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Novos Começos Encantados
Brenda Trim
Quando a vida sai dos trilhos, abraçar a aventura é a maneira mais rápida de consertar as coisas. Um dia eu era apenas uma viúva diante da perspectiva de um ninho vazio, levando uma vida que era tudo, menos encantada. Do nada, descubro minhas raízes mágicas e minha herança como o Guardiã do portal entre o Reino Feérico e a Terra. Fiquei em choque. Depois veio o medo. Afinal, ninguém planeja recomeçar aos quarenta e cinco. Eu pretendia envelhecer com meu marido. Pensei que levaríamos uma vida normal. Então, quem seria eu para perder essa oportunidade de viver em um mundo que sempre pensei que fosse imaginário.
Eu sou meio bruxa, meio feérica, e estou enfrentando perigos tão reais quanto a dor em meu joelho ruim. Ibuprofeno e a cafeína me dão forças para seguir em frente, e eu poderia fazer isso pelo resto da vida. Quem achar que a casa da minha família é um alvo fácil, tome cuidado: a nova Guardiã da cidade não vai ceder sem lutar.
Afinal, ela já aprendeu a deixar para trás sua existência simples e a acreditar no poder extraordinário que existe dentro dela. O que poderia impedi-la agora?


Novos Começos Encantados

Contents
1. CAPÍTULO UM (#u51abab51-b7cc-5855-85b7-dbbd775fa507)
2. CAPÍTULO DOIS (#ud3ad58d3-18e5-56e5-a655-99e098ec5977)
3. CAPÍTULO TRÊS (#ue7aad7b2-5250-53ee-9efa-59ce88d797ec)
4. CAPÍTULO QUATRO (#u58787e79-30d5-5033-baa3-494b59beb8c1)
5. CAPÍTULO CINCO (#u83985b38-3423-5897-a252-b6f57ef13d6b)
6. CAPÍTULO SEIS (#ubd6f000b-3044-5bff-aa7b-972cf68a6cef)
7. CAPÍTULO SETE (#ub4361675-64ce-530b-b66d-e40ffbd5fa0e)
8. CAPÍTULO OITO (#u20abed7f-c94a-576b-b932-6570023e9e90)
9. CAPÍTULO NOVE (#u57b46f2d-526c-549f-b1a8-c376f90e04dc)
10. CAPÍTULO DEZ (#u17a5e530-fbeb-5e6d-b503-4691da66fa3f)
11. CAPÍTULO ONZE (#ubc42acba-aa96-5a6f-9697-f04a670f34bb)
12. CAPÍTULO DOZE (#u3fe0e62f-7f1b-51a8-b176-6dc97af35176)
13. CAPÍTULO TREZE (#u385f3817-46f9-52b4-8954-03c9277cf06c)
14. CAPÍTULO QUATORZE (#u61a9c716-761d-5362-ab50-3655548a9ba1)
15. CAPÍTULO QUINZE (#u8579fc6e-adde-57a4-86c0-21173d553343)
16. CAPÍTULO DEZESSEIS (#u8a265353-00dd-5f1b-b3ff-de1fe55df8d1)
17. CAPÍTULO DEZESSETE (#ude1acd5d-1f7b-5111-8e57-25295aeb667f)
18. CAPÍTULO DEZOITO (#ue201a9ab-1be6-50c7-bc74-dfe18c6bf13c)
19. CAPÍTULO DEZENOVE (#ub69b960e-b21b-5153-9d4b-22e0d25f537a)
20. CAPÍTULO VINTE (#u87d86ff9-37cd-5030-aee5-e0f267e2eea2)
TRECHO DO LIVRO # 2 (#u9b613ba6-477f-5906-9962-517970efb667)
Nota da autora (#u82d0375d-02fa-541b-b3e4-9f11822d7ecf)
Direitos autorais © maio de 2020 por Brenda Trim
Editor: Chris Cain
Arte de capa por Fiona Jayde
Tradução: Elaine Lima
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* * *
Este livro é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são o produto da imaginação da autora ou são usados de forma fictícia e não devem ser interpretados como real. Qualquer semelhança com eventos, locais ou pessoas reais, vivas ou mortas, é mera coincidência.
AVISO: A reprodução não autorizada desta obra é ilegal. A violação criminal de direitos autorais é investigada pelo FBI e é punível com até 5 anos de prisão federal e multa de US $ 250.000.
Todos os direitos reservados. Com exceção das citações usadas nas resenhas, este livro não pode ser reproduzido ou usado no todo ou em parte por qualquer meio existente sem a permissão por escrito dos autores.
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Dedicatória
“E, às vezes, você simplesmente sabe que é hora de começar algo novo e confiar na magia dos novos começos.” ~ Fiona Shakleton

CAPÍTULO UM
Emmie me soltou e enxugou uma lágrima que escorria de seu olho enquanto olhava ao redor do lugar. — Posso ver por que você quer ficar aqui. Este lugar é incrível, mãe. Bem, tirando o cemitério e os mausoléus assustadores. Sempre odiei eles nas vezes que viemos aqui quando eu era criança, e pelo visto não mudou nada. De qualquer forma, saber o quanto você ama este lugar fará estar tão longe de você valer a pena.
Apertei a mão da minha filha mais velha e balancei minha cabeça concordando. Nunca imaginei que me sentiria assim quando viesse à Inglaterra para me despedir da minha avó. — Pela primeira vez desde que seu pai morreu, sinto como se estivesse em casa aqui em Pymm's Pondside. A única desvantagem é não poder simplesmente entrar em um carro e ir visitar você, seu irmão e irmã.
— Nós não nos importamos de vir até você, mãe. Você já fez mais do que o suficiente por nós. Já era hora de você ter algo só seu — disse Skylar, minha filha mais nova, enquanto entrava na conversa. Ela estava encostada na cerca branca que cercava o enorme jardim que minha avó manteve em perfeitas condições. O que era algo que eu não estava tão ansiosa assim para cuidar. Meu joelho ruim doía só de pensar no que ele sofreria.
Greyson se afastou da lagoa que ficava em frente à propriedade que eu tinha acabado de herdar e revirou os olhos para sua gêmea. Dos meus filhos, Skylar era a minha garotinha doce, já Emmie era a responsável dos três, e Greyson era o cabeça quente. — Pare de ficar choramingando. Mamãe não vai te mandar uma passagem para a Inglaterra toda vez que você ficar com saudades.
Minha cabeça começou a latejar antecipando a briga dos dois, que eu já estava acostumada. Emmie estava na faculdade há dois anos, mas os gêmeos tinham acabado de ingressar. Sendo a mais apegada dos três, Skylar voltava para casa quase todos os fins de semana. A viagem de três horas não a incomodava, já Greyson ficava no campus quase o tempo inteiro. Ao me mudar para a Inglaterra, ia ser impossível para eles voltarem para casa para uma visita de fim de semana.
Sou uma mãe horrível pois nem mesmo saber que estava deixando os meus filhos sem a base deles por perto me fez mudar de ideia. Mas cada fibra do meu ser gritava que era aqui que eu deveria estar. Onde eu precisava estar. Vivi os últimos 22 anos por outra pessoa. Agora era a minha vez.
Passei um braço em volta de Greyson e o outro ao redor de Skylar. — O que eu sempre lhe disse, Grey? É seu trabalho cuidar de suas irmãs. Elas fazem muito por você. Espero que você dedique um tempo para elas, enquanto todos nós nos adaptamos a esta nova condição.
Greyson baixou a cabeça e respirou fundo. — Desculpa, mãe. Você tem razão, eu não vou pensar só em mim.
— Eu não vou deixar que você faça isso — acrescentou Emmie. — Nunca pensei que ficaria feliz em voltar a morar com vocês, doidos, mas estou realmente animada.
A poeira subiu no ar quando o carro que eu chamei para levá-los ao aeroporto apareceu na estrada de terra. A emoção ficou engasgada em minha garganta e meus olhos queimaram com lágrimas. Eu tinha perdido muito na minha vida, e parecia que agora eu estava perdendo eles também. — Eu vou sentir falta de vocês.
Skylar me apertou com mais força. — Sentiremos sua falta também, mas não será assim pra sempre. Nunca se sabe, podemos decidir nos mudar para cá quanto terminar a faculdade.
Soltei os gêmeos e abracei Emmie em seguida. — Agora, lembrem-se de que vocês precisam assinar o contrato da casa de vocês antes do início do semestre. O corretor entrará em contato com você, Emmie, para acertar a data e a hora, mas vocês três precisam estar presentes.
No segundo em que pisei na propriedade da minha avó, liguei para um corretor de imóveis em Salisbury e combinei de vender minha casa. Eu juro que os deuses estavam ao meu favor, porque a casa vendeu antes que a semana terminasse. Emmie estava muito feliz por encontrar uma casa nova para ela se mudar com os gêmeos. Rapidamente, os três encontraram exatamente o que queriam. Usando o dinheiro da venda da minha casa, fiz uma oferta na nova moradia das crianças, perto do campus.
— Cuidarei disso, mãe. Não se preocupe conosco, estaremos de volta no próximo verão.
— Me ligue se precisar de alguma coisa. — Eu abracei cada um deles mais uma vez e os mandei embora.
Virando-me, observei minha nova casa. Pymm's Pondside era o nome da casa de campo branca. Quando criança, vinha visitar este local e achava legal que eles davam nomes às suas casas. Mas chamá-la de casa de campo não seria o certo. O lugar era quase tão grande quanto a minha casa em Salisbury, mas tinha charme para dar e vender.
O telhado marrom me lembrava uma construção de palha. Cada ângulo era arredondado, criando uma aparência suave e convidativa para a casa de cinco quartos. As venezianas das janelas combinavam com o marrom do telhado e a hera que crescia de um lado era como se tivesse saído de um conto de fadas. Sempre pensei isso e agora, aquele lugar era meu.
Eu até tinha um cemitério. Achei que nunca diria isso na minha vida. A parte mais louca é que isso me fez sentir mais perto de uma família que eu nunca conheci. Virei minha cabeça para a esquerda e olhei para as lápides. Nos fundos do local havia alguns mausoléus. Sim, era algo super assustador, mas também muito legal. Quer dizer, havia um cemitério a trinta metros de onde eu dormia. Ainda bem que sempre os amei, ou não teria sido capaz de ficar na casa.
Afastando-me do cemitério, olhei para o jardim que havia passado dias me perguntando se deveria removê-lo. Não só estremeci com o pensamento de ter que ajoelhar tanto, mas também não tinha um dedo verde. Eu não era tão ruim quanto Violet, minha melhor amiga, mas as plantas não floresciam muito bem sob meus cuidados. Além disso, estou começando uma vida nova agora. Admito que não tenho vontade nenhuma de remover as ervas daninhas da maldita coisa. Na verdade, eu estava relutante em arrancar as plantas. Elas fazem parte do charme do lugar.
Eu fui até a lagoa e sorri, enquanto olhava para o grande porção de água. Tinha visto veados, coelhos e pequenos ursos bebendo tarde da noite ou de manhã cedo. Toda a propriedade era cercada por bosques. A área era exuberante, graças ao clima chuvoso do norte da Inglaterra.
Abrindo o pequeno portão da cerca do jardim, saí em busca de um pouco de manjericão para colocar no meu sanduíche de tomate para o almoço. Havia tantas ervas e plantas, e eu só conheço um terço delas… acho. Alecrim e hortelã eram as mais óbvias. O resto eu aprenderia com o tempo, se não perdesse tudo para o mato.
Encontrei o que procurava no canto mais próximo do cemitério. Meu olhar desviou para o túmulo recente. Minha visão turvou quando li o nome da minha avó. Um ping começou na minha cabeça. Essa era a única maneira que eu poderia descrever aquilo.
Havia algo batendo nas paredes do meu crânio, quase como se fosse uma abelha presa em uma panela. Nunca senti algo assim antes. O estresse do mês passado deve estar me afetando.
Respirei fundo e pensei em minha avó. Isidora Shakleton era inesquecível e uma parte importante daquela cidade. A maioria dos residentes de Cottlehill Wilds compareceu ao funeral dela.
O ping desapareceu quando me virei e voltei para a casa. O interior era tão aconchegante quanto parecia do lado de fora. A porta dos fundos dava direto na cozinha, onde deixei o manjericão antes de passar pela pequena sala de estar e subir as escadas para o meu quarto.
A colcha de retalhos que minha avó fez ainda estava em sua cama. Minhas roupas e alguns dos meus pertences favoritos foram enviados para mim. O resto foi deixado para as crianças.
Eu realmente preciso de um novo edredom… e lençóis. Fiz planos para ir até a cidade para que pudesse comprar uma bela colcha e talvez um colchão novo. Eu juro que havia mais calombo na coisa do que na minha bunda e coxas. O que queria dizer muito.
Tendo a minha idade, seria chocante se a pessoa não carregasse uns quinze ou dez quilos a mais. Eu com certeza tinha meus pneuzinhos… além das dores nas juntas. Pensei, enquanto me abaixava para pegar a toalha que Skylar deixou jogada no piso de madeira.
Essa era uma coisa que eu não sentiria falta. As crianças, assim como meu falecido marido, nunca colocavam nada no lugar. Céus, como isso me dava nos nervos. Passei minha vida inteira cuidando de outras pessoas… tanto no trabalho quanto em casa. Juro que cuidar de pessoas estava no meu DNA.
Depois de terminar meu bacharelado em enfermagem, trabalhei em tempo integral na UTI de um hospital local por vinte anos e depois cuidei de Tim no final de sua vida. Talvez fosse isso o que havia de tão convidativo na casa da minha avó, não havia ninguém aqui para eu cuidar.
Depois de lavar a pasta de dente que deixaram grudada na pia, me virei e gritei. — Que porra é essa? — Minha boca se escancarou quando notei as toalhas de volta no chão. De onde diabos elas surgiram? Eu apenas as peguei e coloquei no cesto de roupa suja.
Fui para os outros quartos e tirei os lençóis das camas antes de endireitar as capas sobre os colchões. Quando terminei com o quarto em que Greyson estava hospedado, tropecei nos lençóis que não estavam mais na pequena pilha organizada que tinha deixado.
Fazendo uma pausa, coloquei minhas mãos em meus quadris e olhei ao redor. Alguém estava brincando comigo? Não encontrei nada fora do comum, então peguei a pilha e coloquei na cesta, em seguida carreguei minha carga escada abaixo.
Quando entrei no cômodo minúsculo nos fundos da cozinha, onde ficavam a máquina de lavar e a secadora, parei repentinamente quando notei o sabão tombado para o lado. — Tudo bem, vó, se você está assombrando o lugar para me assustar, não há necessidade. Não vou fazer muitas mudanças por aqui.
Foi quase como se a casa suspirasse ao meu redor. Balançando a cabeça com a minha idiotice, coloquei uma carga na máquina de lavar e entrei na cozinha. A visão do banquinho de madeira gasto perto da ilha da cozinha me lembrou de todos os dias em que costumava sentar lá quando criança e ouvir minha avó me contar histórias sobre Feéricos e Bruxas.
Eu invejava sua criatividade, nunca poderia inventar contos tão elaborados quanto os dela. Ela tecia contos sobre portais, fadas, dragões e gnomos. Quando me tornei mãe e meus filhos começaram a pedir por histórias, escolhia as minhas favoritas, daquelas que ela me contou.
Skylar amava o conto de uma pixie que buscou asilo com uma bruxa para fugir de uma besta cruel que a estava caçando. A pixie mal conseguiu evitar a besta e disparou por alguns bosques quando se deparou com uma barreira. Ela bateu com as pequenas mãos na barreira, implorando por ajuda. A bruxa ajudou e deu à pixie um pouco de madeira para viver e a fada deu à bruxa flores frescas em troca.
O conto favorito de Emmie era sobre uma família de gnomos que estava escapando de alguns barghests, cães negros monstruosos e sobrenaturais. Já Greyson preferia o conto sobre os transmorfos de dragões que precisavam fugir do vil Rei que os criou com a intenção de devastar e matar.
Com minha mente perdida em memórias, preparei um sanduíche e estava me afastando da janela quando um movimento chamou minha atenção. Eu respirei fundo e imediatamente comecei a engasgar com minha comida. Amassando a comida na minha mão, corri para a porta dos fundos e disparei por ela.
Eu ainda estava tossindo quando desci correndo os degraus. Depois de mais algumas tosses, consegui limpar minha garganta. — Posso ajudar? — Ainda parecia que a comida estava empacada no cano errado.
A mulher parou com a mão em uma erva de jardim e olhou para mim. Ela parecia ter quase trinta anos, talvez trinta e poucos, e tinha um cabelo ruivo deslumbrante. Minhas mãos alisaram minha camiseta rosa quando eu olhei para seu top e barriga chapada.
Ela ergueu uma das mãos e sorriu. — Ah, oi. Você deve ser Fiona, a neta de Isidora. Eu sou Aislinn. Achei que você já estaria em um avião e voltando para casa agora. Eu vi o carro partir horas atrás.
Cruzei os braços sobre o peito, espalhando maionese no meu seio esquerdo. Eu estava toda desarrumada, mas não me importei no momento. Não tinha ideia de como eram as coisas com a minha avó, mas não queria que as pessoas vagassem pela minha propriedade sempre que quisessem.
— Esta é minha propriedade e decidi ficar. Ouça, não tenho certeza de que acordo você fez com minha avó, mas gostaria de um aviso antes que saísse por aí roubando minhas coisas.
Os olhos de Aislinn saltaram das órbitas e sua mão caiu para o lado do corpo. — Sinto muito. Como eu disse, imaginei que você tivesse ido embora. Eu só precisava de um pouco de cardo santo para uma poção, e Isidora sempre me permitiu colher os poucos ingredientes que preciso em troca de ajuda na manutenção daqui.
Isso trouxe um sorriso aos meus lábios. Minhas mãos relaxaram e pedaços de tomate caíram de dentro do pão. — Nesse caso, você é mais que bem-vinda. Honestamente, eu estava pensando em me livrar do jardim. Eu juro que tenho um “dedo preto”. Além disso, não tenho ideia do que seja tudo isso, ou para que serve.
Aislinn riu e cortou alguns galhos da planta que estava segurando. — Se você é parente de Isidora, você será capaz de manter as coisas vivas, mas ajudo com prazer. Esta se tornou minha terapia desde que meu marido me deixou, há um ano. Seu marido não veio morar com você?
Eu balancei minha cabeça de um lado para o outro quando um nó se formou na minha garganta. Sempre que falava sobre Tim, eu ficava à beira de desabar. Já havia passado tempo suficiente para que eu tivesse superado. Mas eu sabia melhor do que ninguém que não existia essa tal coisa de superar quando se tratava de algo assim. O luto era uma montanha-russa que te pega desprevenido, quando você menos espera, a dor surge. A perda de alguém que você ama nunca para de doer, não importa quanto tempo tenha passado.
— Meu marido faleceu há alguns anos. Câncer. — Ao dizer isso, me prevenia das perguntas inevitáveis sobre o que o matou. — Meus filhos voltaram hoje para casa, para as aulas da faculdade. Eles virão me visitar, mas não vão morar comigo.
— Eu sinto muito pelo seu marido. Você está recomeçando, isso é bom. Isso ajudará a criar uma vida sem ele. Dessa forma, a dor não vai te consumir toda vez que você olhar ao seu redor.
Meu queixo caiu com a percepção da jovem. Eu nunca teria esperado que ela fosse tão sábia. — Honestamente, eu nunca pensei sobre isso. Foi muito difícil deixá-lo ir. Apesar de como doía comer em nosso restaurante favorito e ir ao nosso parque, eu ignorei essa dor porque parecia uma traição fazer qualquer outra coisa. Só quando cheguei aqui e senti essa sensação de pertencimento que comecei a pensar mais no meu desejo de criar uma vida nova para mim.
Aislinn passou pelo portão e parou ao meu lado. Ela era pelo menos sete centímetros mais baixa do que meus um metro e setenta e era magra como uma vara, mas exalava uma aura verde. Bem, devo ter pensando isso porque ela gosta de jardinagem.
— Por ser uma Shakleton, você definitivamente pertence aqui. Preciso voltar para casa para fazer esta poção, mas se você precisar de alguma coisa, trabalho na Pena de Fênix. Na verdade, você deveria vir alguma hora para tomar uma bebida. Por minha conta.
Eu estendi minha mão limpa e apertei a dela. — Obrigada. Nos falaremos, tenho certeza.
Eu a observei partir, mas não consegui ver qual caminho ela tomou ao sair para a estrada, porque parado do outro lado do caminho estava um homem. Ele era musculoso e intimidante. Eu não diria que ele era lindo. Ele era muito assustador para isso, embora sua beleza fosse inegável.
Eu ergui minha mão e acenei para ele. — Oi. Eu sou a Fiona. Acabei de me mudar para a casa da minha avó. — O cara não disse uma palavra enquanto ficava parado com os pés separados e os braços cruzados sobre o peito enquanto estreitava os olhos azuis para mim.
Esperei alguns minutos antes de perceber que ele não se apresentaria. Engolindo em seco, voltei para minha casa. Quando entrei na cozinha, ele tinha ido embora. Talvez eu perguntasse a Aislinn quem era o homem atraente, porém furioso.
Pymm's Pondside estava se revelando ser mais do que eu esperava quando voltei para a cozinha para ver talheres espalhados sobre a ilha. Uma determinação familiar caiu sobre mim. Isso ia ser ótimo… mas eu não tinha outra escolha.
Perdi minha avó, larguei meu emprego, vendi minha casa e me mudei para outro país. Eu não poderia exatamente continuar de onde parei. Aquela outra vida estava jogada ao vento agora.

CAPÍTULO DOIS
— Aaaaai! — Eu segurei minha cabeça quando o tal ping começou novamente. Eu me perguntei pela milionésima vez se este era um sintoma da pré-menopausa. As ondas de calor estavam acontecendo cada vez mais e eu encontrei um cabelo grisalho ontem, então não me surpreenderia se fosse. Dizem que os quarenta são os novos trinta e na época eu concordei. Aos quarenta, não havia muito o que diminuísse o meu ritmo. Aos quarenta e cinco, já não tenho tanta certeza. Em certos momentos eu me sinto uma anciã.
Eu empurrei a irritação de lado e forcei meus pés a me levarem até a cafeteira. Na semana passada, percebi que precisava encontrar algo para fazer com meu tempo. Sempre trabalhei em tempo integral e não suporto a ideia de ficar sem ter o que fazer. Até tenho gostado de não ter o estresse do hospital, mas preciso de algo.
Eu gostaria que Violet tivesse mais tempo. Era bom morar na mesma cidade que ela agora, mas ela tinha uma livraria e não tinha tempo para ficar comigo o dia todo. Pensei em perguntar se poderia ajudar na loja, mas não queria me impor. Uma coisa era falar diariamente no computador e outra era visitá-la o tempo todo.
Além disso, não ajudava em nada o fato da recepção calorosa que experimentei quando cheguei a Pymm's Pondside ter diminuído. Era mais como se alguma força estivesse tentando me fazer ir embora. A casa parecia me querer ali e querer me afastar ao mesmo tempo. Era um jogo cansativo de puxa-empurra.
Consegui respirar fundo quando o ping em minha cabeça parou. Foi quando a batida começou. Parecia que o aquecedor de água estava prestes a explodir, mas eu estava relutante em chamar o encanador da cidade para voltar aqui. A última vez que ele veio, ele me disse que não via razão para os sons. Não ajudou que durante a hora e meia em que ele esteve aqui, não ouviu nada.
Decidindo não pensar duas vezes, eu enchi uma xícara do meu pretinho básico e tomei um gole da bebida cafeinada enquanto olhava para a lagoa pela janela. As manhãs aqui eram absolutamente as minhas favoritas. A vegetação ao meu redor despertava com uma parte de mim que raramente conseguia alimentar quando vivia em Salisbury. Não que lá fosse tão árido quanto o Texas, mas Cottlehill Wilds deixava no chinelo as duas áreas em termos de vida vegetal.
A solidão silenciosa me cercava. Eu tinha me acostumado a viver sozinha, mas sempre havia barulho ao redor. Eu morava perto do centro da cidade, o que significava que ouvia veículos passando o dia todo. Nunca notei quanta poluição sonora havia onde eu morava.
Abrindo a porta dos fundos, saí e cruzei até a mesa colocada sob um grande bordo. Sentada à mesa de ferro trabalhado, bebi meu café enquanto planejava meu dia. Eu precisava descobrir se havia algo que eu pudesse fazer na cidade. Era outra coisa que adorava sobre morar aqui.
Havia uma rua principal cheia de lojas pitorescas. A padaria tinha o melhor creme de leite que já provei, e a livraria de Violet era muito bem abastecida. Talvez eu perguntasse se eles precisavam de ajuda na loja de bebidas. Eles possuíam uma seleção fabulosa de merlots.
A empolgação com essa nova fase da minha vida ainda borbulhava em mim. Nunca antes passei tanto tempo pensando no que eu queria para mim mesma. Parecia decadente passar tanto tempo imaginando o que eu queria fazer com meu tempo agora. Até este ponto, as decisões sempre foram tão naturais. Escolher a faculdade que eu queria frequentar foi fácil e conheci Tim durante meu primeiro ano. As coisas simplesmente aconteceram a partir daí.
Não que tenha sido amor à primeira vista, mas eu sabia que íamos nos casar. Quando ele fez o pedido no nosso último ano, foi mais uma formalidade do que qualquer outra coisa. Ter três filhos, uma carreira e um marido me mantiveram ocupada o suficiente que acabei não trazendo os meus gêmeos para visitar minha avó com muita frequência. A culpa por isso tirou um pouco da minha empolgação. Eu deveria ter visitado mais.
Eu deveria ter feito um esforço para vir pelo menos a cada dois anos. Tinha que ter me esforçado, pois sabia que me arrependeria depois. Quando meus pais morreram em um acidente de carro durante meu segundo ano na faculdade, me arrependi de não ter escolhido uma faculdade mais perto de casa. Eu perdi muito dos últimos anos da vida deles.
Isso me fez pensar na decisão de ficar aqui. Eu não veria muito meus filhos. Eu tinha dinheiro suficiente para comprar passagens de avião para eles uma vez por ano sem esgotar minhas economias, e muitas coisas aconteceriam em suas vidas entre as visitas.
Pelo menos eu tinha Violet por perto. Ela e eu éramos amigas desde que eu conseguia me lembrar. Eu a conheci durante minhas primeiras visitas à minha avó e mantivemos contato ao longo dos anos. Ela era a primeira pessoa para quem ligava quando algo acontecia, e um grande motivo para minhas poucas visitas aqui em minha vida adulta.
E então havia Aislinn. Eu não tinha passado muito tempo com ela na semana passada, mas ela apareceu várias vezes e eu a observei cuidar do jardim enquanto conversávamos. Eu gostei de como ela falava o que pensava, mesmo que ela fosse estranha e falasse sobre poções. Eu ainda estava me ajustando aos termos que o Ingleses usavam para remédios caseiros.
Então havia o homem misterioso que eu tinha visto no dia em que meus filhos foram embora. Violet me informou que seu nome era Sebastian e que morava perto de Pymm's Pondside. Eu o vi espreitando várias vezes, mas ele nunca disse nada enquanto ficava lá parado me olhando.
Meus olhos percorreram a floresta ao meu redor. O cara havia me assombrado quase todos os momentos em que eu estava acordada. Eu não sabia nada sobre ele, mas sua expressão séria e corpo sexy não me deixavam em paz, então continuei pensando no porquê. Eu odiava não compreender algo. Quando ganhava um quebra-cabeça, não conseguia largá-lo antes de resolvê-lo.
Com um suspiro, levantei-me e fui pegar um biscoito para o café da manhã. No segundo em que entrei em casa, as batidas começaram, seguidas pelas escadas rangendo. Os cabelos da minha nuca se arrepiaram. Era a primeira vez que a escada fazia barulho.
Minha respiração ficou presa na garganta quando peguei uma faca do faqueiro de madeira. Segurando-a na minha frente, procurei por um intruso. Saindo da cozinha na ponta dos pés, eu enfiei minha cabeça pela abertura da porta. Não havia nada nas escadas.
Um grito deixou-me quando uma das portas do armário da sala de estar abriu sozinha. Este lugar é definitivamente assombrado! — Vovó, é você? Me desculpe por não ter vindo mais vezes nos últimos dez anos. — Minhas bochechas coraram e eu revirei os olhos para mim mesma.
O lugar não era assombrado. Mas eu adoraria poder falar com a vovó novamente. Ela sempre tinha resposta para tudo e no momento a única coisa da qual tinha certeza era que eu estava esquecendo algo, mas não tinha ideia do quê. Subi as escadas correndo e chequei os cômodos do andar de cima. Não tinha ninguém na casa.
De volta à sala eu parei ao lado do sofá desgastado com as mãos nos quadris. — Eu não sei o que está acontecendo, mas esta é a minha casa agora e eu não vou tolerar mais essa merda. Isso significa que você pode parar com os ruídos e ficar abrindo portas. Eu sou uma Shakleton e eu não vou a lugar nenhum.
Eu expirei lentamente, mas antes que pudesse dar a volta e ir pegar a minha comida, fui tomada por uma onda de eletricidade. Aquilo me atingiu em cheio, me levando a ter uma taquicardia. Eu não conseguia erguer o braço para checar meu pulso, mas tinha certeza que meu batimento cardíaco era bem mais que duzentos e trinta por minuto. Foi tão rápido que não consegui recuperar o fôlego.
Tentei dar um passo e no começo, achei que não tinha conseguido me mover um só centímetro. Então meu braço bateu em algo que me fez cambalear para trás. Eu saltei quando senti algo atrás de mim logo em seguida. Meus olhos estavam bem abertos, mas não vi nada na minha frente. Poderia jurar que havia um campo de força invisível me cercando e eu podia ver os motes de poeira caindo ao seu redor. Garota, você precisa dar um tempo de Guerra nas Estrelas e parar de falar consigo mesma Está começando a soar como uma louca.
A eletricidade virou energia que tomou todas as células do meu corpo. Senti como se elas passassem de passas enrugadas para uvas gordas em segundos. Nunca percebi que estava desidratada ou esgotada até ser restaurada. Só que não foram os fluidos que me encheram… Poder. Eu tremi quando a palavra passou pela minha mente.
Tinha que ser uma reação retardada à cafeína, essa era a única explicação. Já os sons da casa, minha mente analítica me dizia que o encanamento era a razão daqueles barulhos, mas o encanador me garantiu que os canos da minha casa estavam em uma condição impecável. Foi quando a influência da minha avó subiu para minha cabeça e eu conjurei espíritos como a verdadeira razão.
Será que eu irritei o fantasma? Será que fiz isso enquanto falava comigo mesma e declarava que a casa provavelmente me deixou louca, mas é que a minha mente reagia antes de ter tempo de censurar o que saía da minha boca. Rangendo meus dentes contra a contínua inundação de energia, eu me recusei a recuar. A casa era minha, assim como tudo nela. Tinha a herdado da minha avó e pretendia me orgulhar por isso.
As luzes piscaram ao meu redor e parecia que eu tinha passado por um funil. Tornou-se ainda mais difícil respirar. Eu estava sofrendo um ataque cardíaco? Mas eu não sentia como se fosse isso. Os sintomas de uma mulher sofrendo um infarto agudo do miocárdio são: náusea, azia, tontura, suores frios e ficar extraordinariamente cansada.
O suor que escorria pelas minhas costas estava tão quente quanto o rabo de um diabo, e eu não estava sentindo vontade de vomitar. Quando dei por mim, manchas negras dançavam na minha visão como a pressão construída no meu corpo. Meus olhos se fecharam lentamente e a escuridão tomou conta de mim.
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* * *
— Fiona! Fiona, você está bem? Você tem que acordar.
— Aaaai — resmunguei com a voz frenética. Minha cabeça estava me matando e eu queria dormir um pouco mais.
— Oh, graças aos Deuses. Achava que você estava morta. — A voz era familiar, mas minha mente demorou a processar além do fato de que alguém estava na minha casa.
Meus olhos abriram de uma só vez e eu me sentei rapidamente. Minha mão foi para minha cabeça enquanto eu escaneava o lugar. — Aislinn? O que diabos aconteceu? — Meu sangue parecia espesso enquanto corria pelas minhas veias. Minha mente estava lenta e eu estava tendo dificuldade em me concentrar em qualquer coisa no momento.
Aislinn sentou-se no chão ao meu lado e deu um profundo e pesado suspiro. — Não faço ideia. Vim ver se você queria almoçar comigo. Quando você não atendeu a porta e eu vi o velho carro que você comprou do George na garagem, então eu verifiquei a fechadura e entrei quando ela girou na minha mão. Te encontrei inconsciente no chão.
Como se em resposta à observação dela, minhas costas começassem a reclamar alto e claro. Meu lado e ombro doíam, como se eu fosse um diabo atropelado. Não havia dúvida de que eu estava no chão há algum tempo. Deus, não era divertido envelhecer. Se eu me sentasse em qualquer lugar por mais de cinco minutos, eu precisava de um guindaste para me levantar.
— Fui eletrocutada. — Passei a mão nos meus cabelos, surpresa que não estavam totalmente arrepiados.
Aislinn inclinou a cabeça e olhou para a tomada mais próxima de nós. Estávamos no meio da sala de estar a pelo menos um metro e meio de cada parede, sem aparelhos ou lâmpadas por perto. — Hum, isso não faz o menor sentido. O que realmente aconteceu?
Meus ombros levantaram e caíram. — Eu estava convencida há alguns minutos de que a casa era assombrada e por um segundo pensei que talvez um fantasma tinha me atacado, mas isso não faz sentido.
Aislinn riu e se levantou. — Não é assim que os fantasmas funcionam. Eles não são capazes de produzir energia assim e eles não são condutores também. Eles mal têm vitalidade suficiente para se manifestarem na maioria das vezes.
Eu aceitei a mão dela e grunhi quando finalmente consegui ficar de pé também. Ela fez o ato de se erguer do chão parecer muito mais fácil do que realmente era. — O que você quer dizer com eles não têm poder suficiente? Fantasmas realmente existem? — Lembrei-me de todas as histórias que minha avó me contou, mas nenhuma delas girava em torno de espíritos.
Aislinn me observou de perto por vários segundos. O silêncio somado a maneira como ela estava olhando para mim era altamente desconfortável. — Fantasmas existem e eu venho pensando há semanas que sua avó deve estar andando por aqui de alguma forma. É a única explicação para isso. Você não mostrou poder até agora e algo tem que ser responsável por sustentar as proteções no lugar.
Um milhão de pensamentos e perguntas se embolaram na minha mente de uma vez só. O que ela quis dizer com a vovó ainda estava por perto? E, que poder? Eu não conseguia decidir qual pergunta fazer primeiro, então eu fui para a cozinha e peguei o pote de chá do armário. Depois de encher a chaleira com água, a coloquei para ferver.
Respirei fundo, virei-me e vi que Aislinn tinha me seguido e estava sentada na ilha como eu costumava fazer quando criança. — Certo, Você vai ter que me explicar isso lentamente. Sei que algo está acontecendo aqui, mas fantasmas não existem. Certo? Mas o que quer que seja, eu quero entender.
Aislinn sorriu e balançou a cabeça. — Eu provavelmente não sou a melhor pessoa para explicar tudo isso, mas darei o meu melhor. Violet está na livraria ou eu ligaria para ela para me ajudar. Você sabe que a magia existe, certo? E, que você possui magia.
— Não… não existe. — A parte científica de mim falou. Eu queria rir da cara dela e fingir que aquilo não passou de uma brincadeira antes de pedir à senhora louca para sair. Mas eu me forcei a realmente considerar suas palavras. — Desde que me mudei para cá, não tenho tanta certeza de que estou certa quanto a isso. Coisas que eu não consigo explicar continuam acontecendo.
Ela tinha que estar errada. Eu não passo de uma viúva comum de meia-idade. Me lembrei de algo de quando eu era criança. A menos que minha memória estivesse pregando peças em mim minha avó costumava acender velas com um estalar de dedos. E então houve a vez que ela fez a lagoa ficar da cor turquesa. Por muito tempo acreditei que ela era uma bruxa. Então comecei o ensino médio, fui para a faculdade e percebi que ela tinha usado algum tipo de corante para mudar a cor.
— Sua avó era uma das bruxas mais fortes da nossa cidade. Ela superava qualquer outra pessoa e todos esperamos que você também. Embora, admito que alguns assumiram que você não é nada mais do que uma mundana já que não mostrou nenhuma habilidade ou produziu poções para vender em Fogueiras e Fogões.
Peguei duas canecas e coloquei os saquinhos de chá nelas. — Vovó não era nada mais do que uma normal, mas excêntrica, avó. O que é Fogueiras e Fogões? E o que você quer dizer com poções? Não sou muito a favor de remédios caseiros. Estou firmemente do lado da medicina moderna. Embora eu admita que muitas plantas têm propriedades curativas e são usadas em muitos medicamentos.
Aislinn riu e balançou a cabeça. — Uma coisa de cada vez. Primeiro, você já fez algo estranho ou fez algo acontecer quando você estava com raiva ou com medo?
Eu pausei o turbilhão de pensamentos que estava tendo e considerei sua pergunta. Não havia verdade no que ela estava dizendo. Ou havia? — Explodir pneus conta? — Meu tom era provocante quando escolhi um fenômeno irrealista, quando me dei conta que a razão pela qual escolhi esse exemplo muito peculiar foi por causa de um incidente que eu não consegui explicar na época da faculdade.
Aislinn arqueou uma sobrancelha enquanto sorria para mim. — Agora que você tem que explicar.
A chaleira começou a assobiar e eu derramei a água quente nas canecas e depois entreguei-lhe uma. Adicionei três colheres de açúcar e um pouco de leite enquanto tentava lembrar de tudo e silenciar a negação gritando em minha cabeça.
— Quando eu estava na faculdade havia essa garota que morava no meu dormitório. Ela acreditava que o mundo deveria girar em torno dela. Um dia ela pediu ao meu marido Tim, só que ele não era meu marido na época, para encontrá-la no restaurante onde ela trabalhava e levá-la para dançar depois do turno. Ela não sabia que eu estava ouvindo do meu carro que estava estacionada há duas vagas de distância dela. Estava tão brava que desejei que o pneu dela furasse e ela faltasse ao trabalho. Para minha surpresa alguns segundos depois o pneu do lado que ela estava encostada estourou, fazendo ela cair de bunda no chão.
Aislinn estava rindo no final da minha explicação. — Isso foi definitivamente magia. Pneus não explodem assim do nada. Você fez isso acontecer. Parece que herdou a magia da sua avó no final das contas. Eu tinha razão. E o resto do que aconteceu esta manhã é provavelmente porque você acabou de ser nomeada como a nova Guardiã. Mas não deve ser só isso. Ou eu não teria sentido o fluxo de antes.
— Guardiã? Do que diabos você está falando? — Eu estava rapidamente chegando ao meu limite. Eu não queria ficar chateada com a única outra pessoa na cidade que falava comigo, mas eu odiava ser feita de tola.
Abri minha boca para dar uma boa tirada nela por me achar ingênua o bastante para acreditar na história da carochinha que ela acabou de contar, mas preferi fechar a boca e não falar nada. A energia borbulhando pelo meu corpo me dizia que ela estava certa. Ela efervescia como comprimidos antiácidos na água. Aquilo não era normal. E, nem você. Eu me encolhi ao ouvir aquela voz dentro da minha cabeça. Parecia muito com a da vovó.
— Como eu disse, não sou a melhor pessoa para explicar tudo isso, mas você é a Guardiã do portal. Sua família tem sido responsável por garantir que os Feéricos Sombrios não cruzem para este reino por mais de cem anos. Agora esse papel é seu.
Minha mandíbula despencou e meu coração parou por um segundo. Havia uma parte de mim que sabia que ela estava certa, mas minha mente científica se recusou a acreditar. Eu fiquei parada lá enquanto minha mente lutava contra si mesma. A parte de mim que me fez uma excelente enfermeira racionalizou que eu provavelmente bati minha cabeça e ainda estava inconsciente sofrendo de uma hemorragia cerebral. Que nada disso era real.
Uma parte escondida de mim subiu à superfície. Era algo que só surgia quando eu estava em Pymm's Pondside. Essa parte lembrou de todas as estranhezas feitas pela minha avó que eu tinha visto, além dos incidentes que ocorreram desde que eu assumi a casa.
Eu belisquei meu braço para ver se eu estava, de fato, acordada. — Ai! Ah meu Deus! Por isso fui atingida pela eletricidade depois que informei à casa que ela agora pertencia a mim e que ela não conseguiria me afastar. Embora, eu não tenho certeza se acredito em magia ou algo assim. Tudo isso é demais para mim.
Aislinn pegou o pote de biscoitos que eu mantinha no meio da ilha da cozinha e levantou a tampa. Pegando um biscoito de passas com aveia, ela deu uma mordida. — O que você quer dizer com isso é demais para você? Isidora nunca te contou nada? Como ela poderia deixá-la no escuro quando ela sabia que isso passaria para você?
Balancei a cabeça. — Então, magia existe? E Feéricos? São tipo como a Sininho?
A boca de Aislinn escancarou e ela balançou a cabeça de um lado para o outro. — Nem todos da nossa espécie se parecem com a Sininho. Eu sou uma Feérica. Bem, metade na verdade. E há todos os tipos de criaturas em nosso mundo. Duendes, pixies, ninfas, tanto de floresta quando de água, barghests, grimms, e muito mais. A propósito, foi uma pixie que se revelou para Walt Disney anos atrás que inspirou a Sininho.
Eu franzi meus lábios e estreitei os olhos. — Você é uma desses Feéricos? Suas orelhas são pontudas?
Aislinn terminou seu biscoito e esfregou as mãos. De pé, ela caminhou até a pia. — Na verdade sou. Não sou tão poderosa quanto um sangue puro, mas tenho algumas habilidades. E não, eu não tenho orelhas pontudas. Meu lado humano diluiu essa característica. — Ela estendeu a mão e tocou a ponta da babosa que estava meio morta quando cheguei. A coisa se ergueu e ficou verde vibrante instantaneamente. As hastes caídas e marrons não existiam mais.
Eu caí contra o balcão e mal consegui me segurar para não cair no chão de madeira pela segunda vez naquele dia. — O que diabos eu devo fazer com tudo isso? Isso é insano. Espere… — engasguei quando dei por mim e foi como ser atingida por uma tonelada de tijolos. — Todas as histórias da minha avó são verdadeiras! Não havia dúvida que se o que Aislinn estava dizendo era verdade, então minha avó estava me preparando a vida toda sem dizer diretamente. — Puta merda!
— Conhecendo Isidora, essas histórias foram realmente de experiências que ela teve. Eu adorava ouvir sobre todas as criaturas que ela tinha encontrado. Ela era infame por chutar a bunda de Feéricos e negar-lhes permissão para entrar em nosso reino.
— É isso que uma Guardiã faz? É isso que eu devo fazer agora? — A ideia soou emocionante. Eu estava entediada até dizer chega e considerando procurar um emprego trabalhando na loja de vinhos.
Aislinn acenou com a cabeça e pegou sua caneca. — Você decidirá qual Feérico permitir cruzar e qual manter fora.
Meu coração acelerou com a simples ideia de negar a algum idiota malvado a habilidade de vir para a Terra. — Eu não sei o que é mais chocante, se o fato que existem outros mundos além do nosso ou que cabe a mim dizer quem pode vir aqui. Ou que magia existe. Eu não conseguia assimilar tudo isso.
Aislinn riu. — Eu não gostaria de ter essa função, mas sei que é importante. O Rei Voron tenta colocar os pés aqui há séculos. Se ele conseguir, ele dominará este reino também.
Terminei meu chá, passei água na minha xícara e olhei para Aislinn. — Eu perguntaria como eu deveria tomar essas decisões, mas cheguei ao meu limite. Que tal aquele almoço agora? — Eu estava faminta e tinha inadvertidamente pulado o café da manhã. Eu precisava fazer algo normal por um tempo antes que minha mente voltasse para o balde de irrealidade que tinha acabado de ser despejado em mim.

CAPÍTULO TRÊS
— Tem certeza que quer ir a pé para casa? Fica há quase três quilômetros daqui. — perguntou Aislinn, erguendo o olhar de sua bolsa, com as chaves do carro na mão e uma expressão cética.
Sim, eu duvidaria da minha capacidade também se eu estivesse no meu juízo perfeito, mas não estava. E eu odiei que a pergunta dela me fizesse sentir como se eu fosse velha. — Tenho certeza. Preciso tomar pouco de ar fresco e o exercício será bom para mim. — Tudo isso era verdade, mas não era realmente o motivo.
Uma vez que eu estivesse sozinha em casa, todos o turbilhão de pensamentos que consegui manter à distância na minha mente voltariam desenfreados e eu não tinha certeza se não acabaria tendo um colapso. Minha cabeça virou sem permissão e se concentrou no interior da cafeteria que acabamos de sair. Será que Bruce, o dono do Xí Cara, era um anão sobrenatural? Ou um outro tipo de Feérico? Ele tinha que ter algum tipo de magia para fazer sanduíches tão gostosos.
— Ele é um tipo de Feérico que chamamos de anões. Muito diferente das pessoas pequeninas — disse Aislinn, como se estivesse lendo minha mente. Espere. Será que ela realmente lia mentes?
— Você pode ler minha mente? — Aquilo seria terrível. Eu teria que parar de passar tempo com ela, o que seria uma droga porque eu realmente gostava daquela mulher briguenta.
Aislinn riu. — De jeito nenhum. É bem óbvio o que está passando pela sua cabeça. Mas não te culpo. Se eu não tivesse crescido sendo ensinada sobre um mundo oculto, que existe apenas em poucos lugares fora de Cottlehill Wilds, eu já teria dado entrada em um hospital psiquiátrico.
Uma gargalhada explodiu de mim. — Confie em mim, estou perto disso. Mas minha avó sempre me contava histórias sobre Feéricos e magia. Só nunca imaginei que era tudo verdade. De qualquer forma, obrigada pelo almoço. Te vejo em breve.
Eu me forcei a começar a caminhada de volta. A cidade estava movimentada enquanto eu caminhava lentamente pela rua principal e passava pela praça no centro. À primeira vista o lugar era como qualquer outro pequeno município, no entanto, tudo parecia diferente para mim hoje.
Havia um brilho em torno de algumas lojas e nada em outras. O restaurante Ostra de Safira pulsava com energia ao passar por ele. O Hora do Chá era cercado por plantas que lhe dava uma aura verde e uma sensação vibrante. Quando cheguei ao desvio que cortava caminho para os penhascos e a minha casa, estava convencida que havia algum tipo de fenômeno presente nesses locais. Era quase como se fosse uma indicação de que o lugar era propriedade de um sobrenatural.
No meio do caminho me virei para a esquerda em vez de direita e parei na beirada de um penhasco, observando o oceano que se estendia à distância. Quando eu estava em casa, em Pymm's Pondside, era impossível dizer que o oceano estava a apenas um quilômetro e meio de distância. Parada lá, sentia como se estivesse literalmente em outro mundo.
Além disso, senti que minhas pernas estavam quase desmoronando depois da caminhada que tinha acabado de fazer. Não é como se eu estivesse fora de forma, mas as dores que eu já estava sentindo eram suficientes para me fazer arrepender de não ter aceitado a carona de Aislinn até em casa.
Balançando a cabeça, me virei e comecei a descer a estrada que me levaria para casa. A agitação da cidade de repente ficou para trás, deixando-me cercada por árvores e arbustos. As casas a essa altura eram bem mais afastadas em vez de uma ao lado da outra, ou até mesmo parede com parede.
Eu não tinha visitado ninguém por aqui e não fazia ideia de como as propriedades deles se pareciam por trás das paredes de plantas e arbustos, que agiam como sentinelas fornecendo-os privacidade. Chutando uma pedra, eu observei ela bater em uma barreira invisível à minha direita. Eu mal consegui desviar quando ela foi atirada de volta em minha direção.
Eu me perguntava onde Sebastian morava. Violet me disse que ele vivia perto da minha casa. Eu fiquei chocada quando decidi me aventurar no mundo da perseguição e perguntar a Aislinn e Violet quem era o cara misterioso. Não passou despercebido por mim que no momento em que o descrevi com seus olhos azuis penetrantes e corpo musculoso, ambas as mulheres sabiam de quem eu estava falando. Fiquei surpresa que elas o conheciam o bastante para se referirem a ele pela versão abreviada de seu nome. Ele não parecia do tipo que falava com as pessoas, com ninguém na verdade.
A imagem dele cruzando os braços e olhando feio para mim passou pela minha mente. Bas, como Violet e Aislinn se referiam a ele, fazia até uma carranca parecer sexy. Eu não conseguia imaginar que alguém fosse capaz de sorrir, mesmo assim aquilo não me impediu. Eu estava atraída por ele, de uma forma ou de outra. Eu não poderia negar que estava curiosa se o rosto dele suavizaria quando ele me beijasse. O quê? Não, nem em sonho!
Eu alcancei minha casa rapidamente e parei para olhar para o jardim. As ervas daninhas estavam começando a crescer, então atravessei o portão e peguei as luvas da mesa montada à minha direita.
— Droga — gemi ao ficar de joelhos. Aquilo provavelmente foi um erro. Eu nunca mais conseguiria me levantar. Sem mencionar que a dor nas minhas juntas me manteria acordada a noite toda. Enquanto eu ficava ajoelhada lá arrancando as ervas daninhas do chão, Sebastian invadiu os meus pensamentos, de novo.
Droga. Foi por isso que tinha vindo até aqui. Para ter uma distração.
Agarrando as teimosas ervas daninhas, puxei uma atrás da outra enquanto forçava minha mente a focar na atividade que estava fazendo. Infelizmente, fazia muito tempo desde que eu tinha sido de alguma forma beijada ou tocada. Desde que o Tim morreu, nenhum homem tinha despertado o meu interesse. E certamente nunca tinha ficado tão atraída a ponto de querer levar um para a cama.
Estava acostumada a viver com essa parte de mim morta e enterrada. Porém, ver Sebastian parado lá com sua carranca tinha mudado algo em mim. Agora meu corpo estava desperto e não me deixava ignorar minhas necessidades.
Sentando-se para trás em meus tornozelos, eu fechei meus olhos e suspirei, tentando expulsar aquele calor latejante de dentro de mim. Era algo do qual eu tinha ficado muito boa em fazer durante o período em que Tim ficou doente. O som de algo agitando a água me assustou e eu fiquei de pé com um pulo. — Merda! — gritei quando meus joelhos começaram a reclamar na mesma hora. Ficar velha era uma merda.
A visão de flores desabrochando nas vitórias-régias apagou qualquer pensamento sobre meu corpo rangendo. Manquei até o portão e passei por ele apressadamente. O que diabos eu fiz? E… como? Eu já tinha feito pequenas coisas acontecerem algumas vezes na vida, mas nada neste nível.
A lagoa era pelo menos uns nove metros de comprimento e uns sete metros e meio de largura, e coberto por vitórias-régias que agora tinham deslumbrantes flores brancas nelas. Minha mente se recusava a acreditar que eu era a responsável pelo aparecimento delas.
Eles tinham que estar à beira de florescer antes. Era um dia ensolarado e brilhante. Os raios tinham que ter persuadido os botões a abrirem. Só que não havia nenhum botão antes, ou qualquer indício deles. Parada ali, minha boca escancarada em descrença, não havia outra explicação já que elas definitivamente não existiam momentos atrás.
Tirando as luvas, eu as coloque na mesa, depois entrei e lavei minhas mãos. O que deu início a um frenesi de limpeza. Lavei as bancadas, depois me mudei para as portas do armário antes de passar para despensa. Aquele ping estúpido começou em minha cabeça novamente.
Aquilo estava drenando as minhas forças e eu já estava perdendo o gás quando finalmente terminei de limpar a cozinha e fui para a sala de estar. Antes de dar o dia por encerrado, eu tinha que rearranjar os móveis para que ficassem do jeito que eu gostava. Quando meu marido morreu há alguns anos, aprendi que não havia necessidade de manter a casa da mesma maneira para homenagear a sua memória. Eu o amava, mas ele tinha partido. Não importava se eu mudasse a posição dos móveis ou comprasse novos que ele teria odiado. Eu ainda o amaria. Nada nem ninguém, poderia mudar esse fato.
Minhas costas protestaram quando empurrei o sofá para a parede oposta e o ping ainda estava me deixando louca. Minha avó tinha arranjado tudo ao redor da lareira. Não havia nada melhor do que uma lareira acesa no inverno, mas eu planejava criar um lugar que eu pudesse assistir televisão quando a minha chegasse na próxima semana.
Não havia TV a cabo em Cottlehill Wilds, mas havia internet. Graças a Deus pelo streaming. Tinha contratado um plano família quando Emmie começou a faculdade para que ela tivesse algo para acessar sem ter que pagar por isso.
Quando mudei a namoradeira de lugar, dei um passo para trás e odiei o novo arranjo. A mesa de centro não se encaixava com a disposição dos outros móveis. Abri a porta do lado da casa e empurrei a mesinha de madeira para o lado de fora. Voltando, eu gemi para a bagunça que eu tinha feito.
As dores evoluíram para agonia e eu mal conseguia me mover. Hora de tomar banho. Pegando uma garrafa de vinho e meu e-reader, eu praticamente engatinhei pelas escadas e entrei no meu banheiro. Eu precisava de uma pausa e tinha que fazer algo para parar aquele maldito ping.
Andando até a banheira de modelo antigo, com pezinhos em formato de garras e tudo, eu liguei as torneiras e tampei o ralo. Minha avó tinha vários potes cheios de líquido em uma prateleira de madeira no banheiro. Eu tinha jogado fora os que tinha um perfume que me lembravam dela e deixei o resto. Derramando um pouco de um líquido que cheirava a jasmim e maçã, virei-me para tirar minhas roupas e congelei.
Mancando até a janela, meus olhos se arregalaram quando vi Sebastian parado perto do cemitério da família. Um segundo depois eu estava correndo escada abaixo, apesar dos meus joelhos protestando.
Mas quando cheguei lá fora, ele não estava em lugar nenhum. Eu fiquei lá e virei em um círculo e depois xinguei. O que diabos ele estava fazendo aqui de novo? Se ele queria falar comigo por que ele foi embora? A boa notícia era que o ping finalmente parou.
Eu não tinha ideia de como encontrar Sebastian, então voltei para dentro. Quando ouvi o barulho de água no andar de cima, lembrei que tinha deixado a torneira da banheira ligada. Eu tropecei na minha pressa para subir, tinha abusado muito do meu velho corpo hoje.
Cheguei ao banheiro bem na hora em que a água quente começava a transbordar. Fechando a torneira, eu puxei a tampa do ralo e permiti que vários centímetros fossem drenados. Checando a janela para ter certeza que ninguém estava me observando eu puxei a camisa sobre minha cabeça, depois tirei meus sapatos e meias, em seguida, o resto das minhas roupas.
Céus, era delicioso afundar na água perfumada. Minhas dores diminuíram e peguei meu dispositivo e abri o último livro que estava lendo. Pensando bem, não era à toa que eu gostava tanto de histórias envolvendo criaturas paranormais e fantasiosas. Era parte de quem eu sou.
Eu me perdi na história até a água esfriar. Com um suspiro, pousei minha taça de vinho no chão e me levantei. Tive o prazer de descobrir que meus joelhos e costas me suportavam sem muita reclamação. Quaisquer que fossem aqueles óleos, eles tinham que ter poderes mágicos. Um banho nunca tinha me feito sentir tão bem assim antes.
Eu estava seca e vestida quando o sol começou a se pôr. Eu estava com fome de novo depois de uma longa tarde de caminhada, arrancar ervas daninhas e limpeza. Quando cheguei lá embaixo, cheguei ao limite do impossível pela segunda vez naquele dia.
— Como é que eu fiz isso acontecer? — Perguntei para o ar enquanto observava uma sala de estar perfeitamente organizada. O sofá e a namoradeira estavam do lado oposto, com a cadeira complementando os assentos. A pintura de uma paisagem que pairava sobre a lareira tinha sumido e suportes vazios estavam em seu lugar. Precisamente onde eu planejava pendurar a TV de tela plana.
Eu realmente preciso descobrir como funciona essa merda toda. Embora, eu não me importava de fazer flores crescerem e fazer a casa se ajeitar sozinha. Eu me virei e fui para a cozinha para pegar algo para um jantar leve. Nada me apetecia e eu não tinha desejo de cozinhar.
Por uma fração de segundo eu fiquei lá desejando alguns tacos de peixe como uma tola. Parte de mim realmente esperava que eu pudesse fazer as coisas aparecerem apenas desejando-as, enquanto o resto de mim sabia que aquilo era impossível. Eventualmente fui forçada a admitir a derrota e peguei uma maçã, um pouco de manteiga de amendoim e um refrigerante. Eu estava lá comendo quando o calor eclodiu sobre o meu corpo.
O suor escorria por todos os meus poros e eu fiquei tonta. Abri o freezer e fiquei na frente dele esperando que aquilo me esfriasse. Pela janela eu notei as árvores balançando com a brisa e eu estava tentada a andar lá fora, mas o ar frio da geladeira parecia bom demais para me mover.
Um segundo depois, a porta dos fundos se abriu e os ventos sopraram pela casa. Eu me assustei, fechei a porta do freezer e fui lá fora procurar o que fez a porta se abrir assim. O sol estava apenas se pondo e o céu era uma bela mistura de rosa e laranja.
Um ruído de cascalho sendo esmagado se intrometeu na quietude do meu momento de paz e me virei para ver Sebastian andando pela estrada. — Você está me seguindo, Sebastian?
Sua cabeça virou em minha direção e seus olhos arregalaram um pouco antes de estreitarem. Minhas mãos foram para minha boca e eu desejei me enfiar em um buraco. Eu tinha acabado de provar a ele que eu era o pior tipo de perseguidora do mundo.
— Eu não estou seguindo você. Eu vim para Pymm's Pondside. — Sua voz era mais áspera do que o cascalho sob suas botas pretas e me atingia de maneiras que não deveriam acontecer.
Limpando minha garganta, cruzei meus braços sobre meu peito. — Sim, posso ver isso. Por que você continua vindo aqui? Quer alguma coisa?
Ele me observou sem dizer nada. As palavras de Aislinn sobre meu novo trabalho como Guardiã brotaram em minha mente. A mulher não tinha me dado mais nenhuma informação sobre o assunto. Talvez ele quisesse atravessar para o reino Feérico.
— Ah, hum, você quer atravessar para… — Minhas palavras vacilaram enquanto minhas bochechas aqueciam. Eu não tinha ideia de como aquilo funcionava. Não queria que esse cara pensasse que eu era uma idiota.
Ele inclinou a cabeça. — Para Eidothea? O que você sabe sobre portal para o reino Feérico?
Meus ombros levantaram e caíram. — Não sei de nada. — Doeu ter que admitir aquilo. Por alguma razão eu queria que ele visse a mulher brilhante que eu era. Aquela que aprendia as coisas mais rápido do que qualquer um ao meu redor e tinha se formado em primeiro lugar da classe na escola de enfermagem. Era por isso que eu era a única enfermeira capaz de conectar pacientes ao aparelho de ECMO no meu hospital anterior. — Nem sei se acredito em nada do que Aislinn disse sobre magia, os Feéricos, e meu suposto trabalho.
— Eu estava preocupado com isso. É por isso que eu vim para cá.
— Por quê? Você está aqui para me ajudar? — Por favor, esteja aqui para me ajudar. Minha cabeça estava uma bagunça e precisava de alguém para me ensinar sobre tudo aquilo. Certamente havia regras que eu deveria seguir. A última coisa que eu queria fazer era cometer um erro porque eu não sabia das coisas.
Oh, Deus! E se eu deixar algum Feérico serial killer passar pelo portal?
Sebastian não respondeu, apenas ficou me encarando. Vaga-lumes começaram a rodear minha cabeça. Espantei eles com uma mão enquanto mantinha meus olhos em Sebastian. O zumbido tornou-se persistente até que finalmente me virei para ver que estava enganada sobre o que estava voando ao meu redor. Na verdade, eram pessoas pequeninas voando. Assim como a Sininho!
Estas criaturas tinham asas iridescentes e cabelos e roupas coloridos vibrantes. — O que são eles? Aislinn nunca me contou o que eles eram.
Sebastian diminuiu um pouco da distância entre nós. — Eles são pixies. E esses são brownies, ou duendes amigos.
Segui o dedo dele e notei pequenas criaturas marrons rastejando sob a cerca e indo para o jardim. — O que é que eles fazem? Eles estão tentando atravessar?
— Você realmente tem que dar um jeito de aprender antes que o Rei Voron envie algo terrível para estabelecer uma base neste reino. — Depois de rosnar essas palavras, Sebastian começou a se afastar.
Minha boca comprimiu em uma linha fina para evitar xingá-lo enquanto ele ia embora. Engolir a raiva e a frustração não foi fácil, especialmente quando considerei como isso tinha acabado de cair no meu colo e ele estava esperando que eu fizesse milagres.
Com um grunhido, dei um pisão na grama. Eletricidade escaparam das minhas mãos. Gritei e agitei minhas mãos no ar. Um raio branco brilhante voou para a esquerda e atingiu uma árvore.
Chamas irromperam ao longo da casca e uma figura alta e esbelta saiu de dentro dela gritando. Corri ao redor da lagoa e a alcancei num piscar de olhos. Meu coração bateu descontroladamente no meu peito enquanto queimaduras brotavam ao longo dos braços dela.
Agindo por instinto, corri para a lagoa e peguei o máximo de água com as mãos. Quando voltei para ela com um punhado de água, o fogo já apagado, e ela estava me encarando. Derramei o líquido sobre o braço dela. — Sinto muito. Eu não queria te machucar. Eu perdi a cabeça.
Os cantos dos seus finos lábios castanhos se ergueram e seus olhos verdes brilharam. — Está tudo bem, Bas tem esse efeito nas pessoas. Eu sou Theamise. Sua avó me convidou para viver no Bordo quando ele estava morrendo por causa de um fungo.
Acenei com a cabeça como se já soubesse disso. Quando eu menos percebia, algo novo era jogado para cima de mim. Exceto que eu sabia sobre aquilo. Vovó me contou a história sobre a árvore estar à beira da morte e que ela fez um acordo com uma ninfa para salvá-la.
Parecia impossível que essas criaturas sequer existissem. Se não fossem as histórias que minha avó me contou, eu ficaria muito mais chocada. Esperava que fosse mais fácil aceitar que tudo isso fosse real porque não podia continuar tendo as mesmas discussões na minha cabeça. Sério, eu fazia esquizofrênicos parecerem sãos.
Eu não tinha mais vinte anos. Ser atingida com tudo isso estava afetando a minha mente. Mas como todos os Shakleton, eu me recusava a permitir que isso me sobrecarregasse. Com um susto, percebi que minha mãe fugiu de tudo isso. Não achei que ela negasse a existência desse mundo. Afinal, ela me mandava para ficar com a mãe dela todo verão. Mas por que ela ou meu pai nunca me contaram sobre nada disso? Não pude deixar de me perguntar o que a fez se afastar.
Nada disso importa agora! Certo. Eu precisava dar um jeito na situação antes que ela saísse do controle. Algo estava obviamente acontecendo no meu novo mundo e eu tinha que descobrir o quê, antes que acabasse com a bunda no chão, literalmente.
— Eu realmente sinto muito sobre sua árvore. Espero não ter causado nenhum dano permanente, mas preciso correr e falar com uma amiga bem rápido.
— Eu entendo. Vou curar, assim como a árvore. Não se preocupe conosco. —Theamise acenou para mim e voltou para o Bordo.
Corri para a casa, peguei minha bolsa e chaves e pulei no meu carro. Violet não morava longe, e eu precisava perguntar se ela sabia alguma coisa sobre o que estava acontecendo. Talvez ela tivesse um livro que me ajudasse. Independentemente disso, precisava da minha melhor amiga para ajudar com um bom choque de realidade. Estacionei em frente à livraria Livre-se.
O sino tocou quando abri a porta e Violet olhou por cima do caixa. — Ei, Fiona. O que houve?
Eu deveria saber que ela perceberia a minha angústia. Eu verifiquei o corredor ao meu lado e o seguinte antes de me aproximar dela. — Preciso de sua ajuda. — Expliquei o que aconteceu naquele dia e o que Aislinn me disse antes.
Violet suspirou e me lançou um olhar de simpatia que eu já tinha visto umas mil vezes antes. — Aislinn disse a verdade. Sua avó foi a última Guardiã e você é a única herdeira viva, então quando você reivindicou a casa você reivindicou a posição.
— Como eu nunca soube de tudo isso? Por que você nunca me contou que a magia existia?
Violet mordeu o lábio. — Eu presumi que você nasceu uma Mundana e é por isso que seus pais se mudaram com você. É difícil para um Mundano crescer entre os sobrenaturais. — Eu não seria a pessoa a falar sobre o mundo que existia ao seu redor, especialmente se não houvesse nada que você pudesse fazer para se proteger dele.
Peguei uma das canetas com pontas felpudas do mostruário e comecei a esfregá-la entre as minhas palmas, precisando de uma distração. — Eu não consigo acreditar que tudo isso é real. Que todas as histórias da vovó eram verdadeiras.
— É muito para assimilar. Imagino que você sinta como se um tapete fosse puxado debaixo dos seus pés — disse Violet, enquanto observava a minha agitação.
— Exatamente! Sebastian não ajudou em nada, e Aislinn me contou um pouco, mas não o que eu realmente preciso saber. Eu quero enfiar minha cabeça na areia e fingir que nunca ouvi nada disso.
— Mas você não vai — interveio Violet com um sorriso de quem sabe tudo. — Você enfrenta os problemas de frente, mesmo quando eles parecem impossíveis ou são dolorosos de lidar.
— Você me conhece bem. Não posso ignorar nada disso, por isso estou aqui. Preciso saber como devo proteger esse portal. Nem sei onde ele fica. Você tem alguma coisa que possa me ajudar?
— Eu posso ser uma bruxa, mas eu não posso dar-lhe essas respostas. Essa é uma informação que só sua família sabe — informou Violet, se encolhendo um pouco.
Meus ombros afundaram e eu senti vontade de bater em alguma coisa. — Como diabos eu vou fazer este trabalho quando eu não tenho nenhuma informação? Sebastian acabou de me dizer que o Rei Voron enviaria algo terrível através do portal e que eu seria responsável pelo fim do mundo. Você não tem um livro que pode pelo menos me dar informações sobre o que estou lidando?
Violet acenou com uma mão. — Em primeiro lugar, não dê ouvido a ele. Ele faz do mau humor uma forma de arte. Segundo, gostaria de ter algo que ajudasse. Meu melhor conselho é que você faça uma busca em sua casa. Sua avó teve que ter deixado algo que a ajudasse, ela sabia que você voltaria algum dia.
— Ela podia ter me enviado uma carta. Ou deixado uma na mesa da cozinha. Diabos, nem que fosse um e-mail. Feito qualquer coisa para me dar a informação que eu preciso. O peso do mundo está literalmente nos meus ombros de meia-idade e eles estão prestes a desistir.
Violet riu e balançou a cabeça. — Parece que você tem andado em círculos o dia inteiro. Vamos jantar, depois eu posso ajudá-la a fazer uma busca em sua casa.
Assenti, a emoção de repente tomando conta de mim. Foi como se algo tivesse encaixado com um clique dentro do meu peito.
Violet deu um pulinho com um sorriso largo erguendo os seus lábios. — Ei, nós acabamos de formar um coven de duas pessoas? — Ela deve ter sentido algo parecido com o que tinha acabado de sentir.
— Eu acho que está mais para três pessoas. Acho que Aislinn não gostaria de ficar de fora — corrigi.
— Nisso você está certa. Deixe-me fechar a loja e podemos sair daqui.
— Isso seria fantástico. Obrigada. — Eu não tinha nenhum desejo de fazer a busca sozinha. Era bom ter alguém me apoiando.
Eu poderia ter acabado de embarcar em um episódio de "Além da Imaginação", mas havia muitas pessoas ao redor para me ajudar a navegar pela escuridão. Eu não estava sozinha e isso aliviou minha preocupação mais do que qualquer coisa. Uma coisa que aprendi era que você precisa se cercar de amigos e família como apoio, ou você será comido vivo pelas reviravoltas da vida.

CAPÍTULO QUATRO
— Será que isso aqui é algo importante? — Eu segurei o livro no alto, sem saber se as marcas estranhas na capa do livro significavam alguma coisa.
Violet enfiou a cabeça na sala de artesanato um segundo depois. As sobrancelhas dela franziram e ela estudou a capa marrom na minha mão. — Essa não é a escrita de sua avó ou o Grimório da sua família. Parece um livro Feérico. Essa é a língua Feérica. Eu não imagino Isidora teria deixado notas nele.
Eu balancei a cabeça e suspirei. — Bem, eu não achei mais nada. Isso é inútil. Parece que minha avó não pensou em me deixar um bilhete ou uma pista sobre este mundo. Talvez eu devesse voltar para a Carolina do Norte para ficar com meus filhos.
Violet se aproximou de mim e apertou minha mão. — Você mencionou algo encaixando no lugar. Você se sente diferente agora?
Olhando pela janela, eu vi a lagoa e as vitórias-régias florescendo. — Honestamente, estou sobrecarregada, mas ainda sinto que é aqui que estou destinada a estar. Mas eu não tenho ideia do que deveria fazer como Guardiã e isso me irrita. Eu não estou acostumada a não saber das coisas.
Violet riu e saiu da sala, me puxando com ela. — Agora, isso soa como Isidora. Ela era a chamada na cidade pela maioria das pessoas se eles estivessem precisando de poções ou receitas ou precisassem de ajuda com os entes queridos. O que importa é que você se sente como se pertencesse.
— Isso não é o que importa. Não posso ajudar ninguém com nada. Eu nem sei o que são poções. Eu diria que não tenho magia para aprender, mas sei que seria mentira.
— Isso já é alguma coisa. Só de dizer que tem certeza que tem magia já te faz muito diferente da mulher com quem falei há algumas semanas. Está dizendo isso por causa do que lhe disseram? Ou alguma coisa aconteceu? — Violet soltou minha mão e foi para a cozinha.
Eu fui atrás dela enquanto ela ia para o fogão. — Eu fiz algumas flores aparecerem quando eu estava no jardim arrancando ervas daninhas. Eu estava sobrecarregada na hora e as emoções meio que vazaram de mim. Mas quando eu realmente paro para analisar a minha vida, eu acho que sempre houve algo sob a superfície. Quando estava em trabalho de parto com meus filhos, fiz com que os monitores fetais quebrassem. E quando as pessoas me deixavam com raiva de alguma forma aconteciam coisas como bebidas derramadas, defeitos no guarda-roupa e diarreia quando direcionava minha raiva para eles. Nunca pensei muito nisso, supondo que estava sendo paranoica. Depois das últimas semanas eu passei a considerar esses eventos de forma diferente.
Violet se apoiou no balcão enquanto se inclinava e gargalhava. — Diarreia? Essa é clássica. Quanto a aprender a usar magia, posso ajudar com poções e outros feitiços com a sua parte ligada à bruxaria. Mas você também é parte Feérica e eu já não posso ajudar com essa metade. Nem com o papel que você aceitou como Guardiã. É aí que o Grimório da sua família vem a calhar.
— Você mencionou isso antes. Seria um livro, certo? Como ele se parece? Eu não encontrei nada que tivesse o histórico da minha família.
Violet ligou o fogão e colocou a chaleira para ferver. — Eu nunca o vi, mas é muito mais do que sua história familiar. É um compilado de feitiços e magia que seus ancestrais criaram. Aposto que também há informações sobre o portal e seus deveres nele.
— Então parece que eu preciso encontrar esse maldito livro. — De repente me senti derrotada. Eu procurei pela maior parte da casa, mas não encontrei nada. — Você pode me dizer por que minha família tem esse papel? Por que não posso passar o trabalho para alguém como Sebastian? Ele seria capaz de lutar contra qualquer um que não deveria atravessar para a Terra.
Violet balançou a cabeça e pegou o leite da geladeira. — Tê-lo no comando seria um desastre. Ele nunca permitiria que ninguém passasse. Não sei a história toda, mas sei que sua família se estabeleceu em Pymm's Pondside há muito tempo, quando havia muitas pontes do Reino Feérico para este mundo. À medida que a magia secava no mundo, o portal em sua terra permaneceu. Suspeito que alguém da sua linhagem o criou como uma maneira de visitar a família aqui e vinculou sua existência à sua linhagem quando o Reino Feérico começou a perder seu poder.
Eu virei para encará-la e quase derrubei as canecas que eu tinha acabado de pegar com o choque. — Como um reino inteiro pode perder energia? Isso parece impossível.
Violet suspirou e colocou saquinhos de chá nas canecas que eu coloquei na ilha da cozinha. — Tem a ver com o Rei e quando ele assumiu o trono. Ele consumiu uma parte significativa da magia do reino e até roubou a magia de algumas das criaturas que vivem nele. Foi a única maneira dele vencer o rei anterior.
Aquilo era fascinante. — Então, há tipo uma família real escondida que pode tomar o trono de volta e restaurar o Reino Feérico à sua antiga glória? — Era um plot comum em romances de fantasia, meu gênero favorito.
Violet riu disso e pegou a chaleira quando ela começou a assobiar. Ela derramou a água quente nas canecas. — As histórias não mencionam isso. Não sou Feérica, mas pelo que sei, o trono é tomado à força. Não é algo que é passado de herdeiro para herdeiro. O mais forte reina Eidothea e o seu povo. Mas há um alto escalão e apenas essas famílias do topo têm a capacidade de lutar pelo trono. Suspeito que sua família pertence a esse nível mais alto.
Eu recuei como se ela tivesse me dado um tapa. Eu não queria ter nada a ver com seres que explorassem outros para ganho pessoal. — Aff. Graças aos Deuses eu não sou uma pessoa vil que passaria por cima de outros para poder tomar o trono.
— O Reino Feérico precisa de um governante que pense no bem maior. Talvez então o equilíbrio entre nossos mundos possa ser restabelecido. — Violet colocou açúcar em seu chá, em seguida, ergueu a caneca fumegante para seus lábios.
Eu também ergui a minha e deixei o vapor aromático me acalmar. — E o que poderia acontecer? Não vejo humanos aceitando que Feéricos existem. Eles lançariam bombas nucleares para destruir todos nós se soubessem que criaturas míticas eram reais. — Não havia como negar a forma como reagimos ao medo. Pensei em comprar uma arma depois que Tim morreu. No final, percebi que seria mais um risco do que ajuda.
— É verdade. De qualquer forma isso não importa agora. Não há ninguém vivo capaz de desafiar o Rei Voron.
Eu ofeguei e derrubei meu chá quando minhas mãos voaram para minha cabeça. Aquele ping terrível tinha começado novamente e estava muito mais forte do que nunca.
— Fiona, você está bem? O que houve? — A voz da Violet parecia que vinha de muito longe. Eu não conseguia me concentrar em nada, exceto no barulho e no puxão em meu peito.
— Minha cabeça — grunhi com os dentes cerrados. — Tem esse ping incessante.
Uma mão correu para cima e para baixo nas minhas costas, esfregando círculos. Descubra de onde vem essa merda! Respirei fundo, várias vezes, e me concentrei na fonte por vários segundos. Violet estava perguntando se ela deveria me levar a alguém ou algo na cidade chamado Zreegy. Eu não tinha ideia de quem ou o que Zreegy era.
Tudo o que eu conseguia pensar era em acabar de uma vez por todas esse ping e puxão. Estava piorando e agora era insuportavelmente doloroso. Depois de vários segundos, deixei minhas mãos caírem e olhei para os olhos azuis de Violet. A preocupação dela era o lembrete que eu precisava de que havia alguns na cidade que se importavam comigo.
— Você está bem? — perguntou ela, depois de alguns segundos.
Eu assenti e passei a língua em meus lábios secos. — Estou bem agora. É que sinto esse ping na minha cabeça desde que cheguei e está piorando. Eu pensei que estava vindo da casa, mas agora eu suspeito que está vindo de fora.
Violet se virou e foi para a despensa. — Pode ser apenas as linhas ley e você está sensível ao poder que corre através delas, mas vamos sair e descobrir o que está causando isso. Não agora, fique onde está. Você está descalça e há pedaços de cerâmica por todo o chão.
Eu nem tinha ouvido a caneca quebrar. Eu continuei focada no ping que agora estava ficando cada vez mais suave. — Você sabe que eu estaria perdida sem você e Aislinn. Saber que posso contar com vocês duas acaba com qualquer dúvida sobre minha decisão de ficar. Mas o que você quer dizer com as linhas ley e por que eu seria sensível a elas?
— Linhas ley são caminhos de magia concentrada. Aqui em Cottlehill Wilds várias diferentes convergem. Isso atrai sobrenaturais à nossa localização e é uma das razões pelas quais temos uma população significativa vivendo aqui. A outra razão é o portal. Suspeito que foi essa convergência que possibilitou que o portal fosse criado aqui.
— Reitero que estaria perdida sem você. Eu entendo o conceito que você está descrevendo, mas minha mente se recusa a acreditar nisso completamente.
Violet jogou os detritos afiados no lixo e eu limpei o líquido com algumas toalhas de papel. — Eu senti uma ligação com você desde que eu consigo me lembrar. Eu só queria que você soubesse sobre sua magia quando Trent decidiu que ele me deixaria pela sua secretária. Poderíamos ter lançado uma maldição de intestinos soltos como brincamos daquela vez. Isso teria espantando a vadia de vinte e poucos anos.
Eu gargalhei e enfiei meus pés nas sandálias que mantinha perto da porta dos fundos. — Agora, esse é um tipo de magia que eu apoio. Por que os homens fazem isso quando chegam aos 40? Como se isso os fizessem ficar mais jovens? Ele terá que trabalhar duas vezes mais para manter a ninfeta. Aquele idiota. Você merece muito melhor.
Violet bufou e me seguiu para fora de casa. — De seus lábios aos ouvidos dos Deuses. Agora, vamos ver o que podemos aprender aqui fora. Você tem alguma ideia de onde o ping vem?
Pensei nisso enquanto o ar da noite nos cercava. O cheiro de beladona e jasmim dominava o jardim. Eu realmente precisava fazer alguma pesquisa para descobrir o que eu tinha lá fora, e como fazer poções. Talvez eu pudesse encontrar o ex da Violet e dar-lhe algo para lhe dar dor de barriga.
— Eu não tenho ideia. Acontece de forma intermitente e nos momentos mais estranhos. Como eu disse, primeiro pensei que tinha a ver com a casa porque começou logo depois que eu informei Pymm's Pondside que eu ficaria aqui.
Violet levantou a mão e murmurou: — Revelare. — Eu não tenho ideia de que língua estrangeira ela estava falando, mas a energia pulsou pelo ar e minha pele começou a formigar em resposta. Um brilho azul bem claro escoou dos meus poros um segundo depois. Havia um brilho verde vindo do jardim e vários vindos do cemitério.
— O que você acabou de fazer? — Virei-me em círculo e observei a floresta e as plantas ao meu redor. O Bordo com a ninfa brilhava marrom e as flores espalhadas pelo jardim brilhavam também.
Eu me concentrei nas lápides me perguntando por que cada uma exibia uma cor diferente. Então havia a cripta. Praticamente todas as cores do arco-íris emanavam do prédio de pedra.
— Eu lancei um feitiço de revelação. Com a magia, tudo se resume à intenção e eu queria revelar qualquer coisa que sua avó possa ter escondido. Há muito mais coisas escondidas aqui, então não sei se isso vai nos ajudar. Violet acenou com os braços para abranger tudo.
— O que é isso? — Eu me movi pela folhagem antes que Violet respondesse. Havia um brilho negro que me puxava para frente. Não era nada ameaçador, mas era definitivamente uma escuridão que se parecia com o luto que carrego dentro de mim há muito tempo.
Os passos de Violet faziam barulho atrás de mim enquanto eu continuava. — Tudo isso aqui é sua terra. Sua avó acolheu vários seres perdidos e permitiu que vivessem em Pymm's Pondside, então você encontrará muitos aqui.
— Como posso conhecer todos os seres que vivem aqui comigo? É assustador não saber quem está por perto. — As árvores brilhavam aleatoriamente, assim como os buracos nos troncos e arbustos. A lua estava alta no céu, me indicando que já era tarde. Eu não saía de casa após as oito da noite há muito tempo. Era bom estar fora a esta hora da noite. Quase me fez sentir como se tivesse vinte anos novamente. Bem, se eu ignorasse o corpo dolorido, ondas de calor e fadiga.
Antes que Violet pudesse responder, parei abruptamente. Sebastian estava parado no meio da floresta com os braços cruzados sobre o peito. — O que você está fazendo aqui? Você mora na minha propriedade?
Um grunhido retumbou em seu peito. — Não. Você deixou Pymm's Pondside cerca de três metros para trás. Volte para sua casa.
Violet parou ao meu lado. — Olá para você também, Bas. Linda noite, não é?
— Por que você lançou um feitiço de revelação? Eu não queria que ela soubesse onde eu moro. — O olhar que ele lançou em minha direção foi o suficiente para me fazer estremecer, dobrar o rabo e querer fugir rastejando para casa.
— Eu não dou a mínima onde você mora. Só estou tentando entender meu papel. E não temos tempo para ficar aqui discutindo com você — informei e continuei andando. À distância, avistei uma bolha iridescente.
— Eu não estava discutindo com você, Guardiã. Mas você deve ir embora antes que se machuque. Você não sabe no que está se metendo.
Parei de andar e virei meus olhos semicerrados para o cara. — Eu saberia onde estou me metendo se você puxasse esse pedaço de pau enfiado na sua bunda e me oferecesse alguma ajuda.
Seu queixo caiu por um segundo antes que ele o fechasse. — Por que eu faria tal coisa? Se eu quisesse me envolver nessa merda, teria voltado para o Reino Feérico. E não ficado aqui perto de gentinha como você.
— Qual é o teu problema? — Eu praticamente gritei com ele. Violet saltou para frente e agarrou meu braço.
— Vamos continuar. Estarei aqui para pegar meu athame no final desta semana, Bas — gritou ela por cima do ombro enquanto me arrastava para longe.
— Esse cara é um idiota. Ele é capaz de gostar de alguém? Não, quer saber? Não me importo. O que é um athame? — Eu realmente queria saber por que Sebastian me odiava. Não que eu acreditasse que ele fosse muito legal com outros ou algo assim. Ele era mal-humorado da mesma forma quando falava com outros. Embora ele parecesse reservar o extremo da sua antipatia para mim.
— Um athame é uma lâmina cerimonial. É o principal instrumento ritualístico ou ferramenta mágica (https://en.wikipedia.org/wiki/Magical_tools_in_Wicca) entre as bruxas. Nós os usamos em rituais de magia cerimonial. Sua avó deveria ter deixado um para você, mas se você não conseguir encontrar, Bas é aquele de quem você vai querer comprar outro.
— Sem ofensa, mas não vou comprar nada daquele homem, não importa o quão sexy ele seja.
Violet emitiu um som sufocado que terminou em um acesso de tosse. Ela olhou para trás por cima do ombro e acelerou o passo. — Bas é um Feérico com uma audição excepcional.
O sangue foi drenado da minha cabeça ao mesmo tempo que todo o meu corpo queimou. Recusei-me a ver se ele estava me observando. O que eu estava sentindo não era nada mais do que uma onda de calor. Pelo menos foi o que eu disse a mim mesma. — Você poderia ter me dito isso antes. De qualquer forma, não importa o quão atraente alguém seja se for um idiota. — Eu disse a última frase um pouco mais alto, esperando que ele ouvisse isso.
Violet balançou a cabeça e apontou para a nossa frente. — Chegamos ao limite da barreira da cidade. Ela oferece uma certa proteção para nós.
Eu levantei a mão em direção a barreira iridescente na nossa frente. Um zing passou por meus dedos quando a toquei. — Isso é como um feitiço de proteção ou algo assim?
Violet balançou a cabeça. — Na verdade não. É mais um aviso para a cidade. Quando um humano sem magia ou sangue Feérico passa por ela, ela envia um sinal para que aqueles de nós que se destacam possam se esconder antes de serem vistos. Também ajuda a esconder a existência do portal em nossa cidade. É por isso que não somos invadidos por Feéricos neste mundo.
Eu examinei a área ao nosso redor e deixei cair meu braço. Os penhascos estavam à nossa frente, com Cottlehill Wilds atrás de nós. A barreira terminava à esquerda, mas não era visível à direita. — Eu estava me perguntando como vocês conseguem permanecer escondidos. Isso deve alertá-los sobre quaisquer recém-chegados. Nunca tinha visto pixies ou gnomos quando meus filhos e eu chegamos. Agora eles estão em toda parte.
Violet começou a fazer o caminho de volta para a minha casa, mas tomou o cuidado de escolher um caminho a vários metros de distância daquele que levava à propriedade de Sebastian. — Você acertou. A barreira também nos avisa quando alguém que tem magia mas não vive aqui atravessa a fronteira. Agora que você reivindicou seu lugar aqui, você não ativará mais o feitiço. Já os seus filhos sim, sempre que vierem visitar.
Caminhamos em silêncio enquanto eu analisava tudo o que havia acontecido naquele dia. A noite estava clara e o céu repleto de estrelas. Tudo parecia familiar, mas também parecia tão novo e estranho.
Os passos de Violet vacilaram quando nos deparamos com uma área onde a folhagem havia morrido. Toda a vida vegetal estava seca e marrom em um círculo de um metro. — Isso não parece nada bom.
Os olhos azuis de Violet estavam semicerrados quando encontraram os meus. — Não é. Não posso dizer ao certo o que é, mas fique alerta. Algo pode ter cruzado o portal depois que sua avó morreu e antes de você chegar. Ela nos deu poções que deveriam ter evitado isso, mas teve um período de algumas horas entre ela falecer e ser encontrada.
Meu coração começou a bater forte contra minhas costelas e minha respiração ficou presa na garganta. — O que podemos fazer a esse respeito? Precisamos fazer uma poção ou algo assim?
Violet balançou a cabeça e caminhou tão rápido que estávamos praticamente correndo de volta para minha casa. — Não. Você assumindo o papel de nova Guardiã fortificou o feitiço ao redor da terra e bloqueou o portal. Você precisa encontrar o Grimório da sua família, ou, pelo menos, o portal para que você possa monitorá-lo fisicamente. Sebastian estava certo sobre uma coisa. Nenhum dos capangas de Voron será capaz de cruzar e tomar Cottlehill Wilds para si agora que você está aqui.
— Sem pressão — respondi enquanto arfava e bufava. Queria chegar em casa, tomar um banho quente e ir para a cama. Toda essa merda poderia esperar até a manhã. Eu havia atingido meu limite. Meu corpo cansado precisava da cama macia que acabara de chegar e várias horas ininterruptas de sono.

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