Читать онлайн книгу «Castrado» автора Paulo Nunes

Castrado
Paulo Nunes
Gaius Barrys está com vinte e quatro anos, quando foi obrigado a retornar a Nova Iorque. Dois anos se passaram desde que ele mergulhou na imensidão de seus instintos, buscando respostas e reivindicando seu direito à felicidade, mesmo de que forma escandalosa e pecaminosa. Privado do seu prazer, encarnou o ódio e a vingança à sua personalidade excêntrica e sombria, ateando fogo em uma engrenagem mental sofisticada, que se apresenta como um mistério para as ciências psicológicas.

O livro revela a obscuridade de uma mente traumatizada e complexa, expõe os desejos mais íntimos da alma humana e, por natureza, é dilacerante em sua narrativa. Travestido pelas roupas chiques do sexo, de uma pseudointelectualidade superficial e, principalmente, da bondade e caridade, tentativas de livrar a história de uma verdade cruel, ”Castrado” revela como Gaius Barrys quis santificar a maldade e a selvageria que habitam em todo ser humano.

Um dos livros mais vendidos e lidos em amazon.com.br e Kindle App, ”Castrado” proporciona um mergulho violento no inferno do trauma infantil e no submundo do sexo.

Resultado de dez anos de pesquisa, e quatro de escrita, o livro ”Castrado”, do acadêmico em psicologia e escritor Paulo Nunes, é a continuação de “Meu irmão e eu”, que expôs ao mundo a história verídica do amor mais controverso e escandaloso de todos os tempos. A todos, um recado sincero. Cuidado! É possível que o livro revele que o leitor não se conhece tão bem quanto pensa.

Dois anos depois de fugir com Pablo Flores, o bilionário Gaius Barrys é obrigado a retornar a Nova Iorque. Polêmicas, controvérsias, dissabores, incompreensões e ataques da imprensa internacional o mantém cativo no que ele mesmo chama de gaiola de ouro. Um emaranhado de carências, conveniências e acordos que o livraram de situações embaraçosas com a Justiça serviram ao propósito de aproximá-lo de Aidan Mettis, que desconhece os reais motivos do que aparenta ser o maior romance de sua vida. Inexplicáveis e sucessivos acontecimentos agitam a vida de Gaius e confundem a mente de Aidan, que prefere não questionar a índole de seu noivo, mesmo que as evidências apontem para uma imagem nítida de uma personalidade sexual, excêntrica, sombria e cruel. Refugiando-se na literatura e artes, como guarida às suas perdas, dores e privações, Gaius estabelece conexões com grandes pensadores e artistas da história para justificar as forças demolidoras que latejam e gritam dentro de si, a fim de se libertarem da escuridão onde foram aprisionadas pela terapia. Belo, poderoso e experiente, ele descobrirá se decidiu bem ao abrir as portas das salas escuras do seu mundo interior e entregar seus instintos à selvageria. A narrativa eletrizante de “Castrado”, continuação de “Meu irmão e eu”, além de passear pelo erotismo, suspense, terror, horror e drama, confere ao leitor uma viagem inusitada pela espiral psicológica e destrutiva de uma mente traumatizada, que está prestes a implodir.

Não perca a irresistível sequência de ”Castrado” com os dois próximos livros: ”Tesão e loucura”, e ”Vaidade e vômito”.

A ordem de leitura dos quatro livros da série ”Meu irmão” é:

* LIVRO UM: ”Meu irmão e eu”.
À venda em e-book desde o dia 08 de agosto de 2020 em amazon.com.br, e em papel desde o dia 08 de dezembro de 2020 em loja.uiclap.com.

* LIVRO DOIS: ”Castrado”.
À venda em e-book desde o dia 29 de abril de 2021 em amazon.com.br, e em papel desde o dia 29 de julho de 2021 em loja.uiclap.com.

* LIVRO TRÊS: ”Tesão e loucura”.
Tem previsão de lançamento em e-book e em papel até o dia 08 de agosto de 2021.

* LIVRO QUATRO: ”Vaidade e vômito”.
Tem previsão de lançamento em e-book e em papel até o dia 28 de fevereiro de 2022.

A tetralogia ”Meu irmão” é livremente inspirada em uma história verídica, e está registrada e protegida juridicamente como propriedade intelectual e de direitos autorais pertencentes exclusivamente ao autor, Paulo Nunes. Plágio e distribuições gratuitas serão combatidos judicialmente.


CASTRADO

PAULO NUNES
Copyright © 2021 Paulo Nunes Ltda
O autor publica a versão completa em e-book com exclusividade em Kindle Direct Publishing, unidade de publicação de livros eletrônicos da amazon.com.br, em 29 de abril de 2021. Nenhuma versão anterior, partes ou capítulos isolados desta obra foram publicados na internet ou distribuídos gratuitamente anterior a esta data. O autor publicou a versão completa para a impressão na plataforma de autopublicação da uiclap.com em 29 de abril de 2021. O livro está disponível em e-book em amazon.com.br, e em papel em loja.uiclap.com.

TÍTULO ORIGINAL
Castrado

IMAGEM DE CAPA
Ester Costa / E-mail: estercosta.capas@gmail.com
Victor Castro / E-mail: victor.castro@hotmail.com (mailto:victor.castro@hotmail.com)

PREPARAÇÃO
Paulo Nunes

REVISÃO
Ariel Pulsz / E-mail: arielpulsz@hotmail.com
Ítalo Moraes / E-mail: itlpsicologia@outlook.com
Paulo Nunes / E-mail: escritorpaulonunes@gmail.com (mailto:escritorpaulonunes@gmail.com)
Ricardo Ondir / E-mail: contato@revisorondir.com (mailto:contato@revisorondir.com)
Wescley Jorge / E-mail: wescleyjorge@gmail.com (mailto:wescleyjorge@gmail.com)

DIAGRAMAÇÃO
Epn7 / E-mail: escritorpaulonunes@gmail.com (mailto:waboocreative@gmail.com)
Paulo Nunes / E-mail: escritorpaulonunes@gmail.com (mailto:escritorpaulonunes@gmail.com)

ASIN
B08GJSBZ1R

ID DE DIREITOS AUTORAIS: DA-2021-008703

ISBN: 978-65-00-21347-8

FICHA CATALOGRÁFICA:
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Nunes, Paulo
Castrado / Paulo Nunes. -- 1. ed. -- Canela, RS :
Paulo Nunes, 2021. -- (Meu irmão ; 2)
ISBN 978-65-00-21347-8
1. Ficção brasileira 2. Ficção de suspense
3. LGBTQIA - Siglas I. Título II. Série.
21-63369 CDD-B86
Índices para catálogo sistemático:
1. Ficção : Literatura brasileira B869.3
Maria Alice Ferreira - Bibliotecária - CRB-8/7964

EDIÇÃO DIGITAL E EM PAPEL
2021

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS A PAULO NUNES
E-mail: escritorpaulonunes@gmail.com (mailto:escritorpaulonunes@gmail.com)
Tel./WhatsApp: +55 54 9 9707 8071 (https://api.whatsapp.com/send?phone=+5554997078071)
Redes sociais: @escritorpn7 (https://www.instagram.com/escritorpn7/)
SUMÁRIO

CAPÍTULO UM (#ulink_4154856a-0760-5434-9399-44dce280b853)
CAPÍTULO DOIS (#ulink_d23af678-9975-5b2b-8c52-943e3276221f)
CAPÍTULO TRÊS (#ulink_c071bee5-8063-5d1a-8563-b5676dd9f185)
CAPÍTULO QUATRO (#ulink_4b12f14d-5b37-5bef-a456-311bc760a306)
CAPÍTULO CINCO (#ulink_86e09f65-d53f-5ec9-8c5d-48916b552492)
CAPÍTULO SEIS (#ulink_a487d325-799f-5feb-9a4b-e5403d20e41f)
CAPÍTULO SETE (#ulink_c3fe61cb-a17b-5304-83ad-03d3cf85661e)
CAPÍTULO OITO (#ulink_4b2d2562-6046-5ea8-80e5-5f8b4952eaa0)
CAPÍTULO NOVE (#ulink_2b89f61e-1559-5ad5-8a7a-325df8c18112)
CAPÍTULO DEZ (#ulink_a653d589-ef46-5d8b-99a6-f3c06ce67c4e)
“Um livro perturbador que escancara o
universo humano doentio, forjado
pelas marcas do passado.”
Wescley Jorge. Jornalista.

“Castrado é a continuação de uma história
envolvente e cheia de desdobramentos
arrebatadores. A diferença é que essa
segunda obra de Paulo Nunes é
surpreendentemente mais impactante,
desafiadora, intensa e colossal.”
Ítalo Moraes. Psicólogo.

“História impactante sobre até que ponto
a mente humana chega para satisfazer
seus desejos mais profundos e obscuros.”
Ricardo Ondir. Revisor.

“Um livro que envolve o leitor a cada
capítulo. Diria que é muito mais que uma
obra literária. Chamaria de obra de arte.”
Ariel Pulsz. Escritor.

“Falo de compaixão, pois isso me humaniza.”
Paulo Nunes. Escritor.
Para uma melhor compreensão da história, recomenda-se que, antes de ler Castrado, o leitor já tenha lido o primeiro livro, Meu irmão e eu, que está disponível em e-book em amazon.com.br, e em papel em loja.uiclap.com. A tetralogia Meu irmão é composta por quatro livros. A ordem correta da leitura é Meu irmão e eu, Castrado, Tesão e loucura, e Vaidade e vômito.
Livremente inspirado em uma história verídica.

CAPÍTULO UM
O dragão

__________________

O poeta, pintor e visionário William Blake é, sem sobra de dúvidas, um dos autores mais estranhos da literatura inglesa para os críticos. Sua pintura em aquarela do apocalipse bíblico, intitulada de O grande dragão vermelho e a mulher vestida de sol, mesmo séculos depois, desafia o imaginário popular e provoca o expectador a um mergulho em suas dualidades inconscientes. No esplendor de sua genialidade, Blake apresenta o dragão como o guardião do que considero nossos tesouros inconscientes, aqueles que são recalcados com o propósito de nos manter civilizados e pertencentes a uma cultura. O enfrentamento a esse dragão, com o intuito de se apossar desses tesouros, é o que há de mais rude na natureza humana. A luta é para que o homem se aproprie do que é seu por direito e seja livre em sua essência, inclusive para amar, da forma que desejar. É isso que vejo naquele dragão.
Conflito, dor, sofrimento, angústia e desespero é o que deve esperar quem almeja ver o ouro dos seus infernos reluzir diante dos olhos. O contrário também é verdadeiro. Quietude, prazer, alegria, alívio e esperança são características de quem decidiu ignorar a existência dessa sala escondida e escura que existe em nós, mantendo, assim, uma vida normal e aceitável socialmente. Isso, com certeza, não se aplica à minha história. Mesmo sem armas e não tendo consciência do que fazia, em um passado não muito distante, enfrentei o dragão que detinha a chave da arca dos meus tesouros. Pensei que esse monstro habitava somente a minha fantasia e imaginação, mas, com o passar do tempo, descobri que também era real e dormia todas as noites na minha cama. Para vencê-lo, meu propósito era simples: esperar, humilhar e me vingar. Depois de destruí-lo, iria apossar-me do que é meu e recuperar a felicidade que me foi roubada brutalmente. Isso para mim significava vencer. Para a psicanálise, significa deixar o meu inconsciente gozar.
A analogia com a arte de Blake parece propícia para este momento de vida em que me encontro ao escrever meu segundo livro, que é a continuação do que revelei no primeiro. Caso o leitor não esteja entre os trinta milhões de pessoas que já leram a primeira parte da história em todo o mundo, incentivo-o a começar esta séria literária, inicialmente com o que já foi publicado, pois será mais fácil de compreender o que exponho, ou de enojar-se. Chamo-me Gaius Barrys e, antes que o leitor se confunda porque mencionei William Blake e o seu Grande dragão vermelho e a mulher vestida de sol, permita-me confessar que depois que apreciei aquela arte apocalíptica no Museu do Brooklyn, em Nova Iorque, quase todas as noites tenho sonhado com aquele ser estranho de olhos esbugalhados. Os sonhos eram misteriosos, repetidos e, quase sempre, acontecia a mesma coisa. Neles, estava em pé, contemplando o monstro e a mulher aos seus pés. Mas, em vez da calda, via, no dragão, um grande pênis, que não parava de gozar sobre o corpo dela, manchando sua roupa dourada, transformando-a lentamente em uma cor escarlate a cada jato de sêmen. A mulher tentava se livrar dos esporros que jorravam abundantemente do pênis. Eles encharcavam seu corpo inteiro. Em um determinado momento, o dragão e a mulher olhavam para mim. Nisso, percebia que era uma criança, com três ou quatro anos, e estava sem roupa. Com os olhos da mulher fitos nos meus, surgia em mim a consciência de que ela era uma santa. A Virgem Maria, talvez? Instantaneamente, sentia uma enorme vontade de estar no lugar dela e ser banhado por aquele líquido viscoso e farto. Então, caminhava ao encontro deles desejoso daquilo. E, antes que os tocasse, despertava do sono e acordava sobressaltado. Assim eram os sonhos.
Na noite de um desses sonhos que descrevi, em minha cama, já acordado, ainda com os olhos trêmulos, tentando aquietar a respiração ofegante, toquei meu membro e percebi que tinha gozado. No mesmo instante, olhei para ele, dormindo serenamente ao meu lado. Passeei meus olhos por aquele corpo e rosto angélicos, contemplando aqueles cabelos meio castanhos e meio loiros, e sentindo o ódio e a fúria gritarem dentro de mim. Apertei meus dentes uns contra os outros com força, respirei fundo e voltei a dormir.
Na tarde daquele dia, sutilmente, senti que alguém estava em meu quarto. Tentei abrir os olhos para me certificar, mas o sono me possuía por completo. Virei-me para o outro lado, agarrei-me a dois travesseiros que me faziam companhia e me entreguei àquela sensação gostosa de voltar a dormir. O barulho do fechar das gavetas e do salto alto, que tocava o piso de mármore e madeira do meu quarto, irritava-me. Que inferno! Pensei. E ao decidir libertar meu corpo das cobertas e esbravejar contra quem estivesse atrapalhando meu sono, virei-me e abri meus olhos, fazendo questão de mostrar minha cara feia a quem estava lá. Era Alyce. Meus olhos a fitaram com fúria. Bufei demoradamente para externar meu incômodo ao ser acordado, enquanto ela disfarçava que ainda procurava algo nas gavetas do meu closet. Caminhando como criança que sabe que fez alguma traquinagem e foi descoberta, cheia de vergonha em seu rosto, Alyce se aproximava da minha cama e parou somente ao me ouvir comentar com a voz impaciente, enquanto eu esfregava meus olhos:
— Não me lembro de ter pedido para que me acordasse, Alyce. Algum compromisso que esqueci?
— Como já passa das 13h, imaginei que quisesse repassar seus compromissos para esta semana. Temos convites pendentes que você não confirmou... — falava, com a voz baixa, tentando sorrir para que minha irritação não aumentasse, quando a interrompi.
— Não há nada que não possa esperar até o início da noite, Alyce. Sabe que não gosto que me acordem. Por que me acordou? Que inferno! — reclamei, batendo as palmas das mãos contra as cobertas, que ainda aqueciam meu corpo.
— Desculpe. Desculpe. Sei que não gosta, mas temos assuntos para tratar, e pensei que...
— Não pensou nada. Você me acordou para conversar sobre as suas investidas fracassadas em George. Meu Deus, Alyce! É claro que ele é gay! Que homem heterossexual e solteiro rejeitaria uma mulher linda como você? Esquece esse cara e me deixe dormir, por favor, por favor... — e fazia cara de súplica, implorando para que saísse do quarto.
— Gaius, não é sobre o George — interrompeu-me ela, assumindo um semblante de preocupação e tristeza em seu rosto, enquanto derreava as sobrancelhas e pressionava os lábios.
— Algum problema na entrevista com a Oprah? — questionei com tom de preocupação, percebendo que ela tinha algo importante a dizer.
— Para a Oprah, estamos com tudo sob controle — e ficou calada, olhando-me, querendo falar, como se buscasse palavras.
— Alyce, o que aconteceu? Algum problema com ele? Está tudo bem no México? — perguntei, imaginando que algo ruim tivesse ocorrido.
— Não. Não é isso... — e novamente ficou calada.
— Fale de uma vez, por favor — ordenei, ansioso e impaciente.
— O pai de Aidan faleceu — contou ela, à queima-roupa.
O quê?O Senhor Daan morreu? Pensei. Nisso, rapidamente, livrei meu corpo das cobertas e levantei-me, pondo-me a olhar para ela com cara de espanto, ainda tentando assimilar a informação que ouvi.
— Como isso aconteceu? O que houve? — perguntei, caminhando em sua direção, abraçando-a.
— Um infarto no início da manhã. A empregada percebeu que ele demorava no banho e foi ao quarto. Estava caído no box, com o chuveiro ligado. Ela chamou a equipe do resort, que o levou ao hospital. Foi inútil. Era tarde demais — respondeu, lamentando.
— Que coisa horrível, Alyce. Onde está Aidan? — perguntei, afastando-me dela, procurando um roupão para cobrir meu corpo quase nu.
— Já está no avião desde o fim da manhã. Deve chegar ao Havaí por volta das 23h — e caminhou até meu closet, apanhando um roupão branco para mim.
— Havaí? O que o Senhor Daan fazia no Havaí? E com quem? — questionei, tomando o roupão que ela estendeu a mim.
— Estava com sua empregada e cuidadora.
— O que ele fazia no Havaí, Alyce? Não faz sentido — e vesti o roupão, cobrindo meus ombros e tórax.
— Gaius, é uma longa história, mas já adianto que tem uma garota no meio.
— Está explicado. Um homem de quase setenta anos em um resort numa ilha isolada só podia ter uma garota no meio — comentei e, logo, acendi um cigarro, caminhando para a varanda, enquanto Alyce descortinava as janelas, clareando meu quarto.
Durante os dois tragos que dei em seguida, tentando organizar as ideias, contemplei, da varanda do meu arranha-céu, o Central Park naquela tarde ensolarada, e, por um instante, tive uma lembrança agradável. Fui interrompido dos meus pensamentos por Alyce, que perguntou:
— O que você quer fazer?
— O que disse? — respondi, perguntando.
— O que pretende fazer, Gaius? — Perguntou novamente.
— Prepare o avião. Vamos ao Havaí. Preciso ver Aidan — e dei mais um trago demorado no cigarro, inspirando o vento que ia de encontro aos meus cabelos.
— Imaginei que faria isso. Então, adiantei as coisas. Seu avião particular está pronto e esperando você há duas horas. Separei sua roupa no segundo quarto. Não tenho tanto talento para ser seu stylist como Richard, mas acho que consigo me virar em uma emergência — comentou, fazendo questão de deixar claro que era uma excelente assistente pessoal.
— O que eu faria sem você, Alyce? — perguntei, elogiando sua eficiência.
Ela ficou calada e sorriu com os olhos para mim, agradecida pelo reconhecimento.
— Vou tomar banho. Ajuda-me a me vestir? — perguntei, depois de ter apagado o cigarro, entrando no quarto, caminhando para o banheiro, retirando o roupão e jogando-o sobre a cama.
— Ajudo, sim. Só estou com uma dúvida — respondeu.
Virei-me para ela e balancei a cabeça, esperando-a falar.
— Separei uma cueca para você vestir, e não uma calcinha. Devo mudar? — e olhou para minhas pernas.
Nisso, percebi que dormi com uma das calcinhas exclusivas que havia comprado na Victoria’s Secret a pedido de Aidan. Alyce me olhava com cara de luxúria, imaginando o que aquele minúsculo tecido havia testemunhado na noite anterior. Tentando não rir, continuou:
— E precisava ser tão minúscula?
Aproximei-me dela e sussurrei em seu ouvido:
— Ele pediu que eu comprasse a menor que encontrasse, e tinha que ser pink — e fiz cara de que a noite anterior havia sido maravilhosa.
Dei as costas para ela e caminhei ao banheiro, faceiramente, quando a ouvi dizer:
— Precisa me contar essa história, Gaius — elevando a voz para que eu a ouvisse.
— Só depois que me contar a história da garota do Senhor Daan. Alyce, você esqueceu meu drink — gritei de dentro do banheiro, depois de rirmos da situação.
Ela apareceu na porta, fez cara de luxúria e respondeu, sensualmente:
— Não esqueci. George estava em dúvida se iria querer Margarita ou Kir royal. Enquanto você toma banho, vou dizer a ele que quer tomar um Kir com o seu café da manhã — e saiu do banheiro, rindo, criando motivo para ver mais uma vez o bartender gostoso que ela mesma contratou para preparar meus drinks e flertar com ele também.
Pouco mais de um ano antes daquele dia, em que recebi a notícia da morte do Senhor Daan, voltei a viver em Nova Iorque com um objetivo claro e definido. Regressei, determinado a conseguir o que queria e, mesmo que em alguns momentos tenha desistido, nunca consegui me livrar por completo do que imaginei fazer, embora os tormentos mentais que sofri tenham sido avassaladores. Tudo precisava acontecer da forma como arquitetei, e a minha parte consistia em controlar minha fúria, escondê-la de todos e oferecer as doses de veneno no momento certo. Este foi meu maior desafio: administrar meu ódio e escondê-lo de todos. À época, para que as coisas ocorressem como era preciso, tive que revelar parte do meu segredo para Alyce, que, naquele momento, rejeitou veementemente me ajudar. Insistente, fiz com que considerasse minha proposta sob a motivação de que não conseguiria confiar em mais ninguém além dela, e, também, prometi ajudar sua mãe com o tratamento de Alzheimer. Mesmo assim, ela negou meu pedido. Uma semana depois da nossa primeira conversa, em uma manhã de sábado, convidei Alyce para almoçar em um restaurante na Stone Street. Depois de algumas cervejas, uma deliciosa salsicha alemã e algumas risadas, retirei do bolso um chaveiro e dispus, humildemente, próximo ao prato dela.
— O que é isso? — perguntou, segurando as chaves, curiosa.
— Seu apartamento, que fica a uma quadra do Central Park.
Vi seus olhos arregalarem e sua boca carnuda abrir, vagarosamente, enquanto seu rosto assumia o semblante de espanto.
— Do que está falando, Gaius?
— Comprei para você. É seu — e dei um gole demorado na cerveja alemã.
Alyce me olhava assustada e desconcertada, enquanto procurava palavras em sua mente para aceitar minha proposta. Eu, percebendo que ela iria falar, interrompi-a:
— Sua mãe terá todas as despesas médicas pagas pelo tempo que precisar em uma instituição apropriada para cuidar dela. Peça a seu irmão para interná-la e enviar as despesas para Alexander. Ofereço a você um salário cinco vezes maior do que está ganhando atualmente na House’s Barrys. O apartamento é seu, e pode se mudar para lá hoje mesmo, se quiser. Caso desista de me ajudar no meio do caminho, você perde o salário, o apartamento e a ajuda financeira para sua mãe. Vai assinar um contrato de confidencialidade, e eu prometo que não se envolverá diretamente em nada que seja ilegal. E, ainda, que não derramarei sangue de ninguém — disse, à queima-roupa, quase deixando-a sem saída.
Ela me observava falar com seus olhos sorridentes, não acreditando que, finalmente, depois de anos morando em Nova Iorque, teria seu próprio apartamento. Atônita, sem saber o que responder, começou a gaguejar, e foi interrompida, por mim, novamente:
— Alyce, o apartamento foi todo reformado, fica a uma quadra do Central Park, tem sessenta metros quadrados, um dormitório, uma suíte, uma vaga para carro e custou um milhão e quatrocentos mil dólares — e dei mais um gole na cerveja, contemplando sua cara de felicidade.
Ela fechou os olhos, respirou fundo e respondeu:
— Sem nada ilegal e sem derramamento de sangue. Certo? — perguntou ela, aceitando minha proposta.
Touché! Pensei, regozijando em meu interior, controlando-me para não gritar de alegria.
— Prometo a você — e pisquei o olho para ela, enquanto mostrava meu sorriso de felicidade por tê-la como assistente pessoal e cúmplice do meu plano.
Para comemorar, chamei o garçom e pedi mais duas cervejas alemãs. Percebendo que ela olhava para ele com desejo, comentei:
— Ele é bonito, não é? — e rapidamente analisei o estilo descolado das roupas que ele vestia.
— O nome dele é George. Ele trabalha como garçom aqui durante o dia e é bartender em outro restaurante à noite. Venho no Baviera Bierhaus só para olhá-lo — comentou, baixando a voz como se me contasse um segredo.
— Ele é bartender? Então, acho que você já tem uma primeira missão como minha assistente pessoal. Preciso de um stylist, um cozinheiro, um relações públicas e um bartender. Parece que não precisamos mais procurar alguém para fazer meus drinks, não é? — e dei um sorrisinho safado para ela.
— Está brincando comigo, Gaius? Posso contratá-lo? — questionou, ansiosa e eufórica.
— Avise-o que sou exigente com meus drinks. Pode contratá-lo, sim.
Meu ouvido ficou com um zumbido, depois do grito de felicidade que Alyce deu. Tentando acalmá-la, compartilhando de sua alegria e rindo com ela, ordenei:
— Garota, vá pegar o celular do bartender gostoso e vamos sair daqui, pois temos que ir conhecer seu novo apartamento — e bati repetidas vezes na mesa com a palma das mãos, repleto de alegria, rindo para ela.
Mais uma vez, ouvi um grito fino de Alyce em meus ouvidos.
— Pare de gritar. As pessoas estão olhando — ordenei, tentando controlar as gargalhadas que dávamos juntos.
Não pude controlar minhas lágrimas ao ver Alyce emocionada ao entrar em seu apartamento. Depois de me abraçar e agradecer o presente, ela percorreu todos os cômodos, comentando o que faria em cada um deles e como ordenaria os móveis. Sua alegria era contagiante. Por um instante, enquanto acendi um cigarro, olhei para ela e senti inveja de toda aquela alegria e entusiasmo. Naquele momento da minha vida, acabando de retornar a Nova Iorque pela segunda vez, dentro de mim, só havia dor e saudade. Percebi uma lágrima fina escorrer em meu rosto. Disfarcei e voltei a sorrir. Nos próximos anos, depois daquele dia, Alyce foi, para mim, muito mais que uma amiga e cúmplice. Foi um anjo em minha vida. Sem ela, jamais teria conseguido fazer o que fiz. Só lamento que a promessa que fiz a ela de não derramar sangue, não pude cumprir.
Quando saímos do apartamento dela, levei-a para o hotel, onde, à época, estava hospedado. Chegando à suíte do The Plaza, Alyce e eu fomos recepcionados por Rosa e Juanita. Mãe e filha estavam tendo aulas de inglês, com James, professor particular. Saudou-nos, também, Alexander, advogado da House’s Barrys, que montou uma equipe de profissionais especialistas em finanças e abriu uma empresa somente para cuidar do meu dinheiro desde os meus dezoito anos, depois que recebi a parte da herança da minha mãe. Arthur, meu sobrinho, dormia em minha cama. Vendo Alyce e eu juntos, Juanita logo correu ao nosso encontro e abraçou-nos, primeiro a mim e, depois, a ela, falando em espanhol conosco:
— Que bom que chegaram! — disse ela, beijando-nos o rosto.
— Olá, carinho! — e retribuí o beijo, envolvendo-a com meu abraço.
— Posso confessar um segredo a vocês? — perguntou ela, quase sussurrando.
— Claro que pode, meu amor — respondi no mesmo tom de voz.
— Não gosto muito de James. Ele é muito chato — e torceu os lábios, cruzando os braços, enquanto reclamava das aulas de seu professor.
— Meu amor, é importante que você aprenda inglês. Não pode ficar falando somente em espanhol aqui. Não é Alyce? Terá que ir para a escola em breve. Por favor, esforce-se. É importante para mim. Sei que ele pode parecer exigente, mas saiba que é para o seu bem. Por favor, dedique-se a aprender. Posso esperar que fará isso? — perguntei à Juanita, tentando conscientizá-la, chamando Alyce com os olhos para ela me ajudar.
— Juanita, já conversamos sobre isso várias vezes. Eu também tive dificuldade com o inglês, mas minha tia me ajudou. Sei que vai conseguir, pois é uma menina muito inteligente — disse Alyce a ela, incentivando-a.
Juanita abriu um leve sorriso e respondeu, olhando para mim:
— Você prometeu me levar a Disney. Isso ainda não aconteceu.
— Prometo a você que levarei, sim. Mas precisa aprender logo o inglês e ajudar sua mãe, pois sei que ela deve estar detestando essa ideia. Assim que aprenderem, prometo que iremos todos a Disney, até mesmo Alexander. Não é mesmo, doutor? — e beijei Juanita, apontando para a mesa onde Rosa e James estavam, deixando claro que ela deveria voltar para a aula.
Depois, caminhei para onde Alexander estava sentado, cercado de papéis em sua mesa.
— Espero conseguir tempo para cuidar dos seus negócios e ir à Expedition everest — comentou o advogado, tentando parecer engraçado para mim.
Ora! Ele gosta de aventura! Bom saber, pois teremos fortes emoções pela frente. Pensei, enquanto tentava rir da sua piada sem graça, virando meu pescoço e perguntando à Alyce:
— Quer beber alguma coisa? — e a vi acenar discretamente para Rosa, que respondeu a ela somente com um balançar de cabeça, certamente, indignada por causa das aulas de inglês.
— Estou bem. Obrigada — respondeu Alyce.
— Você já conhece Alexander, não? — perguntei a Alyce e fiz sinal a Rosa para que me trouxesse uma taça de vinho.
— Sim. Vemo-nos sempre na House’s Barrys. Não sabia que também trabalhava particularmente para Gaius. Como vai, Senhor Walker? — perguntou ela.
— Por favor, chame-me de Alexander. Eu cuido de assuntos mais particulares para ele, sim. Espero estar correspondendo às expectativas que Gaius depositou em mim — e olhou-me como se pedisse um elogio em público.
— Estamos indo bem, Alexander. Você quadruplicou minha fortuna nestes quase sete anos que trabalha para mim. Fez um bom trabalho, mas sei que podemos conseguir um pouco mais, não é? — respondi, recebendo a taça de vinho das mãos de Rosa e provocando meu advogado a trabalhar mais para me deixar mais rico do que já era.
Enquanto me entregava a taça, Rosa comentou com a voz baixa:
— Arthur não queria almoçar. Ficou olhando as fotos do pai. Chorou e depois dormiu.
Nisso, virei minha cabeça para minha cama e vi meu sobrinho dormindo de bruços. Ele era tão miúdo para a idade que tinha. Parecia tão sereno ao dormir. Cheguei a pensar que estivesse morto em minha cama. Por um instante, fixei meu olhar nele e tive compaixão.
— Acha que devemos ir para o outro quarto, Rosa? — perguntei, baixando o volume da voz.
— Não precisa. Ele sempre teve um sono muito leve, mas dorme melhor com pessoas por perto. Seus pesadelos são sempre nas madrugadas, quando sabe que está sozinho. Agora, basta não falar alto.
— Vamos falar mais baixo, pois Arthur está dormindo — pedi, olhando para Alyce e Alexander.
— O que faz aqui, Senhorita Stein? — perguntou Alexander à Alyce, enquanto Rosa voltava para a mesa onde estava estudando.
— A partir de hoje, Alyce é minha assistente pessoal, Alexander. E trabalhará diretamente com você. Ela está ciente do que faremos — respondi antes que ela falasse e dei um gole no vinho, contemplando o sorriso dele ao saber que teria mais contato com ela por causa do trabalho.
Alyce sorriu meigamente e completou:
— Por favor, chame-me de Alyce, Alexander. Gaius me pegou de surpresa, mas conseguimos nos entender. Acredito que compreendi o que ele espera de mim — respondeu ela.
Nisso, aproximei-me dela e comentei:
— Tenho certeza de que você e Alexander, juntos, poderão me ajudar a conseguir o que quero mais rapidamente — e sorri para ela, beijando seu rosto.
— Espero que sim — comentou ela.
— Alyce, vou deixar você conversando com Alexander, a fim de ele explicar em que momento estamos do nosso plano. Fique à vontade — e afastei-me deles.
Acenei para James, cumprimentando-o, enquanto acendi um cigarro e caminhava para a varanda da suíte. Lá, dei um trago, um gole no vinho e observei Rosa e Juanita, aprendendo inglês com o professor em uma mesa, Arthur, que dormia em minha cama, e Alexander e Alyce, conversando em outra mesa. Com o olhar fixo neles, tive a impressão de que o advogado flertava com minha assistente, sorrindo demais para ela. Alyce parecia não perceber o que acontecia. Por isso, talvez, naquele momento, tornou-se mais atraente para ele. Alexander tinha pouco mais de quarenta e cinco anos, era baixo e não tinha tempo para exercícios físicos, o que lhe proporcionava um abdome flácido. Era magro, mas não conseguia esconder um pequeno excesso de gordura na barriga ao vestir-se formalmente com sua camisa social branca por dentro de sua calça azul-marinho. Ao sentar-se, era impossível, a qualquer pessoa, não observar aquela gordura abdominal, que tentava escapar do tecido, derramando-se para frente. O grisalho de seus cabelos e a pele do rosto manchada por falta de cuidados externavam o quanto ele trabalhava por dia, inclusive aos fins de semana. Sua barba estava feita todos os dias, religiosamente. Certamente, uma tentativa de parecer mais jovem do que era de fato, visto que, até aquele momento, ainda não havia casado. Alexander era branco, nascido em Detroit, Michigan, e morava em Nova Iorque desde que se formou como advogado, aos vinte e poucos anos. Alyce exibia sua negritude com orgulho. Seu cabelo black power, visivelmente hidratado e bem cuidado, era a prova disso. Ela era alta, esguia, e sua boca carnuda não passava despercebida em lugar algum. Sua beleza resplandecia ao sorrir, com a boca e com os olhos. A harmonia de seu rosto e corpo coadunava-se bem com sua simpatia, simplicidade e felicidade, quase escondendo que ela tinha trinta anos, fazendo-a parecer ter menos. Alyce era bela, nascida em Gramado, Brasil, e morava em Manhattan desde a sua adolescência, quando foi levada por sua tia viúva, de origem alemã, para lhe fazer companhia. À época, reconheceu naquilo uma oportunidade para alcançar seus objetivos profissionais. Então, aceitou, visto que sempre foi ambiciosa. Observando-os juntos, conversando e entendendo-se, mais Rosa e Juanita, estudando inglês, tive a sensação de que o meu plano estava, de fato, começando a acontecer. Instantes depois, olhando para o cigarro em meus dedos, que chegava ao fim, meus pensamentos foram interrompidos pela voz de Alyce, que caminhava em minha direção calmamente.
— Ele me explicou algumas coisas — e foi entrando na varanda, apreciando a vista comigo.
— Acredito que vocês se darão bem. É importante que estejam alinhados em todos os detalhes — respondi, deixando claro que precisava de sincronia entre eles, enquanto acendi outro cigarro.
Alyce balançou a cabeça, afirmando que entendeu o que falei e perguntou:
— Muito bem, Gaius. Estou aqui. O que precisa que eu faça?
— Vou pedir a Alexander para efetuar sua demissão da House’s Barrys o mais rápido possível. A partir de hoje, você não precisa mais ir para lá. Darei a você um bônus em dinheiro mais o seu salário deste mês. Assim, poderá pensar em mobiliar seu novo apartamento. Preciso que contrate um chefe de cozinha de nível internacional. Não necessito que ele trabalhe exclusivamente para mim. Certifique-se de que seja alguém que possa ensinar algumas coisas mais simples para Rosa, pois quero que ela aprenda a fazer pratos mais sofisticados. Encontre um bom relações públicas. Não é necessário que seja exclusivo. Alguém que não tenha muita notoriedade na imprensa, mas que seja ambicioso o suficiente para não ser tão honesto quando for preciso. Tanto o cozinheiro quanto o relações públicas precisam ser homens. Eles são mais corruptíveis — respondi, imprimindo um tom de seriedade em cada ordem que dei.
— Com que prioridade precisa desses profissionais? — perguntou ela.
— Eles, mais o bartender, começarão a trabalhar para mim quando for morar no meu novo apartamento, que você vai procurar. Não esqueça que gosto de espaço e arquitetura que mesclem o moderno com o clássico. Será preciso alguém para decorá-lo para mim, mas isso pode esperar — respondi e dei mais um gole no vinho e um trago demorado.
— Parece que tenho algumas coisas para fazer agora, não é? — comentou, tentando se organizar com as informações que recebeu.
— Hoje é sábado, Alyce. Vá curtir seu novo apartamento e pensar em como mobiliá-lo. Começamos na segunda às 13h, aqui. Vou avisar à recepção que você tem acesso livre às duas suítes que estão reservadas para mim. Você já esteve aqui antes da viagem, deve saber como tudo funciona. Estou hospedado nesta suíte, e Rosa, Juanita e Arthur em outra, ao lado desta. Não chegue antes das 13h e não me acorde por nenhum motivo, por favor.
— Obrigado por me dar tempo para pensar em como fazer tudo isso, Gaius. Novo apartamento, cozinheiro internacional, relações públicas... Desse jeito, vai gastar toda a sua fortuna com seu plano — comentou ela.
Dei um sorrisinho e respondi:
— Não se preocupe com dinheiro. Gaste o que for preciso, pois ao terminar tudo isso, é muito provável que eu esteja cinco ou seis vezes mais rico do que sou agora, se é que não chegarei a ser trilionário.
Alyce abriu um sorriso meio que desacreditando no que ouviu, despediu-se de mim com um beijo no rosto e caminhava para o interior da suíte, quando pedi a ela:
— Só mais uma coisa, por favor.
Ela parou, olhou para trás e pôs-se a ouvir atentamente.
— Avise a Aidan que retornei à cidade e que quero jantar com ele no domingo à noite. Vou ajudar você a conseguir meu novo apartamento — e pisquei meu olho para ela, sorrindo maliciosamente, enquanto a vi franzir a testa, esforçando-se, em vão, para compreender a conexão de uma coisa com a outra.
No dia seguinte, enquanto tomava meu café da manhã, uma mensagem de Alyce em meu celular fez-me sorrir:
“Gaius, Aidan aceitou seu convite para jantar. Ele insistiu para saber onde você estava hospedado e para que eu informasse seu novo número de celular. Achei melhor falar com você antes. O que devo dizer a ele? Onde quer jantar? Devo reservar algum lugar?”
Larguei o suco de laranja que bebia e escrevi para ela:
“Verão. Lagosta. The Palm, às 21h. Faça reserva e peça uma mesa discreta. Encontro-o lá.”
Cheguei ao restaurante para o encontro com Aidan vinte e cinco minutos depois do combinado. Caminhando com o maître para minha mesa, avistei-o, visivelmente nervoso, com um copo de uísque na mão, olhando para os lados, como se me procurasse. De repente, os olhos cor de âmbar dele encontraram os meus. Naquele momento, quase senti em meu corpo os batimentos cardíacos descompassados que ele deve ter tido ao me ver. O tempo pareceu não passar para ele, pois continuava belo e sexy, aquele corpo atlético. Ele vestia uma camisa social branca com os dois primeiros botões abertos, deixando, à mostra, seu peitoral depilado e rígido. O blazer cinza riscado em estilo clássico de um único botão e as mangas repuxadas até a altura do final do antebraço conferiam, a ele, um aspecto despojado, mas sem deixar de ser formal. Por que ele está usando esse blazer? Esse modelo é para o outono e inverno, e não para o verão. Pensei. Seu cabelo estava disciplinarmente ordenado de forma clássica, da esquerda para a direita. E seu rosto liso demonstrava que a barba havia sido feita naquele mesmo dia. Sorri discretamente para ele e continuei caminhando, enquanto o vi levantar para me receber. Ele vestia sapatos e calça pretos. Por um instante, tentei descobrir que sapatos eram aqueles que brilhavam tanto, mas não me contive e fitei meus olhos em seu par de coxas grossas, devidamente marcadas pela calça slim, que valorizava os contornos do seu membro. Uau!Como ele está gostoso! Pensei. Contemplando a beleza de Aidan, lembrei que fazia algumas semanas que eu não transava, e quase esqueci qual a finalidade daquele jantar, embora eu soubesse que seria difícil resistir, pois ele estava terrivelmente sexy naquela noite. Ao chegar à mesa, depois de me beijar o rosto e desejar-me boa-noite, Aidan esperou que eu me sentasse e, somente depois, retornou à sua cadeira. De lá, olhava-me já marejando os olhos, enquanto o maître perguntava se conhecíamos o restaurante.
— Conheço, sim. Vim aqui diversas vezes com meu irmão — respondi, educadamente, e pedi para que enviasse alguém que me trouxesse a carta de vinhos, quase sugerindo que precisava de privacidade.
A sós com Aidan, pude contemplar seu rosto emocionado. Estávamos em silêncio, olhando-nos e acostumando-nos, novamente, com a presença um do outro, depois de seis meses sem nos vermos ou falarmos. Algumas vezes, desviei meus olhos dos dele e busquei apreciar com a ponta dos dedos aquele tecido nobre sobre aquela mesa redonda, posicionada em um local tão intimista, mesmo com o restaurante abarrotado de pessoas. De soslaio, percebi-o me olhando, enquanto bebia seu uísque de forma tão provocante. Nisso, quebrei o silêncio e falei:
— Obrigado por aceitar meu convite, Aidan.
Ele sorriu, como se não acreditasse que estava jantando comigo. E respondeu:
— Confesso que fiquei surpreso, quando Alyce me ligou. Surpreso e feliz — e deu mais um gole no uísque.
— Fiquei com vontade de apreciar uma lagosta e pensei que seria uma oportunidade para reencontrar você. Disse que voltaria, não foi? — comentei e perguntei de forma natural, mas sentindo algo inflar dentro de mim, quando falei no fruto do mar.
Controle-se, Gaius! Controle-se, Gaius! Repetia várias vezes para mim mesmo, tentando não me desviar do objetivo.
— Que bom que se lembrou de mim. Onde esteve durante esse tempo todo? Já faz mais de seis meses que nos vimos, não? — perguntou, curioso.
Antes que conseguisse responder, o garçom se aproximou, desejou-nos boa-noite e nos entregou a carta de vinhos.
— Aidan, confio no seu bom gosto. Pede um vinho para mim?
— Claro que peço — respondeu, sem conseguir disfarçar o entusiasmo.
— Com licença. Vou ao banheiro — e saí da mesa.
Lá, tranquei-me dentro de um box, pressionei minhas mãos contra minha boca para não gritar e comecei a chorar, tamanha a dor, saudade e o ódio que carregava em meu peito. Instantes depois, tentei controlar minha respiração, a fim de me acalmar, e percebi que uma sensação de alívio ganhava espaço em mim. Caminhei até as pias e, diante do espelho, encarando meus olhos levemente avermelhados, lavei as mãos demoradamente. Depois, com um lenço de papel, tentei harmonizar a maquiagem manchada pelas lágrimas. Que inferno! Esse lápis da Dior não deveria ser à prova d’água? Uma última olhadela no espelho para conferir como estava. Nisso, um homem saiu do box, aproximou-se para lavar as mãos e pôs-se a me encarar pelo espelho. Ele olhava como se me conhecesse. Desviei o olhar e saí do banheiro, retornando à mesa.
— Está tudo bem? — perguntou Aidan, enquanto eu sentava.
— Sim. Pediu o vinho? — respondi.
— Veja se gosta deste — e virou o rótulo da garrafa para que eu visse o que pediu.
Nisso, o garçom se aproximou e serviu água em nossas taças.
— Fez um bom pedido, Aidan. Mas sei que aqui eles têm um francês, que é quase uma raridade em Nova Iorque. Importa-se se trocarmos o vinho? — perguntei, educadamente.
Aidan pareceu decepcionado por não ter acertado na escolha do vinho para mim. Vi, em seu rosto, uma sensação de fracasso. Gosto de fazer isso com ele. Pensei.
— Claro! Podemos trocar sim. Pensei que fosse gostar deste. Foi o garçom quem sugeriu — respondeu ele, tentando disfarçar seu próprio incômodo.
— Você fez uma boa recomendação. Obrigado por isso. Mas prefiro beber um branco Châteauneuf-du-Pape, da Château Sixtini. Por favor, certifique-se de que nos trará um de uma safra de, pelo menos, três anos atrás, e que seja orgânico — comentei, gentilmente, olhando para o garçom, sorrindo levemente depois de falar.
— O tempo só faz você melhorar seu bom gosto — comentou Aidan, referindo-se à escolha do vinho que fiz, e deu um gole demorado no uísque.
— Não é bom gosto, Aidan. É somente uma questão de dar ao paladar o que ele precisa para me oferecer a experiência que desejo com a comida. Neste caso, o vinho serve à lagosta. Esse que pedi, vertido na taça, exala aroma de jasmim e pera. E a mescla do gosto suave de damasco somado à sua acidez imprimem em meu paladar o que preciso para que a lagosta fique mais saborosa do que já é — e dei um gole na água, encarando seus olhos, que demonstravam admiração pelos meus conhecimentos como apreciador de vinhos.
Nisso, percebi que minhas falas com Aidan estavam sempre em tom de ataque, travestidas de elegância e sofisticação, mas sempre de ataque. Não fale dessa forma com ele, Gaius! Ele não pode desconfiar de nada. Seja doce e conseguirá o que quer. Pensei. Então, decidi ficar mais calado, pondo-o para falar.
— Como estão as coisas com a sua construtora? — perguntei.
Aidan contou que os negócios estavam caminhando bem e que a Holding Lifting, pertencente à sua família, desde a sua fundação, já havia completado quase vinte mil projetos em cento e quarenta países, e, ainda, que a empresa se dedicava, atualmente, à construção de uma gigantesca represa entre os estados de Arizona e Nevada. Curioso de como se dava o seu trabalho, incentivava Aidan a falar mais sobre ele, enquanto esperávamos o garçom nos trazer o vinho e levar nosso pedido de jantar. Ele parecia feliz de conversar, de explicar como era sua rotina de trabalho da manhã à noite durante quase todos os dias e de como passava seus fins de semana trabalhando sozinho em seu apartamento em Nova Iorque. Comentou que sentia falta de sair para jantar, de ir a um vernissage ou, simplesmente, de ver a um filme no cinema. Lamentou ao dizer que não tinha companhia para fazer essas coisas, pois quase todos os seus conhecidos ou colegas de trabalho eram casados e sempre rejeitavam seus convites. Declarou que se sentia incomodado em sair sozinho, quase deixando escapar que preferia ficar em casa por não ter um namorado com quem compartilhar esses momentos.
Nossa conversa foi interrompida pelo garçom, que nos trouxe o vinho, abriu e verteu um pouco em minha taça para degustação. Percebendo o que fazia, comentei que já conhecia o vinho, e que ele podia servir a nós dois. Aidan e eu pedimos um pouco mais de água e o nosso jantar: uma salada verde mista de palma, uma lagosta Jumbo Nova Scotia de quatro libras com manteiga derretida e limão fresco, devidamente acompanhada de couve de bruxelas, creme e folhas de espinafre, batatas Au Gratin e cogumelos selvagens.
Minutos depois, ao dispor os pratos sobre a mesa, o garçom deixou disponível uma lavanda, para o caso de precisarmos lavar as pontas dos dedos. Antes que eu passasse o guardanapo sobre minha cabeça e começasse a me preparar para quebrar a lagosta, Aidan, subserviente como sempre, falou:
— Não precisa fazer isso. Você está muito bonito para colocar essa coisa horrorosa em seu pescoço. Eu quebro para você — e sorriu, tentando me agradar, lançando seu charme sobre mim.
Aidan segurou a lagosta com as duas mãos e, com a ponta dos dedos, torceu-a vagarosamente em posições opostas, cabeça e corpo, desmembrando-os. Depois, quebrou o rabo e, em um movimento único e certeiro, enfiou seu longo dedo indicador pelo rabo da lagosta, empurrando aquela carne macia para fora da casca. Eu observava aqueles dedos ágeis e a concentração com que ele fazia aquilo e pensava que, talvez, um médico, em uma cirurgia, não conseguisse ser tão preciso quanto ele foi. Antes que eu piscasse os olhos novamente, as mãos meladas de Aidan estenderam, diante de mim, a carne da lagosta em um prato, pronta para ser comida. Recebi o prato que ele me deu e entreguei o meu vazio a ele. Observei-o fazer aquilo novamente com a pata da lagosta, desta vez, utilizando o quebrador. Aidan me deu a maior parte do crustáceo, ficando com a menor, e parecia contente com o que tinha em seu prato para comer. Esperando-o terminar para começarmos a comer juntos, contemplava seu rosto e vários pensamentos invadiam minha mente, inclusive o de se eu conseguiria concretizar o que planejei.
— Prontinho. Vamos comer — disse ele, e ergueu a taça de vinho, propondo um brinde.
— Obrigado por quebrar para mim. Nunca sei fazer isso direito. Uma vez, ela escapuliu da minha mão e caiu no chão. Desde esse dia, Marcus sempre quebrava para mim — comentei, e vi em seu rosto um semblante de preocupação aparecer.
— Vamos falar de coisas boas esta noite. Um brinde a você e a nós, por este reencontro maravilhoso. Saúde — e pressionou sua taça contra a minha, piscando um olho para mim, enquanto deixava escapar um sorrisinho de felicidade.
Enquanto jantávamos, Aidan falava sobre trabalho e a preocupação que tinha com seu pai, o Senhor Daan, que abusava do cigarro e das bebidas, mesmo já tendo passado dos sessenta anos. O que o angustiava naquele momento não eram somente os vícios do pai, mas, também, o fato de ele estar conhecendo mulheres jovens pela internet e de estar gastando, com elas, muito dinheiro em viagens e presentes. Segundo ele, o pai já o havia apresentado a uma ou duas delas. Os dois discutiram algumas vezes por causa disso, mas o Senhor Daan manteve-se inflexível na busca por alguns pequenos prazeres, mesmo na terceira idade, e enfrentou o filho, afirmando que precisava de sexo e, ainda, que se preciso fosse, pagaria para tê-lo. Aidan entendia que o pai havia se rendido à cultura dos chamados sugar daddy, e fez questão de comentar o quão vulgar aquilo lhe parecia. Narrando com reclamação as ações do pai, que considerava como descalabros, Aidan observava outras mesas, e franzia a testa, como se estivesse incomodado com alguma coisa. Percebendo que algo acontecia, perguntei a ele:
— Algum problema, Aidan?
— Acho que algumas pessoas estão nos fotografando — e virou a cabeça mais uma vez para os lados.
Nisso, olhei para trás e vi quatro ou cinco mesas de pessoas, que cochichavam entre si e olhavam para nós de soslaio. Outras, usavam seus celulares para nos fotografarem e fazerem vídeos. No fim do restaurante, três ou quatro garçons observavam nossa mesa de forma diferente. Voltei meu rosto para Aidan e perguntei:
— Por que eles estão olhando para nós?
— Acho que é por causa do seu livro e por tudo que aconteceu.
— Não sabia que tinha repercutido tanto assim... — comentava, quando fui interrompido por ele, que falou com tom de dissabor, mas sem ser grosseiro.
— Gaius, você publicou um livro há mais de dois anos expondo todos nós, inclusive a si próprio. Seu livro, até hoje, já vendeu mais de trinta milhões de cópias no mundo inteiro e, em quase todo o primeiro ano, ficou na lista dos mais vendidos do The New York Times. E não podemos esquecer toda aquela confusão há seis meses, não é? Não se deve admirar que as pessoas reconhecessem você e comentassem o que narrou naquela história e o que aconteceu depois.
Por um instante, refleti sobre o que Aidan dizia. Há meses que eu não pisava em solo norte-americano. Tinha retornado há poucos dias e não imaginava que as coisas que contei no livro tivessem ganhado aquela proporção. Pensei que a imprensa tivesse esquecido de mim. Agora entendo porque a produção da Oprah insiste tanto em uma entrevista. E confesso que estar ali, com todas aquelas pessoas falando sobre mim, incomodou-me, mas não o suficiente para me fazer parar de comer a minha lagosta com aquele delicioso creme de espinafre.
— Você quer sair daqui? — perguntou Aidan, preocupado.
— Não. De jeito nenhum. Sempre vivi em Nova Iorque, e não vou me retirar de um restaurante porque existem pessoas me fotografando. Deixe-as em paz. Daqui a pouco elas param — respondi, arrogantemente, e dei uma garfada na lagosta.
— Você enricou os tabloides norte-americanos por muitos meses, Gaius. Acabou sendo a principal notícia semanal para eles — argumentou Aidan, tentando me convencer a sair do restaurante.
— Aidan, vou continuar aqui. Não vou sair. É um livro. Já foi escrito. Não há o que fazer. Hoje, considerando tudo que aconteceu, até acho que não deveria tê-lo escrito, mas não tenho mais o que fazer.
— Só acho que é importante saber que você ganhou muita notoriedade na cidade. As pessoas falam de você, Gaius — e torceu os lábios, como se dissesse que minha reputação não era a das melhores.
— Coisas boas ou ruins? — perguntei, curioso e um pouco ansioso também.
— As pessoas falam muitas coisas — respondeu, tentando desviar o assunto, extremamente desconcertado.
Entre Aidan e eu, por causa da atenção que atraí para a mesa, surgiu um clima pesado, onde qualquer outro assunto não poderia ser conversado com naturalidade. Aidan estava muito preocupado e, ao mesmo tempo, atento. Sua vigilância fazia com que a atenção para o que tentava conversar com ele fosse diminuída. Enquanto eu procurava agir com naturalidade e ignorar aquela situação, que só crescia no The Palm, contando sobre o curso de fotografia que fazia há alguns anos, vi Aidan fechar a cara e levantar-se bruscamente, ao perceber que uma moça caminhava em direção à nossa mesa com um celular na mão. Ele se aproximou de mim, ficando ao meu lado, e assumiu quase a postura de um segurança particular. Eu permaneci sentado, repousei os talheres no prato, limpei meus lábios com o guardanapo e dei um gole no vinho. Instantes depois, a moça, sorridente, pediu licença, desejou-nos boa-noite e perguntou se poderia tirar uma foto comigo. Meu espírito relaxou ao ouvir seu pedido. Graças a Deus! Pensei. Sorrindo para ela, respondi que sim. Tiramos uma foto e ela comentou que havia adorado o livro. Agradeci-a pelo comentário, e ela nos deixou, ainda sorrindo, feliz por ter uma foto minha. Olhei para Aidan e comentei:
— Ela só queria uma foto. Está tudo bem. Relaxe — e fiz sinal para ele se sentar novamente.
Ele ficou mais calmo, mas se manteve atento durante as duas horas a mais que permanecemos lá. Depois de saborear um delicioso Cronut, que é o resultado da massa folheada do Croissant com a cobertura crocante mais o glacê do Donut, comentei que queria retornar ao hotel, sugerindo que ele me levasse até lá. Aidan, prontamente, chamou o garçom, pagou a conta em dinheiro, deixando o troco como gorjeta generosa para ele e escoltou-me, enquanto eu caminhava para a saída do The Palm, apreciando a decoração do ambiente com aqueles diversos rostos de pessoas estampados em suas paredes. Ele parecia aliviado de estar saindo dali. Tive a certeza disso ao ouvir de sua própria boca já do lado de fora do restaurante:
— Que bom que não aconteceu nada. Importa-se se eu fumar um cigarro antes de pegarmos um táxi? — perguntou, respirando relaxadamente, tentando sorrir.
— Tenho cigarro aqui. Por que estava preocupado? — questionei.
— Não sei. Tive medo de alguém ser grosseiro com você — e acendeu o cigarro que lhe dei, tragando demoradamente.
Ele é tão masculino ao fumar. Pensei. Enquanto eu acendia meu cigarro, percebi seis ou sete pessoas correrem ao nosso encontro com seus celulares apontados para nós. Eram repórteres de tabloides que, grosseiramente, falavam ao mesmo tempo, fazendo-me perguntas. Não conseguia entender o que diziam e fiquei assustado com toda aquela algazarra. Aidan se aproximou para evitar que eles encostassem em mim, gritando para saírem dali. Foi inútil. Eles falavam sobre o livro, Marcus e Arthur, o sequestro, Pablo e as prisões. Em um momento, percebendo que não conseguiríamos fazê-los parar, puxei a mão de Aidan, a fim de retornarmos para dentro do restaurante. A confusão de pessoas e o nervosismo me fizeram tropeçar. Desequilibrei-me e caí sobre meu braço direito. Rapidamente, Aidan levantou-me e ajudou-me a entrar no restaurante. Os seguranças do The Palm foram ao nosso encontro e fecharam a porta, impedindo que os repórteres nos incomodassem novamente. As pessoas que estavam nas mesas viram o que aconteceu e começaram a se agitar, olhando para nós e cochichando entre si. O gerente foi até onde estávamos e ajudou-nos:
— Senhor Barrys, vamos sair daqui. Vou pedir para alguém levá-los para casa. Sairão pelos fundos do restaurante. Será mais seguro.
No hotel, enquanto abria a porta da minha suíte, agradeci Aidan pela companhia e desejei-lhe boa-noite. Enquanto fechava a porta, ele a pressionou com a mão e pediu:
— Espere.
Em um movimento rápido, escondeu as mãos nos bolsos da calça e fitou-me com aqueles olhos agitados. Era impossível não perceber o movimento que fazia com o pé direito, batendo o sapato apressadamente no chão, com certeza, com a ponta dos dedos. Apoiava-se em uma perna, depois na outra, mexendo seu quadril e tórax para a esquerda e direita, em um movimento quase imperceptível a quem não observasse. Sua boca ensaiava dizer algo, mas o silêncio permanecia entre nós. Vendo-o angustiado e desorientado, compadeci-me dele e comentei, enquanto encostava meu rosto na lateral da porta:
— Você esteve ótimo hoje à noite. Diverti-me muito — e pisquei os olhos, fazendo charme para ele.
Funcionou. Em uma fração de segundos, vi seu semblante relaxar, e ele aquietar seu corpo. Seus olhos intercalavam entre minha pupila e lábios. Era evidente que ele queria me beijar. Depois de engolir em seco, falou:
— Não vai me convidar para entrar? — e inspirou fundo, como se tivesse precisado de muita coragem para ter perguntado.
— Aidan, acho melhor irmos devagar. Sabe de tudo que passei. Não quero apressar as coisas. Por que não saímos na próxima semana e almoçamos?
— Na próxima semana? — perguntou ele, franzindo a testa, quase elevando o tom de voz, considerando a distância entre um encontro e outro como uma eternidade.
— Se estiver ocupado, podemos nos ver em duas semanas — respondi, fazendo-me de desentendido.
— Quero almoçar com você amanhã, Gaius! — comentou, em tom de súplica.
Sabia que diria isso. Ele está mais ansioso que nunca. Isso é ótimo. Pensei. Arqueei as sobrancelhas e abri a boca, dando a entender que estava surpreso com o que ouvi.
— Aidan, tenho algumas coisas já marcadas. Estou organizando minha vida... Não tenho nem local certo para morar.
— Posso ajudá-lo com tudo isso. Contrato pessoas para fazer o que precisar. Por favor, deixe-me ajudá-lo — e moveu levemente a cabeça para a esquerda, depois de franzir a testa, como um cão que abana seu rabo ao pedir comida a seu dono.
Sorri para ele, dei alguns passos em sua direção e levei minha mão esquerda em seu rosto, acarinhando-o suavemente. Nisso, beijei o outro lado de sua face demoradamente, bem próximo à boca, e deslizei minha mão direita em sua cintura ao mesmo tempo. Aidan pressionou sua mão direita sobre a minha esquerda, enquanto se deliciava com aquele beijo casto e solene. Afastando-me dele, comentei baixinho:
— Prometo que vou marcar um encontro nos próximos dias — e fui dando as costas para ele, que segurava minha mão na tentativa de prolongar aquele momento.
— Por favor, almoce comigo amanhã — e apertou a ponta dos meus dedos, enquanto eu caminhava para dentro da suíte.
— Boa noite, Aidan! — respondi, soltando a mão dele.
— Por favor, deixe-me entrar — e respirou fundo.
— Boa noite, Aidan! — respondi novamente, fechando a porta devagar, mirando bem em seus olhos brilhantes, que não escondiam o seu tesão.
Preciso de um banho. Pensei, tentando acalmar meu corpo, que, naquele momento, tinha resistido a um dos homens mais belos que meus olhos já viram. Livrei-me das roupas leves que escolhi para jantar com Aidan e, em segundos, estava nu, caminhando para o banheiro. Abri o chuveiro e deixei que a água esfriasse meu corpo cheio de desejo. Não resisti e masturbei-me, esporrando abundantemente. Durante a madrugada, acordei várias vezes com a boca seca e uma inquietação que insistia em não passar. Meu sono era leve, e minha mente não pensava em outra coisa a não ser sexo. Aquilo perturbava meus pensamentos. Depois de vários cigarros, algumas taças de vinho e de trocar de posição na cama várias vezes, duelando com os lençóis e travesseiros, consegui adormecer novamente.
As imagens não eram nítidas. Recobrava a consciência devagar e sentia-me zonzo, quando inclinei meu corpo na cama para ver o que estava acontecendo. Depois de coçar os olhos, vi Rosa e Aidan entrando na minha suíte. Rosa dizia a ele para não entrar, pois eu estava dormindo e não gostava que me acordassem, enquanto Aidan a ignorava e caminhava em direção à minha cama, carregando em sua mão um pequeno buquê de flores.
— Algum problema, Rosa? — perguntei, tentando entender aquele tumulto.
— Este senhor invadiu o quarto dizendo que é seu amigo. Entrou assim que abri a porta...
— Desculpe se o acordei. Estava aqui por perto e resolvi ver se precisava de alguma coisa — falou Aidan, interrompendo Rosa.
Nisso, ele apoiou um joelho sobre meu colchão, beijou meu rosto e continuou, alegremente:
— Bom dia! Trouxe para você! — e estendeu as flores cônicas do Tennessee diante de mim.
Eram lilases e lindas. Recebi e agradeci-lhe, ao mesmo tempo em que descobri meu corpo das cobertas e levantei-me da cama. Caminhei até Rosa, pedi que ela pusesse as flores em um jarro com água e, também, que nos deixassem sozinhos, pois precisava conversar com Aidan.
— Quer o seu café aqui ou vai tomar no bar? — perguntou, injuriada por não ter conseguido impedir a entrada dele em minha suíte.
— Vou tomar aqui, mas só peça para daqui a uma hora — respondi.
Ela encarou meus olhos, como se quisesse me dizer algo.
— O que foi, Rosa? — perguntei, quase sussurrando.
— Você está só de cueca — falou baixinho, meio envergonhada.
— Se for por causa dele, não se preocupe. Ele já me viu pelado — e dei um sorrisinho safado para ela.
Rosa se indignou com meu comentário, torceu os lábios e deu as costas para mim, saindo do quarto, imediatamente, com certeza, desaprovando o que ouviu. Ao olhar para minha cama, vi Aidan, que ao encontrar meus olhos, logo ficou em pé e deixou transparecer um semblante preocupado, como se esperasse receber uma bronca por ter me acordado. Ele vestia uma camiseta bege, que prendia um par de óculos escuros esportivos, uma bermuda marfim e um par de tênis branco. Estava provocante e sexy, bem como sugere o verão. E nós dois estávamos sozinhos em meu quarto. Aproximei-me dele com cara de zangado, sugerindo com o olhar que brigaria. Como criança levada que foi pega pelos pais, ele esperava por isso. Parei, com meu corpo quase colado no dele, e encarei seus olhos assustados, ainda com os lábios serrados. Nisso, ele tentou se explicar:
— Desculpe acordar você. É que...
— Cale a boca, Aidan! — e joguei minha mão no meio das pernas dele, apertando suas bolas.
Ele arfou no mesmo instante, e petrificou seu olhar surpreso em mim.
— Você sabia que eu detesto que me acordem? — e apertei mais um pouco.
Ele fez cara de dor e respondeu, espremendo-se para que a voz saísse:
— Não sabia. Por favor, desculpe.
— Da próxima vez que me acordar, juro que arranco seu pau fora. Entendido? — e dei um último apertão.
— Entendi. Por favor, não aperte mais. Está doendo muito — suplicou, quase com cara de choro.
Nisso, afrouxei a mão e comecei a deslizá-la sobre a bermuda, para cima e para baixo, transfigurando meu olhar e rosto sérios naquilo que sentia: tesão. E comentei:
— Normalmente, pela manhã, acordo com muito tesão.
— É mesmo? — perguntou ele, assumindo uma cara de safado.
— Ponha para fora. Quero chupar seu pau.
O rosto de dor de Aidan transfigurou-se em desejo instantaneamente.
— Oh, meu Deus! Assim, tão rápido? — perguntou, tentando assimilar o que ouviu.
— Quero lamber seu pau — e selei minha boca na sua, invadindo-a suavemente, pressionando meu corpo quase nu contra o dele.
Aidan não resistiu e respondeu, de forma carinhosa, ao meu beijo. Suas mãos passeavam pelo meu corpo ao mesmo tempo em que eu sentia seu membro crescer contra a bermuda, toda vez que ele puxava meus quadris contra os dele. Ele está de pau duro. Pensei. Em um movimento suave, larguei a boca dele e ajoelhei-me. Com cuidado, abri sua bermuda e a baixei com a cueca branca até a metade de suas coxas. Comecei a cheirar suas bolas e virilhas. Elas exalavam um aroma de limpeza. Seu membro estava ereto, e a glande melada. Que delícia! Pensei. Olhava para ele, que mantinha seu olhar de luxúria sobre mim. Nisso, vi-o flexionar os joelhos e segurar seu membro, posicionando-o suavemente em minha boca, enquanto pedia carinhosamente:
— Você quer chupar? Chupe, meu amor. Abra sua boquinha e chupe a cabeça do meu pau — e enfiou bem devagar, sugerindo que eu começasse pela glande.
Depois que abocanhei e molhei seu membro, enquanto o ouvia gemer e retorcer o pescoço para trás, levei minha mão às suas bolas, acarinhando-as com as unhas. Comecei a fazer movimentos de vaivém com a boca, molhando o pênis dele inteiro, regozijando-me com aquele gosto divino. Os gemidos de Aidan foram aumentando. Repentinamente, senti um jato em minha boca. Abri os olhos, de supetão. Depois mais um jato, e vários outros em seguida. Ele já está gozando? Não acredito! Pensei e arregalei os olhos, tentando não acreditar que ele já havia chegado ao orgasmo tão rápido. Percebendo que minha boca estava inundada do líquido dele, engoli e fui diminuindo os movimentos, até que parei por completo ao sentir seu membro ficar flácido. A ira me possuiu. Levantei, consternado, e dei as costas para ele, buscando um cigarro. Ficamos alguns instantes em silêncio. Então, ele falou:
— Desculpe. Não consegui me controlar — enquanto subia a cueca e a bermuda visivelmente envergonhado.
— Em menos de cindo minutos, Aidan? — perguntei e dei um trago.
— Desculpe, meu amor. Você me pegou de surpresa. Eu não esperava... E a sua boca é muito morninha. Aí, eu não aguentei.
— Egoísmo da sua parte. Não pensou que, talvez, eu quisesse que você me comesse não? — inqueri, irritado e elevando o tom de voz.
— Por favor, desculpe-me. Prometo que não vai acontecer. Vamos tomar um banho. Daqui a pouco nós começamos de novo.
— Não quero mais — respondi, chateado.
— Não fique bravo. Não fiz porque quis...
— Tudo bem, Aidan. É melhor você ir. Daqui a pouco Alyce chega, e nós temos muito o que fazer — sugeri, interrompendo-o.
— Podemos, ao menos, jantar mais tarde? — e foi se aproximando, tentando me beijar.
— Vou pensar. Se der certo, ligo para você — e desviei do seu beijo, levando-o até a porta.
— Você ficou chateado. Por favor, perdoe-me. Não fique bravo comigo... — dizia repetidamente, enquanto eu o empurrava para fora da suíte, batendo a porta com força quase na cara dele.
Que inferno! Pensei e procurei uma das taças espalhadas pelos móveis do quarto para beber vinho e terminar meu cigarro. Depois de dar um gole, ouvi a porta bater novamente. Não acredito que ele não foi embora! E caminhei apressado para esbravejar contra ele. Abrindo a porta violentamente, vi Alyce, segurando pastas e agendas em seus braços, como uma adolescente que carrega livros para o colégio. Soltei o ar dos meus pulmões demoradamente, tentando me acalmar. Dei as costas para ela, que logo foi entrando.
— Bom dia!
— O meu começou péssimo — respondi, deixando claro que estava de mau humor.
— Lamento. Posso fazer alguma coisa para ajudar? — perguntou, prestativa.
— Pode, sim. Na minha bolsa, tem cartão de crédito. Se necessário, tem dinheiro também. Por favor, entre em contato com Alexander e solicite um cartão de crédito para que você possa usar em minhas despesas pessoais. Ele controlará os gastos. E contrate um garoto de programa para estar aqui em três horas — ordenei, ainda irritado, e dei o último trago no cigarro.
— Oh, meu Deus! Como vou conseguir alguém em tão pouco tempo, Gaius? — perguntou ela, meio angustiada.
— Sei que é capaz — e caminhei até o banheiro.
Enquanto baixava minha cueca melada, ouvi Alyce perguntar:
— Alguma preferência?
Pelado, fui até a porta do banheiro, encarei seus olhos apreensivos e respondi:
— Um loiro, alto, forte e sem pelos. De preferência, bem-dotado. Tomarei café no bar, depois verei Juanita e Arthur, e resolverei algumas coisas com Rosa. Avise à recepção que preciso de uma esteticista para depilação. Diga que quero para daqui a uma hora e meia. Quando o garoto chegar, você pode trabalhar na suíte de Rosa. Concentre-se na contratação de um relações públicas. Dê prioridade a isso. E outra coisa, Alyce. Certifique-se de que o rapaz seja loiro e, de jeito nenhum, que tenha cabelos pretos e a pele queimada. Quero um loiro! Vou me vingar do que Aidan fez comigo hoje! — e fechei a porta, tentando não rir ao me lembrar da cara de espanto e o abrir de boca de Alyce, enquanto eu falava.
Banho, café da manhã, conversar com Juanita e Arthur, depilação... Que disciplinado você está, Gaius! O que a certeza de uma boa foda no início da tarde não faz com você, não é? Pensei, entusiasmado, entrando debaixo do chuveiro. Horas depois, abri a porta da minha suíte e vi um rapaz loiro, enrolado em uma toalha, fumando um cigarro na varanda. Percebendo que eu entrava, encarou meus olhos, mantendo seu rosto impassível. Em silêncio, caminhei até ele, que continuava me examinando com aqueles olhos apertados, enquanto o vento balançava seus cabelos molhados. Próximo do meu corpo, perguntou, deixando escapar a fumaça por sua boca e nariz:
— O que você quer?
— Que você meta no meu cu com força e goze na minha cara. E se prepare, pois não sairá daqui tão cedo — respondi.
No outro dia, Alexander e Alyce me esperavam em minha suíte às 17h para uma reunião. Juanita, Arthur, Rosa e eu tínhamos saído no início da tarde para almoçar e comprar alguns livros de psicanálise para mim, visto que já pesquisava respostas sobre a minha vida há muito tempo. Naquele momento, a leitura se apresentava como um refúgio para a espera dolorosa que vivia. Fazia questão de incentivar as duas a ler também. Rosa não se interessava pela prática, Juanita demonstrava entusiasmo ao me contar o que tinha aprendido após ler cada livro, e Arthur já era acostumado a ler desde criança, o que não exigia, de mim, nenhuma motivação, mas estava muito focado em assistir a vídeos pela internet, o que o dispersava da leitura. As aulas diárias de inglês estavam funcionando para elas, pois já compreendiam bem o que escutavam e até conseguiam formular algumas frases corretamente. Por isso, incentivava a leitura. De fato, James fazia um excelente trabalho. De volta ao hotel, depois de me despedir deles, tranquei a porta e joguei as sacolas sobre a cama. Na mesa, havia dois mackbooks ligados e três celulares quase se perdiam no meio de tantas agendas e papéis soltos. Alyce e Alexander trabalhavam a todo vapor.
— Oi! — saudei-os e, logo, procurei uma taça para dar um gole no vinho.
— Temos muitas coisas para resolver, Gaius — comentou Alyce, empolgada, antecipando-se nos assuntos.
— Alexander, o contrato de confidencialidade de Alyce está pronto? — perguntei e dei um gole.
— Sim. Quer revisar? — respondeu ele.
— Está de acordo com a última revisão?
— Sim.
— Alyce, por favor, leia e assine. Vou adiantando com Alexander. Daqui a pouco trataremos dos seus assuntos — e olhei para o advogado, sugerindo que começasse a falar, enquanto acendi um cigarro.
— Gaius, estamos de olho em três empresas. Não são tão grandes quanto às últimas que apresentamos a você, mas é possível obter um lucro significativo depois de finalizarmos. Duas de fast food e a outra é uma casa de entretenimento adulto — e levantou-se, caminhando até mim com duas pastas de relatórios que continham o histórico, a fundação, o segmento de atividade, localização, balanço financeiro dos últimos três anos, um plano de investimentos para reforma, o valor da venda e a probabilidade de lucros para mim, entre outras informações que não me recordo.
— Você sabe que não olho essas coisas, Alexander. Tenho confiado no seu trabalho. Até agora, nossa parceria tem funcionado bem para ambas as partes — e joguei as pastas sobre a cama, depois de receber das mãos dele.
— Sabe que preciso fazer isso, Gaius. Se tiver alguma dúvida, pode consultar a qualquer momento.
— Qual a porcentagem de lucros para mim ao final de tudo? — perguntei, incisivamente.
— Estimamos um lucro de quarenta e três por cento sobre o valor da venda. Depois dela, pagamos o investimento e lucramos isso.
— Estamos falando de quanto, Alexander? — e dei um trago no cigarro, atento à resposta que daria.
— Quase uma dezena de milhões de dólares, somando as três empresas — e sorriu levemente para mim, fazendo sinal com os olhos de que não queria explicitar o valor exato por causa de Alyce.
— Realmente, é bem menos do que lucramos no investimento anterior, não? Quanto tempo? — perguntei.
— Acredito que três ou quatro meses, no máximo. Se desejar, posso contratar mais pessoas e acelerar as reformas, finalizando em até três meses. Acho que consigo — e me olhou, esperando uma resposta.
— O negócio é seguro, Alexander?
— Muito seguro. Estão vendendo muito abaixo do valor de mercado, Gaius. Problemas familiares e amorosos.
Quem não os tem? Pensei. Afastei-me da cama onde estava e caminhei para a varanda, sendo acompanhado por ele. Sentindo o vento bagunçar meus cabelos, continuei, agora com mais liberdade, já que Alyce não podia nos escutar.
— É a sexta empresa de fast food que você me sugere comprar, Alexander. Não entendo sua obsessão nesse segmento. Poderíamos lucrar muito mais com empresas locais e que não façam parte de uma rede, pois os investimentos são menores. Lucramos bastante, é fato, mas acabo tendo que soltar mais grana nas reformas. Poderíamos investir menos e lucrar a mesma coisa — argumentei, não compreendendo a lógica que movia os pensamentos do meu advogado e administrador financeiro.
— Gaius, as empresas de fast food em países como China, Japão, Brasil e Reino Unido são extremamente lucrativas, principalmente nas regiões mais pobres. Nossos compradores gostam de fast food. Não esqueça que nós não ficamos com as empresas. Compramos por um bom preço dos proprietários endividados, reformamos e vendemos com valor bem-alterado para nossos compradores. Nossos lucros com fast food só crescem. Desculpe, mas disso você não pode reclamar — e impôs seu profissionalismo brandamente sobre minhas opiniões amadoras.
— É verdade. Onde ficam essas empresas?
— As de fast food ficam em São Paulo, Brasil. A casa de entretenimento adulto fica em Manhattan, não muito distante do Rio Hudson, em um local reservado.
Hum! Aqui em nova Iorque? Pensei e senti uma enorme curiosidade latejar em meu ser. Depois de mais um gole no vinho e alguns instantes em silêncio, assenti:
— Você tem minha autorização para comprar e reformar as empresas de fast food no Brasil. O clube de sexo, eu quero conhecer antes de autorizar. Diga ao proprietário que iremos na sexta à noite, com a casa aberta. Quero ver o que acontece lá dentro — e dei um trago demorado, empolgando-me.
Alexander emitiu um ruído com a garganta, como se quisesse dizer alguma coisa.
— O que foi? — perguntei, franzindo a testa.
— Não sei se percebeu, mas os tabloides já noticiaram que você voltou a morar em Nova Iorque. Considerando o que eles têm falado, não recomendo que você seja visto em um local desses.
— Por quê? — inqueri.
— Gaius, seu livro vendeu muito ao longo desses anos. Você ficou muito conhecido aqui. A imagem que as pessoas têm de você agora é bem diferente da que era passada pelas colunas sociais há alguns anos pelo trabalho da empresa da sua família.
— Está exagerando, Alexander — comentei.
— Não estou, não. Muito foi falado a partir do que você escreveu no livro. Foram muitas confissões de foro íntimo, Gaius. Isso mobilizou muitas pessoas, grupos de pessoas, associações e entidades religiosas. Deveria pensar nisso. Confesso que me preocupo em você andando sozinho nas ruas. Deveria se dedicar mais em pensar sobre o que digo. Não seria ruim contratar um segurança — sugeriu.
Se bem que percebi algumas pessoas olhando diferente para mim nas lojas hoje à tarde.Pensei e lembrei-me do que aconteceu no The Palm. Nisso, considerei que deveria investigar que reputação eu tinha naquele momento em Nova Iorque. Curioso, perguntei:
— O que as pessoas falam sobre mim, Alexander?
— Gaius, você escreveu um livro contando como rejeitou um casamento sólido e feliz com Maison para fugir com seu irmão Pablo para viver um relacionamento amoroso. O que acha que as pessoas pensam disso? E não podemos esquecer que você fez acusações sérias sobre a conduta sexual de Marcus, além de narrar detalhes do seu sequestro e toda aquela violência que sofreu. Reflita sobre o que digo. Temo por você — e saiu da varanda, deixando-me sozinho com meus pensamentos inquietos e aquele vento, que insistia em continuar assanhando meus cabelos.
Olhei para a taça em minhas mãos e vi que o vinho tinha acabado. Droga! Então, dei o último trago no cigarro e falei em voz alta:
— Alyce, ligue para Aidan. Preciso falar com ele. E marque com Ryder hoje às 23h.
Preciso transar antes de dormir. E já que estou sob os holofotes, melhor ficar somente com um garoto de programa. Pensei, entrei na suíte e sentei-me à mesa para tratar dos meus assuntos com ela.
Alguns minutos antes das 23h30, ouvi que alguém batia na porta da minha suíte. Deve ser ele. Após abri-la, vi Ryder, pedindo desculpa com os olhos. Ele foi entrando e já se explicando:
— Desculpe o atraso. Tive problemas com minha mãe. O remédio dela demorou para fazer efeito. Quase não dormiu. Não sei mais o que fazer. Ela tem Parkinson e precisa de alguém em tempo integral...
— Ryder, não quero saber dos seus problemas. Vá tomar banho. Vou preparar uma taça de vinho para você. Hoje, dormirá aqui — ordenei, interrompendo-o e deixando claro que não estava disposto a ouvir queixas familiares dele.
— Alyce não disse que teria que dormir aqui — comentou, quase em tom de negação.
— Mas eu estou dizendo. Vai ganhar quatro vezes mais que o combinado. Vá tomar banho — ordenei novamente.
Ele fez cara de preocupado por ter de deixar a mãe sozinha, mas ficou contente ao saber que quadruplicaria seu cachê.
— Vai precisar de estimulante? — perguntei, sugerindo que a noite seria longa.
— Não vou, bebê. Você é gostosinho demais. Não precisa. Nada de estimulante — e começou a retirar a jaqueta barata que vestia, tentando fazer uma cara sexy para mim, enquanto falava.
Nisso, completei:
— Que bom. E prepare-se, pois hoje vou comer você também.
De supetão, ele virou seu rosto para mim e abriu a boca, pasmo com o que ouviu. Ryder e eu tínhamos bebido três garrafas de vinho e estávamos secando a quarta. As taças espalhadas pela suíte e o cheiro de cigarro demonstravam o quanto estávamos embriagados e nos divertindo. Uma trilha sonora provocante embalava aquela madrugada de sexo tórrido, onde o carpete, a cama, as cadeiras, a varanda e o banheiro serviram de cenário para as várias posições que fizemos. Não recordo ao certo, mas devia passar das 3h. Ryder estava de quatro na cama, e eu lambia seu ânus. Adorava sentir aquele gosto azedo em minha língua. Repentinamente, alguém bateu na porta. Que inferno! Só pode ser Rosa. Engoli e gritei:
— Estou ocupado, Rosa! — e voltei a lamber aquele orifício encardido e peludo.
— Oi, Gaius! É Aidan! Abra a porta, por favor.
Meus olhos esbugalharam. Meu Deus! É Aidan! Pensei, tentando assimilar o que ouvi e o que faria para que ele não visse Ryder lá. O garoto loiro olhou para mim, tentando saber quem batia na porta. Fiz sinal a ele, ordenando que ficasse calado e sussurrei que fosse para o banheiro, mas não trancasse a porta. Ele obedeceu, e eu logo me levantei, tomei um gole de água e cobri meu corpo nu com um roupão branco, torcendo para que, em segundos, meu pênis ficasse flácido. Parado na frente da porta, inspirei fundo e soltei devagar, relaxando meus ombros, enquanto tentava parecer natural. Quando abri a porta, vi Aidan com o rosto de preocupação.
— O que faz aqui? — perguntei, tentando esconder meu nervosismo.
— Não consegui dormir. Depois que falei com você, fiquei preocupado com o que me contou. Então, vim ver como estava e ficar aqui com você — e foi entrando na suíte.
Oh! Meu Deus! O que faço? Acalme-se, Gaius! Aja com naturalidade.
— Não precisa se preocupar, Aidan. Acho que a conversa com Alexander me deixou nervoso. Por isso, liguei para você. Só queria conversar um pouco e saber como estão as coisas com relação ao meu nome aqui em Nova Iorque — comentei, enquanto fechava a porta e me esforçava para não me atropelar nas palavras de tanto nervosismo.
Aidan observava a suíte, passeando seus olhos pelas garrafas secas no chão, até que encontrou meus olhos e comentou:
— Estava bebendo? — e aproximou-se de mim, esperando uma resposta.
— Às vezes, tenho dificuldade para dormir. Fico bebendo, ouvindo música, lendo, fumando, fazendo bagunça... Assim o sono chega. Por isso, não gosto que me acordem pela manhã. Acho que, depois do que passei, é normal ter um pouco de insônia, não é? — perguntei, já apelando ao sentimento dele, enquanto cruzei pelo seu corpo, caminhando para o lado oposto ao banheiro, dando um gole demorado no vinho.
— Entendo você. Vem aqui — e foi ao meu encontro, envolvendo-me em um abraço demorado.
Respondi ao abraço dele e, por um instante, percebi que meu coração estava disparado. Nisso, ele comentou:
— Vou dormir aqui com você.
Oh, Meu Deus! Como vou sair dessa enrascada?
— Não acho uma boa ideia, Aidan. Hoje, quero ficar sozinho. Não seria uma boa companhia. E ainda estou com raiva do que você fez comigo — e fiz cara de manhoso para ele.
— Desculpe, meu amor. Você me pegou de surpresa, e eu fiquei nervoso. Por isso, gozei rápido. Prometo que não vai mais acontecer — e levou seus lábios aos meus, fechando os olhos e me beijando com suavidade.
Respondi ao seu beijo, envolvi sua nuca com minha mão, acarinhando-a e, depois, deslizei minhas unhas pela barba áspera que nascia em seu rosto. Aidan passeava sua mão em minha cintura e pressionava-me contra seu membro, que endurecia e latejava contra a calça jeans que vestia. Nisso, larguei a boca dele devagar e comentei:
— Você sabe que eu gosto de ser comido e me privou desse prazer no outro dia. Ainda estou com raiva de você.
Aidan enlouquecia sempre que eu falava manhoso com ele, quase assumindo uma voz infantil, torcendo os lábios como uma criança que faz birra, quando quer algo. Vi seus olhos cor de âmbar transparecerem o seu tesão em mim naquele momento.
— Não vai mais acontecer. Deixa eu comer você agora. Prometo que faço o que quiser. Hein? Podemos fazer de ladinho, que é como você gosta. Lembra de como eu comi você na primeira vez? Foi de ladinho e você gemeu, quando eu enfiei. Hein? Deixa, meu amor. Tô com muito tesão em você. Por favor... — e deixava um rastro de beijinhos em meu pescoço, de um lado e do outro, provocando-me com aquelas frases quentes.
— Você quer me comer? — perguntei, emitindo uma voz infantil.
— Quero. Prometo que faço o que quiser, do jeito que quiser. Hein? O que acha? — e continuava tocando minha pele com aqueles lábios macios e aquela barba áspera.
E se eu transar com ele e, depois, pedir para que vá embora? Ele vai querer usar o banheiro depois. Vai querer dormir aqui. Não, Gaius! Não será bom! Ponha-o para fora agora! Pensava e tentava resistir às suas investidas sexuais.
— Por que não fazemos assim? Você vai para casa descansar e eu vou tentar dormir. Amanhã, depois das 14h, por que não vem aqui para passarmos a tarde juntos? Posso pedir nosso almoço na suíte. O que acha? — e lancei, em sua pupila, um olhar provocante.
— Já estou aqui, meu amor. Quero ficar. Deixe-me ficar — e continuava a beijar meu pescoço e deslizar sua mão em meu corpo, tentando-me convencer a ceder ao seu tesão.
— Não me preparei, Aidan. Não será bom se acontecer agora. Amanhã será melhor — e abracei-o, sentindo-o respirar fundo, enquanto buscava forças em seu interior para controlar todo aquele desejo.
— Tudo bem. Eu venho amanhã. Mas prometa que vai dormir, certo? Amanhã, precisa estar descansado. Chega de beber por hoje — e, finalmente, convenceu-se de que deveria ir embora.
— Prometo que vou tomar um banho e dormir para amanhã estar descansado.
Nisso, afastei-me dele, segurando em sua mão e conduzindo-o até a porta. Ele beijou minha boca demoradamente e, antes de sair, comentou:
— Olha como você me deixou — e riu, olhando para sua calça, que mostrava, claramente, seu membro excitado.
— Guarde toda essa energia. Prometo que resolvo isso amanhã. Boa noite! — e dei uma piscadela para ele, fazendo cara de safado.
— Uma última coisa. Vou contratar uma equipe para fazer a sua segurança. Ficarei mais tranquilo assim.
— Tudo bem, Aidan. Fazemos como você quiser. Boa noite! — e beijei seus lábios castamente.
— Boa noite, meu amor. Durma bem — respondeu ele.
Nunca senti um alívio tão prazeroso em toda a minha vida, quanto àquele ao fechar a porta. Obrigado, Senhor Jesus! Seria capaz de cantar um hino de louvor aos céus em agradecimento por ter me livrado dele naquele momento. Ainda ofegante, vi Ryder sair do banheiro, rindo do meu desespero. Depois de também me ver rir, ele perguntou:
— É seu namorado?
— Não. É o homem com quem vou me casar. E esta noite, você quase estragou meus planos. Onde estávamos mesmo? — perguntei.
— Você estava lambendo meu cu — respondeu ele, fazendo cara de quem estava gostando.
— É verdade. Pegue a camisinha. Agora, vou meter em você.
No dia seguinte, Aidan chegou à minha suíte no horário que combinamos. Estava preparado para uma tarde de sexo, pois necessitava me aproximar dele para que as coisas começassem a acontecer. Era um investimento, e estava disposto a fazê-lo. De fato, não foi um sacrifício tão grande ir para a cama com ele, pois, mesmo que a mescla de sentimentos confusos reinassem em minha mente, não podia ignorar que Aidan era gostoso, além de ser um dos homens mais bonitos de Nova Iorque. Pensei em tudo isso ao vê-lo caminhar faceiramente pela minha suíte, aproximando-se de mim, como criança que vai ao parque de diversões. Seu sorriso e felicidade eram evidentes. E, antes que ele me entregasse mais um buquê de flores que me trouxe, pedi:
— Deixe-as obre a mesa e feche as cortinas. Gosto de fazer no escuro — e virei-me na cama, ficando de ladinho, empinando minhas nádegas nuas, enquanto abraçava meu travesseiro, em um gesto infantil e manhoso.
Aidan obedeceu. Logo, deitou-se na cama, pressionando seu corpo contra o meu e começou a beijar minhas costas nuas, enquanto empurrava um dos seus sapatos contra o outro, livrando seus pés deles. Ele vestia uma calça jeans e uma camiseta branca, colada em seu tórax, o que valorizava seus braços depilados e fortes. Roçando em meu corpo, de ladinho, como me prometeu na noite anterior, passou a mordiscar minha orelha com seus lábios. Sua mão passeava entre minha cintura e coxas, e eu gemia cada vez que sentia sua excitação pressionar minhas nádegas.
— Está lindo, meu amor. Adoro vê-lo sem roupa e manhoso na cama. Fico com mais tesão ainda — falou, virando meu rosto para me beijar.
Sua língua não conseguia se controlar dentro da minha boca e passeava de forma suave, explorando-a. Aidan gemia baixinho e melava meus lábios em um beijo molhado e romântico. Meus olhos estavam fechados e o tesão que sentia era tamanho, ao ponto de me fazer contorcer o corpo inteiro, enquanto ansiava o momento em que ele entraria inteiro em mim. Percebendo o quanto eu estava entregue àquele momento, ele deslizava as pontas dos dedos sobre meus braços e coxas, em um movimento de prazer torturante e angustiante para mim. Eu gemia, retorcia-me e extasiava-me com o que ele fazia. Nisso, sussurrou:
— Meu pau está molhado. Você quer chupar? — perguntou ele, quase que implorando para sentir novamente minha boca morna em seu pênis.
Arfei duas ou três vezes, quase que ao mesmo tempo. E respondi:
— Não. Por favor, coma-me. Enfie bem devagarinho. Está com muito tempo que eu não transo.
Ouvi a respiração dele estremecer. Abri meus olhos e fitei-o. Suas pupilas reluziam. Então, obediente, ele abriu o botão da calça, abaixou-a com a cueca até metade das coxas e pediu para eu levantar a perna. Em segundos, senti seus dedos gelados lubrificarem meu ânus de saliva. Ao dar o primeiro gemido, Aidan abriu a boca e franziu a testa, possuído de prazer. Retorci meu pescoço para trás e molhei meu lábio inferior, apertando-o com meus dentes. Ele me beijou e enfiou a ponta do dedo em meu ânus, mordiscando meus lábios com os seus, ainda com a respiração estremecida.
— Ai, meu amor. Devagar. Está doendo — pedi, manhosamente.
O corpo dele estremeceu.
— Não diga essas coisas, meu amor. Fico com mais tesão, se ficar falando.
— Por favor, coma-me. Enfie só a cabecinha. Tenho medo de doer.
— Não vou machucar você. Vou enfiar só a cabeça e bem devagar. Prometo — respondeu, sussurrando.
Ele molhou seu membro com saliva e mirou bem, até que foi enfiando com calma. Senti minhas carnes se alargarem, quando sua glande entrou. Gemi e pedi, provocando-o:
— Devagar. Por favor. Enfie devagar — em tom de súplica.
Aidan enlouquecia ao me ouvir falar e gemer. Percebi que ele mexia o quadril, enquanto levantava minha perna para facilitar a penetração. Ele me invadia com cuidado, suavemente, olhando para meu rosto. Comecei a gemer mais e mais e a pedir para ele não enfiar tudo. Fechei meus olhos e entreguei-me àquele prazer. Fazendo charme e manha para ele, repetia que estava doendo:
— Aidan, está doendo. Enfie devagar. Está doendo, meu amor...
Gemendo e falando, senti meu ânus ficar úmido quase que instantaneamente. Nisso, ouvi um grito demorado dele em meu ouvido, enquanto derreou sua cabeça sobre meu pescoço, explodindo de prazer.
De novo? Não acredito que ele já gozou! Encarei-o com cara de ódio. E, antes que eu esbravejasse, ele falou:
— Por favor, perdoe-me. Eu não aguentei. Desculpe. Desculpe...
Afastei-me dele, levantei-me da cama e gritei:
— Você não é homem nem para me comer direito, Aidan? Saia do meu quarto! Agora! — e apontei o dedo para a porta.
A decepção em seu rosto era visível. Aidan tinha um problema de ejaculação precoce. Depois da segunda vez que gozou rapidamente comigo tonou-se impossível não admitir isso. Jogando seus sapatos sobre ele, agarrei sua camisa e empurrei-o para fora do meu quarto violentamente, xingando-o de molenga e frouxo. Ele só se defendia dos meus tapas em seus ombros e peito, tentando guardar seu membro na cueca e subir as calças apressadamente. Ao apanhar de mim, desculpava-se e pedia mais uma chance para tentar de novo. O ódio se apossou do meu ser, e eu não ouvia o que ele dizia. Só queria me livrar dele o mais rápido possível. Depois de bater a porta com força, dei um grito de raiva. E, ainda bufando, liguei para Ryder e ordenei-lhe que fosse à minha suíte urgentemente.
Os dias que seguiram àquele foram de planejamento e preparação. Ignorei Aidan, suas flores e ligações por quase quatro dias, mas, depois, procurei-o e convenci-o a ir ao médico e investigar o que acontecia para que gozasse tão rápido comigo, visto que aquilo não era comum nele. Precisava estar com Aidan, mas na situação em que ele se encontrava, seria difícil para mim. Alexander me recomendou, veementemente, que não visitasse o clube de sexo próximo ao Rio Hudson, pois isso poderia contribuir para que a minha imagem ficasse comprometida. Desobedeci-o e fui conhecer aquele lugar instigante na sexta-feira daquela mesma semana sem ele saber. No outro dia, informei a ele que não tinha interesse em comprar o clube do sexo, e pedi que procurasse outra empresa para compor o projeto dos próximos três investimentos. Alyce contratou George para preparar meus drinks, Peter, como cozinheiro, e Max, como meu relações públicas. Precisava de alguém que entendesse a forma como me comunicava com as roupas, então, tive a ideia de chamar um velho amigo para cuidar disso. Desiludido por não ter conseguido ingressar na Gucci de Florença, e abandonado por Aidan durante o meu sequestro, Richard sobrevivia como freelancer da Vogue, que não pagava tão bem para manter o estilo de vida com que havia se acostumado quando ainda estudava e era sustentado pelos pais ricos. Richard não pensou duas vezes em aceitar a generosa quantia que propus a ele para me manter antenado com o mundo da moda e cuidar do meu visual e roupas, trabalhando duas ou três vezes por semana mais os dias em que eu tivesse eventos para ir. Os dias em que estive brigado com Aidan, Ryder dormiu todas as noites em minha suíte. E Juanita e Rosa avançavam no aprendizado do inglês com as aulas de James. Arthur, assim como eu, consolava-se nas fotografias e alimentava a saudade que não parava de machucar.
Peter, Max, Richard, George e Alyce aguardavam o momento em que compraria meu apartamento em Nova Iorque, e, assim, pudessem começar a trabalhar para mim. Para que isso acontecesse, precisava de Aidan, pois já tinha escolhido onde queria morar. Quando disse qual apartamento queria comprar a Aidan, ele hesitou e considerou o valor exorbitante. Mas depois que comentei que pagaria a metade e que lá seria o lugar onde nós dois moraríamos, vi um sorriso surgir em seu rosto. Em seguida, a preocupação dele ao saber que a cobertura ficava na Park South 220, que custaria mais de duzentos e trinta milhões de dólares e, também, que ele teria que desembolsar mais de cento e quinze milhões, caso quisesse me ter em casa todas as noites quando chegasse do trabalho. Aidan coçou a nuca discretamente como se estivesse temeroso ao gastar tanto dinheiro em um apartamento, mas, logo em seguida, deu um sorrisinho e balançou a cabeça, dizendo sim. Eu o beijei e pedi um champanhe ao garçom para comemorar. Na noite daquele almoço com ele, transamos em minha suíte no The Plaza, e mais uma vez ele teve uma ejaculação precoce durante o sexo. Mas, dessa vez, não briguei com ele e dormi em seu peito durante toda a noite, como ele mesmo pediu.
Depois daquela semana em que tudo se organizou e nós compramos o apartamento até o momento em que o pai de Aidan, o Senhor Daan, morreu, passou-se um ano. Há um ano, Aidan e eu morávamos juntos e tínhamos uma relação. E, durante esse tempo, estive orquestrando minunciosamente o que faria e como distribuiria as ações desse plano. Estabeleci uma linha do tempo para que as coisas acontecessem de forma gradual. E com a morte do pai dele, imaginei que fosse interessante começar a pôr em prática o que pensei.
Na manhã em que Alyce me contou sobre a morte do Senhor Daan, ainda no banho, relaxado sob aquela água que limpava e organizava meus pensamentos, lembrei-me de algumas coisas que aconteceram desde o momento em que voltei a Nova Iorque pela segunda vez até aquele dia fatídico, conforme descrevi. E resolvi que não poderia desperdiçar aquela oportunidade. Era o momento perfeito. Alyce e os seguranças me esperavam na sala de estar do meu apartamento e, juntos, iríamos pegar o avião que me levaria ao Havaí para encontrar Aidan e seu pai morto. Depois de vestir a roupa, encarando meu rosto levemente maquiado no espelho do banheiro, Rosa entrou em meu quarto e perguntou, solícita:
— Quer comer alguma coisa antes de sair?
— Não, Rosa. Obrigado. Arthur está no colégio? — perguntei, deslizando o pincel com um pouco de pó em minhas bochechas e testa.
— Sim. Ele e Juanita estão animados com o retorno das aulas agora no fim do verão — e passou a juntar os lençóis da minha cama para lavá-los.
— Por favor, diga que precisei viajar e não estarei em casa para jantar com ele. Dê-lhe um pouco de atenção e não o deixe assistir à TV de forma nenhuma. Não quero que ele saiba da morte do Senhor Daan e de outras coisas pela imprensa. Melhor, mande retirar a TV do quarto dele e desligue a da sala. Se ele perguntar, invente que a empresa informou que fará uma manutenção pelos próximos dias. Invente alguma coisa, mas não o deixe assistir à TV pelos próximos dias. Entendeu, Rosa? — e larguei o pincel, procurando com os olhos um brilho labial incolor que hidratasse meus lábios.
— Pode deixar.
— São quase 17h. Devo chegar no Havaí de madrugada ou no início da manhã. Não sei quando conseguiremos retornar. Peço a Alyce para ligar com notícias — e, depois, fui até ela, encostei minha bochecha em seu rosto, carinhosamente, fazendo som de um beijinho, despedindo-me.
Enquanto caminhava pelo corredor dos quartos até a sala, liguei para meu relações públicas, Max:
— Precisamos antecipar a publicação do vídeo. Faça isso agora mesmo. E se certifique de que o estrago seja grande nos tabloides e internet. Estou falando em nível internacional. Entendeu, Max? — e desliguei, depois que ele afirmou que faria o que pedi imediatamente.
Ordenei a Max para enviar anonimamente aos tabloides norte-americanos um vídeo meu de dezessete minutos, onde estou transando com dois homens negros e bem-dotados. Na cena, um está embaixo de mim e o outro sobre mim. Estou recebendo uma dupla penetração anal, e fiz questão de, antes de iniciar a gravação, pedir ao cinegrafista para focar bem em meu rosto e em meu ânus, principalmente quando o sangue estivesse escorrendo. Considerando a situação e os meus propósitos, imaginei que o funeral do pai de Aidan fosse um momento bom para ele lidar com uma traição pública e uma exposição dessa natureza. Confesso que, depois que encerrei a ligação com Max, não me contive e dei um sorrisinho malvado, ansioso para que o escândalo explodisse o mais rápido possível. Não sei explicar o porquê, mas, naquele instante, lembrei do Grande dragão vermelho, de Blake, e, em uma fração de segundos, tive a certeza de que o placar entre nós dois era de um para mim e zero para o dragão.

***

CAPÍTULO DOIS
Amsterdã

__________________

No momento em que retornei a Nova Iorque pela primeira vez, um ano e seis meses antes da morte do Senhor Daan, Aidan e eu entramos em um acordo sobre o que fazer a partir dali. Na ocasião, disse a ele que precisava de um tempo para organizar minha cabeça, alegando que viajar seria algo importante para mim e me faria bem. Prometi que voltaria a Nova Iorque e o procuraria. Aidan não acreditou no que falei e não queria permitir que eu viajasse, alegando que eu já havia quebrado a promessa que fiz a ele uma vez, quando o convenci a me levar de Tijuana para Monte Carlo, para conversar com papai sobre tudo que Pablo me contou sobre sua mãe em troca de me separar de Maison para ficar com ele. Durante a discussão, ele relutava veementemente, argumentando que eu estava muito abalado por ter passado dois anos de país em país como um foragido. Mesmo depois de todas as minhas explicações, Aidan se mantinha inflexível em não me deixar viajar, reafirmando, por diversas vezes, que o que tinha aceitado fazer por mim era contra seus princípios e, também, que por causa daquilo, tinha a certeza de que perdeu a amizade de um amigo para sempre. Ele cobrava a minha presença como recompensa por aquilo que aceitou fazer por mim. De fato, sem ele, jamais teria conseguido o que queria naquele momento. Estávamos em um impasse, pois eu queria viajar, mas não podia romper com ele, visto que já tinha em mente o que faria em um futuro próximo. Só precisava encontrar uma maneira de convencê-lo a me deixar viajar. Então, comecei a chorar, dizendo coisas desencontradas, argumentando que não conseguia ficar em Nova Iorque naquele momento. Não demorou muito e, logo, vi o rosto dele se compadecer ao olhar para mim. Nisso, emocionado, abraçou-me e rendeu-se, afirmando que eu poderia viajar, mas que sabia que eu não o procuraria depois, pois já tinha mentido para ele uma vez. Apertei o corpo de Aidan contra o meu com força, solucei e afirmei que não se preocupasse, pois voltaria para ficar com ele sim. Ele beijou meus lábios castamente e, em sua pupila, vi que não acreditava no que eu dizia. Não tenho certeza, mas penso que quis me afastar de Aidan naquele momento por medo de não me controlar e estragar o plano que já arquitetava em minha mente.
No dia seguinte àquela conversa, em minha suíte no hotel, com minha mente agitada e inquieta, pensava em várias coisas. Uma delas era que não queria viajar com Rosa, Juanita e Arthur, que se tornaram a minha família e companhia. Queria viver a minha tristeza sozinho. E, assim, fiz. Onde vou deixá-los, meu Deus? Pensava, enquanto acendia um cigarro atrás do outro e secava, rapidamente, algumas taças de vinho.
Por mais que Arthur e eu ensinássemos algumas coisas do inglês para Rosa e Juanita, elas ainda não estavam preparadas para ficarem em um país onde precisassem falar somente em inglês, então, pensei que deveria deixá-los em uma cidade onde pudessem falar espanhol, enquanto eu faria uma viagem com o objetivo claro de chorar e viver a minha dor. Não tinha ideia de onde deixá-los. O que faço? Onde os deixo? Ajude-me, meu Deus! Estava muito abalado pelo que havia acontecido. Não sabia o que fazer e nem a quem pedir ajuda, visto que Aidan era totalmente contra tudo aquilo. Em um momento de claridade em minha mente, lembrei-me de Alyce, que, à época, ainda trabalhava para a House’s Barrys.
Recordo-me bem do momento em que ela entrou na suíte do hotel em que eu estava. Vendo-a, levei minha mão à boca e caí em um choro desesperado. Ela me abraçou, acalmou-me e pediu para eu contar tudo que aconteceu. Depois de duas garrafas de vinho e vários cigarros, ouvindo-me atentamente, horas depois, Alyce perguntou como poderia me ajudar.
— Não sei, Alyce. Não sei o que fazer. Estou confuso. Vi minha vida desmoronar em uma fração de segundos. Arthur, Rosa e Juanita são a minha família, e não consigo deixá-los com qualquer pessoa e em qualquer lugar. Prometi a mim mesmo que cuidaria deles. Mas não consigo ficar aqui. Sinto-me asfixiado nesta cidade. Preciso sair daqui, se não enlouquecerei. Estou com medo de cometer uma loucura na minha vida. Preciso reorganizar minhas ideias e penso que ficar sozinho será bom para mim. Entende o que digo? Mas não sei o que fazer e nem para onde ir. Preciso deixá-los em um lugar seguro. Tenho medo do que possa acontecer com eles. Estou com medo. Por favor, ajude-me. Meu coração está cheio de dor e ódio — e levei minhas mãos ao rosto, tentando abafar aquele choro desesperado, que pulsava da minha face em meio a tantas frases desordenadas.
Alyce me abraçou, levou-me para a cama, deu-me um copo de água e pediu para eu dormir, afirmando que ficaria comigo na suíte até eu acordar, e, também, que pensaria em uma solução.
Horas depois, acordei mais relaxado. Abrindo os olhos, vi-a sentada em uma poltrona, com o celular na mão, digitando rapidamente. Parecia estar conversando com alguém por mensagens. Movendo-me na cama, os olhos dela voltaram-se para mim, e, logo, seu sorriso apareceu, acalmando-me. Ela pegou um copo de água, caminhou em minha direção e perguntou:
— Dormiu bem? — e estendeu o copo diante de mim.
— Sim. Onde eles estão? — respondi, dando um gole.
— Arthur e Juanita estão com Rosa na outra suíte. Estão brincando. Não se preocupe — e sentou-se na cama, olhando-me com ternura.
— Por favor, ajude-me, Alyce — e ameacei chorar novamente.
Ela me interrompeu, pedindo com a voz suave:
— Calma, Gaius. Vamos ter calma e pensar em alguma coisa juntos. Enquanto você dormia, tive uma ideia. Quero ver o que acha.
— Sou todo ouvidos — respondi, sentando-me na cama, atento, curioso e ansioso para ouvi-la.
— Você quer um tempo para ficar sozinho e pensar em tudo que aconteceu, certo? Para isso, precisa que Arthur, Rosa e Juanita fiquem em um lugar tranquilo com alguém de confiança, pois teme que alguma coisa aconteça a eles, certo?...
— Correto — afirmei, interrompendo-a.
— Desde que vim morar em Nova Iorque com minha tia, nunca mais voltei à minha cidade natal, nem mesmo depois que ela faleceu. Decidimos que ela seria cremada aqui. Faz muitos anos que não vejo minha mãe e irmão, Gaius. Meu pai faleceu quando ainda era criança. Recentemente, meu irmão vem relatando que tem sido cada vez mais difícil cuidar sozinho da minha mãe. Ela tem Alzheimer. Precisamos nos preparar para sua partida em breve. Imaginei que, se você concordasse, poderia me dar alguns meses de férias da empresa para visitar minha família. E Arthur, Rosa e Juanita poderiam ficar comigo lá pelo tempo em que você faz sua viagem. Garanto que eles ficariam seguros comigo e minha família. Na casa, só mora minha mãe e meu irmão. Ela é grande e tem vários quartos. Não faltaria conforto a eles. Assim, posso visitar minha mãe, que está no final da vida, e você pode fazer a sua viagem sem se preocupar com eles — falou com a voz branda, tentando não tremer o queixo ao mencionar a mãe doente, enquanto deixava transparecer a saudade que sentia dela e do irmão.
Senti uma faísca de esperança surgir dentro de mim, enquanto ouvia o que Alyce dizia.
— Sinto muito pela sua mãe, Alyce. Como é a cidade onde sua família mora? — perguntei.
— Minha mãe mora em uma cidade no interior de um estado brasileiro. Não passa de quarenta mil habitantes. É um lugar simples e seguro, com uma proposta cultural e de eventos que atrai turistas do mundo inteiro. É um bom lugar para se viver e descansar — afirmou ela.
A esperança dentro de mim só aumentava a cada palavra que ela proferia. Animado com a ideia, agradeci por fazer aquilo por mim e perguntei:
— Onde sua mãe mora?
— O nome da cidade é Gramado, no Brasil.
Depois que Alyce e eu nos entendemos sobre o tempo que eu precisava, e como as coisas deveriam funcionar na minha ausência, já entusiasmado por ela ter oferecido uma solução para aquela situação, tomei meu celular nas mãos e liguei para meu advogado. Enquanto Alexander não atendia, levantei-me da cama cheio de ímpeto, cobri meu corpo com o roupão e, logo, procurei uma taça de vinho para dar um gole.
— Gaius? — falou ele ao atender a ligação.
— Alexander, por favor, cuide para que a secretária do meu irmão, Alyce Stein, seja afastada de suas atividades na empresa. A partir de agora, ela não irá trabalhar mais no escritório, e isso será por tempo indeterminado. Ela enviará um e-mail a você com tudo que precisa para que transfira cem mil dólares para a conta pessoal dela. Ela passará alguns meses fazendo alguns trabalhos pessoais para mim, e o salário dela será mantido durante todo esse tempo. Alguma pergunta?
— Não, Gaius. Vou fazer o que pediu agora e aguardo o e-mail dela — e desligou.
Olhei para Alyce e sorri. Encontrei seu sorriso gentil de volta. Fui até ela e abracei-a, agradecendo por me ajudar.
— De quantos dias precisa para viajar? — perguntei.
— Você não quer ir conosco para conhecer? — respondeu ela, convidando-me.
— Não. Prefiro que vá sozinha com eles. Quero ficar comigo mesmo um tempo. Acredito que me fará bem. Tenho muito no que pensar — e afastei-me dela, acendendo um cigarro e caminhando para a varanda da suíte.
— Acho que, em três ou quatro dias, consigo resolver toda a papelada, pois são dois adolescentes. Isso demora um pouco.
— Entendo. Você já tem meu número de celular e e-mail, Alyce. Qualquer coisa que precisar, avise-me, por favor. Não deixe faltar nada a eles. Se precisar de mais dinheiro, não hesite em me avisar, pois falo com Alexander. Contrate pessoas para ajudá-la se achar necessário — e dei mais um trago no cigarro e um gole demorado no vinho.
— Não se preocupe com isso, Gaius. Não iremos gastar nem metade desse dinheiro que está disponibilizando. Tem certeza de que não quer ir conosco? — perguntou, insistindo.
— Agora, não. Mas prometo que, ao fim da minha viagem, vou passar um tempo com vocês em Gramado.
Depois de alguns dias, Alyce, Arthur, Rosa e Juanita embarcaram para Gramado, Brasil. Fiquei sozinho em Nova Iorque, cheio de lembranças e dores, mas animado por poder viajar tranquilo pelo mundo, sabendo que minha família estava segura. No segundo dia em que estive trancado e entediado naquela suíte de hotel, resolvi que era hora de sair dos Estados Unidos, e liguei para Alexander, pedindo para preparar o avião e fazer reserva em um hotel de Amsterdã, Holanda. Queria viajar no dia seguinte. Quando ele me perguntou o porquê de Amsterdã, quis dizer a verdade, mas não tinha certeza se deveria, então, limitei-me a responder que não conhecia a cidade, mas omiti dele a motivação principal. Ele não entenderia se comentasse que estava muito animado para conhecer as prostitutas do Bairro da Luz Vermelha da capital holandesa. Não sei explicar ao certo, mas, naquele instante, tive a impressão de que o que eu buscava, encontraria lá e com elas. Evitando mais perguntas, deixei ele pensando que iria viajar somente para vivenciar a tristeza pela qual já havia me visto chorar diversas vezes.
Passei o primeiro dia em Amsterdã tentando descansar o máximo que pude. Por que sofro tanto com fuso horário? Detesto-os! Por sorte ou competência de Alexander, cheguei ao hotel Waldorf Astoria Amsterdam por volta das 15h, o que facilitou para que dormisse durante a tarde, jantasse e voltasse para a cama novamente. No segundo dia, acordei por volta das 8h. Estava mais relaxado. Ainda não havia observado minha suíte, mas, depois de ligar para a recepção e pedir meu café da manhã no quarto, duas garrafas de vinho e um kir, passeando por ela, contemplei-a. Suas paredes brancas foscas com alto-relevo em formas geométricas tradicionais, milimetricamente ordenadas, mais os detalhes pintados de azul turquesa, com a técnica de grãos e listras horizontais, foram uma das primeiras coisas que meus olhos perceberam. Na sala de estar, dois sofás grandes e cinzas, dispostos um de frente para o outro, separados apenas por uma mesinha baixa, quadrada e de madeira, mais dois abajures em estilo clássico próximos às duas grandes e altas paredes de vidro transparentes, que mais pareciam portas, e duas prateleiras discretas com alguns vasos antique chamaram a minha atenção. E como me esquecer daquele lustre de doze pequenos abajures, que tinha a mesma cor de azul das paredes, das almofadas dos sofás e de um dos três tipos de tecido que formavam as cortinas, sofisticando o ambiente? Gosto da ideia de as cortinas terem três tipos de tecido com cores harmônicas. Pensei, enquanto deslizava meus dedos, sentindo-os melhor. No meio da parede, entre as duas prateleiras, havia uma TV preta, de tamanho proporcional, que ficou desligada na maioria dos dias em que estive lá. No chão, carpete, cerâmica em estilo moderno e madeira. Aproximando-me da minha cama, já no outro cômodo da suíte, percebi sua cabeceira acolchoada e em tom pastel, e, também, seus contornos e barras em madeira escura e envernizada nos quatro cantos. Ainda passeando meus olhos, vi uma mesinha ao lado da cama, um pequeno sofá de dois lugares na frente dela e mais cortinas, que impediam a entrada de iluminação por aquelas paredes de vidro, que ofereciam uma bela visão da cidade. E tudo isso conferia leveza e harmonia ao ambiente. Gostei do hotel. Pensei e fiquei imaginando o que poderia utilizar para me inspirar a decorar minha próxima casa.
Duas batidas na porta me desconcentraram. Depois que os dois garçons saíram, fui até à mesa próxima à parede de vidro, onde eles deixaram duas bandejas, e descobri uma delas. O cheiro do café me possuiu e, logo, verti-o em uma xícara, pingando-o com leite. Vi, em um prato, três torradas: uma com manteiga, outra com uma espécie de chocolate e granulado, e a última com uma pasta de amendoim. Em outro prato, pelo menos três tipos de queijos. Havia alguns recipientes com opções de chás e preparos para chocolate quente, frutas e cereais. E, também, meus vinhos e o drink que pedi. Rapidamente, levei a torrada de pasta de amendoim à boca e dei um gole no café. Caminhava pelo quarto, enquanto mastigava, logo querendo terminar para poder apreciar o drink e fumar um cigarro. Assim o fiz, depois de beliscar um dos tipos de queijo e secar a xícara de café. Dado o primeiro gole no kir, acendi o cigarro e fui até o outro cômodo, caminhando faceiramente pela suíte, contemplando aquele silêncio. Sobre a mesinha ao lado da cama, vi que uma luz vermelha piscava no visor do meu celular. Tomei-o à mão e constatei que eram e-mails publicitários. Por um instante, fiquei com os olhos fixos no visor. Nisso, pressionei o ícone da minha galeria de fotos e vídeos. Deslizando o dedo para cima, parei em um vídeo. Toquei a miniatura e senti meu coração disparar, quando meus olhos o viram, e meus ouvidos sentiram a quentura de sua voz novamente, mesmo que pelo som estéreo do meu celular:
“Você deveria ter vindo, meu amor! Olhe que coisa linda é essa cachoeira! Isso é a melhor coisa dessa cidade. Estamos nos divertindo muito. Daqui a pouco vamos para casa te ver. Eu amo você. Eu amo você.”
Uma mescla de sentimentos me invadiu naqueles poucos segundos. Senti meu queixo tremer e meus olhos marejarem. E, antes que uma lágrima escorresse pelo meu rosto, lembrei que precisava ser forte e aguentar, pois tinha uma promessa para cumprir e um plano para arquitetar. Engoli a emoção com a saliva, dei um gole no kir e um trago demorado no cigarro, enquanto desliguei o celular e decidi que precisava de um banho e sair da minha suíte suntuosa para conhecer Amsterdã. E que iria começar pelo pintor maldito, que cortou sua própria orelha em um surto psicótico.
Cansado de esperar na fila por quase quarenta minutos, bufava pela terceira vez, impaciente com aquela demora, quando uma moça liberou a entrada para o próximo grupo de pessoas. Entrei no Van Gogh Museum com turistas de diversos países para uma visita guiada. O ambiente era escuro e intimista, com focos de luz amarela que, do teto, iluminavam somente as paredes, onde as pinturas estavam dispostas, e as quadradas proteções de vidro, que abrigavam outras obras no meio do salão. O guia, especializado em história da arte, falava sobre a técnica e história de cada obra pintada por Van Gogh e, também, sobre algumas curiosidades de sua vida, como sua educação em um internato e seu estado psicológico antes de morrer. Conduzindo-nos ao autorretrato com a orelha cortada, disse o guia:
“E aqui temos uma das obras mais enigmáticas e sublimes de Van Gogh: o autorretrato com a orelha cortada. Pesquisadores divergem se ele cortou a orelha inteira ou somente o lóbulo. O fato é que, na noite de 23 de dezembro de 1888, depois de uma discussão com o pintor Gauguin, Van Gogh cortou sua orelha, embrulhou-a em um lenço e a levou a uma prostituta chamada Rachel, na cidade de Arles, França. Acredita-se que o pintor e a prostituta mantinham relações sexuais. Ao entregar-lhe o embrulho, ele teria pedido para que ela o guardasse com cuidado. Van Gogh, depois de sair do hospital em 6 de janeiro do 1889, quatorze dias depois de tal brutalidade, pintou essa obra de arte que vemos aqui. Depressivo, esquizofrênico e psicótico são adjetivos que os pesquisadores utilizam para tentar classificá-lo, que, após lesionar parte de sua carne, pintou seu autorretrato como se não fosse importante para ele o que lhe foi tirado...”
E continuou dando detalhes sobre aquela história, enquanto eu, atento ao que ouvia, percebia meus sentidos se aguçarem e minha mente se inquietar.
Ele cortou a própria orelha e deu de presente à sua namorada como gesto de amor? Foi isso que fez? Como teve coragem? Privar-se de parte do seu corpo em nome do amor? Por que ele precisaria fazer isso para ela? Um embrulho ensanguentado para uma prostituta. O que ela sentiu ao ver aquilo? Meu Deus, que loucura! E que Natal sangrento ele teve aquele ano, não? Pensava, ainda boquiaberto, tentando dar atenção ao que o guia continuava falando sobre o quadro depressivo e a morte de Van Gogh. Nisso, algo estranho aconteceu comigo. Depois de ouvir a história da orelha cortada e do autorretrato, não consegui manter minha concentração no que o guia explicava, e as imagens ficaram tremidas em minha visão. Por diversas vezes, pisquei os olhos, espremendo-os com força para tentar recuperar a nitidez que perdi. Foi inútil. Sacudi a cabeça discretamente e inspirei profundamente, procurando meu fôlego, que diminuía. Ao soltar o ar suavemente, mantendo meus olhos fixos na tela daquele homem que tinha uma faixa branca cobrindo sua orelha cortada, ouvi uma voz: Foram as mãos dele que seduziram seu irmão. Elas o roubaram de você. De supetão, olhei para trás, procurando quem havia dito aquilo. Um casal de turistas olhou-me com estranheza, franzindo as testas, como se perguntassem o porquê de eu encará-los. Virei meu pescoço para um lado e para o outro, depois para frente, retornando à posição que estava antes, tentado encontrar quem havia dito aquilo e o porquê. Percebi-me ansioso e amedrontado ao mesmo tempo, ao entender que aquilo era algo da minha cabeça. Sorri para mim mesmo, tentando relaxar e concentrar-me novamente. E, no mesmo instante, ouvi mais uma vez: As mãos dele, Gaius. Impulsivamente, gritei, olhando para trás:
— Quem é? — e obtive o silêncio e a atenção de todos que estavam ali.
Minha respiração ainda ofegava, e o meu semblante estava envergonhado por ter atrapalhado a explicação do guia, que perguntou gentilmente:
— O Senhor está bem? — e ficou aguardando minha resposta, olhando-me com atenção.
Nervoso, mas tentando me acalmar, pedi desculpas e respondi que havia me assustado com alguma coisa. E comecei a caminhar para a porta de saída do museu, deixando todos olhando para mim. Do lado de fora, respirando vagarosamente, senti algo entre as minhas pernas. Olhando para baixo, vi que meu pênis estava ereto. Por que estou excitado? Perguntei a mim mesmo e, logo, dei-me a resposta de que me excitei porque o museu estava frio e eu tinha vontade de urinar. E, assim, consegui enganar a mim mesmo naquele instante. Só lamento não ter conseguido me enganar por muito mais tempo a partir daquele dia. Teria sido melhor ou mais fácil se tivesse conseguido. Resolvi almoçar e voltar para o hotel. Queria descansar, pois já tinha em mente o que fazer naquela noite. E precisaria de toda a energia para conseguir.
Eram quase 22h. Caminhava pelas ruas de Amsterdã em direção ao Bairro da Luz Vermelha, que ficava a menos de quinze minutos do hotel. Era verão na cidade, mas durante a noite as temperaturas despencavam, o que exigia, no mínimo, um casaco e cachecol para quem quisesse se manter aquecido. As luzes vermelhas das ruelas e as bicicletas espalhadas pelos arredores do bairro foram avistados por mim. Acho que é ali. Pensei, e continuei caminhando, observando a movimentação de turistas, que eram abordados por vendedores de maconha. Curioso, passeava atento, procurando as famosas vitrines, onde as prostitutas se ofereciam a quem as visse da rua. Entrei em uma rua curta e, ao meu lado direito, vi várias vitrines, em que mulheres seminuas sensualizavam seus corpos com danças provocantes atrás de um vidro. Parei e observei-as com calma. Nisso, uma delas começou a bater no vidro fortemente, enquanto outras fechavam as cortinas rapidamente. Olhei para trás e vi um turista que segurava um celular e gravava imagens delas. Todos que passavam na rua falavam contra ele, pedindo que as respeitassem, pois estavam trabalhando, e não era permitido gravá-las. Um homem maduro, enraivecido, aproximou-se do turista, agarrou seu celular e jogou-o no rio que divide duas daquelas ruas. O homem esbravejava contra o turista, que ficou atônito com a reação, e saiu dali apressadamente. Achei aquilo tão instigante e pensei que iria passar uma madrugada interessante em um lugar onde as coisas acontecem. Continuei caminhando e observando os diversos bares, restaurantes e museus abertos naquele horário, enquanto acendi um cigarro. Eles ficavam na rua da frente à das vitrines. O excesso de pessoas andando, comendo, bebendo e tirando fotos era muito grande. Realmente, tudo que havia lido sobre o bairro, que é conhecido por sua lascívia, era verdade. Em pouco tempo que estive lá, pude constatar que aquela não seria a única noite que eu o visitaria. E não foi. As madrugadas aqui devem ser bem agitadas. Pensei e dei um sorrisinho safado para mim mesmo, já prevendo o que me aguardaria. Joguei o cigarro no lixo e voltei para as vitrines. Lá, havia quatro mulheres dentro delas. Observei que duas vitrines eram iluminadas com a luz vermelha, e as outras com uma roxa. Não entendi o porquê. Vendo-me, três delas faziam contato visual, tentando falar comigo, chamando-me com as mãos, para que me aproximasse. A outra, a que estava na ponta à minha direita, simplesmente repousou as duas mãos no quadril em um movimento leve e sexy, e fitou minha pupila demoradamente, enquanto erguia, vagarosamente, sua cabeça e sacudia seus cabelos longos e pretos para trás, deixando seus ombros à mostra e transparecendo sua altivez e soberba. O fato de ela não se oferecer para mim chamou minha atenção. Aproximei-me dela e pude contemplar suas pernas cobertas com uma cinta-liga, e seu tórax e seios presos a um espartilho. Ambos eram pretos. Sua calcinha minúscula era vermelha. Usava um sapato com salto alto. Com certeza, para valorizar seu corpo, visto que não era tão alta quanto parecia. Em seu rosto, havia um pouco de maquiagem e um batom vermelho escarlate. Cílios postiços exagerados valorizavam seus olhos pretos. O cabelo estava ressecado, o que não a impedia de exibi-lo com orgulho. Percorrendo seus braços e ombros nus, enxergando a flacidez da pele um pouco acima das axilas, tive a certeza de que aquela mulher já tinha passado dos quarenta anos. Meus olhos encontraram os seus, que não piscavam ao me fitar. Ela mantinha um olhar parado. Intriguei-me com a forma como ela me encarava. Por um instante, pensei que ela seria minha cliente, e não o contrário. Ela se mantinha imóvel, com as mãos no quadril e o pescoço arrogante. Então, pressionando minhas mãos contra a vitrine, falando baixo, perguntei:
— Quanto? — e vi seus lábios expressarem um sorrisinho de alguém que consegue o que quer.
— Cinquenta euros a cada vinte minutos. O que quer fazer? — e, mais uma vez, jogou o cabelo para trás sensualmente, provocando-me.
Fiquei em silêncio por alguns instantes pensando em o que responder. Desviei os olhos dela algumas vezes e retirei minha mão da vitrine, como se demonstrasse que iria embora. Dei dois passos para trás cautelosamente e encarei-a. Procurei no bolso do casaco mais um cigarro e, logo, acendi-o. Virei-me para sair dali e pus-me a caminhar. Depois, parei e voltei. Ela continuava na mesma posição, como se tivesse a certeza de que eu voltaria. Nisso, perguntei:
— Quanto você ganha em uma noite inteira aqui?
— Passo a noite com você por mil euros, rapaz — respondeu, à queima-roupa.
Dei um trago no cigarro e soltei a fumaça suavemente, pensando em o que dizer. Então, propus:
— Dou-te dois mil euros pela noite inteira — e vi-a arquear uma das sobrancelhas, demonstrando interesse.
— O que quer fazer? — indagou novamente, querendo fechar o negócio.
— Que vista uma roupa e venha jantar. Estou com fome.
Ela pareceu surpresa com a proposta, mas balançou a cabeça afirmando que sim, e, logo, mostrou seu profissionalismo, esclarecendo que eu precisava entrar nas regras.
— Precisa pagar antes, rapaz — e abriu a porta da vitrine, convidando-me para entrar.
— É claro. Desculpe — e, logo, retirei do bolso da calça quatro notas de quinhentos euros, aproximei-me e entreguei-as, ainda do lado de fora da vitrine.
Ela deslizou os dedos pelas cédulas, verificando se eram verdadeiras, cheirou-as, deliciando-se com a certeza de que eram novas e autênticas. E comentou:
— Há tempos não via uma destas — e deu um sorriso para mim.
Sorri de volta e afastei-me, dando mais um trago.
— Aviso que não faço nada sem preservativo, e que não sairei do bairro. E, também, que há policiais que nos conhecem e nos protegem. Basta uma ligação, e eles irão até onde estou. Encerro com você às 5h. Entendido? — e fechou a cara, esperando minha resposta.
— Entendido. Não se preocupe com isso. Ficaremos aqui no bairro.
— Não quer entrar, enquanto troco de roupa? — convidou ela.
— Acho melhor esperar você aqui — respondi gentilmente e, depois, vi-a fechar a cortina.
A prostituta e eu caminhávamos até uma das ruas que ficava do outro lado da que estávamos. Para quebrar o silêncio entre nós, pediu-me um cigarro. Parei, abri a cigarreira e deixei-a retirar um. Depois, levei meu isqueiro até seu rosto, acendendo-o, e, logo, vi suas bochechas secarem, enquanto ela dava o primeiro trago. Foi impossível não perceber que ela admirava meu isqueiro e cigarreira com atenção. Será que ela vai me roubar? Pensei. E continuamos até o momento em que ela sugeriu que entrássemos em um dos diversos bares daquela rua. Por sorte, não havia fila de pessoas, e, logo, pudemos entrar e sentar-nos em uma mesa intimista e aconchegante. As cores das paredes do bar eram vibrantes. Todo o ambiente era meio escuro, e a música que embalava a conversa de dezenas de pessoas que ali estavam era provocadora e sensual. Enquanto retirava meu cachecol e abria o casaco tentando não sentir calor, visto que a temperatura lá dentro estava mais alta que lá fora, pensei: Tudo aqui respira a sexo. É por isso que chamam Amsterdã de a capital da liberdade. Após ela retirar seu cachecol e desabotoar seu casaco também, perguntou a mim:
— De onde você é? — e pôs um cotovelo sobre a mesa, apoiando o queixo em uma das mãos, como se estivesse se preparando para um cliente que passaria a noite inteira falando sobre seus problemas pessoais, o que, certamente, estava acostumada a fazer.
Titubeei nas palavras, ora hesitando, ora falando coisas que não diziam nada. Estava nervoso. Nunca havia estado com uma prostituta antes, e existia algo nela que me desconcertava. É como se ela me enfrentasse e me provocasse. Não sei explicar ao certo, mas, em um primeiro momento naquele bar, senti um desconforto enorme.
— Entendi. Não quer dizer de onde é? Tudo bem. O que faz em Amsterdã? — e, antes que pudesse responder, um garçom tagarela aproximou-se dela, cumprimentando-a, desejando-nos uma boa-noite e perguntando o que queríamos pedir.
Ela o saudou, falando sensualmente, desejando-lhe uma boa-noite, enquanto deslizou suas unhas vermelhas sobre as costas de uma das coxas do garçom, fitando bem em seus olhos e molhando o lábio inferior. Em uma fração de segundos, ela lançou sobre ele seu desejo, como uma feiticeira que não faz esforço para conseguir o que quer com a sua magia. O rapaz a encarou e, logo, deu uma olhada em seu par de seios, abrindo um sorrisinho de boca fechada, com certeza, entusiasmado. Nisso, ela virou-se para mim, que estava concentrado no que via, e perguntou o que queria comer. Respondi que ela poderia escolher para nós, tentando ser gentil, e deixá-la confortável, enquanto assimilava tudo que via e relaxava.
— Finn, vamos querer dois cones de batatas fritas para começar. E uma água, por favor. Quer algo mais forte? — perguntou, olhando para mim.
Balancei a cabeça que não, e vi o garçom sair com nosso pedido. Nisso, os olhos dela se voltaram para mim novamente.
— Então, por que não me fala de você — sugeriu.
— Confesso que não sei o que dizer. Estou um pouco nervoso — e sorri para que minha frase não soasse em tom desagradável a ela.
— Nervoso, por quê? Não é a primeira vez que você sai com uma mulher, é?
— Não. Já saí com mulheres, sim. Mas é a primeira vez que... — e não consegui terminar a frase, pondo-me imediatamente a caçar palavras para continuar, quando fui interrompido por ela.
— Com uma puta?
— Sim. É a primeira vez que estou com uma prostituta. É isso.
— Relaxa. Logo você se acostuma. Com esse rosto lindo que tem, quase não entendo porque está me pagando. As meninas devem se jogar em seus braços, não? — e deu uma gargalhada.
— Digamos que não tenho do que reclamar — respondi.
— Então, fale-me um pouco de você. Quero ouvir o que tem a me dizer — e, novamente, fez aquele gesto com o cotovelo sobre a mesa, repousando a mão no rosto.
Ela fica tão sexy ao jogar seu corpo para frente dessa forma. É como se estivesse tão disponível, tão entregue. Pisquei os olhos, tentando me concentrar. Respondi.
— Por que não começamos com você? Fale-me um pouco sobre si — e, quase que instintivamente, imitei seu gesto, repousando meu cotovelo sobre a mesa, apoiando meu rosto com a mão.
E, então, ela começou a falar. Disse-me que havia nascido em Marken, Holanda, e aos dezesseis anos resolveu sair de lá e morar em Amsterdã, pois achava que sua cidade natal havia parado no tempo, e seus desejos e ambições jamais iriam se realizar morando lá. Na capital, tentou conseguir trabalhar e estudar, mas não obteve sucesso, e a prostituição se apresentou como uma opção rápida e fácil a alguém que, como mesmo disse, tinha fome e precisava pagar o aluguel. Contou, ainda, que se apaixonou por um cliente aos dezessete anos, que, à época, era casado com uma mulher. E, dele, engravidou aos dezenove, dando à luz à menina Carolien, com quem morava em uma casa alugada. Acrescentou que a filha sempre soube que ela era prostituta e valorizava-a por sua coragem, mas optou por se dedicar aos estudos, pois pretendia trabalhar como veterinária. Ela afirmou que a única fonte de renda da família provinha dos programas que fazia, e que, além de não poder parar por precisar sustentar a casa, gostava de sexo. Lamentou ter passado algumas situações desagradáveis com clientes que a destrataram, foram rudes com ela e agrediram-na, mas não se arrependia de ter entrado naquele caminho, pois a prostituição, segundo ela, tornou-a uma mulher mais forte e livre, inclusive na cama.
No meio da conversa, Finn nos levou os cones com batatas fritas e diversos molhos esparramados sobre elas. Ouvindo atentamente o que a prostituta contava sobre sua vida, entre uma mordida e outra naquelas batatas grossas e crocantes, pensava em quão excitante devem ter sido as experiências que ela já teve na cama. Deixando-a à vontade, eu ficava em silêncio, mantendo meus olhos fixos nos dela, enquanto sua boca se mexia sem parar, narrando um pouco da sua história para mim. Percebendo que não tinha mais o que contar sobre sua trajetória de vida, brevemente resumida por ela, perguntei:
— Deve ser instigante estar todos os dias na cama de vários homens em uma única noite, não? — e dei um sorrisinho para ela, enquanto lancei um olhar lascivo e curioso sobre seu rosto.
Ela entendeu o que eu queria saber, e não hesitou em falar:
— E de mulheres também — e deu mais uma gargalhada com a boca cheia de batatas.
— Muitas mulheres a procuram? — perguntei, entusiasmado.
— Muitas. Algumas para satisfazerem seus maridos. Outras para se satisfazerem. São dois tipos de sexo muito diferentes. O tempo me levou a entender que a dinâmica e a energia de um homem são diferentes das de uma mulher. Adaptei-me aos gostos de cada um, e, hoje, é mais fácil para agradá-los, sejam juntos ou separados — e terminou a frase quase sussurrando, sugerindo que gostava de transar com ambos os sexos, dando mais uma gargalhada ao final.
Suas risadas vulgares e escandalosas chamavam a atenção de alguns clientes do bar, e isso imprimia, em mim, uma sensação de liberdade, ao saber que tinha em minha mesa uma mulher que não se importava com convenções e reputações, mas que mostrava o que era, sem máscaras ou dissimulações. Adoro vê-la sorrir dessa forma tão estapafúrdia!
Nossas batatas acabaram, e, então, ela limpou seus dedos em um guardanapo, enquanto falou:
— Mas não seja mal-educado comigo. Não me deixe aqui falando sozinha. Conte-me um pouco de você também.
Balancei a cabeça em negativa, sorrindo para não parecer rude com ela, já sentindo algumas emoções pulsarem dentro de mim.
— Tenho certeza de que um homem belo como você deve ter histórias interessantes para contar, não é? Algo que aconteceu no colégio, talvez? Uma mulher por quem se apaixonou? Ou um homem? Fale-me alguma coisa. Contei quase a minha vida inteira para você. Tenho certeza de que...
— Você não entenderia o que fiz — disse, interrompendo-a com uma única frase, percebendo seus olhos apertarem-se e sua cabeça mover-se para o lado, analisando-me melhor.
Instantes depois, com a voz suave e maternal, comentou:
— Por que não tenta me contar e me deixa decidir se entendo ou não?
Balançava minha cabeça, tentando controlar minha emoção, buscando forças para sorrir, quando me percebi desabar em um choro. Logo, solucei e cobri meu rosto com as mãos, evitando minha vergonha. Ela ficou em silêncio até que eu conseguisse controlar minhas lágrimas e limpá-las de minhas bochechas. Então, sorriu para mim e disse:
— Acho que sei o que quer de mim esta noite. E por mais que pense que não vou conseguir entender, quero ouvir o que está preso aí dentro do seu coração.
Eu sorri para ela, como se dissesse que iria contar o que aconteceu. Nisso, fiz força para controlar a gargalhada que quis dar, quando a vi gritar para o garçom, chamando a atenção de todos que estavam no bar:
— Finn, traga-me dois jenevers! — e, mais uma vez, repousou seu cotovelo sobre a mesa, batendo levemente os dedos sobre as bochechas, aguardando que eu começasse a falar.
Respirei fundo e contei minha história a ela. Naquele momento, tive vontade de revelar um segredo que somente eu sabia. Uma realidade aparentemente inofensiva, mas que, por trás dela, escondia o quão complexa e nebulosa minha mente havia se tornado. Evitava pensar sobre aquilo em lugares não administrados. Era perigoso e fatal acessar esses quartos escuros da minha mente, principalmente com pessoas que não poderiam oferecer a dose de compaixão e empatia que tal ação exigia. Decidi não falar e manter a farsa que propaguei no passado.
Após me ouvir atentamente, aquela mulher, ainda tentando se recuperar do choque, fez-me apenas uma pergunta:
— Quanto tempo precisará esperar?
— Não sei. Os advogados acham que conseguem fazer um acordo com a promotoria e tentar baixar a quantidade de anos. O julgamento ainda não aconteceu. Tudo é muito incerto — e tentei me controlar para não chorar novamente.
— Sinto muito. Lamento que tenha passado por tudo isso. Mas veja pelo lado positivo. Depois que tudo isso acabar, poderá ter sua vida de volta — e sorriu com a boca e com os olhos, tentando me consolar.
— É verdade. Mas eu estou organizando um plano para executá-lo ao longo desse tempo de espera. Não sei ao certo por que vim a Amsterdã, mas, pelo que já pensei em fazer, precisarei de alguém como você. No momento certo, vou procurá-la — e vi seu rosto se encher de curiosidade.
— Pode contar comigo. Ficarei feliz em ajudar — e piscou os olhos para mim.
Mais aliviado e calmo, depois de ter chorado e contado minha história para ela, tentando harmonizar a conversa novamente, comentei:
— Você ainda não me disse seu nome.
Ela repetiu aquele gesto de rebolar o pescoço para trás, sacudindo levemente o cabelo, exibindo seus ombros, tentando sensualizar para mim. Nisso, meus olhos encontraram suas orelhas, que prendiam um par de brincos discretos. Eles tinham uma espessura fina, em forma de espiral, com detalhes de pequenos círculos indianos dourados. Vendo-os, paralisei meu rosto e pus-me a observá-los com mais atenção, enquanto ela me encarava curiosa, sem nada dizer, tentando entender o motivo da mudança das feições e da minha testa franzida. Percebendo que eu observava sua orelha esquerda, virou levemente à cabeça para a direita, a fim de facilitar minha visão. Ela e eu estávamos próximos. Então, pude levar minha mão até o brinco e tocá-lo. Contemplando o lóbulo da orelha e aquele acessório pendido, ouvi dela:
— São lindos, não? Quer usá-los? — perguntou e, logo, deu um sorrisinho de boca fechada para mim.
Ainda com os olhos fixos em suas orelhas, acariciando o lóbulo e o brinco, respondi.
— Rachel. Todo o tempo em que estiver comigo, seu nome será Rachel — e pisquei meus olhos, já com minha pupila fixa na dela, ao abri-los.
Ela não entendeu nada, mas achou interessante poder usar outro nome pelo tempo que estivesse comigo. As expressões de seu rosto confirmaram isso para mim. Então, comentou e perguntou, de forma sugestiva:
— Você que manda. Qual o seu nome? Quer ir para um lugar mais íntimo? — e lançou um olhar de luxúria sobre mim, demonstrando claramente que desejava me levar para a cama.
Encarei-a, depois de afastar minhas mãos de sua orelha, retornando meu corpo para a posição que estava antes, e respondi:
— Meu nome é Gaius. Iremos, sim. Quero você e Finn na minha cama hoje.
Ela moveu sua cabeça para baixo, quase encostando o queixo no ombro, expressando seu semblante de surpresa e admiração por eu estar dizendo o que queria para aquela noite, e falou:
— Acho que os jenevers estão começando a fazer efeito — e fez cara de safada para mim.
— Parece que sim — respondi e devolvi o semblante de lascívia para ela.
— Preciso falar com ele antes. Não sei se vai querer — e levantou-se da mesa para tentar realizar o meu desejo.
Nisso, eu disse:
— Ofereça dois mil euros. Se ele recusar, mande-o à merda, pois ele não vale tudo isso — e, logo, ouvi-a gargalhar escandalosamente.
Instantes depois, ela voltou e confirmou:
— Ele topou por mil e quinhentos. Os outros quinhentos, você paga para mim — e piscou os olhos, achando-se esperta demais por ganhar mais do meu dinheiro em tão pouco tempo.
— Você merece! — e dei três batinhas com as palmas das mãos, aplaudindo-a pela proeza em convencer um garçom holandês a fazer sexo comigo e com ela ao final do expediente.
— Vou pedir algo para comermos e um pouco mais de... — falava, quando a interrompi, dando o último gole no gin holandês, logo batendo a pequena taça na mesa com força.
— Rachel, pergunte a Finn a que horas devemos vir buscá-lo aqui. E leve-me a algum lugar para dançar. Agora.
Do lado de fora do bar, enquanto caminhávamos para um clube erótico de dança, Rachel e eu gargalhávamos ao tentarmos adivinhar qual o tamanho do pênis de Finn. O clima que se instalou entre nós era agradável e leve. Ela não estava bêbada, e eu consegui sentir que sua alegria era espontânea. Sem motivação nenhuma, de supetão, ela parou no meio da rua, encarou-me e perguntou:
— Espere aí. Uma coisa não ficou clara na história que você contou lá dentro. O que aconteceu com a cadela Helena?
Estava alguns passos à frente dela. Parei, encarei-a, enquanto me aproximava, e já com meus lábios tocando aqueles brincos baratos, sussurrei em seu ouvindo:
— Em uma das brigas, tomei a arma, enfiei no cu da cadela e atirei. A bala saiu pela boca dela. Mesmo morta ao chão e sangrando pela boca e pelo cu, fiz questão de dar mais dezessete tiros na cabeça. E, antes de sair, chutei com força sua barriga e vi mais sangue espirrar de sua boca — e afastei meu rosto do dela, encarando seus olhos com satisfação, aguardando sua reação ao que tinha ouvido.
Rachel me olhou sério, e, instantes depois, comentou:
— Eu não teria feito nada diferente do que fez — e deu uma gargalhada, novamente repousando suas mãos em seu quadril.
Nisso, percebendo que o gin já tomava conta do meu corpo e mente, pensei: A bebida afrouxa sua boca, Gaius. Cuidado com ela. Não esqueça que não deve confiar em ninguém, muito menos em uma puta.
Rachel e eu entramos no Bananen bar, um clube erótico de stripers do Bairro da Luz Vermelha, que carrega em sua história a audácia de Maarten Lamers, ao driblar as autoridades locais na década de 1970. À época, diversas licenças de bebidas foram negadas ao pequeno estabelecimento, onde cafés eram servidos por mulheres nuas aos clientes. Engenhoso, Maarten procurou o chefe de polícia e afirmou que tinha fundado uma igreja para satanás dentro do clube, o que conferia a ele a partir daquele momento o direito de ser chamado de Monsenhor Lamers. E, ainda, que as bartenders eram irmãs da ordem de Wallburga, e os seguranças na porta eram colecionadores. O atrevimento de Lamers excedeu todos os limites ao impor o ato de morder a banana como um ritual religioso. Arrogando-se o direito de liberdade religiosa, o empresário conseguiu manter o clube de sexo aberto e funcionando. Suas moças serviam cafés e bebidas totalmente peladas, e, ainda, dançavam sobre os homens, enquanto descascavam bananas e as chupavam e mordiam de forma provocante, característica essa que conferiu sucesso ao local desde o seu início. O ápice dos shows das stripers ocorria quando elas retiravam as bananas das cascas e enfiavam em sua vagina, arreganhando suas pernas sobre as mesas dos homens e fazendo-os mordê-las até que os lábios deles tocassem e lambessem seus clitóris. A intitulada igreja ganhou notoriedade e publicidade com o tempo, chegando à marca de mais de quarenta mil fiéis, o que despertou a atenção do Departamento de Justiça e de Impostos da Holanda, visto que igrejas são isentas de pagamentos de tributos ao Governo. Depois de uma cautelosa investigação, descobriu-se que Lamers já havia faturado milhões de euros com o clube de sexo disfarçado de igreja de satanás e que vivia viajando de país em país, sendo capturado em um castelo na França anos depois. Para evitar ficar preso, um acordo de milhões de euros foi feito com o Departamento de Justiça holandês, o que incentivou Maarten a continuar seus investimentos no mundo do sexo, tornando-se, depois, proprietário do teatro erótico Casa Rosso, onde começou a trabalhar como guarda antes de adquirir fortuna, o Hospital Bar, o Museu erótico e, finalmente, um peep show, compondo assim o Grupo Otten, um dos mais influentes do entretenimento adulto. O homem que driblou o Governo holandês por anos enricou incentivando e alimentando o desejo de sexo das pessoas.
É claro que eu não sabia dessa história na noite em que entrei no clube de streepers com Rachel, pois, além de estar começando a ficar bêbado, queria mesmo era dançar e preparar-me para o sexo que teria com Finn e Rachel depois daquela balada. Mesmo não sabendo da história das bananas nas vaginas, isso não me impediu de, naquela noite, comê-las e lamber o clitóris daquela moça que abriu as pernas para mim sobre uma mesa. Uau! Que lambida gostosa. Gostei de fazer isso em público. Ela pareceu não se importar com o que fiz, embora tenha olhado para o segurança do clube, ao perceber que eu a lambi rapidamente. Com certeza, aquela moça era novata por lá, pois não era permitido fazer sexo durante a performance das streepers, e era papel delas não deixar que os clientes se empolgassem demais. Se pudesse, comeria você aqui na frente de todos e gozaria em seus seios caídos, sua vadia! Pensei, enquanto encarava os olhos castanhos daquela moça, pintados com um delineador barato e vulgar, vendo-a sair da minha mesa e caminhar para rebolar suas nádegas flácidas sobre outros homens.
O clube era escuro, e o jogo de luzes conferia uma sensação quase psicodélica a quem estava lá. Suas paredes de tijolos, cuidadosamente decoradas com compridas mangueiras de luz em cores alaranjadas, as mesas redondas e pequenas, as áreas com pequenos sofás, as moças quase nuas transitando pelo salão, e a música eletrônica, quase ensurdecedora, explicitavam a proposta do ambiente. Tudo, até mesmo os mínimos detalhes do Bananen bar, tinha o propósito de fazer seus clientes respirarem sexo a todo instante. E isso foi o suficiente para eu entender que aquele lugar seria visitado por mim várias vezes durante o tempo em que ficaria em Amsterdã. E eu estava certo.
Rachel quis continuar bebendo jenever. Ela parece ser nacionalista. Só vai beber esse gin a noite inteira? Pensei, mas não disse nada. Eu precisava de algo mais exótico, então, imaginei que a mistura de molho inglês, suco de tomate e pitadas de pimenta cairiam bem àquele momento.
— Minha amiga precisa de uma garrafa de jenever. Para mim, um bloody Mary. Sei que a casa está lotada, mas aqui tem um incentivo para você não demorar a trazer minhas bebidas — disse eu ao garçom, quase gritando em seu ouvido, enquanto enfiei no bolso de sua calça uma cédula de cem euros, corrompendo-o.
Ele mirou bem em meus olhos e sorriu para mim, balançando a cabeça que sim, enquanto terminou de enfiar a cédula em seu bolso com a mão, saindo rapidamente para pegar nossas bebidas. O que o dinheiro não faz, não é?
A garrafa de gin tinha menos da metade da capacidade. Eu já devia ter tomado uns cinco ou seis drinks. Passaram-se algumas horas desde que chegamos ao clube. Quase não sentia meu corpo, mas, mesmo assim, Rachel e eu não parávamos de dançar. Em um determinado momento, ela sensualizou para mim e simulou um streap-tease, o que chamou a atenção de vários homens ao nosso redor. Deslizando suas mãos pelo meu corpo, enquanto abaixava-se, simulando sexo oral em mim, ouvíamos os gritos dos homens, que sacudiam seus punhos fechados em círculos pelo ar e gritavam, sincronicamente:
— Chupa! Chupa! Chupa...
Que lugar exótico! Quero transar aqui no meio de todos. E com todos também. Pensei e senti um ser dentro de mim ficar eufórico. Nisso, olhei para baixo e encontrei os olhos pretos de Raquel, fitando-me, provocando-me, simulando que chupava meu pênis, enquanto todos aqueles homens continuavam gritando para que ela baixasse minha calça e abocanhasse meu membro. Em um movimento natural, mais uma vez, Raquel sacudiu vagarosamente seu cabelo para trás, o que me permitiu ver suas orelhas e aqueles brincos cafonas. Senti minha pupila dilatar e meus dentes se apertarem. No impulso, agarrei os dois braços de Raquel com as mãos firmemente, levantei-a e pressionei minha boca contra a dela, explorando-a com minha língua. Era impetuosa a forma como eu a beijava, e, com o mesmo ímpeto e tesão, ela respondeu. Os homens que gritavam enlouqueceram ao ver aquele beijo, e, também, quando puxei o corpo dela para o meu e dei um tapa em suas nádegas, apertando-as. Que gosto maravilhoso essa mescla de gin e suco de tomate. Pensei.
Dançava distraidamente no meio do salão do clube, que, horas depois, não tinha tantas pessoas, quando Rachel me puxou pelo braço e disse:
— Está na hora. Vamos? — e fez sinal para que eu pagasse a conta e fôssemos encontrar o garçom holandês.
Na porta de saída do bar onde Finn trabalhava, eu fumava um cigarro, enquanto esperava Rachel trazê-lo. Instantes depois, vi-o chegar com ela.
— Oi! — disse ele, timidamente.
— Oi! — respondi com a voz meio embargada.
— Tem um lugar aqui que podemos ficar mais à vontade — sugeriu Rachel, enquanto Finn me olhava, analisando-me, esperando para saber onde iríamos transar.
— Estou hospedado no Waldorf Astoria Amsterdam. É próximo daqui. Vim andando. Podemos ficar lá. Teremos mais conforto — comentei, dei mais um trago no cigarro e vi-os se olharem.
Rachel torceu os lábios e falou:
— Combinamos que não sairíamos do bairro...
— Para com isso, Rachel. Você não quis sair daqui porque tinha medo de eu lhe fazer algum mal. Finn vai conosco. Você estará segura com ele. Garanto que não faremos nada que já não tenha feito na vida. Não quero ficar aqui. Quero ir para a minha suíte. Lá, terei mais conforto, além de tudo que preciso para fazer sexo como gosto. E será uma oportunidade para vocês conhecerem uma suíte de luxo de um dos hotéis mais ricos de Amsterdã. Tenho certeza de que clientes como eu não aparecem para vocês todos os dias, não é? — expus, de forma firme, deixando claro quem estava no controle ali.
Finn e Rachel se olharam novamente, buscando um no outro a aprovação mútua. Então, o garçom falou, quase com indiferença:
— Por mim, tudo bem.
Olhei para Rachel, enquanto dei o último trago daquele cigarro, esperando sua resposta.
— Tudo bem. Vamos lá.
Abrindo a porta da minha suíte, fiz sinal com a mão para que Finn e Rachel entrassem primeiro. Foi impossível não perceber o espanto no rosto deles por estarem um hotel de luxo. A imponência e beleza do quarto era admirável. Até eu, já acostumado com esses lugares, quando vi, encantei-me. Passeando cuidadosamente, os dois observavam a sala de estar e moviam o pescoço para tentar ver o segundo cômodo, onde estava a minha cama. Finn, visivelmente nervoso e tímido, retirou o casaco e perguntou:
— Posso tomar um banho antes?
— Não. Quero sentir o cheiro sujo do seu corpo. Rachel, ponha uma música para nós — respondi a ele, e retirei meu casaco e cachecol rapidamente, jogando-os sobre o sofá e aproximando-me dele.
Finn tinha a mesma altura que eu. Era branco, ruivo e seu corpo parecia o de um adolescente, assim como o meu. Devia ter vinte e cinco anos, no máximo, embora seu aspecto fosse de um menino raquítico. Os poucos pelos ruivos que nasciam em sua barba conferiam um pouco de charme ao seu rosto, mas não o suficiente para que fosse considerado, por mim, um homem belo. Ele não era feio e nem belo. Era comum, o que, em certos casos, é pior que ser feio. Não sei por que me interessei por ele. Será que estou cansado de homens belos em minha cama? Perguntei a mim mesmo, ainda caminhando em sua direção, contemplando seu rosto assustado, depois que o proibi de tomar banho. Próximo a ele, perguntei, deslizando minhas mãos em seus braços magros:
— Os cabelos do pau também são ruivos? — e encarei-o.
Ele ficou desconcertado e suas bochechas, logo, enrubesceram. Depois de engolir em seco, respondeu, quase gaguejando:
— São. Eu não sabia que iríamos fazer isso hoje, então não me preparei direito, se é que me entende — já deixando claro que não havia feito depilação e higienizado seu membro.
— Não se preocupe, Finn. Gosto de cheiro natural — e desci minha mão por seu abdome até o meio das calças, apertando levemente seu membro.
Finn me olhou como se respondesse positivamente ao meu toque. Nisso, sussurrei, fitando seus olhos claros:
— Ponha para fora. Quero chupar — e me ajoelhei diante dele, vendo-o abrir a calça e abaixá-la com a cueca, que mais parecia um pijama.
Meus olhos viram seus pelos ruivos. Eles eram grandes e cobriam parte do pênis mole e enrugado dele. Sua glande estava coberta pela pele, então, segurei-a com um movimento leve e a fiz aparecer, deixando-a à mostra. Nisso, senti o cheiro de sujeira de imediato, e, logo, percebi que entre o prepúcio e a glande havia um pouco de esmegma. O cheiro fedido daquele sebo grudado na cabeça do pênis dele me fez arfar. A sensação foi maravilhosa. Em segundos, percebi-me excitado e, sem resistir, molhei meus lábios e pus somente a cabeça do pênis dele em minha boca, lambendo e engolindo aquela sujeira compassadamente. Que coisa maravilhosa! Adoro isso! Repetia para mim mesmo, controlando-me para não gozar de tanto tesão que senti ao misturar minha língua àquele sabor amargo. Ainda fazendo movimentos circulares com a língua, tentando extrair todo o sebo da glande, percebi seu membro crescer em minha boca, enquanto liberava pequenas poluções, com certeza, resultado do seu tesão. O garoto está gostando do boquete, Gaius! Disse para mim mesmo. Quase que em uma fração de segundos, minha boca testemunhou a espessura do pênis dele, que a preencheu completamente, quase me forçando a erguer minha cabeça, pois seu pênis era levemente inclinado para cima. Minha boca estava mais úmida que minha cueca. Então, engoli aquela baba vagarosamente, enquanto abocanhava seu membro inteiro até que meu nariz encostou naqueles pelos ruivos e desordenados. Uau! Não sei como conseguiu entrar inteiro em minha boca. A cabeça do pau dele está encostando em minha úvula. Que delícia! Pensava, enquanto ouvi os primeiros gemidos de Finn. Ele flexionou os joelhos para ajustar seu membro em minha boca e começou a mexer o quadril vagarosamente, deslizando-o para dentro e para fora, comprazendo-se. Abrindo os olhos, vi seu rosto flamejar de tesão. Ele arfava toda vez que conseguia socar seu pênis inteiro em minha boca e continuou com pequenas e suaves estocadas. Percebendo a dinâmica do prazer que Finn sentia, pressionei meus lábios, esfregando-os mais intensamente naquela pele, e acelerei os movimentos a fim de ouvi-lo gemer mais alto. Funcionou. Em minutos, Finn e eu estabelecemos uma conexão a partir daquele sexo oral. E, enquanto eu me deliciava com aquilo, o ritmo dançante e crescente de uma música eletrônica invadiu o ambiente da minha suíte. Rachel aumentou o volume do som dançante do DJ Martin Garrix, e, depois de pegar a cigarreira e o isqueiro no bolso do meu casaco, verteu vinho em uma taça e deu o primeiro gole, seguido de um trago, mantendo seus olhos fixos em nós dois, enquanto fazia tudo isso. A sensação de ter alguém me assistindo chupar o pênis de Finn era intensa. Senti-me poderoso naquele momento. Não sei explicar, mas por um instante comecei a pensar que, por mais que tenha vivido dois anos em um relacionamento totalmente exótico, ainda havia muito o que explorar no mundo do sexo. Sentia que cabiam mais coisas em minha cama. Chega de pensar, Gaius! Agora, abra as pernas e deixe ele meter em seu cu! E assim meus lábios soltaram a cabeça do pênis dele, emitindo aquele barulho que as crianças fazem, quando um adulto lhe rouba a chupeta da boca contra a sua vontade. Levantei e ordenei a ele:
— Vamos para a cama — e depois de encontrar os olhos de Rachel, comecei a caminhar para o outro cômodo da suíte.
Finn levantou as calças suavemente e me seguiu. Nisso, a voz dela nos fez parar:
— Fiquem aqui. Eu quero ver — e deu mais um trago no cigarro, expressando que gostaria de me ver transar com o garçom ali mesmo.
Ergui minha cabeça e aceitei o desafio. Livrei-me do par de tênis que cobriam meus pés, empurrando-os um contra o outro. Desabotoei a calça, abaixei-a com a cueca branca, já encharcada de prazer, e fiquei de quatro no sofá, esperando que o garçom me comesse. Empinei minhas nádegas, rocei meu rosto no tecido do sofá, virei minha cabeça e, mais uma vez, olhei para Rachel, que logo retirou do seu casaco um preservativo e levou para Finn. Ele rasgou o papel laminado, desenrolou-o no membro, salivou os dedos, lubrificou meu ânus, aproximou-se, mirou bem e enfiou de uma vez. A primeira dor que senti não foi de prazer. Foi aguda e cortante. Puta que pariu! É grossa demais! Parece o pau de Marcus. E, tentando aguentar aquele membro grosso que dilacerava minhas carnes, lembrei do meu irmão. Em instantes, minha boca ganhou vida própria e meus lábios começaram a se contorcer, um contra o outro, em meio aos gemidos que escapavam das minhas narinas. Ai! Que gostoso! Repetia para mim mesmo, domando meu corpo ao prazer da minha mente. Finn estocava minha bunda com força, enfiando-o inteiro, desordenadamente, sem ritmo algum. Seus movimentos aceleravam mais e mais, e os meus gemidos também. Nisso, percebi-me gritando de prazer e dor, em um crescente compasso de gemidos intermináveis, que não se contentavam em ficar presos dentro de mim. Gritar me conferiu uma sensação de liberdade e transcendência. Então, fechei meus olhos, entreguei-me àquele pequeno transe sexual e passei a gritar cada vez mais alto. Não demorou, e percebi que Finn diminuiu o ritmo das estocadas. Nisso, ouvi sua respiração descompassada, acompanhada de pequenos tremores em suas coxas, que estavam coladas nas minhas. Ele soltou o ar de seus pulmões, expulsando-o de uma vez. E, logo, senti seu pênis sair de dentro de mim. Ele goza com muita educação. Pensei, e procurei o rosto de Rachel com meus olhos, ainda de quatro no sofá. Levei minha mão ao meu membro e me masturbei. Rapidamente, senti aquela coceira gostosa possuir meu corpo. Gozei e esporrei no sofá abundantemente, enquanto gritava para Rachel, mirando bem em seus olhos pretos. Soltei o ar dos pulmões e derreei meu corpo sobre meu próprio sêmen. Totalmente relaxado, tentava equilibrar minha respiração, entre um abrir e um fechar de olhos, encarando o lustre da sala da suíte, ainda me deliciando com aquele sexo. Alguns instantes em silêncio e vi Finn voltar do banheiro, que ficava no outro cômodo, tomar seu casaco e cobrir seu corpo. Ele parecia envergonhado. Olhei-o e, em seguida, para Rachel, que mantinha um semblante misterioso sobre tudo que viu. Ela deu mais um gole no vinho e, depois que repousou a taça sobre a mesa, falou:
— Estamos indo embora — e começou a caminhar em direção a Finn, que a aguardava para saírem juntos.
Levantei-me do sofá e, enquanto subia a cueca e a calça, comentei:
— Rachel, deveria dormir aqui. Podemos tomar um bom café da manhã ao acordarmos — e abotoei a calça, logo depois de fechar o zíper.
Rachel parou de andar, virou-se para mim e moveu o pescoço, tentando descobrir qual era a minha intenção com aquele pedido. Então, respondeu profissionalmente:
— Quinhentos a mais.
— No meu casaco tem uma bolsa. Pode pegar.
Ela arregalou os olhos, abrindo levemente a boca, espantada com a minha ordem:
— Não tem medo de eu roubar você? — e deu um sorrisinho provocador.
Caminhei até ela e, em um movimento sensual, sugerindo que iria beijar seus lábios, sussurrei próximo à sua boca, intercalando minha pupila entre seus olhos e lábios:
— Não. Você não é uma ladra. É só uma puta. E eu gosto disso — e me afastei, esperando sua reação.
Vi aqueles lábios cobertos pelo batom vermelho escarlate formarem um sorriso para mim.
Finn nos interrompeu, oferecendo-se:
— Se quiser, posso ficar também...
— Rachel, pague a ele. Finn, antes de sair, passe na recepção e avise que quero mais duas garrafas de vinho. Informe que estou bebendo os da Château Lafite Rothscild. E deixe seu número de celular com Rachel para o caso de eu querer encontrar você de novo — ordenei, ainda preso nos olhos dela, deixando claro que ele deveria ir embora.
Ao ouvir o barulho da porta fechando, depois que Finn saiu, comentei com ela:
— Pegue seu dinheiro e fique à vontade. Vou tomar banho — dando-lhe as costas.
Sentia um desconforto em meu corpo. Não sabia ao certo onde nem o porquê. Virei-me para o outro lado da cama, agarrando-me aos travesseiros, não querendo acordar. Foi inútil. Abri meus olhos e, logo, lembrei-me que Rachel havia dormido na suíte. Movi meu rosto e procurei-a na cama. Onde ela está? Levantei-me, fui até a sala e vi-a deitada no sofá, dormindo com a boca aberta, ressonando profundamente. Passeei meus olhos pelo seu corpo coberto com as mesmas roupas da noite anterior e parei em seu rosto ao percebê-la se mover. Suas orelhas eram tão lindas, mesmo com aqueles brincos baratos e cafonas. Vou tomar banho. Estou com fome. Disse a mim mesmo, enquanto saía da sala. Tomei o telefone, liguei para a recepção, e pedi café para dois.
Ainda de toalha, saindo do banho, ouvi alguém bater na porta. Cobri meu corpo com um roupão e fui receber o café. Enquanto dois garçons empurravam duas mesinhas com diversas bandejas cobertas, Rachel acordou e se sentou no sofá. Fechei a porta e perguntei a ela:
— Por que não dormiu na cama comigo? — e fui descobrindo as bandejas para ver o que queria comer.
— Você se mexia demais na cama. A todo instante batia em mim. Tem um sono inquieto e fala durante a noite — respondeu, coçando os olhos e bocejando.
Eu falo durante a noite? Ninguém nunca reclamou. Pensava, enquanto me servia de café. Levei até ela e respondi:
— Desculpe se não a deixei dormir.
— Não tem problema. O sofá é igualmente confortável. Que horas são? — e levantou-se, dando um gole no café.
— Não sei. Deve passar das 15h.
Ela esbugalhou os olhos.
— Meu Deus! Preciso ir embora. Minha filha tem compromisso à tarde com os estudos. Tenho muita coisa para fazer...
— Calma, Rachel. Tome o seu café com calma. Sua filha sabe que está trabalhando — comentei, interrompendo-a, tentando tranquilizá-la.
— Não podia ter dormido aqui. Estou atrasada — e, logo, soltou a xícara de café na mesa e tomou seu casaco para vestir.
Fiquei alguns instantes observando seu nervosismo e pressa. Depois, comentei:
— Pensei que podíamos passar o dia juntos hoje. O que acha?
Ela parou, moveu o pescoço em desconfiança, tentando descobrir por que queria passar o dia com ela. E, em uma frase quase grosseira, questionou:
— O que você quer comigo, garoto? Pagou-me dois mil por uma noite. No momento em que ia embora, pediu-me para ficar. E, agora, quer passar o dia inteiro comigo? A gente nem transou, cara. O que está rolando aqui? Está se apaixonando por mim, é? — e pôs as mãos na cintura, esperando minha resposta.
— Calma. Não sei porque ficou nervosa. Foi só uma ideia. Pensei em sairmos, visitar algumas lojas, comprar algumas coisas, almoçarmos em um bom restaurante, conversarmos... Essas coisas, entende? Imaginei que pudesse gostar — e mordisquei um morango, encarando-a, esperando sua resposta.
Seu semblante, antes de indagação e dúvida, transfigurou-se em alegria e prazer. Suas feições demonstravam isso.
— Fazer compras? — perguntou com o tom de voz baixo e suave, sugerindo que eu continuasse falando.
— Sim. Comprar roupas. Sabe que tenho sentido muito interesse em joias essas últimas semanas. Anéis, colares, brincos, pulseiras, tiaras... Quem sabe, não encontro algo que me agrade? Ou que fique bem em você também? — dei uma última mordiscada no morango e um gole no café, percebendo seus olhos brilharem ao me ouvir falar de roupas e joias.
Rachel permaneceu em silêncio, pensando e me encarando. Depois de desviar seus olhos dos meus, algumas vezes, caçando palavras para aceitar, falou:
— Quinhentos a mais. E já vou avisando que não posso dormir com você hoje à noite...
— Rachel, não precisamos ficar falando de dinheiro a todo instante. Isso é tão chato. Por que não fazemos assim? Todas as vezes que você estiver comigo, pago-te dois mil euros, seja para um turno ou para o dia inteiro? Fica bom assim para você? Se nos virmos todos os dias, poderá passar mais tempo com a sua filha e não terá de ir para a vitrine à noite, pois sei que você não ganha esse valor trabalhando a noite inteira, não é? O que acha? — explanei, suavemente, induzindo-a a aceitar a me fazer companhia durante o passeio.
Depois de mais alguns instantes em silêncio, Rachel perguntou:
— Tem algum telefone aqui para eu ligar para minha filha? — e abriu um sorriso para mim, confirmando que passearia comigo.
— Tem, sim. Ligue e tome seu café. Vou tomar meu drink e me arrumar — e sorri para ela, saindo com minha taça na mão.
Caminhava para o outro cômodo, quando a ouvi perguntar, ansiosa:
— O que é isso? Por que tem tanta comida aqui? Onde vamos comprar as joias?
— Passo o dia beliscando um pouco de cada coisa. Por isso, peço um café completo. Tome seu champanhe e coma o que quiser. Alimente-se bem, pois hoje iremos às compras e não sabemos a que horas voltaremos. Vamos começar com a Tiffany. E, depois, sabe-se lá Deus o que mais — respondi, já dentro do banheiro, tirando a roupa, depois de ligar o chuveiro, aumentando o volume da voz a cada frase.
Era fim de tarde e Rachel e eu estávamos animados. Como estava quente e abafado, optamos por ir andando do hotel até a loja, e, durante todo o caminho, tive que me controlar para não parecer chato, pois ela não parou de falar por um instante sobre como aquele era um dos dias mais importantes em sua vida. O ímpeto dela era visível, e sua ansiedade era enorme. Sorria algumas vezes para ela, tentando compartilhar aquele momento único em sua vida, mas confesso que meus pensamentos eram bem diferentes do que meus lábios transmitiam. Nada agrada mais uma puta que um homem que gaste dinheiro com ela. Pensava, todas as vezes que a ouvia comentar, animadamente, que iria visitar uma das grifes de joias mais caras do mundo, e como cliente, o que a deslumbrava mais ainda. Pelo amor de Deus! É só uma loja! Pare de falar sobre isso! Repetia a mim mesmo, esforçando-me para não deixar escapar o que pensava pela minha boca. É ali, finalmente.
Ao entrarmos, um homem magro, careca e de barba aparada, recepcionou-nos com os olhos. Duas atendentes logo sorriram para nós, ao mesmo tempo em que um garçom se afastou, certamente, para buscar aquele champanhe barato que eles costumam servir para persuadirem os clientes a comprar. Rachel estava nervosa e deslumbrada por entrar na Tiffany. Considerando as poucas gafes que cometeu, posso afirmar que ela se saiu bem. Nem parecia aquela prostituta que conheci na noite anterior, vendendo seu corpo em uma vitrine por cinquenta euros. Ela observava o ambiente com os olhos brilhantes, enquanto caminhávamos despretensiosamente pelas ilhas de vidro espalhadas pelo salão da loja. Não demorou e, logo, o homem careca se aproximou de nós. Ele vestia calça, sapatos e camiseta preta, e, sobre seus ombros, repousava um paletó de veludo azul-marinho. Usava óculos quadrados com armação grafite, o que realçava seu tom de pele claro.
— Boa tarde! Sejam bem-vindos! Posso ajudá-los em algo que desejem? — perguntou, parcimoniosamente, explicando bem cada palavra, tentando ser o mais atencioso possível.
Revirei meus olhos em desagrado àquele atendimento falso. Depois de um sorrisinho forçado, dei as costas para ele, continuando observando uma ilha de colares próximo a mim. Sem resposta, o homem abriu a boca para falar novamente. Nisso, interrompi-o:
— Acho que minha amiga quer ver alguns brincos. Por que não os mostra para ela? — sugeri, ainda contemplando aqueles colares singelos, quase pedindo para que me deixassem sozinho.
— É claro. A senhora pode me acompanhar, por favor? — disse ele a Rachel — levando-a consigo.
Graças a Deus que ela saiu de perto de mim! Não suporto pessoas pobres e deslumbradas! Pensei e tentei acalmar minha irritação, observando aqueles colares tão finos e singelos. Espremia meus olhos e inclinava meu rosto a fim de vê-los melhor. A variedade era enorme, de todos os tipos, estruturas e formatos. Um deles chamou a minha atenção. Suas argolas eram minúsculas, quase imperceptíveis a olhos nus, e seu pendente tinha o formato de um ramo de oliveira, com sete folhas, três em cada lado e uma na ponta. O pendente era preso ao colar por suas pontas, o que o evidenciava ao estar sobre a pele. Que lindo! Por um instante, o passado invadiu meu presente e, logo, imaginei como aquela joia cairia bem naquele peito rígido e peludo do meu irmão. Distraído entre lembranças, ouvi uma voz. Era uma das atendentes que se aproximava e perguntava calmamente se poderia me ajudar. Respondi, pedindo para ver o colar com ramo de oliveira. Enquanto ela dava a volta para o outro lado da ilha de vidro, um garçom se aproximou. Ele carregava em sua mão duas taças de champanhe. E, antes que dissesse alguma coisa, irritando-me, antecipei-me e falei:
— Ela quer champanhe. Por favor, traga-me um pouco de água — e apontei para Rachel com os olhos e, logo, vi o garçom dar as costas para mim, indo em direção a ela, que não parava de falar com o homem careca sobre todos os brincos que tinha gostado de experimentar.
Voltei meus olhos para a atendente, e vi-a vestir uma luva preta em uma mão, abrir a vitrine e retirar cuidadosamente o colar. Foi um verdadeiro espetáculo de beleza, vê-lo sair da vitrine sobre aquele tecido, que cobria a mão da atendente. Estonteante! Estendendo-o diante de mim, ela disse:
— Não é lindo? Essa é uma bela homenagem ao ramo de oliveira, que é símbolo da paz e da abundância. O colar e o pendente são de ouro vinte e quatro quilates e tem 45,75 centímetros. Caso seja necessário, se for da vontade do Senhor, podemos ajustá-lo para que fique perfeito em seu corpo. Deseja experimentar?
— Sim, por favor — respondi.
Então, ela me conduziu para a frente de um grande espelho vertical, onde pude ver meu corpo inteiro, e, suavemente, posicionou-se atrás de mim, pedindo licença, enquanto repousava suas mãos em meu pescoço. Em instantes, aquela preciosidade reluziu sobre o blazer branco que cobria meus ombros.
— O Senhor não deseja retirar o blazer? Poderá vê-lo melhor em seu corpo — perguntou, sugerindo.
— Não é necessário — e, logo, afastei-me dela, aproximando-me do espelho, ajustando aquela joia pendida em meu pescoço, a fim de que ficasse no centro do meu peito, sobre a camiseta verde escuro que vestia.
Movendo meu corpo para a direita e esquerda, tentando vê-lo sob diferentes ângulos, perguntei a ela:
— De quem é o designer? — e fiquei meio de perfil diante do espelho, encantado com a joia.
— É de Paloma Picasso. O Senhor conhece o trabalho dela?
— Sei que assinou uma fragrância para a L’Oréal no passado. Não sabia que era designer de joias.
— Ela projeta para a Tiffany desde 1980. Essa é uma de suas peças mais belas — comentou.
Preciso ler mais sobre joias. Pensei e, logo, pedi para que ela a retirasse do meu pescoço. Em seguida, comuniquei que queria duas unidades daquele colar. O garçom se aproximou com a minha taça de água. Depois de dar o primeiro gole, ouvi o estalo de um cristal no chão. No mesmo instante, pensei que Rachel deveria ter feito algo de errado. Procurei-a com os olhos pela loja e vi-a pedindo desculpas ao homem careca por ter deixado cair a taça de champanhe no chão, sujando a calça dele. Ela se desculpava repetidamente e tentava limpá-lo com um lenço branco que havia retirado da bolsa, completamente atrapalhada. O homem, delicadamente, tentava impedi-la de tocar nele, falando que não havia motivos para que se desculpasse. Olhei aquela cena e vi minha irritação ir embora, dando lugar à enorme vontade que tive de rir. Oh, meu Deus! Sinto que os dias que passarei aqui em Amsterdã serão animados com ela. A atendente me olhou com um sorrisinho no rosto, controlando-se. Então, comentei:
— Estou hospedado no Waldorf Astoria Amsterdam. Peça para entregarem na suíte de Gaius Barrys. Ela vai escolher um par de brincos. Eu pagarei. E é melhor eu levá-la daqui antes que quebre mais alguma coisa — e dei um sorrisinho para a atendente, estendendo meu cartão de crédito para ela, enquanto a vi me olhar como se o meu nome a tivesse feito lembrar-se de algo.
Será que ela me conhece? Pensei. A atendente saiu e deixou-me sozinho. Próximo a mim, o garçom observava a cena de Rachel com o homem careca, controlando-se para não rir. Então, chamei-o e pedi sussurrando:
— Sei que o champanhe que vocês servem aqui não é bom, mas fiquei mais animadinho agora. Traga-me uma taça, por favor — e pisquei o olho para ele, que sorriu para mim como se confirmasse o que disse.
E, em uma fração de segundos, minha irritação passou, e meu humor voltou. Então, salvei o homem careca de um constrangimento maior:
— Rachel! Escolha seus brincos e vamos embora. Temos que almoçar — e tentei não gargalhar ao lembrar dela limpando as calças do homem careca.
Acho que vou passar mais tempo com ela. Será divertido! Pensei.
Naquele mesmo dia, por volta das 21h, retornei para a suíte, pedi algo para comer e, depois de um longo e demorado banho, cobri meu corpo com o roupão, acendi um cigarro e dei um gole no vinho. Lembrei-me de Alyce. Tomei o celular na mão e vi dezenas de e-mails não lidos e algumas mensagens também. Abri a conversa com Alyce e li novamente a última mensagem que ela me enviou:
“Já estamos em Gramado. A viagem foi um pouco cansativa. Todos estão bem. Sinto que Arthur está tímido. Ele comenta que tem saudade do pai. Já o vi chorando em alguns momentos. Tento distraí-lo. Às vezes, consigo. Não se preocupe conosco. Descanse e aproveite sua viagem. Se precisar de algo, não hesite em me avisar”.
Quis enviar uma mensagem para ela, mas desisti. Tive a sensação de que iria atrapalhar e, também, que não seria bom para mim, pois precisava ficar sozinho para poder organizar minha cabeça. Ela tem dinheiro e está com sua família no Brasil. Não há com que se preocupar.Como pretende ficar sozinho se no segundo dia em Amsterdã fez amizade com uma puta e já planejou encontrá-la outras vezes, Gaius? Não entendo você! E, assim, continuava brigando com minhas incoerências mentais. Deslizando o polegar entre as mensagens, vi uma de Jean Paul, meu terapeuta:
“Gaius, perdeu o horário da nossa última sessão. Precisamos agendar um novo horário”.
Puta que pariu! Esqueci completamente. Precisava mais de Jean Paul que ele de mim. Liguei para ele no mesmo instante.
— Gaius? — disse com a voz indiferente.
— Desculpe, Jean Paul. Sei que não gosta que me atrase ou perca as sessões. Aconteceram algumas coisas, e eu me perdi nos horários — e dei um trago no cigarro, caminhando pela suíte, esperando a bronca que ele sempre me dava todas as vezes que aquilo acontecia.
— Gaius, já conversamos sobre isso. Preciso lembrá-lo de que meu tempo para nossa terapia é valioso. Aceitei sua proposta de continuarmos fazendo terapia online por causa de tudo que estava acontecendo, mas não me sinto confortável todas as vezes que você se atrasa ou falta às sessões. Essa ferramenta tecnológica impõe diversas fragilidades em minha abordagem psicanalítica. Não quero ter que lidar com problemas que podem ser evitados. Preciso que se discipline e marque horários comigo que possa cumprir. Essa não é a primeira vez que temos essa conversa. Não gostaria de ter que mencionar esse assunto novamente com você — disse ele, educadamente, surrando-me com a língua mais uma vez por causa das remarcações das sessões de terapia.
— Desculpe, Jean Paul. Prometo que irei me organizar melhor. Podemos recuperar a sessão perdida agora? — e espremi meus dentes uns contra os outros, sorrindo silenciosamente, enquanto torcia que, mais uma vez, ele se adaptasse ao meu horário.
Ouvi-o respirar, quase que bufando. Então, respondeu:
— Ainda não consegui jantar. Houve imprevisto aqui no hospital. Vou comer alguma coisa e ligo a câmera em quarenta e cinco minutos. Aí em Nova Iorque são quase 16h, não?
— Estou em Amsterdã. É o mesmo horário de Mônaco. São quase 22h. Vou jantar e aguardo você ligar a câmera — e desliguei.
As sessões com Jean Paul me ajudavam a organizar meus pensamentos e sentimentos, além de conferir clareza sobre os passos que dei e os que estava propenso a dar. Ele era um porto seguro para mim e para minhas instabilidades mentais. Não foi à toa que, depois da quarta sessão com meu antigo psicólogo, quando ainda estava na Suécia, resolvi encerrar aquela terapia e pedir a Jean Paul que me atendesse de forma virtual, visto que estávamos em países diferentes: ele, em Mônaco, e eu, à época, na Suécia. Desde aquele momento, ele voltou a ser meu terapeuta, e pude continuar o tratamento que iniciei no Center Hospitalier Princesse Grace, em Mônaco, anos atrás. Desde que retomamos, tínhamos o compromisso de conversar por cinquenta minutos uma vez por semana. Algumas vezes, perdi as sessões e me atrasei em outras, o que lhe causava irritação e conferia a ele o direito de me dar uma bronca na sessão seguinte. Ele e eu estabelecemos uma dinâmica razoável a partir dos atendimentos via internet, visto que me convenci de que precisava fazer terapia somente com ele. Aquele meio era a única opção de tornar as sessões possíveis de se realizarem. Tive que me adaptar às suas exigências: uma sessão por semana, no mínimo; se julgasse necessário, teríamos duas ou até mesmo três; precisaria estar um local sozinho e sem interferências de outras pessoas; não poderia beber ou fumar durante a sessão; a câmera do meu celular precisava estar ligada para que pudesse me ver e conversar comigo. Além disso, tive que pagar quase o triplo do que se paga normalmente por uma sessão de terapia em Mônaco. Com o valor que pago a ele por sessão, quase posso faltar, quando quiser. E assim, passaram-se mais de dois anos em que nossas sessões ocorriam. E, ao longo desse tempo, nunca tive dúvidas de que Jean Paul me conhecia muito melhor que eu mesmo, embora, às vezes, discordasse dele, principalmente quando me era conveniente. Sempre confiei muito mais no que ele me dizia do que eu mesmo pensava sobre mim. A psicanálise chamaria isso de transferência. Eu chamo de sensatez. Dava-me muito bem com ele. Só lamentei bastante que as coisas mudaram entre nós no futuro.
Ainda de roupão, sentado à mesa, tendo o celular à minha frente, no horário estabelecido, a foto dele surgiu no visor.
— Boa noite, Gaius! — e logo deitou suas costas em sua cadeira de trabalho daquela mesma sala onde nos encontramos diversas vezes anos atrás, tentando encontrar uma posição confortável para iniciar a sessão comigo.
— Boa noite, Jean Paul! Resolvi sair de Nova Iorque. Estou em Amsterdã. Queria ficar um tempo sozinho depois de toda aquela loucura, e imaginei que aqui fosse um lugar bom para isso. Mas não foi bem assim. No segundo dia conheci uma prostituta, e ela já dormiu em minha suíte com um garçom que me interessei no Bairro da Luz Vermelha. Mas, antes disso, fui ao Van Gogh Museum. Você sabia que lá tem uma pintura dele com a orelha cortada? É um autorretrato. Ele cortou a orelha como gesto de amor a uma prostituta chamada Rachel, que morava em Arles, na França... — e continuei contando a ele todas as coisas que estavam acontecendo em Amsterdã, desde o prazer pelo sebo no pênis de Finn até mesmo o vexame que Rachel deu na Tiffany, quebrando uma taça de champanhe.
Com o tempo, considerando todas as situações que já haviam sido apresentadas a Jean Paul, ele passou a fazer algumas perguntas a mim no fim de cada sessão. Não eram muitas. Duas ou três, no máximo. Às vezes, somente uma. Mas sempre me perguntava algo. E elas me deixavam pensativo durante toda a semana que antecedia a próxima sessão com ele. Naquela, perguntou-me ele:
— Gaius, que tipo de joia você comprou para sua amiga prostituta?
— Comprei um par de brincos.
— Comprou um enfeite para as orelhas dela... — comentou, tentando me fazer pensar.
— E qual o nome da sua amiga prostituta? — e arqueou as sobrancelhas, esperando minha resposta.
Parei por um instante e pensei que não sabia o nome da prostituta. Então, lembrei-me de que a tinha batizado. Nisso, respondi:
— Não sei o nome dela. Não perguntei.
— E como você a chama?
— Chamo-a de Rachel — e senti um tremor dentro de mim.
— Entendi, Gaius. Está na hora de encerrarmos. Vemo-nos na próxima sessão. Boa noite! — e desligou a câmera, encerrando nossa terapia, deixando-me angustiado.
Naquela noite fui dormir pensativo, mas acordei no dia seguinte disposto a explorar um pouco mais do Bairro da Luz Vermelha. Almoçando com Rachel, compartilhei alguns motivos que me faziam estar em Amsterdã e, também, meus planos para um futuro breve. Depois de me ouvir atentamente, senti em seus olhos o apoio que precisava para conseguir fazer o que queria naquela cidade e, ainda, que podia contar com ela para trabalhos futuros. E assim aconteceu. Ela me iniciou em um mundo que eu estava ávido por conhecer, mesmo já tendo sentido um gostinho no passado. Naquele momento, precisava de mais, e somente uma profissional do sexo poderia me dar as unhas certas para que eu pudesse coçar aquela micose que pinicava minha mente como uma comichão. Os quatro meses que passei em Amsterdã ao lado de Rachel foram o suficiente para que pudesse saber que havia muito a ser explorado dentro de mim e na minha cama também. Recordo-me bem de, naquele almoço, ter dado um passo importante rumo à minha descoberta e liberdade. Enquanto comíamos uma sobremesa, Rachel perguntou:
— Quanto tempo pretende ficar aqui? — e deu mais uma garfada na poffertjes.
— Vou passar quatro meses aqui em Amsterdã. Depois, irei a Gramado, no Brasil. Fico dois meses lá com Alyce e minha família. Retorno para Nova Iorque e vou começar a pôr em prática meu plano.
— Então, temos tempo para explorar bem o que pretende, não? — perguntou ela, tranquilizando-se de que conseguiria se organizar para fazer o que pedi a ela.
— Temos sim. Mas já quero duas coisas com urgência — e encarei-a com a cabeça meio baixa, enquanto ela se deliciava com aquele doce.
— Você quem manda. O que quer? — perguntou.
— Preciso de dois homens negros e bem-dotados para fazer uma dupla penetração anal em mim. E quero que seja gravado. Mas isso pode esperar para os próximos dias. Para hoje, quero me vestir de mulher e ficar na vitrine do Bairro da Luz Vermelha a noite inteira. Hoje, quero ser um travesti de programa — e passei a língua em meus lábios, tentando absorver mais o sabor do recheio de poffertjes, sentindo a luxúria se agitar dentro de mim.
Como em um lampejo, percebi-me dentro do avião que me levava ao Havaí para encontrar Aidan e seu pai morto. Passei a madrugada inteira pensando e lembrando o que aconteceu em Amsterdã. Recordei o momento em que retornei à Nova Iorque pela primeira vez, de como foi difícil convencer Aidan que precisava de um tempo a sós comigo mesmo, da ajuda que Alyce me deu ao levar minha família para o Brasil e ficar com eles durante minha viagem à Holanda e, ainda, de tudo que vivi com Rachel em Amsterdã durante aqueles meses. Tudo isso me veio à mente durante aquele voo. Horas depois, pisquei os olhos novamente, tentando me certificar de que não havia ficado preso no passado e pude enxergar nitidamente Alyce, que cochilava em uma poltrona no avião à minha frente. Gaius, o avião já vai aterrizar. Alyce precisa saber o que vai acontecer. Pensei e, logo, chamei-a baixinho, tentando acordá-la. Ela e eu conversávamos quase sussurrando para que os seguranças não ouvissem o que falávamos. Disse a ela que um vídeo meu havia sido divulgado na internet na noite anterior. Depois de explicar a natureza do vídeo e deixar claro qual seria a minha resposta à imprensa, preparei-a, afirmando que tudo que havíamos planejado iria acontecer a partir daquele dia. E, também, que era o momento de ela e Max, meu relações públicas, alinharem as ideias e estratégias mais ainda. Pedi que ela deixasse de lado as diferenças que existiam entre eles e focassem no trabalho. E, ainda, que ficasse calma e não demonstrasse nenhum tipo de vulnerabilidade, principalmente na frente de Aidan, pois era necessário que ela confirmasse sempre as mentiras que eu contaria a ele para justificar tudo que estaria por vir. Alyce não se sentia confortável em mentir ou executar o que tínhamos planejado, mas, como profissional que sempre foi, assentiu com a cabeça, afirmando que entendeu o que falei e que faria o que pedi. Ainda sussurrando, ela fez uma última pergunta:
— Doeu? — e fez cara de nojo para mim.
— Sim. E muito. Senti as carnes rasgarem quando o homem enfiou o segundo pau no meu cu. Mas foi maravilhosa aquela dor — respondi.
Após aterrizarmos, pouco tempo depois chegamos ao resort onde o Sr. Daan morreu. Fomos levados pelos funcionários até a suíte em que Aidan estava. Conhecendo-o bem, não foi surpresa encontrá-lo como o encontrei. Ao abrir a porta da suíte, vi Aidan em pé na varanda, olhando para o horizonte, de costas para mim. Com certeza, passou a madrugada inteira sem dormir, visto que chegou ao hotel algumas horas antes de mim. Em uma mão ele segurava um copo de uísque. Entre os dedos da outra, um cigarro. Ele só fumava quando estava nervoso ou muito feliz. Percebendo que havíamos chegado, Aidan virou o rosto e me viu. Seus olhos cor de âmbar não podiam ser percebidos naquele momento. Lá, havia apenas a vermelhidão de alguém que chorou a madrugada inteira, coçando os olhos com as mãos. De frente para ele, contemplando-o em silêncio, vi-o soltar o cigarro e o copo de uísque no chão e cobrir o rosto com as duas mãos, chorando desesperadamente, entre gritos contidos e lágrimas. Naquele instante, percebi-o frágil e, ao mesmo tempo, sexy. Por que sinto tanto tesão ao vê-lo assim, belo, gostoso e necessitado de carinho e colo? Pensei e corri ao encontro dele, abraçando-o.
— Sinto muito, meu amor. Sinto muito pelo seu pai — e apertava seu peito contra o meu em um abraço demorado, enquanto ele, aos prantos, gritava em meu ouvido.
Aidan estava muito nervoso e agitado, então, resolvi levá-lo para a cama. Ajudei-o a se deitar, deixando-o confortável. Depois, retirei seus sapatos e deitei-me ao seu lado. Ele chorava feito uma criança com fome e tentava se aninhar em meu colo, como se aquilo pudesse fazer diminuir a dor que sentia pela morte do pai. Repousei sua cabeça entre minhas pernas e comecei a acarinhar seus cabelos. Lentamente, vi-o se acalmar e controlar sua respiração. Nisso, puxei seu corpo, fazendo-o se deitar sobre a cama e descansar sua cabeça no travesseiro. Seus olhos encontraram os meus.
Ele fica mais lindo ainda, enquanto chora. E tentei parar de ter aqueles pensamentos sexuais naquele momento.
— Obrigado por ter vindo, meu amor — disse ele com a voz embargada.
— Desculpe não ter vindo antes, meu amor. Alyce não me acordou. Não sabia de nada. Gostaria de ter vindo com você para lhe dar apoio — respondi, deslizando meus dedos em seu rosto molhado.
— Você me ama? — perguntou ele, já fazendo cara de choro novamente.
— Claro que o amo. Você é a coisa que mais amo em minha vida. Você é o meu homem — e levei meus lábios aos dele, tocando-os castamente em um beijo singelo.
— Quero fazer você feliz em todos os dias da sua vida. Todos os dias da sua vida quero fazer você feliz — e ficou repetindo várias vezes.
Ele está bêbado. Ótimo! Pensei e, logo, respondi:
— Eu sei, meu amor. Olhe! Sei que não é o momento, mas prometi a mim mesmo que de hoje não passaria. Depois do que vivemos na nossa cama ontem, e de tudo que já passamos juntos, não tenho mais motivos para hesitar em responder a você — e acarinhei seu rosto novamente, vendo seu semblante assumir um aspecto de medo e dúvida.
— Eu fiz alguma coisa errada com você? — perguntou ele, ansioso para saber o que eu tinha para lhe contar.
— Não, meu amor. Você não fez nada de errado. Eu só quero dizer que eu aceito. Aceito o seu pedido. Quero casar com você — e sorri delicadamente para ele.
O queixo de Aidan tremeu e ele, logo, derramou uma lágrima. Depois, descontrolou-se novamente, mas de felicidade. Abracei-o e sussurrei em seu ouvido:
— Eu amo você. Sempre vou amar — e ouvi-o soluçar novamente, apertando-me contra seu peito com força e intensidade.
Depois de cantar para ele, vi-o se acalmar e adormecer.
— Procure dormir um pouco, meu amor. Vou ficar aqui com você. Descanse — repetia a ele com a voz mansa, acarinhando seu rosto e pescoço, induzindo-o a fechar os olhos e se entregar ao sono.
Não demorou e, logo, vi-o ressonar. Então, levantei-me da cama, cobri-o, fechei as cortinas e saí da suíte em busca de Alyce.
No corredor do resort, um pouco distante dos seguranças, Alyce olhava a tela do seu celular. Percebendo que eu me aproximava, ergueu a cabeça, engoliu em seco, constrangida, e estendeu o visor para mim, mostrando-me que o vídeo já estava disponível na internet. E comentou, quase em tom de reprovação:
— Max fez um bom trabalho. Está em todos os sites de fofocas. Hoje ou amanhã estará nas primeiras páginas dos tabloides.
Encarei aquela cena no celular dela e respondi com o rosto impassível, sentindo o ódio vibrar dentro de mim:
— Ótimo! Aidan está dormindo. Agora, está bêbado. Quando acordar, vou fazê-lo tomar banho e comer alguma coisa. Então, você entra na suíte e dá a notícia a nós dois juntos do meu vídeo pornô que vazou na internet. Quero que ele esteja sóbrio ao saber do vídeo. Assim, será melhor — e senti meus lábios se apertarem de raiva ao terminar de falar.
— Gaius, você tem certeza de que... — falava ela, quando a interrompi.
— Tenho sim, Alyce.
E, depois, virei-me para um dos seguranças e ordenei, arrogantemente, mas feliz:
— Ethan, vá até a recepção e peça para separarem o melhor champanhe que eles tiverem aqui. Na hora certa, aviso para trazer. Precisamos comemorar.
E voltei a encarar os olhos de Alyce, ansioso para que Aidan acordasse logo. Recordo-me bem de que meu sentimento, naquele instante, era somente um. Queria destruir a vida de Aidan. E aquilo era só o começo do escândalo que estava por vir.

***

Конец ознакомительного фрагмента.
Текст предоставлен ООО «ЛитРес».
Прочитайте эту книгу целиком, купив полную легальную версию (https://www.litres.ru/pages/biblio_book/?art=65971470) на ЛитРес.
Безопасно оплатить книгу можно банковской картой Visa, MasterCard, Maestro, со счета мобильного телефона, с платежного терминала, в салоне МТС или Связной, через PayPal, WebMoney, Яндекс.Деньги, QIWI Кошелек, бонусными картами или другим удобным Вам способом.