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A Noite Escura Da Alma
TEKTIME S.R.L.S. UNIPERSONALE
Aldivan Teixeira Torres
A vida nos faz viver dias tenebrosos, tristezas que não queremos que fossem reais. “A noite escura da alma” é a continuação de “O vidente”, sendo que o personagem principal retornou a uma montanha em busca de respostas para um período conturbado de sua vida, momentos que se esquecera de Deus, dos seus princípios, perdendo-se em pecados.



“A Noite Escura da Alma”
Aldivan Teixeira Torres

A Noite Escura da Alma
____________________________
Por:Aldivan Teixeira Torres
©2018-Aldivan Teixeira Torres
Todos os direitos reservados
E-mail:aldivanvid@hotmail.com


Este livro, incluindo todas as suas partes, é protegido por Copyright e não pode ser reproduzido sem a permissão do autor, revendido ou transferido.
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Aldivan Teixeira Torres, natural de Arcoverde-PE, é um escritor consolidado em vários gêneros. Até o momento tem títulos publicados em nove línguas. Desde cedo, sempre foi um amante da arte da escrita tendo consolidado uma carreira profissional a partir do segundo semestre de 2013. Espera com seus escritos contribuir para a cultura Pernambucana e Brasileira, despertando o prazer de ler naqueles que ainda não tenham o hábito. Sua missão é conquistar o coração de cada um dos seus leitores. Além da literatura, seus gostos principais são a música, as viagens, os amigos, a família e o próprio prazer de viver. “Pela literatura, igualdade, fraternidade, justiça, dignidade e honra do ser humano sempre" é o seu lema.

Dedicatória
Dedico este segundo livro da série “O vidente” a todos que me incentivaram e contribuíram direta os indiretamente para a concretização dos meus sonhos em especial a publicação do meu primeiro livro intitulado “Forças opostas: O mistério da gruta”. Além destes, devo lembrar em especial do criador que me concedeu os dons e da minha família que apesar de não ter me incentivado no início desta carreira sempre estiveram ao meu lado nos momentos bons e ruins. Vamos juntos numa nova aventura!

Os dois filhos
Certo homem tinha dois filhos; e o mais moço deles disse ao pai:
“Pai, dá-me a parte dos bens que me pertence. ”
E ele repartiu por eles a fazenda.E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente.E, havendo ele gastado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a padecer necessidades.E foi, e chegou-se a um dos cidadãos daquela terra, o qual o mandou para os seus campos, a apascentar porcos.E, tornando em si, disse:
“Quantos empregados de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome!Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti;já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus empregados. ”
E, levantando-se, foi para seu pai; e, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou. E o filho lhe disse:
“Pai, pequei contra o céu e perante ti, e já não sou digno de ser chamado teu filho. ”
Mas o pai disse aos seus servos:
“Trazei depressa a melhor roupa; e vesti-lho, e ponde-lhe um anel na mão, e alparcas nos pés;e trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos, e alegremo-nos;porque este meu filho estava morto, e reviveu, tinha-se perdido, e foi achado. ” E começaram a alegrar-se.

Lucas 15,11-24.

Sumário
“A Noite Escura da Alma” (#ulink_7cffd709-48d4-5138-92b4-8f81e0ad58c1)
A Noite Escura da Alma (#ulink_993c8b32-1119-5554-b902-b6e8fdb71b0a)
Dedicatória (#ulink_ccfee2a9-f194-59ec-8ae0-876e8c9bfa6c)
Os dois filhos (#ulink_db602108-bd67-5294-90a9-282e8e7571fa)
Introdução (#ulink_0429ee6c-eab1-5f81-8435-49071dc37982)
Pós-gruta (#ulink_87cfbc11-038b-5dfd-9327-e426b9b238e6)
O táxi (#ulink_cdc80180-8b74-5c31-a845-7d6dbd5c7d77)
O caminho até a montanha (#ulink_417efd66-ed6f-520d-ab3c-9ab3c6d55462)
O primeiro dia sobre a montanha (#ulink_9971ba78-9b8e-57c6-ae4d-abb577019846)
A noite escura da alma (#ulink_63d0e632-bd92-56f8-8782-6a2f13feac0b)
O primeiro encontro com a guardiã (#ulink_449af7b7-bfc0-5a05-91ff-30d8518f45e3)
A espera do desafio (#ulink_ae8f6fbd-0fb8-552e-a361-26b547e7cead)
Orgulho (#ulink_162eb9a1-598f-5f73-a8ff-a7df7f3a82a1)
Um outro dia (#ulink_0023e51a-44e3-55d8-987c-cc63f1d9c78a)
Avareza (#ulink_02d54fdf-4c74-5547-bd8f-f6f568b5a817)
Reflexões sobre o desafio (#ulink_a1d501b5-4d15-5491-a644-c39013249911)
Luxúria (#ulink_27496a5f-981c-5880-9ff9-820657c6c903)
De volta à cabana (#ulink_a3b7dcb3-39f7-58a5-9158-faa5fea944c2)
O encontro com o hindu (#ulink_84553327-ffc7-544f-b6a0-d78a28e4cdae)
Aperfeiçoamento (#ulink_68635c18-ff9e-54e0-97c7-7d6142d9d6c4)
Ira (#ulink_1d364b88-7f50-5a8c-a88d-f31156abf690)
O aprendizado sobre a ira (#litres_trial_promo)
Inveja (#litres_trial_promo)
O aprendizado sobre a inveja (#litres_trial_promo)
Reflexões importantes (#litres_trial_promo)
Gula e preguiça (#litres_trial_promo)
A despedida do hindu (#litres_trial_promo)
A viagem (#litres_trial_promo)
O primeiro dia de viagem (#litres_trial_promo)
Histórias do Capitão (#litres_trial_promo)
As sereias (#litres_trial_promo)
A descoberta (#litres_trial_promo)
A tempestade (#litres_trial_promo)
O embate (#litres_trial_promo)
Um dia sem esperanças (#litres_trial_promo)
Finalmente, uma luz (#litres_trial_promo)
A ilha (#litres_trial_promo)
O palácio (#litres_trial_promo)
Preparação (#litres_trial_promo)
O roubo (#litres_trial_promo)
O estupro (#litres_trial_promo)
O terrorismo (#litres_trial_promo)
O Eldorado (#litres_trial_promo)
O presídio (#litres_trial_promo)
Casamento (#litres_trial_promo)
O primeiro dia após o casamento (#litres_trial_promo)
Sonho inspirador (#litres_trial_promo)
A rotina e a loteria (#litres_trial_promo)
De volta à normalidade (#litres_trial_promo)
Resultado da loteria e decisão (#litres_trial_promo)
Viagem e chegada em Pesqueira (#litres_trial_promo)
O Leilão (#litres_trial_promo)
A reunião (#litres_trial_promo)
A resposta (#litres_trial_promo)
O início de plantio do tomate (#litres_trial_promo)
As primeiras amizades (#litres_trial_promo)
Chuvas e sol abundantes (#litres_trial_promo)
O período de gravidez (#litres_trial_promo)
Nascimento (#litres_trial_promo)
Decisão importante (#litres_trial_promo)
Quinze anos depois (#litres_trial_promo)
A festa e o desentendimento (#litres_trial_promo)
A revelação (#litres_trial_promo)
Pós-revelação (#litres_trial_promo)
Alguns meses depois (#litres_trial_promo)
Uma nova fase (#litres_trial_promo)
Ida à Recife (#litres_trial_promo)
O cursinho (#litres_trial_promo)
Um dia na praia (#litres_trial_promo)
A festa (#litres_trial_promo)
O outro dia (#litres_trial_promo)
Novo encontro com Márcia (#litres_trial_promo)
O parque (#litres_trial_promo)
O teatro (#litres_trial_promo)
O período de um ano (#litres_trial_promo)
O vestibular (#litres_trial_promo)
O fracasso e a vitória (#litres_trial_promo)
O abandono (#litres_trial_promo)
A vida na rua (#litres_trial_promo)
Os delitos continuam (#litres_trial_promo)
Tentativa de homicídio (#litres_trial_promo)
O encontro (#litres_trial_promo)
A favela (#litres_trial_promo)
O envolvimento com o tráfico de drogas (#litres_trial_promo)
Um fato decisivo: O confronto com a polícia (#litres_trial_promo)
A promoção (#litres_trial_promo)
Vivendo a “Noite escura” (#litres_trial_promo)
Um novo fato importante: Luta entre gangues rivais (#litres_trial_promo)
A nova adaptação (#litres_trial_promo)
A psicóloga (#litres_trial_promo)
O abrigo (#litres_trial_promo)
A primeira sessão (#litres_trial_promo)
Reflexões da vida (#litres_trial_promo)
A segunda sessão (#litres_trial_promo)
O desapego às coisas materiais (#litres_trial_promo)
A terceira sessão (#litres_trial_promo)
A descoberta de um novo amor (#litres_trial_promo)
A prisão (#litres_trial_promo)
A condenação (#litres_trial_promo)
Trinta anos de reclusão (#litres_trial_promo)
Fim da visão (#litres_trial_promo)
A saída da ilha (#litres_trial_promo)
A viagem de volta (#litres_trial_promo)
Despedida (#litres_trial_promo)
O reencontro com a guardiã e o hindu (#litres_trial_promo)
Conclusão (#litres_trial_promo)

Introdução
A “Noite escura da alma” pode ser definida como um olhar crítico relacionado a uma fase bastante difícil que todos mais cedo ou mais tarde passamos. Trata-se duma época propícia à condenação ou, por incrível que pareça, a uma inusitada salvação do indivíduo.
A fim de alcançarmos o último, é necessário precisar exatamente o momento adequado para tomar uma atitude diante da crise capaz de nos libertar das trevas e entrar definitivamente no seio do bem. No decorrer deste livro serão mostrados os elementos chave para se fazer isso e ter sucesso. Além destas características, o texto ainda irá mostrar como conviver com as duas forças existentes no universo e controlá-las adequadamente.
Ainda posso destacar que o livro é destinado a todos que por um motivo ou outro ainda não se encontraram no caminho da vida, mas não perdem a esperança de mudar e quem sabe obter a paz tão desejada que todos nós procuramos. Com mais este livro, espero contribuir para a evolução moral e espiritual do ser humano. Uma boa leitura e até a próxima se Deus quiser.

Pós-gruta
Oi, leitor, há quanto tempo! Já faz aproximadamente um ano que entrei na gruta do desespero e realizei o meu sonho de iniciar a carreira de escritor e de quebra me tornei o vidente, um ser superdotado de dons. Agora, sinto-me preparado para prosseguir em meus sonhos. Antes disso, porém, contarei resumidamente o que se passou comigo no período pós-gruta. Um tempo depois de subir a montanha do Ororubá, conhecer a guardiã, a jovem, o menino e ainda encarar o fantasma e os desafios, voltei a casa dos meus pais, confiante, vitorioso, feliz e disposto a retomar a vidinha de antes. Foi isso exatamente o que eu fiz e com dedicação no trabalho e nos estudos terminei o ensino superior e tive novas ideias para continuar minha carreira. Este foi um momento necessário e importante, que trouxe para mim muita satisfação, pois meus esforços foram recompensados. Apesar disso, eu ainda não estava completamente realizado, pois ainda não alcancei a concretização do sonho maior: Ver minha série “O vidente” no topo da literatura. Pode ser que seja muita pretensão, mas é assim que me sinto, afinal, sou um vidente transformado pelos poderes miraculosos da gruta do desespero, a gruta mais perigosa do mundo. Bem, deixemos o destino decidir.
Com o sucesso da primeira empreitada que foi reunir as “Forças opostas”, controlá-las e ajudar alguém a se encontrar, posso dizer que me sinto preparado para uma próxima aventura. Pensando nisso, tomo a seguinte decisão: Retornar ao solo sagrado da montanha do Ororubá e encontrar a guardiã para que ela me auxilie no meu maior objetivo neste livro, que é entender a perigosa e misteriosa “Noite escura da alma”.
Tomada a decisão, começo a arrumar as minhas malas, separando os objetos de primeira necessidade: Algumas roupas, meu crucifixo, minha Bíblia, relógio de bolso, um diário de anotações, itens de higiene essenciais e livros para me distrair na viagem e depois dela. Depois que organizei tudo, dirijo-me á cozinha com o intuito de me despedir dos meus familiares. Encontrando minha mãe, abraço-a e inicio o difícil diálogo:
– Querida mãe, vim anunciar que decidi retornar ao povoado de Mimoso a fim de realizar a segunda etapa do meu aperfeiçoamento crítico, espiritual, moral e humano. É uma viagem estritamente necessária para que eu possa enfim entender o que se passou comigo há um tempo, minha noite escura da alma, e isto é uma situação comum entre todos os mortais.
– Outra viagem para Mimoso? Será que não se dá conta de que tudo isso é loucura, meu filho? O seu lugar é aqui, junto de mim. Por que essa noite escura é tão importante a ponto de você querer me abandonar?
– Eu vou a Mimoso em busca dos meus sonhos. A primeira etapa foi cumprida, mas isso já passou e agora procuro novos desafios. Acredito que as respostas devem estar na montanha e por isso vou até lá. Entenda mamãe, a senhora me criou para o mundo e não para si. Lembre-se que sou o vidente, o único ser humano que sobreviveu a gruta do desespero, e tenho minhas responsabilidades junto aos leitores e ao mundo. Em vez de tentar me convencer a não ir, devia me incentivar, pois minha decisão está tomada. De qualquer forma, quis encontrá-la para lhe dar um abraço.
Dito isto, aproximei-me de minha mãe e nos abraçamos. Este gesto, terno e vigoroso, recuperou minhas forças, e era exatamente disso que eu precisava para encarar os próximos desafios, inclusive o atual. Depois do abraço, despedi-me finalmente de minha mãe e caminho para a porta com lágrimas nos olhos. Neste ínterim, analiso mentalmente os meus planos para a viagem. O que será que me espera? Eu não tinha a mínima ideia. Só tinha certeza de que seriam experiências revigorantes e instigantes. Continuemos juntos, leitor.

O táxi
Depois de alguns instantes, finalmente saio da casa. Imediatamente, começo a procurar um meio de transporte cômodo, tranquilo e econômico para chegar a Mimoso. Analiso todas as possibilidades e termino decidindo que o mais viável era o táxi, pois o percurso não era tão extenso assim (24 km). Tomada a decisão, uso das minhas faculdades para pegar o primeiro que passa. Após algumas tentativas, finalmente consigo. O automóvel para, entro, fecho a porta e me acomodo. Neste instante, percebo que sou observado pelo motorista, antes mesmo de ele me perguntar:
– Para onde vamos senhor?
Fixo o olhar nele com a maior simplicidade e respondo:
– Vamos até Mimoso, local onde fica próximo a serra do Ororubá, a montanha sagrada.
Dito isto, ele me encara com certo desdém, dizendo:
– Bem, eu sei onde fica Mimoso, vamos já. No entanto, não sabia que a serra do Ororubá era sagrada. Conte-me essa história direito.
Sem querer perder muito tempo naquele momento, eu prometo:
– É uma longa história. Eu conto durante a viagem. Podemos partir? Estou ansioso para chegar logo ao meu destino.
Ele concorda comigo, apesar de contrariado, e então o carro parte em velocidade moderada. No entanto, vez ou outra, o motorista me encara. O que será que ele pensa de mim? Penso um pouco e acabo concluindo que sua reação é natural, afinal poucos sabem do segredo da gruta. Porém, não sou nenhum louco para ele me tratar daquela forma. Como saída, resolvo contar a verdade.
– Estou pronto para explicar, seu motorista. Qual é o seu nome mesmo?
– Meu nome é Aurélio e o seu?
– Meu nome é Aldivan, mas pode me chamar de vidente ou filho de Deus. Vou argumentar para que o senhor se convença da afirmação que fiz há alguns instantes.
– Estou pronto. Pode contar.
– Há aproximadamente um século as tribos Xukuru estavam em guerra por conta de estratagemas de um feiticeiro denominado Kualopu. Foram muitas batalhas travadas durante muito tempo e com isso a nação Xukuru ameaçava desaparecer. Pensando nisso, um pajé bondoso resolveu intervir. Ele fez um pacto com as forças do universo, oferecendo sua vida em troca do fim da guerra. Depois desse pacto ocorreu um milagre. O feiticeiro foi morto e com isso a guerra terminou. O pajé pagou o preço e então a paz foi restabelecida. A partir daquele dia a montanha do Ororubá se tornou sagrada e a gruta do desespero, localizada em seu topo, recebeu poderes miraculosos capazes de tornar qualquer sonho realidade, desde que os sonhos não sejam egoístas. É a segunda vez que terei o prazer de conviver na montanha.
– Muito interessante. Você diz que é a segunda vez que vai para lá. E a primeira vez, como foi?
– Foi há um ano. Eu era um pobre sonhador em busca de conhecer e controlar as minhas “Forças opostas”. Com esse objetivo escalei a montanha, cheguei ao seu topo, conheci a guardiã (um ser miraculoso conhecedor de mistérios profundos), realizei desafios, encontrei o fantasma, a jovem e o menino, e finalmente entrei na gruta. Esta última experiência mudou completamente minha vida, pois me transformei no vidente, um ser capaz de transpor as barreiras do tempo e do espaço e onisciente através de suas visões. Com os meus novos poderes, pude entender os sentimentos e as intenções mais profundas dos outros. No entanto, ainda não posso dizer que estou pronto. A vida é um eterno aprendizado no qual a gruta foi apenas uma etapa. Agora, estou pronto para novos desafios e por isto a minha volta. Desta vez quero entender a minha noite escura da alma, o significado de tudo que eu vivi há uns dois anos atrás. Acredito que encontrarei respostas na montanha ou pelo menos iniciarei uma nova caminhada.
– Sua história é mesmo impressionante. Eu acredito em você, pois senti a sua sinceridade. Eu só não entendi uma coisa, qual é o significado dessa expressão, noite escura da alma?
– Por enquanto, nem eu sei o significado completo da noite escura. Mas posso lhe dar uma noção básica, é o momento em que nos desligamos das forças benignas do universo para só pensarmos em nossas vaidades. Este momento é crítico, podendo destruir ou salvar a alma de um ser humano, dependendo do caso.
– Acho que entendi. Eu já passei pela noite escura quando traía minha mulher com garotas de programa. Quando ela me deixou, descobri seu verdadeiro valor, me arrependi e consegui fazer as pazes. A partir daí fui um novo homem.
– O que aconteceu com você eu lhe garanto, foi só um lapso. Na verdade, a noite escura é mais profunda do que possamos imaginar. Espero encontras as respostas de que tanto preciso.
– Boa sorte em sua busca. Vejo que é um rapaz educado, inteligente e determinado. As pessoas determinadas sempre conseguem seus objetivos.
– Obrigado. Agora preciso meditar e descansar um pouco. Não me acorde antes de termos chegado ao nosso destino.
Aurélio me tranquiliza e então me concentro no meu eu interior, esquecendo todas as preocupações. Gradativamente, o corpo vai relaxando e os sentidos extra-sensoriais são despertados. Não demora muito e começo a ver imagens distorcidas e confusas. Um instante depois, embalado pela força do pensamento, vejo-me numa planície extensa de lado a lado. Estou exatamente no centro desse local. Do lado direito surge um aspecto de sol escaldante e forte. Ele limpa as minhas impurezas e me dá a sensação de paz e liberdade. Ao mesmo tempo, surge do lado esquerdo uma nuvem escura e espessa, trazendo um ambiente pesado, cheio de sentimentos e pensamentos negativos. Essa força é capaz de condenar todos aqueles que se encontram próximos, os infiltrados em sua sombra. Perto dela me sinto culpado, mesmo sem ter tido um julgamento justo. As duas forças se aproximam cada vez mais, produzindo em mim o encontro das “Forças opostas”, que há tanto tempo eu parecia ter controlado. Logo depois, entre as duas forças, aparece um anjo e este traz no semblante a marca da palavra escolha. Eu o invoco, e o choque entre as forças opostas se acaba pelo menos temporariamente, deixando-me um pouco mais tranquilo. Mesmo assim, eu não fico livre das possíveis interações da noite escura que parece fazer parte de todo e qualquer indivíduo.
Após a invocação, o anjo, o sol, a nuvem escura, o cenário, tudo desaparece e gradativamente vou retomando a consciência. Finalmente eu acordo. Percebo que estou no mesmo local, dentro dum táxi em movimento. O que será que significa tudo isso? A fim de encontrar respostas, olho pela janela e vejo que estou quase no meu destino. Fico feliz, estou mais próximo de obter algumas respostas.

O caminho até a montanha
Finalmente o carro chega ao destino e para. Imediatamente, agarro minha mala e com convicção saio. Ao sair, começo a vislumbrar todo o aspecto do centro do lugarejo. À primeira vista, parece-me bastante tranquilo e aconchegante como da outra vez. Começo a avançar e de encontro a mim vêm alguns conhecidos, que ao se aproximarem oferecem ajuda. Agradeço e aí começa um bate-papo rápido. Depois de um breve intervalo, eu me despeço, servindo de justificativa negócios importantes e urgentes na montanha.
A caminhada recomeça e com ela carrego a pesada mala e as indesejadas preocupações. O que me espera ao galgar completamente a montanha por uma segunda vez? O segredo da noite escura seria realmente revelado? Como estaria a querida guardiã? Estas eram algumas das perguntas que povoavam o meu cérebro.
Continuo a caminhar e pela primeira vez me sinto cansado. As circunstâncias me obrigam a parar um pouco e novamente uma angústia invade completamente o meu ser. O que estava acontecendo comigo? Onde estava o espírito, a fé e as forças do aventureiro que há um ano iniciou o seu sonho? No momento, tudo me levava a crer que eu não era mais o mesmo. Antes de me desesperar por completo, resolvo analisar imparcialmente a situação: No breve e intenso período pós-gruta ocorreram situações bastante adversas que me fizeram repensar o homem que eu era. No entanto, naquele momento concluo que era necessário a volta do eu sonhador. Sem ele, certamente não seria capaz de enfrentar todos os obstáculos que porventura me separassem da completa compreensão da noite escura da alma. Pensando nisso, inspiro e expiro fortemente procurando uma força capaz de me guiar, e quando acredito que a alcancei, retomo a caminhada. Neste instante, já me sinto mais tranquilo e reconfortado, apesar de estar apenas no sopé da montanha.
Avanço um pouco além do sopé e as vozes da montanha começam a atuar. Sinto-me confuso e tonto, pois elas são bastante fortes. Como da outra vez, elas tentam me convencer a desistir do percurso. Além das vozes, meu sexto sentido é submetido a uma sequência de imagens. Nelas, vejo fogo, dor, ações desumanas, traições, o encontro das forças opostas e a noite escura da alma. Por um momento, perco a consciência e me vejo nos tempos do Brasil colônia. Eu vejo o início, meio e fim de tudo. Nesta respectiva visão, vejo o primeiro contato dos inocentes donos do Brasil, os índios, com os estrangeiros que atrás do jeito amistoso escondem segundas intenções. Eles são bem recebidos, e sem que os anfitriões desconfiem, procuram por todo lado maneiras de encontrar riquezas. Em sua primeira tentativa, não encontram o esperado e se retiram. Um tempo depois voltam e com brutalidade escravizam os índios, exploram as riquezas naturais e isto proporciona um dos maiores massacres étnicos de toda a nossa história. Isto representa o fogo da noite escura da alma, um fogo que destruiu vidas, sonhos e esperanças.
Noutro instante me vejo em campos de concentração nazistas, na segunda guerra mundial. Nesta visão, é bem claro o aspecto da noite escura dos opressores, pois eles agem com falsidade, astúcia, frieza e maldade sem limites. Sou submetido a cenas bem fortes de violação aos direitos humanos e isto me faz cair em prantos. Como há seres humanos, imagem do Criador, capazes de tantas atrocidades e com tanto ódio? Pessoas assim, nacionalistas e preconceituosas, fazem com que Satanás pareça realmente um anjo. Isto representa a dor da noite escura da alma e é um caminho sem volta.
No instante posterior, sou transportado para uma grande explosão vegetal, mais precisamente à floresta amazônica. Sobrevoo a região e em dado momento vejo um clarão na densa mata. Resolvo então descer para mais averiguações. Sem muita surpresa, encontro homens usando os mais variados tipos de instrumentos, com o objetivo de derrubar a maior quantidade de árvores possível, numa área que era para ser de preservação ambiental. A situação novamente me faz chorar e amaldiçoo a sede de poder e de riquezas que é a causa de tudo isso. Em outro local, não muito longe dali, a noite escura se completa com a matança indiscriminada da fauna. Fico irado com a situação e me pergunto: Com que direito o homem age dessa forma? Não somos os donos desse mundo, mas apenas hóspedes passageiros que deviam preservá-lo e respeitá-lo. Neste ritmo, sequer teremos um futuro para as próximas gerações. Isto representa as ações desumanas da noite escura.
O tempo passa mais um pouco e me vejo em Jerusalém, a cidade santa. Vejo um homem simples, filho de carpinteiro, ensinando, admoestando, exortando, realizando curas, milagres e abrindo as portas do céu para todos os pecadores. Ao mesmo tempo, vejo a inveja de uma minoria poderosa planejando uma cilada para o mestre. A fim de atingir seu objetivo, eles se associam ao inimigo, a Satanás, personificado em Judas. Com a sua ajuda, eles conseguem prender o mestre e se aproveitam da situação para torturá-lo, humilhá-lo até o ponto de matá-lo. No entanto, nem mesmo a morte é capaz de derrotar ou destruir aquele que junto com o seu pai criou a vida. Depois de três dias, ele ressuscita glorioso do sepulcro enquanto que o traidor já está morto e entregue aos tormentos que a noite escura proporciona. Depois de ressuscitar, Jesus aparece a seus seguidores e faz algumas recomendações. Dentre elas, ele é bastante claro em não dá margem ao preconceito, seja ele qual for. Todo, sem exceção, tem direito à vida em abundância e a salvação da noite escura da alma é possível para os que creem nele. Isto representa a traição da noite escura da alma e ai de quem trair.
Noutro momento me vejo na luta que foi o encontro das forças opostas e o surgimento das dúvidas com relação à noite escura da alma. A batalha final do livro anterior me mostrou o quanto o bem é poderoso e pode transformar vidas. A única condição para que isso aconteça é que devemos nos libertar de todo e qualquer sentimento ruim como o ódio, a inveja, a mesquinhez, a intriga, o egoísmo, o auto-ego entre outros. Depois de ver todas essas situações, o turbilhão de imagens na minha mente começa gradativamente a desaparecer. Instantes depois retomo a consciência e já me sinto bem. Decido então retomar imediatamente a caminhada, pois o topo ainda está longe.
As vozes da montanha param e com isso começo a subir a montanha mais tranquilo. O medo, a vergonha e a inquietação foram deixados para trás. Penso nas imagens que fui submetido e isto me deixa com a vontade da descoberta. O que me esperava? Sinceramente não sabia. Seja o que fosse eu já me sentia preparado para enfrentar e superar desafios. Afinal, eu era o vidente, um ser superdotado de dons que foi o único homem a enfrentar a gruta do desespero e vencer.
Com o objetivo de buscar respostas para os meus anseios mais profundos, avanço ainda mais e logo consigo concluir um terço do trajeto total. Nesse exato momento, eu novamente paro para descansar. Aproveito para reidratar o meu corpo e mente. No segundo posterior, vêm à mente os esforços da subida anterior e como eu me sentia sozinho e inexperiente naquele fim de mundo. Eu era apenas um sonhador que buscava o último fio de esperança para realizar os meus sonhos através duma gruta milagrosa e que conseguiu o grande feito de sobreviver a uma subida íngreme. Depois da subida, relembro os momentos que passei lá, incluindo a guardiã, o fantasma, o jovem, o menino Renato, os desafios e a entrada na gruta mais perigosa do mundo. Realizei parcialmente os meus sonhos com a vitória que alcancei, mas a situação atual é totalmente diferente: Eu agora sou o vidente em busca da segunda etapa de evolução. A primeira tinha sido cumprida, reuni as forças opostas e ajudei alguém a se encontrar. Estava na segunda que era descobrir a noite escura da alma, essa mesma noite que a guardiã citou no nosso último encontro. Uma noite que era capaz de salvar ou condenar o indivíduo.
Retomo a caminhada vagarosamente, com o intuito de poupar forças, pois ainda era manhã e eu ainda tinha todo o tempo do mundo para me preparar para o reencontro com a guardiã, essa estranha senhora que eu ainda não conhecia direito. Quem era ela? Nem eu mesmo sabia, apesar de ter convivido por mais de sete dias com ela. O que eu tinha certeza é que ela tinha sido de grande ajuda para entender minhas forças opostas e reuni-las como eu fiz. Agora, eu não acreditava que fosse diferente e me sentia pronto para novos desafios e revelações, mesmo que para isso eu tivesse que me sacrificar. Afinal, o conhecimento tem seu preço e estava disposto a pagá-lo integralmente.
Continuo a caminhar a ritmo lento, mas, constante, ultrapassando a metade do percurso. De relance, olho para baixo e lá está meu querido arruado chamado Mimoso. Ao observá-lo e analisá-lo concluo que ele é muito importante para mim, pois foi exatamente nesse local que tive a minha primeira aventura: Viajando no tempo, corrigi injustiças, reuni as forças opostas e ajudei alguém a se encontrar. Os momentos que passei lá foram momentos de crescimento crítico, humano e espiritual que nunca vou esquecer. Lembrando-me de todos os fatos passados, penso que eu era justamente mais preparado agora por conta disso.
Passado algum tempo de êxtase, volto a me concentrar no meu objetivo, olhando fixamente o caminho que dá acesso ao topo da montanha. Neste momento, as pedras se mexem parecendo querer dizer alguma coisa. Será que eu estava indo para a perdição? Será que essa noite escura não seria demasiadamente perigosa? Bem, era o que eu ia tentar descobrir e já estava bem próximo disso, pois já ultrapassava 3/4 do trajeto. Este fato me trazia felicidade e isto era uma conquista da minha última aventura, pois exatamente na gruta me deparei com três portas que representavam felicidade, fracasso e medo. Pensando nisso, relembro que minha sabedoria foi decisiva para que eu escolhesse a porta da felicidade e desprezasse as demais. Desta feita, tomara que eu tenha a mesma inspiração.
Volto a caminhar e depois de mais alguns passos já me encontro bem próximo do topo, este mesmo topo acolhedor que da última vez realizei desafios. Foram três no total, e avaliaram a minha capacidade e competência. Só depois de passar nos testes da vida é que pude entrar na bendita gruta e iniciar uma aventura que culminou na reunião das forças opostas. Desta vez, acredito que não deve ser diferente, mas não tenho ideia do que me aguarda. Afinal, conheço bem pouco o tema em questão.
Reúno minhas forças restantes para continuar caminhando e tentar descobrir o inimaginável. Mais alguns passos e finalmente consigo chegar ao topo. Ao chegar, sinto o sol brilhar mais forte, uma brisa suave passa ao redor, e posso escutar claramente vozes alteradas. O que elas revelam é totalmente secreto e não posso revelar. Para ter acesso ao seu entendimento e conteúdo é necessário subir a montanha sagrada como eu fiz.
O novo desafio está lançado. Continuemos juntos, leitor.

O primeiro dia sobre a montanha
Acabo de chegar e este fato me deixa mais confortável. Olho no relógio de bolso e verifico que a hora do almoço se aproxima e imediatamente adentro na mata para buscar o que comer. Dentre as várias trilhas que se apresentam, escolho a mesma da aventura anterior a qual já é conhecida e com isso não corro o risco de me perder num topo extenso e enigmático. Alguns minutos depois, consigo vislumbrar uma bananeira e um coqueiro. Estou salvo, pelo menos por enquanto.
Aproximo-me mais e quando chego exatamente no local, subo na bananeira e no coqueiro com a mesma fé e garras que subi a montanha; recolho os frutos, desço, alimento-me e descanso um pouco. Entretanto, não me demoro muito, pois ainda tinha que procurar toda a madeira necessária para construir minha cabana. Esta era estritamente necessária para me salvar dos animais ferozes. Ao conseguir meu intento, retorno.
De volta, começo a construir minha morada, mas o tempo passa e nem sinal da guardiã. O que terá acontecido com ela? Será que ela não existe mais? Bem, se este fosse o caso eu estaria realmente perdido, pois ainda acredito que ela seja a chave ou pelo menos a seta que me conduza ao caminho tão desejado da noite escura da alma. Tento não pensar no pior e continuo a construir meu teto provisório e como já tenho experiência ele ficará bastante firme para eu ter segurança à noite. Com muita dedicação da minha parte, finalmente o meu teto fica pronto. Resolvo descansar um pouco, pois já era quase noite.
Alguns instantes mais tarde, um vento gelado sopra e eu tenho um mau pressentimento. O que estava para acontecer? Analiso o ambiente ao meu redor e ele dá sinais de que a montanha estava próxima de reagir à minha presença. Seria natural, afinal, eu estava pisando em solo sagrado, sem ao menos pedir permissão. Com todos os poréns, decido me trancar na cabana e esperar o outro dia, pois a noite já caía. Boa noite, leitores. Até o próximo capítulo.

A noite escura da alma
Eu me sinto feliz e tranquilo no topo da montanha sagrada que possibilitou os meus objetivos. O tempo é bom, eu estou sozinho, mas isto não me dá medo, pois aprendi a controlar esta fraqueza em forças opostas. Num instante, o aspecto da montanha começa a mudar bruscamente: O chão que estou pisando desaparece, eu começo a flutuar, nuvens negras se aproximam no céu e a cada momento uma angústia misteriosa sufoca meu peito. Concomitantemente, do lado norte, surge um grupo de índios liderados por Kualopu, o feiticeiro das trevas. À medida que eles se aproximam, as nuvens negras se aglomeram ainda mais no céu, encobrindo totalmente o sol, deixando o dia com o aspecto de noite. Observando a cena, escuto Kualopu pronunciar palavras ininteligíveis, como se tentasse expulsar as suas forças ocultas. Quando ele faz isso, as nuvens negras se movimentam rápido e encobrem todo o meu corpo. No mesmo instante, um círculo de luz se produz à minha volta, prendendo-me irremediavelmente. No momento seguinte, as forças gravitacionais são abaladas e uma espécie de túnel do tempo é produzido. Imediatamente sou empurrado de encontro ao túnel, e ao tocá-lo sou submetido a uma sequência de visões. Nelas, viajo para o mundo dos espíritos, mais exatamente para uma reunião entre os espíritos mais evoluídos. Na respectiva reunião, eles sentam, conversam democraticamente, especificamente sobre a divisão entre as forças opostas. No final, fica acordada a atuação de cada uma delas e os aspectos da escolha com relação à noite escura da alma. É bom destacar que nada disso é bastante claro, pois estes mistérios não são dados ao ser humano. Depois de terminada a reunião, um choro de bebê é ouvido e a vida acontece.
A infância é um período de descobertas e de encontro consigo mesmo. Neste período, a família tem um papel primordial na formação de cada indivíduo. Os pais têm o dever de ser o alicerce moral necessário para se construir pessoas justas e do bem. Falando ainda da infância, é também nessa época que os fenômenos extra-sensoriais estão mais aguçados. Em particular, minhas visões revelam alguns desses momentos: O vampiro da casa mal-assombrada, a mulher que sobe da terra para assustar, o morto que pede ajuda para encontrar a tão desejada luz, entre outros momentos. Em cada uma dessas situações surge o desespero do inexplicável e as perguntas que parecem não se calar. Estamos sós no universo? A porta entre os dois mundos está mesmo fechada? Quem tivesse as respostas sobre estas questões poderia escrever livros maravilhosos.
Já a adolescência e a fase adulta são os momentos mais adequados para solidificar os conceitos adquiridos na infância. É também a época das dúvidas e da esperança, em geral e em particular, no meu caso. Surge então um sonho: O objetivo de ser escritor. Começa com uma simples coletânea de trechos bíblicos dos livros do Eclesiastes, sabedoria e provérbios. Um tempo depois, advém a crise e surge então a visão de um médium. Logo depois, veio o desemprego e o início da noite escura da alma. Nesse momento, o círculo se quebra e entro em contato com tudo aquilo que me maltratou e me fez acreditar que eu não era um ser humano digno. As sombras da noite escura se fortalecem e vozes me condenam por algo que eu não tinha controle e que absolutamente não tive culpa. Eu me rebelo e grito bem alto: Eu também sou filho de Deus! Com esta atitude, a visão da noite escura passa e me sinto melhor.
Então começo a ver minha trajetória que me impulsionou até hoje. Saio de casa, animado com o último fio de esperança de ver o meu sonho realizado. Em busca do sonho, chego a Mimoso, subo a montanha do Ororubá e alcanço o seu topo, conheço a guardiã, o fantasma, a jovem e o menino; realizo desafios e finalmente entro na perigosa gruta do desespero, a gruta capaz de realizar os sonhos mais profundos. Dentro da mesma, driblando armadilhas e avançando os cenários, chego finalmente, com muito esforço a uma câmara secreta, onde me torno o vidente, um ser especial e superdotado, capaz de entender os corações mais confusos. Já praticamente pronto, saio da gruta e aí começa uma aventura inimaginável na linha do tempo. O meu objetivo na viagem era corrigir injustiças, ajudar alguém a se encontrar e reunir as forças opostas. O resultado de tudo isso é o livro de mesmo nome.
Depois de ver tudo isso, a sequência de visões é interrompida e novamente a noite escura se aproxima, e, com isso, o círculo de luz reaparece em mim e me leva a transpassar o futuro sem que eu o veja claramente. Rapidamente, chego ao final da linha, morro, vou ao julgamento, e a noite escura permanece ao meu redor. Na audiência, a noite reclama a minha posse por conta de todos os meus atos passados. O julgador ouve os argumentos e então fico na expectativa. Um instante depois, um abismo se abre aos meus pés e me suga ferozmente. Começo a cair velozmente num intervalo de tempo que parece ser uma eternidade. Quando estou quase no fundo, sou amparado por braços e mãos fortes. Olho rapidamente para o ser que me socorre, e é um anjo de belas asas. Em seu semblante está escrito: Arrependimento. Nós fazemos o caminho de volta e a noite escura já não tem nenhum poder sobre mim. Momentos depois chego ao Céu e vou viver em companhia dos seres mais evoluídos do universo, trabalhando com eles para manter o milagre da vida. E assim uma nova fase se inicia.

O primeiro encontro com a guardiã
Um novo dia aparece: os pássaros gritam, o sol surge e a brisa da manhã envolve todo o meu corpo e acaba por me despertar nesse ambiente místico que é a montanha sagrada. Neste exato momento, penso na noite anterior, concluindo que era uma noite para esquecer, pois não me trazia boas lembranças pelo fato do chão ser duro e o sonho inusitado que tive. O que a montanha esperava de mim? Acho que uma incessante vontade de vencer num tema que eu propunha a aprender mais e com isso evoluir. Tentando reunir as forças necessárias para isso, levanto-me, espreguiço-me, tomo meu café matinal, e vejo nada mais nada menos do que a guardiã da montanha. Os nossos olhos se encontram e numa análise rápida constato que ela parece mais jovem do que da última vez em que nos encontramos. Resolvo então iniciar um diálogo.
– Guardiã?! É a senhora mesmo? Estava lhe procurando desesperadamente.
– Eu sabia, mas desconheço o motivo. A que honras devo a visita do sonhador, filho de Deus, a quem não vejo há tanto tempo?
Antes mesmo de tentar responder, nós nos abraçamos imediatamente e isto me deixa mais tranquilo e confiante. Naquele momento, eu tinha a plena certeza de que poderia contar com sua ajuda para desvendar mistérios e responder meus anseios mais profundos. Depois do momento de euforia, nós nos separamos, sentamos em frente ao outro e reiniciamos a conversa.
– Eu vim procurar respostas sobre a noite escura da alma, um momento que já vivi há aproximadamente dois anos, mas que ainda me deixa muitas dúvidas e inquietações. Então pensei um pouco e conclui que a montanha que me trouxe tanta alegria no passado podia ser o recomeço duma nova jornada, instigante e perigosa.
– Entendi. Mas poderia me dar um conceito para o que você chama de noite escura da alma?
– Bem, apesar de não ter evoluído o suficiente, posso lhe dar uma noção básica. Noite escura é exatamente aquele momento em que nos desligamos do sagrado, de Deus, e só conseguimos pensar em nossas próprias vaidades. É um momento onde as trevas agem bastante e isto pode condenar ou até mesmo salvar um indivíduo.
– Uma definição apropriada, mas incompleta. Saiba jovem, que a noite escura é muito mais profunda do que imaginamos e somente os espíritos mais evoluídos são capazes de controlá-la e entendê-la realmente. Está disposto a se arriscar mais uma vez? Se estiver, acho que poderei ajudá-lo em seu caminho. No entanto, devo alertá-lo que não vai encontrar todas as respostas de que necessitas exatamente aqui. Vai ser necessário muita coragem de sua parte e disposição para enfrentar novos e imprevisíveis desafios.
– Eu farei tudo que a mestra mandar. Pode crer que estou disposto a ir fundo nesse tema, nem que para isso eu tenha que fazer sacrifícios complicados e difíceis. Bem, qual será o primeiro passo desta vez?
– Primeiramente terás que conhecer com profundidade os sete pecados capitais, pois são eles que geralmente abrem as cortinas das trevas. Comigo você terá três desafios, e se for aprovado passarás a uma segunda fase. No total são três fases para que alguém consiga finalmente compreender o sentido da noite escura. Esteja preparado, pois não será nada fácil. Além disso, tenho que informá-lo que quem percorre este caminho corre tantos riscos que muitos já perderam suas vidas nele. Ainda assim quer continuar? Se disser sim, saiba que seu primeiro desafio está marcado para hoje à noite.
– Sim. Eu pagarei o preço necessário pelo tão ardoroso conhecimento. Estou pronto.
– Passe bem o dia. Estarei de volta à noite.
Com essas palavras, a guardiã se despede amigavelmente. Começo então a me preparar para a noite. O que será que me esperava? Continuemos juntos, leitor.

A espera do desafio
Continuo me preparando, sem perceber o tempo passa e chega o meio-dia. A partir daí, concentro-me no almoço, pois já estava com fome. Pego os alimentos que trouxera da mata e começo a prepará-los. Ao iniciar, uma leve preocupação perturba, por um momento, os meus sentidos, e me pergunto: O que a guardiã quis dizer com a expressão “muitos já perderam a vida em busca de respostas”? Será que o sentido disso era totalmente literal? Bem, de qualquer forma eu estava plenamente disposto a correr os riscos necessários para alcançar o tão ardoroso conhecimento e respectivo sucesso na aventura. Pensando nisso, constato que desde a primeira vez que eu cheguei na montanha tinha demonstrado a coragem, força e fé suficientes para realizar os desafios e encarar os obstáculos até finalmente ter a permissão de entrar na bendita gruta do desespero que era, naquele momento, a minha última esperança de sucesso. Analisando melhor esta parte da minha trajetória, acabo por concluir que eu tinha realmente possibilidades de alcançar o sucesso. Afinal, eu me transformara no vidente, um ser superdotado de dons, capaz de transcender o tempo e a distância em busca dos objetivos.
Depois da breve análise, resolvo me concentrar somente no almoço e me alimentar. Imediatamente após, decido me deitar na cama improvisada que fiz, pois eu precisava de um tempo para me recuperar e reunir forças para o desafio da noite. Com o tempo, a sonolência finalmente chega e um sono restaurador me envolve completamente. Durante o meu repouso, tenho sonhos reveladores, mas, indecifráveis. Depois da turbulência de um deles, acordo, e ao olhar o meu relógio de bolso percebo que já é quase noite. Apressadamente me levanto com o objetivo de observar a noite e esperar o contato da guardiã.

Orgulho
Ao sair, o cair da noite me deixa mais ansioso e nervoso. O que eu iria enfrentar? Em que consistiria este primeiro desafio? Eram algumas das perguntas que pairavam na minha mente perturbada. No instante posterior, tento me controlar e reafirmar a minha decisão para mim mesmo, a de que eu enfrentaria todos os obstáculos, sejam eles o que forem. A estratégia parece dar certo, pois fico mais confiante e com muita disposição, com aquele instinto aventureiro de escoteiro da missão anterior. Fico feliz e prometo a mim mesmo que iria descobrir todos os fascinantes aspectos da noite escura da alma, tão perigosa e tenebrosa. Assim, decido entrar na cozinha da cabana com o objetivo de preparar um jantar digno de uma guardiã, apesar de todas as dificuldades. E me lembro dos gostos dela e decido fazer uma sopa como da última vez em que nos encontramos. Era necessário não arriscar.
Depois de alguns instantes, finalmente apronto a sopa, ao prová-la fico feliz, pois ficara deliciosa, na medida do possível. Apesar da fome, não me alimento, volto a sair em busca de pistas naquele céu tão estrelado, deslumbrando-me com o aspecto dos astros, e por um momento eles brilham mais forte, parecendo querer me dizer alguma coisa. O que seria? Fico a imaginar inúmeras situações, até que sinto um toque leve por sobre os meus ombros. Ao olhar para trás, deparo-me com a guardiã mais radiante e fulgurante do que nunca. Ela se antecipa e inicia o diálogo.
– Está preparado, sonhador? Hoje você terá a oportunidade de conhecer o início de tudo, a criação da noite escura da alma. Saiba que este é um momento especial e reservado a poucos.
– Acredito que estou, mas antes queria convidá-la para tomar uma sopa comigo.
– Sim, claro. Aproveito para dar as orientações que se fazem necessárias para que você possa encarar o desafio com possibilidades de sucesso.
Depois do sim da guardiã, imediatamente entramos na humilde morada, e, durante o trajeto, um silêncio inquietador perdurou, parecendo antever os perigos que eu teria que enfrentar. O que seria de mim desta feita? Eu me perguntava isso, pois estava começando a trilhar um caminho totalmente desconhecido e imprevisível. Pensando um pouco no meu caso, tento reacender a confiança, pois ela era importante para alcançar o sucesso. Relembro que sou vidente, que não tinha nada a temer, apesar de tudo, e continuo a caminhar ao lado da guardiã. Nossos passos regulares e seguros nos levam ao nosso objetivo, a pequena e improvisada cozinha daquele casebre de madeira. Ao chegar, ofereço a guardiã o único tamborete disponível e começo a servi-la. Nós nos sentamos frente a frente e reinicio o diálogo há pouco interrompido. Decido ir diretamente ao ponto.
– Bem, guardiã, como será exatamente este desafio?
– Você deverá sair daqui a pouco da cabana e percorrer o topo da gruta à procura dum sinal. Quando chegar o momento, terás quatro opções: A pura luz, a passividade, o arrependimento e a noite escura da alma. Se escolheres o caminho mais adequado, então obterás as respostas necessárias para o completo entendimento do surgimento da noite escura da alma. Esse saber é muito importante para sua evolução como vidente e como pessoa. Porém, deves ficar alerta, pois se por acaso escolheres o caminho errado, encontrarás loucura, sofrimento ou até mesmo a própria morte. Seja sábio como sempre foi e escolha descortinar o véu dos mistérios mais profundos do universo. Saiba que poucos tiveram acesso a este conhecimento.
– Como devo me preparar para superar este primeiro desafio?
– Primeiramente, reze bastante para alcançar a proteção celestial. Depois disso, use o seu bom-senso e sabedoria, como quando você enfrentou a escolha dos dois caminhos na aventura passada. Naquela época, existiam duas opções: O caminho da direita, o da luz, que também é o mais difícil por representar renúncias e escolhas difíceis. Neste respectivo caminho, o indivíduo enfrenta muitas dificuldades, mas conta com a proteção celestial e certamente este é o caminho mais adequado rumo à evolução, cujo objetivo final é chegar ao Pai. Já o caminho da esquerda, o das trevas, é o caminho mais fácil, largo, e pertence a todos que se rebelam ao chamado do Pai, à sua missão. É também um caminho de aprendizado, que deve ser conhecido, mas não praticado. Da outra vez, você fez a escolha certa e conseguiu controlar suas forças opostas e isto poderá ajudá-lo desta vez. Saiba que quem controla suas forças opostas é capaz de realizar milagres.
– Entendi. Caso eu escolha o caminho errado, as consequências poderão mesmo me atingir?
– Não se preocupe. Provavelmente nada irá acontecer se você seguir minhas orientações adequadamente. No entanto, deves ter muito cuidado, pois a grande maioria das pessoas prefere ignorar a existência da noite escura nesse momento e se revestem de um falso eu, perfeito e inatingível. Geralmente as pessoas que agem dessa forma acreditam ser melhores do que os outros, pensam erroneamente que estão mais próximas de Deus e não tem o bom-senso de se autocriticar e tentar melhorar como ser humano. Saiba que a noite escura desse tipo de pessoa é a mais perigosa de todas. Há ainda outros que trilham a noite escura sem se dar conta e sem se importar com as consequências. A cada erro cometido, eles se afastam mais da luz e a não ser que alguém os ajude, acabam caindo definitivamente na perdição. Estes são todos que se drogam nos vícios da carne e do espírito. Existe ainda um terceiro tipo que trilham a noite escura por certo período de tempo, até algo transformar suas vidas. Este fato pode ser um conselho, uma reflexão ou um acontecimento casual do destino. O fato traz o arrependimento que é uma das chaves para se salvar dessa noite tão perigosa. Além destes, há outros tipos de noite escura, mas que não são preponderantes. Tenha paciência e cautela para conseguir superar os seus limites, avançar no caminho do conhecimento e não cair nas armadilhas do destino.
– Obrigado. Depois dessa explicação posso concluir que a minha noite escura foi a do terceiro tipo. Nela fui submetido a diversas experiências que fugiram da minha compreensão. Por isto que voltei aqui e quero obter o conhecimento que me fará capaz de entender e analisar as diferentes noites escuras da alma. Isto é absolutamente necessário para a minha evolução pessoal e minha carreira.
– Bem, só me resta agora desejar sorte em seu caminho. Você é um rapaz dedicado e merece alcançar o sucesso. Saiba que muitos corações irão aprender contigo os segredos para serem pessoas melhores e mais felizes. Certamente sua contribuição será importante e imensa.
Depois de dizer isso, a guardiã termina de se alimentar, olha para fora e volta-se para mim.
– Chegou a hora do desafio. Eu já vou indo e não se esqueça das minhas recomendações.
Imediatamente, ela se levanta e desaparece no meio da noite, deixando-me sozinho com as minhas inquietações. Neste momento, observo o meu relógio de bolso, constatando que a noite estava adiantada e um leve sono começa a aparecer. Penso por alguns instantes e decido me sacrificar em prol dos meus objetivos. Com esta decisão, pego uma lanterna na minha mala e avanço para fora da cabana. Ao sair, verifico que sua luz não é suficiente para me dar segurança num topo duma montanha sagrada e perigosa. Mesmo assim, não desisto e acredito em mim mesmo, na minha capacidade. Caminho alguns passos e tomo outra decisão: Iria começar a percorrer o topo do lado oeste, onde se localiza a gruta majestosa. Eu fiz isso, pois tinha uma desconfiança interior.
Determinado, dirijo-me à trilha mais próxima. No meio do caminho começo a ouvir barulhos de animais ferozes. E agora? Como eu iria me proteger? Tomado de medo, começo a repetir uma oração silenciosa e os barulhos acalmam imediatamente como se fosse um milagre. Fico então mais tranquilo e continuo na caminhada, concentrado no desafio. Novamente as dúvidas aparecem incessantemente e me pergunto: Será que sou mesmo capaz de superar este primeiro desafio tão difícil? Bem, da minha parte eu iria me esforçar ao máximo para começar a cumprir os meus objetivos: A procura por respostas sobre a noite escura e a ânsia do conhecimento.
Continuo caminhando e com o cri-cri intenso dos insetos já não consigo me concentrar mais. Como última alternativa, resolvo apostar no meu instinto e na minha experiência para não me perder na trilha. Passado algum tempo, os meus passos ágeis e rápidos me aproximam da gruta do desespero, local em que me tornei o vidente dos livros. Ao avançar mais e ficar de frente com ela, vêm as lembranças da última vez que estive aqui. Lembro-me de todos os detalhes, inclusive de que eu era apenas um sonhador que subiu a montanha em busca dum destino desconhecido. Ao galgá-la completamente, Tive o prazer de conhecer a guardiã, um espírito miraculoso capaz de entender os mistérios mais profundos do ser humano. Com o auxílio dela, realizei três desafios, um mais difícil do que o outro. Ainda na montanha, encarei o fantasma e a jovem com o objetivo de me afirmar sobre o que eu queria para mim mesmo. Depois de todas essas etapas, finalmente pude entrar na gruta do desespero, a gruta que poderia tornar possível o impossível. Ao entrar, derrubando todos os obstáculos, avancei cenários até chegar a câmara secreta. Nela, meus dons naturais foram fortalecidos e terminei por me transformar no vidente, um ser capaz de realizar milagres no tempo e no espaço. Com tudo realizado, saí da gruta, viajei no tempo, corrigi injustiças, ajudei alguém a se encontrar e finalmente reuni as minhas forças opostas e as de outro tempo. Tive êxito nesta missão e agora me sentia preparado para uma nova aventura, penetrar na densa noite escura da alma, algo que ninguém jamais fez antes. Cheio de ânimo, avanço mais, fico na entrada da gruta esperando por um sinal do sobrenatural, mas nada acontece. Com o passar do tempo, fico convencido de que a gruta não tinha nada a ver com o desafio atual e então me afasto dela e procuro outra trilha, rumo ao norte do topo da montanha. Encontro-a imediatamente, auxiliado pela claridade da lanterna e continuo a caminhar.
Ao pegar uma nova trilha, sinto a minha fé e esperanças renovadas, pois acredito que vou realizar os planos e encontrar o tão desejável sucesso. Com essa certeza e seguindo o meu instinto desenvolvido de vidente, em certo ponto, decido sair da trilha e entro na mata fechada. Mesmo enfrentando dificuldades, como espinhos que me ferem, continuo a caminhar no mesmo sentido, pois tinha uma certeza interior. Sigo neste ritmo uns dez minutos, até que do nada surge uma clareira. À minha frente aparecem quatro caminhos distintos e eu tenho que escolher um deles. Pressionado, começo a analisar todas as possibilidades. Neste caso não se trata de sorte ou destino, e sim de sabedoria. Dentre os caminhos há o caminho da pura luz, o caminho da passividade, o do arrependimento e o caminho da noite escura da alma. O primeiro pertence a todos aqueles que se entregam ao chamado do Pai, a sua missão. Certamente este é o caminho mais difícil, pois requer renúncias e escolhas que a maioria não está disposta a fazer. Já o segundo, o caminho da passividade, representa todos aqueles que persistem em seus erros sem se importar com as consequências, como a dor do próximo. Caso eu escolha esse caminho posso até chegar à loucura. Com relação ao caminho do arrependimento, este pertence a todo e qualquer ser humano que esteja disposto a mudar de vida, a perdoar e tentar entender o lado do outro. No entanto, a maioria das pessoas não consegue trilhá-lo por muito tempo, principalmente por causa do orgulho, exatamente o pecado capital que tentarei conhecer a fundo neste respectivo desafio. Caso eu escolha esse caminho, provavelmente irei presenciar e sentir muito sofrimento. Por último, há o caminho da noite escura da alma que representa os conhecimentos e as experiências místicas das trevas que todos em algum momento da vida passam. Depois de pensar mais um pouco, acabo decidindo que o caminho da noite escura era o mais apropriado a seguir naquele momento. Antes de seguir viagem, porém, relembro meus desafios anteriores especificamente quando tive que escolher, na aventura anterior, entre as duas forças opostas. Naquele caso, o caminho da direita foi a escolha mais acertada, pois representava o caminho da luz, enquanto que o da esquerda representava o caminho das trevas. Agora, a situação era diferente, pois eu tinha quatro caminhos e apenas um era a escolha mais adequada. Pensando mais um pouco, decido inverter os papéis e denomino o caminho mais a esquerda da pura luz e o próximo a ele seria o caminho do arrependimento. Já o caminho mais à direita, denomino de noite escura da alma e o próximo a ele de passividade. A fim de confirmar minhas suspeitas, crio uma aura ao redor dos caminhos e este método me dá o resultado esperado. Então eu sigo pelo caminho mais à direita em busca duma verdade que poucos conhecem.
Com um pouco mais de tempo de caminhada, os meus passos regulares me levam a um lugar plano, exuberante e extenso, onde no seu centro se localizava uma lagoa. Às margens da mesma, uma mulher acena para mim, chamando-me. Por curiosidade, atendo o seu chamado e me aproximo mais. Ao chegar de frente com ela, inicio o diálogo:
– É você a detentora do mistério da origem da noite escura da alma?
– Não, meu caro. Mas posso lhe ajudar.
Dito isto, a mulher se movimenta rapidamente e em poucos segundos se coloca exatamente atrás de mim, empurrando-me para dentro da lagoa. Sem defesa, entro em contato com a água. Neste instante, a montanha treme, as forças gravitacionais são abaladas, o céu escurece e meu corpo sobe numa velocidade gigantesca. Gradativamente vou perdendo meus sentidos e com isso as visões começam a aparecer. Concentro-me numa delas, e como se fosse uma viagem no tempo, vejo uma grande explosão e as consequências da mesma. Na respectiva visão, percebo a criação dos sistemas solares e todos os seus elementos constitutivos, representando a criação material. Além desta, ocorre simultaneamente a criação espiritual de todos os seres. Nesta, em particular, observo os exércitos angélicos sob o comando dum único senhor, auxiliado por um servo chamado Lúcifer, anjo prestativo e eficiente. Tudo ia bem no plano espiritual, até que um dia o Senhor dos Exércitos teve que se ausentar com o intuito de criar novas galáxias em universos distantes, e com isso deixou a administração do Céu com Lúcifer. Logo após a saída do Senhor, Lúcifer cresceu em importância e o poder lhe subiu. Num instante decidiu que não seria mais servo e organizou uma rebelião junto com outros anjos. Ele conseguiu adeptos de todas as hierarquias: Tronos, potestades, Ikiriris, arcanjos, anjos etc. No entanto, os planos de Lúcifer foram descobertos a tempo por outro servo: Miguel. Este não concordou com as ambições do seu irmão Lúcifer e organizou junto com outros anjos uma contraofensiva. Foi aí que a guerra começou. De um lado, os que apoiavam Miguel e Javé como seu único senhor. Do outro, os que apoiaram Lúcifer como ser supremo. Este momento foi o mais delicado de todo o Universo porque muitas vidas foram perdidas (bilhões) em prol do poder, ou seja, duma causa sem sentido. Depois de inúmeras batalhas, Miguel e seus anjos conseguiram encurralar Lúcifer e seus seguidores, e os venceu, trancando-os no temido abismo da Terra, em salas intransponíveis. Com isso, a guerra chegou ao fim e o Senhor voltou de viagem, ocupando o seu lugar devido e merecido. Ao voltar, Ele fez questão de parabenizar Miguel e seus comandados pela bravura nas batalhas e os fez alcançar postos mais altos na administração do Reino dos Céus. Quanto à Lúcifer, como castigo, foi transformado na figura dum dragão horroroso e o fogo do abismo foi acendido, cozinhando pouco a pouco os que ali se encontravam.
É nesse exato momento que surge a temida noite escura da alma e a sede de poder e o orgulho são causas primitivas dela. Depois de presenciar todos esses fatos, as visões desaparecem da minha mente e num instante estou de volta, às margens da lagoa, para minha surpresa. Observo ao redor e não vejo ninguém. Decido então voltar imediatamente à cabana, pois a noite já estava avançada. Com pressa, percorro o trajeto de volta em pouco tempo e com mais alguns passos já me encontro novamente na cabana. Dirijo-me imediatamente à minha cama em busca dum sono restaurador. Ao chegar exatamente nela, caio prontamente. Amanhã seria um novo dia e eu continuaria a percorrer o caminho temido das trevas em busca do tão ardoroso conhecimento.

Um outro dia
O dia finalmente amanhece e os primeiros raios do sol batem em meu rosto, fazendo-me acordar. Ao despertar reúno minhas forças e me levanto vagarosamente, espreguiço-me e decido tomar meu banho matinal. Com este objetivo, caminho rapidamente em direção ao banheiro improvisado. Depois de alguns instantes de caminhada, começo a me preparar para o banho. Dispo-me rapidamente, eu me ensaboo e jogo água fria sobre o corpo. Contato que me faz lembrar da noite passada. Analisando com carinho o desafio anterior, termino por concluir que a descoberta da origem da noite escura da alma e do sentido exato do orgulho me fizeram compreender em boa parte porque as pessoas afundam e permanecem nessa nuvem negra. Na minha humilde opinião, a maioria das pessoas estão muito ligadas a si mesmo e à matéria. Como consequência disso, elas não enxergam os erros que cometem diariamente em busca de poder, riquezas, ostentação social e vaidades. Com o passar do tempo, a situação espiritual desse tipo de pessoa se complica ainda mais porque permanecem errando e não tem a capacidade de se arrepender ou perdoar. E as consequências não param por aí. Gradativamente, a nuvem da noite escura fica mais espessa e sua influência acaba afetando os demais sentimentos da pessoa. Mais um passo e as pessoas ficam à beira dum abismo sem volta: Marginalidade, atos torpes, crueldade e falta de ética entre outros. Nesse exato momento, se não houver intervenção Divina ou angélica (Seres comprometidas com o bem), a noite escura pode até condenar. Contudo, há ainda uma pequena esperança enquanto a vida permanece, pois já tivemos exemplos de corações empedernidos que se recuperaram no último instante. Um destes foi o marginal crucificado ao lado de Cristo, que antes do martírio pediu perdão e que Jesus se lembrasse dele ao chegar em seu reino. Na mesma hora, para surpresa de todos, Jesus prometeu: Eu lhe garanto, estará comigo ainda hoje no Paraíso. Essa atitude do mestre mostra a grandeza de Deus e a força do perdão frente a influência da noite escura.
Esqueço todas as angústias e preocupações, concentro-me somente no banho. Retiro as minhas impurezas completamente e me ensaboou de novo e jogo mais água fria sobre o corpo. Quando estou pronto, pego a tolha, enxugo-me, visto uma roupa limpa e saio finalmente do banheiro. Ao sair me deparo com nada mais nada menos do que a guardiã. Ela inicia o diálogo.
– Bom dia, filho de Deus. Convida-me para o café? Eu estava passando aqui por perto e resolvi visitá-lo para saber como foi sua noite de ontem.
– Claro. Esteja servida. Acompanha-me?
A guardiã faz sinal que sim e caminhamos rapidamente em direção à cozinha improvisada. Com mais alguns passos, finalmente chegamos e eu ofereço a ela o tamborete. Começo a servi-la, ela se senta e continuamos a conversar.
– Guardiã, o segundo desafio está próximo?
– Está. Será hoje mesmo à tarde. Antes, porém, fale-me da sua experiência sobre o desafio anterior. Quero ter certeza de que você entendeu o suficiente para passarmos à próxima fase.
– Primeiramente, eu parti rumo ao oeste pensando que talvez o desafio tivesse alguma relação com a gruta milagrosa que me tornou o vidente. Porém, ao chegar lá, entendi que estava errado e então tomei outro rumo. Desta feita, fui para o norte do topo da montanha e ao sair da trilha, pouco tempo depois, eis que surgiram quatro caminhos como a senhora tinha me prevenido. Os caminhos representavam a pura luz, o arrependimento, a passividade e a noite escura da alma. Com mais essa prova da vida, reuni minhas forças e talento para desvendar os enigmas de cada um deles. No final de tudo, consegui e cheguei a algumas conclusões. Posso dizer que o caminho da pura luz pertence a todos aqueles que se submetem à vontade do pai e tentam cumprir fielmente a missão para a qual foram designados. No entanto, este caminho é o mais difícil de todos, pois o mundo oferece cada vez mais alternativas fáceis e prazerosas ao corpo e à alma, fazendo com que muitos desistam dele. Para ser mais sucinto, é um caminho de renúncias e escolhas. Já o caminho do arrependimento é de todos aqueles que têm a humildade suficiente para reconhecerem seus erros, mesmo quando a situação é quase sem volta. É aí que ocorre o milagre do renascimento e a partir disso as pessoas podem ter uma vida plena e cheia de felicidades. Com relação ao caminho da passividade, este representa a indiferença de todos aqueles que cometem crimes, mas que não se consideram absolutamente culpados. A noite escura desse tipo de pessoa é geralmente fatal. Por experiência própria, posso dizer que convencer um passivo é mais difícil do que criar outros mundos. Por último, o caminho da noite escura da alma representa o momento em que nos desligamos de Deus para só pensarmos em nossos interesses e vaidades. Dependendo de cada caso, as trevas podem condenar o indivíduo. É o caminho do conhecimento e da revelação. Optei por este, pois era a escolha mais acertada no momento. Depois de optar, encontrei uma mulher que estava às margens duma lagoa. Ela acenou para mim, eu me aproximei e ao chegar bem perto ela me empurrou de encontro às águas. O encontro produziu uma viagem há tempos remotos, quando o ser humano nem suspeitava de existir, que revelou o mistério que poucos conhecem. Com a revelação, meus sentidos foram despertados para entender a causa primitiva das trevas: O orgulho e a sede de poder. Especificamente o orgulho produz no homem a autossuficiência, uma espécie de perdição. Sendo autossuficiente, o homem pensa que não precisa mais de Deus para realizar os seus planos e objetivos e se considera o seu próprio senhor, dono do seu próprio destino. Além dessas características, o orgulho desencadeia mais uma série de pecados que termina por contaminar por inteiro a alma do homem. Com isso, a noite escura se fortalece cada vez mais.
– Esplêndido. Eu sabia que você era realmente capaz de entender a profundidade da questão. No entanto, saiba que isso é apenas o começo, pois a noite escura da alma engloba muito mais aspectos que ainda não dominas. Seja prudente em todas as situações e lembre que até hoje ninguém conseguiu compreendê-la realmente a não ser o mestre. Depois de tudo que ouvi, acredito que está apto a passar a segunda fase das que terás que percorrer.
– E como será esse próximo desafio? Como devo agir para obter novamente sucesso?
– Você deve procurar no topo o local chamado “abismo do arrependido”. Se agires com cautela e sabedoria poderás vencer novamente e encontrar o conhecimento do segundo pecado capital. Mas esteja alerta: Apenas os corações totalmente puros não são atingidos pelo fogo do abismo. Caso fracasses, saiba que sua alma ficará presa irremediavelmente e não haverá quem consiga lhe salvar.
– Obrigado pelos conselhos, mas acredito em mim mesmo. Eu estou totalmente confiante que terei sucesso, pois vou correr todos os riscos necessários para isso.
– Ótimo. Vejo que estás disposto. Admiro sua determinação em busca do conhecimento. No entanto, devo alertá-lo que tudo tem seu preço e que nada é absolutamente por acaso. Se tiveres sucesso em todas as etapas, o mistério da noite escura o ajudará bastante em sua longa carreira. Agora, só me resta desejar boa sorte e até o próximo encontro.
Dito isto, a guardiã terminou por se despedir e no mesmo instante desapareceu da minha vista como fumaça. A partir daí, o silêncio reinou na minha humilde cabana e isto me fez ficar pensativo. Como vencer essa nova etapa? Seria por acaso mais perigosa que a primeira? O que era exatamente esse local chamado abismo do arrependido? Eram tantas as perguntas sem resposta que me deixaram um pouco zonzo. Termino de tomar o café e passaria o restante da manhã analisando qual a melhor estratégia a ser adotada nesse caso. Depois de decidir, descansaria um pouco antes de iniciar essa nova etapa.

Avareza
A tarde finalmente se inicia e o calor abafado consegue me despertar do meu sono restaurador. Neste momento, observo meu relógio de bolso e posso imediatamente constatar que a hora do desafio estava bem próxima e então me levanto com a intenção de cumpri-lo. Com este objetivo em mente, saio a passos largos da cabana e procuro pensar na melhor rota para chegar ao tenebroso abismo do arrependido. Da última vez, já tinha passado pelo Oeste e pelo Norte. Estas opções estavam descartadas. Pensando mais um pouco, decido, desta feita, ir na direção sul. Definida a direção, continuou a caminhar e começo a preparar a mente para um impacto talvez inevitável, pois eu tinha que manter limpos coração e a alma com o intuito de superar o respectivo desafio. O que eu iria exatamente encontrar nesse local tão perigoso? Bem, eu não tinha a mínima ideia. A única certeza que eu tinha era de que me esforçaria a fim de absorver os conhecimentos necessários para tentar entender melhor a enorme complexidade da noite escura da alma. E isto não era tarefa absolutamente fácil.
Continuo a caminhar durante certo período de tempo na direção determinada, mas ainda não encontro nada. Será que estaria no caminho certo? Bem, apesar de tudo, eu tinha que cultivar mais a minha paciência. Persevero no caminho, mas paro um instante a fim de descansar um pouco. Aproveito para sentar um pouco naquele chão duro e seco e imediatamente relembro os conselhos da minha mestra, a guardiã: os de outrora e os atuais. Analisando cada um deles, termino por concluir que estava mesmo no caminho certo e reacendo novamente a minha confiança nos meus poderes e nos meus instintos. Com isso, levanto-me e continuo a caminhar na direção indicada. Alguns passos adiante, surge enfim uma sinalização: Uma seta apontando para a minha direita com o nome do local que eu procurava incessantemente: “Abismo do arrependido”. O impacto da boa notícia me deixa tonto, pois eu não esperava descobrir com tanta facilidade o local tão desejado. Resolvo seguir imediatamente o caminho indicado pela seta.
O que está acontecendo? Será que fui enganado? Já faz um bom tempo que tomei o caminho da direita e ainda não encontrei nada. Continuo a caminhar sem destino e com mais alguns passos chego à extremidade do topo onde me parece que só existe o vazio. Sem outra alternativa, resolvo sentar e pensar numa nova estratégia. Como começar de novo? Naquele momento eu não tinha nenhuma ideia, pois me sentia perdido, desolado e abandonado. Mesmo contra a minha vontade, o autocontrole outrora aprendido desaparece completamente e surgem a inquietação e o medo, apesar da minha recente evolução. Por alguns instantes, permaneço na mesma posição, até que algo inteiramente novo acontece: O chão da montanha treme; as forças gravitacionais são novamente abaladas, e, como se fosse um corisco, a mulher do primeiro desafio reaparece. Ela inicia o diálogo imediatamente.
– Quer descobrir os mistérios do abismo do arrependido? Saiba que posso ajudá-lo mais uma vez.
– Como? Não estou vendo abismo nenhum aqui.
– Não seja bobo. Para que um mortal penetre no abismo ele tem que primeiro desencarnar.
– Você quer dizer morrer? Isto está fora de cogitação, pois sou ainda muito jovem e tenho uma vida pela frente.
– Não é nada disso. Seu corpo não vai morrer literalmente. Apenas seu espírito sairá por alguns instantes para que possa contemplar o abismo e obter todas as informações necessárias. Não quer o conhecimento? Então pague o preço por ele.
– Está bem. Faça o que for necessário.
Com delicadeza, a estranha mulher me faz deitar e advêm calafrios que arrepiam e percorrem meu corpo por inteiro. Nesse momento, tento manter a calma, apesar das dúvidas que ainda corroem o meu coração. Sem se importar comigo, a mulher começa a fazer um ritual e suas mãos acabam por descansar em minha cabeça. Como consequência desta atitude, sinto ondas de energias sobre o meu corpo e a cada momento que passa me sinto adormecer. Mais alguns segundos, relaxo completamente e meu espírito se desprende da carne num solavanco. Ao sair do corpo, começo a flutuar e a voar sem limites. A sensação que isso proporciona é tão boa que me pergunto se vale a pena continuar a viver. Fico mais algum tempo aproveitando a liberdade, até que um túnel surge abaixo de mim e me suga ferozmente. Sem conseguir resistir, caio num buraco fundo, por um tempo que não sei mensurar, e bem no final chego num salão extenso onde em seu centro há uma porta misteriosa. A mesma se abre imediatamente após minha chegada e dentro dela sai um anjo que me rapta sem chances de defesa. Começa então uma viagem rápida que termina ao chegarmos num quarto. Eu entro no repartimento e encontro uma pessoa que já me espera. O anjo nos deixa a sós e com um olhar de piedade implora:
– Toque-me e saberás do que precisas.
Cheio de misericórdia, atendo o pedido desesperado e no exato momento do toque, visões começam a aparecer, perturbando meus aguçados sentidos. Em dado momento, vejo trevas, sol, luzes e cortinas da fumaça mais espessa. Aos poucos, tudo fica mais claro e então tenho a visão da respectiva história.
“Ryan era um empresário do ramo têxtil bem-sucedido, casado e com três belos filhos, Christian, Andrel e Marta. A relação com a família era normal, mas seus aspectos éticos nem sempre agradou a todos. Exemplos disso são o seu caráter intransigente como patrão, sua demasiada intolerância com as minorias étnicas e raciais e seu detestável comportamento contra mendigos e menores de rua. Com todo esse temperamento explosivo, não é de admirar como ele agiu certo dia. Na ocasião, Angel bate à sua porta, explica sua situação precária de vida e por fim pede algum dinheiro para comprar um lanche ou até mesmo um almoço para poder saciar sua grande fome. Como resposta, Ryan se irrita e declara que de nenhuma forma é pai dos pobres e bate a porta sem ao menos dar uma palavra amiga Àquele homem necessitado. Angel se revolta com os ricos e num momento de aflição solta uma praga contra Ryan. Anos depois, Ryan se encontra no mesmo estado de espírito e certo dia uma doença séria o assalta e mesmo ele lutando com seus fartos recursos não consegue evitar a tão temida morte. Ao chegar no mundo espiritual, ele vai a julgamento e sem nenhuma possibilidade de defesa sua noite escura o condena irremediavelmente. Ele desce, sem remédio, ao abismo onde sofrerá dia e noite (sem descanso) por seus erros cometidos em vida, enquanto que Angel, estava no céu onde é consolado.
A visão respectiva termina e imediatamente o conhecimento necessário preenche todo o meu ser. Quando estou pronto, a pessoa se despede me fazendo um pedido: Quero que você divulgue minha história para o mundo, pois não quero que meus filhos venham para o lugar de tormento em que estou. Prometo atendê-lo e ele finalmente se vai. O anjo reaparece no quarto e me arrebata pela segunda vez. Nós viajamos rapidamente e ele me deixa junto à porta, no salão. No mesmo instante uma força me puxa para cima e quando dou por mim estou de volta ao meu corpo, no topo da montanha do Ororubá.

Reflexões sobre o desafio
Tento me levantar, mas o esforço sobre-humano que fiz anteriormente me impede. Cheio de curiosidade, observo ao meu redor à procura da estranha mulher que me ajudara nos desafios, mas não consigo achar pista dela. Quem ela seria exatamente? Que poderes possuía? A única certeza que eu tinha é que ela demonstrara ser um instrumento maravilhoso do destino, com o objetivo de me auxiliar na busca pelo tão ardoroso conhecimento.
Um instante depois, esqueço um pouco a mulher e tento me levantar pela segunda vez. O corpo tenta resistir, mas com um pouco mais de esforço eu finalmente consigo. Em pé, poderia pensar melhor e assimilar por completo o conhecimento revelado no abismo. Quando me sinto pronto, começo a fazer o caminho de volta em direção à minha morada provisória. No meio do caminho, as sombras da história triste começam a me inquietar e então resolvo analisar o caso friamente. Ryan era o exemplo mais adequado de que os ricos correm sérios riscos quanto à sua salvação. Isto posto porque a riqueza e o poder trazem consigo conforto e status, mas também exige responsabilidade e desprendimento com as causas sociais. Outro exemplo, bíblico, mostra a avareza do rico e as condições desumanas dum pobre Lázaro. O final deles é igual ao da história de Ryan e Angel. Analiso em conjunto os dois casos e termino por concluir que a avareza é uma poderosa comichão da alma. Os personagens mudam, as situações são diferentes, mas para quem cultiva a avareza acontece o mesmo final trágico: A noite escura condena mais uma vítima a perecer nas trevas exteriores. Como mudar essa grande realidade? A resposta pode ser mais simples do que imaginamos. Trata-se de seguir o caminho da evolução, um caminho rumo ao Pai. Que requer renúncias e escolhas difíceis, que poucos estão dispostos a fazer.
Penso que o mundo seria bem melhor mesmo se seguíssemos os bons exemplos que a história nos deu: Jesus Cristo, Francisco de Assis, Martin Lunter King, Teresa de Calcutá, Irmã Dulce, Francisco Xavier, entre outros. Certamente, a noite escura não teria mais influência sobre nós. Bem, isso é apenas um sonho. A realidade é completamente diferente. Em sua maioria, as pessoas demonstram serem materialistas, egoístas e cheias de vaidades. Pode parecer pessimismo, mas na minha opinião o mundo continuará por muito tempo sobre o império da noite escura e para poder entendê-la completamente terei que cumprir novos desafios e realizar aventuras que sequer desconfio. Das etapas, já cumpri duas. Continuemos juntos, leitor, na busca pelo conhecimento.
Aproximo-me da cabana que construí com tanto esmero. À minha espera está a guardiã. Chego ao lado dela e a mesma iniciou o diálogo:
– Meus parabéns, vejo que está inteiro. Poderia falar sobre a sua experiência de hoje á tarde? O que você aprendeu?
– Inicialmente decidi começar pelo Sul, pois já tinha passado pelo Oeste e pelo Norte. Nesta respectiva direção, caminhei um bom período de tempo até conseguir encontrar alguma sinalização que me orientasse. Ao ser orientado, voltei a caminhar com bastante intensidade e com mais algum tempo me deparei com a mesma mulher do desafio anterior, que prontamente me auxiliou a achar o meu destino, o abismo do arrependido. Avancei no caminho e ao chegar exatamente no ponto que eu precisava, entrei em contato com a revelação do segundo pecado capital: A avareza. A história a qual fui submetido me ajudou a compreender a extensão desse pecado, o verdadeiro destino de todos que o seguem e tirei enfim algumas conclusões: A avareza é a chave pela qual a noite escura da alma arrebata fiéis. Ela se aloja no coração humano e nos sentidos, obstruindo a evolução respectiva do indivíduo. Além disso, provoca males secundários como a indiferença, o egoísmo e a intolerância. Exposto isso, podemos concluir que seus efeitos são catastróficos e muitas vezes provoca a condenação. Uma alternativa de combater esse tipo de pecado seria o altruísmo, que revigora a alma e abre os caminhos da evolução.
– Muito bem. Depois do que vi e ouvi, chego á conclusão de que você está mais próximo de compreender o sentido e a extensa dimensão da noite escura, pois já foram ultrapassadas duas etapas.
– E agora? Qual o próximo passo?
– A próxima fase será realizada amanhã e trata-se de uma das maiores fraquezas do ser humano: A luxúria. Esta será a última sob a minha supervisão, pois não estou capacitada a ajudar mais. Nas próximas etapas você será auxiliado por um hindu, que já mora aqui na montanha há seis meses. Fique tranquilo: Ele é especialista nos quatro últimos pecados capitais.
– Quer dizer que a senhora vai me abandonar? Não faça isso. Não se lembra? Nós estamos juntos nessa busca do conhecimento, desde a última aventura.
– Não leve a minha decisão para o lado pessoal. Não se trata disto. Saiba que não sou detentora de todo o conhecimento como você supõe. Mesmo para mim, a noite escura tornou-se um tema complexo e indecifrável. Para que você avance são necessários novos valores e ensinamentos, os quais não possuo e a grande maioria também não. Por isto e muito mais, devemos nos separar no momento, e quando evoluíres mais, quem sabe não nos veremos novamente.
– De qualquer forma, obrigado por tudo. Se não fossem seus conselhos eu não teria obtido progressos. A partir de agora, prometo que vou esforçar-me mais, a fim de descortinar o véu da noite escura da alma. Tudo dentro do possível, é claro.
– Não me agradeça ainda, pois ainda nos encontraremos outras vezes nesta aventura. Na próxima oportunidade, darei minhas últimas recomendações.
– Entendi. Uma última dúvida. A senhora acredita que eu sou digno do conhecimento a ser revelado?
– Pelo pouco que lhe conheço, é sim. Quando alcançares o objetivo maior, o tão ardoroso conhecimento, terá o poder de abrir a sua mente para verdades escondidas durante séculos. Aí terás as respectivas respostas.
– E aí serei feliz trabalhando no que gosto e esbanjando felicidade. Que ótimo. Espero que este momento não demore muito. Mais alguma recomendação?
– Não. Mais nada por enquanto. Agora, tenho que ir, pois já está ficando tarde. Boa sorte no próximo desafio!
Dito isto, a guardiã desapareceu. Ao ficar sozinho, encho-me de angústias e preocupações. Será que eu continuaria progredindo nesse caminho tão perigoso? Quem era exatamente este novo mestre, o hindu? Estas perguntas sem resposta imediata corroíam o meu coração e eu estava a ponto de realizar mais um desafio.

Luxúria
O tempo passa velozmente e um novo dia já amanhece. A sua chegada traz novas e inquietantes preocupações para um sonhador despreparado. Pergunto-me: Os pecados da carne seriam tão perigosos a ponto de afetarem a minha pureza? Pensando mais um pouco, decido continuar arriscando, mesmo que isso tivesse graves consequências para mim. Com a força dessa nova decisão, levanto-me e dirijo-me ao banheiro improvisado da cabana para tomar um banho. No caminho, tento deixar minha mente tranquila para aproveitar bem esses momentos de lazer. Entro, fecho a porta, começo a me despir e pego o balde de água que eu mesmo tinha separado na noite anterior. Inicio então o banho e ao jogar a primeira quantidade de água fria começo a refletir sobre o local sagrado em que estou. Penso um pouco sobre a montanha e sobre sua importância em minha vida. Termino por concluir que ela era mesmo sagrada pelo seu clima, sua história da qual eu fazia parte, desafios, mistérios escondidos e até a própria gruta. Continuo as conclusões e chego a um novo denominador comum: Nunca ninguém a conhecerá totalmente, a não ser que evolua até a perfeição. Nela, pude encontrar minhas forças opostas e, ao me tornar o vidente, pude controlar essas mesmas forças. Agora, buscava o conhecimento e entendimento sobre a noite escura pela qual todos nós passamos. Nesse caminho, tinha realizado duas etapas. Mas ainda faltavam sete, imprevisíveis, que ainda não tive tempo de pensar.
Tento me concentrar apenas no banho e esqueço, por um momento, as preocupações. A estratégia dá certo, continuo o ritual, me ensaboo, jogo mais água sobre o corpo e me esforço para retirar todas as impurezas. Quando me sinto totalmente limpo, pego uma toalha, enxugo-me e visto uma roupa limpa. Termino por sair do banheiro e vou à cozinha para preparar o meu café da manhã. Ao chegar, começo a estralar os apetitosos ovos de galinha que consegui na mata. Fico um pouco de tempo preparando a minha comida e quando ela fica pronta, alimento-me imediatamente. Aproveito para sentar um pouco, e quando faço isso, sobrevêm saudades de casa, da minha mãe e da minha vidinha. Isso tudo acontecia porque eu estava acostumado com uma refeição farta no café da manhã e com o calor familiar. Mais um instante passa e balanço a cabeça: Tudo seria bem mais fácil se eles me apoiassem na minha carreira e nos meus sonhos. Eu certamente teria mais um motivo para continuar lutando e me firmar cada vez mais como o vidente transformado pela gruta. Mas afasto esses pensamentos, pois eles só me prejudicariam agora. Então planejo a minha estratégia para o próximo desafio.
Com tudo definido, saio da cabana e tomo a direção leste, pois ainda não tinha ido por aqueles lados. O início do novo trajeto é feito de forma regular, sem muita pressa, pois ainda tinha que me preparar mentalmente para os impactos que porventura viessem. Neste momento era necessário o máximo de cautela, pois os desafios anteriores me provaram que os pecados capitais eram mais fortes do que eu imaginava. Provavelmente esta terceira etapa também não seria diferente. Fortalecida por esses pecados, chego a concluir que a noite escura, nesse caso, teria o poder de condenar. Como então se salvar? Era essa a resposta que eu tanto procuro. Depois de passar por todas as etapas da minha evolução pessoal, eu certamente terei uma posição a respeito. Por enquanto eu teria que cuidar do desafio atual. Sem mais preocupações, continuo a avançar.
Mais adiante, no campo da minha visão, aparecem três jovens vestidas como prostitutas. Apesar de ainda estar longe delas, posso constatar que elas são muito formosas e insinuantes. Quando elas percebem minha presença, acenam e eu resolvo me aproximar para mais averiguações. Ao chegar bem perto, a noite escura se condensa e o impacto me faz gelar. No instante posterior, elas se apresentam e me convidam a acompanhá-las. Sem pensar muito sobre o caso, resolvo aceitar e nós continuamos a caminhar. No meio do caminho elas me cercam e criam um círculo das trevas ao meu redor. Neste exato momento, a noite escura arrebata meu coração e sou forçado a lembrar de experiências que só me fizeram sofrer. Angustiado, tento me desvencilhar do círculo, mas ele é forte demais até para mim que sou um vidente preparado e evoluído.
Um tempo depois, uma sequência de portas é aberta na minha frente, e sou empurrado pelas prostitutas de encontro a uma delas. Em poucos segundos, minha mente e meu corpo passam por túneis onde os prazeres da carne são desfrutados. Ao ter essa experiência, estremeço com as imagens, pois o que é sagrado se torna um ato de pura selvageria. A fim de não sofrer tanto, fecho os olhos, mas mesmo assim não consigo ficar tranquilo. Com mais algum tempo, o círculo se comprime e viajando pelo túnel acabo por chegar a um amplo salão, onde alguém já me espera. Concentro-me mentalmente, tentando deixar limpos coração e alma, mesmo depois de tudo que vi e ouvi, e o círculo acaba se quebrando num estalo. Com isso, a noite escura se afasta por um tempo e me sinto mais reconfortado. Resolvo então me aproximar da pessoa que está no salão e ao tocá-la, as revelações e as visões começam a surgir.
“Felipe é um funcionário público de alta hierarquia e como consequência de seu trabalho possui uma vida estabilizada junto com os demais membros de sua família: Sua mulher, Catherine, e seus dois filhos, Lucas e José. Em sua vida familiar, Felipe se mostra bastante carinhoso e responsável. No entanto, quanto ao seu caráter, ele não se mostra tão perfeito, pois age de maneira desproporcional em algumas atitudes. Um exemplo delas, é que ele gosta de festinhas, geralmente acompanhado com ex-colegas de faculdade e nestas ocasiões aproveita para beber muito com o objetivo de perverter os sentidos e se engraçar com algumas mulheres sempre presentes. Foi nesse caminho que começaram as primeiras traições. No início ele se mostrou bastante cauteloso e não despertava muitas suspeitas. Porém, com o tempo, convenceu-se que sua atitude era normal de um homem e não se preocupou em ser mais discreto. Um belo dia, ocorreu o inevitável: Sua mulher descobre as traições e sua desilusão com o marido é completa. Ela acreditava que estava casando com a pessoa certa e que o amor do casal seria para sempre. Revoltada, briga com o marido, mas não se separa porque o amor pelos filhos é maior. Já ele não se importou em ser descoberto e continua em seu caminho de traições. O tempo passa, a situação não muda e com ela sobrevêm doenças graves que lhe provocam a morte. Ele vai a julgamento e a noite escura usa a dor da mulher para condená-lo. Ele é mais um que as trevas recolhem em seu galpão e este é certamente o fim de todos os pervertidos.
A visão termina, o homem se despede, recomendado que eu divulgue sua história no mundo. Concordo, e um vento forte me leva de encontro ao túnel. Em poucos segundos estou de volta ao topo da montanha, transformado pelo conhecimento do terceiro pecado capital. Agora, só me restavam seis etapas para a completa compreensão da noite que atemoriza todos os corações.

De volta à cabana
Eu estava exausto, mental e fisicamente, após a realização do terceiro desafio. Decidi retornar imediatamente a cabana com o intuito de descansar. Com este objetivo em mente, começo a dar os primeiros passos e minhas preocupações se concentram no próximo desafio e na misteriosa e incógnita figura do hindu que ainda não conhecia. Será que eu conseguiria assimilar os seus ensinamentos? Seria o mesmo, paciente, como a guardiã? O quarto desafio seria muito mais perigoso que os anteriores? Bem, eu tentaria achar as respostas dessas perguntas quando me encontrasse com o dito cujo. Por enquanto, eu deveria assimilar completamente os conhecimentos que obtive nos três desafios anteriores.
O ritmo da caminhada continua intenso e já consigo ultrapassar um terço do percurso de volta. Quem era eu nesse momento? Não apenas um simples sonhador que subiu a montanha em busca dum destino que desconhecia, mas alguém em busca do conhecimento, o total controle e entendimento sobre os aspectos da noite escura, a mesma noite escura que era capaz de salvar ou condenar um indivíduo. Esses aspectos eram essenciais na minha formação de vidente e de homem. Só assim poderia prosseguir minha carreira em busca de mistérios e de verdades escondidas há séculos, com o intuito de fazer muitos corações sonharem. E o que é a vida sem sonhos? Um grande vazio sem sentido e sem alma. Por isto minha nova atitude em busca do tão ardoroso conhecimento.
Avanço um pouco mais e já ultrapasso metade do percurso. Nesse momento, o cansaço reaparece com muita força, mas tento não pensar nele e continuo a caminhar. Afinal, eu tinha aprendido na gruta que o homem só é digno quando se mostra digno e isso inclui a perseverança, o esforço e a dedicação. Era exatamente o que eu estava tentando cultivar no caminho de encontro ao destino, o qual eu teria que correr atrás, mesmo se eu quisesse alcançar a evolução tão necessária. Isto era essencial na minha carreira para que eu pudesse continuar encantando os corações de todas as idades. Era por eles e pelo universo maravilhoso, que me proporcionou dons, que eu me arriscava mais uma vez na montanha. A viagem tinha valido a pena, pois já descobri a origem da noite escura e mais dois aspectos importantes. Faltava seis etapas para a revelação final.
Aproximo-me do meu teto provisório, local em que descanso duma aventura tão fatigante. Percebo imediatamente a presença da guardiã, que tanto me ajudou no meu caminho. Chegando perto, ela inicia um diálogo:
– Então você cumpriu o terceiro desafio. Meus parabéns! Agora, conte-me sobre suas experiências e suas conclusões. Quero ter certeza que você está preparado para avançar ainda mais no complexo caminho da noite escura da alma.
– Antes de qualquer coisa, queria agradecer pela presteza da senhora e dedicação à minha causa. Sem seus conselhos, certamente eu não conseguiria superar todas as adversidades que encontrei. Saiba que a partir de agora minha vitória será também sua vitória. Quanto aos aspectos da noite escura da alma eu absorvi que o orgulho é a origem dessa noite escura. Ele impossibilita o indivíduo de enxergar o mais adequado caminho para evoluir e chegar junto ao Pai. Além disso, quem se deixa enganar por esse pecado, torna-se autossuficiente, e, como consequência dos seus atos, perde todo o contato com as forças da luz que poderiam ajudar em sua missão. Analisando bem esse pecado, terminei por concluir que a humildade é o único e melhor antídoto, pois só os humildes conseguem triunfar. Já com relação à avareza, o segundo pecado capital, pude concluir que ela fecha o coração do ser humano para a dor e os problemas dos outros. Precisamos entender que o dinheiro, o poder e a ostentação social não são perpétuos. São apenas bens materiais que podem e devem servir de meio para atingir a evolução desejada e necessária. Como acontece isso? Através da doação, da caridade e do desprendimento. Pensando mais um pouco sobre este pecado, concluo que os avaros nunca vão evoluir e provavelmente serão condenados pela noite escura que os persegue. Quanto à luxúria, a mesma afeta os aspectos da moralidade e da dignidade do ser humano. Atualmente há uma banalização do sagrado que perverte os sentimentos e o coração da pessoa, tornando-a impura. Com isso, perde-se o contato com o Pai Santo que quer apenas o nosso bem. Analisando a situação, posso dizer que os pecados da carne, incluindo a luxúria, são os mais perigosos, pois controlam os instintos humanos. A fim de nos libertamos, é necessária uma boa educação, recheada de princípios éticos e humanos. Precisamos, enfim, fazer com que a nossa parte espiritual e racional prevaleça sobre a parte animal. A luxúria é capaz de condenar, caso o indivíduo persista em seus erros.
– Interessante. Acho que você tem possibilidades de evoluir ainda mais, mas por enquanto é o suficiente. Você poderá passar à próxima etapa, o encontro com o hindu. Trata-se de um homem sábio, vindo do estrangeiro, especialista nos quatro últimos pecados capitais. Se obtiveres sucesso com ele, poderás avançar ainda mais, rumo a uma terceira etapa.
– Bem, eu não estou bastante seguro quanto a ser auxiliado por esse hindu. Ele é mesmo confiável?
– Se duvidas, é sinal de que ainda não estás pronto. Mas se queres mesmo o conhecimento, então não tem escolha. A minha parte já está cumprida, agora é com você e seu novo mestre.
– Onde o encontro?
– Ele reside aqui mesmo, na montanha, no Noroeste dela, numa casinha de sapê. Quando o vir, diga-lhe que você é o enviado do espírito da montanha. Ele irá prontamente atendê-lo.
– Obrigado por tudo, guardiã. Eu nunca esquecerei da senhora.
– Não se preocupe. Ainda nos veremos mais vezes porque você precisará de mim e dos meus conselhos. Boa sorte em seu caminho, filho de Deus, que você realize os seus sonhos mais profundos.
Logo em seguida, a guardiã desapareceu sem deixar rastro. Quem era exatamente ela? Eu até hoje não sabia, apesar de ter convivido com ela. A única certeza que eu tinha naquele momento era que ela fazia parte do mistério da montanha e do mundo, alguém digna de não ser esquecida. Depois da saída dela, descansaria um pouco e depois começaria a me preparar para o encontro com o hindu misterioso.

O encontro com o hindu
A passagem de fase me deixara muito feliz, mas ao mesmo tempo preocupado. Que desafios e perigos eu ainda teria que enfrentar? Como seriam os métodos adotados pelo hindu? Essas eram algumas das perguntas que povoavam minha mente. Pensando sobre o meu caso. Afirmo minha preparação e o fato de que não iria julgar ninguém sem ao menos conhecer. Com essa constatação, observo-me melhor e começo a crer que os conhecimentos outrora absorvidos me davam certa segurança para encarar finalmente esse novo mestre. Encho-me de ânimo e conto seis desafios que me separavam da minha plena evolução como vidente e como homem. A noite escura se aproximava.
Passado mais alguns segundos, concentro-me no meu íntimo, inspiro e expiro fortemente, e tomo enfim uma decisão: Era chegada a hora do encontro com o hindu. Eu tinha uma missão a cumprir. Recoberto de esperanças, começo a dar os primeiros passos rumo ao local que a guardiã me indicara. Neste momento, um sentimento de inquietação e medo do desconhecido preenche todo o meu ser, apesar de eu ser um vidente preparado pela gruta mais perigosa do mundo. Quem era esse homem que provocava esse tipo de reação? Certamente não era comum. O fato de ele dominar os mistérios dos quatro últimos pecados capitais o qualificava ainda mais. Seria realmente um privilégio conviver, mesmo que fosse por pouco tempo, com um homem desses, concluo. No instante posterior, acalmo-me mais e acelero os meus passos, pois a curiosidade imperava. Avanço mais e chego a metade do percurso. As minhas forças opostas dão sinal de que estão em choque e então me esforço para controlá-las. Qualquer deslize seria fatal.
A caminhada rápida faz minha mente vagar por tempos e espaços distantes, à procura de respostas sobre a condição humana. A aventura anterior, as minhas sombras, a evolução e a própria estrutura da sociedade são alguns dos temas que ela repassa. Analisando o primeiro item, lembro-me muito bem da última vez que subi a montanha em busca do meu destino e dos meus sonhos. Neste respectivo caminho, consegui escalar uma montanha íngreme e cheguei ao seu topo. Lá encontrei a guardiã, o fantasma, a jovem, o menino, e a convivência com eles, junto com os desafios, deram-me uma maior certeza do que eu queria. Depois de ultrapassar vários obstáculos, finalmente entrei na gruta, obtive o sucesso e enfim me transformei num vidente poderoso, capaz de desvendar os mistérios mais profundos e realizar milagres no tempo e no espaço. Com todos esses atributos, consegui reunir as forças opostas, mas isto ainda era apenas a primeira etapa da minha evolução. O meu desafio era bem maior do que eu imaginava. Entre os desafios, estava a controlar minha própria força, anseios e conhecer profundamente a noite escura, a qual eu tinha vivido intensamente há pouco tempo. Essa parte tenebrosa da minha vida ainda me preocupava e se eu não conseguisse superá-la não chegaria a compreender as diversas noites escuras pelas quais as pessoas passam. Isto tudo remetia a uma palavra: Evolução. Era necessário evoluir como vidente e como homem para no futuro chegar ao caminho do Pai sem ressentimentos, sem dor e sem medo. Ficar entre os justos era o meu objetivo principal. No entanto, eu não poderia pensar apenas em mim mesmo e esquecer os meus demais companheiros que labutam diariamente numa sociedade injusta e pérfida. Tenho que achar alternativas para que eles evoluam também, apesar de todas as dificuldades impostas pelo capitalismo e pelas elites. Bem, isso é tema para outro livro. Agora tenho que me concentrar em conhecer completamente a noite escura e posteriormente superá-la.
Continuo avançando no caminho e um tempo depois consigo avistar a casinha de sapê. Neste momento, meu coração dispara e fico parado em plena Contemplação. Posteriormente, consigo me recupera do choque e volto a caminhar na direção indicada. Ao chegar à beira da porta, bato palmas. Imediatamente sou atendido por um homem magro, aparentando cerca de sessenta anos, com pele bronzeada, corpo bem definido, vestido com trajes típicos de seu país de origem. Ele inicia o diálogo.
– Quem é você? O que quer aqui? Olha, eu estava num sono reparador.
– Desculpe-me por incomodá-lo, mas vim aqui por extrema necessidade. Sou o enviado do espírito da montanha e meu objetivo é entender melhor sobre a noite escura da alma e com isso obter o conhecimento necessário a fim de prosseguir em minha iniciante carreira de escritor.
– Então você é o famoso sonhador que enfrentou a gruta e seu fogo. A guardiã já tinha me falado sobre seu caso. Venha, entre na minha humilde morada para nos conhecermos melhor.
Aceito prontamente o pedido e o acompanho. Ao entrar em sua residência, sinto os bons fluidos que emanam do local e isto me deixa mais tranquilo. Aproveito a entrada para observar os detalhes e vejo uma cama, um baú, uma mesa com cadeiras e quadros estranhos. Ele toma a palavra mais uma vez.
– Sente-se aqui (arrastando uma cadeira) e me conte sobre suas aspirações e buscas.
– Eu me chamo Aldivan, vidente, ou filho de Deus. Tudo começou há aproximadamente um ano atrás, quando cansado da rotina e da mesmice, resolvi fazer uma tentativa desesperada para realizar os meus sonhos quase impossíveis. A tentativa foi escalar uma montanha que prometia ser sagrada num fim de mundo. Ao chegar no local, a escalei passando por muitas dificuldades e obstáculos, mas finalmente cheguei no seu topo. Lá conheci uma estranha senhora que se denominou a guardiã da montanha e que me prometeu ajudar em minha busca. Neste caminho, realizei desafios, e ao ser aprovado, obtive o direito de entrar num local ultra sagrado, uma gruta capaz de realizar os desejos mais profundos do ser humano. Sem pensar nas consequências, entrei na mesma, enfrentei armadilhas e cheguei finalmente á Câmara secreta, local onde me transformei no vidente, um ser evoluído e capaz de realizar milagres no tempo e no espaço. Depois disso, pude então fazer uma verdadeira viagem no tempo, que foi um sucesso. Pude então controlar e reunir as forças opostas. Isto tudo representou apenas a primeira etapa no meu caminho de evolução contínua. Agora quero cumprir a segunda etapa, que é entender os mistérios dum complexo tema, a noite escura da alma. Por isto estou de volta e eu tenho a certeza que podes me ajudar de alguma forma neste caminho.
– Sua história é mesmo interessante. No entanto, devo alertá-lo que a noite escura é imprevisível e cheia de perigos. Saiba que muitos mortais já quiseram entender com profundidade a noite escura. Porém, todos fracassaram em algum momento e acabaram pagando um preço alto. Tem certeza que quer continuar?
– Eu estou ciente dos riscos, mas se eu não conseguir me libertar dos demônios da noite escura, não terei paz e nem poderei analisar imparcialmente as diversas noites escuras que porventura sejam reveladas. É absolutamente necessário continuar. O que devo fazer para conseguir superar os próximos obstáculos?
– Primeiramente, deves mudar-se para essa casinha, pois quero ficar ciente de todas as suas fraquezas e medos. Caso não os controle, eles poderão destruí-lo. Para as próximas três etapas vamos aperfeiçoar sua meditação e viagem astral. Com esse conhecimento aliado ao autocontrole, poderás sair vencedor das emboscadas da vida.
– Então devo voltar à cabana para trazer meus objetos pessoais.
– Vá logo, pois o tempo é curto. Você tem que passar por mais três etapas aqui na montanha.
Eu me despeço do hindu e começo a fazer o caminho de volta.

Aperfeiçoamento
O começo da caminhada me faz refletir e analisar o primeiro encontro com o hindu. Observei que ele é uma figura marcante, apesar de misteriosa. Além disso, ele se mostrou disposto a me ajudar e isso era o mais importante. Para percorrer o caminho das trevas eu precisaria realmente de auxílio de alguém mais experiente. Quais seriam os seus verdadeiros objetivos? Eu desconhecia, mas eles poderiam ser parecidos com os meus. E se tudo desse certo, nossos caminhos poderiam ser fortalecidos em busca da evolução. Evolução esta estritamente necessária na minha iniciante carreira. Só depois disso é que eu estaria apto a analisar imparcialmente os fatos da revelação final que eu estava buscando
Na aventura anterior, eu já tinha conseguido controlar e reunir as forças opostas. Com relação a aventura atual, o objetivo básico era ter o completo entendimento sobre a noite escura, fase a qual obrigatoriamente passamos. Neste caminho tinha cumprido três etapas, auxiliado pela guardiã e me sentia pronto para enfrentar as etapas com um novo mestre, o hindu. Com ele eu esperava superar todos os perigos, mesmo que eu tivesse que pagar um preço bastante alto pelo tão ardoroso conhecimento.
Por um momento esqueço um pouco as inquietações, medos e dúvidas, concentro-me mais na caminhada e no comportamento frente ao hindu. Depois de pensar um pouco, acho que deveria demonstrar segurança e tranquilidade, mesmo que não estivesse sentindo isso. Afinal, ele parecia ser um mestre rígido e autoritário com seus discípulos. Bem, o que realmente importava é que seus métodos eram eficazes, pois ele era o único a controlar os quatro últimos pecados capitais. Só me restava descobrir como ele conseguira tal façanha.
Sem pensar em mais nada, continuo caminhando. Alguns passos mais e já ultrapasso metade do percurso e isto me fazia mais feliz, pois logo chegaria à cabana que construí e me despediria do local em que tinha passado os primeiros dias sobre a montanha. A minha nova residência seria uma casinha de sapê ao lado dum desconhecido, um hindu que prometeu me ajudar no meu caminho. Esta tinha sido uma decisão exclusivamente dele, que eu ainda não sabia se fora a mais acertada.
Algum tempo e já me aproximo da cabana. Neste momento, uma leve angústia percorre o meu coração e sentidos, mas ainda não sei qual o motivo. Seria um pressentimento? Bem, era difícil definir. Naquele momento eu ainda me sentia perdido e confuso com os últimos acontecimentos. A única certeza que eu tinha era do meu objetivo principal: Continuar evoluindo em busca de entender o sentido e a profundidade da minha noite escura, da dos outros para só então ter a mente aberta para a revelação final. A fim de obter sucesso, eu estava disposto a fazer todos os sacrifícios necessários e o primeiro deles era morar na casa dum estranho, mesmo que fosse por pouco tempo. Bem, o hindu devia ter suas razões para essa atitude e minha missão, como discípulo, era ouvi-lo atentamente e tentar fazer o melhor possível para vencer as adversidades. Continuo avançando e finalmente chego à cabana. A primeira providência é arrumar minha mala. Depois de organizá-la, decido contemplar o local em que passei as primeiras noites sobre a montanha. Depois duma breve análise, concluo que ela é muito especial para mim desde a primeira vez que estive aqui. Neste intervalo de tempo, relembro as dúvidas, as incertezas e o medo que acabei superando ao entrar na gruta. Atualmente eu era um vidente rumo à evolução e ao sucesso. Mais algum tempo, despeço-me finalmente, seguro a mala e parto em direção a minha nova morada.
Faço o caminho de volta com tranquilidade e convicção. Eu estava totalmente disposto a enfrentar novos desafios e rapidamente chego à casinha de sapê. Sem cerimônia, entro nela e me deparo com o hindu, sentado em posição de meditação. Imediatamente, ele acorda do transe e me convida a sentar também. Eu prontamente obedeço e ele inicia o diálogo:
– Estava meditando com o objetivo de encontrar respostas sobre como você consegue encontrar coragem para enfrentar o desconhecido. Após analisar bem o seu caso, cheguei a conclusão de que não há resposta. Isto faz parte de seu próprio ser e é importante para o começo duma boa evolução.
– Eu também medito quando tenho tempo. Mas ultimamente não tenho feito porque as preocupações não me deixam com a mente limpa e tranquila.
– Pois saiba que a meditação é essencial para que você vença novos desafios. Além disso, ao observá-lo cuidadosamente, percebi que ainda não domina todas as técnicas da mesma. Como consequência não tira o proveito suficiente dos benefícios dela.
– Estou disposto a aprender. Mostre-me a maneira certa.
– Gosto de aprendizes dispostos. Siga-me, então!
Tratei de obedecê-lo prontamente, pois estava curioso para conhecer suas técnicas. Será que isso me ajudaria a trilhar um caminho seguro em relação a minha busca? Eu não estava certo disso, mas estava disposto a arriscar a fim de colher os resultados depois. Um pouco mais adiante, adentramos numa trilha estreita rumo ao norte do topo da montanha. Neste momento, vêm a memória o primeiro desafio e o aprendizado que tive ao realizá-lo. Descobri a origem da noite escura e o exemplo mais famoso de orgulho. Além disso, aprendi que a humildade é o oposto do orgulho e é o meio mais adequado para evoluir. Entre os exemplos de humildade que a história nos deu está Jesus, que nos ensinou que para sermos grandes precisamos servir aos outros. É isto exatamente o que pretendo ao trilhar o caminho da noite escura da alma. No decorrer do livro, como consequência dos meus atos, quero encantar corações e fazer muitos sonharem, fazendo-os esquecer, nem que seja por alguns instantes, as preocupações, as desilusões e as injustiças da vida. Com este objetivo em mente, continuo a seguir o homem que prometera abrir os meus sentidos e percepções, enfim, descobrir os segredos da meditação. Os nossos passos rápidos nos fazem avançar rapidamente e em pouco tempo chegamos diante da lagoa em que eu já tivera uma experiência. O mestre retoma o diálogo:
– Chegamos ao ponto que eu queria. Quem consegue meditar corretamente sobre a lagoa, torna-se capaz de transpor passado, presente e futuro. Este fenômeno ocorre porque a montanha é sagrada. Está preparado? Eu lhe direi como agir. Antes de entrar na água, concentre-se mentalmente com o objetivo de eliminar todo resquício de ódio, desespero ou desconfiança. Depois de obter êxito nesta fase, entregue-se completamente ao poder do desconhecido. Quando estiver pronto, serás capaz de caminhar sobre as águas e ao meditar terá as respectivas revelações. Venha, eu lhe mostrarei como fazer.
– Espere. Acho que não entendi direito. Devo me entregar ao poder do desconhecido? O que isto significa?
Sem dar qualquer resposta, o hindu entra na lagoa e imediatamente caminha sobre ela como se fosse um Deus. Quando ele chega exatamente no centro, acena para mim, chamando. Mesmo sem saber como agir, encho-me de coragem e resolvo arriscar, entrando na lagoa. Dou os primeiros passos e me decepciono comigo mesmo porque não consigo atingir o feito do mestre.
Recebo palavras de incentivo e continuo caminhando. Quando chego exatamente no ponto em que o mestre está, ele agarra a minha mão, e como se fosse um milagre, consigo ficar sobre as águas. Depois, coloco-me em posição de meditação e sigo as instruções do hindu. Ao fechar os olhos, sofro um impacto brutal das visões que se sucede. Vejo o início, meio e fim em poucos segundos. O início representa a concepção, o milagre que é a vida. Vejo o sopro do Criador vir de lugares longínquos e inacessíveis ao ser humano. Um pouco antes disso, vejo uma assembleia de anjos definindo a missão dos espíritos que hão de vir à Terra. Nesta respectiva reunião vejo fogo, luz e trevas em concílio. Já o meio representa a passagem do ser humano no plano terrestre. Estão incluídos nesta fase a infância, a juventude, a idade adulta. Na minha visão vejo a doçura dum menino que cresceu tendo experiências sobrenaturais que causam bastante medo e sofrendo injustiças na família e na sociedade. Apesar dos obstáculos e contrariedades, ele criou e manteve sonhos nobres e justos. Um deles é mostrar para o mundo o melhor caminho para se evoluir e atingir os tão sonhados sucesso e felicidades. Em busca desse sonho, O agora jovem arriscou diversas vezes, foi vencedor e no final se converteu no vidente dos livros, disposto a transformar vidas e encantar corações. Neste caminho, segue-se uma série de aventuras que acabam o consagrando. No final, completa sua missão com êxito e entrega sua alma às forças benignas do universo. Neste exato momento, as visões cessam e volto ao meu estado normal. Ao abrir os olhos, vejo-me ainda sobre as águas, sozinho, com o meu mestre às margens da lagoa. Com o susto, começo a afundar e então nado até a beira. Ao sair, sinto que já não sou mais o mesmo.
– Como consegui? Eu não entendo mestre.
– Eu explico. Você só precisava de um empurrão para andar sobre as águas, pois a descrença ainda estava viva em ti. Ao se sentir seguro, você relaxou e com isso teve sucesso. E aí? Viu o seu futuro?
– Eu o vi, mas não claramente. Deu para perceber que ele será belo e cheio de realizações. Acho que meu sonho é possível.
– Todos os sonhos são possíveis e o universo está disposto a ajudar. Infelizmente, poucas pessoas persistem em seus ideais. É nesse momento que acontece o fracasso e a decepção. Não se preocupe, o seu caso é diferente. Percebo que você tem tudo para estar entre os vencedores.
– Que bom ouvir isso. A minha vida inteira corri atrás do meu destino e saber que serei recompensado me deixa muito feliz e disposto a enfrentar novos desafios. Qual será a próxima etapa?
– Agora você tem que aprender a usar a viagem astral corretamente e isto será possível num local sagrado já conhecido. Trata-se da gruta do desespero, onde você iniciou o seu sonho da última vez.
– Tudo bem. Estou pronto. Podemos ir?
O hindu disse sim gestualmente e imediatamente partimos rumo ao lado oeste do topo da montanha. No início da caminhada, um silêncio inquietador pairou no ambiente, talvez antevendo os perigos que nós dois corríamos, pois, a gruta, velha conhecida minha, era realmente capaz de despedaçar sonhos e vidas. Eu pensava isso pela experiência da última aventura, onde ultrapassei armadilhas dificílimas. Penso um pouco sobre o caso e acabo concluindo que se não fosse meu espírito de aventureiro, eu não aceitaria uma proposta tão maluca.
O que será que me esperava? Um novo encontro com a gruta poderia mesmo me reafirmar como vidente e me transformar outra vez, no aspecto da viagem astral. Por outro lado, se fracassasse eu poderia me perder completamente e não realizar meus sonhos e projetos. Tento não pensar nessa possibilidade e continuo a caminhar, junto ao hindu, mas mais decidido e veloz. Com isso, percorremos rapidamente o trecho. E logo em seguida estou em frente de onde tudo começou. Controlo minhas emoções; avançamos ainda mais e paramos na entrada dela. Neste momento, o hindu repassa as últimas recomendações, se despede e diz que é melhor eu prosseguir sozinho a partir de agora. Entendo o seu lado e estou prestes a encarar um novo desafio. Agora era eu e a gruta, mais uma vez. Espero um pouco e caminho com convicção, adentrando na gruta. Inicialmente a caminhada é rápida, mas com precaução. Como era esperado, aparecem no caminho várias armadilhas, mas desta feita, diferentemente da última vez, consigo superá-las com facilidade, usando minhas artimanhas de vidente. Depois de certo tempo de caminhada, sinto-me cansado e aproveito para refletir sobre meus passos. Será que a gruta amoleceu ou até mesmo sentiu pena de mim? Ou eu estava mais preparado do que a última vez? Uma das opções era verdadeira, mas naquele momento eu não sabia qual. Depois de descansar, continuo a caminhada nas galerias da gruta, buscando um sinal ou pista do que eu estava procurando. Apesar de cada vez mais me aprofundar nela, nada aparece. Continuo a caminhar esperançoso e depois dum intervalo que não sei mensurar, pois o ambiente da gruta é diferente de tudo que eu vi, aparecem finalmente duas portas. Paro em frente a elas e me pergunto o que será exatamente que elas significam? Fico com dúvidas, pois o meu atual mestre não tinha me orientado nesse sentido. Sem saída, resolvo apelar para os meus poderes de vidente e depois de algum esforço consigo visualizar a aura delas, o que foi um grande feito. Com essa informação, soluciono meus problemas e descubro que uma representa a pura luz e a outra representa a noite escura da alma. Analisando as duas opções, verifico que o caminho da pura luz é o meu caminho, que representa renúncias e escolhas difíceis na vida de qualquer ser humano. Apesar disso, acredito que este não é o momento de escolhê-la. Já o caminho da noite escura da alma representa o puro conhecimento e o momento em que nos desligamos de Deus para só pensarmos em nós mesmos, em nossos egoísmos e vaidades. Excluindo o primeiro, acredito que este caminho vai me ajudar a entender o que se passou comigo um pouco antes de eu me tornar o vidente. Certo da minha escolha, abro a porta da esquerda (noite escura da alma). Ao abri-la, uma força sufocante me puxa para dentro e imediatamente tenho acesso a um amplo salão, pouco iluminado e triste, repleto de imagens de santos. Avanço em direção ao centro e consigo ler no piso uma frase. Ela diz: Escolha seu santo e boa sorte. Tenho várias opções: O santo dos desesperados, o santo das causas impossíveis, o santo dos oprimidos, o santo das viagens, entre outros. Analiso calmamente a situação e minhas necessidades. Não estou desesperado como da última vez que entrei na gruta, nem estou injustiçado. Estes santos não me servem. Estava exatamente ali em busca duma viagem além dos sentidos e tentar descobrir meus reais poderes. Eliminando as opções desnecessárias, resolvo ficar com o santo das viagens. Feita a escolha, toco no santo respectivo e ao fazer isso várias portas são abertas à minha frente e numa delas estava escrito: viagem astral ou espiritual. Sem mais nenhuma dúvida, caminho em direção da mesma e ao abri-la o inusitado acontece.
Rapidamente, os meus sentidos são despertados e num impulso meu espírito vagueia em tempos e espaços distantes. Nesta viagem, nada parece muito claro, mas posso vislumbrar trevas, sofrimento, confusão e muita dor. Vejo a bravura dum homem que luta consigo mesmo numa guerra infindável contra sua noite escura da alma. Nesta luta, vejo batalhas perdidas e ganhas ao mesmo tempo. Vejo também a noite escura se reforçando a cada deslize seu, e o desespero caindo sobre o miserável. Já no plano espiritual, vejo mundos em batalha pela alma desse homem. Há uma pequena passagem de tempo e vejo no final uma pequenina luz que pode ser a salvação dele. Essa luz é intensa e a noite escura se dissipa com sua presença, mas falta atitude por parte do homem. Será que seu arrependimento é mesmo sincero? A sua noite escura ainda se achava presente em seu coração? Antes de obter as respostas, a experiência termina e volto ao meu estado natural. A porta se fecha e me vejo de volta ao mesmo salão. Sem mais nada a descobrir, resolvo fazer o caminho de volta. Depois de alguns instantes, retorno às galerias e avançando rapidamente percorro em duas horas todo o percurso da gruta. Ao sair, reencontro o hindu e me aproximo para as primeiras considerações.
– E aí? Como é que foi? Encontrou aquilo que procurava? – Pergunta ele.
– A gruta me ajudou em certo sentido, mas ainda não respondeu às questões cruciais. Acho que tenho que continuar arriscando, seguindo este perigoso e tortuoso caminho de trevas a fim de conseguir chegar a tão desejada revelação final. Você continua me ajudando?
– Claro que sim. Com a meditação e a viagem astral que aperfeiçoamos, acredito que já é capaz de passar à próxima etapa, realizando mais um desafio amanhã. Por hora, é melhor voltarmos para casa para descansar.
Concordo com o meu atual mestre e começamos a caminhada imediatamente. Os passos iniciais são regulares, refletindo o estado de espírito de nós dois, de quem acaba de superar mais uma etapa. O que nos esperava a partir de agora? Eu nem imaginava, e era isso que fazia a nossa atual aventura tão especial quanto à primeira. Apesar de todas as dúvidas que ainda tinha, eu estava convicto do que queria e aonde queria chegar. Com essa convicção, apresso mais os passos e o meu mestre me acompanha na trilha. Desbravamos a distância que nos separava da nossa humilde casa em pouco tempo e ao chegarmos preparamos um lanche e depois descansamos nas nossas camas desconfortáveis. Neste momento, meus pensamentos eram preenchidos com as expectativas do próximo dia, que seria decisivo e definitivo na minha carreira iniciante de escritor.

Ira
Os primeiros raios de sol surgem, anunciando a chegada de um novo dia. Com a iluminação, os meus sentidos acabam despertando pouco a pouco. Tento levantar imediatamente, mas o peso das experiências do dia anterior acaba por evitar essa atitude de minha parte. Mesmo assim, não me conformo, reúno as minhas forças restantes e num impulso consigo finalmente levantar. Ao ficar em pé, espreguiço-me e me dirijo ao improvisado banheiro com o intuito de fazer meu asseio matinal. Ao chegar, entro, fecho a porta, dispo-me e começo a jogar água fria no corpo, reservada numa tina que eu mesmo enchera. O primeiro contato com a água fria me renova os ânimos e a disposição de continuar lutando por meus sonhos e objetivos. Tento simplificar as coisas da melhor maneira possível, fazendo um asseio corporal bem feito e rápido. Numa sequência de água e ensaboadas, termino de ficar completamente limpo, visto uma roupa limpa, saio do banheiro e vou tomar meu café da manhã. Chegando no que corresponde á cozinha, reencontro o hindu, que preparara tudo para o nosso desjejum, começo a me servir e a conversar com ele.
– Você se recuperou totalmente das façanhas de ontem? – Pergunta o mestre. – Olha, o desafio de hoje não é nada fácil, alerta.
– Para ser sincero, não muito. Porém, encontro-me muito disposto. Diga-me, resumidamente, como devo agir para angariar mais uma vitória neste próximo desafio?
– Primeiramente, você deve manter o seu espírito de luta e coragem. Segundo, use sua sabedoria e o aperfeiçoamento de ontem como armas para superar todas as adversidades. Seja firme e não perca a fé em nenhum momento. Só assim poderás sair novamente vencedor e como prêmio receberás o conhecimento completo sobre o quarto pecado capital.
– Entendi. Obrigado. Poderia dar também dicas sobre o local e horários exatos da realização desse novo desafio?
– Quanto ao local, não posso ajudá-lo. Siga sua intuição. Em relação ao horário, será as 08h00min da manhã.
Com esta resposta do hindu, observo o meu relógio de bolso e verifico que está quase no horário. Um leve estremecimento no corpo acontece, mas eu prefiro acreditar que vai ficar tudo bem. Apresso-me e termino o meu desjejum, despeço-me do hindu e saio imediatamente para cumprir mais uma etapa na minha carreira. Ao sair, começo a traçar meus planos e matutar sobre qual direção seguir. Instintivamente, decido pelo Nordeste devido ao fato de eu nunca ter percorrido aquelas bandas. Definida a direção, agora só me restava a postura. Com o intuito de ajudar minha mente, relembro os conhecimentos de outrora (os que eu tinha absorvido desde a aventura anterior até aquele momento) e o aperfeiçoamento que tive com a supervisão do hindu. Analisando com cuidado e imparcialmente, termino por concluir que eles tinham sido e eram muito importantes para eu me tornar o homem que eu era naquele momento. Por isto, eu deveria usá-los (sempre que fosse necessário) ao meu favor no decorrer desta trajetória (a noite escura da alma) e das próximas que porventura eu empreendesse. O leitor, neste momento, deve se perguntar: E isto seria o bastante para alcançar o pleno sucesso? Essa pergunta é demasiadamente difícil e seria um absurdo tentar respondê-la, no meu atual estágio de evolução como homem e como vidente. A única e absoluta certeza que eu tinha é que eu iria arriscar, por mais que fossem difíceis os obstáculos e o caminho que eu propunha percorrer.
Com essa certeza, avanço velozmente sobre a trilha que escolhi; um tempo depois, finalmente chego ao lado nordeste do topo da montanha. Continuo caminhando e logo à frente se abre uma clareira misteriosa e sem pensar me aproximo mais dela. Ao adentrar e chegar exatamente no centro encontro uma sepultura. Numa cruz ao lado leio a seguinte mensagem: Aqui jaz um oprimido. Impulsionado por uma força estranha que não sei explicar, toco na cruz. Ao tomar esta atitude, o céu escurece, as forças são abaladas, o topo da montanha treme e a noite escura da alma se concentra rapidamente ao meu redor. Depois de alguns instantes, surge um túnel acima de mim e imediatamente uma força suga o meu frágil espírito. Depois disso, uma espécie de viagem astral começa e, através de sua força e poder, viajo por tempos e espaços distantes por um tempo até chegar num local mais visível. Neste momento, o meu espírito se tranquiliza e como se fosse num filme tenho a visão correspondente ao quarto pecado capital:
“Jefferson e Wesley eram dois irmãos muito unidos, agricultores do sertão de Pernambuco. Algumas das características principais deles é que eram dois rapazes sérios e honestos. Porém, um belo dia, numa festa da cidade, conheceram a delicada moça chamada Andréia. No primeiro momento, por coincidência, os dois ficaram encantados por ela, aproximaram-se, conversaram com a mesma e ambos tiveram a oportunidade de dançar com ela e curtir a festa juntos. Quando terminou a festa, despediram-se da moça e prometeram se encontrar e manter contato. Depois desse momento, um amor muito forte bateu nos corações dos dois e cada um já planejava um futuro feliz e próspero. No entanto, Jefferson (o mais esperto) se antecipou e logo no outro dia conseguiu manter contato com Andréia. No encontro, Jefferson cortejou e acabou se declarando para a moça. A mesma correspondeu e assim se iniciou o namoro dos dois. Algum tempo depois, foi a vez de Wesley procurar Andréia. Mas quando a encontrou soube do que mais temia: O seu irmão, Jefferson, a tinha roubado dele. Esta foi uma ótima oportunidade para a noite escura agir e transformou os sentimentos de Wesley em relação ao seu irmão querido: O que era ternura e amor se tornou em puro ódio. Animado por este sentimento, o mesmo planejou um crime horrendo contra o irmão e no tempo certo o executou, alimentando esperanças de que com o fim do irmão Andréia o aceitasse. O que não aconteceu. Quando soube da tragédia, Andréia ficou consternada e decidiu mudar para a capital, renegando o algoz. Quanto à Wesley, foi preso, mas mesmo assim não conseguiu pagar o suficiente pela morte dum indivíduo. Após sua morte, foi condenado pela noite escura da alma, servindo de testemunha seu irmão oprimido. Neste caso, a ira foi plenamente capaz de perverter os sentidos dum individuo.
A visão termina e volto ao túnel na viagem de volta. Poucos segundos depois, estou de volta ao meu corpo e ao topo da montanha. Aproveito para me concentrar e tentar assimilar completamente os detalhes desse pecado capital tão perigoso. Depois disso, já me sinto mais preparado para enfrentar os próximos obstáculos.

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