você pode dormir no quarto do meu irmão — respondi, com a voz trêmula.
— Quero dormir aqui. Posso? — e fez cara de homem carente para mim.
Olhei-o por alguns segundos, e não resisti.
— Pode — e afaste-me, levantando as cobertas para ele entrar debaixo delas.
Ele mal deitou, logo se aproximou de mim e me abraçou de costas, encostando seu corpo inteiro no meu. Mesmo estando com roupa, ele tremia de frio.
— Se eu abraçar você, o frio vai embora — comentou ele com a boca encostada na minha nuca, pressionando minha cintura contra a dele.
Fechei os olhos e os abri logo em seguida. Vi o relógio ao lado da cama, que marcava 4h10. Sentia sua respiração, era curta. Sua mão repousava em meu abdome. Eu estava preso. Não conseguia me mover. Percebi algo em mim. Era meu calção. Eu estava excitado. Estava molhado.
— Gaius — chamou ele, sussurrando.
— Oi — respondi, tremendo a voz.
— Não consigo dormir — comentou.
Respirei fundo e me virei para ele. Olhando seus olhos cor de âmbar, disse:
— Eu também não.
Ele abriu um leve sorriso, levou sua mão ao meu rosto e acarinhou-me a face com as costas dos dedos, enquanto molhava os lábios. Depois, pôs sua boca na minha. Beijava devagar, com carinho e doçura, pressionando meu rosto contra o dele. Sua língua passeava em minha boca, enquanto eu lhe acarinhava a barba macia em seu rosto. Nossas mãos estavam livres: a minha não queria largar o seu rosto, a dele ia das minhas costas até as coxas, num movimento suave de vaivém que estava me enlouquecendo.
— Tire o calção — pediu ele, ainda com a boca selada na minha.
Meu coração disparou, minha pupila dilatou. Larguei sua boca e o olhei, enquanto ele pediu de novo, com aquele rostinho carente.
— Tire, por favor.
Ele tinha olhos ardentes, olhos de fome. Acho que ele vai me comer. Pensei. Obedeci-o. Ainda com meus lábios nos dele, senti falta daquela mão, que passeava em minhas coxas, arrepiando-me. Ouvi um barulho de metal. Ele desabotoou o cinto e baixou as calças. Não aguentei: levei minha mão à cueca dele e apertei. Estava molhada, estava muito molhada. Ao meu toque, ele gemeu, dentro da minha boca e, depois, ordenou:
— Levante a perna.
Obedeci-o. Ergui minha perna e senti seu dedo molhado me tocando. Oh, meu Deus, que coisa maravilhosa! Pensei. O prazer me possuiu. Soltei a boca dele, retorcendo meu pescoço para trás e gemi. Seu dedo me invadia num ritmo lento. Era muito bom.
— Vire-se — pediu.
Ainda deitado, virei-me, encostando minhas costas em seu abdome. Ele não demorou e levantou minha perna com sua mão e me penetrou. Eu gemi. Gemi alto, de dor e de prazer.
— Ai, meu Deus! — Exclamei.
Estava com a perna levantada e sentindo o membro dele dentro de mim, quando salivei minha mão e me masturbei. Não demorou muito e cheguei ao orgasmo. Relaxei minha cabeça para trás e minha nuca encontrou a boca dele. Ele tinha uma respiração forte, um gemido intenso, um acelerar de movimento.
— Eu acho que vou... — exclamou ele, já gemendo de prazer em meu ouvido.
E jorrou. Jorrou forte dentro de mim.
Numa faísca de momento, tudo que Aidan e eu vivemos naqueles dias em Nova Iorque me veio à tona ao vê-lo ferido e machucado naquela suíte de hotel em Monte Carlo. Os dias que se seguiram àquela primeira noite de sexo entre nós, os carinhos, as tardes quentes de prazer que tivemos, os lugares que visitamos, as gargalhadas e a emoção de estarmos juntos me possuiu totalmente. Realmente, foram dias intensos. E ele estava ali, encarando-me, cheio de raiva, machucado, violento. Nunca o tinha visto assim. Seus olhos flamejavam. Era ciúme. Quando o vi atirar aquela garrafa de uísque na parede, pensei que ele fosse me machucar. Tive medo, e não consegui esconder. Chorei. Chorei como uma criança. Minhas lágrimas não conseguiram aplacar a ira de Aidan. Ele segurou-me pelos ombros e ordenou que eu o olhasse nos olhos.
— O que você quer, hein? O que quer de mim, Gaius? Responda! — esbravejava contra mim.
— Por favor, Aidan. Desculpe. Não queria machucá-lo — respondi, repetidas vezes, chorando.
— Não queria me machucar? Não queria me machucar? Como não queria me machucar, se estava beijando um cara na minha frente, sabendo que gosto de você? Droga, Gaius!
— Foi ele quem me beijou primeiro, Aidan... — disse, soluçando, tentando acalmá-lo.
— Porque você aceitou! Você quis e incentivou! A culpa é sua! Que inferno!
— Por favor, solte-me. Está me machucando — supliquei, entre um soluço e outro.
A frase teve efeito. Ele largou meus ombros e se afastou, ainda me encarando. Seu semblante saía da ira e chegava ao remorso. Estava estampado em seu rosto a consciência de que tinha agido mal em me sacudir daquela forma
— Desculpe-me. Não quis machucar você — falou, cabisbaixo, tentando amansar a voz.
Eu não conseguia parar de chorar. Estava nervoso. Sentia minhas pernas perderem a força. Oh, meu Deus! Está tudo escuro. Encostei-me à parede e me percebi derreando ao chão. Abracei meus joelhos e escondi minha cabeça entre as pernas. O silêncio reinou, e voltamos a ouvir Chopin. O nocturne chegava ao fim, e somente aquele piano conseguiu nos acalmar. Minha mãe, onde você está? Por favor, volte! Nisso, senti seus passos em minha direção. Depois, o calor do seu corpo a me abraçar. Ele estava ao chão comigo, levantando minha cabeça e, com os dedos, descobrindo meus olhos por baixo dos cabelos. O olhar dele encontrou o meu. Éramos apenas nós dois, cheios de dor. Ele pôs sua mão em minha nuca, pressionou-me contra seu rosto até sentir seus lábios nos meus, e sussurrou:
— Eu amo você, menino. E acho que sempre vou amar — e me beijou.
Lembro-me bem do que senti depois daquele beijo. Meu corpo relaxou, embora uma mescla de tranquilidade e angústia ainda encontrasse espaço em mim. Estava confuso, mas depois de tudo que vi, pela primeira vez, olhei para Aidan com outros olhos. Pensei se o que ele sentia não era amor. Mas como saber? Eu nunca tinha amado. E nunca fui amado também. Como saber se o que ele sente é amor? Pensei. Tive medo. O mesmo medo que se apossou de mim depois daqueles dias que passamos juntos em Nova Iorque. Instantes depois, disse a Aidan que papai queria vê-lo e que estava na piscina nos esperando, e o convenci a voltar para lá. Ele foi tomado de um sentimento de alegria e, logo, pôs uma camisa e um tênis, e lavou o rosto. Eu estava abalado, mas tinha de levá-lo até papai. Disse-me que iria conversar com papai sobre nós dois. Gelei na mesma hora!
— Não! Aidan, você não conhece papai! Ele e eu ainda não conversamos sobre isso, e não sei como ele pode reagir.
— Calma. Seu pai gosta de mim, meu amor — argumentou, com voz suave, abraçando-me.
— Aidan, preciso conversar com o Marcus sobre isso. Não sei como papai vai reagir, entende? Tenho medo. Quero que me prometa que não vai falar nada com ele. Promete? — perguntei, aflito.
— Tudo bem. Se você quer assim...
Chegando à piscina, papai recepcionou Aidan com um abraço caloroso e perguntou porque ele não tinha avisado que iria passar as festas de fim de ano em Monte Carlo. E logo o intimou a voltar com ele e se hospedar em nossa casa. Aidan olhava desconcertado para mim e disse que aquela noite ficaria no hotel, mas no dia seguinte iria para nossa casa. Prometeu. Eu sabia que isso iria acontecer. Agora eu estou três vezes fudido, meu Deus! Por causa da presença de papai, Pablo e Aidan estavam comedidos ao falar, e eu, já exausto de tanta emoção, resolvi sentar ao lado do meu irmão. Recostei minha cabeça no ombro dele e não falei nada. Marcus me fazia um carinho na cabeça, enquanto perguntava baixinho se eu estava bem. Sussurrando, respondi que a conversa com Aidan tinha sido difícil e, ainda, que estava confuso. Encerrei, dizendo que precisava conversar com ele um assunto importante. Papai já tinha tomado três ou quatro cowboys, quando pediu ao garçom para trazer uma garrafa de The Macallan. Oh, meu Deus! Não acredito que ele pediu The Macallan! Pensei. Era seu uísque preferido. Só bebia em ocasiões especiais. Ele estava feliz! Papai, Aidan, Pablo e Juan conversavam empolgadamente, quando meus olhos pesaram e o sono me possuiu. Sabia que não devia ter bebido tanto. Era uma sensação gostosa estar no peito do meu irmão, com suas mãos tocando meus cabelos. Não resisti e fechei os olhos. Ouvi ao longe as vozes deles conversando, enquanto aproveitava alguns momentos sem pensar em nada. Meu repouso foi interrompido por papai, quando perguntou se eu estava bem. Respondi que me sentia um pouco cansado.
— Venha aqui, filho. Venha deitar no colo do papai — e intimou-me a trocar o peito do meu irmão pelo dele.
Papai puxou uma cadeira para perto de si e, com a mão, repousou meu rosto em seu peito. Ele afagava meus cabelos, quando disse baixinho que gostava dos dois filhos igualmente, mas que eu lembrava muito mamãe, pois tinha a mesma beleza, sensibilidade e o temperamento dela. Não aguentei e caí em um choro, quase desesperado.
— Meu filho, desculpe. Não deveria ter falado nela — comentou papai, emocionado, arrependido de ter me feito lembrar da morte de mamãe.
Marcus foi ao meu encontro e me salvou daquela situação.
— Papai, acho que vou levá-lo até a suíte de Aidan para descansar um pouco. Está emocionado e, ainda, bebeu alguns drinks hoje. Não tem o hábito de beber. Deve ser isso. Com licença.
Saí com meu irmão em direção ao hall do hotel sob os olhares curiosos.
Na suíte, abracei-o com força e pedi que ele me ajudasse. Marcus não entendia o que eu diziae porque eu estava tão abalado. Expus que tinha medo de muitas coisas: de Aidan, Pablo e de papai. E, também, que sentia muito a falta de mamãe, e que não estava sendo fácil para mim suportar todas essas coisas. Ele tentava me acalmar, dizendo que eu não precisava ter medo, pois ele iria me ajudar em tudo que fosse preciso. Quanto mais o abraçava, mais eu chorava.
— Calma, maninho. Isso vai passar. Essas coisas acontecem na adolescência. Eu também passei por essas incertezas. Precisamos ter calma.
— Eu quero a minha mãe. Preciso dela. Traga-a de volta para mim, por favor — dizia, repetidas vezes, soluçando.
— Olhe! Eu acho que você bebeu um pouco demais hoje. Deve estar precisando de um banho.
Então, ele levou-me ao banheiro, tirou minha roupa e me pôs embaixo do chuveiro. Depois, secou meu cabelo e me cobriu com um roupão branco. Pediu para eu deitar na cama e tomou o telefone, ligando para a recepção do hotel.
— Por favor, preciso de dois cafés e um sorvete de tomilho com pinhões. Se possível, Berthillon. Para a suíte do Senhor Mettis. Obrigado! — e desligou.
Em seguida, deitou na cama comigo e me acarinhava os cabelos, enquanto eu me aninhava em seu peito.
— Maninho, o que está acontecendo com você? Está me deixando preocupado — perguntava, com a voz doce.
— Não sei. Estou sentindo coisas estranhas. E estou com medo. Gosto de Aidan, mas tenho receio de ter um relacionamento com ele. Nunca tive um relacionamento com ninguém, nem sei como é. Tenho medo da reação de papai, quando souber que sou gay. Sinto-me atraído por Pablo. E teve esse beijo hoje à tarde. Estou com saudades da mamãe. Às vezes acho que ela morreu por minha culpa. Sinto que estou enlouquecendo.
— Olhe, maninho. Precisa dar tempo para que as coisas aconteçam na sua vida. Realmente, são muitas emoções. Entendo que você se sinta assim, mas é importante saber que todos passamos por essas incertezas. Também passei por isso quando era jovem. Sou mais velho que você, por isso digo que cada coisa precisa ser olhada de uma forma. Você e o Aidan, por exemplo. Acho bonito o que ele sente por você. Nós dois já conversamos muito sobre isso. Eu ficaria mais tranquilo, se você se relacionasse com alguém que nós já conhecemos. Sobre papai, não posso enganar você, pois acho que ele não vai reagir bem a essa história de você ser gay. Nós o conhecemos bem. Ele é russo, veio de outra cultura, tem outro pensamento, não acompanha os tempos que vivemos hoje... Mas acho importante você mesmo conversar com ele. Penso que isso pode facilitar as coisas, entende? Posso falar com ele depois para ajudar, mas você que tem que contar. Sobre Pablo, foi só um beijo. Isso não significa muita coisa. Um beijo é só um beijo. Não precisa ficar se impressionando com essas coisas. Com relação à mamãe, isso está me preocupando. Não acho normal que depois de alguns meses você ainda esteja tão fragilizado. De repente, podemos conversar com alguém sobre isso. Um psicólogo, talvez? Mas só se você quiser — e beijou minha têmpora.
Eu estava em lágrimase o abraçava com força. Sentia-me protegido pelo meu irmão. Sua voz soava em meus ouvidos como uma melodia harmônica. Era tranquilizador ouvi-lo. Ele me trazia paz e aquietava-me o coração. Instantes depois, alguém bateu na porta.
— O café chegou — comentou ele, levantando-se.
Tomamos o sorvete e o café, e falamos sobre a minha conversa com Aidan. Contei a ele que tinha pedido desculpas pelo que aconteceu com Pablo na piscina, que Aidan tinha se alterado, mas que, ao final da conversa, nós nos beijamos. Marcus sorriu e perguntou se eu tinha gostado. Respondi, dizendo que ele beija bem. E rimos, quando eu o abracei e pressionei seu corpo contra o meu. Estávamos ali, deitados, abraçados e conversando, quando eu abri dois botões da camisa dele e pus minha mão em seu peito. Passeava minhas unhas por entre seus pelos com movimentos suaves. Ele franziu a testa e me olhou, mas não disse nada. Com a outra mão, desabotoei os outros botões da camisa e a puxei para fora da calça. Olhei-o e pedi que trancasse a porta.
— Maninho, não somos mais crianças, não é? — perguntou, com meio sorriso nos lábios, meio envergonhado.
— Eu sei, mas você sabe que só faço com você. Vai, fecha logo a porta — sugeri, sorridente, provocando-o.
Ele levantou, trancou a porta a chaves e perguntou se queria que eu apagasse a luz. Respondi, mandando-o deixar acesa. Caminhando em minha direção, tirou seu paletó azul royale a camisa branca. Sentou-se na cama e livrou-se dos sapatos, deitando ao meu lado. Eu estava de roupão, e ele estava apenas de calça. Era uma calça jeans de cor escura, quase preta. Quando passei a mão em suas coxas, logo percebi o tecido e o corte italiano. Tenho certeza de que é Dolce & Gabbana. Pensei. Logo abri o roupão e deixei meu tórax à mostra. Ele me olhava, enquanto desabotoava a calça. Levei minha mão até seu membro e o apertei por cima da cueca. Ele tocou-me e pôs-se a me masturbar. Ficamos molhamos e excitados. Quando ele baixou a cueca, balançou seu membro para mim. Comecei a masturbá-lo, suavemente. Estávamos ali, com as mãos cruzadas, um a masturbar o outro, quando eu inundei meu abdome. Que orgasmo maravilhoso! Molhei minha mão com meu líquido e levei ao membro dele. Era um movimento suave, e ele gostava. Fechou os olhos e retorceu a cabeça para trás. Gemeu e gozou forte em seu abdome. Que tesão eu tenho, quando me masturbo com meu irmão, meu Deus! Pensei. Nós tomamos banho juntos e, depois, vestimo-nos.
Retornando à piscina, uma surpresa invadiu meus olhos. O que é isso? Será que estou enxergando bem? Papai, Pablo, Juan e Aidan estavam em pé, dançando. Um celular sobre a mesa tocava uma música mexicana, e os quatro tentavam acompanhar o ritmo latino. Estão todos bêbados! Oh, meu Deus! Não aguentei e gargalhei. Marcus me acompanhou na risada, e fomos ao encontro deles, misturando-nos à dança. A alegria chegou e se instalou entre nós. Depois que a música acabou, os aplausos fizeram barulho, inclusive dos dois garçons que olhavam risonhos a nossa performance.
— Papai, você dança muito bem! — comentei, beijando-lhe o rosto.
— Ai, filho! Há quanto tempo eu não me divertia — expressou, abraçando e beijando minha cabeça.
Marcus chamou a atenção para o horário, e disse que era melhor irmos para casa.
— Mas, filho, está tão bom aqui — argumentou papai.
— Papai, já passa das 22h. Quase não vi Núbia hoje.
— Então vamos todos para minha casa. E você, Juan, prepare-se para me ensinar mais algumas danças — ordenou, entusiasmado.
Confesso que quando ouvi papai dizer isso, minha boca secou. Pablo e Aidan na minha casa. Isso não vai dar certo. Pensei, sorrindo. Mas foi tão bom ver papai alegre, risonho, brincalhão e relaxado naquela noite que eu não podia me opor àquele sentimento. Ele estava feliz, e eu também. Marcus, Juan e eu fomos no meu carro. Pablo e Aidan foram com papai. Ao chegarmos, de cara, encontramos Núbia e Arthur na sala de estar. O sorriso curioso da minha cunhada nos recepcionou.
— Núbia, por favor. Fique com eles um pouco. Preciso tirar essa roupa e tomar um banho — supliquei, beijando o rosto intrigado da minha cunhada.
— Claro. Pode deixar — respondeu.
Ainda subindo as escadas, ouvi papai e Aidan cantando ao entrar em casa, e pedindo a empregada uma garrafa de uísque. Meu Deus! Esta noite será longa. Pensei!
Quando retornei, tive uma visão cômica. Do alto da escada, vi todos dançando ao som de música latina, inclusive Núbia. Minha cunhada se empolgou. Passei discretamente no meio deles e fui à cozinha. Perguntei à Emmanuelle se era possível servir entradas para eles ou algo mais simples para beliscarem. Disse-me que mais cedo papai tinha pedido foie gras para o jantar, e que estavam prontos para serem servidos, pois ninguém havia jantado. Não poderia ser melhor. Adoro foie gras! Retornei à sala e sentei perto de Arthur. Nesse momento, meu sobrinho disse que estava com vontade de ir ao banheiro.
— Claro. Vamos ao meu quarto — falei.
Esperava Arthur sair do banheiro, quando vi a porta do quarto se abrir. Era Pablo. Olhou-me e não disse nada. Estava de bermuda, sandálias de dedo e uma camiseta branca. Seu cabelo liso cobria o olhar flamejante que ele dirigia a mim. Ele quer sexo! Pensei. Ele caminhava apressado em minha direção, quando eu disse em voz alta:
— Arthur, já terminou? Titio precisa voltar! — deixando claro que não estava sozinho no quarto.
Ele parou e abriu um meio sorriso nos lábios. Vendo Arthur sair do banheiro, Pablo disse para ele:
— Oi! Sua mãe pediu para ir vê-la agora.
Meu sobrinho não hesitou, correu e me deixou sozinho com ele. Eu não acredito que ele fez isso. Pablo me olhou e fechou a porta a chave.
— Pablo, é melhor nós voltarmos — disse a ele com a voz meio trêmula.
— Ei! Pare com isso. Eu sei que você também quer — comentou, agarrando minha cintura e me dando beijinhos no pescoço.
— Pablo, não é assim. Têm pessoas lá em baixo. Alguém pode entrar aqui — dizia, repetidas vezes, com a voz de quem não está convencido do que diz.
Estava preso em seus braços, sentindo sua barba por fazer roçando meu pescoço, quando o rosto dele encontrou o meu. Ele selou a boca na minha. Ah! Aquela língua impetuosa!
— Vire-se! — ordenou ele.
Eu não tive escolha. Queria-o. Fiquei de costas para ele, sentindo sua ereção debaixo da bermuda, roçando em minhas nádegas. Encaminhava-me até a cama e ia me deitar de bruços, quando ele me puxou para si.
— Não. Na cama, não. Baixe as calças e encoste-se à parede. Eu vou comer você em pé — ordenou, com os lábios colados em meu ouvido.
E, logo, penetrou-me. Estava pressionado contra minha estante de livros, e ele a me invadir com força. Era violento, mas eu gostava. Uma de suas mãos chegou ao meu membro, e senti que estava sendo masturbado, enquanto a outra encontrou minha língua. Então, ele disse, com tom de ordem:
— Chupe meu dedo.
Ele falava palavras quentes. O movimento dos seus quadris me extasiava! Não demorou e ele me inundou, derramando-se dentro de mim e gemendo em minha nuca. Eu o acompanhei, banhando o chão do meu quarto. Meu corpo relaxou depois que gozei. Ele, ainda dentro de mim, pôs-se a se movimentar novamente. O quê? De novo? Pensei. Franzi a testa e olhei para ele.
— Relaxa, garoto. A segunda é bem melhor. Já tá tudo molhadinho.
Na mesma hora, arfei. Suas mãos suadas apertaram minha cintura com força, e o movimento era rápido e brutal. Recostei minha cabeça para trás e minha nuca encontrou seus lábios.
— Fique de quatro na cama — ordenou.
Apoiei meus braços esticados sobre os travesseiros e ele se pôs de joelhos atrás de mim. Levou suas mãos aos meus ombros e me pressionava contra seu membro com força. Não demorou muito e eu o senti, de novo, gozando dentro de mim. E, mais uma vez, derreou seu corpo cansado sobre o meu.
Na sala de estar, todos apreciavam o foie gras,quando Pablo e eu descemos as escadas. Foi impossível não perceber a testa franzida de Aidan. O que será que ele está pensando? Papai conversava com Núbia e Marcus, e Pablo logo foi ao encontro de Juan. Aidan estava sozinho. Fui até ele.
— Oi — falei, baixinho.
— Oi. Pablo estava com você? — perguntou-me.
— Sim. Ele queria usar o banheiro, então mostrei onde ficava. Foi só isso.
Ele deslizou a mão em minha cintura e abraçou meu corpo, discretamente. Perguntou se ele e eu estávamos bem. Respondi que sim e afastei meu corpo do dele. Seu hálito tinha cheiro de álcool. Ele está bêbado! Então, pedi para ele não beber mais e tentar convencer papai a descansar.
— Meu amor, estamos todos cansados. Acho que devíamos encerrar. Papai não pode beber em excesso.
Seus olhos brilharam. O sorriso ficou radiante. Não parava de me olhar com cara de bobo apaixonado.
— Você sabe que foi a primeira vez que me chamou de “meu amor”?
— Foi? — perguntei, com meio sorriso nos lábios, não percebendo o que tinha dito.
— Foi sim! O que você quer que eu faça?
— Aidan, estamos todos cansados. Acho que devemos parar por aqui. Papai precisa dormir.
No mesmo instante, ele largou o copo e se dirigiu à cozinha. O que ele está fazendo? Pensei. Retornou para perto de mim e puxou-me pelo braço até papai.
— Senhor Barrys, com licença. Quero dizer ao Senhor que estou muito feliz de passar meu Natal com sua família. E aproveito para pedir ao Senhor...
Na mesma hora meu coração estalou. Não acredito no que eu estou ouvindo. Oh, meu Deus! Foi quando Marcus tomou a voz dele, interrompendo-o:
— Papai, Aidan quer pedir ao Senhor para dormir aqui, hoje. Ele bebeu demais e não quer dormir sozinho. Disse a ele que o Senhor não iria se opor.
— Mas claro que não, filho. Você pode ficar na nossa casa o tempo que quiser. Núbia, por favor, mande preparar um quarto para ele.
Meu coração voltou a bater. Que susto tive. Aproximei-me de papai e tirei o copo de uísque de sua mão. Dizia a ele que era hora de encerrar a festa, quando Emmanuelle avisou a Aidan que o táxi tinha chegado. Táxi? Que táxi? Aidan foi até Juan e Pablo e cochichou algo para eles, dando-lhes tapinhas nas costas. Os irmãos mexicanos aproximaram-se e agradeceram o convite para estarem conosco. Pablo me olhava com a cara feia, parecia estar com raiva, mas disfarçadamente apertou minha mão e se despediu. Por que ele está com raiva? Ele já fez sexo comigo. O que mais ele quer? Pensei. Depois que eles saíram, mandei desligar a música e recolher as bebidas. Já tivemos emoção demais por hoje.
— Hora de todos irem para a cama! — exclamei, beijando papai e meu irmão, e desejando boa-noite a todos.
A água que escorria do meu corpo levava consigo o cansaço do dia e me deixava a sensação de tranquilidade e paz. Naquela noite, depois de todas as emoções que vivi, somente o silêncio e a solidão do meu quarto seriam capazes de oferecer quietude ao meu coração. Depois de escovar os dentes e secar o cabelo, vesti meu calção de pijama preto. A maciez do seu tecido dava-me a sensação de não estar vestindo nada, e aquilo era relaxante. Estava com sono. Apaguei as luzes e me deitei por cima das cobertas. Recostei minha cabeça, quando vi sobre a mesinha do abajur, ao lado da cama, a tulipa que Marcus me trouxe pela manhã. Apertei meus olhos, com meio sorriso nos lábios, e me lembrei dele. Tomei-a à mão e levei-a à minha narina na esperança de sentir algum aroma. Fechei meus olhos e, em prece, dirigi-me a Deus:
“Senhor, obrigado por este dia que me destes. Obrigado pela minha família e, principalmente, pelo meu irmão Marcus. Perdoa-me, se o ofendi hoje. E peço que cuides da minha vida, assim como cuidou da vida do seu filho Jesus. Peço também que receba minha mãe junto do seu Reino. Jesus, parabéns pelo seu aniversário. Amém.”
Os meus olhos se abriram, e eu o vi. Era Aidan. Estava à porta do meu quarto, parado. Sentei-me na cama e disse baixinho:
— Aidan, é melhor você ir dormir.
Ele encostou a porta e caminhou devagar em minha direção. Agachou-se e deixou seu rosto na altura do meu. Olhava-me fixamente, quando me disse, com a voz serena:
— Eu não quero nada. Só vim dormir abraçado com você. Prometo. É só isso — e me beijou castamente os lábios, fazendo aquela cara de apaixonado.
Como resistir? Pensei.
— Você bebeu demais hoje. Tomara que não ronque, pois estou com sono e quero dormir — falei, fazendo voz de bravo, mas sorrindo e levantando as cobertas para ele entrar.
Ele apertou os olhos sorrindo e, logo, encostou seu corpo no meu. Puxou-me para deitar em seu peito e, enquanto me acarinhava as costas, perguntou:
— E essa flor?
— Foi meu irmão que me deu de Natal. Ela vai dormir conosco — e levei meus lábios aos dele e o beijei, desejando-lhe uma boa-noite.
— Boa noite! Eu amo você — respondeu, puxando meu corpo para si novamente.
Então, adormecemos. O peito de Aidan me serviu de travesseiro a noite toda. Estar ao seu lado, sentir seu cheiro, tocar aquele corpo rígido me fez lembrar aqueles dias em que estivemos juntos em Nova Iorque.
Abri meus olhos com o corpo descansado e com a sensação de bem-estar. Ele movia seus dedos por minhas costas de cima para baixo. Ele já acordou? Era tão gostoso estar ali em seus braços, sob seus carinhos. Estava me sentindo amado. E aquilo era muito, muito bom.
— Já acordou? — perguntei baixinho.
— Sim. Quase não dormi — respondeu, ainda de olhos fechados.
— Por quê?
— Porque estou muito feliz de estar aqui com você.
Ele tomou meu cabelo em sua mão e pressionou meu rosto contra o dele até seus lábios tocarem os meus, e disse:
— Bom dia, meu amor! — enquanto dava-me beijinhos singelos.
— Bom dia! — respondi.
Sua mão voltou a acarinhar minhas costas. Eu encaixei minha coxa sobre a dele e lhe acarinhava o peito com a ponta dos dedos, quando senti a primeira contração. Eu estava molhado e excitado. Não me contive e levei minha mão ao seu membro. Estava alto, latejando. Aidan retorceu a cabeça para trás e gemeu. Encostei meu rosto no dele, beijei-o, e perguntei:
— Posso fazer uma coisa?
Ele me olhou com meio sorriso nos lábios e disse que sim. Seus olhos estavam curiosos, quando sussurrei em seu ouvido que eu nunca havia feito, mas que tinha vontade. E fez cara de pensativo quando joguei as cobertas ao chão e subi em seu abdome. Tirei sua camisa e deixei seu peito à mostra. Levei meus lábios aos seus e fui deixando uma trilha de beijinhos do peito ao umbigo. Olhei para ele e desabotoei a bermuda, tirando-a e contemplando suas pernas peludas. Afastei-me e me pus a apreciar seu corpo com os olhos, dos pés ao rosto. Encantei-me. Somente de cueca, ele estava diabolicamente sexy na minha cama. Levemente, baixei a Prada branca e pus minha boca no membro dele. Eu estava preenchido. Que sabor! Os gemidos dele me causavam excitação. Salivei minha mão e me masturbei, enquanto ele fazia movimentos suaves com o quadril e acarinhava meu rosto com as costas dos dedos. Ele estocava minha boca devagar, quando minha língua encontrou o primeiro jato. Ele está jorrando na minha boca. Seu último gemido foi acompanhado da última contração do orgasmo. Que coisa maravilhosa. Acho que vou querer fazer isso de novo. Eu ainda tinha o gosto do seu membro na boca, quando ele me puxou para si e me beijou. Sua língua passeava entre meus dentes à busca daquele sabor, quando uma corrente de vento chegou ao meu corpo. Larguei a boca de Aidan e abri os olhos. A porta do quarto estava aberta. E minha pupila dilatou, quando vi papai olhando para nós. Oh, meu Deus! Eu não acredito! Papai viu tudo! Agora estou fodido! Pensei.

***

CAPÍTULO DOIS
Duas surras

__________________

Era o dia do aniversário de mamãe. Antes mesmo que a babá nos acordasse, papai foi ao meu quarto e explicou que Marcus, ele e eu iríamos fazer uma surpresa para ela no fim da tarde. E pediu para fingirmos que esquecemos a data. Naquele dia, quando meu irmão e eu retornamos do colégio, papai nos esperava na sala. Vendo-nos, disse a meu irmão que fosse tomar banho, e pediu à babá para acompanhá-lo. Segurou minha mão e levou-me ao meu quarto. Ele tinha a cara fechada, parecia estar com raiva. Enquanto trancava a porta a chaves, mandou-me sentar na cama, dizendo que precisava falar comigo. Obedeci-o. Ele arrastou uma cadeira e sentou-se diante de mim.
— Gaius, hoje fui chamado no seu colégio. Você sabe por quê?
Balancei a cabeça, dizendo que não.
— O diretor me chamou porque os pais de um dos seus colegas, o Jean, fizeram uma reclamação contra você. Sabe o que eles disseram?
Novamente, balancei a cabeça, reafirmando que não.
— Disseram que Jean contou que vocês dois estavam brincando no banheiro do colégio. O que vocês faziam lá, meu filho?
— Papai, nós tiramos a roupa e eu fiquei pegando no pinto dele — respondi, envergonhado.
— E por que fez isso?
— Ele contou que viu sua mãe pegando no pinto do pai dele, e pediu para eu fazer a mesma coisa no dele. Então, nós tiramos a roupa e eu fiz. Era uma brincadeira.
— Gaius, o que fez não foi certo. Um homem não pode pegar no pênis de outro. Isso é pecado! Deus não gosta! O que o diretor me relatou não foi isso. Afirmou que os pais de Jean disseram que foi você que teve a ideia de ir para o banheiro. Por que está mentindo para mim? — perguntou, assumindo uma voz agressiva.
— Papai, não estou mentindo. Foi Jean quem me pediu — respondi, assustado.
Nisso, percebi o olhar de desconfiança dele. Papai não acreditou no que disse. E depois de explicar-me mais uma vez que eu estava errado, mandou-me tirar a calça. Obedeci-o, mesmo sabendo que seria castigado. Meus olhos estavam marejados, quando pedi para ele não me bater. Então, ele engrossou a voz e me ordenou que o obedecesse, enquanto se levantou e tirou o cinto das calças. O pavor se apossou de mim. Minhas mãos tremiam e eu já chorava, quase descontroladamente. Exaltado, gritou, mandando-me parar de chorar.
— Cale a boca! Homem não chora! Vai ser castigado para nunca mais fazer isso! Baixe a calça, agora! — ordenou, gritando, com fúria na voz.
Atendi sua ordem e me virei de costas para ele. Papai me empurrou na cama, e mandou que ficasse deitado e não me movesse nem gritasse, pois, se eu desobedecesse, bateria muito mais. Levei minhas duas mãos à boca e pressionei meus lábios com força. Papai deu-me dez golpes nas nádegas com o cinto, fortemente, que me deixaram marcas e me arrancaram sangue. Em seguida, levantou-me, virou-me de frente para ele, olhou em meus olhos e comunicou-me que aquele castigo era para eu aprender a ser homem. Proibiu-me de contar a qualquer pessoa o que ele fez e me mandou parar de chorar, tomar banho e vestir uma roupa, pois iríamos dar os parabéns à mamãe. Obedeci-o. Quando isso aconteceu, eu tinha seis anos, e minha mãe morreu sem nunca saber da primeira surra que papai me deu.
Em um clarão, vendo papai parado na porta do meu quarto, olhando para mim e Aidan, quase senti a dor dos golpes que ele me deu quando tinha seis anos. Estava estático e o pavor paralisou minha boca. Meus olhos não conseguiam desviar-se dos dele, mesmo quando Aidan tomou as cobertas e cobriu-se. Papai levou a mão à maçaneta e baixou a cabeça, enquanto fechava a porta, deixando-nos sozinhos no quarto. Saiu e não disse nada. Desesperei-me. Meu Deus! Meu Deus! Como isso foi acontecer?
— Aidan, você não fechou a porta? Você não fechou a porta? — gritava.
— Ei, calma! Calma! Vou conversar com ele — dizia, repetidas vezes, tentando me acalmar.
— Não sabe o que está dizendo? Você não conhece papai! Ele nunca vai aceitar isso! Isso não era para ter acontecido assim. Meu Deus, o que faço? — e chorava, desesperado.
— Acalme-se, Gaius! Precisa ficar calmo. Você não está sozinho nisso. Vou conversar com ele. É a nossa chance de ficarmos juntos — dizia, abraçando-me, tentando me tranquilizar.
Mandei Aidan chamar meu irmão, e que ficasse no hotel e não falasse com papai. Ele vestiu-se, pediu que eu me acalmasse e beijou minhas lágrimas, dizendo que me amava e que eu não estava sozinho. Quando saiu do quarto, atirei-me na cama e chorei. Recordo-me do pavor e da angústia que senti em meu peito naquele momento. Nunca havia experimentado algo parecido em toda a minha vida. Meu coração ficou miúdo, e eu, possuído de medo, quando vi a maçaneta da porta do meu quarto se mover. Lentamente, uma mão a empurrava. Vi um homem de barba, e suas roupas eram brancas. Ele carregava em seu rosto a seriedade e, na mão, uma bengala. Era papai. Oh, meu Deus! O que ele vai fazer? Olhava-me, enquanto fechava a porta do quarto a chaves. Depois, caminhou em minha direção. Nisso, senti meu coração acelerar.
— Papai, Marcus e eu íamos conversar com o Senhor. Sinto muito que as coisas tenham acontecido desse jeito. Só quero que saiba que...
Enquanto eu tentava explicar, ele levantou a bengala, agarrou-a na ponta e golpeou meu maxilar com o cabo. Caí da cama e, junto ao gosto de sangue, senti que um dente tinha quebrado. Comecei a gritar, chamando meu irmão e pedindo socorro. Ele golpeou minhas costelas. Fiquei paralisado. Não consegui me mover. Apenas gritava. Ainda ao chão, acertou meu joelho, e depois a coxa, o tornozelo, o punho, o peito, o quadril, o ombro e, novamente, o maxilar. Não conseguia parar de gritar e pedia pelo amor de Deus para que parasse. Então, ele pôs-se a encarar meus olhos. Vi fogo em seu olhar. Era ira. Meu Deus! Ele vai me matar! Agachou-se, aproximando-se mais do meu rosto, encarando-me. Então, eu disse, chorando:
— Papai, por favor, por favor — suplicava.
— Você quer servir de mulher para os homens, é? Então, vou lhe mostrar como é — respondeu, com a voz cheia de raiva.
Papai me virou de bruços e baixou meu calção, abriu minhas pernas e enfiou a ponta da bengala no meu ânus. Gritei.
— Então, está bom assim? Você quer mais, sua mulherzinha? Não é disso que você gosta? — perguntava, quando enfiou de novo.
Ele socava meu ânus com a bengala, quando Marcus bateu na porta, mandando que eu abrisse.
— Gaius! Gaius! Abra a porta! Papai! Papai! Abram a porta! — gritava ele.
— Socorro! — respondia, repetidamente.
Papai tirou a bengala de mim e me olhou nos olhos, cuspiu em minha cara e disse que eu não era mais o filho dele e, ainda, que tinha nojo de mim. Caminhou até a porta e a abriu. Eu estava tomado de dores, mas ouvi o que ele disse a meu irmão:
— Tire esse lixo da minha casa, agora.
As imagens eram embaçadas. Ao longe, ouvia vozes, mas não conseguia compreender o que diziam. Um vulto branco se movimentava diante de mim. O que é isso? Onde estou? Eu morri? Lentamente, abri os olhos e recobrei a consciência. Estava no hospital, e uma mulher negra chamou meu nome.
— Oi, Gaius. Consegue me ouvir? — perguntou, sorridente.
— Quem é você? — respondi.
Era a Dra. Lorena. Depois de dar-me água para beber, disse que eu estava no Center Hospitalier Princesse Grace, em Mônaco, e perguntou se me sentia bem. Depois, ainda, que eu tinha dormido por dois dias seguidos e, também, que havia feito uma pequena cirurgia na boca. Recomendava-me passar alguns dias sem fazer grandes movimentos, quando a interrompi.
— Onde está o meu irmão? — perguntei, ainda meio zonzo.
— Vou chamá-lo — respondeu, deixando-me sozinho no quarto.
Marcus abriu a porta do quarto, e seus olhos encontraram os meus. Chorou, enquanto caminhava em minha direção. Tomou minha mão, beijou-a e falou que sentia muito pelo que tinha acontecido. Avisou-me que Emmanuelle encontrou uma garrafa de uísque no quarto de papai na manhã seguinte à surra, e que, provavelmente, ele tinha passado a noite inteira bebendo. Contou-me que depois do ocorrido, papai saiu de casa e até aquele dia não sabia notícias dele. A voz do meu irmão era trêmula, ele não conseguia parar de chorar. Olhava-me com compaixão. Ouvia-o em silêncio e cheio de dores. Uma lágrima me escapou dos olhos, quando falei:
— Se você não tivesse chegado, ele iria me matar — e solucei.
Ele encostou sua testa na minha, disse-me que assim que saísse do hospital, iríamos para Manhattan, e que eu moraria com ele, Núbia e Arthur. Perguntou como estava me sentindo e me explicou os procedimentos médicos que foram necessários serem feitos em mim nos dias em que estive dormindo.
— Maninho, escute bem o que vou dizer. Você estava sedado por causa das dores e precisou fazer uma cirurgia na boca. Seu maxilar foi deslocado e você perdeu dois dentes. Mas o médico disse que pode fazer implante. Não precisa se preocupar com isso. Sua costela foi fraturada, por isso esta faixa na cintura. E, ainda, teve uma pequena hemorragia anal, mas já foi controlada. Agora, não corre nenhum risco de morrer. O que preciso que saiba é que está tudo bem, e que não vai ter nenhuma sequela grave do que aconteceu. Entendeu? — perguntou-me, aos soluços.
— Tudo bem. Quando vou poder sair daqui?
— A médica disse que mais alguns dias. Dependendo da sua recuperação, até o ano-novo nós viajamos. Daqui do hospital iremos direto para Nova Iorque.
— Onde está Aidan? — perguntei.
— Liguei para ele e contei o que tinha acontecido. Ele queria vir aqui, mas não deixei. Expliquei que você estava sedado e que não sabia quando iria acordar. E, também, que não era prudente ele ficar em Monte Carlo, e terminei pedindo para ele voltar para Nova Iorque, tentando evitar que encontrasse papai aqui. Prometi que ligaria todos os dias para dar notícias suas. Hoje, já falei com ele, mas se quiser eu posso ligar para dizer que você acordou. Ele está muito preocupado e avisou que vai nos visitar, quando chegarmos em Manhattan. Pediu-me para quando você acordar dizer que o ama e que sente muito pelo que aconteceu.
Uma lágrima escapou-me. O sorriso da Dra. Lorena foi a primeira visão que tive naquele dia. Era véspera de ano-novo e ela estava me dando alta. Marcus, Núbia e Arthur estavam empolgados ao me darem a boa notícia. A médica deu-me algumas recomendações, entre elas, que eu refizesse os exames em quinze dias. Do hospital, nós fomos direto ao Aeroporto Côte d'Azur, onde um jatinho particular nos aguardava. Foram quase dez horas de voo direto. Fiquei exausto.
— Ei, maninho. Acorde. Nós chegamos — disse meu irmão, enquanto eu abria os olhos.
Ao descer do avião, dois carros pretos nos aguardavam próximos à pista de pouso do aeroporto de Nova Iorque. Meu irmão pedia aos motoristas que retirassem nossa bagagem do avião, quando Núbia me ajudou a sentar no banco de trás de um dos carros, deixando-me sozinho logo em seguida. A outra porta do carro onde estava se abriu e um homem sentou-se ao meu lado. Era Aidan. Seus olhos estavam marejados e os lábios tremiam, num esforço de não deixar escapar um soluço. Olhei-o, cobri meu rosto com as mãos e chorei. Ele se aproximou, beijou-me a têmpora e levou minha cabeça ao seu peito.
— Não se preocupe. Vai ficar tudo bem. Nós vamos para casa — sussurrou ele ao meu ouvido, confortando-me.
O relógio marcava 22h13, quando entrei no meu quarto. Aidan carregava uma de minhas malas e a acomodou ao lado da cama, agradecendo ao motorista por tê-lo ajudado com as outras. Núbia e Marcus estavam na porta, olhando-me, quando sentei na cama e deslizei minhas mãos sobre os joelhos. Ela sorriu com a boca fechada e puxou o braço do meu irmão, encostando a porta. Fiquei sozinho com Aidan. E era impossível evitar as lágrimas que molhavam minhas coxas. Ele agachou-se e levantou minha cabeça até encontrar meus olhos.
— Você não sabe como eu sinto por tudo que aconteceu — expressou, com a boca trêmula.
— Aidan, muito obrigado por ter me acompanhado. Agora eu quero dormir um pouco. Estou muito cansado da viagem.
— Vou dormir aqui hoje com você.
— Não. Você vai dormir na sua casa. Preciso de um tempo para pensar em tudo que aconteceu. Preciso ficar sozinho. Entende isso?
— Mas não vou incomodar você. Só quero ficar aqui...
— Não, Aidan! Preciso ficar sozinho. Isso não tem nada a ver com você, e sim comigo. Por favor, vá para casa.
Ele me beijou os cabelos e saiu do quarto, fechando a porta, enquanto me olhava, demonstrando a vontade que carregava em ficar comigo naquele momento. Deitei e dormi. Meus olhos se abriram, quando um toque avisava que tinha uma nova mensagem no celular:
“Sei que as coisas estão difíceis agora, mas acredito que tudo vai passar. Não esqueça de mim. Espero por você. Amo você! Feliz ano-novo! Aidan”.
Os dias que se seguiram àquele eram longos, silenciosos e vazios. Em meu peito, carregava a sensação do nada. E a vida parecia não ter graça nenhuma. O frio que desaparecia de Manhattan dia após dia levava as lágrimas do meu rosto consigo, mas não as dores que sentia em minha alma. Era difícil aceitar o que papai tinha feito comigo. Como não lembrar de seu olhar de ira, da cusparada na cara, do que disse de mim, daquela bengala? Ao tentar dormir, ainda tinha lampejos de um homem de branco com uma bengala na mão, caminhando em minha direção. Quantas vezes acordei sobressaltado durante a noite? Quase sempre, mais de uma vez. Era um tormento. Quase três meses passaram-se e pouca coisa havia mudado dentro de mim. Mas tomei consciência de que precisava fazer alguma coisa para sair da situação em que estava. E aproveitei que a primavera deu as caras em Nova Iorque para passear pela cidade.
Era uma manhã de sábado, quando Richard e eu marcamos de nos encontrar no Central Park no fim da tarde. Havia tempos que não o via e pensei que fosse bom retomar minhas amizades. O que não sabia é que ele não me encontraria sozinho.
— Oi! Gaius! Aqui! — acenava ele, quando me viu tomando um cappuccino.
Nesse momento, vi-o. Era Pablo. Caminhava com Richard em minha direção. Meus olhos arregalaram! Será que ele contou ao Richard que nós transamos?
— Oi, amigo! — disse eu, abraçando Richard, meio temeroso.
— Você lembra de Pablo, não? Ele esteve na sua festa de aniversário ano passado.
Graças a Deus que ele não sabe de nada. Pensei.
— Lembro sim. Como vai, Pablo? — perguntei, com a voz tímida, quase não olhando em seus olhos.
Pablo sorriu com a boca fechada e disse que eu estava muito bonito. Enrubesci e sorri.
— Obrigado!
Nós andávamos pelo Central Park, enquanto falávamos amenidades. Richard me contava que terminaria o curso de moda no fim daquele ano e que pretendia passar alguns meses na Itália, logo em seguida. Pablo escutava nossa conversa e tentava nos deixar à vontade. Parecia entender que Richard e eu tínhamos assuntos atrasados, então transformou-se em uma companhia silenciosa naquele primeiro momento. Algumas vezes, surpreendi-o olhando para mim. Aqueles mesmos olhos pretos e sedentos que encontraram os meus no meu quarto em Monte Carlo. Vire-se! Vou comer você em pé! Lembrei, desconcentrando-me do que Richard dizia. Em outro momento, Pablo sugeriu que fôssemos comer alguma coisa, e enfatizou estar faminto.
— Por mim, tudo bem — confirmou Richard.
Nós entrávamos no táxi, quando Pablo disse ao motorista para ir ao Chinatown. Hum! Ele gosta de comida chinesa. Pensei.
— Boa noite! Meu amigo e eu queremos zong zi para dois — disse Richard ao garçom, já no restaurante.
E continuou:
— O que quer comer, meu amor? — perguntando a Pablo.
Ah, Meu Deus! Não acredito! Richard está namorando Pablo? Pensei.
— Quero mapo tofu e dan dan mian, por favor. Obrigado! — respondeu Pablo, olhando para o garçom.
O restaurante tinha pouca iluminação e estava abarrotado de pessoas. Por sorte, conseguimos uma mesa aos fundos. Onde estávamos, podíamos ver toda a movimentação das pessoas e dos garçons. Richard e Pablo estavam à minha frente, do outro lado da mesa pequena que nos separava. Richard contava-me sobre como pretendia ingressar na Gucci de Florença, quando Pablo chamou o garçom e perguntou o que era huangjiu. O garçom explicou-nos que era um vinho amarelo chinês, preparado com uma massa feita com arroz, pianço ou trigo. Até eu estou com vontade de beber. Pensei.
— Acho que vamos experimentar. Obrigado! — disse Pablo.
Nossos pratos chegaram. Richard e eu conversávamos, empolgadamente, quando algo me desconcentrou. Era Pablo, e estava comendo. Nesse momento, percebi-me olhando-o, curioso. Ele começou com o mapo tofu e depois mesclou com o dan dan miam. Para o primeiro, usou um garfo, e para o último, um hashi. Depois, os dois, simultaneamente. Tinha o corpo inclinado para frente, os cotovelos sobre a mesa, a cabeça baixa e as mãos ágeis. Comia depressa, sem muito mastigar. Quase não usava o guardanapo para absorver o excesso do molho da carne suína, que melava seus lábios. Entre um prato e outro, um ou dois goles do vinho amarelo e mais comida. Mastigava com força, com prazer. Ele era rude à mesa. E aquilo o transformou em um homem selvagemente sexy para mim. Oh, meu Deus! Sinto um latejar entre minhas pernas. Estou com tesão! Pensei. Richard continuava falando, quando pedi licença e fui ao banheiro. Olhei-me no espelho, sem saber ao certo o que pensar, e lavei as mãos, demoradamente. Acho que esperava que a sensação da água tocando meus dedos acalmasse meu corpo. Mais controlado, retornei à mesa. Vi-os conversando. E meus olhos percorreram aquele corpo queimado. Ele vestia uma bermuda marfim e uma camiseta branca, que valorizava seus braços. Calçava um tênis marrom e ainda tinha a barba por fazer. Será que ele gosta de ter essa barba malfeita? Que mau gosto! Pensei, sentando-me novamente à mesa. Pablo havia terminado de comer, e bebia seu huangjiu,quando nossos olhos se encontraram. Era visível, para mim, que eu o desejava. Fiquei receoso que Richard percebesse nossos olhares, então me contive e tentei me concentrar na conversa. Comentei que estava pensando em passar um tempo em Manhattan e, talvez, fizesse um curso de fotografia. Richard vibrava com essa possibilidade, afinal, eu era o único amigo mais próximo dele, e depois que tinha ido morar em Monte Carlo, no ano passado, ele acabou ficando sozinho na cidade. Pablo falava que estava pensando em atender pacientes fora do hospital para conseguir ganhar mais dinheiro, quando Richard pediu licença e foi ao banheiro. No mesmo instante, olhei para aqueles olhos pretos. Ele respondeu ao meu olhar, ordenando-me:
— Venha aqui!
— O que você quer, olhando-me desse jeito? Ele pode perceber, sabia? — indaguei-o.
— Venha aqui, garoto! Estou mandando! — respondeu forte, com a cara fechada.
Obedeci-o. Arrastei-me pelo sofá no entorno da mesa e me encostei a ele. Vi seus braços se abrirem e, logo, senti sua mão em minha cintura, pressionando meus quadris contra os dele. Estávamos colados um no outro. Então, ele virou seu rosto para mim e disse:
— Oi.
— Oi — respondi, alternando meu olhar entre seus olhos e lábios.
— Vou perguntar uma coisa. E vai me responder a verdade, certo?
— Certo.
— Olhe para mim e responda: Você está me desejando agora?
Oh, meu Deus! O que digo? Ele já sacou tudo! Pensei.
— Estou — respondi baixinho.
Ele tirou a mão do meu quadril e pôs o seu celular diante de mim.
— Digite seu número aqui.
Salvei meu número no celular e o entreguei. Então, ele me mandou tirar a carteira e lhe dar cinquenta dólares. O quê? Por que ele quer cinquenta dólares? Pensei.
— Por que você...
— Não discuta! Confie em mim. Dê-me cinquenta dólares, agora! — mandou, interrompendo-me com seus dedos em meus lábios, a fim de não me deixar falar.
Ah, aqueles dedos! Confiei. Tirei a carteira do bolso e pus o dinheiro na mão dele. Pablo levantou-se e ordenou-me que ficasse sentado ali, pois logo voltaria. Minha testa franziu. Acompanhei-o com olhos curiosos e vi quando cochichou algo ao pé do ouvido do garçom e lhe entregou o dinheiro. Ele caminhava faceiramente à mesa, quando abriu um sorriso travesso. Que sorriso lindo! Sentou-se ao meu lado novamente e pôs sua mão em minha cintura e, olhando-me, disse:
— Estou excitado. Passe a mão.
— Você está louco? Há pessoas aqui. E Richard já vai voltar...
— Não vai, não. Ele está preso no banheiro. E o garçom só vai abrir a porta, quando você me fizer gozar.
Arfei duas vezes em menos de um segundo. Eu não acredito nisso! Pensei.
— Você só pode estar de brincadeira, Pablo — comentei, tentando rir, mas sem conseguir.
— Não estou não, garoto — respondeu, tomando minha mão e levando-a ao seu membro.
— Aperte assim, de cima para baixo.
Meu coração palpitou. E com sua mão sobre a minha, mostrou-me como queria eu o masturbasse por cima da bermuda. Eu estava muito nervoso com a possibilidade de um flagrante, e meus olhos não paravam de percorrer as mesas do restaurante na tentativa de descobrir se alguém percebia o que fazíamos. A cada vez que um garçom ameaçava ir em nossa direção, meu coração acelerava mais ainda. Richard está trancado no banheiro. Oh, meu Deus! Pensei.
— Relaxa, garoto. Está escuro aqui, e a mesa cobre tudo. Ninguém está vendo nada. Vai por mim. Quer que eu ponha para fora? — perguntou, baixinho.
— Não. Deixe assim. Assim está bom — respondi, nervoso.
Realmente, ele estava certo, e o restaurante estava escuro. Calma, Gaius! Relaxe, Gaius. Pensava e dizia para mim mesmo. Ele me olhava e respirava pela boca, enquanto mordia seus lábios rachados. A cada movimento que fiz no membro dele, senti suas pernas contraírem. Um gemido baixinho e manhoso saía de sua boca.
— Eu quero enfiar em você. Quero enfiar bem devagar e, depois, meter com força até você gritar — sussurrava ele.
— Quer? Então, goze para mim — provoquei, na tentativa de fazê-lo gozar logo e dar fim à minha angústia.
Ele não demorou. Pude sentir em minhas mãos as contrações do jato dele. Estava jorrando e, com certeza, deve ter inundado a cueca. Respirei fundo, tentando me acalmar. Alguns instantes em silêncio e o sorriso dele apareceu, olhando-me com satisfação pela tensão que causou em mim. Parecia gostar de fazer essas coisas exóticas.
— Salvou seu número? — perguntou, ainda sorrindo, meio ofegante.
— Salvei! — respondi, tentando fazer cara de bravo, mas sem conseguir disfarçar que tinha gostado.
Ele levantou e foi ao encontro do garçom, enquanto eu voltava para o outro lado da mesa. Instantes depois, Richard retornava com cara de ódio.
— Acredita que fiquei preso no banheiro? Só conseguiram abrir agora. Onde está Pablo? — perguntou ele.
— Acho que ele foi ao banheiro, Richard. Não encontrou com ele? — respondi, cabisbaixo.
Assim que cheguei em casa, depois de jantar com eles, um toque avisou-me de uma nova mensagem no celular:
“Desça! Estou na frente do seu prédio. O taxímetro marca dezoito pratas, e contando. Não demore! Pablo”.
Não acreditava no que estava lendo. E Richard, onde está? Este mexicano só pode ser maníaco. Pensei. Tomei as chaves do apartamento de volta às mãos e desci. Abri a porta do táxi, fazendo cara feia, e perguntei:
— O que foi, Pablo? Ficou doido?
— Entre e feche a porta! — ordenou-me.
Vendo-me bater a porta do táxi, ele passou o braço por trás de mim, apertou minha cintura, e disse ao taxista:
— Rua Madison, Bedford — e selou seus lábios nos meus.
E beijou-me com tesão. Não acredito que a essa hora da noite estou indo ao Brooklyn! Esse mexicano ainda vai me matar. Oh, meu Deus! Pensei, enquanto saboreava aquela boca gostosa e ardente.
O apartamento de Pablo era pequeno. Tinha somente sala, cozinha, quarto e um banheiro. A TV estava ligada e, a janela, aberta. O vento que entrava balançava as cortinas que cobriam as janelas da sala. Um gato branco recepcionou-nos e, logo, começou a roçar minhas pernas. A poucos passos da porta, vi dois colchões de solteiro ao chão, perto de uma das janelas. Eles estavam manchados e cobertos apenas com um lençol estampado. E, do outro lado, enxerguei um sofá velho de dois assentos com estofado vermelho. Meus olhos percorriam as paredes à procura de alguma beleza, quando vi pratos e xícaras sujas na cozinha e uma tinta escura nas paredes, que não escondia as rachaduras do prédio. Ao sentir o cheiro de mofo e ouvir o gato miar, entendi que Pablo era pobre e que eu estava no subúrbio de Nova Iorque. Ele mora aqui? Mas como conseguiu dinheiro para ir a Monte Carlo? Pensei. Assim que entramos, ele logo apertou a tela do seu celular e o jogou sobre o sofá. Uma playlist começou a tocar. Era rock. Enquanto caminhava até a cozinha, tirou a camisa e a jogou sobre uma cadeira. Puxou a porta da geladeira e tirou uma cerveja, abrindo-a no dente, enquanto me olhava. E veio em minha direção.
— Sei que não é o que está acostumado, mas é aqui onde moro — disse, dando um gole na cerveja e me fazendo beber também logo depois.
Agarrou minha cintura e puxou-me para ele.
— Nunca tinha vindo ao Brooklin — comentei, timidamente.
— Acho que depois de hoje vai querer vir mais vezes.
E selou sua boca na minha, pressionando meu abdome contra o dele. Estava preso em seus braços e não conseguia resistir. Queria-o, enlouquecidamente. Ele me beijava com força. E eu adorava.
— Gostei do que fez comigo no restaurante — comentou ele, ao pé do meu ouvido, com a voz manhosa, roçando a barba por fazer em meu rosto, provocando-me e atiçando meu tesão.
— Fui obrigado a fazer — respondi, quase sem forças diante daquela tensão sexual que se instalou entre nós.
— Não é verdade. Fez porque quis. Estava com vontade de pegar meu pau.
Por que ele diz essas coisas? Eu fico excitado!
— Ainda estou com a cueca molhada. Quer ver? — perguntou, desabotoando e descendo o zíper da bermuda.
Olhei para baixo e senti o cheiro de cueca suja em minhas narinas. Era cheiro de sexo. Inspirei e percebi minha ereção latejar. Oh, meu Deus! Que cheiro maravilhoso! Pensei.
— Ainda está molhadinho. Passe a mão — mandou-me ele, roçando a barba em meu pescoço novamente.
Pus minha mão dentro da cueca dele e o apertei. A cueca estava encharcada do orgasmo. Ele gemeu em meu ouvido.
— Aperte com força.
Obedeci-o. Enquanto o apertava, ele pôs a mão no bolso da bermuda e tirou um saquinho, que prendia um pó branco.
— Tenho uma coisa aqui para relaxarmos. Vai ser mais gostoso — disse, dando-me beijinhos.
— Talvez seja melhor, não — argumentei.
— Relaxe, garoto. Você vai gostar. E não vai acontecer nada. Prometo. Vá por mim.
Estávamos nós ali, em pé, colados um ao outro, eu apertando seu pênis melado, e ele levando seu dedo mindinho com pó às minhas narinas.
— Inspire forte — ordenava.
Obedeci-o. E minha cabeça retorceu para trás.
— Mais uma vez. Isso. Só mais um pouquinho. Muito bem, garoto. Assim está bom. Quero você consciente. Quero que sinta tudo que vai acontecer.
Inspirei quatro vezes seguidas, duas em cada narina. Instantaneamente, fiquei eufórico e agitado. Meu coração ficou a mil. E, segundos depois, estava relaxado. Tinha consciência do que estava acontecendo, embora meus movimentos fossem vagarosos e sentisse que alguma força me dominava. Foi a primeira vez que usei cocaína. E gostei. Pablo tomou minha cabeça nas mãos e pressionou meu rosto contra o dele. Beijava-me com violência e mordia meus lábios. Senti gosto de sangue na boca, quando o vi salivar um dedo. Ele pôs a mão dentro da minha calça e enfiou seu dedo molhado em mim. Arquejei! Ele está me comendo com o dedo. Então, baixei a cueca dele e libertei sua ereção. Ele estava muito excitado. Minha mão molhada ainda o masturbava devagar, quando ele tirou minha camiseta rapidamente e me empurrou no sofá. Ergui minhas mãos para trás e o deixei tirar meu tênis, meias, calça e cueca rapidamente. Fiquei nu em segundos. Ainda pensava que ele tinha pressa, quando percebi meu membro na boca dele. Oh, meu Deus! Ele está me chupando! Os gemidos eram inevitáveis. Retorci meu corpo inteiro, enquanto ele movimentava sua boca para cima e para baixo com rapidez. Não demorou muito e eu esporrei. Esporrei na boca dele. E ele gostou. Levantou-se e foi ao meu encontro, trazendo o meu “gosto” à minha boca, beijando-me, demoradamente.
— Tenho uma surpresa para você — sussurrou ao meu ouvido.
Agarrou minha cintura e pressionou meu peito contra o encosto do sofá. Estava eu ali, de quatro, com os braços apoiados nas almofadas e com a cabeça para fora. Nisso, enxerguei um garoto vindo em minha direção. Ele tinha a pele queimada e os cabelos longos. Seus olhos eram castanhos, da cor dos cabelos. Seu corpo era magro, e seus braços e pernas eram finos. Devia ter quase a mesma altura que eu. Quantos anos ele tem? Pensei. Caminhava, mordendo o lábio inferior e apertando o pênis por cima da calça. Era Juan, irmão de Pablo. E ele logo baixou o zíper e pôs seu membro em minha boca. Pablo foi até meu ouvido e disse baixinho:
— Chupe gostoso. E abra as pernas que vou comer você.
Estava sendo estocado pela frente e por trás. Enquanto Pablo me penetrava com força, Juan movimentava lentamente o quadril para frente e para trás, olhando em meus olhos. Os movimentos eram suaves. E meus olhos e mãos percorriam suas coxas, quando um gemido anunciou seu orgasmo. Juan estava esporrando. E, ainda gemendo, inundou minha boca com um jorro quente e cremoso.
— Isso, garoto. Bebe tudinho — repetia ele, várias vezes, em voz baixa, com cara de satisfação.
Engoli. Ele, logo, saiu da minha boca e circundou o sofá. Acompanhava seu movimento com a cabeça, quando meus olhos encontraram o corpo de Pablo, que caminhava para a minha frente. Ele tinha a cueca suja presa na metade das coxas, enquanto andava faceiramente com aquele sorriso travesso no rosto. Parou, diante de mim, no mesmo lugar onde Juan estava. Agachou-se e levou seus lábios aos meus, beijando-me com força. Roçou a barba no meu pescoço grosseiramente e sussurrou em meu ouvido:
— Vou gozar na sua cara.
Juan estava atrás de mim, com sua língua em meu ânus e uma mão me masturbando, quando Pablo tirou sua cueca suja e me mandou abrir a boca. Ele dobrou a cueca e, violentamente, enfiou-a em minha boca. Estava eu ali, com aquele tecido barato e sujo na boca, quando o vi me dar um tapa no rosto. Meus olhos arregalaram. Gostei. Faz de novo. Pensei. E ele fez, do outro lado, com mais força. E, logo, começou a dar-me pancadinhas nos lábios com o membro dele e a dizer que esporraria em mim. Salivou a mão e pôs-se a se masturbar. Não demorou. O primeiro jato atingiu meus olhos e escorreu pela bochecha. Ele esporrava e gemia, chamando-me de vadia. Molhou meu rosto inteiro. Não me contive. Sob o movimento rápido da mão de Juan, esporrei no sofá, gemendo pelas narinas, gozando de novo. Que gozada, meu Deus! Pensei. Pablo me empurrou no sofá. Caí deitado, com o rosto para cima.
— Levante as pernas! — ordenou.
Obedeci-o. Nisso, ouvi o barulho do fechar de uma gaveta, quando virei minha cabeça. Era um vibrador, e estava na mão de Juan. É muito grande, meu Deus! Pablo mandou que ele enfiasse tudo com força em mim. Juan obedeceu. Eu gritei e, logo, ganhei mais uns tapas na cara.
— Calma, garoto. Relaxe. Relaxe — dizia Pablo, enquanto me estapeava.
Estava eu ali, deitado, com o vibrador em mim e uma cueca suja dentro da boca, quando os irmãos mexicanos se masturbaram e esporraram em minha cara ao mesmo tempo. Fiquei encharcado e não consegui abrir os olhos. Nesse momento, ouvi Juan dizer:
— Eu faço na cara. E você no cu.
O que eles vão fazer? Limpei meus olhos e vi Pablo se agachar entre as minhas pernas e puxar o vibrador com força. Doeu. Ele enfiou seu membro dentro de mim e ficou parado. Juan já estava em pé, segurando seu membro e apontando para meu rosto. Foi quando senti uma quentura. Oh, meu Deus! Ele está mijando dentro de mim. Não demorou muito para Juan me molhar a cara com seu líquido.
— Toma, vadia! — diziam eles, com rosto de satisfação, enquanto me molhavam de urina, dentro e fora de mim.
O som das buzinas dos carros invadiu meus ouvidos. O que é isso? Que confusão é essa? Estava zonzo, e levei minhas mãos ao cabelo, enquanto abria os olhos. Senti um cheiro forte. Era mofo. Onde estou? Vi as costas do sofá e a janela aberta. Corri meus olhos pelas paredes e não vi ninguém. Foi então que percebi que estava sem roupa e que tinha dormido nos colchões manchados da sala do apartamento no Brooklyn. Meu Deus, eu dormi aqui? Onde está Pablo?Que cheiro horrível é esse? Parece cheiro de cão. Pensei. Levantei-me e fui ao banheiro. Ao ver as paredes manchadas de sujeira e sentir o cheiro de fezes de gato, tive ânsia de vômito. Não deu tempo de levantar a tampa do vaso. Vomitei, segundos depois. Preciso tomar banho. Pensei. Alguns passos até o chuveiro foram o suficiente para um pequeno espelho refletir meu rosto. Tinha as bochechas rosadas, meu cabelo estava grudado, e da minha narina escorria uma gota de sangue. Estou sangrando. Abri o chuveiro e me joguei debaixo d’água. Lavei o cabelo, ensaboei o corpo, enxaguei-me e retornei à sala atrás das minhas roupas. Nisso, o asco me possuiu. O gato lambia o sêmen derramado no chão do apartamento. Lambia e miava. Oh, meu Deus! O que eu fiz? Preciso sair daqui! Vesti a calça e a camiseta, e tomei os sapatos na mão rapidamente, enquanto me dirigia à porta. Fechei-a com força e saí do prédio. No silêncio do táxi, uma lágrima fina escorreu em meu rosto e me fez pensar: por que deixei que eles fizessem aquilo comigo? A dor visitou minha alma, e com ela a sensação de humilhação. O que você fez, Gaius? Pensei.
Os dias que se seguiram àquele foram de reflexão. As sensações dentro de mim eram uma mescla de prazer e angústia, o que as tornavam mais intensas e vívidas. Desejava Pablo, mas o que aconteceu naquele apartamento era forte demais para mim. Nunca tinha vivenciado situação semelhante. E o que era mais esquisito é que, mesmo Pablo tendo me levado brutalmente ao seu universo sexual, eu tinha gostado. O que não sabia é se gostei de ter sido levado com ele ou somente do que encontrei lá. Estava confuso. Precisava conversar com alguém, então liguei para Richard.
Na véspera do meu aniversário, ele foi ao apartamento do meu irmão. Já passava das 17h, quando chegou e me trouxe uma caixa de bombons Black Pearl, da Voges Hount Chocolat.
— Amigo, não poderei vê-lo amanhã. Preciso fazer uma viagem. Parabéns! — disse-me ele, abraçando-me.
— Acho que vamos jantar em algum lugar. Só nós mesmos. Não quero vexame dessa vez — respondi, em tom de brincadeira.
Levei Richard ao meu quarto, dizendo que precisava conversar a sós com ele.
— Então, tem visto Pablo? — perguntei.
— Nunca mais o vi. Ele enviou-me mensagem esses dias, convidando-me para sair, mas não aceitei — respondeu ele, jogando-se na minha cama.
— Por quê?
— Acho-o tão esquisito. Gaius, você acredita que ele me contou uma vez que fez sexo com um casal heterossexual?
— Mesmo? Ele é muito bonito. Você não tem ciúmes dele?
— Nós não namoramos, amigo. Só ficamos duas vezes. Ele é muito gostoso, mas acho que não vai rolar nada mais que isso. O que gosto dele é que está sempre disponível quando chamo, e é muito bom de cama. Acho que Deus estava inspirado quando o fez. Mas tem algumas coisas que não tolero. É pobre e tem um aspecto sujo. Você não observou? Um dia, ele me convidou para ir ao apartamento dele. Quando disse que era no Brooklyn, dei uma desculpa e não fui.
Nossas risadas me fizeram relaxar.
— Richard, pensei que vocês estivessem namorando — comentei.
— Não! Desde o ano passado, quando o trouxe à sua festa surpresa, ele sempre pergunta por você. Acho que tem interesse — revelou, olhando-me para ver qual seria minha reação.
Graças a Deus que ele não está namorando Pablo. Aliviei-me. Sentei na cama, de frente para Richard, segurei suas mãos e disse:
— Amigo, preciso contar uma coisa. Na noite em que fomos ao Chinatown, depois que nos despedimos, ele mandou mensagem, e fui ao apartamento dele...
Depois que contei a Richard tudo que tinha acontecido, ele limpou minhas lágrimas, suavemente, e me abraçou.
— Sinto muito que tenha passado por isso — disse, balançando a cabeça em desaprovação.
— Não sabia que ia ser assim. Achei que iríamos ficar só nós dois. Mas tudo foi tão rápido, intenso e brutal... Quando percebi, já tinha acontecido. Estou confuso porque gostei do que aconteceu, mas me sinto angustiado. Não sei se você consegue entender o que digo.
— Olhe, amigo. Pablo é um homem envolvente. É difícil não se encantar com ele. Toda aquela beleza rústica... Isso chama a atenção de qualquer pessoa. Acho que o que está acontecendo é que você foi levado ao mundo dele muito rapidamente. Tudo aconteceu de uma forma muito sexual. Você se impressionou. E tem motivos para ficar impressionado. Realmente, tudo que eles fizeram com você foi muito forte. Não sei como me sentiria se tivesse acontecido comigo.
Richard contou-me que das duas vezes em que saiu com Pablo, não percebeu aqueles gostos exóticos no sexo, e que gostou de ter ido para a cama com ele. Disse, ainda, que o lance deles era mais amizade, pois tinha percebido que Pablo não estava à sua altura. Completou, dizendo que não iria se casar com um fisioterapeuta e morar no Brooklyn. Almejava bem mais para si. Ao final da nossa conversa, tive vontade de revelar a ele o que aconteceu com papai em Monte Carlo, mas o barulho da porta batendo me fez parar. Era Marcus que chegava.
— Vem! Vamos falar com meu irmão — agarrando-o pelo braço e caminhando à sala.
— Oi, Richard! — disse meu irmão.
— Oi, Marcus! Chegando do trabalho?
— Sim. Por esta semana, chega. Vou aproveitar para passar o fim de semana com o aniversariante — e apontou o rosto para mim, sorrindo.
Adoro meu irmão!
— Vim dar um abraço nele hoje, pois amanhã terei de fazer uma viagem e não estarei aqui.
— Que pena, Richard! Estamos pensando em ir ao Barbetta para jantar. Seria bom se estivesse conosco. Se mudar de ideia, apareça — disse Marcus, beijando-me o rosto e caminhando para seu quarto.
Despedi-me do meu amigo e voltei ao quarto mais aliviado por ter conversado com alguém sobre o que aconteceu com Pablo. Depois, fui ver meu irmão para saber a que horas iríamos jantar.
— Marcus? Marcus? — chamei, batendo na porta e entrando em seu quarto.
— Oi, maninho! Estou no banho — respondeu ele.
Alguns passos foram o suficiente para que conseguisse empurrar a porta entreaberta do banheiro. Um cheiro de jasmim me recepcionou. Ele estava dentro do box, com o chuveiro ligado, ensaboando o peito e cantarolando. Escorei-me à cômoda do espelho e cruzei os braços.
— A que horas vamos jantar? — perguntei.
— Fiz reservas para as 21h. Tudo bem para você?
— Tudo bem. E seremos só nós? — perguntei novamente.
— Não! Aidan não vai, se é o que quer saber. Não o convidei, mas ele sabe que seu aniversário é amanhã. Então, pode ser que ele o procure. Vocês não se viram mais?
— Disse a ele que precisava de um tempo. Desde a véspera de ano novo que não o vejo. Já faz alguns meses. Sempre recebo mensagens dele no celular, mas não me sinto preparado para encontrá-lo.
— Sabe que torço por vocês, não é, maninho?
— Sei, sim — respondi, desconcentrando-me da conversa.
Marcus tinha um sabonete verde claro nas mãos e, depois de ensaboar o abdome, enquanto conversava comigo, lavava o pênis e as virilhas. Dobrava os joelhos, o que permitia às mãos alcançar o interior das coxas. Ele olhava para baixo e ensaboava a glande do pênis, puxando o prepúcio para trás. Era um movimento sexy. E eu não conseguia parar de olhar. Estava ficando excitado. Nisso, uma voz feminina me fez piscar os olhos. Era Núbia.
— Então vocês estão aí! — exclamou ela, sorridente, entrando no banheiro, beijando-me o rosto.
— Amor, o aniversário de Gaius é amanhã. Acho que vamos jantar no Barbetta. Às 21h está bom para você? — perguntou meu irmão, desligando o chuveiro e tomando a toalha nas mãos.
— Tudo bem. Quer dizer que amanhã você faz dezoito, é? Que bom! Aidan vai conosco? — indagou Núbia, olhando-me, curiosa pela resposta.
— Acho que seremos apenas nós — respondi, saindo do banheiro.
— Nós amamos muito você. Não esqueça! — afirmou Marcus, com a toalha na cintura e me mandando um beijinho com os lábios, enquanto eu saía do banheiro.
Retribuí o beijinho de longe e saía do quarto deles, quando ouvi Núbia dizer que precisava chamar a babá para ficar com Arthur no dia seguinte.
Era uma voz doce, angelical, repetitiva e manhosa. Então, percebi que alguém estava empurrando meus ombros.
— Acorde, tio! Acorde!
Abri meus olhos. Era Arthur, ainda de pijama. Meu Deus, que horas são? Abracei-o junto ao meu corpo e envolvi a nós dois com as cobertas.
— Fique aqui quietinho com o tio. Vamos dormir mais um pouco.
Foi quando o susto invadiu meus ouvidos.
— Tio, papai me mandou acordá-lo. Vovô chegou de viagem e quer falar com você.
Arregalei os olhos e sentei na cama ao mesmo tempo, repentinamente.
— Quem está aqui, Arthur? — perguntei.
— Vovô Lucas está na sala. Ele veio falar com você — respondeu.
O pavor me possuiu. Levantava-me, apressadamente, quando a porta do meu quarto se abriu. Era Marcus. Ele me olhava sério.
— Oi, maninho. Parabéns! Papai está na sala. Ele quer falar com você a sós. Posso trazê-lo aqui? — perguntou, beijando-me o rosto, enquanto me parabenizava.
— Não! De jeito nenhum! O que ele quer comigo? Não vou ficar sozinho com ele, Marcus! — respondi, agitado.
— Calma. Calma. Vou dizer a ele que você vai até a sala e que conversam lá. Certo? — perguntou, tentando me tranquilizar.
— Você e Núbia podem ficar comigo? — perguntei, pedindo.
— Claro, maninho. Não se preocupe. Não vai acontecer nada. Vá se vestir. Nós o esperamos lá. Vamos, Arthur?
— Não! Arthur vai comigo! — disse eu.
Depois de vestir minhas sandálias de dedo e meu roupão, segurei na mão de Arthur e me dirigi à sala. A cada passo que dava, apertava a mão do meu sobrinho com mais força. Estava nervoso, e curioso, também. Meu coração estava acelerado e eu podia ouvir seus batimentos descompassados. Já na sala, vi Marcus e Núbia sentados no sofá, diante de um homem maduro, vestido elegantemente. O homem usava terno e gravata azul marinho. Seus sapatos eram brilhosos. E seu cabelo estava penteado classicamente. Ao fundo da sala, vi um homem de branco, que estava em pé, de costas para mim, olhando a rua através da vidraça da janela. Era papai. O silêncio só foi rompido, quando o homem de terno azul levantou-se e disse:
— Senhor Barrys, bom dia! Feliz aniversário! Chamo-me Alexander Walker. Sou advogado da House’s Barrys. Seu pai e eu queremos falar com o Senhor — disse educadamente, estendendo e apertando minha mão.
— Obrigado, Senhor Walker. Mas, por favor, chame-me de Gaius — e soltei a mão dele, tornando a segurar a de Arthur.
Nesse momento, papai se virou para mim. Meus olhos ainda contemplavam as feições sérias da sua face, quando o movimento da mão dele me desconcentrou. Ele apoiava o corpo com as duas mãos na bengala de carvalho, e mexia, vagarosamente, os dedos de uma mão sobre a outra. Seu olhar era ríspido, e não estava diferente da última vez que nos vimos. Meu Deus, ele está com aquela bengala! Pensei. Quando vi aquele objeto na mão de papai, minha mão suada esmigalhou a mão de Arthur. Minha pupila dilatou. Estava com muito medo.
— Sente-se, Gaius. Alexander quer falar com você — disse papai, rispidamente.
— Estou bem assim, Senhor Walker. Pode falar — respondi, com a voz trêmula, tentando mantê-la firme.
O advogado caminhou até o sofá e apanhou nas mãos uma pasta de documentos e, em pé, disse:
— Gaius, hoje você completa dezoito anos e, como deve saber, todo cidadão norte-americano, a partir desta idade, é considerado responsável por todos os seus atos diante da nossa legislação, como também pode assumir qualquer benefício ou herança que seja devida a ele sem a necessidade de um tutor financeiro. Estou aqui, hoje, porque é desejo de seu pai entregar a você a sua parte da herança, mais uma porcentagem mensal nos lucros da House’s Barrys. Antes de falarmos da herança, preciso explicar que a House’s Barrys é um conglomerado de empresas imobiliárias de capital societário familiar, de nível internacional, ou seja, ela foi construída unicamente com o dinheiro da sua família e, hoje, está presente em todos os continentes. E os únicos acionistas dela são o seu pai, seu irmão e você. Com o falecimento da sua mãe, a parte financeira que cabia a ela, ou seja, cinquenta por cento da empresa, mais todos os bens que foram adquiridos durante o casamento, foram divididos em duas partes, metade para você, e metade para seu irmão. O Senhor Marcus Barrys já recebeu a parte da herança da sua mãe. Como você era menor de idade à época do falecimento dela, seu pai tornou-se seu tutor financeiro, ou seja, ele administrava seu dinheiro até que atingisse a maioridade. Como hoje você está completando dezoito anos, estou aqui para entregar a você a metade da herança da sua mãe, e para explicar os lucros mensais que você tem direito da House’s Barrys. Você tem alguma dúvida até aqui? — perguntou ele.
— Não. Pode continuar — respondi, sem entender direito o que estava acontecendo.
— Sua mãe faleceu em junho do ano passado. Desde que o trâmite para distribuição da herança dela ficou pronto, os lucros da House’s Barrys, que eram devidos a você, estavam sendo enviados a uma conta bancária. O titular dessa conta era seu pai, mas o nosso escritório já fez a mudança de titularidade e, agora, a conta está em seu nome. Todos os valores foram transferidos e já estão disponíveis para você. Todos os meses, até o décimo quinto dia útil do mês, após o fechamento do balanço financeiro do mês anterior, as quantias devidas a você, ao Senhor Marcus Barrys e ao Senhor Barrys são automaticamente enviadas às respectivas contas. Do mês de junho do ano passado até este mês, foram enviados pouco mais de trezentos milhões de dólares para sua conta, o que nos faz constatar que a média de lucro mensal da House’s Barrys por acionista é de pouco mais de três milhões de dólares, visto que foram contabilizados para você um total de dez meses de lucros acumulados. Esse valor está sujeito ao rendimento mensal da empresa, e é dividido igualitariamente entre o seu irmão, seu pai e você. Estamos falando de valores líquidos, e não brutos. Você tem alguma dúvida até aqui? — perguntou novamente.
— Não. Pode prosseguir.
— A House’s Barrys, à época do falecimento da sua mãe, estava avaliada em dezenas de bilhões de dólares. Com a distribuição que precisou ser feita, alguns bilhões foram divididos entre você e seu irmão. E o restante é direito do seu pai. No caso de falecimento dele, toda a herança do seu pai, segundo a vontade dele, será destinada exclusivamente ao Senhor Marcus Barrys. Com o falecimento do seu pai, você não herdará nenhuma quantia da House’s Barrys, mas continuará como acionista e receberá os lucros mensais que são a herança da parte da sua mãe. Você está compreendendo o que digo? — perguntou mais uma vez, franzindo a testa, esperando minha resposta.
— E por que não herdarei nada quando papai falecer?
— Esse é um desejo do seu pai, e a lei norte-americana assegura o que ele quer fazer com a herança dele.
Senti uma pontada no coração.
— Pode continuar — disse, tentando parecer indiferente.
— Muito bem. Concluindo, estou dizendo a você que na sua conta dos lucros, somados os meses de junho do ano passado até este mês, estão disponíveis pouco mais de trezentos milhões de dólares. A parte da sua herança também já está disponível, ou seja, os bilhões que foram divididos entres vocês três com a morte da sua mãe. Caso tenha alguma dúvida sobre a divisão, o Senhor Marcus Barrys poderá explicar melhor, pois isso envolve assuntos de natureza particular da sua mãe e do seu pai. Somando tudo, hoje está disponível na sua conta algumas dezenas de bilhões de dólares para você, que é o resultado dos lucros acumulados de dez meses mais a sua parte na herança deixada por sua mãe. E lembro que os seus rendimentos mensais continuarão sendo enviados a você, mesmo com o falecimento do seu pai e seu irmão. Você detém vinte e cinco por cento das ações da House’s Barrys. E isso continuará até quando você falecer ou decidir vender suas ações. Você tem alguma dúvida? — perguntou.
Eu não sabia para onde olhar. Papai me encarava e o advogado esperava uma palavra minha. O que digo?
— Marcus, posso falar com você um instante? — e soltei a mão de Arthur, dirigindo-me ao meu quarto.
Lá, perguntei ao meu irmão se ele sabia o porquê de tudo aquilo. Disse-me que papai tinha feito a mesma coisa com ele. Eu perguntei se podia confiar no que o advogado estava dizendo, se não corria o risco de estar sendo enganado. Meu irmão me explicou resumidamente:
— Maninho, escute o que vou dizer. A empresa valia bilhões. Papai conseguiu o valor que a empresa valia com os bancos. Esse valor ele dividiu em três, a parte dele, a minha e a sua. A parte dele, ele devolveu ao banco e até hoje paga mensalmente o saldo até liquidar a dívida. A minha parte, ele já me deu. E, agora, ele está dando a sua parte...
— Mas a parte da herança da mamãe, depois que ela morreu, não deveria ficar com papai? — perguntei, interrompendo-o.
— Deveria, sim. Mas mamãe fez com que papai assinasse um documento que garantisse que depois da morte dela, a empresa deveria ser avaliada, vendida e os valores fossem divididos entre nós três imediatamente. Para não se desfazer da empresa, correndo o risco de perder um negócio familiar sólido, papai optou por recorrer aos bancos e conseguir o valor que a empresa valia à época, e entregou esses valores a nós dois. Como nós somos sócios, temos direitos a valores de lucros mensais. Papai fez tudo que prometeu à mamãe e tudo que está no documento assinado por ele mesmo. Como você era menor de idade à época, papai administrou seu dinheiro. Agora que atingiu a maioridade, ele está entregando tudo que é seu por direito. Eu também recebi a minha parte da herança e recebo, todos os meses, os lucros. A única diferença entre mim e você é que eu recebo também salário por ser o diretor da empresa. Entende?
— E por que com a morte de papai a herança dele ficará só para você? — inqueri.
— Maninho, esse é o desejo dele. Acho que nós sabemos o porquê.
Senti outra pontada no coração.
— Então, estou recebendo dezenas de bilhões de dólares? É isso? E está tudo certo?
— Está sim. Conferi tudo antes de eles virem aqui falar com você. Eu só não sabia que papai iria aparecer de surpresa aqui no domingo para tratar disso. Pode voltar para a sala e assinar a papelada. Depois, com calma, você e eu podemos ver como aplicar seu dinheiro, certo? — e me deu um beijo no rosto, encorajando-me.
— Tudo bem. Vamos lá — respondi.
Quando retornei, o advogado e papai estavam sentados à mesa de jantar.
— Alguma dúvida, Gaius?
— Não, Senhor Walker. Onde assino?
— Aqui, por favor — respondeu ele, apontando o dedo para quais folhas deveria assinar.
Quando terminei de assinar as várias folhas de vários documentos, levantei meus olhos e encontrei os de papai. Estávamos próximos, separados apenas pela mesa de mármore envelhecido do apartamento de Marcus. Ele tinha o olhar duro, e encarou-me grosseiramente até encostar a bengala na cadeira e começar a assinar as mesmas folhas que assinei. Levantou-se e foi onde Marcus e Núbia estavam, beijou-os, fez um afago na cabeça de Arthur, e caminhou à porta sem dizer nenhuma palavra. O advogado apertou minha mão e me entregou seu cartão, para o caso de eu ter alguma dúvida. Quando vi papai saindo, levantei-me, fui para perto do meu irmão e disse:
— Papai. Hoje é meu aniversário. O Senhor não vai me dar um beijo? — perguntei, tremendo a voz.
— Tudo que está na minha casa que for seu, chegará em breve aqui. Mande buscar seu carro também. Vamos, Alexander — respondeu ele, de costas, sem me olhar.
E saíram, batendo a porta. Não aguentei e solucei. Corri ao meu quarto e me joguei na cama, chorando.
Meus olhos sonolentos perceberam que o crepúsculo anunciava que a noite chegava. Daqui a pouco tenho que levantar para me arrumar, mas agora não. Pensei, e voltei a dormir. Um agradável odor amadeirado chegou às minhas narinas e, logo, senti uma mão suave tentando retirar os cabelos que cobriam minha testa. Virei-me e abri os olhos. Era Aidan. Estava agachado ao lado da minha cama. Meus olhos abertos encontraram seu sorriso. Ele acarinhava meu rosto, quando eu disse:
— Oi!
— Oi, menino! Desculpe se o acordei. Só queria beijar você antes de ir embora.
— Você estava aqui? — perguntei, segurando sua mão e pressionando-a contra meu peito.
— Estava. Vim conversar com Marcus e Núbia, e entregar seu presente. Eles disseram que você dormiu a tarde inteira. Não quis acordá-lo. Só vim deixar isso, mas não aguentei e fiquei aqui observando você dormir.
Ele me entregou um embrulho coberto por um saco grosso marfim, enlaçado por um cetim verde esmeralda.
— Espero que goste — disse, timidamente.
Era um livro: Helena de Tróia.
E continuou:
— Este livro conta a história de uma mulher que causou uma guerra entre dois povos por causa de sua beleza e do seu amor.
— E por que acha que vou gostar de lê-lo? — perguntei, curioso.
— Porque essa história é parecida com a sua. Talvez, ainda não tenha percebido, mas sua beleza e tudo que você é está causando uma guerra dentro de mim há muito tempo. Um dia vou explicar melhor. Feliz aniversário, menino! — e me beijou os cabelos.
Ele ainda me olhava, quando se levantou, e depois deu as costas para mim.
— Aidan! — chamei-o, com a voz baixa.
Ele virou-se, e eu continuei:
— Nós vamos ao Barbetta daqui a pouco. Deveria ir conosco.
Os olhos dele se apertaram e um sorriso largo mostrava os dentes, quando me disse que iria tomar um drink com Marcus e me esperaria na sala. Seu rosto estava resplandecente, quando saiu e fechou a porta do meu quarto. Animei-me. Preciso me arrumar. Pensei.
Já passava das 20h20 quando cheguei na sala. Encontrei Núbia dando recomendações à babá, que cuidaria de Arthur durante o jantar. Vi Marcus e Aidan conversando no sofá, enquanto bebiam uísque. Apareci e atraí os olhares para mim. Eu vestia uma calça Louis Vuitton preta, aveludada, e uma camisa Gucci manga longa branca. Tinha nos pés um exclusivo Aubercy com diamantes na parte frontal, e um terno Versace 100% lã tailor, amarelo brilhante, com apenas um botão que cobria meus ombros e tórax. No rosto, apenas um pouco de pó e uma pincelada de um delineador preto nos olhos. O perfumedeixei por conta da Chanel. Adoro jasmim, meu Deus! Fui vestido para matar mesmo, afinal, além de eu estar fazendo aniversário, era o novo bilionário dos Estados Unidos. E precisava comemorar isso.
— Boa noite! — exclamei, pondo as duas mãos na cintura e abrindo um sorriso, esperando que eles admirassem minha beleza.
Marcus e Aidan levantaram-se e foram ao meu encontro.
— Está lindo, maninho — disse meu irmão, beijando meu rosto.
— Não tenho nem o que dizer diante de tanta beleza — comentou Aidan, beijando-me o outro lado do rosto, com os olhos faiscando de felicidade.
— Gaius, você está lindo! Vestiu-se para matar! — comentou Núbia, empolgadamente.
Chegando ao Barbetta, o maître recepcionou-nos e nos encaminhou à mesa. Era um domingo à noite, e o restaurante italiano estava abarrotado de pessoas. Estávamos nós, Marcus e Núbia de um lado da mesa, Aidan e eu do outro, quando o garçom anotou as bebidas.
— Aidan, acompanha-me no uísque? — perguntou meu irmão.
— Claro — respondeu ele.
— Então, vamos querer uma garrafa de Dalmore 50 anos — falou ao garçom.
E continuou, dirigindo-se à Núbia:
— Meu amor, você está dirigindo, mas quer beber alguma coisa?
— Quero um refrigerante Chinotto.
— E você, maninho? — perguntou a mim.
— Um Cosmopolitan, por favor — respondi, olhando para o garçom.
Instantes depois, estávamos conversando amenidades, enquanto decidíamos o que pediríamos para jantar. Era visível a felicidade de Aidan em estar conosco. Ele bebia o uísque empolgadamente, enquanto falava de viagens com Marcus. Aproveitei para ter uma conversa menos formal com Núbia. Dizia-me ela que achava que Aidan e eu formávamos um lindo casal e, também, que o via como um homem muito bonito e atraente, principalmente por ele ser muito alto. E é! Pensei. Ela me dava conselhos para eu aproveitar que ele era apaixonado por mim e casar logo. Eu a escutava, animadamente, quando a interrompi falando que algumas coisas ainda estavam confusas dentro de mim, e que precisava de tempo para discernir bem. Aproximei-me mais dela e comentei baixinho que tinha ficado com um homem e que havia gostado bastante. E, ainda, que achava estar sentindo algo, pois me percebia lembrando dele às vezes. Ela piscou os olhos de curiosidade e quis saber quem era. Quando contei que era Pablo, ela arfou.
— Gaius, vem mais para cá para eles não escutarem nada — sugeriu baixinho.
Depois, continuou:
— É aquele cara que estava na noite de Natal conosco em Monte Carlo?
— Ele mesmo — respondi.
— Meu Deus, Gaius! Você tem uma sorte para homens bonitos. Quem me dera essas coisas acontecessem comigo!
Como assim? E meu irmão? Pensei.
E rimos. Nossas risadas chamaram a atenção de Marcus e Aidan, que nos olhavam curiosos. Olhei-os e dei uma piscadinha de olho para Aidan, que retribuiu sorrindo com a boca fechada. Voltei a conversar com Núbia, quando o garçom deixou na mesa um champanhe Dom Pérignon dentro de um balde de gelo e duas taças emborcadas.
— Desculpe, Senhor. Nós não pedimos champanhe — disse Marcus ao garçom.
— É uma cortesia do Senhor Marvel para o Senhor — e estendeu, diante de mim, um cartão dentro de um envelope em tom pastel.
— Para mim? Obrigado — agradeci a ele.
Olhei para Marcus e Aidan, que me encaravam curiosos, e abri o cartão.
“Há tempos não via tanta beleza em um único homem. Espero que goste. Maison”.
Minha alma deu três pulinhos de tanta alegria. Oh, meu Deus! Um homem está me cortejando. Adoro isso! Pensei. Fechei o cartão e o guardei no terno, sentindo-me poderoso. Todos estavam me olhando curiosos e esperavam que eu dissesse algo.
— Então, vamos fazer um brinde? — perguntei, tentando disfarçar o sorriso.
— Não, não! Primeiro diga quem mandou o champanhe — solicitou Núbia, sorrindo, curiosa.
— Não sei. Foi um homem chamado Maison. Não o conheço.
— Aidan franziu a testa. Marcus abriu um sorriso. E Núbia fazia cara de inveja branca ao me olhar.
— Ele foi muito gentil, maninho. E ainda tem muito bom gosto para champanhe. Quando o garçom vier, pergunte quem é e o convide para brindar conosco. É o mínimo que pode fazer — instruiu-me meu irmão.
Fiz sinal ao garçom pedindo mais três taças e desemborcava as que estavam no balde de gelo, quando Aidan se aproximou e perguntou:
— Essas abotoaduras são as que dei de presente no ano passado?
— Sim — respondi, olhando aqueles olhos cor de âmbar que me causavam quentura.
Ele abriu um sorriso. Adoro quando ele sorri, mostrando-me aquela cara de homem apaixonado. Adoro quando ele se derrete para mim.
— Estou feliz que esteja usando hoje. E, só mais uma vez, você está lindo! — sussurrou ao meu ouvido, aproximando seu rosto do meu para me beijar a bochecha.
Adoro quando ele se declara para mim! Pensei e pisquei os olhos três vezes. Enquanto ele falava, senti hálito de álcool em sua boca. Gostei daquele cheiro. Ele tomou o champanhe nas mãos e a abriu. Servia a nós quatro, quando pedi ao garçom que fosse até o Senhor Marvel e perguntasse se ele não gostaria de brindar conosco. O garçom não demorou e caminhava em nossa direção, apontou discretamente para nossa mesa e deixou o caminho livre para Maison chegar. E lá vinha ele. Era um homem maduro, parecia ter pouco mais de cinquenta anos, era gordo e usava cavanhaque. Os poucos cabelos que tinha na cabeça estavam ordenados da esquerda para a direita. Usava um clássico terno cinza com gravata azul. Caminhava devagar em nossa direção, olhando em meus olhos até nos saudar.
— Boa noite a todos! Peço desculpas se estou interrompendo alguma coisa.
— Não está interrompendo, Senhor Marvel. Quer brindar o aniversário do meu irmão conosco? — perguntou Marcus.
— Sinto-me lisonjeado pelo convite.
— Mas, antes, deixe-me apresentar minha esposa Núbia, e o nosso amigo Aidan. Chamo-me Marcus, e este é o aniversariante da noite, Gaius.
Ele me olhou e seus olhos verdes brilharam.
— Muito prazer, Gaius! — e estendeu a mão para me cumprimentar.
E, depois, comentou:
— O seu nome é grego, não é?
— Sim. Foi mamãe quem escolheu. Ela era grega e disse que meu nome é uma versão masculina do nome da deusa Gaia. Nunca estudei muito sobre isso, mas ela sempre disse que eu me parecia com o que essa deusa representa, por isso o escolheu para mim.
— Talvez, sua mãe estivesse certa — e apertou os olhos com um sorriso leve de boca fechada.
— Senhor Marvel, por favor, sente-se conosco para brindar — sugeriu meu irmão.
— Obrigado, Marcus! Mas, por favor, chamem-me de Maison — pediu, sentando-se na cadeira que o garçom tinha trazido.
Estávamos nós, Marcus e Aidan de um lado da mesa, Maison e eu do outro lado, e Núbia entre nós quatro. Aidan encheu a taça de Maison de champanhe e ergueu a sua, dizendo:
— Parabéns, Gaius! Hoje, você atinge a maturidade. Queremos desejar a você felicidades, mas não se esqueça de não aprontar muito. Ah, os meus dezoito! Saúde a todos!
Graças a Deus que ele não me fez nenhum vexame dessa vez!
Rimos, brindamos e bebemos. Maison dizia que morava em Madri, e que estava em Nova Iorque apenas para um congresso de banqueiros. E, ainda, que ficaria apenas mais uma semana na cidade, e logo voltaria à Espanha. Núbia perguntou em qual banco ele trabalhava, e meus ouvidos foram agraciados com a resposta.
— Sou vice-presidente do Banco de Madri.
Uau! O cara é dono de um banco privado, e ainda está me cortejando. Estou gostando disso, meu Deus!
Olhei para ele e sorri. Ele retribuiu. Nisso, meus olhos viram a testa franzida de Aidan mais uma vez. O que será que ele está pensando? Maison aproveitou que Núbia, Aidan e Marcus conversavam para se dirigir somente a mim.
— Espero que não tenha sido grosseiro em enviar o champanhe. Vi que você bebia um drink, mas não sabia o que enviar a um homem tão belo.
Arfei com o galanteio. Meu “eu” interior estava saltitando nesse momento.
— Não, não foi. Na verdade, quase não bebo. Tomei um drink e essa taça de champanhe, e por hoje é só. Obrigado pelo que escreveu no cartão — respondi, com a voz suave, incentivando-o a continuar flertando comigo.
— Fiquei receoso de Aidan ou Marcus ser seu namorado. Não sabia que um era seu irmão, e outro era amigo da família.
— Não. Ele não é meu namorado — comentei, timidamente, volvendo os olhos para Aidan.
— Gostou do que escrevi para você?
— Gostei.
— E tudo é verdade. Há muito tempo não via um homem tão belo quanto você.
— Obrigado, Maison. Mas vou ficar envergonhado se ficar me dizendo essas coisas — e sorri mais uma vez para ele, jogando charme.
— Tudo bem. Não é minha intenção constranger você. Mas posso fazer apenas uma pergunta?
— Pode.
— Você é solteiro?
— Sou. E você?
— Sou divorciado, e tenho três filhas.
Maison e eu falávamos baixinho, quando meus olhos perceberam Aidan nos fitando de soslaio. Decidi que deveríamos pedir as entradas, e chamei o garçom.
— Alguma preferência? — perguntei a todos.
Pedi a ele que trouxesse alcachofras à romana e carpaccio. Não demorou e o cheiro de carne crua chegou à nossa mesa. Todos se serviam, enquanto Maison preparava delicadamente duas torradas com carpaccio, temperando-as com orégano e azeite. Tomou meu prato e trocou pelo que tinha preparado, enquanto conversávamos.
— Obrigado — disse a ele.
Que gentileza da parte dele, não? Ele é muito educado. Gosto disso! Pensei. Falávamos da filha mais nova dele, Luna, quando o garçom nos interrompeu e disse:
— Peço licença. Senhor Gaius Barrys, há um rapaz que deseja falar com o Senhor. Ele está na entrada do restaurante. Pediu para que fosse até onde ele está. O nome dele é Pablo.
Meu coração disparou. Como ele me achou aqui, meu Deus? Pedi licença a todos, levantei-me e fui até a entrada do restaurante. Meu coração estava acelerado e, sinceramente, não sabia o que dizer a ele, quando o visse. Enquanto caminhava, em um lapso de segundo, tudo que ocorreu no apartamento dele passou diante de mim. Pisquei os olhos, balancei a cabeça, desabotoei o Versace e desci os primeiros degraus do Barbetta. Ele estava encostado em um poste e, logo, viu-me.
— Quer falar comigo? — perguntei, seriamente.
— Oi! Falei com Richard pelo celular, e ele disse que hoje é seu aniversário. Então, fui ao seu prédio, e a babá me avisou que vocês tinham saído para este restaurante. Vim desejar felicidades. Não vai me dar um beijo? — perguntou, levantando as sobrancelhas e fazendo cara de carente.
Enquanto Pablo falava, um sentimento de superioridade surgiu em mim. Ou apenas ressuscitou? Sinceramente, não sei ao certo. Hoje, depois de anos, nunca entendi porque o tratei daquela forma.
— Por que beijaria você? Acho que você e eu somos muito diferentes, Pablo. O que aconteceu no seu apartamento naquela noite...
— Pare com isso, garoto! Sei que você gostou, e quer fazer de novo — interrompeu-me ele, falando pretensiosamente.
— Não me interrompa, quando eu estiver falando! Você já fez isso várias vezes, e não gostei! Como dizia, acho que somos diferentes. Aquela noite foi o suficiente para eu saber que estamos em caminhos distintos! — e concluí com a cara fechada.
— Pare com isso, Gaius! Venha aqui e me dê um beijo — pediu ele, aproximando-se de mim, tentando me agarrar pela cintura.
— Não! Não vou beijar você! Será que não percebe o que fez comigo? Pablo, você me dopou com cocaína, fez-me transar com seu irmão, gozou na minha cara e ainda mijou dentro de mim. Não acha que eu gostaria de ter sido perguntado se iria querer tudo isso? — questionei, enquanto o empurrava para longe de mim.
— Vai dizer que não gostou? — respondeu ele, ironicamente rindo.
O pior é que eu gostei.
— Não! Não gostei!
— Duvido que não tenha gostado — e mais uma vez se aproximou de mim, tentando me beijar.
— Se você tocar em mim, denuncio você! — ameacei, grosseiramente.
Ele recuou e entendeu que não estava brincando.
— Mas o que está acontecendo com você? Nós tivemos um lance bem gostoso, e agora vem com esse papinho chato. Qual é, garoto?
— Não tive lance nenhum com você! Você não é homem para ter lance comigo! Olha para mim, Pablo. Olha para você. O que tem para me oferecer? O que acha? Que vou passar os meus fins de semana em um apartamento mofado no Brooklyn cheirando cocaína e sendo fodido por você e seu irmão, enquanto seu gato lambe a porra que vocês jorram no chão? — questionei, ironicamente exaltado.
— Então, a questão é dinheiro, não é? — respondeu com cara de ódio.
— A questão também é dinheiro, mas não é só isso. Você não tem modos nem educação, não respeita minha vontade. Penso que é só um cara presunçoso que acha que transa bem! E, na verdade, nem é tudo isso. Já saí com homens bem melhores que você!
Que mentira acabei de dizer.
— Como Aidan, por exemplo?
— Sim, como o Aidan, por exemplo! Não é por acaso que ele está jantando comigo agora em um restaurante sofisticado, e você, não.
— Duvido que ele seja melhor que eu — retrucou, andando de um lado para o outro, nervoso, tentando rir para disfarçar.
E, naquele momento, deixei que a crueldade falasse por mim. E não me orgulho do que disse.
— Pois saiba que ele é melhor que você!
E me aproximei dele, olhando em seus olhos pretos cheios de raiva, e completei:
— Além de ele ter mais dinheiro, ser mais educado e bonito que você, ele não fede igual a você, e, ainda, tem um pau bem maior que o seu! — e abri um sorriso de satisfação para ele.
Pablo não disse nada. Touché! Agora eu o peguei! Pensei. Ele me olhou demoradamente com olhar de fúria, balançou a cabeça verticalmente com a mandíbula cerrada, e tirou do bolso da bermuda que usava uma caixinha transparente, atirando-a em meus pés. Deu as costas e caminhou enraivecido para longe de mim. Olhei para baixo e vi dois chocolates em formato de coração jogados no chão. Ergui minha cabeça e o vi se distanciando e limpando os olhos com as costas das mãos, bruscamente. Oh, meu Deus! Ele está chorando. Foi quando o remorso me possuiu. Oh, meu Deus! O que fiz? Entrei no restaurante correndo e fui direto ao banheiro. Lá, um grande espelho refletia a minha arrogância e maldade. Encarei a mim mesmo por um instante e não me controlei, caindo no choro. Quando alguém bateu na porta, senti que não estava sozinho. Tentava me recompor, ainda de olhos fechados, quando senti uma mão sobre meu ombro. Abri os olhos. Era Aidan. Olhei-o e o abracei. Ele me envolvia em seus braços e encostou sua boca em meu ouvido.
— Ei, calma. Vi você correndo. O que foi?
Solucei.
— Não foi nada. Só fiquei com saudade da minha mãe — comentei, baixinho, mentindo para não precisar dizer a ele o real motivo do choro.
Antes que terminasse de falar, a voz desagradável de um desconhecido tomou conta do banheiro.
— Que é isso, meu irmão? Vai ficar de agarração aqui no banheiro? Vocês não têm outro lugar para fazer essa sujeira, não? Que nojo! — cuspiuem uma das pias e, depois, caminhou para a porta, balançando a cabeça em desaprovação, olhando para trás.
— É melhor nós voltarmos para a mesa — comentou Aidan, afastando seu corpo do meu.
— Encontro você lá em um segundo.
— Não. Eu vou esperar — retrucou ele.
— Preciso ficar um pouco sozinho, Aidan.
Ele segurou de leve meus ombros e disse:
— Olha! Caras como esse que estavam aqui são perigosos. Eles não nos entendem. Podem nos machucar. Você entende?
— Sim — respondi, cabisbaixo.
— Vamos — ordenou ele.
Quando voltamos à mesa, as conversas me distraíram e calavam a voz que me acusava por ter dito coisas muito duras a Pablo. Tentava relaxar, mas estava um pouco difícil. Aidan e Maison falavam de bolsas de valores, quando resolvi ficar perto do meu irmão.
— Está gostando, maninho? — perguntou ele.
— Estou. Marcus, acho que devíamos pedir o jantar — sugeri.
— Calma, maninho. Estamos nos divertindo. Há tempos não saíamos juntos para conversar um pouco. Veja! Estamos todos felizes e conversando e brincando. E hoje é seu aniversário. Então, precisamos comemorar. Você não acha? — perguntou com a voz meio alta.
Ele está bêbado? Pensei. Marcus tinha as faces rosadas e o semblante relaxado, estava visivelmente embriagado. Eu olhava para Núbia, quando ele me puxou pelo ombro e encostou minha cabeça em seu peito, beijou meus cabelos e disse que me amava. Fechei meus olhos e me entreguei aos afagos dele. Um toque de celular me desconcentrou. Núbia pediu licença e saiu da mesa para atender. Retornou nervosa, fez sinal que queria falar comigo em particular. Discretamente, saí da mesa.
— O que houve? — perguntei.
— Kathy acabou de ligar. Arthur teve uma crise de asma. Ela chamou a ambulância e eles já estão a caminho do hospital. Vou encontrá-los agora — contou, nervosa e agitada.
— Vou com você.
— Não! Não! Hoje é seu aniversário, Gaius. Fique aqui. Fique com seus amigos. Estou de carro, vou ao hospital e, depois, para casa. Quando jantarem, você leva Marcus de táxi. Ele está embriagado e não vai ajudar em nada agora indo comigo ao hospital. Não diga a ele o que houve. Não deve ser nada demais. Arthur sempre tem essas crises.
— Você está bem para dirigir? Não quer ir de táxi? — perguntei, preocupado.
— Estou bem. Não se preocupe. Só preciso que você pegue a minha bolsa na mesa. Não quero chamar a atenção.
Entreguei a bolsa a ela e a acompanhei até a entrada do Barbetta, pedindo que não se preocupasse e que me ligasse, se precisasse. E ao caminhar de volta, meus olhos se alegraram. Vi o restaurante inteiro olhando para a minha mesa e batendo palmas, animadamente. Marcus, Aidan e Maison estavam em pé, com as mãos sobre os ombros uns dos outros e cantando funiculí funiculá. Os músicos que animavam a noite acompanharam os três até a última nota aguda da canção. E, depois, uma chuva de aplausos ecoou no restaurante inteiro. Oh, meu Deus! O que faço com esses meus homens? Pensei e sorri ao mesmo tempo. Dei um beijo em cada um e disse que estava com fome. Como Maison afirmou conhecer bem a culinária italiana, deixei-o escolher nosso jantar. E ele o fez muito bem. Pediutortellini de Bolonha e gnocchi e paleta de cordeiro. De sobremesa, tiramisù. Adoro a gastronomia italiana, mas é muito calórica. Pensei. Ainda conversávamos, quando Marcus chamou o garçom e pediu mais uma garrafa de Dalmore. Eu o interrompi no mesmo instante.
— De jeito nenhum, maninho! Já bebemos demais e está na hora de irmos para casa.
Aidan me ajudou a convencer Marcus:
— É verdade, Marcus. Amanhã, preciso acordar cedo e Maison tem um congresso para participar.
— Tudo bem. Tudo bem. Se vocês querem ir, nós vamos. Onde está Núbia — perguntou ele, com a voz embargada.
Graças a Deus que ele aceitou ir para casa. Comentei com ele que ela teve uma pequena indisposição, e que tinha ido para casa, mas que não era nada sério. Pedia ao garçom para trazer a conta e chamar um táxi para nós, quando Maison disse que nos levaria em casa, pois estava com um motorista.
Depois de deixarmos Aidan em casa, seguimos nós, Marcus, Maison, seu motorista e eu para o apartamento do meu irmão. Na porta do prédio, Maison perguntou se não precisava de ajuda com Marcus. Disse a ele que não. Segurei meu irmão pela cintura e apoiei seu braço em meu ombro, agradecendo o champanhe e a noite agradável. Dei as costas, e subia as escadas com Marcus, quando ele se aproximou e deixou no bolso do Versace o seu cartão, dizendo:
— Vou ficar em Nova Iorque até sexta-feira. Adoraria se me ligasse.
— Obrigado, Maison. Boa noite! — e sorri para ele.
No apartamento, ajudei meu irmão a sentar no sofá.
— Que coisa feia, hein, maninho? Embriagou-se no dia do meu aniversário? — perguntei, sorrindo e zombando dele.
— Não me embriaguei, não. Só fiquei um pouco alegre. E estou um pouco tonto, também. Onde está Núbia? — respondeu com a voz embargada.
— Núbia está no hospital com Arthur. Ele teve uma crise asmática, mas está tudo bem. A babá deve estar com ela.
— Ai, droga! Por que ela não me disse? — questionou ele, meio enraivecido.
— E você iria poder fazer alguma coisa nesse estado? Não se preocupe. Ela está bem. Disse que se precisasse, ligaria. Se ela não ligou é porque está tudo bem. Vou fazer um café para você, e depois vai tomar banho e dormir.
— Mas não quero café.
— Mas vai tomar, sim! Amanhã é segunda e você não pode acordar indisposto. Tem de trabalhar.
Fui até a cozinha, esquentei água e fiz uma xícara de café solúvel, e adicionei um pouco de leite, adoçando e levando para ele depois. Vi-o recostando a cabeça no sofá e esticando as pernas. Tenho de ir rápido, se não ele vai dormir. Fui até ele e me sentei sobre minhas pernas ao lado dele.
— Tome. Logo vai melhorar.
Ele levou a xícara à boca e bebeu o primeiro gole. Fez cara feia.
— Está quente. Não vou beber.
— Vai sim. Vou esfriar.
Havia silêncio entre nós, quando tomei a xícara de suas mãos e comecei a soprar levemente o café. Os olhos dele encontraram os meus. Ele tentava sorrir, mas não conseguia, apenas me observava. Vi-o molhando os lábios com a língua e meus sentidos despertaram para algo. Estava eu ali, ao lado do meu irmão, soprando seu café quente quando um desejo me invadiu. Estiquei meu braço e deixei a xícara sobre a mesa ao lado do sofá, olhei-o e aproximei meu rosto do dele, alternando meu olhar entre sua boca e olhos. Ameacei chegar mais perto, e ele nada fez. Senti sua respiração acelerada e não resisti, levemente pressionei minha boca contra a dele. Afastei-me em seguida e esperei sua reação. Seu olhar flamejante atingiu minha pupila, depois chegou até meus lábios. Foi então que ele selou sua boca na minha. Ele me beijava timidamente, e eu saboreava o gosto de seus lábios. Sua língua encontrou a minha e, no mesmo instante, eu molhei a cueca. Estava com tesão, mas só entendi o que iria acontecer, quando a mão dele deslizou em minhas costas e entrou em minha calça. Arfei. E uma certeza se apossou de mim. Oh, meu Deus! Ele está apertando minha bunda. É hoje que ele vai me comer! Pensei e me animei com a ideia.

***

Конец ознакомительного фрагмента.
Текст предоставлен ООО «ЛитРес».
Прочитайте эту книгу целиком, купив полную легальную версию (https://www.litres.ru/pages/biblio_book/?art=65971466) на ЛитРес.
Безопасно оплатить книгу можно банковской картой Visa, MasterCard, Maestro, со счета мобильного телефона, с платежного терминала, в салоне МТС или Связной, через PayPal, WebMoney, Яндекс.Деньги, QIWI Кошелек, бонусными картами или другим удобным Вам способом.