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O Encontro Entre Dois Mundos
Aldivan Teixeira Torres
“O encontro entre dois mundos”é uma grande jornada dos aventureiros vidente e Renato.Está dividido em duas partes que se situam no passado e no presente respectivamente que buscam mostrar a importância da luta para concretização dos nossos ideais sejam eles quais forem. Na parte um,viagem a Sítio Fundão-Cimbres-Pesqueira-Pe ao encontro dum dos responsáveis por uma revolução no passado.Ajudados por ele,a dupla em questão é treinada até desenvolver a co-visão,chave para a visão da história.Quando estão preparados,são submetidos a ela e viajam ao início do século XX no nordeste,tempo de opressão,injustiças e preconceitos e de fome.



“O Encontro Entre Dois Mundos”
Aldivan Teixeira Torres

O Encontro Entre Dois Mundos
____________________________
Por:Aldivan Teixeira Torres
©2018-Aldivan Teixeira Torres
Todos os direitos reservados
E-mail:aldivanvid@hotmail.com


Este livro, incluindo todas as suas partes, é protegido por Copyright e não pode ser reproduzido sem a permissão do autor, revendido ou transferido.
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Aldivan Teixeira Torres, natural de Arcoverde-PE, é um escritor consolidado em vários gêneros. Até o momento tem títulos publicados em nove línguas. Desde cedo, sempre foi um amante da arte da escrita tendo consolidado uma carreira profissional a partir do segundo semestre de 2013. Espera com seus escritos contribuir para a cultura Pernambucana e Brasileira, despertando o prazer de ler naqueles que ainda não tenham o hábito. Sua missão é conquistar o coração de cada um dos seus leitores. Além da literatura, seus gostos principais são a música, as viagens, os amigos, a família e o próprio prazer de viver. “Pela literatura, igualdade, fraternidade, justiça, dignidade e honra do ser humano sempre" é o seu lema.

Sinopse
“O encontro entre dois mundos” é uma grande jornada dos aventureiros vidente e Renato. Está dividido em duas partes que se situam no passado e no presente respectivamente que buscam mostrar a importância da luta para concretização dos nossos ideais sejam eles quais forem.Na parte um, viagem a Sítio Fundão-Cimbres-Pesqueira-PE ao encontro dum dos responsáveis por uma revolução no passado.Ajudados por ele,a dupla em questão é treinada até desenvolver a co-visão,chave para a visão da história.Quando estão preparados,são submetidos a ela e viajam ao início do século XX no nordeste,tempo de opressão,injustiças e preconceitos e de fome.Durante todo o tempo, observam o exemplo da população lutadora da época,especialmente um grupo que toma parte ativa na trama.Contudo,Será que tiveram sucesso absoluto em seus objetivos?Desmascaram as elites?Ou fracassaram?E ainda será que conseguiram o tão esperado encontro de mundos tão dispares em relação á classes sociais,opiniões,estereótipos e amor?Vale a pena conferir.Na parte dois,a dupla realiza nova viagem com o objetivo de concluir seus trabalhos e alcançar o milagre tão procurado.Desta feita,vão a Carabais procurar um segundo personagem do passado e ao encontrá-lo são submetidos a novo treinamento.Quando prontos,a parte dois da história se mostra.Nela,o leitor se deparará com os seguintes questionamentos:Até que ponto a questão social atrapalha no sucesso?É viável persistir mesmo depois de vários fracassos?Vale a pena privar-se do amor por conta de preconceitos sem ao menos tentar?Alguém que tem um dom pode considerar-se especial ou isto pode ser loucura?Tudo isto e muito mais você vai conferir na história de Divinha,alguém em busca do destino e do sucesso que todos nós merecemos.

Dedicatória
Dedico este terceiro livro a minha família, aos meus mestres da vida que tanto me ensinaram, aos amigos e pessoas maravilhosas que passaram na minha vida e que deixaram tantas saudades, aos colegas do trabalho atual do Inss-Aps Arcoverde que me receberam de braços abertos, enfim, a todos que torcem por mim, que me incentivam e não deixar de acreditar que é possível um mundo melhor e mais justo. Espero contribuir um pouco para a popularização da literatura neste país tão rico culturalmente.

Agradecimentos
Meus agradecimentos especiais a todos que acompanharam a minha trajetória e do projeto o vidente. Em especial a minha professora primária Dona Socorro que acompanhou as primeiras letras; A professora de Literatura Jose que um dia ao corrigir uma redação profetizou que eu seria um grande homem; A todos os meus outros mestres do primário,ginasial,ensino médio, graduação e especialização dos Colégios Luiz Tenório de Albuquerque, Educandário Jesus de Nazaré,EREMJAM,IFPE e UPE AESA-CESA;A todos meus ex-colegas dos colégios citados anteriormente; aos parentes,conhecidos,amigos,simpatizantes,leitores e especialmente para os que torcem para a literatura brasileira se desenvolver. Um abraço carinhoso a todos e vamos mostrar que este país não é só carnaval e futebol. É cultura também.

“Ninguém acende uma lâmpada para cobri-la com uma vasilha ou colocá-la debaixo da cama. Ele a coloca no candeeiro, a fim de que todos os que entram, vejam a luz. De fato, tudo o que está escondido, deverá tornar-se manifesto; e tudo que está em segredo, deverá tornar-se conhecido e claramente manifesto. Portanto, prestem atenção como vocês ouvem: para quem tem alguma coisa será dado ainda mais; para aquele que não tem, será tirado até mesmo o que ele pensa ter”. (LC 8,16-18)

Sumário
“O Encontro Entre Dois Mundos” (#)
O Encontro Entre Dois Mundos (#)
Sinopse (#)
Dedicatória (#)
Agradecimentos (#)
Introdução (#)
Parte I (#)
Visita (#)
A viagem até o sítio (#)
A descoberta do encontro de dois mundos (#)
Conhecendo o sítio (#)
O primeiro desafio:Sabedoria (#)
O aprendizado assimilado da “sabedoria” (#)
Entendimento (#)
Reencontro (#)
O jantar e a noite no Sítio Fundão (#)
O terceiro dom (#)
Continuando a preparação (#)
Descobrindo o dom da fortaleza (#)
Pós-desafio (#)
O dom de ciência (#)
A última etapa no sítio (#)
Sítio Fundão, Cimbres-Pernambuco,03 de novembro de 1900 (#)
1-Infância (#)
1.1-Sitio Fundão,01 de agosto de 1900-Nascimento (#)
1.2-Comemoração (#)
1.3-Festa de Batizado (#)
1.4- Os primeiros brinquedos (#)
1.5-A doença e a primeira palavra (#)
1.6-Finalmente,em pé (#)
1.7-Visita de parentes (#)
1.8-O período de dois anos (#)
1.9-O primeiro dia na escola (#)
1.10-A primeira surra (#)
1.11-O nascimento do segundo filho (#)
1.12-Mais três anos se passam (#)
1.13-Algumas experiências interessantes na vida dos dois irmãos (#)
1.14-A descoberta do amor (#)
1.15- A nova rotina (#)
1.16-As histórias de Dona Filomena (#)
1.17-O código de conduta de Dona Filomena (#)
1.18-Estórias de caçador (#)
1.19-Despedida (#)
1.20-Fim da infância (#)
2.Adolescência e fase adulta (#)
2.1-Os dons avançam (#)
2.2-O primeiro encontro com Angel (#)
2.3-Decisão importante (#)
2.4-A primeira experiência (#)
2.5-Passeio na cidade (#)
2.6-Forrozinho (#)
2.7-A segunda etapa do tratamento (#)
2.8-O circo (#)
2.9-O acidente (#)
2.10-A terceira etapa do tratamento (#)
2.11-Primeiros sintomas (#)
2.12-As novidades da família Magalhães (#)
2.13-Quarta etapa (#)
2.14-A volta ás aulas (#)
2.15-No hospital (#)
2.16-Quinta etapa (#)
2.17-O encantamento (#)
2.18-Um novo dia (#)
2.19-Fim de semana (#)
2.20-Apresentação (#)
2.21-Sexta etapa de tratamento (#)
2.22-Uma boa notícia (#)
2.23-Anúncio (#)
2.24-Visita planejada (#)
2.25-Sétima etapa (#)
2.26-Resultados (#)
2.27-Reunião (#)
2.28-Oitava etapa (#)
2.29-Dor (#)
2.30-Velório e enterro (#)
2.31-Recomeço (#)
2.32-Manipulando energias (#)
2.33-Conhecendo-se melhor (#)
2.34-Contato pós-morte (#)
2.35-Cultivando o fogo da amizade (#)
2.36-Proposta (#)
2.37-Recesso escolar (#)
2.38-Retorno às aulas e uma surpresa (#)
2.39-Revelação inesperada (#)
2.40-Um novo encontro (#)
2.41-Início de atuação (#)
2.42-Reencontro (#)
2.43-Repercussão e reação (#)
2.44-A ideia (#)
2.45-O dia (#)
2.46-O ritual (#)
2.47-A segunda rodada (#)
2.48-O nascimento de mais um filho (#)
2.49-O período de dois anos e meio (#)
2.50-Noivado (#)
2.51-A última tentativa (#)
2.52-Casamento (#)
2.53-Mudança (#)
2.54-Inauguração (#)
2.55-Justiceiros em atuação (#)
2.56-Uma semana depois (#)
2.57-Encontro em família (#)
2.58-Novos amigos (#)
2.59-Nova ação dos justiceiros (#)
2.60-Telepatia física (#)
2.61-A Rezadeira (#)
2.62-Decisão importante (#)
2.63-Passeio (#)
2.64-Reação (#)
2.65-Hipnose (#)
2.66-O roubo (#)
2.67-Na delegacia (#)
2.68-Casamento (#)
2.69-Choque (#)
2.70-Nova reunião (#)
2.71-Abstração (#)
2.72-Resultado da investigação (#)
2.73-Pós-comunicado (#)
2.74-Reabertura (#)
2.75-A ação do grupo de amigos (#)
2.76-Justiceiros novamente em ação (#)
2.77-Os segredos da levitação (#)
2.78-Visita e posterior experiência (#)
2.79-A visita de Sara (#)
2.80-Emboscada (#)
2.81-Aprendizado duplo (#)
2.82-A ideia (#)
2.83-Os cangaceiros (#)
2.84-O outro dia e a batalha (#)
2.85-Revolta (#)
Parte II (#)
1-Despertar (#)
2-Temor de Deus (#)
3-O valor da amizade (#)
4-Cumplicidade (#)
5-Reflexões (#)
6-Mediunidade (#)
7-O segredo das sete portas (#)
8-Pré-vida (#)
9-Nascimento (#)
10-Os cinco primeiros anos (#)
11-O vampiro (#)
12-Outros fatos deste ano (1989) (#)
12.1-Acidentes (#)
12.2-Fatos espirituais (#)
12.3-Fatos sociais (#)
13-O ano da mudança (#)
14-O período de 1991-1997 (#)
15-A despedida (1998) (#)
16-processo de transição (#)
17-O período de (1999-2000) (#)
18-Novo rumo(2001-2002) (#)
19-viagem de despedida (#)
19.1-Primeiro dia (#)
19.2-O segundo dia (#)
20-A nova realidade (#)
21-Seis meses depois (#)
22-Experiências (#)
22.1-Possessão (#)
22.2-Pós-morte:Disputa por almas (#)
22.3-Pós-morte:O preço amargo de uma alma (#)
22.4-Encontro com Deus (#)
22.5-A autoridade de Deus (#)
22.6-A importância do homem no plano de Deus (#)
22.7-Experiência extracorpórea (#)
22.8-Experiência Além-do-tempo (#)
22.9-Cura espiritual (#)
22.10-O ataque dos demônios (#)
22.11-O anjo e o mensageiro (#)
22.12-O pesador (#)
23-Segredos (#)
23.1-A pressão da terra (#)
23.2-A proposta de Deus (#)
23.3-A vinda de Gabriel (#)
23.4-Uma nova chance (#)
23.5-O encontro com o Diabo (#)
23.6- “A cidade dos homens” (#)
23.7- “O pescador” (#)
24-O período de três anos (2004-2006) (#)
25-Novo ciclo (#)
26-Início do trabalho e das aulas (#)
27-Fatos importantes em quatro anos(2007-2010) (#)
27.1-O livro estigmatizado (#)
27.2-O sonho da literatura (#)
27.3-Novos desafios (#)
27.4-2009 (#)
27.5-O último ano de faculdade (#)
28-Tempo atual (#)
29-Volta ao quarto (#)
30-Em casa (#)
Conclusão (#)

Introdução
“O Encontro entre dois mundos” é uma grande jornada dos aventureiros vidente e Renato. Está dividido em duas partes que se situam no passado e no presente respectivamente que buscam mostrar a importância da luta para concretização dos nossos ideais sejam eles quais forem.
Na parte um, viagem a Sítio Fundão-Cimbres-Pesqueira-PE ao encontro dum dos responsáveis por uma revolução no passado. Ajudados por ele, a dupla em questão é treinada até desenvolver a co-visão, chave para a visão da história. Quando estão preparados, são submetidos a ela e viajam ao início do século XX no Nordeste o qual é um tempo de opressão, injustiças, preconceitos e de fome. Durante todo o tempo, observam o exemplo da população lutadora da época. Especificamente, um grupo que toma parte ativa na trama. Contudo, será que tiveram sucesso absoluto em seus objetivos? Desmascaram as elites? Ou fracassaram? E ainda será que conseguiram o tão esperado encontro de mundos tão dispares em relação á classes sociais, opiniões, estereótipos e amor? Vale a pena conferir.
Na parte dois, a dupla realiza nova viagem com o objetivo de concluir seus trabalhos e alcançar o milagre tão procurado. Desta feita, vão a Carabais procurar um segundo personagem do passado e ao encontrá-lo são submetidos a novo treinamento. Quando prontos, a parte dois da história se mostra. Nela, o leitor se deparará com os seguintes questionamentos: Até que ponto a questão social atrapalha no sucesso? É viável persistir mesmo depois de vários fracassos? Vale a pena privar-se do amor por conta de preconceitos sem ao menos tentar? Alguém que tem um dom pode considerar-se especial ou isto pode ser loucura? Tudo isto e muito mais você vai conferir na história de Divinha, alguém em busca do destino e do sucesso que todos nós merecemos.
Boa leitura, o autor.

Parte I
Visita
Após a resolução da segunda aventura do vidente, voltei a rotina normal do trabalho, do contato social e das relações inter-humanas. Fiquei um bom tempo sem contato com Renato, a guardiã ou até mesmo o hindu e a sacerdotisa, companheiros de caminhada. Até que num belo dia de sol quando eu aproveitava um momento de lazer com meus familiares, escutei uma voz fininha me chamando de longe. Ao direcionar minha visão para voz, meus olhos encheram-se de lágrimas pois reconheci minha benfeitora que tinha me ajudado a superar meus desafios e entrado na gruta mais perigosa do mundo, na minha primeira viagem à montanha.
Ao se aproximar mais, levantei-me para cumprimentá-la, dei-lhe um beijo e um grande abraço e aproveitei para apresentá-la a minha mãe e meus irmãos. O contato foi breve mas intenso. Discretamente, ela me pediu uma conversa particular, eu aceitei o convite e juntos nos dirigimos ao meu quarto a fim de termos mais privacidade. No caminho, nossos olhares cruzaram-se e os dela me transmitiam confiança e até certo ponto uma dose de mistério. Com mais alguns passos, entramos no recinto, ela elogia a decoração, eu agradeço e ofereço uma cadeira disponível enquanto eu me sento na cama. Ficamos frente a frente e a mesma inicia o diálogo.
—É um prazer revê-lo, filho de Deus, como tem passado? Estou aqui porque sinto uma nuvem de dúvidas e de incertezas pairando na sua vida, dificultando sua evolução como vidente e como homem. Acredito que posso ajudá-lo servindo para indicar o caminho, como no nosso primeiro encontro. Está preparado para arriscar mais uma vez?
—Também é um prazer revê-la. Sua ajuda foi fundamental para que eu começasse meu projeto na literatura e já estou no terceiro livro. Agradeço por tudo. Sim, é verdade, estou cheio de dúvidas em relação ao meu passado, presente e o meu futuro incerto apesar de todas as promessas que recebi dos espíritos superiores. Preciso de um caminho. Preciso evoluir mais. O que devo fazer?
—Olhando para você me lembro de um jovem com as mesmas dificuldades e com os mesmos anseios. Trata-se dum antepassado seu chamado Vitor, o vidente. Ele superou suas dificuldades, estudou a magia e desenvolveu seus dons fazendo com que o mesmo fosse vencedor em tudo. A sua família é de uma linhagem espiritual desenvolvida capaz mesmo até de realizar milagres.
—Eu já ouvi falar do Vitor. Alguns dos seus feitos chegaram até minha geração. Só não sei tenho tanto potencial ou coragem como ele. Diga-me guardiã, tenho possibilidades?
—E você me pergunta uma coisa dessas? Você de apenas um simples sonhador, já venceu desafios, enfrentou a gruta mais perigosa do mundo, entendeu e encontrou as respostas para sua noite escura da alma e ainda tem dúvidas? Confie mais em si e continue seu caminho. O que posso te dizer que seu potencial é muito bom e como vidente pode realizar milagres no tempo e no espaço.
—Obrigado pelo elogio. O que devo fazer então?
—Você deve ser treinado por uma pessoa especial que domina os seis primeiros dons do espírito santo. Esta pessoa se chama Angel e tem cento e treze anos. Ele conviveu quando jovem com Vítor e foi muito especial em sua vida. A fim de encontrá-lo você deve se dirigir ao sítio fundão, zona rural de Pesqueira, neste mesmo município. Ele mora numa casinha simples de sapê, neste referido sítio. Chegando lá, você começará a entender melhor seu caso e no fim de tudo poderá se desenvolver e desenrolar o véu do tempo solucionando seus problemas.
—Entendi. Já ouvi falar do sítio fundão e sei onde fica. É próximo daqui. Quando devo ir?
—Imediatamente. Vá fazer suas malas e quando estiver pronto, despeça-se de sua família. Mas antes disso, tenho uma surpresa.
A guardiã assobiou e numa questão de segundos ouvi um barulho de passos, uma batida na porta do meu quarto e ao abrir, deparei-me com meu companheiro de duas aventuras atrás, O Renato, segurando uma mala. O observei de cima a baixo e notei como estava crescido, másculo e bonito o até então pequeno garoto quando o conheci em 2010. Sem pensar, dei-lhe também um grande abraço. Lágrimas insistentes escorreram em nossos rostos pela emoção do momento. Quando nos separamos, perguntei-lhe o que significava tudo aquilo e ele me respondeu simplesmente que iria me ajudar mais uma vez. Agradeci a guardiã e a Renato pelo apoio. Pouco depois, ela se despediu e fui arranjar minha mala conforme recomendado. Nesta tarefa, obtenho ajuda do meu fiel escudeiro. Quando terminamos, me despedi dos meus familiares, saí da casa junto com Renato e caminhamos um tempo em direção ao ponto de lotação. Ao chegarmos lá, nos apresentamos e contratamos um motorista para nos levar até o sítio fundão. Ele se chama Geronimo e acertamos com o mesmo a ida. Começaria aí uma nova aventura em busca do conhecimento e do destino ainda incerto. Vamos junto, leitores!

A viagem até o sítio
Subimos no automóvel, fechamos a porta e em questão de segundos ele parte. Como a viagem era até certo ponto longa começamos a conversar entre si a fim de nos distrairmos. Falamos um pouco de tudo transcrito em alguns trechos abaixo:
—E como você passou, garoto, este período em que estávamos separados? Estudou muito? (O vidente)
—Levei a vida na minha rotina normal: O trabalho com a guardiã e seus ensinamentos no intuito de te ajudar nas aventuras, o estudo diário na escola de Mimoso, as saídas com os amigos e as namoradas. Mas em todo tempo pensei em ti. Eu já estava com saudades das nossas peripécias. E você? (Indagou ele)
—Eu também cumpri minha rotina que inclui trabalho no setor público, os contatos sociais, a evolução espiritual, novos aprendizados da vida, conhecer novas pessoas, mas também já estava com saudades da minha vida de escritor, de vidente. Obrigado pelo interesse e sua ajuda. Sem você não teria conseguido muita coisa. Já em relação ás namoradas, você não é muito jovem para pensar nisso? Não concorda, Geronimo? (Divinha)
—Tem toda razão, seu vidente. Meninos devem brincar de bola em vez de ficarem se esfregando nas meninas. É muita responsabilidade para quem não tem a mente bem formada. Pode acontecer algum acidente. (Observou Geronimo)
—Deixem de ser caretas, não sou tão menino assim e posso provar. Já tenho barba, pelos nas axilas e em alguns outros lugares que o pudor não me permite mencionar. Além do mais, não é nada sério, só são alguns esfregões. (Protestou Renato)
—Está bem. Vou fingir que acredito. Como se eu não te conhecesse,menino. Mas, mudando de assunto, vocês viram no noticiário em que precariedade está nossa saúde? Filas e mais filas nos hospitais públicos e pessoas precisando de atendimento urgente na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) dos hospitais e não tem vaga? O que vocês me dizem? (O filho de Deus)
—Eu vi sim, seu vidente, e é uma vergonha para nosso país e nossos governantes. Todos os atendimentos estão devendo, mas parece que o povo está mais consciente e protesta a todo o momento. Precisamos valer nossos direitos porque pagamos impostos, trabalhamos quatro meses para ter serviços públicos de qualidade e não temos. Esta realidade não é só da saúde, temos problemas latentes na educação, transportes, saneamento, indústria, etc. Acredito que só a sociedade pode mudar esta realidade e uma saída para isto é protestando pacificamente, elegendo dirigentes mais justos e dignos e fazendo sua parte ajudando o próximo sem pensar em receber alguma coisa em troca. (Geronimo)
—Mas muita coisa já melhorou. Sou jovem, mas me disseram que o Brasil tinha uma inflação galopante e que na década de noventa criaram um plano econômico que freou este processo. Tudo a partir daí melhorou. Com a estabilidade nos preços, a economia cresceu, houve geração de emprego e renda e já estamos entre os países emergentes. Mas concordo que temos muito a melhorar na qualidade de vida de nossa população que merece muito pois é um povo muito esforçado e cheio de sonhos. Ser um brasileiro para mim é um orgulho. Ainda seremos o número um do mundo em todos os sentidos. (Renato)
—Tomara, Renato e que nosso futebol ganhe a copa e tenha uma boa participação nas olimpíadas para alegrar nossa população sofrida. (O vidente)
—E que meu time ganhe o campeonato brasileiro. (Completou Geronimo)
—Qual o seu time? (Indagou Renato)
—Segredinho. Não quero desagradar meus mais novos amigos. (Geronimo)
—Eu torço por Pernambuco. É meu estado e por ele batalharei. Em especial farei isso através da literatura. Quero que todos tenham orgulho de mim. (O vidente)
—Você escreve? Interessante. Sobre o que você escreve? Como surgiu este dom? (Indaga Geronimo)
—Sim, escrevo. Minha história começou em 2010 quando num impulso viajei a uma montanha que prometia ser sagrada em busca de encontrar meu destino. Escalei sua íngreme trilha e, ao chegar no seu topo, tive um encontro que mudou a minha vida. Conheci a guardiã, um ser ancestral detentor de muitos mistérios que me orientou e me ajudou a realizar desafios dificílimos culminando em minha aprovação nas etapas. Então tive a permissão de chegar ao meu objetivo: Enfrentar a gruta do desespero, um local em que me poderia tornar um escritor ou qualquer outro sonho que tivesse. Mesmo tomado pelo medo pois o fracasso me custaria a vida, entrei, driblei armadilhas, avancei cenários e em dado momento cheguei à câmara secreta. Ao entrar na mesma, desenvolvi parcialmente meus dons e me transformei no vidente, um ser superdotado. Com meus novos poderes, pude realizar minha primeira viagem no tempo e em trinta dias vivi em Mimoso junto com meu fiel parceiro Renato aventuras incríveis. No final, reuni as forças opostas, resolvi conflitos e injustiças e ajudei alguém a se encontrar. Tudo o que vivi foi documentado no meu primeiro livro que publiquei em 2011 nomeado “Forças opostas”. Depois desta primeira vitória, passei um tempo me dedicando a terminar a faculdade e resolvendo problemas pessoais. Ao sentir-me preparado, voltei a montanha em busca duma nova aventura. Encontrei novamente a guardiã, conheci o hindu e fui preparado para começar a compreender um período difícil da minha vida que denominei de “Noite escura da alma”, onde me esqueci de Deus e dos meus princípios. Fiz uma viagem pelos pecados capitais, os dominei e no momento certo, fiz uma nova viagem a uma ilha perdida em busca da sacerdotisa, uma mestra da noite, do reino dos anjos e do Eldorado, um lugar de encontro do mundo espiritual e carnal. Também fui aprovado nesta etapa e com a minha experiência escrevi meu segundo romance intitulado sugestivamente de “A noite escura da alma”. Por enquanto é isto. Quero aprender mais e descobrir um pouco mais do meu destino.
—Sem esquecer que em todos os momentos eu estava presente ajudando-lhe. (Completou Renato)
—Que história interessante. Cara, devo te confessar que sou seu fã só pelo seu esforço em batalhar por um sonho. Muitas pessoas desistem na primeira dificuldade. Muita sorte e sucesso em seu caminho. (Elogiou Geronimo)
—Obrigado. Aumente a velocidade que estou ansioso por chegar ao sítio fundão e viver novas experiências. (O vidente)
—Eu também. (Renato)
—Tudo bem. Segurem nos cintos. (Geronimo)
O automóvel acelerou e ultrapassamos rapidamente, através da Rodovia BR 232,O sítio Rosário, o povoado Novo Cajueiro,O sítio Riacho fundo,o Povoado Ipanema,entre outros. Neste ponto, já estávamos bem próximos da sede do município, Pesqueira.Até que repentinamente ouvimos um estrondo e o carro desgovernou-se um pouco. Gritamos com muito medo, mas Geronimo era um motorista bem experiente e soube controlar a situação. Conseguiu parar em segurança no acostamento. Descemos do carro a fim de verificar o ocorrido e Geronimo nos acalmou, se abaixou, tirou a camisa e trocou o pneu que tinha furado. Esta manobra durou cerca de trinta minutos e aproveitamos para nos hidratar. Quando tudo estava resolvido, entramos no carro novamente, partimos mais lentamente, chegamos a Pesqueira e pegamos um desvio numa estrada de terra. Esta estrada nos levaria ao destino. Esta parte da viagem durou cerca de trinta minutos entre conversas, descobertas e muita ansiedade da nossa parte. Ao chegar ao sítio, nos movimentamos um pouco em círculos até encontrar alguém que nos orientasse e depois de muito vaivém chegamos a casinha de sapê onde Angel morava. Pagamos a passagem, descemos do carro com as malas, nos despedimos de Geronimo, ele vai embora e nós nos aproximamos da casa. Um pouco sem graça, avançamos ainda mais e batemos na porta que estava entreaberta. Cinco minutos depois, uma figura dum ancião magro e esquelético se apresentou com um semblante sorridente, mas um pouco fechado. A que devo a honra da visita de dois jovens tão bonitos? Pergunta ele depois de abrir a porta.
—Meu nome é Aldivan, mas pode me chamar também de filho de Deus ou de vidente, meus outros nomes. Este que me acompanha se chama Renato e é meu companheiro de aventura. Juntos viemos aprender com o senhor se assim nos permitir. (Declarei)
—Ahan! Eu já ouvi falar de vocês dois. A fama de vocês ultrapassou fronteiras. É uma honra tê-los comigo. Ajudarei em que for preciso. Em qual tema querem se aprofundar? (Respondeu o ancião)
—A guardiã nos informou que você domina os seis primeiros dons do espírito santo e precisamos entendê-los para evoluir mais. (Informou Renato)
—Precisamos criar uma linha de conexão dos dons com a minha mediunidade e clarividência pouco desenvolvida para entender presente, passado e futuro que nos cerca e não entendemos. (Complementei)
—Tem certeza do que estão falando? Desenvolver os dons do espírito santo é uma atitude sadia, mas se relacionados com a mediunidade podem criar um desequilíbrio cósmico entre os dois mundos e fazê-los encontrar-se ocasionando até a loucura. É muito perigoso o que estão me pedindo e uma pessoa no passado sofreu muito com suas escolhas. E se voltar a se repetir? (O velho)
—Não sabíamos que o risco era tão grande, mas não suporto mais meus estigmas e a linha de contato espiritual. É um martírio muito grande. Preciso de ajuda urgente. (Supliquei)
—Calma. Abaixe a cabeça. (ordenou Angel)
Obedeci prontamente. Fiquei imóvel e mãos suaves deslizaram na minha cabeça. Senti raios de energia penetrarem na minha mente atormentada e que me deram um pouco de alívio. Fechei os olhos, fiz uma oração e me senti ainda melhor. Em dado momento, Angel retirou as mãos e se afastou um pouco e ficou a refletir, de costas para nós. Quando se virou, o seu olhar traduzia um pouco de mistério misturado com tristeza.
—Sabe, filho de Deus, você me fez lembrar alguém que amei muito no passado. Se chamava Vitor e era um homem espiritualmente muito desenvolvido. Comparando vocês dois, ele era mais experiente e mais decidido, rude, o típico homem sertanejo enquanto você é inocente, puro, sensível, uma pessoa bem legal. Neste caso, isto é desvantagem para você neste mundo porque a vida é bonita, mas cruel e desafiadora. Isto torna o que você quer fazer mais complicado ainda. Mas há uma chance se quiser correr os riscos, sofrer e ir até o fim. Está preparado? (Indagou o mestre)
—Sim. Não viajei até aqui só para conversar. Eu costumo enfrentar os desafios mesmo que gigantescos. Farei tudo o que mandares. Só a cargo de informação, Vitor era da minha família. (Divinha)
—Confie nele, Angel e em mim. Seguiremos seus conselhos e não decepcionaremos. (Complementou Renato)
—Muito bem. Gostei Renato do seu tom decidido e Aldivan você é também da família Torres? Entendo porque você é assim. É de família. Mas sabe mesmo um pouco da história de Vitor? (Angel)
—Sim, um pouco. Todos o chamavam de sábio. Ouvi falar que conhecia vários segredos espirituais e dominava um pouco a magia. Será que tenho potencial como ele? (O filho de Deus)
—Sim, seu potencial é imenso pois você possui uma mente muito poderosa. Mas não se engane. Seu caminho não é o mesmo de Vitor. Você é outra pessoa, livre de vícios, pura, cheio de luz, com uma aura linda e não permitiria a você manchar isto. Deus quer que permaneça assim pois o trata como filho. Vou ajudá-lo a desenvolver seus dons, a controlar seus desejos e entender melhor o plano espiritual. Você precisa apenas de orientação para não cair em armadilhas ou na “Noite escura da alma “novamente. No entanto, tudo tem o seu preço e você está disposto a pagar? (Angel)
—Claro. Qual é o preço? (o vidente)
—No momento certo, saberás. Por enquanto, siga-me e seu companheiro também. (o mestre)
Angel entrou na casa, o acompanhamos e acomodamos as nossas coisas perto da parede direita do vão único da casa. Ele nos mandou deitar. Eu numa cama de capim e Renato na rede. Mandou nos acalmar e descansar da viagem. O que aconteceria daí por diante? Continue acompanhando, leitor.

A descoberta do encontro de dois mundos
Obedecemos ao nosso atual mestre, Angel.Deitamos e tentamos esquecer nossas preocupações. Com muito custo, conseguimos relaxar pouco a pouco e em dado momento fui perdendo os sentidos. No momento em que adormeci, meu espírito desprendeu-se da minha carne e comecei a realizar uma viagem astral inusitada. Transportei-me do plano material e passei rapidamente por trevas, luz e um plano intermediário chamada cidade dos homens. Fiquei encantado com a experiência, mas não tive permissão de permanecer por muito tempo nestes lugares.
Detalhadamente, explicarei minha experiência. Nas trevas, andei pelo abismo e posso descrever que era um lugar tenebroso, repleto de larvas de vulcões espalhados por toda a superfície e pessoas e anjos maus sendo castigados nele, traduzindo-se em criaturas horríveis e muito sofredoras. Meu objetivo de visita era avisar que aquele reino estava chegando ao fim e bradei isso aos quatro ventos. No entanto, não intimidei e como resposta fui agarrado por uma criatura que me encarou e disse:-Saia daqui, você não pertence a este lugar. Não nos atormente antes do tempo.Repliquei,com outra resposta: Você sabe com quem está falando? A Criatura não se impressionou e disse:-Eu sei muito bem quem você é. Mas aqui é meu reino e eu nasci para governar. Depois dessa resposta, uma força nos afastou e desta feita me aproximei da luz. Entrei rapidamente no paraíso, conheci irmãos bem aventurados, repletos de luz fazendo parte duma sociedade bem organizada trabalhando para o sucesso da nossa além da proteção espiritual.À medida que ia avançando nesta realidade espiritual e me aproximando do palácio real,me sentia cada vez melhor e mais feliz. Foi me dado permissão para entrar na morada de Deus e contemplar sua glória. Ao entrar, é difícil descrever em palavras a grandeza do mesmo. Posso dizer apenas que vim uma grande claridade e dela saíam raios de luz que envolviam meu ser numa completa comunhão, como se fôssemos um só, interligados completamente. Senti um misto de paz,libertação,amor e felicidades juntas nunca antes experimentada por um mortal. Depois da experiência com Deus e meu pai, meu espírito novamente se afastou e aproximou-se do plano espiritual mais próximo da terra, a cidade dos homens. Fui bem recebido, e eles moram em cidades espirituais semelhantes a nossas. Nesta ocasião, pude ver muitos irmãos mas não pude me aproximar deles por conta do meu desenvolvimento. Mas, pelo pouco que vi , eles são como nós, espíritos intermediários, muito amados por Deus e que tem as mesmas necessidades de que quando estavam vivos seja em relação ao alimento, ao amor ,ao sexo ,com sentimentos e que devem sempre ser respeitados. Foi permitido que algum deles me acompanhassem a fim de me proteger dos meus inimigos e me dar conselhos quando fosse mais necessário.Depois dum breve momento, saí do plano espiritual, viajei velozmente no caminho e ,quando cheguei ao plano terra , me concentrei em mim mesmo. Repentinamente, fui envolvido por uma fumaça branca e que fez meu corpo espiritual ganhar velocidade, entrar num túnel que me faz passar pelo passado, presente e futuro, mas sem visualizá-lo. Quando ia chegando ao final do túnel, senti um toque muito forte. No mesmo instante, despertei com um cansaço enorme depois de viver tantas experiências espirituais intensas. Ao meu lado, estava Angel, com um sorriso no rosto.
—E aí? Sonhou com os anjos? (Angel)
—Acabo de ter um sonho estranho, uma viagem astral sem limites. Fui ao inferno, ao céu, à cidade dos homens e passei por toda a minha história. Mas ainda não entendi o porquê de tudo isso. (Divinha)
—É normal. Você testou alguns de seus limites e quando se desenvolver completamente terá acesso total a estes lugares. O conhecimento o fará único na terra. Mas não se precipite nem tire conclusões agora. Deixe o destino se mostrar por completo. (Aconselhou Angel)
—Entendi. Qual o primeiro passo? (Aldivan)
—Levante-se e vamos passear no sítio. Quero mostrar um pouco do meu mundo e do seu antepassado, Vítor.Talvez isto desperte um pouco sua sensibilidade. (O ancião)
—Tudo bem. (O vidente)
Levantei-me da cama, nos aproximamos de Renato, o despertamos e ele saiu da rede.Juntos,nós três nos encaminhamos a saída, com Angel servindo de guia. O que nos esperava? Conseguiríamos nos desenvolver completamente? Continue acompanhando, leitor.

Conhecendo o sítio
Ao sairmos da casinha de sapê, Angel escolheu uma trilha em direção ao norte e o acompanhamos sem replicar. Caminhamos lentamente o que nos faz ter a oportunidade dum contato com a natureza e clima sertanejos. Achamos tudo maravilhoso, diferente e desconhecido. Enquanto caminhamos, Angel quebra o silencio e começa a contar um pouco da sua história:
—Renato e Aldivan, há cento e treze anos exatamente vivo. Boa parte deste período aqui neste sítio e para mim este é o melhor local do mundo. Foi aqui que obtive conhecimento sobre a natureza, Deus e as pessoas. Amei, sofri, chorei como qualquer pessoa normal e o conselho que dou é que se entregue as experiências sem medo. É melhor arrepender-se do que fez do que nunca ter feito. Em suma, fui feliz e quando eu morrer estarei satisfeito.
—Que interessante. Também vivi muitas experiências apesar de ter menos de um terço de sua idade. Estou em busca do meu caminho e quero cumprir mais esta aventura. Já reuni as” forças opostas”, entendi a complexa “Noite escura da alma” e agora estou em busca de desenvolver meus dons. Mas tenho que confessar que ainda não aproveitei a vida como deveria por causa dos meus próprios preconceitos. (Eu,o vidente)
—Tenho catorze anos e minha experiência resume-se a convivência numa família complicada onde meu pai me obrigava a trabalhar continuamente e não podia nem sequer estudar. Depois de tanto sofrer, resolvi fugir e a guardiã me adotou. Pude então estudar e brincar como qualquer criança normal e fui escolhido para ajudar um jovem sonhador em seu objetivo de conquistar o mundo. Agora, aqui estou junto dele em uma nova aventura. (Renato)
—Muito bem. Vocês fazem uma dupla perfeita. Eu também tinha um companheiro quando jovem e desbravamos os sertões em busca de justiça, paz, desenvolvimento espiritual em uma sociedade cheia de preconceitos. Não conseguimos conquistar tudo porque aqueles tempos eram difíceis. Mas confesso que fui feliz mesmo assim.(Angel)
—Que bom. Espero também ser feliz e me realizar profissionalmente. Renato, obrigado pelo apoio. (Eu, o vidente)
—De nada. Faço apenas minha obrigação. (Renato)
A conversa instantaneamente para, o silêncio reina e continuamos a caminhar. Dobramos a direita, a esquerda em vários lugares e em dado momento chegamos a uma árvore frondosa e gigantesca. Angel para e pede que façamos o mesmo. Ele se abraça na mesma mas não consegue abarcá-la. Fica emocionado, chora, ri, enfim vive uma explosão de sentimentos em questão de segundos. Depois, senta e nós o acompanhamos.
—Sabe o que isto significa para mim? Representa um símbolo de amor, amizade e companheirismo. Por favor, abracem esta árvore de olhos fechados e sintam.
Obedecemos ao mestre e no mesmo instante, sinto uma tonteira muito forte, o sangue ferve, o mundo gira, e parece que estou de frente com a pessoa amada. É muito forte o que sinto e esqueço todos os entraves, as culpas, os problemas e sinto que vale a pena mesmo amar mesmo que a outra pessoa não reconheça. Encho-me de coragem, grito o nome da pessoa e digo:Amo-te. Não preciso me preocupar com nada pois do meu lado estão pessoas da minha inteira confiança. Depois do êxtase, sento e choro um pouco. Renato, também senta e chora, mas ele nos conta sua experiência mais pura que guardamos em segredo a fim de preservá-lo.
Conversamos mais um pouco, refletimos e combinamos de continuar o passeio. Seguimos agora em outra trilha rumo ao sul.O começo da nova caminhada é um pouco desgastante pois tínhamos vividos emoções intensas anteriormente mas não deixava de ser desafiadora e instigante. A cada passo dado, encontrávamos um novo mundo onde viveram nossos antepassados e criaram história e agora cabia a nós transformar o mundo. Pensando nisso, avançamos velozmente e paramos algumas vezes a fim de nos hidratar. Em dado instante, a trilha se abre e nos mostra uma extensa planície rochosa. Então, Angel nos convida a nos aproximar mais. Ele pede que sentemos, nós obedecemos e nos conta um pouco da história daquele lugar.
—Este foi o local combinado de encontro entre o nosso grupo de justiceiros do sertão e os famosos cangaceiros do bando de Virgulino.Aqui nos reunimos e tratamos de nossa ação contra as elites daquela época. Bons tempos aqueles. Éramos considerados heróis pelo povo em geral. Contudo, na verdade, buscávamos apenas um pouco de igualdade e justiça.
—Que lindo. Se tivéssemos ações parecidas com essa nos tempos atuais não teríamos tantos problemas e preconceitos em nossa sociedade. (Afirmei, o vidente)
—Concordo, vidente. Mas nos últimos tempos vimos algumas ações exigindo mudança louváveis. (Complementou Renato)
—Sim, é verdade. Os jovens de hoje não são diferentes dos de outrora. As situações é que mudaram. Muita coisa melhorou do meu tempo para cá, mas ainda há o que avançar. Está nas mãos de vocês: Querem agir ou serem apenas expectadores da vida? (Pergunta Angel)
—Agir. Meu propósito em ser escritor é viver aventuras, evoluir espiritualmente, mostrar o caminho de Deus, desmistificar e ajudar a destruir preconceitos, ensinar e aprender. Já conquistei duas etapas e pretendo permanecer neste mesmo caminho. (Declarei, o vidente)
—Meu objetivo é acompanhar e auxiliar o vidente, este ser batalhador, que lutou por mim um dia e que mostrou que os sonhos são possíveis. Quero ter momentos bons ao seu lado e curtir sua companhia por muito tempo. São poucos que tem este privilégio. (Renato)
—Obrigado, Renato.Qual é o próximo passo, Mestre? (Aldivan)
—Calma. Ainda estamos nos conhecendo. Continuemos o passeio. (Ponderou Angel)
Dito isto, voltamos a mudar de direção e desta feita caminhamos rumo ao oeste. Agora, o caminho se mostra pedregoso e isto dificulta um pouco.Porém,o esforço se mostra compensador pois aprendíamos a cada momento com o ambiente,com o mestre Angel e com as lembranças.Enfim,tudo estava correndo bem até aquele instante. Continuamos a caminhar entre conversas, entre barulhos de animais, respirando o ar puro da mata, enfrentando o calor escaldante do fim de ano, entre dúvidas e anseios gritantes de nosso subconsciente. Mas tudo valia a pena e continuamos a descoberta. Depois de cerca de quarenta minutos neste caminho, chegamos em frente ás ruínas de uma casa de taipa. Paramos e Angel pede que o acompanhe. Entramos no que era a casa e ao tocar o resto duma parede, tenho visões gritantes de experiência vividas ali: Vejo Incompreensão, choque de sentimentos,luxúria,luz e trevas, sabedoria e conhecimento desperdiçados no “Encontro entre dois mundos”. Fico estático com toda a informação recebida e, ao perceber minha dificuldade, Angel me presta socorro ao me tirar do eixo. Caio no chão, esmorecido. Renato e ele me fazem um carinho para que eu me restabeleça.
—Calma, filho de Deus. Eu deveria ter dito para você ter mais cuidado por sua sensibilidade. Aqui foi a residência do seu antepassado Vitor Torres e foi onde ele desenvolveu seus dons. O que foi que você viu? (Indagou o ancião)
—Um pouco dos sentidos dele. Mas foi tudo muito rápido. Fiquei um pouco com medo e sofri ainda mais por isso. (Revelou o vidente)
—Já passou. Estamos aqui com você. (Disse Renato)
—Na verdade, não tem que ter medo. Você é outra pessoa, estamos em outra época e as situações são distintas. Basta ter um pouco de cuidado e controlar seu dom que está ainda em desenvolvimento. Mas não se preocupe. Eu o ensinarei quando começar o nosso treinamento. Por enquanto, devem saber que aqui é um dos locais apropriados para vencer barreiras do tempo, espaço e abrir as portas para o outro mundo. Quem souber dominar o seu poder, pode conquistar tudo na vida e vencer seus inimigos. Não há limites— Explicou Angel.
—Entendo. Estou disposto a conhecer meus limites e a descobrir totalmente meu destino mesmo que isto envolva riscos altos. É necessário para minha carreira e para minha evolução espiritual e humana. (Declarei, o vidente)
—Estamos acostumados a correr riscos. (Complementou Renato)
—Você vai até onde puder. Não é irreversível este processo. Podes desistir a qualquer momento, fechar as suas portas espirituais e renunciar a esta dádiva. É tudo uma questão de escolha. Podemos continuar o passeio? (O mestre)
Confirmamos que sim. Saímos das ruínas da casa e pegamos outra trilha em direção ao leste. O novo começo de caminhada abre mais minhas perspectivas o que me faz ter mais esperanças de sucesso. Alheios a tudo, Renato e Angel continuam me acompanhando e dando a força necessária nos momentos certos. O que seria de mim daqui por diante? Eu não tinha ideia mas continuaria a minha jornada não importando os obstáculos ou os perigos que corresse.
Continuamos caminhando. Quando o cansaço bate, paramos e procuramos uma sombra de uma árvore a fim de descansar. Com este objetivo, nos desviamos um pouco da trilha e ao achar a árvore nos abrigamos e desabamos no chão. Angel ri e retoma o diálogo.
—Também está cansado, Filho de Deus? Pensei que os super-heróis fossem feitos de ferro. (Brinca Angel)
—Nem fala. Apesar de todos os meus predicados, eu sou uma pessoa comum em relação ás fraquezas, aspirações, medos e inquietações. Mas sei ser forte quando é necessário. (Comentei, o vidente)
—Concordo. Já o acompanhei em duas aventuras e posso dizer que ele soube corresponder às expectativas de seus mestres. Fez uma viagem no tempo, solucionou injustiças, voltou a montanha, aprendeu sobre os pecados capitais, em viagem a uma ilha embarcou num navio de piratas e se saiu muito bem. (Renato)
—Interessante. Mas saibam que desenvolver os dons vai exigir uma audácia maior da parte de vocês do que das vezes anteriores. Desta vez, escolhas importantes terão que ser feitas. (Angel)
—Quais, por exemplo? (Pergunto, o vidente)
—Calma. Ainda não é chegada a hora. Controle sua ansiedade pois ela pode lhe atrapalhar. (O ancião)
—Desculpa. Já descansei. Vamos continuar? (Vidente)
—Está de acordo, Renato? (Angel)
—Sim. Vamos. (Renato)
Saímos rapidamente, retomamos a trilha em silêncio e a cada passo ultrapassamos obstáculos. O clima é agradável, estamos tranquilos e nada neste momento parece impossível apesar do desafio gigantesco de se aventurar naquelas terras. Dobramos a esquerda, a direita, encontramos pessoas, as cumprimentamos e neste vaivém chegamos depois duma hora de caminhada a uma planície extensa, sem vegetação, rodeada por rochas vermelhas. No centro, uma pedra grande. Angel pede para Renato ficar e avança um pouco mais comigo até o centro. Subimos em cima da pedra, ele me convida a sentar e depois, deitar. Pede que eu feche os olhos, eu obedeço e sinto mãos experientes pousarem em minha cabeça. Como se fosse uma chuva, sinto raios de energia penetrarem em minha mente como da última vez. Mas desta feita, eles em vez de me acalmar me deixam mais inquieto por causa das visões que se revelam pouco a pouco na tela da minha mente. Vejo dor, opressão, perseguição, calúnias, maus entendidos, problemas de relacionamento amoroso e de amizade, solidão, lutas internas, fracassos nem sempre assimilados, mas no fim de tudo uma luz bem vibrante. Tento me aproximar da luz e ao chegar bem perto, desperto. Ao meu lado está Angel, um pouco sério.
—Viu filho de Deus, o que te espera? Nem sempre temos tudo nesta vida, entende? (Angel)
—Sim.Entendi. Mas eu escolho tentar. É meu sonho, desde criança e nem todas as dificuldades do mundo irão me impedir. No fim de tudo, há uma luz. Como alcançá-la? (Indagou o pequeno sonhador)
—Esta resposta só você pode descobrir dentro de você. Eu sou apenas mais uma seta que o destino colocou a sua frente assim como os seus outros mestres. Se estiver disposto a me ouvir sempre, mesmo que seja inconscientemente, provavelmente obterás sucesso. Digo isso não com orgulho, mas com a humildade de quem já viveu muito, cento e treze anos, e que já experimentou de tudo nesta vida. Falta apenas você dizer que sim. (Angel)
—Sim. Ouvir-te-ei e aprenderei o segredo dos sete dons. Esforçar-me-ei para isso. (Divinha)
—Muito bem. Gosto de jovens determinados. Voltemos agora, Renato nos espera. (O mestre)
—Tudo bem. Vamos. (O vidente)
Deixamos a pedra, retornamos pelo mesmo caminho, reencontramos Renato e juntos começamos a fazer o caminho de volta a casinha de sapê. Pegamos um atalho pois o dia já avançava. Passamos por lugares diferentes, vivemos novas experiências, encontramos mais pessoas, conversamos um pouco a fim de nos conhecer melhor e assim o tempo vai passando. Quando menos esperamos, chegamos ao destino. Entramos na casinha, nos dirigimos a cozinha e preparamos um alimento rápido. Ao comer, recuperamos um pouco as forças e, como já estava tarde, resolvemos tirar um cochilo. Eu, na cama de capim, Renato, na rede, e Angel, no chão. O que nos esperava? Continue acompanhando, leitor.
Acordamos juntos por coincidência.Ao conferir a hora, verificamos que já era seis da noite.Angel,amigavelmente,nos convida a sair e ajudá-lo a fazer a fogueira a fim de nos aquecer e nos iluminar em substituição á luz elétrica que o mesmo se negava a instalar. Aceitamos o convite, pegamos as toras e os gravetos de madeira atrás da casa e levamos até a frente. Quando arrumamos uma boa pilha, Angel nos ensina a fazer fogo com as pedras. Depois de algumas tentativas, conseguimos e ficamos a nos aquecer, a observar as estrelas, a curtir a brisa da noite e a papear. Um pouco de nossas conversas está transcrito abaixo:
—Vejam que maravilha de mundo Deus nos deu. Cada astro do céu é um filho dele, assim como nós. Não devemos desperdiçar nosso tempo com preconceitos, brigas, intrigas e violência. Pois o tempo passa rápido e devemos aproveitar cada segundo dele como se fosse o último. (Angel)
—Tem razão. Eu ainda não aproveitei a minha vida ainda como deveria e me arrependo disso. Fui um jovem criado na rigidez da fé católica e a noção de pecado que me ensinaram é totalmente diversa da que acredito hoje. Tudo para mim era pecado e por isso deixei de viver interessantes experiências. Um dia, despertei para realidade e só considero pecado a atitude que faz sofrer o próximo ou a ti mesmo. Hoje, sou mais feliz do que antes apesar de nunca ter perdido a minha fé. (Eu, o vidente)
—Que pena. Ainda bem que a guardiã me orientou direitinho e em tempo sobre a luz e as trevas. Hoje, sou um adolescente feliz, cheio de amizades e aventuras. (Renato)
—Que bom,Renato.Foi uma pena,Aldivan.Mas vocês são jovens ainda. Vão ter tempo suficiente para tudo. Eu também vivi, na minha época, uma espécie de repressão pelo fato da minha opção sexual distinta. Mesmo assim, lutei pelo aquilo que acreditava. Confesso não ter sido completamente feliz mas tive momentos felizes. Amei, chorei, sofri, vivendo intensamente muitos sentimentos. E vocês? Já tiveram algum tipo de experiência? ( O mestre)
—Sim, durante meus trinta anos de vida, já conheci muita gente.Eu me apaixonei umas três vezes sentindo o fogo do amor gritar dentro de mim e posso dizer que é maravilhoso. Apesar de não ser correspondido, valeu pela experiência e estou disposto a novos desafios nessa área. Quero investir também na literatura, na matemática, nas relações pessoais.Enfim,busco a felicidade e acredito que a mereço. Aliás, todos merecem. (Comentei, o vidente)
—Eu nunca experimentei o amor porque não tenho idade para isso nem é meu foco. Quero estudar e fazer novas amizades, por enquanto. (Renato)
—Claro. É normal. Mas tenha cuidado com o amor. Ás vezes ele machuca muito. (Angel)
—Angel, mudando de assunto, poderia nos explicar melhor como se dará o nosso treinamento? (Vidente)
—Vão ser seis etapas. Cada uma representando um dom do espírito santo. Cada um envolvendo um desafio complicado. Se forem aprovados, vão passando de fase. Quando chegar a última, estarão prontos para desvendar a primeira história que desafia o tempo. (Explicou ele)
—Entendi. Quando começamos? (Renato)
—Amanhã mesmo, pela manhã. Mas pensemos nisso depois pois disse Jesus: A cada dia, a sua preocupação. Observem o céu e agradeçam pela vida. (O ancião)
Obedecemos ao mestre e ficamos um largo tempo a observar o céu. Quando ficamos totalmente exaustos, nos despedimos do mesmo e fomos dormir. O próximo dia escondia aventuras intrigantes num fim de mundo inóspito.

O primeiro desafio:Sabedoria
Amanhece no sítio fundão, Município de Pesqueira, agreste de Pernambuco-Brasil. Acordamos um pouco tontos com os raios de sol batendo nos nossos rostos e o canto melodioso dos pássaros. Mesmo lutando contra a preguiça e o cansaço, conseguimos levantar na segunda tentativa e nos encaminhamos para trás da casa, a fim de tomar o banho matinal. De comum acordo,eu vou primeiro. Pego um balde de água, encho na cisterna e vou me banhar não tão tranquilo pois tenho medo de ser flagrado em minha nudez por pessoas desconhecidas .Com alguns passos, chego no destino, tiro a minha roupa, e jogo um pouco de água fria no corpo. Esfrego-me, ensaboou-me e jogo um pouco mais de água e na medida em que vou me lavando aproveito também para pensar um pouco na minha própria trajetória. Aonde tudo aquilo me levaria? Já enfrentara a gruta,desafios,a montanha, o Eldorado e ainda tinha sede de conhecimento. De um simples sonhador passara a vidente poderoso, capaz de realizar milagres mas ainda não me realizara. Faltava galgar os degraus da evolução um por um e descortinar os véus das histórias realmente importantes. Era isto que eu me propunha e esperava obter o sucesso. O objetivo maior era ser feliz.
Continuo o banho, toco nas minhas partes sensíveis e imagino o quanto era importante manter o foco, a integridades, meus valores em quaisquer circunstâncias. Além de tudo, trabalhar com dedicação e persistência era o segredo da vitória. Foi com estes ingredientes que me descobri e me abri para o mundo e continuaria agindo dessa forma sempre.
Jogo um pouco mais de água no corpo, uso sabão, xampu e sabonete e tento retirar todas as impurezas. Quando me sinto pronto,enxáguo-me,pego a minha toalha, enxugo-me e entro na casa aliviado. Aviso a Renato e o mesmo vai tomar banho. Pouco depois, Angel finalmente acorda. Cumprimento-o e vou vestir minha roupa. Quando estou em condições, aproximo-me do mesmo e para minha surpresa o café está pronto. Ele me convida a comer e eu aceito pois estava esfomeado.
O desjejum é composto de frutas típicas da mata como caju,abacaxi,melancia,Fruta-de- palma além do tradicional beiju e macaxeira. Um verdadeiro banquete dos deuses. Comemos em silêncio, deixamos um pouco para Renato que volta do banho. Quando todos ficam satisfeitos, a conversa é iniciada.
—Estão prontos, sonhadores? O desafio está lançado. (Pergunta Angel)
—Sim. O que devemos fazer e do que se trata? (Pergunto)
—Queremos todos os detalhes. (Renato)
—O primeiro desafio envolve o dom da sabedoria. Procurado desde os tempos remotos, este dom ajudou na evolução da humanidade e fez os homens um pouco mais humanos. O desafio consiste em dirigir-se ao nordeste do sítio e decifrar um enigma antigo que se apresentará espontaneamente para vocês. Se errarem, despertarão a fúria dos deuses o que pode provocar graves conseqüências. Mas não se preocupem: Confio totalmente em vocês. (O mestre)
—Como devemos agir? (Perguntamos em coro)
—A questão é óbvia. Ajam com bom senso e a sabedoria dos humildes. Ela é alcançada através da contínua oração e meditação. Mas lembrem-se: Não vale trapacear— Respondeu ele.
—Quando devemos ir? (Pergunto)
—Agora mesmo pois o tempo urge. Boa sorte e mantenham contato com o interior de vocês. (O ancião)
Angel se aproxima, nos abraça e se despede finalmente. Pegamos uma mochila com alimentos e uma garrafa d’água e finalmente saímos da casinha de sapê. Procuramos a trilha mais próxima que dá acesso ao nordeste do sítio e quando a encontramos começamos a caminhada. Apesar de todas as dificuldades que se apresentam no caminho, avançamos num bom ritmo e conversamos entre si preparando a melhor estratégia. O que nos esperava? A vaga indicação de Angel nos deixava cheios de dúvidas, mas não tínhamos escolha a não ser arriscar e descobrir.
No caminho, encontramos pedras, pássaros, espinhos, vozes interiores que nos guiam e a instigante força que move o universo a que muitos chamam de Deus ou de destino. A cada passo dado, parece que já podemos decifrá-lo apesar de nossa inexperiência. O que aconteceria? Não importava. O importante era o nosso empenho, era o momento que talvez não se repetisse mais. Não podíamos desperdiçar esta chance como eu já tinha desperdiçado boa parte da minha vida em lamentar minha condição. Em certo momento, acordei e estava disposto a viver, junto com Renato, aventuras incríveis e que talvez nos consagrassem não pelos feitos em si, mas pela coragem. Esta era a palavra-chave: Coragem.
Animado por esta força, continuamos avançando embrenhados na mata virgem procurando algo que não se via ou que ninguém jamais tinha encontrado. Com isso, o tempo passa. Depois de cerca de duas horas, chegamos exatamente no centro do nordeste do sítio Fundão e nada (exatamente nada) tinha acontecido. Exaustos pelo esforço da procura, resolvemos sentar numa clareira próxima, comemos e nos hidratamos um pouco. Fechamos os olhos, descansamos um pouco e ao abrir temos uma grande surpresa: os céus tinham desaparecido, nuvens coloridas nos envolviam, nossos corpos flutuavam no ar com facilidade. Mesmo que antes perguntássemos o que estava acontecendo, três belos anjos se aproximam de nós em glória o que nos provoca bastante medo. Ao chegar bem perto, eles mantêm contato telepático e nos tranqüilizam,dizendo que não vão fazer mal, que apenas são mensageiros da sabedoria. Eles perguntam se queremos descobrir mesmo o dom da sabedoria? Respondemos que sim e eles nos propõem um enigma: O que dois amigos fazem que três não podem fazer? E dão um tempo de cinco minutos para que pensemos. Eles nos alertam que caso errássemos cairíamos num abismo sem fundo.
Eu e Renato começamos a discutir as possibilidades. Falamos um pouco de tudo, discutimos, trocamos experiências. No final do tempo, usando a minha experiência, tenho uma resposta apesar de não ter a certeza de que está correta. Entro em contato com os anjos, repasso a resposta mentalmente: Compartilhar um segredo a dois. Eles se reúnem em círculos, proferem orações misteriosas, a terra treme, o céu escurece e no final do ritual uma bola de fogo abrasadora é lançada de encontro aos nossos corpos. Temos medo, tentamos correr, mas estamos bem presos ao chão. Contra nossa vontade, somos envolvidos pelo fogo, mas, para nossa surpresa, ele não nos queima e sim nos completa, é límpido, perfeito e através dele absorvemos a sabedoria, o primeiro dom do espírito santo.
No instante seguinte, a emoção do momento me faz entrar em transe e ter uma visão rápida:Matheus,era um jovem ingênuo,educado,inteligente,com bons dotes pois era filho de comerciantes da cidade do Recife. A época em que vive é o século XVIII,época rica mas cheia de mistérios e incompreensões. O mesmo tem vários amigos, arranja várias namoradas indicadas pelo pai, mas não tem afinidade com nenhuma e resolve inicialmente não se casar apesar da insistência da família pois acredita no amor verdadeiro. Sua decisão é respeitada apesar dos critérios rígidos da época. Mas um belo dia encontra Margareth, uma jovem estrangeira, na escola .Os dois saem,conversam,se apaixonam e depois dum tempo de convivência comunicam aos seus pais. O casamento é aceito e no dia é uma grande festa. Depois da cerimônia de casamento, e com uns trinta dias de casados Margareth revela um segredo ao esposo: Era feiticeira e tinha contrato com as “trevas”, mas mesmo assim o amava. Entre surpreso e decepcionado, Matheus reflete um pouco e decide não deixá-la pois a amava como a si mesmo. Só pediu discrição para que a mesma não fosse pega pelo tribunal da inquisição. Margareth prometeu que tomaria as devidas precauções. Passaram-se três anos em levantar suspeitas. Porém, um belo dia foi descoberta, presa, julgada, e dias depois esquartejada em praça pública e finalmente morta. Matheus só acompanhou de longe, com medo de ser acusado de cúmplice. Depois disso, o mesmo entrou em depressão grave, se afastou da sociedade e chegou até a loucura sendo internado num hospício. Quando recuperou a sanidade, decidiu esquecer tudo, e terminou por encontrar outra mulher chamada Clara, pertencente a sua religião e com ela teve três filhos. Margareth era apenas uma lembrança que deixaria em seu coração gravada, como qualquer outro momento de sua vida. Agora viveria em paz com felicidade com sua esposa atual e seus três filhos. “Todos temos direitos de fazer escolhas na vida, podemos até errar, mas tudo o que vivemos serve de aprendizado para que possamos viver novas experiências e enfim alcançar a tão almejada felicidade”.
A visão se esvai. Num abrir e fechar de olhos, voltamos a clareira, no nordeste do sítio fundão. De comum acordo, decidimos voltar à casinha de sapê e sem demoras partimos. Pegamos a mesma trilha e começamos a fazer o caminho de volta. No caminho, fazemos planos para as próximas etapas no sítio e prometemos sempre trabalhar em equipe e com muita dedicação. Aonde chegaríamos? No momento atual, ficava impossível de prever, mas se dependesse de nós o céu seria o limite.
O tempo passa, nós continuamos caminhando em passos firmes e rápidos, e quando menos esperamos chegamos ao destino. Entramos na casinha de sapê e procuramos o mestre a fim de partilhar as experiências. O que aconteceria daqui por diante? Continue acompanhando, leitor.

O aprendizado assimilado da “sabedoria”
Reencontramos Angel na parte referente à sala descansado sobre uma cadeira. Abraçamo-nos, e ele nos convida a sentar também. Quando ficamos frente a frente, o mesmo inicia um diálogo.
—E aí? Poderiam me contar sobre as experiências vividas nesta primeira etapa?
—Seguimos seu conselho e pegamos uma trilha rumo ao nordeste. Depois de muito esforço, chegamos ao local indicado mas por um bom tempo nada aconteceu. Depois de fecharmos os olhos, um milagre acontece ,o cenário muda, e três estranhos nos propõem um enigma.Com apenas cinco minutos de prazo para pensar, conversamos entre si e no final chegamos a um denominador comum. Mesmo sem ter certeza,respondi,entramos em contato com o primeiro dom do espírito e confesso que foi maravilhoso. Tive então uma visão que complementou meus conhecimentos. (Eu, o vidente)
—Eu o acompanhei durante todo o processo e confesso que foi realmente difícil chegar a uma solução em tão pouco tempo. Mas tínhamos um pouco de experiência, usamos o bom senso e encontramos uma resposta entre várias possíveis. Tudo valeu a pena pois reciclamos os velhos conhecimentos e criamos novos. (Complementou Renato)
—Muito bem. Estão de parabéns os dois. Agora que estão transformados, poderiam me dizer o que é sabedoria? (Indagou o anfitrião)
—É o dom do espírito responsável em nós pela criação,reflexão,capacidade de aprendizado e que interliga os sentimentos e funções do cérebro. É um dom necessário para evolução humana,social,moral,espiritual que nos faz aproximar de Deus. Sempre procurada e desejada pelos mortais desde os inícios dos tempos ela se mostra aos mais simples, humildes e excluídos de nossa sociedade. (Eu, o vidente)
—A sabedoria me guia nas escolhas, nos meus sonhos e projetos de vida. Nos momentos decisivos, a consulto interiormente e ela com a função de seta me mostra como posso ajudar. Em suma, ela é o mapa que devemos seguir a fim de alcançar o sucesso. (Renato)
—ótimo. Agora que descobriram este dom, já podem ter uma visão mais ampla de tudo que acontece ao redor de vocês e antes não percebiam. Já podemos iniciar o treinamento. Querem continuar descobrindo os dons? (Pergunta Angel)
—Com certeza. Não estamos aqui por acaso. O que devemos fazer? (Pergunto)
—Estamos preparados. (Concorda Renato)
—Primeiramente, enquanto preparo o almoço, limpem a casa. Este exercício fortalece os músculos e ocupa a mente. Depois de nos alimentarmos, é que explicarei o que devemos fazer. Está bem? (O mestre)
—Tudo bem. Aceitamos. (Respondemos em coro)
Angel se encaminha a pequena cozinha, junto ao fogão de lenha cuidando dos alimentos enquanto eu e Renato pegamos a vassoura, a pá e um pano úmido para auxiliar-nos na limpeza. Ao começar os trabalhos, nos distraímos um pouco e lembramos da aventura anterior. Quantas vezes não tivemos que ajudar os piratas nos trabalhos domésticos? Tínhamos limpado o navio, lavamos louça e tudo tinha sido um grande aprendizado apesar do medo do desconhecido e da fama que os piratas tinham. Com o tempo, descobrimos que eram pessoas maravilhosas e comuns.
Agora, estávamos convivendo com Angel, um homem quase centenário, homossexual assumido, detentor dos dons do espírito santo, que criara história numa época cheia de preconceitos e de autoritarismos das elites. Desde o início, admirávamos sua coragem ,simpatia e conhecimento. Certamente ele poderia nos ajudar em nosso caminho.
Continuamos a limpar e seguimos atento a todos os detalhes. Organizamos a bagunça, espanamos os poucos móveis e varremos todos as partes da pequena casa. Por último, retiramos o excesso de barro do piso. Ao terminar, Angel dá um pequeno grito e nos chama à cozinha. Com alguns passos, chegamos no destino, sentamos à mesa e o anfitrião gentilmente começa a nos servir. Almoçamos um pouco de arroz, feijão verde, farinha de mandioca, tomates e galinha de capoeira. Estávamos cansados e com muita fome. Por isto, terminamos de comer em menos de quinze minutos. Adoramos a comida. Angel tinha realmente um talento especial para culinária. Depois dum breve silêncio, puxamos conversa.
—Em que consiste este treinamento? É muito difícil? (Pergunto)
—A partir do segundo dom, os desafios serão maiores e antes de enfrentá-los quero repassar um pouco do que aprendi com a vida para vocês. Mas não se preocupem, não é eliminatório. O objetivo é aumentar o leque de conhecimento de vocês para que tomem as decisões certas nos momentos certos. (Angel)
—Entendi. Quando iremos começar então? (Renato)
—Agora mesmo. Peguem um pouco de alimento e água e iremos para o sudoeste do sítio. (ordenou o chefe)
Obedecemos Angel . Quando estamos com tudo pronto, saímos da casinha de sapê procurando a trilha mais próxima que nos leva a direção. Ao encontrá-la, aumentamos o nosso ritmo. O que aconteceria daqui por diante? Continuem acompanhando, leitores.
O começo da caminhada nos desperta a curiosidade. Apesar de continuarmos andando num ritmo rápido, temos tempo para apreciar a natureza, o clima, e a presença do nosso mestre. A cada passo e a cada nova paisagem, não cansamos de perguntar a nosso guia e ele nos explica tudo, numa grande viagem no tempo.Com as informações, imaginamos as situações como se fossem atuais e isto nos proporciona um pouco de prazer e angústia também. Onde estaria este povo sofrido do nordeste do início do século XX? O que estivessem vivos, como Angel, se deparavam com um mundo tecnológico, cheio de invenções, mas ainda atrasado moralmente. Os que estivessem mortos, estariam distribuídos entre as três esferas espirituais existentes de acordo com a conduta de cada um durante a vida:Inferno, céu e cidade dos homens. Mas a vida continuava de uma forma ou de outra.
Continuamos a caminhar.Avançamos na trilha e ,em dado momento ,Angel pede para pararmos. Ele pede a mochila emprestada, tira a garrafa d’água e bebe um pouco. Pede que façamos o mesmo. Aproveitamos o intervalo para conversar um pouco sobre assuntos gerais. Quando nos recuperamos totalmente, retomamos a trilha. Caminhamos mais um bom tempo sem perguntas ou questionamentos. Apenas seguindo os passos do mestre atual assim como fizemos das outras vezes. Depois de mais de uma hora de caminhada, temos acesso a uma pequena fileira de casas, cerca de cinquenta, separadas umas das outras. Continuamos seguindo nosso mestre e ele nos leva a uma casa simples, de alvenaria, estilo casa, e de no máximo cinquenta metros quadrados. Ele bate à porta, esperamos um pouco, e de dentro sai uma senhora bem idosa, baixa, cabelos pretos e olhos castanhos claros. Ela se mostra surpresa, se aproxima com dificuldade, e ao chegar mais perto dá um grande abraço em Angel. Ela nos convida a entrar, nós aceitamos e ficamos um tempo sem entender até que são feitas as apresentações.
—Marcela, estes são meus discípulos:Aldivan, o vidente, (neto do nosso companheiro Vitor) e Renato. Trouxe-os aqui para que pudesse conhecê-los e conversar um pouco com eles. Marcela era uma das integrantes do nosso grupo de justiceiros— Explicou Angel.
—Muito prazer, Marcela. (Respondemos em coro)
—O prazer é todo meu, queridos. Quer dizer então que estão se submetendo a um treinamento com Angel? Estão de parabéns pela coragem. Certamente o que aprenderem serão de grande valia para o resto de suas vidas. Hoje, está tudo mais fácil. Antigamente, não, tivemos que batalhar muito para conseguir alguns avanços. (Constata Marcela)
—Poderia nos contar um pouco sobre sua época? (Pergunto)
—Um pouco. Prefiro lembrar apenas das coisas boas e das conquistas. Eu, Angel, Vitor, Rafael, Penelope, Cardoso e outros formávamos um grupo de justiceiros contra a demanda das elites da nossa época. Lutávamos contra as injustiças em geral, em defesa dos pobres, dos excluídos e dos marginalizados. Atuamos um bom tempo, conscientizamos a população em geral e alcançamos vitórias e derrotas. Mas era um tempo cruel, de repressão e só depois de muito tempo tivemos resultados concretos. O mais importante é que fomos felizes ou quase todos.
Após dizer isso, uma leve expressão de tristeza no rosto já enrugado de Marcela apareceu. Sentimos o clima um pouco pesado.
—Desculpe-me por fazê-la sofrer. Não sabia das suas mágoas. (O vidente)
—Tudo bem. Faz parte. E você meu jovem, está gostando do passeio ao sítio? (Referindo-se a Renato)
—Estou. Apesar de que não considero um passeio e sim um trabalho junto ao meu companheiro de aventuras—Respondeu ele.
—Marcela, poderia lhes falar da sua experiência do “Entendimento” e auxiliá-los em sua busca? (Solicitou Angel)
—Claro. No entendimento, cada experiência é única e faz brotar no nosso íntimo uma verdadeira contrição, uma vontade de se abrir completamente a luz. Ele nos faz ter uma visão ampla de nossa vida pessoal, do próximo e a melhor maneira de agir. Quando conquistamos o entendimento, temos um poder amplo para direcionar nossas vidas da forma mais adequada. O conselho que eu dou é que não tenham medo de arriscar ou das consequências pois é melhor se arrepender do que fez do que nunca tentar. Boa sorte para os dois. (Respondeu a mesma)
—Obrigado. A admiramos por fazer parte do grupo dos justiceiros, seres lendários do nordeste e meditaremos nas suas orientações. Muito obrigado por tudo. (Eu, o vidente)
—Faço das minhas palavras as suas. (Renato)
—Tudo bem. Podem ir. Continuem andando na direção sudoeste. O desafio se apresentará para vocês. Eu vou ficar um pouco mais conversando com minha amiga Marcela. Encontramo-nos em casa, mais tarde. (Angel)
Obedecemos ao mestre, nos despedimos da nossa nova amiga e saímos da sua casa. Já fora, pegamos a mesma trilha novamente. O que aconteceria? Continue acompanhando, leitor.

Entendimento
O retorno à trilha fez aflorar novamente em mim a ansiedade, a inquietação e as preocupações de sempre, referente a minha vida pessoal e profissional. Além disso, a todo instante me pergunto sobre o futuro. Em certa ocasião, a pressão é demais e peço para Renato que paremos um pouco. Ele concorda, nos hidratamos, comemos um lanche e traçamos os nossos planos. Quando nos recuperamos, retomamos a caminhada. Nossos passos nos levam a paisagens desconhecidas e maravilhosas e aproveitamos para tirar algumas fotos. O ambiente era tranquilo e aconchegante e nada nos levava a crer que há cerca de oitenta anos atrás aquele mundo era um mundo de violência e autoritarismo, mas era o que a história registrara. Cabia a nós como aventureiros que éramos descobrir pouco a pouco os detalhes.
Continuamos caminhando, relaxamos um pouco e concentramos apenas no objetivo atual. Acerto os últimos detalhes com Renato, apertamos o passo avançando cada vez mais. No caminho, passamos por um jardim frutífero e aproveitamos para sentir um pouco o gosto da liberdade alcançada até o momento. Subimos nas árvores como crianças, nos balançamos, derrubamos frutas deliciosas, descemos e nos alimentamos. Enfim, nos sentimos felizes. Um tempo depois, observamos o horário e resolvemos voltar a caminhar na mesma direção de sempre.
Depois de uma longa caminhada de duas horas, finalmente chegamos ao centro do sudoeste do sítio. Sentamos no chão e esperamos um sinal. Porém, passam mais de quinze minutos e nada acontece. O que estava acontecendo? Que peça o destino estava nos pregando? Não seria possível que tínhamos tido tanto trabalho para nada.
Sem resposta, conversamos um pouco e Renato me propõe uma oração que aprendera com a guardiã, direcionado a um santo anônimo, desatador dos nós. Aceito por me parecer a única alternativa viável. A oração é a seguinte: “Queridíssimo santo desatador dos nós, eu vos peço que nos sirva de intercessor junto ao senhor dos exércitos para que ele nos mostre um caminho seguro a fim de nos mostrar o nosso destino. Prometo que serei teu ardoroso fiel hoje e sempre. Com atenção, um aventureiro. Amém.”
Depois de proferir a oração com fé, ficamos na expectativa. Cinco minutos depois, escuto uma voz interior a dizer-me: Dobres a direita e encontrarás o que precisa. Mesmo sem querer acreditar, peço para Renato esperar enquanto vou fazer xixi. Dobro a direita. Imediatamente, o mundo escurece, trevas e luz se aproximam, e meus estigmas são despertados. Sofro bastante, choro, grito, perco totalmente o controle. Enquanto isso, ocorre uma batalha rápida diante de mim entre um anjo e um demônio. Caio em terra e a única opção que tenho é torcer para que tudo terminasse bem.
Depois de um período de espera, o bem finalmente vence e o anjo se aproxima de mim. Ao chegar bem perto, fico ofuscado com sua luz e tenho que fechar os olhos. Ele encosta em mim e diz: —Toque-me. Obedeço e o contato me faz ter uma visão bem rápida: “Vejo um homem idealista e corajoso chamado Romão, habitante da Ásia menor, proprietário de terras num momento crucial de sua vida. O mesmo tinha oitenta anos,viúvo,fora casado com uma mulher maravilhosa chamada Cris durante cinquenta anos em plena comunhão e amor. Do relacionamento, tiveram cinco filhos que por ironia do destino também já eram falecidos. Há dez anos vivia sozinho, apenas acompanhados por empregados e por colonos que trabalhavam em suas terras. Mesmo com todas as perdas de sua vida, vivia feliz em sua propriedade, e não negava ajuda a ninguém. Em certo dia, realizando exames de rotina, ocorreu que descobriu que era portador de uma doença grave. Mesmo com a má notícia, não se revoltou. Começou a preparar-se para a despedida. Reuniu seus amigos mais próximos e empregados, deu uma grande festa e no final entregou a cópia de seu testamento juntamente com seu advogado. No texto, repassava todos os seus bens a cada um deles, em partes iguais. Emocionados, todos o abraçaram e ficaram muito contentes pois eram pobres e tristes pela iminente perda do amigo pois o que era dinheiro diante de anos de compreensão, apoio e cumplicidade? Aproveitaram o momento e declaram o seu amor por ele. Quando acabou a festa, todos se despediram. No outro dia, Romão foi encontrado morto, foi enterrado e hoje vive em paz, com espíritos evoluídos do céu. Fica a lição: “É necessário entendimento e discernimento para agir de forma generosa em todos os momentos da vida. Tudo é passageiro e o que realmente fica são as boas obras, pensamentos e os valores. O homem é isso.”
A visão termina. Ao abrir os olhos, observo que estou sozinho e então decido voltar .Dobro a direita, dou alguns passos e reencontro Renato. Ele me dá um grande abraço e me pergunta: —Por que a demora, estava ficando preocupado. Só foi fazer o número um mesmo? Confirmo que sim e me justifico dizendo que me distrai. O convido a voltar para casa, ele aceita e continuamos a caminhar. No caminho de volta, tento assimilar da melhor maneira o segundo dom do espírito santo e sinto uma energia boa correndo em todo o meu corpo. O que aconteceria daqui por diante? Eu estava a ponto de descobrir. Apertamos o passo, avançamos na trilha e exatamente depois do mesmo tempo chegamos ao destino, a casinha de sapê, de propriedade de nosso mestre. Sem esperar muito, adentramos nela e procuramos o mesmo. Particularmente, estava ansioso para revê-lo e contar as novidades. Continue acompanhando, leitor.

Reencontro
Já dentro da casa, avistamos Angel na parte referente ao quarto e sem cerimônias e sem demoras nos aproximamos dele. Ao chegarmos bem perto, ele nos cumprimenta, nos abraça e inicia o diálogo.
—E aí? Obtiveram sucesso novamente?
—Sim. Desenvolvemos um pouco mais o nosso potencial ao desvendar o segundo dom do espírito santo mas queremos mais. Qual o próximo passo? (Respondo)
—Queremos todos os detalhes e a forma mais adequada de agir. (Complementa Renato)
—Calma. Vocês são muito ansiosos. O próximo passo ainda está distante. Falemos do atual. O que aprenderam com a nova experiência? (O mestre)
—Eu descobri através da visão da história que é necessário muito entendimento, paciência, e coragem para se fazer as escolhas certas e que o primeiro é alcançado de diversas formas, dependo do grau de evolução do indivíduo. Como diz o ditado, a vida ensina, de uma forma de outra e o sucesso depende muito mais da experiência, da persistência e dedicação de cada um do que qualquer outra coisa. (Eu)
—Não participei diretamente da experiência do vidente, mas convivo com a guardiã da montanha há muito tempo e ele sempre me mostrou que a reflexão e a análise são sempre importantes ferramentas a serem usadas em quaisquer momentos da vida. Há duas possibilidades: Ou erramos ou acertamos. Com os erros, aprendemos e os acertos nos mostram que estamos próximos do objetivo a alcançar ou do sucesso propriamente dito. (Renato)
—Muito bem. Brilhantes conclusões. Não esperava menos de vocês que se apresentam como uma dupla dinâmica. Só não esqueçam deste velho aqui quando estiverem no sucesso. (Angel)
Lágrimas insistentes correram do rosto de Angel e a emoção também toma conta de nós. Aproximamo-nos, nos abraçamos mais uma vez e criamos um círculo de amizade, de energia ao nosso redor. Passamos um bom tempo nesta posição até nos recuperarmos. Separamo-nos e Angel se comunica novamente:
—Bem,aproveitem o restante da tarde para refletir e descansar. Eu vou cuidar do jantar. Pensem no próximo desafio, o terceiro dom que é “o conselho”.
Dito isto, Angel saiu do quarto e foi a cozinha. Eu e Renato combinamos alguns detalhes da próxima etapa e, por fim, deitamos e tiramos uma soneca. Neste momento de descanso, nada podia nos atrapalhar nem mesmo os problemas pessoais e profissionais. Até o próximo capítulo, leitores.

O jantar e a noite no Sítio Fundão
Ao acordar, verificamos o horário e já estava próximo das sete da noite. Imediatamente nos levantamos e nos dirigimos à cozinha. São apenas alguns passos a dar e ao chegar no destino encontramos Angel sentado na mesa. Ele nos cumprimenta, respira aliviado e começa a nos servir. O cardápio é sopa de galinha e aproveitamos a iguaria comendo bastante. Durante o jantar, conversamos sobre tudo e trocamos experiências.
Quando terminamos, Angel nos convida a sair, nós aceitamos e o acompanhamos. Cinco minutos depois, já fora, contemplamos o universo representado através das estrelas. Angel nos ensina sobre elas, fala sobre o nome e a sua importância. Depois, acende uma fogueira para nos esquentar no frio típico daquela região na época de inverno. Ficamos ao redor dela e aproveitamos para nos conhecer melhor.
—Sabe,Angel,eu nunca iria imaginar que estivesse aqui algum dia pois a vida sempre se mostrara ingrata para mim. Desde pequeno, enfrentei tantos obstáculos que quase pensei em desistir. Dentre eles, os mais difíceis foram a falta de preparação e o lado financeiro. Demorei muito a me desenvolver e só a partir de 2010 é que minha esperança renasceu em todos os sentidos na minha vida. (Eu)
—Entendo. Eu na minha época também enfrentei muitos desafios. Alguns gigantes. Mas não desisti e tive pelo menos momentos felizes. Mas a época hoje é melhor. Você é talentoso, carismático e deve pensar apenas no presente. Construa seu futuro agora junto com seu companheiro de aventuras Renato. (Aconselhou o ancião)
—É o que digo sempre a ele, mestre. Tudo a seu tempo. O importante é que já estamos no terceiro passo duma se Deus quiser longa carreira literária. (Renato)
—Vocês estão certos. Mas independentemente de qualquer resultado não esquecerei minhas origens e dificuldades iniciais. Negar isso não seria ético da minha parte. (Eu)
—Filho de Deus, como está sendo para você experimentar o poder dos dons, é diferente das suas experiências anteriores? (Angel)
—Muito diferente. Já enfrentei a gruta, driblei armadilhas, transformei-me no vidente, viajei no tempo, solucionei conflitos e injustiças, reuni as “forças opostas”, voltei a montanha, investiguei os pecados capitais, viajei a uma ilha, encontrei com piratas, experimentei a parte mais densa da “noite escura”, entrei no Eldorado, tive contato com um preso perigoso, dentre outras coisas.Porém,nada parecido com o desenvolvimento dos dons que me leva a cada passo que eu dou a um destino inexplicável.(Confessei)
—Concordo com ele. Antes sabíamos o que procurávamos e até onde poderíamos chegar. No entanto, agora, não paramos de encontrar surpresas a todo o momento e desconhecemos quando a visão chegará ou o seu teor.(Renato)
—Muito bem. O importante é não desanimar. Estarei com vocês e ajudarei no que for preciso relativo aos seis primeiros dons. A partir do sétimo, será uma nova etapa. (Revelou Angel)
—Tudo bem.Agradecemos de todo coração. Cada pessoa que passa por nossas vidas e que acrescenta alguma coisa de bom, eu chamo de mestre. Você é um deles, te admiro muito, espero aprender cada vez mais e seguir minha carreira. (Eu)
—Obrigado. É uma troca mútua de conhecimentos. Não é porque sou velho que não posso aprender. A sabedoria não se mede pelos anos e sim pela abertura mental ás forças celestes. Vamos juntos. (Angel)
—É assim que se fala. Somos uma equipe. (Bradou Renato)
Nós três juntamos as mãos, Angel proferiu uma oração rápida e do nosso encontro brotou uma luz pequenina mas forte e incandescente. Ela alçou voo e alcançou o espaço em poucos segundos. Ao sumir completamente, ficamos assustados mas Angel nos tranqüiliza. Ele nos disse que a luz representava a força da nossa amizade e que enquanto ela permanecesse junto a Deus, duraria para sempre. Dependia apenas de nós.
Depois da aparição, continuamos a conversar por um bom período. O tempo passa e quando já é bem tarde, Angel sugere que deitemos para levantarmos cedo e com muita garra. Aceitamos o convite, entramos de novo na casa, cada um vai dormir no seu lugar e o outro dia certamente traria mais emoções em nossas vidas de aventureiros.

O terceiro dom
Amanhece. A brisa da manhã preenche todo o ambiente e acabamos por despertar auxiliados pela claridade provocada pelos raios de sol que acariciam nossos rostos.Inicialmente,cheio de cansaço, não consigo mover-me da cama de capim em que estou. Mas esforço-me e depois de três tentativas consigo levantar-me. Em pé, aproximo-me de Renato e o estimulo a fazer o mesmo.Com a minha ajuda, ele também se levanta.Com relação a Angel, ele ainda está dormindo e resolvemos não incomodar. No instante seguinte, tomamos um pouco de água e combinamos de irmos nos lavar atrás da casa, cada um por sua vez. Ele vai primeiro e eu fico esperando. Neste ínterim, penso um pouco sobre mim mesmo. O que me levava a arriscar tanto em aventuras cada vez mais inusitadas? Certamente o principal motivo era o prazer da profissão que escolhera, numa tentativa de derrubar padrões, estereótipos e preconceitos, ou seja, transmitir uma mensagem de conhecimento, esperança e fé para um mundo atrasado e conturbado. Além disso,eu tinha um compromisso comigo mesmo e com o vidente, aquele que surgiu a partir da entrada na “gruta do desespero”. Por isto, eu estava decidido a continuar sem se importar com os riscos.
Continuo refletindo sobre isso e outros assuntos, o tempo passa um pouco e finalmente Renato retorna do banho.Cumprimentamo-nos,ele pede licença para trocar de roupa e aproveito a oportunidade para ir também lavar-me. Pego minha saboneteira e xampu, atravesso a casa em poucos passos e ao chegar na cozinha, pego um balde, saio da casa, fico na parte de trás e verifico se há ou não a presença de estranhos por perto. Por sorte, é muito cedo e por enquanto não há movimento. Encaminho-me para a cisterna, encho o balde e retorno rapidamente à parte de trás da casa. Mesmo um pouco com medo, tiro a roupa. Jogo um pouco de água no corpo, ensaboou-me,enxáguo-me e começo a me esfregar. Esforço-me para retirar as impurezas do meu corpo e o exercício me traz um relaxamento incrível apesar de algumas preocupações pessoais. Penso um pouco sobre isso. O que estava acontecendo na minha casa, com a minha família, amigos e conhecidos? Bem, seja o que fosse, acredito na torcida dos mesmos para eu evoluir e conseguir descortinar um pouco o véu do destino. Eu me esforçaria a fim de não os decepcionar.
Com esta certeza, esfrego-me mais, coloco sabonete líquido no corpo todo e enxaguo-me no corpo todo. Verifico cada detalhe e quando me convenço que estou limpo, pego a toalha, enrolo-me e retorno a casa, especificamente no quarto. Com alguns passos, chego no destino, reencontro Renato e Angel, que já está desperto. Gentilmente, os dois me cedem cinco minutos para que eu me troque e escolho uma roupa bonita: uma blusa listrada, uma calça Jeans e uma cueca vermelha representando o fogo que me consumia. Coloco também um boné, calço um par de sapatos e uns óculos escuro para dar um pouco de charme. Quando estou pronto, saio do quarto, procuro os dois e os encontro na sala vendo um álbum de fotos.
Ao chegar, também sou convidado a apreciar as fotos. Angel me mostra cada uma delas, são antigas e cada uma delas desperta um pouco a memória daquele velho sábio. Vemos fotos de sua família, conhecidos, amigos e participantes do grupo de justiceiros e até de cangaceiros, bandidos legendários do Nordeste que ficaram famosos naquela época. Cheios de curiosidade, perguntamos todos os detalhes e ele gentilmente nos explica. Ao chegar numa foto dum jovem musculoso, moreno claro, bonito e um pouco peludo, ele se emociona e diz: —Este é Vitor, meu único e verdadeiro amor. Pena que se foi tão cedo. Observo a foto do meu antepassado detalhadamente e eu tinha que concordar apesar de ser homem que o mesmo era atraente. Estava explicado a adoração de Angel por ele. Respeitamos os sentimentos de nosso mestre e não comentamos nada. Vemos algumas outras fotos e ele se recompõe. Depois de terminar de ver as fotos, Angel pede para que o ajudemos na cozinha e aproveitamos para preparar o café a fim de aliviar nossa fome.
Quando tudo está pronto, sentamos a mesa e começamos a nos alimentar. Durante a refeição, puxamos conversa com Angel a fim de obter mais informação sobre o próximo desafio.
—De que se trata exatamente o terceiro desafio, mestre e como enfrentá-lo? (Pergunto)
—Vocês deverão na direção norte ir até a árvore, símbolo do meu amor com Vítor. Enfrentarão o seu destino e tentem escutar o interior de vocês. Lembrem-se dos conselhos de seus mestres e aplique-os na situação desejada. (Angel)
—Entendi. Devemos relembrar as nossas experiências e decidir usando a sabedoria, qual conselho aplicar. Mas o senhor tem mais alguma dica para nos dar? (Renato)
—Tenho. Não se deixem levar pela ambição do poder ou pelas aparências. Elas seduzem, mas no final não trazem sucesso ou a tão almejada felicidade. Só decidam no momento certo. (Angel)
—Muito bem. E o que devemos fazer? (Eu)
—Renato irá te acompanhar, caso você precise de algum auxílio. Você entrará a fundo na história de Vitor, mas não claramente. Apenas quando completar a etapa dos seis dons é que será capaz de ter a primeira visão da história. (Explicou o anfitrião)
—Quando partiremos? (Renato)
—Depois do café. Agora, vamos aproveitar para comer tranquilos. (O mestre)
Obedecemos ao mestre e nos alimentamos em silêncio num período de dez minutos. Quando terminamos, nos despedimos do mesmo, pegamos as garrafas d’água e levamos a mochila com alguns alimentos e nos dirigimos a porta de saída da casa. Com alguns passos a mais, já estamos fora e pegamos a trilha mais próxima que nos levava a direção norte. A partir daí, começava um novo desafio que não sabíamos como terminaria ou que resultados produziria. Continuemos juntos, leitor.
O começo da nova caminhada produz uma grande ansiedade em nós, como se nunca tivéssemos participado de aventuras. Isto era algo que ocorria recorrentemente e nos fazia lembrar dos nossos primeiros passos, da aventura de forças opostas, a viagem no tempo para Mimoso, e mais recentemente todas as peripécias e buscas da noite escura da alma. A trajetória até agora era curta, mas muito rica e isso nos dava força para continuar.
Aliamo-nos a essa força e apertamos os nossos passos. Enfrentamos os obstáculos naturais do caminho incluindo espinhos, pedras e o medo de encontrar algum bicho selvagem. E avançamos cada vez mais. Em cerca de vinte minutos, ultrapassamos um terço da distância e a conquista nos faz mais feliz. Mas não por muito tempo. Logo em frente, nossa visão se perturba pois aparece dois monges vestidos com trajes pretos, cada um montado num leão e armados com espada.
Em alguns instantes eles se aproximam de nós e bradam:-Se quiserem continuar, terão que nos enfrentar e vencer. Se perderem, terão que ir embora e renunciar aos seus projetos. O que me dizem? Há ainda a opção de desistir.
Cheios de medo, eu e Renato conversamos e o convenci a deixar tudo em minhas mãos. Olhei fixamente para os monges e disse: —Tudo bem. Mas deixem meu amigo e companheiro, Renato, de fora. Ele ainda é muito jovem para se arriscar dessa maneira. Eu enfrentarei os dois.
Os monges conversaram entre si por alguns instantes e quando decidiram, voltaram-se para nós: —Aceitamos. Mas enfrentará um por vez para a luta desigual. Um de nós é o mestre Hiorishida, conhecedor das artes marciais mais perigosas. O outro, é um telepata poderoso. A batalha vai começar!
Dito isto, eles bateram com a espada no chão e um círculo de fogo nos envolveu. Renato ficou de fora,assistindo.O primeiro monge pulou dentro do círculo e ao fazer isso, pensei:-Estou frito. Como enfrentar alguém mestre em artes marciais? Por enquanto, não tenho nenhuma estratégia em mente. Iria esperar que o adversário tomasse a iniciativa. Sem querer, lembro do combate com o ninja na gruta e uma luz no fim do túnel se acende para mim.
O adversário se aproxima,me cumprimenta e se afasta um pouco. Fica em posição de ataque. No momento, apenas observo seus movimentos a fim de estudá-lo. Em alguns instantes, a luta começa. Usando suas artes marciais, ele começa a marcar golpes poderosos e a executá-los. Alguns eu defendo e outros eu sofro pois ele é muito rápido. Quando penso em contragolpear,ele não tem dificuldade na defesa. Sem saída,eu continuo senso maltratado pelo adversário. Num dado momento, caio de cansaço pela primeira vez. Gentilmente, o primeiro monge se afasta e espera me levantar para reiniciar a luta. Aproveito o intervalo, e mentalizo a transformação da gruta e deixo o vidente solto para agir. Agora, eu estava mais preparado. Ele enfrentaria agora um ser superdotado de dons, capaz de transcender o tempo, a distância e entender os corações mais confusos.
No instante seguinte, levanto e chamo o adversário para batalha. Ele aproxima-se furioso, deixo ele me atacar e já conhecendo seus pontos fracos contra golpeio com força. O meu golpe o balança apesar dele ser bastante forte e experiente. Ele fica impressionado. Mas não o faz desistir. Ele se afasta um pouco, fica em posição de batalha e ataca outra vez. Como ele estava usando outra técnica, consegue me ferir e me derrubar pela segunda vez. Gentilmente, ele se afasta novamente. Reflito um pouco e digo para mim mesmo: —Cara chato e muito forte. Eu sei como te pegar! Pego escondido um pouco de areia na minha mão, levanto-me e parto para um novo ataque.
Ao chegar bem perto do seu rosto, lanço meu veneno e o mesmo cai em terra. Aproveito seu momento de fraqueza e o atinjo em vários pontos vitais. Em questão de segundos, o mesmo pede clemência e a luta é dada por terminada. Ele se retira, descanso um pouco e a próxima luta com o telepata estava por iniciar. Teria sucesso novamente? Continue acompanhando, leitor.
O segundo monge entra no círculo de fogo e se coloca em posição de batalha. Em questão de segundos, o mesmo profere orações ininteligíveis e imediatamente sinto um baque muito grande que provoca em mim uma dormência. Aos poucos, vou perdendo os sentidos e quando estou quase dormindo sinto meu espírito desprender-se do corpo material de um solavanco só. Imediatamente, me vejo fora do corpo, sinto o gosto da liberdade que isto me provoca e ao observar também vejo meu adversário em espírito frente a mim.
Rapidamente, o monge se concentra e cria armas espirituais com o objetivo de me atacar. Com isto, sou obrigado a também me proteger usando meus poderes de vidente. Quando estamos prontos, finalmente a luta começa. Com muita rapidez e experiência, sou atacado de diversas formas e inicialmente só penso em me defender e me esquivar dos ataques. Na maioria das vezes, consigo alcançar o objetivo, mas meu adversário é tão hábil que vez ou outra me atinge. Numa dessas, ele me atinge em cheio o que provoca minha primeira queda. Aproveito este momento rápido para refletir e realinhar minha estratégia. Iria atacar também mesmo que isso fosse bastante arriscado.
Na minha primeira tentativa, não tenho êxito, sou ferido novamente mas não desisto. Continuo tentando até que o atinjo. Ele parece se assustar mas logo se recupera mas volta a atacar novamente, agora com mais força e rapidez. Tento responder à altura e o combate fica cada vez mais interessante. A cada embate de nossas espadas,o mundo parece tremer e querer se destruir como na guerra entre anjos. É aí que tenho uma ideia. Provoco um encontro frontal entre as armas, o que resulta em sua destruição. Pronto. Tudo estava salvo. O mundo não acabaria nem Deus teria que atear fogo ao universo para evitar uma catástrofe maior.
O meu adversário não gosta de minha atitude, se concentra novamente e me atinge em cheio com seus poderes mentais. Caio de joelhos, muito confuso e tonto. Na minha mente atormentada, passam canarinhos, ovelhas, cavalos, e visões distorcidas de luz, trevas provocando em mim novamente um encontro das “forças opostas” e o despertar da minha poderosa, perigosa e tenebrosa “Noite escura da alma”. Fico um momento estático sem reação até que a luz se aproxima e escuto uma voz fininha me chamando de longe. Concentro-me na voz e em alguns instantes reconheço a guardiã, minha primeira mestra espiritual e sigo ao pé da letra suas orientações interiores. Isto me faz recobrar os sentidos, fico mais tranquilo e enfim consigo me levantar.
Encaro o meu adversário novamente, reconheço sua superioridade, mas uso todas as forças a minha disposição. Sirvo de ponte entre a luz e a realidade e o ataco de uma vez só. E a estratégia dá certo. O meu adversário cai, desacordado. O círculo de fogo se desfaz e corro para abraçar Renato. O primeiro obstáculo tinha sido superado e todos tinham uma participação na vitória, seja na torcida ou nos conselhos. Agora, cabia a nós continuar no caminho.
Esperamos o monge se recuperar, ele admite a derrota e permite a nossa passagem. Retomamos então a caminhada e como tínhamos atrasado um pouco apressamos os nossos passos ainda mais, avançando na natureza agreste. No caminho, passamos por novas experiências, novos e interessantes lugares e pessoas, ouvimos o som da mata, driblamos pedras, pedregulhos e espinhos, tudo diante de um sol escaldante de verão. Onde nos levaria nossas peripécias? Não sabíamos, apenas guardávamos promessas do destino que se revelava e se escondia a cada passo nosso. Mas continuaríamos tentando. Esta era uma decisão definitiva.
Continuamos avançando e em dado instante ultrapassamos a metade do percurso. O feito nos faz feliz novamente. Porém, sabíamos que novas dificuldades poderiam aparecer. E é o que não demora. Alguns passos adiante, somos cercados por caboclos, espíritos protetores da floresta. Ele nos encara e o chefe deles se aproxima mais e tenta estabelecer um diálogo.
—O que fazem aqui? Já faz muito tempo que andam na floresta, por acaso querem lhe fazer algum mal?
—De maneira nenhuma. Ao contrário, somos protetores. Estamos aqui numa missão de extrema importância, uma viagem de trabalho. Garanto que não machucaremos ninguém. (Eu)
—Somos os desbravadores do tempo, e buscamos a paz, o reconhecimento, o amor. Enfim, procuramos a evolução. (Complementa Renato)
—Acho bom. De qualquer maneira, saibam que serão vigiados continuamente. Não demorem muito. Pois há um limite de tempo por dia na mata. (O chefe dos espíritos caboclos)
Dito isto, desapareceram. Não tivemos tempo de perguntar mais detalhes sobre o limite e então por via das dúvidas nos apressamos ainda mais. Continuamos a caminhar, avançamos e ultrapassamos os três quartos do percurso em um período considerável. Neste momento, dúvidas nos assaltam, mas não temos tempo para pensar nelas. O importante era não fraquejar num momento tão importante.
Avançamos ainda mais e nos aproximamos do destino. Logo em seguida, chegamos em frente à arvore plantada por Angel e Victor, símbolos do seu amor. Concentro-me e estou prestes a tocá-la novamente, mas antes que eu faça o movimento, uma voz conhecida grita atrás de mim: —Não se mexa.
Volto para trás e deparo-me com Angel que rapidamente se aproxima. Espero ele chegar para me dar as explicações necessárias.
—Você estava prestes a se suicidar. Mas ainda bem que te encontrei a tempo. Queria te perguntar se você já explorou seus chacras.
—Não, mestre. Nem sei ao menos o que é Chacra nem explorá-lo. Como faço? (Indaguei)
—Os chacras individuais são os responsáveis pelo controle do fluxo energético carnal e espiritual. Eles utilizam a luz do sol para alimentar a nossa aura e se o desenvolvermos corretamente este poder podermos emitir nossa energia espiritual ao exterior facilitando a compreensão de muitas coisas. A fim de explorá-lo você tem que se concentrar no ambiente, sentir sua magia, seu poder e quando você se entregar completamente poderá entender o desafio atual com mais facilidade. (O mestre)
—Isto. Siga o que o mestre disse e lembre-se de esquecer tudo a seu redor. Lembre dos aprendizados anteriores. (Lembrou Renato)
—Tudo bem. Pelo menos eu vou tentar. (Confirmei)
Dito isto, fico de costas para os meus companheiros, fecho os olhos, esqueço todas a preocupações,anseios,inquietações,as companhias e começo a me concentrar na luz que aquece e dá vida ao planeta. Usando o meu tato espiritual, imagino as estrelas, os astros,planetas,cometas,sóis,galáxias,os seres, tudo isto fazendo parte da roda da vida, inventada por um grande Deus,onisciente,onipotente,onipresente mas invisível ás suas criaturas. Tento ligar-me a este poder grandioso, único ser capaz de me entender naquele momento e nesta busca viajo pelas inúmeras dimensões existentes. Em tudo reconheço o nome dele mas percebo ainda muitas tribulações e a natureza grita constantemente ao meu redor. E é aí que paro e grito também: —Deus meu, vem me socorrer! Estou tão triste, estou sozinho, não conheci o amor nem descobri o potencial dos meus chacras.
Espero a resposta por um tempo, ninguém me responde, eu me decepciono e quando já estava desistindo do meu objetivo, escuto uma voz interior me dizer: —Você não está sozinho e não precisa me procurar em espaços distantes porque eu estou dentro de você, eu sou parte de você. Também me senti muito triste e sozinho há aproximadamente dois milênios atrás porque fui traído e injustiçado pelo meu próprio povo. Mas venci. Se você acreditar em mim e segurar com confiança em minha mão poderei realizar milagres em sua vida. Você quer minha ajuda?
Ainda confuso com toda esta revelação, não titubiei e disse mentalmente a voz: —Sim, eu entrego inteiramente meu destino em tuas mãos. Farei minha parte para te ajudar.
Depois da resposta, senti uma explosão mental, tudo gira ao redor, várias visões se sucedem rapidamente mas não me concentro em nenhuma delas. É aí que sinto algo diferente em mim, uma corrente de energia que percorre todo o meu corpo e me faz ver ao longe. Num estalo, tenho controle sobre mim mesmo e quando me sinto seguro abro novamente os olhos. Volto a posição inicial e reencontro meus companheiros de aventura.
Sem perguntas, dirijo-me a arvore e ao tocá-la eu tenho mais uma visão reveladora: “Herbert era um pobre camponês da região norte do Egito. Suas características principais são:Ambicioso,inteligente,perspicaz,maduro e reflexivo. Desde pequeno, procurava de diversas formas ganhar fama, ostentação e dinheiro mas por mais que se esforçasse não conseguia alcançar seu objetivo. Mas era um batalhador. E um dia encontrou um senhor de terras que admirado com sua inteligência lhe deu uma chance de ajudá-lo a comandar seus negócios. E não decepcionou. Auxiliado por sua inteligência, fez bons investimentos o que trouxe bons resultados para seu chefe e como ganhava por comissão também melhoraram sua vida. De um momento para outro, tinha dinheiro suficiente para realizar todos os seus sonhos e refletindo, decidiu aproveitar sua vida em:Festas,viagens,mulheres e atividades que envolviam lazer, mas sempre era aconselhado a poupar mas como tinha um emprego fixo não se importou muito com este conselho. E aí o tempo passou e no auge do poder e fama, certa vez, numa de suas viagens, encontrou um mendigo que lhe pediu esmola mas não lhe deu atenção alguma. Por que ele não trabalhava? Pensou. Disse para si mesmo: Eu sempre trabalhei, busquei e um dia tive a minha oportunidade. Que ele procure a sua, não tenho nada a ver com seu problema, concluiu. Depois deste fato, alguns meses depois, errou um cálculo, fez um mau investimento e sem esperar foi demitido. Foi aí que procurou suas economias, e verificou que gastara tudo. Procurou outro emprego, mas ninguém mais confiava nele. Por fim, terminou na rua e mendigo como aquele homem que se negara a ajudar. Moral da história: Sempre é bom ajudar. Não importa nossa posição ou classe, se te negas a ajudar, o universo retribui em dobro. Multiplique seu dinheiro, mas partilhe-o e poupe-o para que sempre sua mesa fique farta, e para manter a felicidade. Este é um conselho da vida e todos que seguirem vão se dar muito bem.”
A visão termina. Afasto-me da árvore, me aproximo dos meus companheiros e juntos decidimos voltar imediatamente a casinha a fim de trocar ideias mais tranquilamente. Retomamos então a trilha e começamos a fazer o caminho de volta. No caminho, revivemos lugares fantásticos, encontramos pessoas e animais, os cumprimentamos e seguimos nosso caminho carregando as lembranças das aventuras anteriores e a atual. O que aconteceria daqui por diante? Não tínhamos a menor ideia e era isso que dava um sabor especial as nossas aventuras.
Continuamos avançado cheios de expectativa e ansiedade apesar de já ter cumprido três etapas.A cada passo dado,um novo aprendizado se mostrava a nossa frente.E tínhamos a obrigação de assimilar tudo para ter uma visão ampla sobre os temas.Foi assim que surgiu os dois livros anteriores e eu estava plenamente engajado no terceiro,um terceiro ainda confuso,distante e incógnito por mostrar um desafio gigantesco a ser superado,a questão do desenvolvimento dos sete dons, e a busca pela evolução contínua.Porém,apesar dos pesares eu continuaria na batalha.
Continuamos avançando.O tempo passa e em cerca de duas horas cumprimos todo o trajeto.Ao chegar no destino,nos reunimos na sala e começamos a deliberar sobre o que aprendemos anteriormente.Eu inicio a conversação.
—Mestre,eu tenho uma dúvida.Ainda terei dificuldades maiores do que neste desafio?Quais os riscos?(Pergunto)
—Com certeza,meu caro nobre,que se denomina filho de Deus.A cada novo desafio,novas dificuldades e escolha difíceis terão que ser feitas.Mas não se preocupe:Está fazendo um bom trabalho e tem chances de chegar ao fundo das histórias que prometem ser bastante reveladoras.Quanto aos riscos,são muitos.Maiores detalhes,darei nos próximos capítulos desta novela.(Angel)
—Se precisar de mim,estarei aqui,e no momento crítico serei essencial como sempre.(Renato)
—Obrigado,Renato,pela disponibilidade.Já sei que posso contar com você sempre ,meu amigo.E aí qual o próximo passo,Angel?(Indaguei)
—Calma,não seja ansioso mais uma vez.Primeiro me diga a que conclusões chegou ao entrar em contato com a minha árvore.(O ancião)
—Da primeira vez,senti a grande força dum sentimento profundo que se pode chamar verdadeiramente de amor.Da segunda,tive uma visão referente ao terceiro dom,o conselho,que me fez compreender ao mesmo tempo o amor conjuntamente com ele.Precisamos refletir, e para conseguir andar por um caminho seguro,temos que ouvir conselhos de pessoas experientes que nos mostram um pouco do que é a vida.Se nos negarmos a isso,não descobriremos por completo nosso potencial,nem teremos a oportunidade de sermos completamente felizes pois a felicidade se mostra na caridade,nas boas atitudes,no amor espiritual.Amor também é renúncia,entrega,compreensão,companheirismo,cumplicidade,etc.E você está de parabéns por ter amado tão profundamente um dia.(Afirmei)
—Esplêndido.Agora está preparado para continuar e quem sabe ser feliz completamente.Obrigado pelo elogio.Amor é assim,acontece de repente,seja para nos fazer felizes ou para nos fazer sofrer.Não escolhemos.Mas podemos decidir continuar ou desistir do mesmo.E esta é uma das escolhas difíceis a serem feitas e é aí que o conselho de alguém experiente se torna uma ferramenta essencial para alcançar o sucesso.(Angel)
—Amor também se traduz na amizade.Amo de coração o vidente.(Declara Renato)
A fala de Renato me emociona e nos abraçamos mutuamente.Por instantes,criamos uma atmosfera fantástica de acolhimento e paz espiritual.Neste momento,nossa luz brilha mais forte no céu e reafirma nosso compromisso.Seríamos amigos para sempre,independente de qualquer coisa.Depois de separarmos,Conversamos mais um pouco sobre tudo,planejamos os próximos passos e quando está tudo acertado vamos preparar nosso almoço.Fazemos esta tarefa rapidamente,nos alimentamos,fazemos outros trabalhos,descansamos e refletimos durante o restante do dia.O próximo dia nos revelaria surpresas e questões ainda mais fantásticas.Continue acompanhando,leitor.

Continuando a preparação
Amanhece no sítio fundão. Em dado momento, acordamos, nos esforçamos para levantar e, depois de algumas tentativas frustradas, finalmente conseguimos (Eu e Renato). Já Angel permanece dormindo e respeitamos sua idade e limitações físicas inerentes a ela. Passamos por ele e vamos começar a fazer a rotina normal da manhã (Tomar banho, preparar o café, nos alimentar e escovar os dentes).Na realização das tarefas, tentamos ser eficientes e ágeis da melhor maneira possível e humildemente nos damos muito bem. Em menos de uma hora, já estamos comendo o desjejum na mesa. Neste exato momento, o mestre aparece, nos cumprimenta e senta ao nosso lado.
Ele se serve e tentamos puxar conversa a fim de obter maiores informações sobre o desafio atual.
—Mestre, poderia nos explicar com mais detalhes o desafio proposto dos sete dons? Estamos indo bem até o momento? Como agir a partir de agora? (Perguntei)
—Muitas perguntas de uma vez, meu caro. Mas tudo bem.Tentarei te explicar. O desafio dos dons tem como objetivo prepará-lo para enfrentar uma dura realidade na visão que se apresentará e consiste em duas etapas: A primeira, composta dos seis primeiros dons, dos quais três estão cumpridos, realizar-se aqui no Sítio Fundão, com meu auxílio e de Renato.Depois,a segunda, composta pelo sétimo dom e mais cinco etapas que o desafiarão o seu poder interior e o fará visualizar os problemas atuais ,as soluções possíveis e juntos com a primeira visão poderão produzir “O encontro entre dois mundos”, o dilema a ser resolvido. Quando finalizar a primeira etapa, você será orientado melhor sobre isso. Quanto ao desempenho de vocês, não estão deixando a desejar, a vossa experiência o ajudou muito. Mas é ainda cedo para comemorar pois os desafios ficarão cada vez maiores e exigirão muito desempenho e raciocínio da parte dos dois. Bom, agora, devo comunicá-los que passarão o dia comigo e juntos desenvolveremos a co-visão, no caso do vidente, com Renato tendo uma conversa particular e pessoal comigo para que eu possa orientá-lo sobre algumas coisas. (Explicou Angel)
—Entendi. Ficou bastante claro para mim. Quando partiremos? (Eu)
—Depois de terminarmos o café. Mas não nos preocupemos com trabalho agora. Vamos nos deliciar, pois está muito bom o rango que prepararam. Quem cozinhou? Está de parabéns. (O anfitrião)
—Fui eu. O vidente só sabe fazer ovo frito. Quanto a nossa conversa, vai ser muito séria? Pensei que a guardiã já tinha me preparado. (Renato)
—Calma. Você é muito sábio, mas precisa de orientação. Confie em mim e vai dar tudo certo. (Asseverou Angel)
—Este menino e suas gracinhas.Eu sei cozinhar sim. Eu te orientei o tempo todo. Olhando a receita, sei fazer sim. (Protestei, o vidente)
Todos riem com minha declaração e a conversa continua a girar sobre vários assuntos. Quando terminamos de comer, lavamos os pratos, limpamos a sujeira da cozinha, vamos nos vestir e arrumar algumas coisas para levar no caminho. Com tudo pronto, saímos de casa e já fora procuramos a trilha mais segura e próxima em direção ao grande centro da floresta do sítio. Que novas experiências e aventuras nos esperavam? Continuem acompanhando, leitores.
Rapidamente, conseguimos achar uma trilha.Com passos firmes e seguros, começamos a caminhar nela. O momento atual é de ansiedade e expectativa apesar de tantas emoções já vividas nesta e em aventuras anteriores. O que seria do nosso projeto, da nossa dupla que até agora se mostrava incrível? Poderíamos fracassar? Esta era uma possibilidade apesar de não trabalharmos com ela pois nosso pensamento era sempre de otimismo, de autoconfiança mas também de precaução. Estávamos dispostos a enfrentar qualquer obstáculo.
Com isto em mente, continuamos seguindo em frente por cerca de trinta minutos resolvendo parar um pouco. A pausa nos dá a oportunidade de nos hidratar e de comer um lanche. Angel senta no chão, pede que façamos o mesmo e começa a nos ensinar.
—Estão sentindo? A natureza grita constantemente pedindo ajuda, dando orientações,ensinando,aprendendo mas muitas vezes estamos tão imersos em nossas preocupações que nos negamos a escutá-la. Eu perdi muitas oportunidades da minha vida por causa disso. Até que certo dia, com a experiência, entendi o processo e ajudei alguém a se encontrar um pouco mais.
—Eu tive uma experiência parecida na Montanha do Ororubá.Foi através da meditação que descobri um pouco do meu potencial, mas sinto que ainda não me desenvolvi completamente. (Confessei)
—Eu nasci e me criei na mata. Conheço tudo na montanha do Ororubá.Mas como minha parte espiritual não é aguçada, não percebo nada além dos barulhos dos seres. (Renato)
—É compreensível. Vocês são ainda muito jovens. A fim de crescerem, peço a partir de agora um verdadeiro trabalho de equipe. Chega de individualismo e vaidades. O sucesso se vier será responsabilidade dos dois. (Orienta Angel)
—Tudo bem, mestre. (Respondemos em coro)
—Primeiramente, respeitem seus limites. Se tiverem em dúvida, não arrisquem. Lembrem-se que não super-heróis, que o caminho ainda não está traçado, e que é melhor um pássaro na mão do que dois voando. Agindo assim, estarão livres da influência das mentes negativas e das surpresas da vida. Tudo tem seu momento certo. (Angel)
—Como saberemos reconhecer este momento certo? (Eu quis saber)
—Eu participarei? (Renato)
—Não se preocupem com isso agora. A vida mostra. Foi assim comigo quando me assumi. O importante é não desperdiçar as oportunidades. Olha Renato, só sua presença soma. É claro que ocorrerá sua participação. Não será diferente das outras vezes. (Assegurou Angel)
—Tudo bem. De nossa parte, não faltará empenho, entrega, dedicação, fé no universo e no destino. Não é mesmo, Renato? (Eu)
—Sim, companheiro. Sempre juntos— Respondeu ele.
Depois desta breve observação, nós três nos abraçamos e reafirmamos nosso compromisso de entretenimento, de trabalho e evolução contínua. Quando tudo terminasse, lembraríamos destes momentos únicos e maravilhosos, especialmente importantes para minha carreira na literatura. Continuaríamos com a saga do vidente para o bem do mundo e nosso também.
O tempo passa um pouco. O momento do abraço termina, nos levantamos e decidimos continuar o trajeto que ainda estava no começo e prometia novidades. Seguimos em frente avançando na trilha. Nossos passos nos levam a conhecer novas e lindas paisagens, desfrutar o ar puro do campo completamente, encontrar animais e novas pessoas, viver momentos de ansiedade e expectativa, apesar de tudo estar caminhando bem. Com um pouco mais de tempo, avançamos mais e já atingimos um terço do trajeto percorrido. O feito nos faz feliz e agita mais nossas emoções. O que aconteceria? Dentro de algum tempo saberíamos e provavelmente teríamos que tomar decisões importantes e definitivas. Contudo, tudo valia a pena em prol do sonho maior.
Alguns passos depois, nos sentimos cansados e resolvemos fazer uma pausa rápida. Sentamos no chão duro, nos hidratamos, conversamos um pouco. No momento atual, nosso pensamento está voltado completamente para o objetivo e tentamos tirar algumas informações importantes de nosso mestre. Ele ri, desconversa e manda nós relaxarmos. Isto nos irrita um pouco. Será que ele não sabia o quanto era decisivo aqueles momentos para nós? Caso fracassássemos, jogaríamos todas as ilusões fora e viveríamos uma vida sem graça e cheia de sofrimentos. Seríamos punidos pelo universo que nos proporcionou o dom. Mas ele devia ter suas razões e cabia a nós acolher, respeitar e segui-lo sem mais perguntas.
Certo disso, quando estamos recuperados, nos levantamos e voltamos a caminhar. Seguimos pela mesma trilha, continuamos a enfrentar garranchos, espinhos, bichos venenosos embalados pelos sons da mata. Em dado momento, Angel puxa conversa.
—Que bom tê-los aqui comigo. Dois jovens cheios de sonhos que estão me fazendo reviver uma parte da minha juventude e me dando a oportunidade de repassar alguns conhecimentos que a vida me deu. Muito obrigado. (Angel)
—Nós é que agradecemos. Pela disponibilidade, paciência, pelas orientações. Sabe, tudo está sendo muito proveitoso. (Afirmei)
—Isto. Tudo está valendo a pena e o mais importante de conservarmos é a sua amizade. O admiramos muito. (Renato)
Dito isto, lágrimas rolam pelo rosto de Angel mostrando a sinceridade dos seus sentimentos. Diante de nós estava um homem que junto com meu avô transpassaram barreiras numa época atrasada e repleta de preconceitos. Era um herói de verdade que tivemos a sorte de conhecer. No momento seguinte, ele nos abraça, a emoção continua por mais um tempo e quando ele se recupera, retoma o diálogo.
—Muito bem. Esquecemos um pouco o passado e nos concentremos nos presente. Estão dispostos mesmo a continuar, a arriscar sem temer as consequências?
—Sim. (respondemos em coro)
—Pois bem. Este era o momento para desistir ou continuar. Como vocês escolheram a segunda opção, esta escolha é sem volta. Sigam-me então. Estarei com vocês sempre. (O mestre afirmou)
Obedecemos ao mestre, o seguimos, avançando na trilha agreste. Cada passo dado parecia nos revelar um novo mundo e só faltava chegar ao seu elo, “O encontro”. Mas ainda tínhamos muito tempo para realizar desafios, evoluir e chegar a este ponto. Não tínhamos nenhuma pressa e sim sede de conhecimento. Uma sede que poderia nos levar a perdição, a loucura ou até mesmo uma desgraça caso não tivéssemos o cuidado adequado.
O tempo passa um pouco. Alguns passos adiante, ultrapassamos dois terços do trajeto, nos informa Angel. Ele nos dá algumas orientações básicas e anoto num bloquinho a fim de não esquecer.Nele,anoto também alguns pontos principais de nossa experiência que me ajudariam a escrever o terceiro livro da minha série. Depois de escrever, o guardo com carinho na minha mochila, localizada nas minhas costas. Em seguida, continuamos a caminhar sem trégua. Apesar da idade avançada, Angel aumenta um pouco o ritmo e nós o acompanhamos.
Em dado momento, confiro o horário por curiosidade. Verifico que já estávamos cerca de duas horas a caminhar. Mesmo com o sol escaldante, o suor escorrendo, as dores no joelho e os arranhões resolvemos não parar mais pois o destino nos esperava. Torcíamos que ele nos trouxesse surpresas boas.
Avançamos cada vez mais .Com mais quarenta minutos de caminhada, uma grande planície, cercada por montanhas belíssimas se apresenta aos nossos olhos. Ficamos estáticos por alguns momentos e Angel faz sinal de que chegamos. Aproximamo-nos mais do centro e ao chegar exatamente no meio, sinto uma pressão espiritual muito intensa. Caio de joelhos e peço socorro. Meus companheiros de aventura gentilmente me apoiam a fim de eu não cair de encontro ao chão. O mestre toca em minha cabeça, profere uma oração silenciosa e eu me acalmo. Ele inicia o diálogo.
—Seja mais resistente, filho de Deus. Não se deixar levar pelas forças negativas. O importante agora é manter o foco. Não pense mais em nada.
—Está bem. Mas não seja tão exigente. Lembre-se que estou apenas aprendendo. (Observei)
—Eu também. Estamos no mesmo barco. (Complementou Renato)
—Bem,deixe-me explicar um pouco o que seria a co-visão e como desenvolvê-la. Você,Aldivan,como “Vidente dos livros” recebe a maioria das revelações através de visões, que são imagens rápidas e fortes encaminhadas ao cérebro coordenadas pelo seu dom, sua sensibilidade provocada pelo meio externo. Pois bem, a co-visão seria uma visão mais clara, mais forte, o que o levaria a uma profunda reflexão e desenvolvimentos dos seus poderes. Porém, para chegar a este nível você precisará da ajuda duma segunda pessoa, que esteja na sua mesma sintonia, que te conheça bem e que inspire confiança, alguém como Renato—Disse Angel.
—Como poderia ajudá-lo? (Animou-se Renato)
—Como seria isso? (Eu)
—Calma, para os dois. A co-visão não se desenvolve duma hora para outra. Vão ser necessárias três etapas para que consigam ter a primeira experiência. O que deve ser feito agora e sempre é um treinamento de adaptação. Toda vez, que tocar algo, filho de Deus, terás a companhia prazerosa de Renato. (O mestre)
—Como assim? (Pergunto)
—Eu explico. A cada experiência de visão breve, chamarás Renato para participar e emitir sua energia espiritual, algo parecido com a liberação dos “Chacras”. (Angel)
—Tudo bem. Somos uma equipe mesmo, não é? (Eu)
Eu e Renato nos abraçamos. Agradeço a Deus e a guardiã por tê-lo conhecido na montanha sagrada do Ororubá. Desde então, ele tinha tido uma importância enorme servindo como amigo, confidente e companheiro de aventuras. Batalharíamos juntos nesta nova busca e, com o estímulo adequado, poderíamos sair novamente vencedores. Continuem acompanhando, leitores.
Depois do abraço, nos afastamos um pouco e nos dirigimos ao mestre a fim de obter mais informações.
—Qual o próximo passo? (Perguntamos)
—Colocar em prática o que eu disse. Aproximem-se do centro novamente, fechem os olhos e pensem no futuro. (Angel)
Mesmo com um pouco de medo e dúvida, obedecemos ao mestre nos aproximando do centro do sítio. Com alguns passos, chegamos ao destino e nos colocamos lado a lado. Angel se aproxima, desenha um círculo ao nosso redor e seguimos suas instruções. No momento que iniciamos o ritual, a pressão espiritual vai aumentando pouco a pouco e parece querer nos explodir. Com muito esforço e luta conseguimos ficar ainda conscientes. É aí que limpamos nossa mente e escutamos claramente o mestre: Fechem os olhos, relaxem, liberem o espírito para voar.
Quando executamos os dois primeiros itens,a terra treme, os poderes do espaço são abalados, nosso subconsciente é forçado a adormecer, a escuridão nos envolve e dum instante para outro, caímos de encontro ao chão. Adormecermos e então os nossos espíritos são liberados. Já fora dos corpos, ficamos um em frente ao outro. Porém, durante pouco tempo. Fugindo do nosso controle, somos separados por uma linha divisória tipo campo de força, que se coloca entre nós irremediavelmente. Tentamos superar o obstáculo, mas nossos esforços revelam-se inúteis. Separados, somos atacados por forças ocultas e misteriosas do sítio Fundão.Eu, atormentado por visões sem sentido, e Renato, imóvel, é atacado por línguas de fogo que o fazem se comunicar em línguas até então desconhecidas da face da terra. Estávamos, no momento, num beco sem saída.
Da minha parte, as visões obstruem totalmente meu raciocínio e não deixam de forma alguma eu usar meus poderes de vidente. Vejo nelas raiva,ambição,inveja,crise,despeito e desentendimento. O choque entre as “forças opostas” é contínuo o que provoca também o surgimento da noite escura. Mesmo assim, luto contra estas forças tentando decifrar seus significados.Porém,como estava sozinho, logrei poucos avanços. Já Renato tenta em vão me aconselhar porque não entendo nada do que diz .Com isso, permanecemos durante um bom tempo sem grandes resultados. Mas não podíamos ficar o tempo todo desta forma. Quando estamos perto do limite, uma voz grita:
—Acabou!
Então a confusão se desfaz, o campo de força some e num estalo voltamos ao nosso corpo físico. Ao recobrar os sentidos, abrimos os olhos e encaramos o nosso mestre com o semblante transparecendo estar um pouco decepcionado. Mesmo assim, ele se aproxima e nos dá algumas palavras de apoio:
—Tudo bem. É apenas a primeira tentativa. Poderiam se sair melhor, mas está dentro do esperado. O importante é que tentaram e não desistiram. Aconselho a ter mais sintonia, aproximação, mais calma, usar o conhecimento dos dons já conquistados, reviver na memória experiências espirituais e carnais importantes, se espelhar nos mestres da vida e na vida em si. Acima de tudo, trabalhar em equipe. (O anfitrião)
—Fomos atacados por forças ocultas muito poderosas que não nos deixaram escolha. Confesso que nunca tinha sentido tanta pressão. É normal? (Indaguei)
—Eu também. Em dado momento, fiquei tão confuso que nem mesmo eu me entendia. (Renato)
—Claro, ainda não estão prontos. O que esperavam? Rapadura é doce mas não é mole. Tem muito que aprender ainda até dominar a técnica da co-visão. Mas não temam. Não estou aqui para atrapalhar ou julgar vocês e sim para dar um auxílio, ser como a seta que indica o caminho. (Explanou Angel)
—Então digo que estamos prontos para aprender. Seremos seus mais humildes discípulos mesmo já tendo conquistado a gruta, feito uma viagem no tempo, resolvido conflitos e injustiças, voltado a montanha, dominado os sete pecados capitais, convivido com piratas, com a rainha dos anjos e entrado no Eldorado, a porta que sela os mundos carnal e espiritual. Sempre há algo a conquistar. Evolução é a palavra-chave. O que fazemos agora? (Perguntei)
—E eu sempre o ajudando nos momentos cruciais. Sim, e agora? (Renato)
—Vocês estão de parabéns por tudo que conquistaram. O importante é manter os pés no chão pois isto é apenas “A ponta do iceberg”. Vocês terão ainda muitas aventuras, experiências incríveis, inusitadas, transformadoras. Basta continuar com o foco bem definido. Por enquanto, não tenho nada a pedir. Continuarão o desafio à tarde. Peço que me sigam a fim de curtir um momento de lazer. (Angel)
Angel se afasta um pouco, dobra a direita e segue uma nova trilha. Nós o acompanhamos. Durante quinze minutos, andamos apertados por folhas,árvores,espinhos,formigas,barro,pedras e outros empecilhos. Porém, o desafio, as conquistas, a experiência, a companhia de Angel, a natureza e o ar puro fazia tudo valer a pena. Estávamos apenas no começo.
Os nossos passos vigorosos nos levam a avançar .Diante de nós surge ,numa clareira, um pomar variadíssimo e ,ao fundo, uma lagoa de água cristalina. Dirigimo-nos a primeira árvore,subimos,tentamos agarrar alguns frutos e quase caímos. Fazemos malabarismos e prestando atenção um pouco em Angel, ficamos impressionados com a agilidade do mesmo apesar de sua idade avançada. O momento é bom e nos traz lembranças do tempo de criança, rimos, conversamos, descansamos nos galhos grossos da árvore e curtimos um pouco o sol agreste.
Depois de aproveitar bastante, descemos, comemos os frutos colhidos, conversamos um pouco mais, aproveitamos a sombra. Um momento depois, Angel pede que o acompanhe e obedecemos prontamente. Andamos em frente, chegamos ao fundo e somos convidados a entrar na lagoa. Mesmo ressabiados, entramos, Renato mergulha e eu fico só no raso pois não sabia nadar. Angel também entra, se aproxima de mim e começa a dar algumas aulas de natação. Eu adoro. Ficamos um bom tempo na água.
Quando nos cansamos, saímos da lagoa, sentamos e conversamos um pouco mais de tempo. Em dado momento, Angel nos passa as respectivas orientações a fim de cumprirmos o desafio atual e se despede, voltando para sua casa. Agora, restavam eu, Renato e o desafio. O que aconteceria? Continuem acompanhando, leitores.

Descobrindo o dom da fortaleza
Depois da saída de Angel,procuramos iniciar imediatamente o caminho que nos levaria a enfrentar mais uma etapa relativa ao desenvolvimentos dos dons. Iríamos para o oeste do sítio afim de novas experiências ,conhecimentos e a visão respectiva. Assim fazemos. Começamos a caminhar na trilha respectiva, enfrentando tudo e a todos, e nada parecia nos desanimar. Onde buscávamos tanta garra,inspiração,determinação,coragem e fé? Eu explico. Na nossa própria história de vida.Eu,um pobre jovem sonhador, do interior do nordeste, esquecido pelas elites e pelas autoridades. Buscava um sonho desde 2010,que era realizar-se na literatura. Em busca do objetivo, escalara uma montanha, encontrara a guardiã, a jovem, o menino, realizara desafios e enfrentara a gruta mais perigosa do mundo. Driblando obstáculos, chegara a câmara secreta (parte final da gruta) e por um milagre me transformara num vidente poderoso. Mas isso não era tudo. A gruta era apenas o início duma interessante trajetória. Depois disso, viajei no tempo, resolvi conflitos, reuni as forças opostas e as controlei, no primeiro passo da minha evolução humana e espiritual. Este foi o primeiro passo duma se Deus quiser longa trajetória.Após,voltei a me dedicar á faculdade, ao trabalho e as questões pessoais da minha vida cotidiana. Quando tive um tempo livre, voltei a pensar no meu caminho, na literatura e me perguntei sobre um período difícil que enfrentei em minha vida, um período negro que me desliguei de Deus, do sagrado, enfrentei as pessoas, as magoei, e vivi um sem número de experiências. Chamei este período de “A noite escura da alma” e em busca de respostas procurei novamente a montanha, especificamente a guardiã a fim de que ela me orientasse.Com o auxílio dela, Comecei a investigar os pecados capitais, mas era um tema tão complexo que tive que ser repassado a outra pessoa, um hindu, e aprendi um pouco mais com ele. No entanto, as coisas ainda não tinham ficado bastante claras e então fui orientado a fazer nova viajem, rumo a uma ilha perdida, do outro lado do planeta, onde talvez encontrasse as respostas que tanto procurava. No caminho, embarquei junto com Renato, num navio de piratas, vivemos novas aventuras, até chegar ao destino improvável.Finalmente,tive então a oportunidade de conhecer a parte mais densa da “Noite escura” e ter a visão da história. Tinha cumprido uma nova etapa na minha carreira mas isso ainda não era tudo. Atuando como vidente dos livros, procuraria sempre ouvir a voz do meu subconsciente em busca do meu destino e da felicidade. Ao meu lado, todo este tempo, estava Renato. Ele que fora durante muito tempo, quando criança, forçado a trabalhar exaustivamente, maltratado, sem carinho, conseguiu o apoio da guardiã para se reerguer, e ter ainda esperanças na vida. Atuando como meu auxiliar, ele fora fundamental nas minhas aventuras e a cada dia sua presença me enchia de alegria. Juntos, éramos mais, uma equipe imbatível, conforme Angel nos ensinara e acreditávamos.
Continuamos caminhando sobre pedras, poeira, barro e o sol escaldante. A cada passo, nos sentimos mais ansiosos, expectantes, mas também tranqüilos. Apesar da indefinição, continuamos seguindo em frente, seguindo as orientações do mestre, sem pestanejar. Era o que nos restava no momento.
Passa-se um pouco mais de tempo. Já estamos na parte da tarde, aproximadamente 14:00 Hs. Apertamos os passos, driblamos obstáculos, perigos e inquietações e já chegamos a aproximadamente um terço do trajeto percorrido. Desta vez, não nos impressionamos, isto só nos estimula a avançar ainda mais. E assim continuamos. Revemos as paisagens, a terra seca, alguns animais. O que muda é a situação. Antes, estávamos apenas de passeio, conhecendo o terreno. Agora, estávamos a ponto de encarar um novo desafio, que se mostrava gigantesco, que poucos ousaram arriscar. Além disso, as nossas responsabilidades aumentavam a cada momento.
Mas é bom destacar que isto era absolutamente normal. Desde quando entrei na gruta, assumi a responsabilidade da conquista contínua e evolução em prol do dom que recebera gratuitamente do universo.Com muita garra e coragem, continuaria arriscando sempre não importando as consequências nem os riscos. O importante é que contava com a torcida de amigos,familiares,conhecidos,admiradores e o apoio dos meus companheiros de aventura. Independentemente do resultado, a experiência e o aprendizado se mostravam muito importantes para minha carreira. Era em busca destes dois itens que continuamos avançando embrenhados numa mata quase virgem ao encontro do destino incerto, destino que nos leva a cumprir a metade do trajeto trinta minutos depois.
Em dado momento, nos sentimos cansados e resolvemos de comum acordo parar. Dobramos a direita, num desvio que se apresenta e achamos uma parte de terra limpa e sem garranchos. Sentamos.Pegamos a mochila, cada um pega um pouco de água e de alimento e satisfaz um pouco de suas necessidades. Quando terminamos, aproveito o momento para relaxar e descontrair puxando uma conversa com meu companheiro de aventura.
—E aí? Está tudo bem? Gostando do desafio, do passeio, da experiência e do trabalho?
—Muito. Quando terminarmos vitoriosos, teremos muito a contar. Aqui tudo é muito belo, tranquilo e prazeroso caminhar. No momento certo, te ajudarei ainda mais. (Renato)
—Eu também estou gostando. É diferente de tudo que vivi até agora. As conversas, as orientações, a companhia de alguém que foi um desbravador de preconceitos de sua época me ajudou a ter uma visão nova da vida. Pessoas assim devia se ter aos montes para que o mundo melhorasse de verdade. (Afirmei)
—Eu concordo. Às vezes, o que falta é a coragem. Muitos se escondem do mundo preferindo viver infelizes a ter que enfrentá-lo. É uma opção. Mas com certeza não é a mais adequada. (Renato)
—Bem, isto não se discute. Cada qual sabe o que é melhor para si. Todos nós, em algum momento, temos que fazer escolhas difíceis e está cada vez mais perto da nossa vez. Peço a Deus sabedoria e bom senso para não errar. (Eu)
—Eu também. Somos uma equipe e temos que ter o maior cuidado a partir de agora. Paciência também é importante. (Renato)
—Certo. Vamos continuar? Já está ficando tarde. (Solicitei)
Renato concorda comigo, nos levantamos, voltamos a trilha principal e retomamos a caminhada. No caminho, conversamos um pouco mais sobre o desafio e definimos a estratégia a ser adotada e algumas prioridades. Isto era necessário a fim de que não tivéssemos surpresas desagradáveis. Com tudo acertado, continuamos a caminhar mais tranquilos e convictos. Avançamos rapidamente, driblamos os obstáculos e incertezas e um instante depois ultrapassamos os três quartos do percurso. O desafio estava cada vez mais próximo.
Alguns passos adiante, surge, diante de nós, um grande obstáculo. Encontramos com índios Xucurus que nos cercam por todos os lados. Um deles que parece ser o chefe se aproxima, nos prende e nos pergunta em nossa língua o que fazíamos ali. Um pouco sem graça, explicamos que estamos a passeio, numa busca pelo conhecimento e ele meio sem entender nos diz que para continuarmos temos que vencer um desafio. Desconfiado, pergunto qual seria e ele me apresenta um arco e uma flecha. Manda colocar um alvo minúsculo a cerca de quinze metros e diz: —Tem que acertar, se não morre. Tem três chances.
Nervoso e atormentado, fico alguns instantes sem reação. O que seria de nós agora e da nossa aventura? Não tinha nenhuma experiência com este tipo de coisa e se fracassasse, o nosso destino era a morte prematura. Neste momento, lembro dos desafios da gruta, especificamente das três portas que representavam felicidade, fracasso e medo. Tinha aprendido com meus erros, controlado meu medo e assim conseguido escolher e alcançar a porta certa, a felicidade. Tentaria agir da mesma forma agora.
Preparo-me, fico em posição e quando estou seguro, lanço a flecha. Fecho os olhos e quando os abro tenho uma decepção. Nem passara perto e agora só restava duas tentativas. O cerco se fechava a cada momento tendo nossa vida em jogo. O que aconteceria? Seja o que fosse, não perderíamos a esperança nem teríamos medo de tentar mais uma vez.
Preparo-me novamente. Aponto em direção ao alvo, e lanço. Fecho os olhos e ao abrir, nova decepção. Mas desta vez, passara mais perto. A uns dez centímetros de distância. Agora só restava uma tentativa e se errasse, nossa aventura estaria terminada e nossa vida também. O que diriam nosso mestre, nossos familiares, conhecidos, amigos? Sentiriam saudades de nós e de nossas peripécias? Bem, cabia a mim não os fazer sofrer ou deixá-los com saudades. Não estava em meus planos abortar o projeto do vidente.
Animado com uma força e coragem nunca dantes vistas, pego o arco e flecha pela última vez. Sem pretensão nenhuma, aponto na direção, transformo-me no vidente ao pensar nas três portas, concentro-me um pouco e quando estou pronto lanço a flecha, fecho os olhos e ao abrir, dou um grito e corro para abraçar Renato. A meta estava cumprida. O índio chefe me cumprimenta e se afasta com seus subordinados. O caminho agora estava livre para que pudéssemos continuar sonhando com a conquista dos dons.
Depois do abraço, resolvemos retomar a caminhada imediatamente. Avançamos cada vez mais rápido na mata agreste e continuamos superando obstáculos. A cada passo dado, nos sentimos mais confiantes na vitória e no sucesso de nossa empreitada. No entanto, teríamos que ter o maior cuidado porque a cada dom desenvolvido o círculo da passagem se estreitava e por isto tínhamos menos opções.
Algum tempo se passa e finalmente alcançamos o destino. Estamos no oeste do sítio, exatamente sobre as ruínas do que um dia fora a casa do bem aventurado, meu antepassado,Vítor.Observo cada cantinho e parecia que eu já estive naquele lugar, de alguma forma. Toco em vários antigos objetos que estavam espalhados mas não sinto absolutamente nada até que Renato se aproxima, pega no meu braço e me conduz até o quarto. Nós dois tocamos na ruína principal, o chão treme, meus chacras explodem, o mundo escurece e então tenho a compreensão e a visão respectiva do quarto dom: “Era uma vez um jovem chamado Marcelo, residente na zona rural do município de Sertânia-PE. Era integrante duma família simples, todos agricultores, mas foi criado com uma base de valores recheados de princípios éticos e de moral. A cada dia que passava, transmitia esses ensinamentos a seus semelhantes e orgulhava a todos com esta atitude. Além disso, engajava-se nos estudos ,no trabalho, nas causas sociais. Era um ser do bem em todas as instancias. Até que algo mudou. Um certo dia, numa fatalidade, seus familiares perdem a vida. Ele se revolta inicialmente, pois era muito apegado a seus entes. Passa a questionar seus hábitos e se pergunta de que valera seu esforço em ser um bom homem. É neste exato momento que conhece Fabrícia.Descobre com ela o sentido da amizade,cumplicidade,amor,fidelidade .Decide se casar e supera esta primeira perda com o passar do tempo apesar de não esquecê-la. Tem um casamento feliz,filhos,uma boa situação financeira,amigos,enfim tudo estava valendo muito a pena. Até que num certo dia perde a mulher em outra fatalidade.Inconformado,passa dias sofrendo e se perguntando por que a vida lhe aplicara mais um golpe. Entra em depressão.Com a ajuda dos filhos, procura tratamento psicológico, vai superando aos poucos seus traumas e com um certo tempo volta a sua rotina normal:Trabalho,atividades sociais e de lazer, convivência com amigos. Descobre dentro de si um potencial enorme em superar as perdas e adversidades da vida, chamada “Fortaleza”. Era isso. Não se tratava de esquecer as desgraças e sim conseguir superá-las e viver uma vida normal valorizando o que tinha em mãos. E é isto. Marcelo se recuperou, viveria em paz e feliz com sua família o resto dos seus dias. Redescobre o amor com outra pessoa e vive outros momentos felizes. “Fortaleza é um dom essencial para que enfrentemos a vida sempre com esperança de dias melhores e com a força, coragem e garra necessárias para enfrentar as perdas que são inevitáveis, superando-as para que possamos viver a vida em paz. Pois a vida é bela, clara, e deve ser vivida com alegria e felicidade que todos merecemos.”

Pós-desafio
A visão termina. Depois de tudo concluído, saímos das ruínas da casa que era do meu avô ,procuramos a trilha e começamos a fazer o caminho da volta rapidamente antes que a noite caísse. O momento atual requer concentração e calma a fim de assimilar todos os conhecimentos da visão. Focamos nisso durante o trajeto. Além disso, planejamos os próximos passos de nossa aventura inusitada no sítio, conversamos sobre nossos pontos falhos e sobre o treinamento da co-visão que ainda não se realizara. Porém, nossas opiniões entram em conflito em diversos pontos e deixamos para tratar disto com o nosso mestre mais tarde. Assim continuamos avançando na trilha agreste sem maiores preocupações.
No caminho, conhecemos algumas pessoas, e paramos um pouco para trocar ideias. Depois da apresentação, falamos um pouco de nossas vidas e eles da deles (São três jovens que se chamam Soraia, Claudionor e Cássio—Todos irmãos). Conversamos também sobre assuntos gerais, literatura, amizade, relacionamento, política durante aproximadamente meia hora. No final, antes de ir, nos convidam para continuar a prosa em sua casa (no período da noite), e nos explicam como chegar lá. Empolgados, aceitamos e finalmente nos despedimos. Continuamos então a nossa caminhada e com mais alguns passos ultrapassamos um terço do percurso. Neste momento, a ansiedade, o nervosismo e a expectativa aumentam por causa dos fatos anteriores. Então aumentamos o nosso ritmo.
Apesar do ritmo forte, dá tempo de apreciarmos e repassarmos cada centímetro daquele chão, e reconhecemos nele os frutos dos nossos esforços: Galhos retorcidos, nossas pegadas no chão, pedras deslocadas. Já tínhamos ultrapassados os obstáculos daquele trilha em prol dum dom, do universo e em busca dum destino ainda incerto. Nossa motivação era maior a cada momento apesar dos pesares.
Cheios de curiosidade, vez ou outra saímos do caminho principal e descobrimos um mundo inteiramente novo:vegetação, animais, textura da terra, paisagem. Era um descobrir muito valioso. Pena que estávamos com pressa e quase noite, senão aproveitaríamos mais. Quem sabe noutra oportunidade, penso. Então voltamos ao nosso foco principal e avançamos ainda mais. Ultrapassamos dois terços do percurso. Estávamos mais perto de nossa casa provisória.
No restante do percurso, com o cansaço, diminuímos o ritmo do corpo e da mente, ficando mais relaxados. Tínhamos cumprido a quarta etapa com sucesso e isto nos animava bastante. No entanto, sabíamos que havia muito a aprender não só nesta aventura como em outras a realizar. O caminho do vidente era difícil e espinhoso, exigia de nós uma aprimoração contínua. Mas ainda bem que estávamos no caminho certo. Com esta certeza, Caminhamos ainda mais e depois de um tempo, finalmente chegamos ao destino. Sem cerimônia, entramos na morada de Angel, o procuramos e o encontramos na parte correspondente a sala. Ele nos convida a sentar em frente ao mesmo e quando fazemos isso, estamos preparados para uma boa conversa, uma troca de conhecimentos entre amigos e companheiros de aventura.
—E aí? Como foi a experiência? Compreenderam o dom da fortaleza? (Angel)
—Acredito que sim. Através da visão apresentada, tivemos a ideia da importância desse dom. Ele é primordial para superarmos as perdas, enfrentar situações difíceis e angustiantes com a cabeça erguida, termos força para continuar o caminho. Mas também há momentos em que devemos extravasar, e pedir colo aos entes mais queridos. “Ser fraco no forte” é essencial. (Explanei)
—Eu também acho que sim. Trabalhamos em equipe e descobrimos um pouco mais do nosso potencial. Na verdade, desde a primeira aventura, cultivamos a fortaleza no sentido de não desistir dos nossos objetivos. A experiência atual só fez tudo ficar mais claro. (Completou Renato)
—Muito bem. Gostei das explanações. Houve uma evolução e por isto estão de parabéns. No entanto, ainda estamos distantes do objetivo final. A partir de agora, tentem prestar atenção em cada detalhe que se apresentar a fim de incorporar melhor os dons. Os dois próximos serão decisivos para o desenvolvimento da co-visão. (Alertou Angel)
—Entendi. Quando devemos realizar o próximo passo? (Perguntei)
—Como será minha participação desta vez? (Renato)
—Calma. O próximo passo será dado amanhã pela manhã, após o café. Renato continuará auxiliando o vidente nas visões até terem total entrosamento. Mais detalhes, só depois. Por enquanto, reflitam tudo que viveram até agora. (Orienta Angel)
—Tudo bem. Refletiremos. O jantar está pronto? Passamos a tarde toda fora e só nos alimentamos com besteiras. (Comentei)
—Sim. Podem ir à cozinha e servir-se. Preparei uma sopa maravilhosa. (Angel)
Dominados pela fome, obedecemos ao mestre e em poucos passos chegamos no destino. Sentamos a mesa, nos servimos, começamos a nos alimentar e a conversara fim de nos distrair, na brincadeira, puxamos encrenca um com outro. Isto termina em apenas alguns tapas carinhosos. Em dado momento, lembramos dos familiares, dos conhecidos, dos amigos e dos mestres anteriores e a saudade invade nosso peito. Mas uma saudade saudável que não nos atrapalhava em nada. Por fim, agradecemos interiormente a eles por ser o que somos e continuamos a devorar a comida. Depois de repetir o prato várias vezes e nos sentirmos satisfeitos, voltamos a sala, falamos com Angel, e ele nos libera para ir à casa dos nossos recém amigos. Ele nos dá uma lanterna, nos dirigimos a saída, e auxiliados por sua luz começamos a dar os primeiros passos fora da casa. Conforme as informações, era aproximadamente trinta minutos de caminhada, seguindo em frente na estrada principal de terra.
Pouco a pouco, vamos nos afastando de nossa residência provisória. No caminho, enfrentamos os obstáculos naturais, o medo, a ansiedade, a falta de experiência, e a pouca luminosidade. Porém, valeria a pena o esforço em fazer novas amizades sinceras e fiéis. É como diz o ditado: “Mais vale amigo na praça do que dinheiro na caixa”. Movidos por essa frase, continuamos a avançar na noite escura agreste em certa parte do percurso, escutamos uivos estranhos. Sem pensar, marcamos carreira e mesmo sem ser atletas, mantemos um bom ritmo. Usando como combustível o medo, não paramos de correr e quando avistamos as primeiras casas à beira da estrada sentimos um alivio imediato. Estávamos salvos.
Aproximamo-nos mais, batemos na primeira porta, pedimos um gole de água com açúcar a fim de nos acalmar. A senhora que nos atende gentilmente nos dá. Quando terminamos de beber, agradecemos, desejamos boa noite e voltamos a caminhar mais tranquilos auxiliados pela luz dos primeiros postes. Avançamos um pouco mais, contamos as casas, dobramos a direita e na quarta casa batemos a porta. Tínhamos finalmente chegado.
De dentro da casa, sai uma senhora de meia-idade, pele bronzeada, cabelos longos e pretos, magra, um rosto bem definido e bonito. Ela se aproxima e pergunta o que desejamos. Explico que somos os dois jovens que Soraia, Claudionor e Cássio conheceram na mata. Dito isto, ela abre um largo sorriso e nos convida a entrar. Nós aceitamos, entramos na casa e ela se apresenta com o nome de Clara, a mãe deles. Em retribuição, nos apresentamos também. A mesma nos conduz até uma sala, onde quatro pessoas se encontram, os três que conhecíamos e mais um homem forte, robusto, moreno, simpático e gentil. Ele se apresenta como Eduardo. Retribuímos com um muito prazer, citamos os nossos nomes, nos acomodamos nas cadeiras disponíveis, e a roda da conversa começa a girar.
—E aí? Vidente e Renato, qual é o objetivo de vocês ao visitar nosso pequeno e distante sítio? (Pergunta Eduardo)
—Estamos numa aventura do conhecimento. Viemos para aprender, partilhar experiências, desenvolver nosso potencial e especificamente nosso projeto. (Eu)
—E eu sou seu braço direito. (Renato)
—Que tipo de projeto? (Interessou-se Clara)
—Eu explico. Venho há alguns anos, desenvolvendo um talento que recebi de graça do universo, especificamente na literatura. Em busca desse sonho, já escrevi dois livros da série “O vidente” e estou projetando o terceiro. (Eu)
—Nosso objetivo é repassar um pouco da nossa experiência para os leitores nos mais variados temas, a fim de levá-los a refletir e tornar-se ser humanos melhores. (Renato)
—Muito interessante. Vão em frente. Vocês parecem ser realmente especiais. (Clara).
—Eu também acho. Desde que o conhecemos, notamos sua generosidade, bondade, carisma e foi isso que nos atraiu. (Soraia)
—Os encontramos cansados e decididos no interior da mata. Isto nos impressionou bastante. (Comentou Claudionor)
—Além disso, foram muito prestativos conosco apesar de sermos apenas estranhos. (Elogiou Cássio)
—Obrigado. Estamos sempre à disposição. (Enfatizou Renato)
—Eu também quero agradecer a todos. O apoio de vocês, meus amigos, é muito importante para mim.Continuaremos nosso caminho por vocês e todos os leitores que nos prestigiarem. Agora, mudando de assunto, tem algo místico a descobrir por estas bandas? (o vidente)
—Muitas. Temos caboclinhas, rezadeiras, mestres na magia, sábios. Mas muitas destas pessoas já morreram. Os novatos só fazem enrolar. (Informa Eduardo)
—Tem um ainda vivo. Chama-se Angel. Já ajudou a muitas pessoas a desenvolverem seus dons. (Clara)
—Ah, conheço. Estamos na casa dele. Mas mesmo assim obrigado. (O vidente)
—Não somos mestres do conhecimento, mas vivemos experiências também. Se quiser, poderemos falar sobre elas. (Claudionor)
—Claro. Estamos sempre dispostos a ouvir, desde que esteja interessante. (Renato)
—Isto mesmo. (Completei)
—Eu começo. Somos três irmãos simples, criados na roça, com uma boa base familiar, e pessoalmente acredito na vida e nas pessoas. Todo mundo tem potencial e é capaz de progredir, vencer os obstáculos, e se realizar. Claro que cada passo por vez. Se a pessoa se abre completamente para o destino e se esforça o caminho fica mais fácil. Por exemplo, no meu caso, já tenho cinco ovelhas conseguidas com meu próprio suor. (Claudionor)
—Concordo. Não só o sucesso profissional, mas também o amoroso depende dos nossos esforços próprios. Ajudamos o destino, criamos laços, vivemos experiências, erramos, acertamos, perdemos, ganhamos. O importante é sermos sempre honestos no que fazemos. (Cássio).
—Além disso, temos que ter fé, esperança, coragem e iniciativa para concretizar os projetos em realidade. Tudo é uma questão de escolha. (Soraia)
—Agora é a minha vez. Sou mais velho e acho que tenho um pouco a transmitir. Vou contar um pouco da minha história pessoal. Desde quando era menino, sonhava em ter independência, construir uma família feliz apesar de não ter bons exemplos disso. Nossa situação financeira era difícil, as brigas familiares eram intensas e corriqueiras, e eu e meus irmão éramos frequentemente espancados por coisas banais. Vivíamos uma grande pressão e por isso alguns resolveram fugir, perdemos o contato, mas eu fui covarde. Suportei até tudo até ficar adulto. Saí então de casa. Percorri o mundo e acreditem, foi muito pior. Apesar da liberdade conquistada, passei fome, sofri humilhações, fui chamado de cabeça chata,errei até encontrar Clara, um anjo em minha vida. Conhecemo-nos numa avenida, onde a ajudei a levantar depois de um tropeço. Imediatamente, simpatizei com ela, trocamos os contatos, saímos algumas vezes,namoramos,casamos,tivemos filhos e vivemos 10 anos enfrentado muitas dificuldades. Mas vencemos. Quando conseguimos dinheiro suficiente, em comum acordo decidimos viver aqui, compramos um sítio. Desde então, somos felizes. Depois de tudo o que vivi, posso afirmar com certeza que os sonhos são possíveis, quaisquer que sejam. (Eduardo)
—Fico feliz em fazer parte de sua vida,querido. Você também transformou minha vida. Quanto a minha experiência, quero dizer que apesar de ter decepcionado minha família ao escolher ser uma simples dona de casa, posso afirmar que acertei. O importante não é o que ganhamos, o status social, os prazeres, e sim estar feliz consigo mesmo com muito ou pouco. É isto. (Clara)
—Esplêndido.Obrigado. Ajudaram muito. Quero dizer que estou muito feliz com a amizade de todos e que desejo manter contato. (O vidente)
—Eu também. Amo fazer amizades. (Renato)
Levanto-me propondo um abraço coletivo e todos aceitam. Neste momento mágico, uma pequena luz surge entre nós e sobe até o céu. Enquanto nós vivêssemos, ela brilharia sempre. Depois dum tempo, nos separamos e conversamos um pouco mais. Quando esgotamos todos os assuntos, nos despedimos e imediatamente procuramos retornar a nossa casinha provisória. Auxiliados pela luz da lanterna, enfrentamos os mesmos perigos da ida, corremos na mata, até que exaustos finalmente chegamos, entramos na residência no mestre, caímos na cama, e dormimos. O próximo dia teria novas aventuras.

O dom de ciência
Amanhece no sítio Fundão,zona Rural de Pesqueira, agreste de Pernambuco-Brasil. Em dado momento, eu e Renato despertamos auxiliados pela claridade intensa provocada pelos raios de sol. Alguns instantes depois, nos levantamos, nos cumprimentamos, nos espreguiçamos, e vamos tomar banho, um por vez. Terminado este processo, voltamos ao quarto, trocamos de roupa, acordamos Angel e por fim nos dirigimos a cozinha a fim de preparar o café. Auxiliados por Angel, finalizamos esta tarefa em pouco tempo e logo depois sentamos a mesa, a fim de comer o desjejum. É aí que se quebra o silêncio até então predominante através do nosso mestre atual.
—E aí? Dormiram com os anjos?) (Angel)
—Não muito bem. Meu espírito foi treinado intensamente e isto me causou muito cansaço. Isto é normal? (O vidente)
—Já eu dormi muito bem. Apesar da dor nas costas, he, he. (Renato)
—Renato,parabéns. Isto é raríssimo aqui no sítio. Aldivan, è absolutamente normal e isto demonstra mais necessidade de treinamento e desenvolvimento. Como foi o sonho? (Angel)
—Na parte principal do sonho ,meu espírito voava, sobre um abismo muito profundo, e dentro dele havia uma espécie de monstro que me perseguia e me usava para escapar. Era como se, no passado, eu o tivesse prendido através de alguma magia e ele me usava agora. No final, nos enfrentávamos, mas ele era muito evoluído para mim. (O vidente)
—Entendo. Talvez isto represente um sinal do destino em relação ao futuro. Basicamente, mais ação, concentração e reflexão. Em suma, energia pura. (Angel)
—Eu o farei. Não faltará dedicação e persistência de nossa parte. Quanto ao próximo desafio, como agir e quando se realizará? (O vidente)
-—Daqui a alguns instantes, depois de terminarmos o café. Iremos ao leste e trabalharemos com o dom da ciência e novamente com a co-visão pois faltam apenas dois passos para a primeira revelação. (Angel)
—Entendi. Estamos à disposição, mestre. (Renato)
—Obrigado Angel pelas informações. (O vidente)
A conversa esfria, continuamos a nos alimentar e quando terminamos, vamos nos preparar para a nova saída: Arranjamos alimento, água, e pego minha bíblia e crucifixo inseparáveis. Com tudo pronto, nos dirigimos a saída, e já fora, procuramos a trilha mais próxima que nos conduz ao nosso destino. Ao encontrarmos, iniciamos a verdadeira caminhada. O que aconteceria? Continue acompanhando, leitor.
O novo começo de caminhada produz em nós um encontro de sentimentos e expectativas opostos, como se fossem dois mundos completamente diferentes. Ao mesmo tempo em que comemoramos o cumprimento das metas atuais, nos enchemos de dúvidas e ansiedade com relação ao nosso futuro. Como conciliar estas questões? Penso um pouco e não encontro uma resposta plausível. Na dúvida, continuamos seguindo sem frente a fim de descobrir aonde chegaríamos. Nesta busca, avançamos rapidamente entre espinhos, garranchos, contestações e saudades. Mais adiante, cumprimos um quarto do percurso. No momento, este fato só representa um número.
Avançamos mais. Em dado momento, encontramos com um típico caçador sertanejo, muito simpático, chamado Roberto, conhecido de Angel. Paramos um pouco e puxamos um pouco de conversa. Ele nos fala das suas grandes aventuras e feitos naquela região, incluindo amores, grandes caças, contato com extraterrestres e espíritos. Sua história é mesmo interessante. Ficamos entusiasmados e contamos um pouco de nossa vida particular, de nós mesmos. Sendo um homem já experiente, ele aproveita para nos dar conselhos. Ouvimos tudo atentamente e prometemos pensar muito bem sobre o assunto. Angel aproveita sua presença para nos dar outras orientações. As informações dos dois se completam e nos dão uma boa base para nos guiar. Agradecemos. Quando o assunto esgota, Roberto nos abraça, deseja boa sorte e finalmente se despede. Eu, Angel e Renato retomamos a caminhada e um tempo depois ultrapassamos metade do percurso.
Um pouco mais adiante, Angel desvia da trilha principal, e dobra a direita. O acompanhamos. Ao dar o sexagésimo sexto passo, sinto um baque espiritual tão tamanho que fico de joelhos. No instante posterior, o mundo gira, o céu escurece diante de nós, e somos cercados por luz e trevas ao mesmo tempo. No centro, uma fogueira espiritual é acesa e somos empurrados de encontro a ela. Quando atingimos o fogo, somos cercados por uma legião de mutantes espirituais antigos que começam a usar seus poderes contra nós. Angel, cheio de experiência, domina completamente a situação e não é atingido pois é conhecedor da magia branca e a negra. Já eu e Renato sofremos por sermos ainda aprendizes. Somos alvo de reclamações e ataques por estes espíritos atormentados.Com a mente muito confusa, tento me concentrar e depois de muito esforço consigo liberar meu poder interior e me transformo no vidente. Já transformado, libero meu espírito ,uso minha paranormalidade e copio os poderes dos personagens mais importantes. Reajo. Uso o metal,raios,telepatia e afasto por um momento os espíritos. Aproveito a situação, dou um passo para trás e tudo finalmente muda: os espíritos se afastam, luz e trevas também, a fogueira se apaga. Retorno ao meu corpo e espero um pouco. Quando me sinto completamente bem, levanto-me e abraço meus companheiros. Angel explica:
—O tempo urge e o cerco está se fechando. Isto é um sinal de que os espíritos ancestrais dos mutantes estão inquietos e querem se manifestar o quanto antes. Temos que nos apressar.
—Quem são eles? Posso saber? (O vidente)
—Alguns são meus ex-companheiros de aventura. Infelizmente, por questões diversas, não encontraram a paz no mundo espiritual e exigem uma retratação, uma divulgação. Durante muito tempo procuraram alguém capaz mas não encontraram. Agora você foi eleito, filho de Deus. Está nas suas mãos dar paz aos mesmos. (Angel)
—Pode deixar. O que estiver ao nosso alcance, o faremos. (Afirma Renato)
—Entendi. É muita responsabilidade mas vou tentar. Vou precisar de sua ajuda,Renato. Temos que desenvolver a co-visão o quanto antes. (O vidente)
—Não só a co-visão como a sua sensibilidade tem que ser bastante aguçadas. O importante é que vocês estão bem dispostos. Continuemos a caminhada. (Recomendou o Mestre)
Retornamos a trilha principal. Continuamos a enfrentar os obstáculos naturais da mata além de feras selvagens. Apressamos o passo, analisamos cada detalhe, aprendemos com nós mesmos e com o universo que se apresenta a nossa frente. Neste exato momento, decido entregar-me completamente ao meu destino e “ser como o rio que flui”. A nova atitude aliada com a minha garra,força,persistência e coragem aumentavam em muito as chances de sucesso de minha equipe. Era isto. Agora só restava esperar e avançar. Logo depois, ultrapassamos os três quartos do percurso. O desafio se aproximava.
Continuamos seguindo em frente firme e fortes. A cada passo, aumentamos a nossa concentração, dedicação e esforço pois era o mínimo exigido de nós a fim de que pudéssemos continuar nossa aventura. O que encontraríamos ou aonde chegaríamos? Não tínhamos a mínima ideia, a ansiedade e o nervosismo eram grandiosos, mas permanecíamos no controle devido as nossas experiências anteriores e a atual. Assim avançamos gradativamente. Com um pouco mais de tempo, finalmente chegamos ao destino. Estávamos na região leste, numa planície extensa, sem vegetação, rodeado por rochas vermelhas. Aproximamo-nos do centro, da grande pedra. Antes que pudéssemos alcançá-la, Angel para e pede que façamos o mesmo. E Explica:
—Vocês devem subir na pedra e tentar novamente a co-visão. Sigam os meus conselhos anteriores e tentem evoluir. Cuidado para não ultrapassarem a linha do futuro nem tentar entendê-la.
—Está bem. (Respondemos em coro)
Dito isto, caminhamos mais alguns passos, subimos na pedra sagrada, damos as mãos e nos concentramos. Relaxamos, meditamos e quando começamos a entrar em sintonia, nossos espíritos desprendem-se da parte corpórea. Ficamos um em frente ao outro. Como da outra vez, somos separados por uma força superior e atacados simultaneamente por homens encapuzados. Da minha parte, transformo-me no vidente, e uso um pouco os meus poderes a fim de me defender. Apesar dos meus esforços, meu adversário se mostra muito hábil e perigoso. Basicamente, só me defendo. Já Renato, profere oração silenciosas que aprendera com sua mestre e mãe, a guardiã da montanha, e leva um pouco de vantagem.
A luta continua. Às vezes, consigo contragolpear,ás vezes sou atingido. Percebo que o objetivo maior dos nossos inimigos era nos separar. Então tento fugir da luta, mas sou impedido. Do outro lado, Renato finalmente consegue prender o inimigo e lançá-lo de voltas ás trevas. Uso sua motivação e sabedoria, os conselhos do hindu, e finalmente consigo derrubar meu adversário no chão. Corro para junto de Renato, tento abraçá-lo mas antes que eu o alcance, algo me atinge por trás. Afastamo-nos novamente e ao voltar para trás e tocar no inimigo, tenho a seguinte visão: Era uma vez, num reino distante localizado no sudoeste da Ásia, um rei muito rígido e poderoso. Ele se chamava Arthur. Herdeiro único do antigo rei Otacílio, dominava uma larga região com mão de ferro. No entanto, no terceiro ano de seu reinado, seu império ficou ameaçado por uma seca que provocou uma crise econômica. Os nobres (A elite) Já não tinham dinheiro para pagar seus pesados impostos e em breve provavelmente iria a ruína e talvez até perdesse sua condição de monarca. Acuado, consultou seus conselheiros mais próximos, exigiu uma solução, mas nenhuma ideia sugerida lhe pareceu boa o bastante. Contrariado, mandou enforcá-los. Ao chegar a noite, foi dormir tentando achar uma solução. Porém, depois amanhecera e nada de resultados. Então resolveu sair um pouco e foi passear no jardim. Caminhando, triste e sozinho, encontrou um de seus serviçais no caminho que ao perceber sua situação catastrófica, resolveu perguntar como podia ajudar. O Rei, explicou a situação e que precisava de alguém que o aconselhasse e lhe desse uma solução plausível para a crise no reino. O empregado que se chamava Assis disse que conhecia alguém esperto o bastante, seu próprio filho. Mesmo sem acreditar, o rei permitiu que o trouxesse em sua presença a fim de conhecê-lo. Ao encontrá-lo, perguntou como sair da crise que se instalara no estado. O jovem pensou um pouco e deu uma solução: —Use o tesouro do reino, a metade para amenizar a fome do povo e as despesas públicas e quando passar a seca use a outra metade para fomentar a agricultura e a reforma agrária. O ano que vem promete ser muito bom. A fim de alcançar sucesso, nunca desampare os pobres pois são estes que sustentam as suas regalias. Impressionado com a resposta, Arthur refletiu um pouco, aprovou a sugestão, e resolveu tomar uma atitude drástica: Entregou seu cargo de Rei aquele jovem pois este sim era digno dele, pois sabia compreender as necessidades dos súditos e falou com sabedoria e ciência sobre uma questão relevante. “Ter ciência é conhecer, entender e compreender não só os sinais da natureza, como a tecnologia, mas também aplicá-los com sabedoria no momento certo.”
A visão termina. O homem encapuzado se afasta, e de um solavanco eu e Renato voltamos aos nossos corpos físicos. Despertamos, levantamos, saímos de cima da pedra e reencontramos Angel. O mesmo retoma o diálogo.
—E aí? O que sentiram nesta experiência?
—Senti que estamos muito perto. Por pouco, não obtemos êxito na co-visão tendo apenas a visão sobre o dom de ciência. Tudo se encaminha para a revelação. (O vidente)
—É verdade. Conseguimos vencer nossos adversários internos. Agora, só falta um pouco mais de entrosamento. (Renato)
—Muito bem. Parabéns. Aproveitem o momento e tentem absorver a maior quantidade de informação possível referente a este dom. Será muito útil para vocês. Agora, retornemos a trilha. Conversaremos depois, em casa. (Angel)
Obedecemos o nosso mestre atual e começamos a fazer o percurso de volta. Agora, estávamos a um passo da primeira revelação e quando tivéssemos a segunda, poderíamos chegar ao objetivo final: “O encontro entre dois mundos”. Porém, tínhamos consciência de que havia muita água a rolar por baixo desta ponte. Evolução era a palavra chave da vez.
No caminho, entramos em contato novamente com os animais, a vegetação, o ar puro e o clima agreste local. Desta vez, andamos sem pressa e sem maiores preocupações pois tínhamos cumprido mais uma etapa. Agora, nos restavam mais uma naquela região. Será que continuaríamos a ter sucesso? Se dependesse de nossa dedicação e empenho, esperávamos que sim. Além do mais, estava ao nosso lado um guerreiro secular que com sua experiência nos fizera evoluir muito e obter todas as conquistas até o presente momento. Tudo estava ao nosso favor.
Continuamos seguindo em frente, acompanhando Angel, que nos dá todas as explicações necessárias. Fala da vida, do nosso futuro, do projeto e como evitar o fracasso, o medo e o desespero. Mentalmente, anotamos tudo e usaríamos isto quando fosse necessário. Aproveitamos a ocasião e sanamos algumas dúvidas pertinentes. Quando tudo está esclarecido, o silêncio impera, avançamos ainda mais e logo ultrapassamos a metade do percurso.
Um pouco mais adiante, passamos perto do local onde os mutantes se manifestaram e isto me provoca arrepios. O que os tinha impulsionado a se manifestar tão claramente? Analisando a situação, concluo que o fato deles ainda não encontrarem a tão esperada paz devia estar os sufocando e eles, ante minha presença, aproveitaram para nos pressionar e vencer todos os obstáculos. Isto aumentava ainda mais a nossa responsabilidade perante o mundo e os leitores. Mas “se estávamos na chuva era para nos molhar” e faríamos o possível e o impossível a fim de satisfazer todas as expectativas.
Continuamos a caminhar com Angel ao nosso lado, aparentemente alheio a tudo que está ao seu redor. Aproveito para observá-lo um pouco e constato um homem misterioso,introspectivo,experiente,desbravador de preconceitos, que amou e foi amado, um homem além do seu tempo. Desde quando o conheci, aprendi a admirá-lo pelo seu exemplo e por um pouco de sua história de vida que chegara aos meus ouvidos.Com o seu auxílio, já compreendíamos cinco dons e aprendemos a valorizar as coisas boas da vida. Certamente, depois que tudo acabasse, não o esqueceríamos jamais. Continuamos na nossa saga.
Um tempo depois, finalmente nos aproximamos do nosso destino (a residência de Angel). Impulsionados pela fé, força e coragem completamos o trajeto restante, abrimos a porta, entramos, fechamos a porta, e nos dirigimos a pequena sala para conversarmos um pouco mais. Sentamos nas cadeiras disponíveis, ficamos de frente uns aos outros e Angel toma a palavra:
—Poderiam me falar um pouco da experiência anterior e sobre o que aprenderam com ela?
—Eu começo. Surpreendi-me muito com esta etapa no tocante ás revelações. Nunca poderia imaginar os perigos impostos, as lutas internas que tivemos que enfrentar e a nossa importância em tudo isso. Tudo o que aprendi me ajudou a entender com profundidade a ciência, dom fundamental que nos faz descobrir a natureza, a nossa condição, e nos proporciona até realizar milagres. Em conjunto com a sabedoria, podemos resolver problemas substanciais. (O vidente)
—Além disso, melhoramos o nosso entrosamento, vencemos nossos inimigos e com um pouco mais de esforço poderemos chegar a tão sonhada co-visão. (Complementou Renato)
—Muito bem. Mas não contem vitória antes do tempo. Muitos se perderam no sexto dom. Por isto, todo cuidado é pouco. Vocês têm mais alguma observação a fazer? (O mestre)
—Nenhuma. Obrigado por tudo. (O vidente)
—Eu tenho. Estou morrendo de fome. (Renato)
Todos riem com a declaração de Renato e resolvemos de comum acordo nos alimentar. Dirigimo-nos a cozinha, preparamos o alimento, nos servimos e comemos na santa paz de Deus. Planejamos o restante do dia, terminamos de comer, e descansamos um pouco nos nossos leitos. Quando acordamos, limpamos a casa, escutamos um pouco de música no rádio de pilha, saímos para tomar um pouco de sol. Assim a tarde avança, chega a noite e nos ocupamos em outras atividades. Quando nos sentimos exaustos, vamos dormir finalmente pensando no outro dia. Que outras aventuras instigantes nos esperavam? Continue acompanhando, leitor.

A última etapa no sítio
A noite passa, a madrugada chega e um pouco de tempo depois finalmente amanhece mais uma vez. Auxiliados pela claridade natural da manhã e pela brisa aconchegante, despertamos, levantamos, nos espreguiçamos, nos dirigimos como de costume a parte de trás da casa a fim de nos banhar (Um por vez).Vamos ao quarto, trocamos de roupa, e nos dirigimos à cozinha a fim de preparar nosso café. Neste processo, aproveitamos os alimentos disponíveis e fazemos alguns pratos saborosos. Dentre eles, a tapioca, panquecas e cuscuz nordestino com charque. Um verdadeiro banquete por bem dizer. Sentamos a mesa, começamos a nos alimentar e em dado momento o mestre Angel puxa conversa.
—Hoje é um dia fundamental em sua busca.Com nossos esforços, dominaremos o sexto dom, terão a visão respectiva e a co-visão. É assim que espero. (Angel)
—O que nos aconselha neste momento crucial? (O vidente)
—Como posso ajudar? (Renato)
—Primeiramente, Cultivem a humildade, garra, coragem, força, fé, persistência e paciência.Com estes elementos, poderão conquistar qualquer objetivo na vida. Renato, sua ajuda é fundamental ,especialmente na co-visão. (Angel)
—Especificamente sobre o sexto dom, poderia nos dar detalhes? (o vidente)
—Precisamos saber direção, local, obstáculos, entre outras coisas importantes. (Renato)
—O sexto dom é o da piedade. Um grande desafio se mostra a frente mas tudo é possível. Desta vez, seguirão o caminho sozinhos e esta etapa realizar-se no sul, no local em que ,no passado, encontramos os cangaceiros. Lá, terão a oportunidade de terem a primeira parte da revelação. No entanto, terão que superar os obstáculos que ocorrerem no caminho. (Explicou Angel)
—Entendi. Quando devemos partir? (O vidente)
—Depois do café. Aproveitemos o tempo restante para conversar um pouco mais e nos distrair um pouco. (Angel)
Aprovamos a sugestão de Angel. Relaxamos, continuamos a nos alimentar com calma e conversamos um pouco de tudo. Conhecemo-nos melhor, admiramos mais o trabalho de Angel como orientador e fortalecemos os laços de amizade. Em dado momento, nos damos as mãos, nossa luz desce do céu e brilha intensamente. Ficamos impressionados com o fenômeno. No instante posterior, ela sobe e volta ao cosmo. Angel nos explica que ela nunca se apagará, pois, nossos sentimentos são verdadeiros e, mesmo desencarnados, continuará nos acompanhando. Ficamos felizes e tranquilos ao saber disso.
Terminamos de nos alimentar, pegamos uma mochila , colocamos água e comida dentro dela, nos despedimos de Angel e ,antes de ir embora, ele nos abençoa e deseja boa sorte.Com tudo pronto, saímos da casa e já fora procuramos a trilha mais próxima que nos conduziria ao destino. Ao encontrarmos, iniciamos a caminhada. No momento, apesar da nossa experiência, o medo, a angústia, a incerteza, as dúvidas e todas as fraquezas predominavam. Aonde, desta vez, o destino nos levaria? O que aconteceria? Que revelação importante poderia aparecer? Estas eram algumas das dúvidas pertinentes que povoavam nosso cérebro. Contudo, isto servia de estímulo para nós porque instigava nosso instinto de escoteiro. Éramos os três mosqueteiros da história, contando com Angel que se reduzia a dois nesta parte do trajeto.
Continuamos a caminhar e a cada passo que damos temos a oportunidade de rever lugares, árvores, o céu, o sol, o chão, enfim, todos os aspectos. Algumas vezes, paramos por instantes .Precisávemos nos recuperar e hidratar. Num desses momentos, dou as costas pro universo e grito bem alto:Eu sou feliz, estou me reencontrando com minha história e dos lendários antepassados. Usa-me,Deus! Diga também, leitor, algo motivador e terás o mesmo sentimento que o meu neste instante. Depois do grito, sinto as mãos do destino agirem e uma voz do céu a nos guiar. Com isso, continuamos nossa busca. Um pouco mais adiante, chegamos a um terço do percurso.
Exatamente noventa e oito passos depois, o sol brilha mais forte, a terra treme, e um túnel se abre a nossa frente. De dentro dele, saem espíritos de cangaceiros os quais nos cercam irremediavelmente. Um deles, que parece ser o chefe, se aproxima mais, me chama, e se comunica com uma voz fanhosa e obscura:
—Cabra da peste, para avançar terás que me vencer num duelo. Se fracassares, levarás chumbo no couro e nos acompanhará até o submundo de onde não poderá escapar.
—E se eu me negar? (Pergunto)
—Leva chumbo no couro também. (Cangaceiro chefe)
Sem opção, concordo em participar, meu adversário me lança uma espada e fica com outra. Colocamo-nos em posição de combate e um pouco depois a luta se inicia. Inicialmente, fico na defensiva, apenas acompanhando e rebatendo os golpes rápidos do meu perigoso adversário. Em algumas vezes, ele me atinge e começo a sangrar um pouco em várias partes do corpo. Porém, não desisto. Mesmo fraco e reconhecendo a superioridade do meu adversário, continuo insistindo na batalha e estudando uma forma de reagir.
Continuamos batalhando e ,quando me sinto seguro, desfiro o primeiro golpe.Com um pouco de sorte, o atinjo em cheio. Ele cai e aproveito a situação para esmagá-lo com a ponta da espada. O atinjo imediatamente no coração, e no exato momento que isso ocorre, a terra treme, os espíritos dos cangaceiros se afastam, o sol brilha mais forte e as minhas esperanças renascem. Grito,cheio de felicidade:
—Eu consegui.
Por um lado, fico feliz pela superação do obstáculo e por outro sinto remorsos pelo despertar do meu “eu” animal que era capaz de ferir, agredir, destruir mesmo que não fosse uma pessoa viva. Seguindo este eu animal, na minha noite escura da alma, magoara diversas pessoas, tinha ido até o limite das “trevas”, libertara “meu mensageiro” completamente. Apesar de tudo isto ser passado e eu já ter sido perdoado pelas forças benignas do universo ainda era uma lembrança dolorosa. Não era bom reviver num momento tão importante da minha carreira.
Um instante depois, sento, choro de tristeza e emoção, chamo por Renato, ele se aproxima e peço colo. Deito minha cabeça em seu peito e desafogo meus sentimentos. Ele me diz palavras de consolo e auxiliado pelo seu carinho, recobro totalmente minhas energias. Quando estou pronto, o abraço e me levanto enfim. Combinamos de continuar a caminhada enquanto ainda era cedo.
Imediatamente, voltamos andar sobre pedras,flores,o chão seco, o sol escaldante do agreste e contemplamos a pequena relva da caatinga remanescente. Aonde nossos passos nos levariam? Certamente viveríamos experiências interessantes que enriqueceriam nosso leque de conhecimentos e nos fariam evoluir ainda mais abrindo a possibilidade de descobrir mundos inóspitos, intrigantes e desconhecidos da maioria das pessoas modernas.Nisto residia nosso grande desafio: Auxiliados pela visão e co-visão,descortinar o véu do tempo, analisar os fatos imparcialmente e trazer entretenimento e diversão para os leitores. Não era uma tarefa fácil mas totalmente possível pois eu e Renato formávamos uma dupla vencedora e imbatível até o momento. Pelo menos, era assim que sentíamos e pensávamos. Desta forma, munidos de otimismo avançamos cada vez mais. Um pouco mais adiante, ultrapassamos os dois terços do percurso. O objetivo final se aproximava.
Neste exato momento, estávamos muito focados e concentrados no desafio.Por isso, não tínhamos tempo nem disposição para pensar em algo além disso. Claro que sentíamos um aperto no peito, saudades de nossos familiares, medo, culpa, ansiedade, mas nada disso podia nos atrapalhar pois andávamos naquela trilha estreita com a mesma força, garra e fé que demonstrei quatro anos atrás ao galgar completamente a montanha. O sentimento de luta era realmente o mesmo apesar de serem situações totalmente diferentes.
O tempo passa um pouco. A expectativa a cada minuto que passa aumenta e resolvemos então decidir tudo logo apressando nossos passos. Quando menos esperamos, já avistamos o local do destino e a visão nos sufoca um pouco. Resolvemos parar a fim de recompor forças: Fazemos um lanche, nos hidratamos, planejamos detalhadamente nossos próximos passos. Com tudo acertado, voltamos a caminhar, driblamos mais alguns obstáculos e uns quinze minutos depois finalmente chegamos ao destino.
Estávamos no centro duma planície extensa e rochosa, local que no passado serviu de encontro entre os remanescentes lendários “cangaceiros de Virgulino” e os justiceiros do sertão. Aproveitamos o momento, respiramos aquele ar sagrado e imaginamos mil estórias a desenrolar na vida de pessoas tão importantes naquela época. Mas o que tudo aquilo tinha a ver com o sexto dom, o de piedade? Era algo que estávamos prestes a descobrir.
Eu e Renato nos damos as mãos, nos concentramos a fim de tentar novamente o desenvolvimento da co-visão.Intuitivamente,seguimos todos os conselhos do mestre e nos inspiramos em aventuras passadas para despertar um pouco mais do nosso poder interior.Com o passar do tempo,relaxamos,esquecemos tudo à nossa volta, fechamos os olhos, gradativamente vamos perdendo a consciência e quando menos esperamos, nossos espíritos se desprendem de nossos respectivos corpos.
Fora do corpo, ficamos frente a frente, nos aproximamos mais. Porém, antes do nosso encontro somos separados por forças incompreensíveis e superiores.Aí se inicia uma pequena batalha particular e mental. Nossos medos mais internos se manifestam, nos atormentam e nos fazem cair por terra. O que faríamos agora? Eu me vejo, como no passado, com medo do escuro, medo dos familiares mais velhos, medo de fantasmas, medo da sociedade e das pessoas por algo que não tinha culpa. Nesta oportunidade, reflito sobre tudo, analiso a situação e tomo uma decisão nunca antes pensada (Resolvo gritar para o mundo inteiro):
—Eu não tenho medo!Meu nome é Aldivan Teixeira Torres,sou um jovem família apesar de incompreendido por ela,sou um cara bacana,sem frescuras,consciente do que sou e que quero,que aprendeu a conviver com um dom e usá-lo para o bem,que resolveu usar a literatura para ensinar um pouco das muitas experiências carnais e espirituais vividas apesar de ter apenas trinta anos.Eu sou uma pessoa do bem!.
Depois do grito,a pressão acalma e me liberto pouco a pouco dela.Quando me sinto completamente bem,me levanto e observo Renato.O mesmo ainda encontra dificuldades para superar os seus traumas familiares,especificamente o caso do pai que o batia freqüentemente.Com intuito de ajudá-lo,dou outro grito:
—Renato,eu ,Angel e a guardiã,estamos com você.Ninguém mais irá machucá-lo.Liberte-se!
Depois do que disse, ele me parece melhor e logo está de pé. Vencemos a primeira etapa.
No entanto, ainda tínhamos que superar outras. A fim disso, tentamos nos aproximar novamente, ficamos a uma distância considerável, mas por mais que nos esforçássemos não logramos êxito. É aí que surge ,vindo do céu, uma pequena tocha de luz, que ilumina completamente o ambiente em que estávamos. Ao se aproximar, nosso sentidos são despertados, eu me aventuro um pouco e toco no campo de força. Neste instante, usando meus poderes de vidente, tenho a visão respectiva referente ao sexto dom, o dom de piedade:
“Radamés era um jovem com vinte anos integrante duma família de classe média que residia na capital do agreste pernambucano,Caruaru.Por ser de classe média,tinha quase tudo que queria proporcionado por seus pais e como qualquer outro jovem de sua idade,adorava namorar,sair com amigos em baladas,fazer farra,e outras formas de lazer.Até aí tudo bem.Porém,até o momento,desconhecia os dissabores da vida.Mas como tudo tem seu momento,um certo dia,entrou em crise existencial ocasionado pela fase dolorosa de um de seus colegas de farra e de faculdade.Ele estava com câncer.Como eram muitos amigos,ele sentiu como se fosse com ele mesmo.Contudo,ele reagiu de forma inesperada:Trancou-se em seu quarto,negava-se a se alimentar e a fazer qualquer tipo de atividade.Os seus pais,inconformados,chamaram todos as pessoas que julgaram poder ajudá-lo:psiquiatras,psicanalistas,psicólogos,vizinhos,outros colegas,e até eles mesmos.No entanto,nada parecia surtir resultado.Sabendo do caso,o seu colega,aquele que estava com câncer,chamado Vagner,O visitou,entrou no seu quarto,conversou com o mesmo sobre sua atitude.Disse que não havia motivo para tristeza,que o seu destino estava marcado,que a morte não era nada (Apenas o separaria por um tempo fisicamente) e que estaria sempre com ele,pois o sentimento mútuo de amizade era muito grande.Disse também que cada festa que fosse,que cada música que tocasse,pensasse nele e estariam juntos novamente.Completou falando que o momento não era de piedade,que deviam aproveitar o tempo restante vivendo a vida como deve ser vivida pois ela é bela,instigante,boa sempre.Depois disso,os dois se abraçaram,Radamés saiu do quarto,voltou a sua rotina,voltou a acompanhar seu amigo nos seus últimos seis meses de vida.Depois disso,o sentia em cada momento bom que vivia e nos momentos difíceis pedia sua ajuda,e sentia toda sua proteção e intercessão junto ao pai.È isto.“As pessoas que passam momentos conturbados e difíceis preferem o apoio,o consolo,o carinho,a amizade.A piedade manifesta-se dessa forma e não nos colocando frente ao destino ou a vida”.
Terminada a visão, a tocha se aproxima, toca em minha mão, eu a movimento e chamo Renato. Desta vez, ele consegue, se estica um pouco e também alcança a luz. Ela fica entre nós dois, aproveitamos a situação, nos concentramos novamente e seguimos nossa intuição e experiência. Pensamos na nossa família, no projeto “vidente”, na literatura, no dom, no destino, no universo, e na força poderosa que nos guia que costumamos chamar de Deus. Relaxamos e fechamos os olhos. Neste exato momento, algo explode, os poderes do espaço são abalados, a terra gira e treme, nossos espíritos desprendem-se de nossos corpos materiais e o fenômeno da co-visão finalmente se inicia.

Sítio Fundão, Cimbres-Pernambuco,03 de novembro de 1900
Ultrapassamos os limites do tempo. O destino nos faz chegar ao início do século XX, no mesmo local. Depois de nos materializarmos completamente e nos recuperar da transição, observamos tudo ao derredor e constatamos algumas mudanças. Entre elas, o ar estava mais puro, a vegetação mais densa, o barulho era menor e uma maior quantidade de animais. Tudo era igual e ao mesmo tempo diferente. O que tinha nos levado ali? Não sabíamos, mas em comum acordo decidimos caminhar um pouco e procurar alguma alma viva que nos pudesse orientar.
Então começamos uma nova jornada só que agora mais difícil e excitante. Sem nenhuma trilha a vista, nos embrenhamos na mata fechada suportando pedras,espinhos,e com possibilidades de encontrar bichos venenosos ou até mesmo feras selvagens. Porém, não desistiríamos tão facilmente. Até porque já dominávamos os seis primeiros dons do espírito santo e agora só faltava o detalhe da primeira revelação. Intuitivamente nos deslocamos na direção oeste.
Passamos pelos mesmos lugares de antes só que não o reconhecemos. Estávamos como cegos em meio a um tiroteio, guiados apenas pelo instinto. Neste momento, avançamos lentamente e o tempo demora também a passar. Mas mantemos o essencial, como ensinado por Angel: a persistência, a garra, a coragem, a paciência, a sabedoria e a fé que sempre nos acompanhava nas aventuras. Embora não fosse suficiente, com um pouco de sorte chegaríamos ao ponto certo.
O tempo passa um pouco. Inconscientemente, percebemos que ultrapassamos uma das quatro partes em que o percurso estava dividido. Mas só ficaríamos felizes e tranquilos quando chegássemos ao final e tivéssemos a resposta positiva que esperávamos e afim disso permanecemos na labuta. Alguns passos adiante, encontramos um réptil, nos assustamos, e nos desviamos um pouco. O que faltava acontecer? Não podíamos morrer ou até mesmo decepcionar nossa família, amigos, conhecidos, mestres espirituais e da vida e os leitores. Precisávamos continuar, mesmo que não tivéssemos pista do que nos esperava ou mesmo dos dois tipos de destino que nos acompanhava. A sorte estava lançada.
Depois de estarmos a uma distância segura do animal asqueroso que encontramos no caminho, retornamos a caminhar na direção inicial. Desta feita, aumentamos a nossa precaução. Isto era extremamente necessário a fim de evitar um acidente que impossibilitasse definitivamente o nosso objetivo maior que era fazer o elo entre “dois mundos”. Estas foram as palavras do mestre mas no momento eram totalmente obscuras e distantes de nós. Contudo, estávamos abertos, desde o primeiro momento, a encontrar o fio da meada desse começo intrigante de história.
Estimulados pela nossa força de vontade e pela decisão anterior, continuamos avançando superando os obstáculos naturais da mata. A cada passo dado, nos sentíamos mais seguros e realizados apesar de ainda não termos alcançado o primeiro objetivo. Bem,é uma questão de tempo,penso.Com esta certeza, aumentamos o ritmo na direção desejada e logo percebemos que já passamos da metade do trajeto percorrido em relação ao centro do oeste. Mais um feito. Porém, ainda havia muito a conseguir e não ficaríamos satisfeitos nunca.
Um pouco mais adiante, pela primeira vez, nos sentimos cansados. Resolvemos então parar um pouco. Sentamos no chão, comemos um lanche, bebemos um pouco de líquido e aproveitando o tempo livre refletimos sobre nossa situação atual e planejamos os nossos próximos passos. Depois de muito debater, decidimos permanecer na mesma orientação e esperar um sinal que pudesse nos guiar. Não tínhamos outra escolha a não ser essa. Já que estávamos nos sentindo exaustos, deitamos um pouco, fechamos os olhos, nos concentramos e fugimos um pouco do mormaço. Quando relaxamos o suficiente, um cochilo sobreveio.
Ao acordar, nos sentimos bem melhor, com energias recobradas. Levantamo-nos do chão duro, erguemos a cabeça, e voltamos a caminhar. O que aconteceria? Continuemos juntos, leitor, prestando atenção em detalhes na narrativa. Pouco a pouco, avançamos na caatinga agreste, fazendo malabarismos a fim de desviar dos obstáculos. Auxiliados por nossa experiência em aventuras anteriores, o que nos resta são apenas alguns arranhões provocados por alguns deslizes nossos. Mas, no geral, estávamos nos sentindo bem, prontos para enfrentar o que quer que fosse. Com esta disposição, um pouco além, já nos aproximávamos do objetivo.
Cada vez mais perto, a sensação provocada em nós era de ansiedade e de alívio. Ansiedade por não saber exatamente o que nos esperava e alívio por estarmos perto de descobrir. Mesmo que fracassássemos agora, nos sentíamos orgulhosos de nós mesmos por ter cumprido seis etapas e desenvolvido seis dons do espírito santo. Éramos mesmo vencedores, desde o início do projeto “o vidente” até o presente momento.
Com esta certeza, superamos tudo e vamos avançando. Logo à frente, a mata se abre, entramos num caminho e com mais alguns passos visualizamos o destino: Estávamos em frente a uma casinha de taipa, no centro do oeste do sítio. Neste exato momento, lembramos dos desafios e constatamos que se tratava da casa que pertencera a meu avô Vítor. Cheios de curiosidade e esperança, avançamos mais e batemos a porta da referida residência. Esperamos um pouco e surge de dentro, uma mulher, morena escura e robusta, com corpo bem definido e mal trajada vem nos atender.
—Pois não, jovens, em que posso ajudá-los? (Pergunta)
—Meu nome é Aldivan e este que me acompanha se chama Renato, poderia nos oferecer um gole de água? (O vidente)
—Sim,claro. Eu me chamo Filomena, ao seu dispor. Não temos muito, mas pelo menos água tem. Podem entrar— Respondeu ela.
Aceitamos o convite, acompanhamos a mulher, entramos na casa, chegamos a sala e a anfitriã nos oferece assentos. Sentamos, descansamos um pouco e a mesma vai a cozinha pegar a água. Passado uns cinco minutos, ela retorna, risonha carregada com dois copos de água. Nós tomamos rapidamente e Filomena puxa assunto mais uma vez.
—Os senhores são estrangeiros? Nunca os vi por aqui.
—Pode ser dizer que sim. Algo nos conduziu até aqui. (O vidente)
—Em resumo, somos turistas em busca de um pouco de paz e conhecimento. (Renato)
—Ah, entendi. São da capital? (Indaga ela)
—Não. Somos duma cidade próxima. (O vidente)
—Vive sozinha aqui? (Renato)
—Sou casada. Tenho também um filho recém-nascido. Apesar das dificuldades, somos felizes. (Filomena)
—Onde está seu marido? (O vidente)
—Está no trabalho, preparando um terreno para fazer a roça do ano que vem. Esperamos ter um bom lucro e assim não ter que passar fome em algum momento do ano. (Filomena)
—Entendi. Deve ser uma barra depender só da agricultura para sobreviver e ainda mais tendo filhos. (O vidente)
—Na minha família era assim. Trabalhávamos feito condenados com o intuito de sobreviver. Quando não havia lucro, o problema era grande. (Renato)
—É como diz o jovem. Mas não temos escolha. Na vida, só sabemos lidar com enxadas e foices. Somos burros quadrados. (Filomena)
—Que é isso, não fale assim. Todo trabalho é digno e todos somos iguais diante de Deus. O importante são os bons sentimentos que carregamos no peito. (O vidente)
—Nos conhecemos a pouco, mas já percebemos a sua grandeza. Isto é muito importante. Obrigado pela água. (Renato)
—De nada. (Filomena)
Um barulho atrapalha a conversa: Um choro de um bebê. Filomena fica triste e agitada e desabafa conosco:
—O bebê está com fome e não tenho nada a oferecer, a não ser chá. Vou ver se o engano.
Dito isto, a mesma foi a cozinha esquentar no fogão de lenha o chá já preparado. A acompanhamos e a ajudamos. Quando fica pronto, vamos ao quarto. Filomena pega o bebê, coloca no colo e dá o chá através da mamadeira. Apesar de beber o líquido, o mesmo não para de chorar. A mãe se desespera e o coloca de volta no berço improvisado. Aproximo-me do bebê, perguntamos seu nome e fico sabendo que se chama Vítor. Um choque. Estava diante do meu antepassado, um ser cheio de dons. O menino, de cabelos pretos, olhos castanhos claros e um pouco escuro, se remexia de um lado para outro. O toco mas nada de especial acontece. Apenas sinto um calafrio ocasionado pela barreira do tempo. Porém, sem que eu perceba, Renato se aproxima, pega a minha mão e juntos tocamos novamente no menino. Imediatamente, entramos em transe, ultrapassamos novamente o limite do tempo, visualizamos passado, presente e futuro simultaneamente. A história então se revela por completo.

1-Infância
1.1-Sitio Fundão,01 de agosto de 1900-Nascimento
Era uma tarde ensolarada de quarta-feira. O casal Filomena e Jilmar estavam a descansar frente a sua pequena e simples e casa. Já tinham completado um ano de casamento e de mudança da sede do município Cimbres (Atual Pesqueira),e estavam muito felizes apesar das grandes dificuldades financeiras que se encontravam. Jilmar, ainda no tempo de namoro, trabalhara como condenado como ajudante de carga a fim de juntar dinheiro e comprar um pequeno pedaço de terra e fora ajudado pela então noiva Filomena que fazia rendas. Quando juntaram dinheiro suficiente, casaram, mudaram-se para o sítio, e começaram uma vida a dois. Com pouco tempo, Filomena se achara grávida.

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