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Forças Opostas
Aldivan Teixeira Torres
Forças Opostas é o início duma saga simplesmente fantástica.Neste primeiro capítulo,um jovem sonhador busca ao subir A Serra do Ororubá encontrar-se com seu destino na gruta do desespero,a gruta mais perigosa do mundo do qual ninguém escapou.Em uma linha de acontecimentos envolvendo suspense,drama ,romance e ação vemos o surgimento do vidente e de seu trabalho maravilhoso em prol do próximo objetivando a evolução do ser humano.Que tal embarcar nesta aventura?Leia “Forças opostas “ e não perca nenhuma cena.


“Forças Opostas”

Aldivan Teixeira Torres

Forças Opostas________________________
Por: Aldivan Teixeira Torres
©2018-Aldivan Teixeira Torres
Todos os direitos reservados
E-mail:aldivanvid@hotmail.com


Este e-book, incluindo todas as suas partes, é protegido por Copyright e não pode ser reproduzido sem a permissão do autor, revendido ou transferido.
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Aldivan Teixeira Torres, natural de Arcoverde-PE, é um escritor consolidado em vários gêneros. Até o momento tem títulos publicados em nove línguas. Desde cedo, sempre foi um amante da arte da escrita tendo consolidado uma carreira profissional a partir do segundo semestre de 2013. Espera com seus escritos contribuir para a cultura Pernambucana e Brasileira, despertando o prazer de ler naqueles que ainda não tenham o hábito. Sua missão é conquistar o coração de cada um dos seus leitores. Além da literatura, seus gostos principais são a música, as viagens, os amigos, a família e o próprio prazer de viver. “Pela literatura, igualdade, fraternidade, justiça, dignidade e honra do ser humano sempre" é o seu lema.

Dedicatória
Em primeiro lugar, ao Deus criador para o qual tudo vive; A meus mestres da vida que sempre me orientaram; A meus familiares, apesar de que eles não me incentivaram; A todos aqueles que ainda não conseguiram reunir as “forças opostas “de sua vida.

“O Reino dos céus é como um homem que semeou boa semente no campo. Uma noite quando todos dormiam, veio o inimigo dele, semeou joio no meio do trigo, e foi embora. Quando o trigo cresceu, e as espigas começaram a se formar, apareceu também o joio. Os empregados foram procurar o dono, e lhe disseram: Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde veio então o joio? O dono respondeu: Foi algum inimigo que fez isso. Os empregados lhe perguntaram: Queres que arranquemos o joio? O dono respondeu: Foi algum inimigo que fez isso. Os empregados lhe perguntaram: Queres que arranquemos o joio? O dono respondeu: Não. Pode acontecer que, arrancando o joio, vocês arranquem também o trigo. Deixem crescer um e outro até a colheita. E no tempo da colheita direi aos ceifadores: Arranquem primeiro o joio, e o amarrem em feixes para ser queimado. Depois recolham o trigo no meu celeiro” (Mateus 13,24-30).

Introdução
“Forças opostas” se apresenta como uma das alternativas para superarmos a grande dualidade existente em cada um de nós. Quantas vezes, na vida, não nos deparamos com situações em que ambas as alternativas apresentam pontos favoráveis e desfavoráveis, e escolher uma torna-se um verdadeiro martírio. Devemos aprender a refletir e nos questionarmos sobre qual o verdadeiro caminho a seguir e as consequências advindas dessa escolha. Enfim, precisamos reunir as “forças opostas“ de nossas vidas e fazê-las produzir frutos. Assim, poderemos alcançar a tão almejada felicidade.
Quanto ao aspecto do livro, podemos dizer que ele surgiu a partir dum grito que escutei na gruta do desespero. Esse grito foi a causa de todas as aventuras narradas no livro.
Com a missão cumprida, espero ter alcançado o meu maior objetivo, que é fazer sonhar nem que seja uma só pessoa. É isso o que se propõe ainda mais que vivemos num mundo cheio de violência, crueldade e injustiça. As “forças opostas” nunca mais serão as mesmas depois da sua publicação e não vejo a hora de iniciar uma nova aventura juntamente com os leitores que se propuserem a tal.
O autor

Sumário
Dedicatória (#)
Introdução (#)
Uma nova era (#)
Preparativos (#)
A montanha sagrada (#)
A Cabana (#)
O primeiro desafio (#)
O segundo desafio (#)
O fantasma da montanha (#)
O dia D (#)
A Jovem (#)
O tremor (#)
Um dia antes do último desafio (#)
O terceiro desafio (#)
A gruta do desespero (#)
O milagre (#)
A saída da gruta (#)
O reencontro com a guardiã (#)
A despedida da montanha (#)
A viagem no tempo (#)
Onde estou? (#)
Primeiras impressões (#)
O hotel (#)
O jantar (#)
Um passeio pela vila (#)
O castelo negro (#)
As ruínas da capela (#)
A ordem (#)
Reunião de moradores (#)
Conversa decisiva (#)
Visão (#)
O início (#)
A Ferrovia (#)
Mudança (#)
A chegada ao bangalô (#)
Audiência com o prefeito (#)
Reunião de fazendeiros (#)
Volta para casa (#)
O anúncio (#)
O primeiro dia de trabalho (#)
O piquenique (#)
A descida da montanha (#)
Os desmandos do major (#)
Missa (#)
Reflexões (#)
O sucavão (#)
A feira (#)
O caso da vaca (#)
A prensa (#)
Recado (#)
Encontro (#)
Confissão (#)
Fofoca (#)
Viagem a Recife (#)
Volta ao interior (#)
Casamento arranjado (#)
Visita (#)
Surra (#)
A prima de Gerusa (#)
A “bênção” (#)
Fenômenos (#)
Uma nova amiga (#)
Um dia antes do casamento (#)
Tragédia (#)
A nuvem negra (#)
Os mártires (#)
Fim da visão (#)
Depoimento (#)
Volta ao hotel (#)
A ideia (#)
A figura do major (#)
O trabalho (#)
O primeiro encontro com Christine (#)
Retorno ao castelo (#)
O recado II (#)
Ida ao Climério (#)
Decisão (#)
A experiência no deserto (#)
Os adoradores das trevas (#)
A experiência da possessão (#)
A prisão (#)
Diálogo (#)
A visita de Renato (#)
O terceiro encontro com Christine (#)
A invocação do anjo (#)
A batalha final (#)
O desmoronamento das estruturas vigentes (#)
Conversa com o major (#)
Despedida (#)
A volta (#)
Em casa (#)
Pós-livro (#)

Uma nova era
Após uma tentativa malsucedida de publicar um livro, sinto minhas forças restaurando-se e revigorando-se. Afinal, acredito no meu talento e tenho fé de que vou realizar meus sonhos. Aprendi que tudo tem o tempo certo e acredito estar suficientemente maduro para realizar meus objetivos. Lembrar sempre: quando a gente quer muito um objetivo o mundo conspira para que ele aconteça. É assim que me sinto: com forças renovadas. De relance, olho para as obras que há tanto tempo tenho lido e com certeza enriqueceram a minha cultura e o meu saber. O livro traduz atmosferas e universos desconhecidos para nós. Sinto que devo fazer parte dessa história, a grande estória que é a literatura. Não importa que eu seja um anônimo ou um grande literato, reconhecido mundialmente. O que importa é a contribuição que cada um dá a esse grande universo.
Sinto-me feliz por essa nova atitude e preparo-me para realizar uma grande viagem. Uma viagem que mudará a minha história e a de todos que, pacientemente, puderem ler este livro. Vamos juntos nessa aventura.

Preparativos
Arrumo a minha mala com os meus objetos pessoais de primeira necessidade: algumas mudas de roupa, alguns bons livros, o meu crucifixo e minha Bíblia, inseparáveis, e alguns papéis para escrever. Sinto que terei muita inspiração nessa viagem. Quem sabe não serei autor de uma história inesquecível para muitos corações. Antes de ir, porém, terei que me despedir de todos (principalmente da minha mãe). Ela é superprotetora e não me deixará ir sem um bom motivo ou com promessas de que voltarei logo. Sinto que terei, um dia, que dar meu grito de liberdade e voar como um pássaro que criou asas, e ela terá que entender isso, pois eu não pertenço a ela, e sim ao universo que me acolheu sem exigir de mim nada em contrapartida. É por ele que decidi ser escritor e cumprir o meu papel e desenvolver o meu talento. Quando eu chegar ao fim do caminho e tiver me realizado, estarei pronto para entrar em comunhão com o criador e conhecer um novo plano. Eu tenho certeza de que também terei um papel especial nele.
Agarro a minha mala e sinto uma angústia dentro de mim. Indagações me vêm à mente e perturbam meu coração. Como será esta viagem? O desconhecido será perigoso? Que precauções devo tomar? O que sei é que será instigante para minha carreira e estou disposto a realizá-la. Agarro a minha mala (reitero) e, antes de partir, procuro meus familiares para despedir-me. Minha mãe está na sala preparando o almoço juntamente com a minha irmã. Aproximo-me e abordo a questão crucial.
– Veem esta mala? Ela será a única companheira (além dos leitores) da minha viagem que estou disposto a realizar. Busco a sabedoria, o conhecimento e o prazer da minha profissão. Espero que entendam e aprovem a decisão que tomei. Venham, deem-me um abraço fraternal e seus bons votos.
– Meu filho, esqueça os seus objetivos, pois eles são impossíveis para pobres como nós. Eu já lhe disse mil vezes: você não será um ídolo ou coisa semelhante. Entenda: Você não nasceu para ser um grande homem – disse minha mãe.
– Escute a nossa mãe. Ela é bastante experiente e tem toda razão. O seu sonho é impossível, pois você não tem talento. Aceite sua missão, que é ser um simples professor de exatas. Você não passará disso – completou minha irmã.
– Então, não me abraçam? Por que vocês não acreditam no meu sucesso? Eu garanto a vocês: mesmo que eu pague para realizar o meu sonho, eu terei sucesso, pois o grande homem é aquele que acredita em si mesmo. Eu farei esta viagem e descobrirei tudo o que ela me revelar. Eu serei feliz, pois a felicidade consiste em seguir o caminho que Deus ilumina ao nosso redor para que sejamos vencedores.
Dito isso, encaminho meus passos na direção da porta com a certeza de que serei vencedor nesta viagem. Viagem que me levará ao destino desconhecido.

A montanha sagrada
Um tempo atrás, ouvi falar de uma montanha extremamente inóspita na região de Pesqueira. Ela faz parte da Serra do Ororubá (nome indígena) onde habita o povo indígena Xukuru. Dizem que ela se tornou sagrada após a morte de um pajé misterioso de uma das tribos Xukuru. Ela é capaz de tornar qualquer desejo realidade, desde que a intenção seja pura e sincera. Este é o ponto de partida da minha viagem, cujo objetivo é tornar possível o impossível. Acreditam, leitores? Então permaneçam comigo prestando atenção na narrativa.
Seguindo a Rodovia BR-232, chegando ao município de Pesqueira e aproximadamente 24 km da sede desse município, localiza-se Mimoso, um dos seus distritos. Uma ponte moderna, recentemente edificada, dá acesso ao lugar que fica entre as serras do Mimoso e do Ororubá, banhado pelo rio Mimoso, que corre ao fundo de um vale. A montanha sagrada fica exatamente nesse ponto, e é para lá que vou me dirigir.
A montanha sagrada fica próxima ao distrito e em pouco tempo estarei no sopé dela. A minha mente vagueia por espaços e tempos distantes, imaginando situações e fenômenos desconhecidos. O que me espera ao galgar totalmente a montanha? Certamente serão experiências revigorantes e instigantes. A montanha é de baixa estatura (700 m) e, a cada passo que eu dou, sinto-me mais confiante e expectante também. Vêm à memória lembranças de experiências vividas intensamente nesses meus vinte e seis anos. Nesse breve período, ocorreram situações fantásticas que me fizeram crer que eu era especial. Gradativamente, poderei repartir essas reminiscências com vocês, leitores, sem culpa. Porém, este não é o momento. Continuarei subindo as veredas da montanha em busca de realizar todos os meus desejos. É o que eu espero e pela primeira vez sinto-me cansado. Devo ter percorrido a metade do percurso. Não sinto o cansaço físico, mas principalmente o mental por suportar estranhas vozes me pedindo para eu voltar atrás. Elas insistem muito. Porém, eu não me dou por vencido facilmente. Quero chegar ao topo da montanha por mais que isso me custe. A montanha respira, para mim, ares de transformação que emanam para aqueles que acreditam em seu aspecto sacramental. Quando chegar lá, acho que eu saberei exatamente o que fazer para chegar ao caminho que me conduzirá à viagem tão esperada. Eu permanecerei em minha fé e meus objetivos, pois tenho um Deus que é o Deus do impossível. Continuemos a caminhada.
Já percorri três quartos do percurso total e continuo sendo perseguido pelas vozes. Quem sou eu? Para onde eu irei? Por que sinto que minha vida mudará radicalmente depois da experiência na montanha? Afora as vozes, parece que eu estou sozinho nesse caminho. Será que outros escritores sentiram a mesma coisa ao percorrer caminhos sagrados? Acredito que meu misticismo será diferente de qualquer outro. Tenho que prosseguir, tenho que vencer e suportar todos os obstáculos. Os espinhos que ferem o meu corpo são extremamente perigosos ao ser humano. Se eu sobreviver a essa subida, já me considerarei um vencedor.
Passo a passo, vou me aproximando do topo. Já estou a poucos metros dele. O suor que escorre sob o meu corpo parece impregnado por sagrados aromas da montanha. Paro um pouco. Será que meus entes queridos estão preocupados? Bem, isso não importa agora. Tenho que pensar em mim mesmo, neste momento, para chegar ao topo máximo da montanha. Disso depende o meu futuro. Alguns passos a mais e chego ao topo. Um vento frio sopra, vozes atormentadas me confundem o raciocínio e não me sinto bem. As vozes gritam:
– Ele conseguiu, vai ser agraciado! Será que ele é mesmo digno? Como ele conseguiu escalar toda a montanha?
Sinto-me confuso e tonto, acho que não estou bem.
Os pássaros gritam e os raios de sol acariciam todo o meu rosto. Onde estou? Sinto-me como se tivesse tomado um porre um dia atrás. Tento levantar-me, mas um braço me impede. Vejo que está ao meu lado uma senhora de meia-idade, cabelos ruivos e pele bronzeada
– Quem é você? O que aconteceu comigo? Meu corpo inteiro dói. Sinto minha mente confusa e vaga. Este topo é a causa de tudo isso? Acho que eu deveria ter ficado em minha casa. Meus sonhos me impeliram até aqui. Escalei vagarosamente a montanha, cheio de esperanças num futuro melhor e apontando para um auto crescimento. No entanto, praticamente não posso mover-me. Explique-me tudo isso, eu lhe imploro.
– Sou a guardiã da montanha. Sou o espírito da Terra que sopra de lá para cá. Fui enviada aqui, pois você venceu o desafio. Quer realizar seus sonhos? Eu o ajudarei a conseguir, filho de Deus! Você ainda tem muitos desafios a enfrentar. Eu o prepararei para tal. Não temas. O seu Deus está contigo. Descanse um pouco. Eu voltarei com água e alimentos para suprir suas necessidades. Enquanto isso, descanse e medite como você sempre faz.
Dito isso, a senhora desapareceu da minha visão. Essa imagem perturbadora deixou-me mais aflito e cheio de dúvidas. Quais desafios eu teria de vencer? Em quais etapas esses desafios consistiam? O topo da montanha era realmente um lugar esplendoroso e tranquilo. Do alto, podia avistar-se toda a pequena aglomeração de casas do Mimoso. Ele representa um planalto cheio de íngremes caminhos e repletos de vegetação por todos os lados. Esse local sagrado, intocado da natureza, me ajudaria realmente a realizar meus planos? Tornar-me-ia escritor ao sair dele? Só o tempo poderia responder essas indagações.
Diante da demora da senhora, pus-me a meditar no topo da montanha. Utilizei-me da seguinte técnica: primeiramente, deixo a mente limpa (livre de quaisquer pensamentos). Começo a entrar em sintonia com a natureza ao redor, contemplando todo o local mentalmente. A partir daí começo a entender que faço parte da própria natureza e estamos totalmente interligados, num grande ritual de comunhão. O meu silêncio também é o silêncio da mãe natureza. O meu grito também é o grito dela. Gradativamente, começo a sentir seus desejos e aspirações, reciprocamente. Sinto seu pedido de socorro pela vida e suas menções à destruição humana: desmatamento, mineração, caça e pesca excessivas, emissão de gases poluentes na atmosfera e outras atrocidades humanas. Em contrapartida, ela me escuta e me apoia em todos os meus planos. Estamos completamente interligados durante a meditação. Toda essa harmonia e cumplicidade deixaram-me totalmente tranquilo e concentrado em meus desejos. Até que algo mudou: senti o mesmo toque que outrora me despertara. Abri os olhos, vagarosamente, e percebi que estava diante da mesma senhora que se denominou a guardiã da montanha sagrada.
– Vejo que entendeu o segredo da meditação. A montanha o ajudou a descobrir um pouco do seu potencial. Você crescerá muito em todos os sentidos. Eu o ajudarei nesse processo. Primeiramente, peço que vá retirar da natureza caibros, ripas, esteios e linhas, para erguer sua cabana, e lenha, para fazer uma fogueira. A noite já está chegando, e você precisa se proteger dos animais ferozes. A partir de amanhã, eu o ensinarei a sabedoria da mata para que você possa vencer o seu verdadeiro desafio: a gruta do desespero. Somente o coração puro sobrevive ao fogo de sua análise. Quer realizar seus sonhos? Então pague o preço por eles. O universo não dá nada de graça a ninguém. Somos nós que nos tornamos dignos de alcançar o sucesso. Esta é uma lição que você deve aprender, meu jovem.
– Entendo. Aprenderei tudo o que for necessário para vencer o desafio da gruta. Não tenho ideia do que seja, mas estou confiante. Se eu venci a montanha, também vencerei a gruta de seu topo. Quando eu sair de lá, penso que estarei preparado para vencer e ter sucesso.
– Espere, não tenha tanta confiança. Você não conhece a gruta da qual eu estou falando. Saiba que muitos guerreiros já foram provados por seu fogo e foram destruídos. A gruta não tem pena de ninguém, nem mesmo dos sonhadores. Tenha paciência e aprenda tudo o que vou ensinar. Assim você se tornará um verdadeiro vencedor. Lembre-se: a autoconfiança ajuda desde que na medida certa.
– Compreendo. Obrigado por todos os seus conselhos. Prometo segui-los até o fim. Quando o desespero da dúvida me açoitar, eu me lembrarei deles e do Deus que me guarda sempre. Quando eu não tiver mais saída na noite escura da alma, eu não temerei. Vencerei a gruta do desespero! A gruta da qual ninguém jamais escapou.
A senhora despediu-se amigavelmente, prometendo voltar no outro dia.

A Cabana
Um novo dia aparece. Pássaros assobiam e cantam suas melodias, o vento é nordeste, e sua brisa refresca o sol que, nessa época, é forte, mesmo quando amanhece. O mês corrente é dezembro e representa para mim um dos mais belos meses por ser o início das férias escolares. É um descanso merecido após um longo ano de dedicação aos estudos no curso de licenciatura em Matemática. O momento requer o esquecimento de todas as integrais, derivadas e coordenadas polares. Preciso preocupar-me agora com todas as provas que a vida me desafiar. Disso depende o meu sonho. As minhas costas doem, é o resultado de uma noite mal dormida no terreno batido que eu preparei. A cabana que construí com muito esforço e a fogueira que acendi me deram uma certa segurança à noite. Porém, não deixei de ouvir uivos e passos ao redor dela. Onde os meus sonhos me levaram? A um fim de mundo onde as comodidades da civilização não chegam. O que você faria, leitor? Arriscar-se-ia numa viagem para realizar seus sonhos mais profundos? Continuemos a narrativa.
Envolto em pensamentos e indagações, nem percebi que, ao meu lado, estava a estranha senhora que prometia me ajudar no meu caminho.
– Acordou bem?
– Se bem significa estar inteiro, sim.
– Antes de qualquer coisa, devo avisar que o solo que você está pisando é sagrado. Portanto, não se deixe levar pela aparência ou por impulsividade. Hoje é o seu primeiro desafio. Não lhe trarei mais alimentos nem água. Você irá buscá-los por conta própria. Siga seu coração em todas as situações. Você deve provar que é digno.
– Há água e alimentos nesse matagal, e eu devo pegá-los? Olha, senhora, que estou acostumado a fazer compras em supermercado. Vê esta cabana? Custou-me muito suor e ainda considero que não está segura. Por que não me concede o dom de que necessito? Creio que já provei ser digno no momento que escalei essa montanha tão íngreme.
– Procure o alimento e a água. A montanha é apenas uma etapa do seu processo de aperfeiçoamento espiritual. Você ainda não está pronto. Devo lembrar que eu não concedo dons. Não tenho poder para isso. Sou apenas a seta que indica o caminho. A gruta é quem realiza os desejos. É chamada a gruta do desespero por ser procurada por aqueles cujos sonhos se tornam impossíveis.
– Eu vou tentar. Não tenho mais nada a perder mesmo. A gruta é a minha última esperança de sucesso.
Dito isso, levantei-me e comecei a realizar o primeiro desafio. A senhora desapareceu como fumaça.

O primeiro desafio
À primeira vista, percebo que na minha frente há uma estrada de vereda batida. Começo a andar por ela. Diante daquele matagal cheio de espinhos, o melhor seria seguir a trilha. As pedras que meus passos derribam parecem querer me dizer alguma coisa. Será que estou no caminho certo? Penso em tudo que deixei para trás em busca do meu sonho: casa, alimento, roupa lavada e meus livros de Matemática. Será que valerá a pena? Penso que vou descobrir (o tempo dirá). A estranha senhora parece não ter me dito tudo. Por mais que eu ande, não encontro nada. O topo não parecia ser tão extenso assim logo que cheguei. Uma luz? Vejo uma luz à frente. Preciso ir até lá. Chego a uma clareira espaçosa, onde os raios de sol refletem claramente o aspecto da montanha. A trilha se desfaz e renasce em dois caminhos distintos. O que fazer? Há horas que eu ando e minhas forças parecem ter se esgotado.
Sento-me um momento para descansar. Dois caminhos e duas escolhas. Quantas vezes, na vida, nos deparamos com situações como essa. O empresário que tem de escolher entre a sobrevivência da empresa e a demissão de alguns funcionários. A mãe pobre do sertão do Nordeste que tem de escolher um dos filhos para alimentar. O marido infiel que tem de escolher entre sua esposa e a amante. Enfim, são inúmeras as situações na vida. A minha vantagem é que a minha escolha só afetará a mim mesmo. Preciso seguir minha intuição, como a senhora recomendou.
Levanto-me e escolho o caminho da direita. Caminho a largos passos nessa trilha e não demora muito para eu vislumbrar outra clareira. Desta feita, encontro um poço de água e alguns animais à sua volta. Eles se refrescam na água límpida e transparente. Como proceder? Encontro a água, mas ela está infestada de animais. Consulto o meu coração e ele me diz que todos têm direito à água. Eu não poderia tangê-los e privá-los desse bem. A natureza dá em abundância seus recursos para a sobrevivência de seus seres. Eu sou um de seus fios que ela tece. Não sou superior a ponto de me considerar dono dela. Com as minhas mãos, tenho acesso à água e a reservo em um pequeno pote que trouxe de casa. A primeira parte do desafio está cumprida. Preciso achar agora o alimento.
Continuo andando para a frente, na trilha, esperando encontrar alguma coisa para comer. O meu estômago ronca, pois já passa do meio-dia. Começo a olhar de lado. Talvez o alimento esteja dentro da mata. Quantas vezes não procuramos o caminho mais fácil, mas não é ele que conduz ao sucesso (nem sempre o escalador que percorre uma trilha consegue ser o primeiro a chegar ao topo de uma montanha). Os atalhos conduzem mais rápido ao objetivo. Com esse pensamento, saio da trilha e, pouco tempo depois, encontro uma bananeira e um coqueiro. É deles que vou retirar alimento. Preciso subir neles com a mesma força e fé que escalei a montanha. Tento uma, duas, três vezes. Consegui. Voltarei agora para a cabana, pois cumpri o primeiro desafio.

O segundo desafio
Ao chegar à cabana, encontro a guardiã da montanha mais fulgurante do que nunca. O seu olhar não consegue separar-se do meu. Penso que sou realmente especial para Deus. Em todos os momentos, sinto a presença Dele. Ele me ressuscitou em todos os sentidos. Quando eu estava sem trabalho, ele me abriu as portas; quando eu não tinha oportunidades de crescer profissionalmente, ele me abriu caminhos; quando eu estava em crise, ele me libertou das amarras do demônio. Enfim, aquele olhar de aprovação da estranha senhora lembrou-me o homem que eu era até pouco tempo atrás. O meu objetivo atual era vencer, sem me importar com os obstáculos que eu tivesse que transpor.
– Então você venceu o primeiro desafio? Meus parabéns! – Exclamou a senhora. – O primeiro desafio teve como objetivo explorar a sua capacidade de tomar decisões, de partilha e de sabedoria. Os dois caminhos representam as “forças opostas” que dominam o universo (bem e mal). O ser humano é totalmente livre para escolher qualquer um dos caminhos. Se escolher o caminho da direita, ele terá plena luz e a ajuda dos anjos em todos os momentos da vida. Foi o caminho que você escolheu. Porém, não é um caminho fácil. Muitas vezes, a dúvida assaltará o seu coração, e você se perguntará se vale mesmo a pena esse caminho. As pessoas do mundo irão sempre lhe magoar e aproveitar-se de sua bondade. Além disso, a confiança que você depositará nos outros será quase sempre decepcionada. Quando você se afligir, lembre-se: o seu Deus é forte e nunca lhe abandonará. Nunca deixe que a riqueza ou luxúria pervertam o seu coração. Você é especial e, por seu valor, Deus o considera seu filho. Nunca perca essa graça. O caminho da esquerda pertence a todos que se rebelaram ao chamado do Pai. Todos nós nascemos com uma missão divina. No entanto, alguns se desviam dela, por materialismo, más influências, corrupção do coração. Todos os que escolhem o caminho da esquerda não têm um bom destino, ensinou-nos Jesus. Toda árvore que não der bons frutos será arrancada e jogada nas trevas exteriores. É esse o destino dos maus porque o Pai é justo. No momento em que você encontrou o poço e aqueles animais sôfregos, seu coração falou mais alto. Escute-o sempre, menino, e você irá longe. O dom da partilha resplandeceu em você naquele momento e o seu crescimento espiritual foi surpreendente. A sabedoria que você tem ajudou-o a encontrar o alimento. Nem sempre o caminho mais fácil é o certo a seguir. Creio que agora você está preparado para o segundo desafio. Daqui a três dias, você sairá de sua cabana e procurará um fato. Aja conforme sua consciência. Se você for aprovado, passará para o terceiro e último desafio.
– Obrigado por me acompanhar todo esse tempo. Eu não sei o que me espera na gruta nem o que acontecerá comigo. A sua contribuição é muito importante para mim. Desde que escalei a montanha, sinto que minha vida mudou. Estou mais tranquilo e convicto do que quero. Eu vou cumprir o segundo desafio.
– Muito bem. Vejo-o daqui a três dias.
Dito isso, a senhora desapareceu mais uma vez. Deixou-me sozinho na quietude do entardecer juntamente com grilos, pernilongos e outros insetos.

O fantasma da montanha
A noite desce sob a montanha. Acendo a fogueira, e o seu crepitar acalma mais o meu coração. Já faz dois dias que subi a montanha, e ela ainda me parece desconhecida. O meu pensamento voa e pousa na minha infância: as brincadeiras, os medos, as tragédias. Lembro-me bem do dia que me vesti de índio: com arco, flecha e tacape. Agora estava numa montanha que era sagrada justamente por ter morrido um indígena misterioso (o pajé da tribo). Eu tenho que pensar em alguma coisa, pois o medo me congela a alma. Barulhos ensurdecedores rodeiam a minha cabana e não tenho ideia de que ou de quem se trata. Como vencer o medo numa ocasião dessas? Responda-me, leitor, pois eu não sei. A montanha é ainda desconhecida para mim.
O barulho se aproxima cada vez mais, e eu não tenho para onde fugir. Sair da cabana é uma temeridade, pois poderei ser devorado por animais ferozes. Eu vou ter de enfrentar seja o que for. O barulho cessa, e uma luz surge. Ela me deixa com mais medo ainda. Com um ímpeto de coragem, exclamo:
– Quem é, em nome de Deus?
Uma voz, fanhosa e obscura, responde:
– Sou o bravo guerreiro a quem a gruta do desespero destruiu. Desista de seu sonho, ou terá o mesmo fim. Eu era um pequeno indígena duma aldeia da nação xukuru. Ambicionava ser chefe supremo da minha tribo e ser mais forte que o leão. Então procurei a montanha sagrada para realizar meus objetivos. Venci os três desafios que a guardiã da montanha me impôs. Porém, ao entrar na gruta, fui devorado pelo seu fogo, que estraçalhou meu coração e meus objetivos. Hoje meu espírito sofre e está preso irremediavelmente a essa montanha. Escute-me, ou você terá o mesmo fim.
A minha voz congelou em minha garganta e por instantes não pude responder ao espírito atormentado. Tinha deixado para trás abrigo, alimento, um calor familiar. Eu estava a dois desafios da gruta. A gruta que poderia tornar a impossível realidade. Eu não desistiria facilmente do meu sonho.
– Escute-me, você, bravo guerreiro. A gruta não realiza sonhos mesquinhos. Se estou aqui, é por um motivo nobre. Eu não ambiciono bens materiais. O meu sonho vai além disso. Quero realizar-me profissional e espiritualmente. Em suma, quero trabalhar no que gosto, ganhar dinheiro com responsabilidade e contribuir com o meu talento para um universo melhor. Eu não desistirei do meu sonho tão facilmente.
O fantasma retrucou:
– Você conhece a gruta e suas armadilhas? Você não passa de um pobre jovem que desconhece a alta periculosidade do caminho que está traçando. A guardiã é uma charlatã que o está enganando. Ela quer a sua ruína.
A insistência do fantasma me aborreceu. Ele me conhecia, por acaso? Deus, em sua benignidade, não permitiria meu fracasso. Deus e a Virgem Maria estavam efetivamente ao meu lado, sempre. As provas disso foram as várias aparições da Virgem em minha vida. Em Visão de um médium (livro que eu não publiquei), está descrita a cena em que, sentado em um banco de praça, onde pássaros e o vento me agitavam, pensava no mundo e na vida. Repentinamente, não mais que de repente, apareceu a figura de uma mulher que, ao me ver, indagou:
– Acredita em Deus, meu filho? Eu, prontamente, respondi:
– Certamente e com toda a fé.
Instantaneamente, ela colocou a mão na minha cabeça e orou:
– Que o Deus da glória lhe cubra de luz e o deixe repleto de dons.
Dizendo isso, afastou-se e, quando eu percebi, ela não estava mais do meu lado. Simplesmente desapareceu. Foi a primeira aparição da Virgem em minha vida. Outra vez, disfarçou-se de mendiga e aproximou-se de mim pedindo alguns trocados. Ela falou que era agricultora e ainda não estava aposentada. Prontamente, entreguei-lhe algumas moedas que tinha em meu bolso. Ao receber o dinheiro, agradeceu e, quando percebi, havia sumido. Na montanha, naquele momento, eu não tinha a menor dúvida de que Deus me amava e estava ao meu lado. Por conseguinte, respondi ao fantasma com certa rudeza.
– Eu não ouvirei seus conselhos. Eu conheço meus limites e minha fé. Vá embora! Vá assombrar uma casa ou qualquer outro lugar. Deixe-me em paz!
A luz apagou-se, e escutei o barulho de passos afastando- se da cabana. Eu estava livre do fantasma.

O dia D
Passaram-se os três dias que me separavam do segundo desafio. Era uma manhã de sexta-feira, clara, ensolarada e resplandecente. Estava eu contemplando o horizonte dessa manhã, quando a estranha senhora se aproximou.
– Está preparado? Procure um fato inusitado na mata e aja conforme seus princípios. É o seu segundo teste.
– Está bem. Há três dias espero por esse momento. Acredito que estou preparado.
Apressadamente, dirigi-me à trilha mais próxima que dava acesso à mata. Os meus passos seguiam uma cadência quase musical. Em que consistia realmente esse segundo desafio? A ansiedade tomou conta de mim, e meus passos aceleraram em busca do objetivo desconhecido. Logo à frente, surgiu a mesma clareira em que a trilha se desfazia e bifurcava-se. Quando cheguei lá, para minha surpresa, a bifurcação não existia mais, e pude visualizar a seguinte cena: um menino, arrastado por um adulto, chorava muito. A emoção tomou conta de mim diante da injustiça e por isso bradei:
– Solte o menino! Ele é menor do que você e não pode se defender.
– Não solto! Estou o maltratando porque ele não quer trabalhar.
– Bruto! Meninos não devem trabalhar. Eles devem estudar e ser bem-educados. Solte-o!
– Quem vai me obrigar? Você?
Eu sou totalmente contra a violência, mas nesse momento o meu coração me pediu para reagir ante esse canalha. O menino devia ser solto. Com delicadeza, afastei o menino de perto do bruto e comecei a espancar o homem. O canalha reagiu e me desferiu alguns golpes. Um acertou-me mesmo em cheio. O mundo rodou, e um vento forte penetrante invadiu todo o meu ser: Nuvens brancas, azuis e pássaros ágeis invadiram a minha mente.
Num momento, parecia que todo meu corpo flutuava sob o céu. Uma voz bem fininha me chamou de longe. Noutro momento era como se eu ultrapassasse portas e portas como obstáculos. As portas eram muito bem trancadas, e eu fazia um imenso esforço para abri-las. Cada porta dava acesso a salões ou santuários, alternadamente. No primeiro salão encontrei jovens vestidas de branco, reunidas ao redor de uma mesa onde no centro havia uma Bíblia aberta. Eram as virgens escolhidas para reinar no mundo futuro. Uma força me empurrou para fora do salão e, quando abri a segunda porta, fui parar no primeiro santuário. À beira do altar, estavam sendo queimados incensos com pedidos dos pobres do Brasil. Do lado direito, um sacerdote orava em voz alta e repentinamente começou a repetir: Vidente! Vidente! Vidente! Ao lado dele, havia duas mulheres com camisetas brancas onde estava escrito: sonho possível. Tudo começou a escurecer e, quando dei por mim, fui arrastado violentamente para fora com tal velocidade que me deixou um pouco tonto.
Abri a terceira porta e desta feita encontrei uma reunião de pessoas: um pastor, um padre, um budista, um islamita, um espírita, um judeu e um representante das religiões africanas. Eles estavam dispostos em círculo e no centro havia um fogo, cujas chamas desenhavam a expressão: união dos povos e caminhos para Deus. No fim, eles se abraçaram e me chamaram para o grupo. O fogo se moveu do centro, pousou na minha mão e desenhou a palavra aprendizado. O fogo era pura luz e não provocava queimaduras. O grupo se desfez, o fogo apagou-se e novamente fui empurrado para fora do salão.
Abri a quarta porta. O segundo santuário estava totalmente vazio e aproximei-me do altar. Ajoelhei-me em reverência ao santíssimo, peguei um papel que estava no chão e escrevi meu pedido. Dobrei o papel e coloquei-o aos pés de uma imagem. A voz que estava longe gradativamente tornava- se mais clara e nítida. Saí do santuário, abri a porta e finalmente acordei. Ao meu lado estava a guardiã da montanha.
– Então você acordou? Meus parabéns! Você venceu o desafio. O segundo desafio teve como objetivo explorar sua capacidade de autodoação e ação. Os dois caminhos que representavam as “forças opostas” tornaram-se um só, e isso significa que você deve trilhar o lado direito sem se esquecer do aprendizado que terá ao conhecer o esquerdo. A sua atitude salvou o menino, apesar de que ele não precisasse disso. Toda aquela cena foi uma projeção mental minha para avaliá-lo. Você tomou a atitude certa. A maioria das pessoas, quando se deparam com cenas de injustiça, preferem não se intrometer. A omissão é um pecado grave, e a pessoa torna-se cúmplice do agressor. Você auto doou-se como fez Jesus Cristo por nós. Isso é uma lição que você levará para toda a vida.
– Obrigado por me parabenizar. Eu agiria sempre em favor dos excluídos. O que me intriga é a experiência espiritual que tive agora há pouco. O que significa? Poderia me explicar, por favor.
– Todos nós temos a capacidade de penetrar em outros mundos através do pensamento. É o que se chama viagem astral. Há alguns experts em relação a esse assunto. O que você viu deve estar relacionado ao seu futuro ou ao das pessoas. Nunca se sabe.
– Entendo. Eu subi a montanha, cumpri os dois primeiros desafios e devo estar crescendo espiritualmente. Creio que brevemente estarei pronto para enfrentar a gruta do desespero. A gruta que realiza milagres e torna os sonhos mais profundos.
– Você deve realizar o terceiro desafio, e eu lhe direi qual é amanhã. Aguarde instruções.
– Sim, general. Esperarei ansiosamente. O filho de Deus, como a senhora me denominou, está com muita fome e preparará uma sopa para mais tarde. A senhora está convidada.
– Ótimo. Eu adoro sopa. Aproveitarei para conhecê-lo melhor.
A estranha senhora afastou-se e deixou-me sozinho com meus pensamentos. Fui procurar na mata os ingredientes para a sopa.

A Jovem
A montanha já se encontrava às escuras quando a sopa ficou pronta. O vento frio da noite e o cricri dos insetos tornava o ambiente mais rural. A estranha senhora ainda não se encontrava na cabana. Esperava deixar tudo em ordem até que ela chegasse. Experimentei a sopa: ela realmente havia ficado boa, apesar de que eu não tivesse todos os temperos necessários. Saí um pouco da cabana e contemplei o céu: as estrelas eram testemunhas dos meus esforços. Subi a montanha, encontrei sua guardiã e cumpri dois desafios (um mais difícil do que o outro), encontrei um fantasma e ainda estou de pé. “Os pobres esforçam-se mais por seus sonhos. ” Olho a disposição das estrelas e sua luminosidade. Cada qual tem sua importância no grande universo em que vivemos. As pessoas também são assim, importantes. Sejam brancas, negras, ricas, pobres, da religião A, da religião B, ou de qualquer crença. Todas são filhas do mesmo pai. Eu também quero ter o meu lugar no universo. Sou um ser pensante e sem limites. Creio que um sonho não tem preço e estou disposto a pagá-lo ao entrar na gruta do desespero. Contemplo mais uma vez o céu e volto à cabana. Qual não foi a minha surpresa ao já encontrar a guardiã.
– Você já está aqui? Eu nem me dei conta.
– Você estava tão concentrado em contemplar o céu que não quis quebrar o encanto do momento. Além disso, considero-me de casa.
– Muito bem. Sente-se nesse banco improvisado que fiz. Vou servir a sopa já.
Com a sopa ainda quente, servi a estranha senhora na cuia que eu mesmo encontrei na mata. O vento gelado da noite me acariciou o rosto e sussurrou algumas palavras no meu ouvido. Quem seria aquela estranha senhora que eu estava servindo? Será que ela queria mesmo me destruir como insinuou o fantasma? Eu tinha muitas dúvidas sobre ela e essa era uma ótima oportunidade para saná-las.
– A sopa está boa? Eu prepararei com muito esmero.
– Está ótima! O que você usou para prepará-la?
– É sopa de pedra. Brincadeirinha! Comprei um pássaro de um caçador e usei alguns temperos naturais da mata. Mas, mudando de assunto, quem é você realmente?
– É da boa hospitalidade que o anfitrião fale primeiro sobre si mesmo. Já faz quatro dias que você chegou aqui ao topo da montanha e não sei qual é o seu nome.
– Tudo bem. Mas é uma longa história. Prepare-se. Meu nome é Aldivan Teixeira Tôrres e curso o sétimo período da faculdade de Matemática. Minhas duas grandes paixões são a literatura e a matemática. Eu sempre fui um amante dos livros e desde pequeno ambiciono escrever o meu. Quando eu estava no primeiro ano do ensino médio, eu reuni alguns trechos dos livros de Eclesiastes, Sabedoria e Provérbios. Fiquei muito feliz apesar dos textos não serem da minha autoria. Eu mostrei a todo mundo, com muito orgulho. Terminei o ensino médio, fiz um curso de informática e parei meus estudos por um tempo. Depois, ingressei num curso técnico de Eletrotécnica pertencente na época ao Centro Federal de Educação Tecnológica. No entanto, percebi que não era minha área por um sinal do destino. Eu estava preparado para estagiar nessa área. Porém, no dia anterior ao teste que eu ia fazer, uma força estranha me pedia continuamente para eu desistir. Quanto mais passava o tempo, maior era a pressão exercida por essa força. Até que eu resolvi não fazer o teste. A pressão acalmou, e o meu coração também. Creio que tenha sido um sinal do destino para eu não ir. Temos que respeitar nossos próprios limites. Fiz alguns concursos, fui aprovado e atualmente exerço a função de assistente administrativo educacional. Há três anos tive outro sinal do destino. Eu tive alguns problemas e acabei entrando em crise nervosa. Comecei então a escrever e em pouco tempo isso me ajudou a melhorar. O resultado de tudo foi o livro: Visão de um médium, que não publiquei. Tudo isso me mostrou que eu era capaz de escrever e ter uma profissão digna. Penso que seja isso: quero trabalhar no que gosto e ser feliz. Será que é pedir demais para um pobre?
– Claro que não, Aldivan. Você tem talento e isso é o que é mais raro no mundo. No tempo certo você vencerá. As pessoas vitoriosas são aquelas que acreditam em seus sonhos.
– Eu acredito, sim. Por isso estou aqui nesse fim de mundo, aonde as comodidades da civilização ainda não chegaram. Dispus-me a subir a montanha, a vencer os desafios. Resta-me agora entrar na gruta e realizar os meus sonhos.
– Eu estou aqui para ajudá-lo. Sou a guardiã da montanha desde que ela se tornou sagrada. Minha missão é ajudar todos os sonhadores que buscam a gruta do desespero. Alguns a procuram para realizar sonhos materiais, como dinheiro, poder e ostentação social, ou sonhos egoístas. Todos fracassaram até aqui, e não foram poucos. A gruta é justa com os desejos.
A conversa continuou animada durante algum tempo. Fui perdendo, pouco a pouco, o interesse por ela, pois uma estranha voz me chamava a sair da cabana. Cada vez que essa voz me chamava, eu me sentia compelido a ir por curiosidade. Eu tinha que ir. Queria saber o que significava aquela estranha voz no meu pensamento. Com delicadeza, despedi-me da senhora e pus-me a andar na direção indicada pela voz. O que me espera? Continuemos juntos, leitor.
A noite era fria, e a insistente voz permanecia na minha mente. Era um tipo de ligação estranha entre mime ela. Já tinha andado poucos metros fora da cabana, mas pareciam ser quilômetros pelo cansaço que meu corpo respirava. As instruções que eu recebia mentalmente me guiavam na escuridão. Um misto de cansaço, medo do desconhecido e curiosidade imperavam em meu ser. Quem seria a dona daquela estranha voz? O que queria comigo? A montanha e seus segredos. Desde que a conheci, aprendi a respeitá-la. A guardiã e seus mistérios, os desafios que tive de enfrentar, o encontro com o fantasma, tudo a tornavam especial. Ela não era a mais alta do Nordeste, nem a mais imponente, mas era sagrada. O mito do pajé e os meus sonhos me levaram até ela. Quero vencer todos os desafios, entrar na gruta e fazer o meu pedido. Eu serei um homem transformado. Não serei apenas eu, mas serei o homem que venceu a gruta e seu fogo. Lembro-me bem das palavras da guardiã, para não confiar muito. Lembro-me melhor ainda das palavras de Jesus que disse: “Aquele que acreditar em mim terá vida eterna”.
O meu risco de vida não me fará desistir dos meus sonhos. É com esse pensamento que eu permaneço com fé. A voz se tornava cada vez mais forte. Acho que estou chegando ao meu destino. Logo à frente, visualizo uma cabana. A voz me diz para eu ir lá. A cabana e a respectiva fogueira que a ilumina estão num lugar espaçoso e plano. Uma jovem alta, magra e de cabelos negros, assa um tipo de petisco em seu fogo.
– Então você chegou. Eu sabia que você atenderia o meu chamado.
– Quem é você? O que quer de mim?
– Eu sou outra sonhadora que pretende entrar na gruta.
– Que poder especial você tem para me chamar pela mente?
– É telepatia, bobo. Não conhece?
– Eu ouvi falar. Poderia me ensinar?
– Você vai aprender um dia, mas não comigo. Diga-me que sonho traz você aqui?
– Antes de tudo, meu nome é Aldivan. Eu subi a montanha em busca de encontrar minhas forças opostas. Elas definirão o meu destino. Quando alguém é capaz de controlar suas forças opostas pode realizar milagres. É disso que eu preciso para realizar o meu sonho, que é trabalhar no que gosto e, assim, fazer muitos corações sonharem. Quero entrar na gruta não apenas por mim, mas por todo o universo que me proporcionou os dons. Terei o meu lugar no mundo e assim serei feliz.
– Meu nome é Nadja. Sou habitante do litoral pernambucano. Na minha terra ouvi falar dessa miraculosa montanha e de sua gruta. Imediatamente interessei-me em fazer uma viagem até aqui, mesmo pensando que tudo não passava de uma lenda. Reuni as minhas tralhas, parti, cheguei a Mimoso e subi a montanha. Eu tirei mesmo a sorte grande. Agora que estou aqui, entrarei na gruta e realizarei o meu desejo. Serei uma grande deusa, ornada de poder e riquezas. Todos me servirão. O seu sonho é apenas uma bobagem. Para que pedir pouco se podemos ter o mundo?
– Você está enganada. A gruta não realiza desejos mesquinhos. Você vai fracassar. A guardiã não permitirá que você entre nela. Para entrar na gruta, é necessário vencer três desafios. Eu já conquistei duas etapas. Quantas você já venceu?
– Que mané de desafio e de guardiã. A gruta só respeita o mais forte e o mais convicto. Eu realizarei os meus desejos amanhã e ninguém vai me impedir, ouviu?
– Você é quem sabe. Quando quiser se arrepender será tarde demais. Bom, acho que vou indo. Preciso descansar um pouco, pois já é tarde. Quanto a você, não posso desejar boa sorte na gruta, pois quer ser maior do que Deus. Quando o ser humano chega a esse ponto, ele destrói a si mesmo.
– Tudo bobagem e palavras. Nada me fará voltar atrás em minha decisão.
Vendo que ela estava irredutível afastei-me dela com pena. Como as pessoas tornam-se pequenas, às vezes. O ser humano só é digno quando luta por ideais justos e igualitários. Percorrendo a trilha, lembrei-me das vezes que fui injustiçado, por uma prova mal corrigida, ou mesmo pelo descaso dos outros. Isso me deixa inconformado. Além de tudo, a minha família é avessa ao meu sonho e não acredita em mim. Como é doloroso! Um dia eles vão me dar razão e ver que os sonhos podem ser possíveis. Nesse dia, depois que tudo passar, eu cantarei a minha vitória e glorificarei o criador. Ele me deu tudo e só exigiu que eu resplandecesse meus dons, pois, como diz a Bíblia, não se acende uma luz para colocá-la debaixo da mesa, e sim em cima para que todos aplaudam e sejam iluminados. A trilha se desfaz, logo vejo a cabana que tanto suor me custou. Preciso dormir, pois amanhã será outro dia e tenho planos para mim e o mundo. Boa noite, leitores. Até o próximo capítulo.

O tremor
Surge um novo dia. A luz aparece, a brisa da manhã acaricia os nossos cabelos, pássaros e insetos fazem a festa, a vegetação parece renascer. Isso acontece todos os dias. Esfrego os olhos, lavo o rosto, escovo os dentes e tomo um banho. Esta é a minha rotina antes do café da manhã. A mata não oferece regalias nem opções. Eu não estou acostumado. A minha mãe sempre me mimou a ponto de servir o café para mim. Tomo meu desjejum em silêncio, mas com a mente aflita. Qual será o terceiro e último desafio? O que acontecerá comigo na gruta? São tantas as perguntas sem resposta que me deixam zonzo. A manhã avança e com ela minhas palpitações, meus temores e calafrios. Quem eu era agora? Certamente não era o mesmo. Subi a montanha sagrada atrás de um destino que eu mesmo não conhecia. Encontrei a guardiã e descobri novos valores e um mundo maior do que eu jamais pensei antes. Venci dois desafios e agora só me restava o terceiro. Um terceiro frio, distante e desconhecido. As folhas ao redor da cabana levemente se moveram. Aprendi a entender a natureza e seus sinais. Alguém se aproxima.
– Oh de casa! Ou melhor, oh da cabana!
De um sobressalto, mudo a direção do meu olhar e contemplo a figura misteriosa da guardiã. Ela me parece mais feliz e rosada, apesar da idade que aparenta.
– Estou aqui, como me vê. Que novidades traz para mim?
– Como você sabe, hoje venho anunciar o seu terceiro e último desafio. Ele será realizado no seu sétimo dia sob a montanha, pois é o prazo máximo que um mortal pode ficar sob ela. Ele é simples e consiste no seguinte: mate o primeiro ser, homem ou animal, que você encontrar ao sair da cabana nesse mesmo dia. Caso contrário, você não terá direito de entrar na gruta que realiza os desejos mais profundos. O que você me diz? Não é fácil?
– Como assim? Matar? Por acaso sou um assassino?
– É a única condição para você entrar na gruta. Prepare-se, pois, só faltam dois dias e.…um tremor de 3,7 graus na escala Richter abala todo o topo da montanha. O tremor me deixa tonto e penso que vou desmaiar. Pensamentos e mais pensamentos me vêm à mente. Sinto minhas forças se esgotando e algemas que prendem com força minhas mãos e meus pés. Num rápido momento, vejo-me escravo, trabalhando em cafezais dominados por senhores. Vejo o chicote, o sangue e o clamor dos meus companheiros. Vejo a riqueza dos coronéis, seu orgulho e sua perfídia. Vejo também o grito por liberdade e por justiça dos oprimidos. Ó, como o mundo é injusto! Enquanto uns vencem, outros apodrecem esquecidos. As algemas quebram. Eu estou parcialmente livre. Ainda sou discriminado, odiado e injustiçado. Ainda vejo a maldade dos brancos me chamando de negro. Continuo me sentindo inferior. Ouço novamente gritos de clamor, mas agora a voz é clara, nítida e conhecida. O tremor desaparece e pouco a pouco retomo a consciência. Alguém me levanta. Ainda um pouco tonto, exclamo:
– O que aconteceu?
A guardiã, em prantos, parece não achar resposta.
– Meu filho, a gruta acaba de destruir um outro coração. Por favor, vença o terceiro desafio e acabe com essa maldição. O universo conspira para sua vitória.
– Eu não sei como vencer. Somente a luz do Criador pode iluminar meus pensamentos e minhas ações. Eu garanto: não desistirei facilmente dos meus sonhos.
– Eu confio em você e na educação que teve. Boa sorte, filho de Deus! Até a próxima!
Dito isso, a estranha senhora se afastou e foi envolvida numa fumaça. Eu agora estava só e precisava me preparar para o último desafio.

Um dia antes do último desafio
Já faz seis dias que subi a montanha. Todo esse tempo de desafios e experiências me fizeram crescer muito. Posso entender a natureza, a mim mesmo e aos outros. A natureza marcha em um ritmo próprio e avessa às pretensões do ser humano. Nós desmatamos, poluímos as águas, jogamos gases na atmosfera. O que ganhamos com isso? O que realmente importa para nós, o dinheiro ou a sobrevivência? As consequências estão aí: aquecimento global, redução da fauna e flora, desastres naturais. Será que o ser humano não enxerga que tudo isso é culpa dele? Ainda há tempo. Há tempo para a vida. Faça sua parte: economize água e energia, recicle o lixo, não polua o ambiente. Exija dos seus governantes um comprometimento com a questão ambiental. É o mínimo que devemos fazer por nós e pelo mundo.
Voltando à minha aventura, depois que subi a montanha, passei a entender melhor os meus desejos e os meus limites. Compreendi que os sonhos só se tornam possíveis se forem nobres e justos. A gruta é justa e, se eu vencer o terceiro desafio realizará o meu sonho. Quando venci o primeiro e o segundo desafios, passei a entender melhor os desejos do próximo. A maioria das pessoas sonha em ter riquezas, prestígio social e altas funções de comando. Elas deixam de enxergar o que há de melhor na vida: a realização profissional, o amor e a felicidade. O que torna o ser humano realmente especial são suas qualidades que resplandecem através de suas obras. Poder, riqueza, ostentação social não fazem ninguém feliz. É isso que procuro na montanha sagrada: felicidade e o total domínio sobre as “forças opostas”. Preciso sair um pouco. Passo a passo, meus pés me levam para fora da cabana que construí. Espero um sinal do destino.
O sol esquenta, o vento fica mais forte e nenhum sinal aparece. Como vencerei o terceiro desafio? Como conviver com o fracasso caso eu não consiga realizar o meu sonho? Tento afastar os pensamentos negativos, mas o medo é mais forte. Quem eu era antes de subir a montanha? Um jovem totalmente inseguro, com medo de enfrentar o mundo e as pessoas. Um jovem que um dia lutou na Justiça por seus direitos, mas não foi atendido. O futuro mostrou-me que foi melhor assim. Às vezes, ganhamos ao perder. A vida me ensinou isso. Alguns pássaros gritam ao meu redor. Eles parecem entender minha preocupação. Amanhã será um novo dia, o sétimo sob a montanha. O meu destino estará em jogo no terceiro desafio. Rezem, leitores, para que eu o vença.

O terceiro desafio
Um novo dia amanhece. A temperatura é agradável, e o céu é azul em toda sua imensidão. Preguiçosamente, levanto-me esfregando os olhos de sonolência. O grande dia chegou, estou preparado para ele. Antes de qualquer coisa, preciso preparar o meu café da manhã. Com os ingredientes que consegui no dia anterior, ele não será tão escasso. Preparo a vasilha e começo a estralar os apetitosos ovos de galinha. A gordura espirra e quase atinge o meu olho. Quantas vezes, na vida, os outros parecem nos ferir com suas inquietações. Tomo o meu café, descanso um pouco e preparo minha estratégia. O terceiro desafio não parece ser nada fácil. Matar para mim é impensável. Bem, mesmo assim, terei de enfrentá-lo. Com essa resolução, começo a caminhar e logo estou fora da cabana. O terceiro desafio começa aí, e eu me preparo para tal. Pego a primeira trilha e começo a percorrê-la. As árvores da estrada da vereda batida são árvores grossas e de raízes profundas. O que eu realmente procuro? O sucesso, a vitória e a realização. Porém, não farei qualquer coisa que fuja aos meus princípios. A minha idoneidade está acima de fama, sucesso e poder. O terceiro desafio me aflige. Matar para mim é um crime mesmo que seja apenas um animal. Entretanto, quero entrar na gruta e fazer o meu pedido. Isso representa duas “forças opostas”, ou “caminhos opostos”.
Permaneço seguindo a trilha e torço para que eu não encontre nada. Quem sabe assim o terceiro desafio não seja dispensado. Talvez a guardiã não seja tão generosa assim. As regras têm de ser seguidas por todos. Eu paro um pouco e não acredito na cena que visualizo: uma jaguatirica e seus três filhotes, brincando ao meu redor. Chega. Eu não matarei a mãe de três filhotes. Eu não tenho esse coração. Adeus sucesso; adeus, gruta do desespero. Chega de sonhos. Não cumpri o terceiro desafio e vou embora. Vou voltar para minha casa e para meus entes queridos. Apressadamente, volto à cabana para arrumar minhas malas. Eu não cumpri o terceiro desafio.
A cabana está desfeita. O que significa isso tudo? Uma mão toca levemente o meu ombro. Olho para trás e me deparo com a guardiã.
– Meus parabéns, querido! Você cumpriu o desafio e agora tem o direito de entrar na gruta do desespero. Você venceu!
O forte abraço que levei em seguida deixou-me ainda mais confuso. O que aquela mulher estava dizendo? O meu sonho e a gruta poderiam se encontrar? Eu não acreditava.
– Como assim? Eu não cumpri o terceiro desafio. Veja minhas mãos: elas estão limpas. Não manchei o meu nome com sangue.
– Você não se conhece? Você acredita que o filho de Deus seja capaz da atrocidade que pedi? Eu não tenho dúvidas de que você é digno de realizar seus sonhos. Embora eles possam demorar a tornar-se realidade. O terceiro desafio o avaliou completamente, e você demonstrou o amor incondicional às criaturas. Isso é o mais importante num ser humano. Mais um conselho: somente o coração puro sobrevive à gruta. Mantenha seu pensamento e coração limpos para vencê-la.
– Obrigado, Deus! Obrigado, vida, por essa oportunidade. Prometo não os desapontar.
A emoção tomou conta de mim como nunca, desde que subi a montanha. Será que a gruta seria capaz mesmo de realizar milagres? Eu estava a ponto de descobrir.

A gruta do desespero
Após vencer o terceiro desafio, eu já estava apto a entrar na temida gruta do desespero. A gruta que realiza os sonhos impossíveis. Eu era mais um sonhador que iria tentar a sorte. Desde que subi a montanha, eu já não era mais o mesmo. Agora estava confiante em mim mesmo e no universo maravilhoso que me abrigava. O abraço da estranha senhora também me deixou mais tranquilo. Agora ela estava ali, ao meu lado, apoiando-me em todos os sentidos. O apoio que eu não recebi dos meus entes queridos. A minha mala inseparável debaixo do meu braço. Estava na hora de eu me despedir daquela montanha e seus mistérios. Os desafios, a guardiã, o fantasma, a jovem e a própria montanha que parecia ter vida ajudaram-me a crescer. Eu estava pronto para partir e enfrentar a gruta tão temida. A guardiã está do meu lado e me acompanhará nessa viagem até a entrada da gruta. Partimos, pois o sol já se adianta no horizonte. Os nossos planos estão em total harmonia. A vegetação ao redor da trilha que percorremos e o barulho dos animais tornam o ambiente o mais rural possível. O silêncio da guardiã durante todo o percurso parece antever os perigos que a gruta encerra. Paramos um pouco. As vozes da montanha parecem querer dizer alguma coisa. Aproveito para quebrar o silêncio.
– Posso perguntar uma coisa? O que são essas vozes que tanto me atormentam?
– Você escuta vozes. Interessante. A montanha sagrada tem a propriedade mágica de reunir todos os corações sonhadores. Você é capaz de sentir essas vibrações mágicas e interpretá-las. No entanto, não dê muita atenção a elas, pois podem levá-lo ao fracasso. Tente concentrar-se com seus próprios pensamentos, e a atuação delas será menor. Tenha cuidado. A gruta é capaz de detectar suas fraquezas e usá-las contra você.
– Eu prometo me cuidar. Eu não sei o que me espera na gruta, mas tenho fé de que os espíritos luminosos me ajudarão. O meu destino está em jogo e, de certa forma o do resto do mundo também.
– Bem, já descansamos o bastante. Vamos continuar a caminhada, pois não demora o sol a se pôr. A gruta deve estar a uns quinhentos (500) metros daqui.
O rumor de passos recomeça: Quinhentos metros separam o meu sonho de sua realização. Estamos no lado oeste do topo da montanha, onde os ventos se tornam cada vez mais fortes. A montanha e seus mistérios. Penso que nunca vou conhecê-la realmente. O que me motivou a subir ela? A promessa de o impossível tornar-se possível, e o meu instinto aventureiro de escoteiro. A realidade, o possível e a rotina estavam me matando. Agora estava me sentindo vivo e pronto para vencer desafios. A gruta se aproxima. Já posso ver sua entrada. Ela parece imponente, mas não me desestimula. Uma gama de pensamentos invade todo o meu ser. Preciso controlar meus nervos. Eles podem me trair na hora fatal. A guardiã faz sinal e para. Obedeço.
– Aqui é o local mais próximo que posso chegar da gruta. Escute bem o que eu vou dizer, pois eu não vou repetir: antes de entrar nela, reze um pai-nosso para seu anjo da guarda. Ele protegerá você dos perigos. Ao entrar, ande com bastante cautela para não cair em armadilhas. Após percorrer um certo tempo a galeria principal da gruta, você se deparará com três opções: felicidade, fracasso e medo. Escolha a felicidade. Se escolher o fracasso, você não passará de um pobre louco que um dia sonhou. Se escolher o medo, você se perderá completamente. A felicidade dá acesso a mais dois cenários que são desconhecidos para mim. Lembre-se: apenas o coração puro pode sobreviver à gruta. Seja sábio e realize seu sonho.
– Entendi. Chegou o momento mais esperado desde que subi a montanha. Obrigado, guardiã, por toda sua paciência e zelo comigo. Nunca me esquecerei da senhora nem dos momentos que passamos juntos.
A angústia tomou conta do meu coração ao despedir-me dela. Agora éramos eu e a gruta. Um duelo que mudará a história do mundo e a minha também. Olho bem para ela e pego na mala uma lanterna para iluminar o caminho. Estou pronto para entrar. A minha perna parece congelada ante essa gigante. Preciso reunir forças para prosseguir no caminho. Sou brasileiro e não desisto nunca. Consigo dar os primeiros passos e tenho a leve impressão de que alguém me acompanha. Creio que sou realmente especial para Deus. Ele me trata como filho. Os meus passos aceleram-se e finalmente consigo entrar na gruta. O deslumbramento inicial é grande, mas preciso ser cauteloso por conta das armadilhas. A umidade do ar é alta, e o frio, intenso. Estalactites e estalagmites preenchem praticamente todo o ambiente. Já percorri uns cinquenta metros dentro dela, e os calafrios começam a arrepiar todo o meu corpo. Vem à minha mente tudo que passei antes de subir a montanha: as humilhações, as injustiças e a inveja dos outros. Parece que cada um dos meus inimigos está dentro daquela gruta, esperando o melhor momento para me atacar. Com um salto espetacular, consigo ultrapassar a primeira armadilha. O fogo da gruta quase me devorou. Nadja não teve a mesma sorte. Agarrado a uma estalactite do teto que milagrosamente suportou meu peso, consegui sobreviver. Preciso descer e continuar minha caminhada rumo ao desconhecido. Os meus passos aceleram-se, mas com precaução. A maioria das pessoas tem pressa. Pressa de vencer, de conquistar objetivos. Uma agilidade fantástica acaba de me salvar de uma segunda armadilha. Foram inúmeras lanças alçadas em direção ao meu corpo. Uma consegue ferir de raspão o meu rosto. A gruta quer me destruir. Eu tenho de ter mais cuidado a partir de agora. Faz aproximadamente uma hora que entrei na gruta e ainda não cheguei ao ponto que a guardiã falou. Devo estar perto. Os meus passos continuam acelerados, e meu coração dá sinal de alerta. Às vezes, não prestamos atenção nos sinais que o próprio corpo dá. É nesse momento que acontecem o fracasso e a decepção. Felizmente não é o meu caso. Ouço um barulho muito forte vindo em minha direção. Começo a correr. Em poucos instantes, percebo que estou sendo perseguido por uma pedra gigantesca em grande velocidade. Corro durante um tempo e com um movimento brusco consigo me desviar da pedra, abrigando-me na lateral da gruta. Quando a pedra passa, a parte anterior da gruta se fecha e logo à frente aparecem três portas. Elas representam a felicidade, o fracasso e o medo. Se eu escolher o fracasso, não passarei de um pobre louco que um dia sonhou em ser escritor. As pessoas vão ter pena de mim. Se eu escolher o medo, nunca crescerei nem serei conhecido pelo mundo. Poderei entrar num abismo sem fundo e me perder para sempre. Se eu escolher a felicidade, poderei prosseguir no meu sonho e passarei para o segundo cenário.
Existem três opções: a porta da direita, a da esquerda e a do meio. Cada uma representa uma das opções: felicidade, fracasso ou medo. Tenho que fazer a escolha certa. Aprendi com o tempo a vencer meus medos: medo do escuro, medo de ficar sozinho e medo do desconhecido. Também não tenho medo do sucesso nem do futuro. O medo deve representar a porta da direita. O fracasso é consequência de um mau planejamento. Algumas vezes fracassei, mas isso não me fez desistir dos meus objetivos. O fracasso deve servir de lição para uma posterior vitória. O fracasso deve representar a porta da esquerda. Por último, a porta do meio deve representar a felicidade, pois o justo não se desvia nem para a direita nem para a esquerda. O justo é sempre feliz. Reúno as minhas forças e escolho a porta do meio. Ao abri-la, eu tenho amplo acesso a um salão e no teto está escrito o nome Felicidade. No centro há uma chave que dá acesso a outra porta. Realmente eu estava certo. Cumpri a primeira etapa. Restam-me duas. Pego a chave e experimento-a na porta. Serve perfeitamente. Abro a porta. Ela dá acesso a uma nova galeria. Começo a percorrê-la. Uma multidão de pensamentos percorre a minha mente: quais serão as novas armadilhas que devo enfrentar? A qual cenário dá acesso essa galeria? São muitas as perguntas sem respostas.
Continuo a caminhar e minha respiração torna-se rarefeita, pois o ar está cada vez mais escasso. Já percorri uns duzentos (200) metros e devo permanecer atento. Ouço um barulho e caio ao chão para me proteger. São pequenos morcegos que passam em disparada por mim. Será que eles vão chupar meu sangue? Serão carnívoros? Para minha sorte, elas desaparecem na imensidão da galeria. Vejo um vulto, e meu corpo estremece. Será que é um fantasma? Não. É de carne e de osso e vem preparado para lutar comigo. É um dos sacerdotes ninjas da gruta. Começa a luta. Ele é bem rápido e tenta me atingir num ponto vital. Tento escapar das suas investidas. Revido com alguns golpes que aprendi no cinema. A estratégia dá certo. Ele se assusta e se afasta um pouco. Ele contra-ataca com suas artes marciais, mas estou preparado para ele. Eu o atinjo em cheio com uma pedra que peguei da gruta. Ele cai desacordado. Eu sou totalmente avesso à violência, mas nesse caso foi estritamente necessário. Quero avançar ao segundo cenário e descobrir os segredos da gruta. Volto a caminhar e permaneço atento e vacinado contra novas armadilhas. A umidade do ar baixa, um vento sopra e permaneço mais reconfortado. Sinto as correntes de pensamento positivas enviadas pela guardiã. A gruta escurece ainda mais e se transforma. Um labirinto virtual se mostra à frente. Mais uma armadilha da gruta. A entrada do labirinto é perfeitamente visível. Mas onde estará a saída? Como entrar nele e não se perder? Eu só tenho uma opção: atravessar o labirinto e arriscar. Crio coragem e começo a dar os primeiros passos em direção à entrada do labirinto. Reze, leitor, para que eu encontre a saída. Não tenho nenhuma estratégia em mente. Penso que devo usar minha sabedoria para me safar dessa enrascada. Com coragem e fé, adentro o labirinto. Ele parece mais confuso visto por dentro do que por fora. As paredes são largas e revezam-se em ziguezague. Começo a lembrar dos momentos na vida em que me achei perdido como em um labirinto. O falecimento do meu pai, tão jovem, foi um golpe duro em minha vida. O tempo que passei desempregado e sem estudar também me deixou perdido como em um labirinto. Eu agora me encontrava na mesma situação.
Continuo caminhando e o labirinto me parece sem saída. Já se sentiu desesperado? Era assim que me sentia: totalmente desesperado. Por isso o nome: a gruta do desespero. Reúno as minhas últimas forças e me levanto. Preciso encontrar a saída a qualquer custo. Uma última ideia me bate. Olho para o teto e vejo inúmeros morcegos. Vou seguir um. Vou chamá-lo de bruxo. Um bruxo é capaz de se salvar em um labirinto. É disso que eu preciso. O morcego voa com bastante velocidade, e tenho que acompanhá-lo. Ainda bem que me considero quase um atleta. Vejo a luz no fim do túnel, ou melhor, no fim do labirinto. Estou salvo.
O fim do labirinto levou-me a um estranho cenário na galeria da gruta. Um cenário feito de espelhos. Caminho cuidadosamente em volta, pois tenho medo de quebrar alguma coisa. Vejo o meu reflexo no espelho. Quem sou eu agora? Um pobre jovem sonhador prestes a descobrir o seu destino. Eu pareço preocupado. O que significa tudo isso? As paredes, o teto, o piso, tudo é composto por vidro. Toco a superfície de um espelho. O material é tão frágil, mas reflete fielmente o aspecto da pessoa. Surge, num impulso, de três espelhos distintos, uma criança, um jovem segurando um caixão e um idoso. Todos eles sou eu. Será que é uma visão? Realmente tenho aspectos infantis, como a pureza, a inocência e a fé nas pessoas. Acho que não quero jogar essas qualidades fora. O jovem de quinze anos representa uma fase dolorosa na minha vida: a perda do meu pai. Apesar de sua rigidez e distanciamento, era meu pai. Ainda me lembro dele com saudades. O idoso representa o meu futuro. Como será? Estarei realizado? Casado, solteiro ou até viúvo? Não quero ser um velho revoltado ou magoado. Chega de ver essas imagens. Meu presente é agora. Sou um jovem de vinte e seis anos, licenciando em Matemática, escritor. Não sou mais uma criança nem o jovem de quinze anos que perdeu o pai. Também não sou um idoso. Tenho um futuro pela frente e quero ser feliz. Não sou nenhuma dessas três imagens. Eu sou eu mesmo. Com um impacto, os três espelhos dos quais os indivíduos surgiram se quebram e uma porta surge. Ela é meu ingresso ao terceiro e último cenário.
Abro a porta que dá acesso a uma nova galeria. O que me espera no terceiro cenário? Continuemos juntos, leitor. Começo a caminhar e meu coração acelera-se como se eu estivesse ainda no primeiro cenário. Eu já venci muitos desafios e muitas armadilhas e já me considero um vencedor. Em minha memória, vou buscar as recordações de outrora, quando eu brincava em pequenas grutas. A situação agora é totalmente diferente. A gruta é enorme e cheia de armadilhas. A minha lanterna está quase apagada. Continuo a caminhar e logo à frente surge uma nova armadilha: duas portas. As “forças opostas” gritam dentro de mim. É preciso fazer uma nova escolha. Vem à memória um dos desafios e como tive a coragem de superá-lo. Eu escolhi o caminho da direita. A situação é outra, pois estou dentro de uma gruta escura e úmida. Eu já fiz a minha escolha, mas também começo a lembrar das palavras da guardiã, que falou sobre o aprendizado. Eu preciso conhecer as duas forças para ter total controle sobre elas. Escolho a porta da esquerda. Abro-a vagarosamente com medo do que ela possa estar guardando. Abro-a e contemplo a visão: estou num santuário, cheio de imagens de santos e com um cálice no altar. Será que é o santo gral, o cálice perdido de Cristo e que dá a quem beber a juventude eterna? As minhas pernas tremem. Impulsivamente, corro em direção ao cálice e começo a tomá-lo. O vinho é de um gosto dos deuses. Sinto-me tonto, o mundo gira, os anjos cantam, e a terra da gruta treme. Tenho a minha primeira visão: vejo um judeu de nome Jesus, junto com seus apóstolos, curando, libertando e abrindo novas perspectivas para seu povo. Vejo toda a sua trajetória de milagres e de amor. Vejo também a traição de Judas, e o diabo agindo por trás dele. Por último, vejo sua ressurreição e glória. Escuto uma voz me dizer: “Faça o seu pedido”. Retumbante de alegria, eu exclamo: “Quero ser o vidente! ”

O milagre
Logo após o meu pedido, o santuário treme, enche-se de fumaça e vozes alteradas podem ser ouvidas por mim. O que elas revelam é totalmente secreto. Um pequeno fogo sobe do cálice e pousa na minha mão. A sua luz é penetrante e ilumina toda a gruta. As paredes da gruta se transformam e dão espaço a uma pequena porta que surge. Ela se abre e um vento forte começa a me empurrar de encontro a ela. Todo o meu esforço vem à minha mente: a dedicação aos estudos, o perfeito seguimento às leis de Deus, a subida da montanha, os desafios e a própria passagem na gruta. Tudo isso me trouxe um crescimento espiritual espantoso. Eu agora estava preparado para ser feliz e realizar meus sonhos. A tão temida gruta do desespero se via forçada a realizar o meu pedido. Não deixo de me lembrar também nesse momento sublime de todos aqueles que contribuíram para a minha vitória, direta ou indiretamente: minha professora primária, dona Socorro, que me ensinou as letras, os meus mestres da vida, os meus companheiros de estudo e de trabalho, os meus familiares e a guardiã, que me auxiliou a vencer os desafios e a própria gruta. O vento forte permanece me empurrando de encontro à porta, e logo estarei no interior da câmara secreta.
A força que me empurrava finalmente cessa. A porta se fecha. Vejo-me numa câmara demasiadamente larga, alta e escura. Do lado direito, encontram-se uma máscara, uma vela e uma Bíblia. Do lado esquerdo, uma capa, um bilhete e um crucifixo. No centro, no alto, um interessante aparelho circular de ferro. Caminho em direção ao lado direito. Uso a máscara, pego a vela e abro a Bíblia numa página aleatória. Caminho em direção ao lado esquerdo. Visto a capa, escrevo o meu nome e codinome no bilhete e seguro o crucifixo com a outra mão. Caminho em direção ao centro e me ponho exatamente abaixo do aparelho. Pronuncio as sete letras mágicas: v-i-d-e-n-t-e... Imediatamente, um círculo de luz é emitido pelo aparelho e me envolve completamente. Sinto o cheiro do incenso que é queimado todos os dias em memória dos grandes sonhadores: Martin Luther King, Nelson Mandela, Teresa de Calcutá, Francisco de Assis e Jesus Cristo. O meu corpo vibra ao começar a flutuar. Os meus sentidos começam a ser despertados e com eles sou capaz de reconhecer os sentimentos e as intenções mais profundas. Os meus dons são fortalecidos e com eles sou capaz de realizar milagres no tempo e no espaço. O círculo se fecha cada vez mais, e todo sentimento de culpa, intolerância e medo é apagado da minha mente. Estou quase pronto. Uma sequência de visões começa a aparecer e me deixa confuso. Finalmente o círculo se apaga. Num instante, uma sequência de portas é aberta e, com meus novos dons, eu posso ver, sentir e ouvir perfeitamente: gritos de personagens querendo se manifestar, tempos e lugares distintos começam a parecer e questões significativas começam a corroer o meu coração. O desafio do vidente está lançado.

A saída da gruta
Com tudo cumprido, restava-me agora sair da gruta e proceder à minha verdadeira viagem. O meu sonho estava realizado e agora faltava colocá-lo em prática. Começo a caminhar e em pouco tempo deixo para trás a câmara secreta. Creio que nenhum outro ser humano terá o prazer de entrar nela. A gruta do desespero nunca mais será a mesma depois que eu sair dela vitorioso, confiante e feliz. Volto a penetrar no terceiro cenário: as imagens dos santos permanecem intactas e parecem estar felizes com a minha vitória. O cálice está levemente caído e seco. O vinho estava delicioso. Caminho calmamente em volta do terceiro cenário e sinto a atmosfera do lugar. Realmente é sagrada, assim como a gruta e a montanha. Começo a gritar de felicidade e o eco produzido se estende por toda a gruta. O mundo não será mais o mesmo depois do vidente. Paro, repenso e contemplo a mim mesmo em todos os sentidos. Com um último beijo de despedida deixo o terceiro cenário e volto para a mesma porta da esquerda que escolhi. O caminho do vidente não será fácil, pois terá o desafio de controlar totalmente as forças opostas do seu coração e ensiná-lo aos outros. O caminho da esquerda, que foi a minha opção, representa o conhecimento e o contínuo aprendizado, as forças ocultas, o arrependimento ou a própria morte.
A caminhada torna-se exaustiva, pois a gruta é muito extensa, escura e úmida. O desafio do vidente pode ser maior do que eu penso: desafio de conciliar corações, vidas e sentimentos. Isso não é tudo: ainda tenho de cuidar do meu próprio caminho. A galeria torna-se estreita e com ela também meus pensamentos. Vem à tona a saudade de casa, da Matemática e da própria vidinha. Enfim, saudades de mim mesmo. Apresso os passos e logo estou no segundo cenário. Os espelhos quebrados representam agora as partes da minha mente que foram preservadas e ampliadas: os bons sentimentos, as virtudes, os dons e a própria capacidade de reconhecer quando se erra. O cenário de espelhos é o reflexo da minha própria alma. Esse autoconhecimento, eu vou levar para a vida inteira. Ainda estão guardadas na memória a figura da criança, a do jovem de quinze anos e a do idoso. São três das minhas muitas faces que vou preservar, pois elas são minha própria história. Despeço-me do segundo cenário e com ele deixo minhas lembranças.
Estou na galeria que conduz ao primeiro cenário. A minha expectativa de futuro e minha esperança estão renovadas. Sou o vidente, um ser evoluído e especial, destinado a fazer muitos corações sonharem. O período pós- gruta servirá de treinamento e aperfeiçoamento de habilidades preexistentes. Ando um pouco mais e já consigo vislumbrar o labirinto. Esse desafio quase me destruiu. A minha salvação foi o bruxo, um morcego que me auxiliou a encontrar a saída. Agora eu não preciso mais dele, pois com os meus poderes de vidente posso facilmente passar por ele.
Eu tenho o dom da orientação em cinco planos. Quantas vezes não nos sentimos como se estivéssemos perdidos em um labirinto: quando perdemos o emprego; quando decepcionamos o grande amor de nossas vidas; quando desafiamos a autoridade de nossos superiores; quando perdemos a esperança e a capacidade de sonhar; quando paramos de ser aprendizes da vida; quando perdemos a capacidade de dirigir o nosso próprio destino.
Lembre-se: o universo predispõe a pessoa, mas é ela que tem de correr atrás e mostrar que é digno. Foi o que eu fiz. Subi a montanha, realizei três desafios, entrei na gruta, venci suas armadilhas e cheguei ao meu destino. Ultrapassei o labirinto, e isso não me faz tão feliz, pois já venci o seu desafio. Eu pretendo buscar outros horizontes. Já caminhei uns 3 mil metros entre a câmara secreta, o terceiro e o segundo cenários e com isso sinto-me um pouco cansado. Sinto o suor escorrendo, a pressão do ar e a baixa umidade. Aproximo-me do ninja, o meu grande adversário. Ele me parece ainda desacordado. Sinto tê-lo tratado daquela forma, mas estavam em jogo o meu sonho, a minha esperança e o meu destino. O homem tem que tomar decisões importantes em situações importantes. O medo, a vergonha, as regras morais só atrapalham em vez de ajudar. Acaricio o seu rosto e tento restabelecer a vida em plenitude em seu corpo. Eu ajo assim, pois já não somos adversários, mas sim companheiros de episódio. Ele se levanta e com um comprimento ninja me felicita. Tudo ficou para trás: a luta, as nossas “forças opostas”, o idioma diferente, os objetivos distintos. Vivemos uma situação diferente da anterior. Podemos conversar, nos entender e quem sabe ser amigos. Cumpro assim o seguinte ditado: Faça do seu inimigo um ardoroso e fiel amigo. Por fim, ele me abraça, despede-se e me deseja boa sorte. Eu retribuo. Ele continuará fazendo parte do mistério da gruta, e eu, do mistério da vida e do mundo. Somos “forças opostas” que se encontraram. É esse o meu objetivo neste livro: reunir as “forças opostas”.
Continuo caminhando na galeria que dá acesso ao primeiro cenário. Eu me sinto confiante e totalmente tranquilo, diversamente de quando entrei na gruta. O medo, o escuro e o imprevisto me atemorizavam. As três portas que significavam felicidade, medo e fracasso me ajudaram a evoluir e entender o sentido das coisas. O fracasso representa tudo aquilo de que fugimos sem saber por quê. O fracasso deve sempre ser um momento de aprendizado. É nesse momento que o ser humano descobre que não é perfeito, que o caminho ainda não está traçado e é o momento de reconstrução. É isso que devemos fazer sempre: renascer. Vejam o exemplo das árvores: elas perdem as folhas, mas não a vida. Sejamos como elas: metamorfoses ambulantes. A vida exige isso. O medo é presente sempre que nos sentimos ameaçados ou subjugados. Ele é ponto de partida para novos fracassos. Supere seus medos e descubra que ele só existe em nossa imaginação.
Eu já percorri uma boa parte da galeria da gruta e, nesse exato momento, ultrapasso a porta da felicidade. Todos podem ultrapassar essa porta e se convencer de que a felicidade existe e é alcançada se estivermos completamente em sintonia com o universo. Ela é relativamente simples. O operário, o pedreiro, os serventes são felizes ao realizarem o seu mister. O agricultor, o canavieiro, os boiadeiros são felizes ao recolherem o produto dos seus trabalhos. O professor, em ensinar e aprender. O escritor, em escrever e ler. O padre, em proclamar a mensagem divina, e os menores carentes, os órfãos, os mendigos, ao receber uma palavra de carinho e afeto. A felicidade está dentro de nós e espera continuamente para ser descoberta. Para sermos realmente felizes, devemos esquecer o ódio, as intrigas, os fracassos, o medo e a vergonha.

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