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Guerreiro Místico
Brenda Trim
Depois de sofrer um século de torturas e humilhações, Jace ainda carrega as cicatrizes que deixaram seu coração fechado para o amor e para a aceitação. Ele escapa das paredes da prisão, mas percebe que está misticamente ligado ao seu algoz. Acreditando que não merece uma Companheira Predestinada, ele mantém distância das mulheres. Famoso por ser um guerreiro equilibrado, seu controle é levado ao limite quando ele conhece a irmã da rainha vampira.
Não apenas sua paciência é testada por Cailyn, mas suas habilidades como feiticeiro são desafiadas quando ele luta para salvar a alma mortal dela. Cailyn fica instantaneamente enfeitiçada pela alma sofrida que entrevê nas profundezas cintilantes dos olhos cor de ametista de Jace. A atração é tão forte que força Cailyn a questionar o rumo da vida que havia planejado com outra pessoa. Sua trivial vida humana é abalada por um violento acidente de carro, um feitiço de fadas, expedições aos pântanos e batalhas com demônios. Em meio ao caos, o vínculo crescente entre ela e Jace se fortalece, mostrando que o desejo que um sente pelo outro é inegável. De uma coisa Cailyn está certa, ela deve ajudar Jace a explorar a profundidade de suas cicatrizes, para superar as feridas de seu passado atormentado e encontrar um futuro… poderia ser com ela?

Translator: Regina Barbuto


Guerreiro Místico

Contents
1. Dedicatória (#u874fb8f9-29ae-594a-bb09-cf536c8bedbd)
2. Capítulo Um (#uf513f5b5-18f2-58ea-bedf-09592953be19)
3. Capítulo Dois (#u804d9dfd-80a7-56f2-824e-867de6917eb6)
4. Capítulo Três (#u5e8abe9b-5fae-528c-99f9-e225ebf8418c)
5. Capítulo Quatro (#u187b5311-36a1-5a41-aeda-b1ebc3f6cf63)
6. Capítulo Cinco (#ue6eb4e92-f3ee-55b8-977a-5576fb8a8bbf)
7. Capítulo Seis (#u534b8f9a-c9a8-55c8-8da2-630fa1e1600a)
8. Capítulo Sete (#uac785047-54f4-501e-9e04-2f5db704ddda)
9. Capítulo Oito (#u3e588813-0022-52c0-8009-8c7d77d9592e)
10. Capítulo Nove (#uccc4385a-a15f-5560-a59f-0e307edd32fc)
11. Capítulo Dez (#u270dde44-4dc2-507e-9330-3353d6327011)
12. Capítulo Onze (#u3e27113b-682a-5a7c-b6f7-79c628e43f26)
13. Capítulo Doze (#u23626162-be92-5bf4-aede-67403ebe3872)
14. Capítulo Treze (#u2e6ffaea-0d1c-545c-84ee-63098a3594e9)
15. Capítulo Quatorze (#ue0be5f39-90f4-5493-876f-cc59c3ad2351)
16. Capítulo Quinze (#u8160d3c6-1524-5dd7-8f0d-3185e245fc7e)
17. Capítulo Dezesseis (#ud1e018df-506e-5171-bcf5-fac88dc2bde0)
18. Capítulo Dezessete (#ufc2a0453-9e99-5c04-be8d-bdf72ca09e4d)
19. Capítulo Dezoito (#ubf4d5b35-887c-58fd-a7e2-fde7cee90a84)
20. Capítulo Dezenove (#u6a0f78d6-673f-5db8-a148-96d523ecd425)
21. Capítulo Vinte (#uae4ebd68-4b2a-51bd-87a5-5fc7ae387c91)
22. Capítulo Vinte E Um (#u4d7d92b9-a26d-5e43-b53d-1736599a0c6a)
23. Capítulo Vinte E Dois (#u35b16457-ae55-5974-b2c9-030ab26f0315)
24. Capítulo Vinte E Três (#ub2735300-7eef-521d-af56-b9b81d8ab719)
25. Capítulo Vinte E Quatro (#uae681724-d173-5874-a1c7-b17e353be07a)
26. Capítulo Vinte E Cinco (#ucf6c9c34-2429-58d2-a8aa-d9bfe5cb8937)
27. Capítulo Vinte E Seis (#ua8f4e721-77ee-567d-b766-15a27bd97c99)
28. Capítulo Vinte Sete (#ub8653e95-92f1-57f1-b36c-e79ae8157935)
Epilogue (#u8851b2c8-7266-541f-b1b1-71d4ef15d00c)
29. Nota Das Autoras (#u1ed3133a-80e9-5c08-8992-2d2b911868b2)
Notes (#u5b61d74e-4a17-5d6a-b429-8dc677a2b5bb)
Este livro é um trabalho de ficção. Os nomes, personagens, lugares e incidentes são produtos da imaginação dos autores ou foram usados ficticiamente, e não devem ser interpretados como reais. Qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, eventos reais, locais ou organizações é mera coincidência.
Todos os direitos reservados. Com exceção das citações usadas em resenhas, este livro não pode ser reproduzido ou usado no todo ou em parte, por qualquer meio existente, sem a permissão por escrito dos autores.
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Dedicatória
Desde o primeiro dia, nossas maiores incentivadoras foram nossas mães e elas continuam a acreditar em nosso sonho. O amor e a devoção que elas nos dedicam são tão inesgotáveis quanto as bebidas energéticas que consumimos. Nós amamos vocês!
Queremos agradecer de todo o coração a todos os nossos leitores, que se juntaram a nós nesta emocionante aventura. Vocês apreciaram Guerreiro dos Sonhos o bastante para pedir o livro seguinte, então aqui está ele. Apertem os cintos, crianças!

Capítulo Um
— Obrigada por vir me buscar esta noite, especialmente a esta hora. Devo-lhe essa – murmurou Cailyn, enquanto abraçava a melhor amiga na calçada do lado de fora da retirada de bagagens, no Aeroporto Internacional de San Francisco.
— Sempre que quiser, você sabe disso. E obrigada por me deixar dirigir o seu carro, eu o adoro. É o carro mais legal que já dirigi e que poderei dirigir – brincou Jessie, enquanto mantinha o porta-malas aberto para Cailyn jogar sua bagagem ali dentro. – Então, como foi o casamento? E o mais importante, passou bons momentos ao lado do sexy Dr. Jace? – terminou a amiga, enquanto fechava o porta-malas. Cailyn ainda estava atordoada com o fato de Zander ter colocado alguns de seus Guerreiros das Trevas em ocupações humanas, para manter a existência dos sobrenaturais em segredo. Jace era um desses sobrenaturais disfarçados, um renomado médico de setor de emergência em Seattle. Mas, sem dúvida, não era como nenhum médico com o qual ela já havia consultado: mais parecia um modelo.
Pensando em Jace, um sorriso se insinuou na boca de Cailyn. Ela balançou a cabeça, foi até a porta do motorista e pulou no assento de couro macio. Pensou sobre a questão, enquanto colocava o carro em movimento e se afastava do aeroporto.
— Surpreendentemente, o casamento foi incrível… mágico. Elsie está muito feliz com seu escocês sexy – respondeu, por fim. Jessie já teria um colapso se soubesse que Zander era um vampiro, quanto mais que era o Rei dos Vampiros. Ela estava morrendo de vontade de lhe contar, mas algumas coisas você não pode confidenciar nem mesmo à melhor amiga, como por exemplo, que sua irmã foi transformada em uma vampira ao salvar sua vida, e que se uniu ao Rei dos Vampiros. – E você deveria ver a casa enorme em que esses caras vivem. Foi um cenário perfeito, com milhares de luzes cintilantes… parecia uma cena de conto de fadas. Como foram as coisas por aqui?
— Você não perdeu muita coisa. Fico contente por sua irmã estar feliz, depois de tudo o que ela passou quando Dalton foi assassinado. Não há ninguém que mereça ser feliz mais do que ela. Mas você, minha amiga, está evitando o verdadeiro problema. Rompeu seu noivado com John meses atrás por causa de sua atração por esse médico. Agora, desembucha, MacGregor.
Cailyn deu um suspiro exasperado. Adorava Jessie, mas desejava que ela não fosse tão persistente. Não tinha nenhuma vontade de falar sobre Jace. Os mais ínfimos pensamentos sobre ele lhe causavam uma excitação tão intensa, como nunca havia experimentado antes por ninguém, nem mesmo quando estava no auge da paixão. Então, havia essa atração inexplicável, puxando-a na direção dele. Seus estranhos e impressionantes olhos cor de ametista a atraíam, como uma mariposa para a chama.
A partir do momento em que Jace entrou no apartamento de Elsie, Cailyn sentiu-se cativada por ele, o que a surpreendeu. Normalmente, essa espécie de homem, usando uma trança longa e uma grande pulseira de prata, não fazia o seu tipo. A combinação a fazia pensar em um homem afeminado, mas certamente não havia nada de afeminado em Jace. Ele era todo força masculina, e um bravo guerreiro até a alma. Ela nunca esqueceria a batalha violenta que destruiu o Clube Confetti, onde ele empunhava as armas com exímia precisão.
Ela se viu no meio de uma guerra sobrenatural, e ficou extremamente apavorada, mas a maneira como Jace se movia tão fluidamente, lutando com confiança e vigor, fez seu coração bater forte por diferentes razões. Ela se lembrou de como ficou ali, incapaz de fazer qualquer coisa para ajudar ou se defender. Estava fora do seu elemento. Por um lado, sentia-se horrorizada com o sangue e a violência, e queria correr e se esconder; porém, por outro lado, estava cativada e encantada por aquele guerreiro místico. Desnecessário dizer que a situação lhe provocou uma grande perturbação.
Como Jessie havia dito, aquela atração implacável, além da confusão em que se via, a fizeram desistir de seu noivado com John meses antes. Os pensamentos sobre John criavam uma culpa terrível, mas familiar. Ele era atraente, atencioso, leal e compreensivo, tudo o que ela queria em um marido. Era ridículo desejar Jace. Afinal, havia muitos homens bonitos no mundo. Sem mencionar que Jace apenas a via como a irmã mais velha de Elsie.
Ela olhou pelo espelho retrovisor para a estrada escura e vazia atrás dela, pensando em como responder a Jessie.
— Não passei nenhum tempo sozinha com ele. Foi uma viagem curta e ele ficou no hospital quase o tempo todo. Poderia dizer que praticamente dancei com ele na recepção do casamento. Bem, estávamos todos juntos em um grande grupo, mas ficamos tão próximos um do outro que nos tocamos várias vezes e o calor entre nós… – Cailyn parou de falar, e seu corpo estremeceu ao se lembrar da ocasião.
— Como você conseguiu comparar seus sentimentos por John e por Jace, se você não passou nenhum tempo com ele? Achei que você fosse tentar apanhá-lo sozinho. – Jessie balançou as sobrancelhas para Cailyn, fazendo-a rir.
— Do jeito que você fala, até parece que é fácil. O que eu deveria fazer, ir até ele e arrastá-lo para o closet mais próximo? Olha, você sabe como essa situação toda me deixou confusa. Eu estava comprometida com John e o amo, mas não consigo parar de pensar em Jace. Honestamente, não confiei em mim mesma para ficar sozinha com ele. Meu corpo tende a ter mente própria no que diz respeito a ele.
— Preciso ver esse cara. Ele tem que ser abrasador para fazer com que você, a pessoa mais fiel que conheço, se questione. Pelo menos, finalmente contou à sua irmã que rompeu seu noivado com John?
— Não, não tive coragem para lhe contar. Era o grande dia dela e ela passou por tanta coisa nos últimos dois anos que merecia que tudo fosse perfeito. Se eu tivesse lhe contado, ela teria passado muito tempo se preocupando comigo. Eu lhe contarei, se for necessário. As coisas ainda podem dar certo, você sabe. – Ela odiava como sua voz soava tão insegura. Normalmente, não tinha problemas para tomar decisões, grandes ou pequenas. Aquilo era irritante.
Ela foi sincera, no entanto. Era possível que as coisas com John dessem certo. Ela e John ainda se falavam desde que ela terminou, e ele continuou tentando reconquistá-la. Ela se recusava a reatar com ele antes que seu desejo por Jace se extinguisse. Continuava dizendo a si mesma que a atração por Jace era uma fase, e que iria acabar. O problema era que sua atração era mais forte agora do que antes.
— Se você não quiser Jace, posso ficar com ele? Ele atende em casa? De repente, estou me sentindo mal – gemeu Jessie, inclinando a cabeça para trás sobre o assento, colocando as costas da mão sobre os olhos castanhos.
Normalmente, Cailyn teria rido, mas um ciúme ardente e cruel percorreu suas veias. Queria dar um soco na cara de sua melhor amiga, repetidas vezes. O que havia de errado com ela? Aquilo estava fora de controle. Precisava sair dos limites do carro. Estava perto de prejudicar sua melhor amiga. A viagem para seu condomínio em Potrero Hill iria ser longa naquela noite.
— Não, você não pode tê-lo – rosnou ela antes que pudesse se conter, arrependendo-se imediatamente de suas palavras. – Sinto muito, Jess. Perco um pouco a razão quando se trata de Jace. Lembre-se, eu quase arranquei os olhos de uma garota por beijá-lo. Se você tiver algum conselho sobre como resolver isso, sou toda ouvidos.
— Cai, você precisa parar de ser tão dura consigo mesma. Você fez a coisa respeitável e terminou com John, apesar do fato de que ainda o ama. Sei que nunca machucaria…
Uma rotação de motor chamou a atenção de Cailyn. Espiando em seus espelhos retrovisor e lateral, ela notou um grande utilitário escuro rapidamente se aproximando delas. Cailyn teve a sensação de que algo estava errado. A maneira agressiva do outro motorista fez o pânico se instalar.
O grande utilitário se aproximou, e ela percebeu que seu conversível não tinha chance contra a fera correndo em sua direção. E era óbvio que ele seguia direto para o carro dela. Seu coração acelerou, enquanto a adrenalina era despejada em seu corpo.
— Que diabos…? Qual é o problema deles? – Ela deixou escapar e mudou de faixa para sair do caminho.
— O quê?
— Aquele carro atrás de nós está bem em cima da minha traseira – respondeu ela, mostrando a tensão na voz.
Jessie se virou no assento.
— Eles mudaram de faixa também, para ficarem atrás de você. Estão nos seguindo?
Cailyn possuía a capacidade de ler as mentes das pessoas que estavam ao seu lado, e, apesar de ter passado a odiar esse poder, ela suspendeu as barreiras que erguera para proteger a mente e abriu a telepatia para os ocupantes do veículo atrás dela.
Ela se encolheu quando a maldade e a raiva cobriram sua mente como lodo de um pântano. Cailyn podia ler pensamentos humanos como um livro aberto, mas era difícil para ela ler a mente dos sobrenaturais. A confusão que estava captando lhe dizia que estava sendo seguida por seres sobrenaturais. As intenções dos ocupantes do utilitário estavam tingidas de malícia sombria, provocando-lhe arrepios na espinha. Ela tentou obter informações suficientes para saber o que estavam enfrentando, mas era difícil se concentrar devido ao medo cada vez maior.
Precisava se controlar, se queria que elas saíssem daquela situação com vida. Procurando sintonizar apenas nos ocupantes do utilitário e afastando todo o resto, ela se concentrou no motorista e finalmente captou algumas palavras desconcertantes: companheira, rei vampiro, Amuleto Triskele, Kadir, captura. Essas poucas palavras fizeram com que um nó se formasse no estômago. Aquilo estava conectado a Elsie e Zander, e ao desejo dos arquidemônios em possuir o Amuleto Triskele. Eles deveriam estar pensando que ela tinha informações ou, pior, planejavam usá-la para forçar Zander a desistir do amuleto. Isso significava um grande problema para ela e para Jessie.
Pisando fundo no acelerador, ela foi jogada no encosto do assento, enquanto o carro disparava. Olhou no espelho de novo e viu que havia conseguido colocar um espaço entre ela e o utilitário. Ela agarrava o volante com tanta força que os nós dos dedos estavam brancos. Sua vitória durou pouco, pois o motor de seu perseguidor rugiu e uma verificação rápida lhe disse que o veículo estava se aproximando. Estavam enrascadas.
— Segure firme no assento, Jess. Eles estão atrás de nós – aconselhou, olhando ao redor para as casas agrupadas de South San Francisco, em busca de uma rota de fuga. A última coisa que desejava era levar tal perseguição aos subúrbios e colocar pessoas inocentes em perigo. Pensou em ir à polícia, mas rejeitou a ideia de imediato. Os indivíduos que as perseguiam não eram humanos e a polícia seria ineficaz contra o poder deles. Tendo visto a violência no mundo de Zander pessoalmente, sabia que nenhum humano seria capaz de protegê-la, nem proteger Jessie.
— Por que estariam nos perseguindo? Você reconhece o veículo? – O tremor na voz de Jessie a fez querer tranquilizar a amiga e lhe dizer que tudo ficaria bem, mas sabia que era mentira. Cailyn não fazia ideia do que iria acontecer.
Um choque, seguido pelo som de metal sendo amassado, interrompeu sua resposta assim que foi atingida na lateral. O volante deu uma guinada e ela tentou desviar, mas eles conseguiram empurrar seu carro, forçando-a a sair da rodovia. Ela percebeu o motivo, quando viu as placas para o Parque Estadual San Bruno. Era o lugar mais próximo do nada para onde eles poderiam levá-la, estando no meio da cidade.
Com o canto do olho, ela viu que Jessie havia se virado no banco do passageiro e que seus olhos estavam arregalados, olhando, boquiaberta, para o carro atrás delas. Ela se perguntou se Jessie viu os olhos com anéis vermelhos ou as presas dos homens. Achou que não, já que Jessie não estava aos berros.
Ao abrir a boca para dizer a Jessie para ligar para Elsie, Cailyn viu duas criaturas que haviam assombrado seus pesadelos por meses. O choque e o horror a percorreram, quando percebeu Azazel e Aquiel a poucos metros, na frente de seu carro. Azazel era um arquidemônio aterrorizante, que trabalhava para o demônio braço-direito de Lúcifer, Kadir, que queria o Amuleto Triskele de Zander para libertar Lúcifer do inferno. Aquiel era uma fada do sexo masculino, lindo, mas perigoso, que ajudava os demônios. Aqueles sobrenaturais juntos significavam graves problemas para Cailyn e Jessie. O fato de eles a terem encontrado, e claramente acreditarem que ela era uma forma de obter o amuleto, a aterrorizou.
Ela sentiu o medo a engolfar ao perceber a intenção maliciosa nos rostos atraentes. Os olhos vermelhos de Azazel brilhavam de raiva, e os prateados de Aquiel, de expectativa. O coração dela despencou ao examinar a área, buscando uma saída, e não encontrou nada além de árvores e arbustos verdes. Estavam bem fora dos subúrbios, o que significava que ela e Jessie teriam que enfrentá-los sozinhas.
O utilitário se posicionou ao lado dela, ameaçando bater no seu carro de novo.
— Não há nenhum lugar para ir, Jess – ela deixou escapar. Pisar no acelerador não lhes adiantaria nada. O som dos carros colidindo ecoou antes que seu corpo fosse jogado para a direita. Ela lutou para manter o controle do volante, determinada a não ser jogada para fora da estrada. Cerrou os dentes, enquanto segurava o volante.
— Vão nos matar! Oh, Deus. Cuidado, Cai! – gritou Jessie.
O som cortante de metal se fez ouvir, e ela sentiu ser sacudida no assento assim que jogou o carro o mais forte que pôde sobre o outro. Cailyn perdeu o controle do volante e, à medida em que sentia a gravidade a deixar, não conseguia mais dizer para onde subia. Quando o carro capotou, o vidro se estilhaçou e o ar entrou pela janela quebrada, fazendo o vento bater em seu rosto. Um estalo alto foi seguido por uma dor terrível na perna direita. O membro queimava, engolfado por uma dor aguda. Sem olhar, ela soube que havia quebrado um osso.
Jessie gritou e, apesar do fato de ambas estarem usando cintos de segurança, foram jogadas de um lado para o outro dentro do veículo. A bolsa de Cailyn bateu em seu rosto, e, antes que soubessem o que estava acontecendo, seus corpos foram lançados para frente, enquanto o carro batia em algo sólido. Os airbags frontais explodiram, tirando o fôlego de seus pulmões. Ela se sentia como um hematoma gigante da cabeça aos pés.
O carro caiu sobre o teto, enviando uma chuva de destroços ao redor delas. O som de vidro caindo no pavimento era o único barulho depois daquilo. Cailyn rezou para que o teto duro não desabasse e esmagasse as duas. Um olhar pelo para-brisa com rachaduras lhe disse que haviam batido em uma árvore. O som de pneus cantando significava que não tinham tempo a perder. O utilitário, cheio de escaramuças, as alcançou. Ela não fazia ideia se o arquidemônio e a fada ainda estavam na estrada ou não. O medo lhe proporcionava um gosto amargo na boca enquanto ela se preparava para morrer. Não tinha meios para combater aquelas criaturas poderosas.
Precisavam de ajuda. Sua telepatia nunca permitiu que ela se comunicasse com outras pessoas, mas precisava tentar. Expandiu a mente e gritou um pedido de socorro para qualquer um que estivesse perto o suficiente. Implorou para que alguém enviasse a polícia, o corpo de bombeiros, qualquer coisa, para distrair seus perseguidores. Já não conseguia se preocupar com quem mais estaria envolvido. Estava desesperada para que ela e Jessie sobrevivessem àquilo.
Por falar em Jessie, havia apenas silêncio no assento ao lado dela. Estaria viva? Aterrorizada com o que veria, olhou para ver o sangue pingando da têmpora de Jessie no longo cabelo loiro platinado. Com a mão trêmula, sentiu o pulso dela. Estava fraco, mas estava lá, graças a Deus.
O farfalhar de folhas e galhos estalando chamaram sua atenção. Do lado de fora da janela do passageiro, viu o demônio em suas botas de combate pretas se aproximar de seu veículo.
— Jessie, acorda, precisamos sair… – gritou, quando uma faca cortou seu cinto de segurança e alguém agarrou seu cabelo, arrastando-a para fora do carro. Esticando o pescoço, viu que Aquiel a segurava com firmeza.
Quando Azazel arrancou Jessie do carro, ela gritou:
— Deixe-a em paz! Ela não tem nada a ver com isso.
— Infelizmente para ela, agora tem – debochou Azazel. Jessie choramingou e gritou. Jessie havia voltado a si e seus olhos estavam arregalados de medo. Cailyn teria preferido que Jessie permanecesse inconsciente e alheia ao perigo que corriam.
— O que quer? – perguntou Cailyn, distraindo o demônio enquanto se concentrava nos pensamentos e fragmentos de conversas que passavam por sua mente. Normalmente, ficava bombardeada e subjugada assim que erguia suas barreiras, mas estava longe o suficiente de uma área mais povoada, o que tornava mais fácil se concentrar no que estava acontecendo. Uma centelha de esperança acendeu quando ela ouviu o nome de Zander, acompanhado por um senso de lealdade e dedicação. Quem quer que estivesse pensando em Zander respeitava o Rei dos Vampiros e ela rezava para que fossem seus Guerreiros das Trevas. Sabia que eles estavam por perto, mas alcançariam as duas a tempo?
— Você saberá em breve. Devo dizer que é bonita, princesa. Muito mais voluptuosa do que sua irmã, a Rainha – ronronou Azazel. Ela estremeceu quando ele correu um dedo em forma de garra ao longo da face de Jessie, enquanto segurava seu pescoço. Ela sabia que tudo o que ele precisava fazer era flexionar os dedos e acabaria com a vida de Jessie. Abriu a mente de novo e gritou seu pedido de ajuda.
— Quem é aquele que ouço vindo pelos arbustos? Mais brinquedos? – A náusea aumentou ao ouvir as palavras de Azazel. Ela amaldiçoou os sentidos sobrenaturais dele. Esperava que houvesse Guerreiros das Trevas vindo em sua direção, sobrenaturais que poderiam pegá-los de surpresa. Não queria morrer assim, e eles poderiam acabar com ela e Jessie em um piscar de olhos. Eles deveriam querê-las para alguma coisa, raciocinou. Caso contrário, estariam mortas. Ela teria que impedi-lo.
— O que quer comigo? Não tenho nada para lhe dar. Deixe-nos ir ou irá se arrepender. Os Guerreiros das Trevas estão a segundos de distância de nós – atreveu-se ela a dizer. – Você não vai se safar dessa – ameaçou.
— Ah, mas é aí que você se engana. Nós já nos safamos. Lance o feitiço agora, Aquiel. Vou cuidar da amiga dela – ordenou Azazel. Imediatamente, a fada começou a cantar em uma linguagem lírica e, à medida que seu corpo ficava pesado, Cailyn lutava contra o domínio que ele exercia sobre ela. Ela encontrou os olhos assustados de Jessie e viu suas lágrimas fluírem. Quando Azazel espalmou a mão sobre os seios da amiga, Jessie lutou contra ele. Cailyn gritou de raiva.
— Não, deixe-a em paz, seu bastardo doente! – Ela precisava se livrar das garras de Aquiel e ajudar Jessie. Tentou chutar, mas os pés pareciam estar presos em concreto. Errou o alvo por uma milha e sua perna quebrada queimou de dor. Ergueu o braço para empurrar a fada, mas ele também estava pesado. Ela se perguntou o que ele estava fazendo para tornar seus movimentos lentos e descoordenados.
Quando o demônio afundou as presas na carótida de Jessie, Jessie parou de lutar e ficou mole em seus braços.
— Não… Jessie! Não a machuque! – implorou Cailyn. Pontos piscaram em seu campo de visão e sua cabeça pendeu, enquanto ela gastava o resto de sua energia lutando e ouviu a voz irritante de Azazel.
— Ela será minha escaramuça mais bonita até agora.
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* * *
Jace fechou a porta da frente do Zeum e ouviu o som da voz frenética de Elsie no corredor, seguida pelo sotaque escocês grave de Zander. O complexo que os Guerreiros das Trevas de Seattle chamavam de lar estava em silêncio, exceto pelo rei e sua companheira. Jace correu para a sala de guerra e parou na porta. Elsie chorava, claramente aborrecida com alguma coisa.
— Zander, estou dizendo que Cailyn está em perigo. O arquidemônio e a fada vão machucá-la. Essa premonição foi diferente. Vi os eventos se desenrolarem, ao contrário de antes, quando apenas experimentei sentimentos de desgraça. Eles vão levá-la. Por favor, ligue – implorou Elsie. Ansiedade, raiva e um senso de urgência bombardearam Jace ao ouvir que Cailyn poderia estar em perigo. A ideia não lhe agradou, e ele não fazia ideia do motivo. Claro, era um médico e seu foco era curar pessoas, mas era algo que ia além disso e ele mal conhecia a mulher.
— Também vejo, a ghra. Aparentemente, agora compartilho suas premonições. Não se preocupe, farei tudo ao meu alcance para ter certeza de que ela está segura – prometeu Zander, pegando o celular e fazendo uma ligação. A magia por trás de um acasalamento surpreendeu Jace. Ele sabia que os Companheiros Predestinados compartilhavam quaisquer habilidades especiais que tivessem um com o outro, uma vez que o acasalamento estivesse consumado, mas nunca havia realmente visto, porque Zander e Elsie foram o primeiro casal acasalado em mais de setecentos anos.
— O que está acontecendo? – perguntou Jace, lembrando-se da primeira vez que conheceu Cailyn. Ficou imediatamente cativado. Não ficando excitado por mulheres, Cailyn inspirou-lhe uma excitação tão quente e dolorosa que ele perdeu o fôlego. A atração por ela não diminuiu nem um pouco ao longo dos meses. Na verdade, tornara-se mais forte. Na cerimônia de acasalamento de Zander e Elsie, foram necessários todos os seus anos de celibato para manter alguma distância. Só o fato de relembrar o rosto doce e curvas voluptuosas fazia seu corpo enrijecer.
O suspiro forte de Elsie interrompeu suas reminiscências.
— Eles estão com ela, Zander, faça alguma coisa – disse, frenética. O coração dele deu um salto e disparou de preocupação por Cailyn.
— Thane – vociferou Zander ao telefone –, onde você está? – O sotaque escocês de Zander se intensificava com a agitação.
Jace ouviu a voz de Thane ecoar do outro lado da linha.
— Estamos bem na saída do Parque Estadual San Bruno. O voo de Cailyn pousou cedo e estamos correndo para alcançá-la.
— Apresse-se. Minha companheira e eu vimos Aquiel capturar Cailyn. Faça o que for preciso para chegar até ela – ordenou Zander ao guerreiro.
— Sim, amo – respondeu Thane.
— Ligue-me quando a resgatar. E, Thane, o fracasso não é uma opção.
— Eles vão chegar a tempo? – exigiu Jace, depois que Zander encerrar a ligação com o Guerreiro das Trevas de San Francisco. Seu instinto protetor estava em alta. Como curador, o bem-estar dos outros sempre o motivou, mas aquilo era totalmente diferente. Não entendia o motivo, mas precisava chegar até Cailyn e protegê-la.
— Ela vai morrer? Pensei que ninguém sobrevivia sempre que você tem uma premonição assim – perguntou Jace a Elsie, mudando de assunto assim que o pensamento lhe ocorreu. Ele tremia e não conseguia imaginar a morte de Cailyn. Seu corpo estremeceu e era algo perturbador, para dizer o mínimo. Suas reações a Cailyn eram intensas e continuavam a confundi-lo.
— Minhas premonições mudaram – explicou Elsie. – Agora, consigo imagens dos eventos que irão ocorrer. Mais cedo, tive uma visão de Cailyn sendo perseguida por escaramuças que a tiravam da estrada. Então Aquiel a agarrou dos destroços do carro. Há uma urgência me atingindo que me diz que estamos em uma corrida contra o tempo.
Aquilo foi o suficiente para Jace. Aquiel havia provado ser uma criatura perversa, e as escaramuças eram antigos humanos transformados por um arquidemônio em irracionais máquinas de matar. O pensamento de Cailyn sendo machucada por qualquer um deles fez sua raiva se transformar em fúria.
— Ryker e Gage estão com Thane? – perguntou Jace sobre os outros Guerreiros das Trevas de San Francisco. Pelo que Elsie descreveu, Thane precisaria de ajuda.
— Sim, estão. Jax também está com eles. Eles começaram a patrulhar em grupos maiores com o aumento da atividade das escaramuças, e isso está a nosso favor esta noite – respondeu Zander, puxando Elsie para os seus braços.
— Por que ainda não ligaram? Essa espera está me deixando louca. Ela não pode se machucar – soluçou Elsie. Zander enxugou as lágrimas de seu rosto e a beijou com amor. Jace maravilhou-se pelo o quanto Zander era paciente com a companheira. Ele a segurou e confortou, em vez de destacar que fazia menos de um minuto desde que terminara sua ligação para Thane.
O pânico fazia com que Jace não conseguisse se sentar, e ele andava inquieto pela sala, de um lado para o outro. Estava com suficiente adrenalina percorrendo as veias para disparar até San Francisco. Faria qualquer coisa para chegar a Cailyn a tempo. Seus instintos de proteção estavam mais fortes do que nunca. Naquele momento, a alma de sua companheira se agitou em seu peito, fazendo-o se perguntar se era possível que Cailyn fosse sua Companheira Predestinada.
Ele descartou a ideia, sem pensar duas vezes. A Deusa nunca amaldiçoaria uma mulher tão celestial como Cailyn com um companheiro como ele. Ele não servia para ser um companheiro. Lady Angelica cuidara disso.
A linha principal tocou e Zander apertou o botão do viva-voz antes de Jace dar um passo.
— Guerreiros das Trevas – vociferou Zander.
— Aqui é Thane. Estamos no local do acidente. No momento em que saímos das árvores, o demônio zombou de nós, agarrou a fada e desapareceu. Estamos com as mulheres. A irmã da rainha está viva, mas ferida. A amiga dela tem uma óbvia mordida de demônio no pescoço. Como deseja que procedamos? Normalmente, deixamos as equipes médicas humanas assumirem o controle neste momento. Quer que chamemos uma ambulância?
Jace parou, petrificado, enquanto a ansiedade sobre Cailyn o dominava. Ficou aliviado ao ouvir que ela estava viva, mas saber que estava ferida fez seu coração despencar.
— Um hospital humano seria uma má ideia – deixou escapar, antes que alguém pudesse responder. — Acredite em mim, esta situação vai trazer muita atenção para o reino. Devemos cuidar disso nós mesmos. – Ele se virou para Zander, com a determinação o dominando. – Preciso ir até elas – declarou. Ninguém o impediria de ir até onde Cailyn estava.
— Concordo. O caminho mais rápido será o portal para Basketane – ressaltou Zander, referindo-se ao complexo de San Francisco. — Você acha que pode aguentar o dreno de energia? Não sabemos a extensão dos ferimentos delas.
— Farei o que for preciso para chegar até ela o mais rápido possível e vou curá-la… mesmo que isso me mate – prometeu Jace, ignorando os suspiros chocados e olhares questionadores.
— Envie uma mensagem para Gerrick e diga-lhe para retornar – disse Zander, poupando Jace de quaisquer explicações adicionais. Jace enviou uma mensagem para Gerrick e Killian, companheiros feiticeiros, antes de Zander terminar de falar. A resposta deles foi instantânea, fazendo com que Jace praguejasse, enquanto disparava outra mensagem.
— O que foi? – perguntou Zander.
— Eles estão a quinze minutos de distância. Vou ter que fazer isso sozinho. – Eles não tinham tanto tempo assim. Precisava chegar lá, naquele momento.
— Leve as mulheres de volta para Basketane – disse Zander, no viva-voz, sustentando o olhar de Jace, firme.
— Estamos levando-as agora e estaremos esperando por você – respondeu Thane.
— Estaremos aí em breve. Gerrick está a cinco minutos daqui e eles irão estabelecer o portal imediatamente após o retorno dele. Envie outra equipe para limpar a cena do acidente. Não queremos que as autoridades humanas se envolvam – instruiu Zander.
O suor escorria da testa de Jace e seu coração estava acelerado. Ouviu Zander confortar Elsie e os outros que haviam se juntado a eles discutirem aquela virada nos acontecimentos. Jace estava pior do que Elsie havia estado, buscando ouvir Gerrick ou Killian a cada dez segundos. Ficar sentado, esperando, não era algo que Jace sabia fazer bem. Precisava agir. Outra volta pela sala não ajudaria. No momento em que pensou que iria enlouquecer, Gerrick entrou pela porta da frente.
Jace correu para as portas duplas.
— Vamos, Gerrick. Você pode se atualizar a respeito mais tarde. Precisamos lançar um portal para Basketane. Agora! – retrucou, quando Gerrick não fez nenhum movimento para ajudá-lo.
— Minha irmã está ferida e precisamos chegar até ela – disse Elsie ao guerreiro mal-humorado na porta da sala de guerra.
Jace sabia que Gerrick odiava ouvir que uma mulher estava em perigo, o que não era surpresa, visto que sua companheira havia sido brutalmente assassinada séculos antes por escaramuças. Felizmente, as palavras de Elsie colocaram o guerreiro em ação. Com apenas os dois lançando o portal, isso consumiria toda a energia deles e os esgotaria, mas ele não podia esperar por mais ninguém.
Precisando consolidar sua magia, ele convocou seu bastão de feiticeiro do reino da Deusa. Uma luz branca e brilhante cintilou e então ele agarrou a familiar madeira de amieiro de seu bastão, e ouviu o zumbido adicional de poder irradiando até ele. A serpente que adornava o alto do bastão de dois metros e meio brilhava sob luz do teto. Jace respirou fundo para centralizar sua energia. Conseguiria fazer aquilo.
Ele olhou e viu que Gerrick havia convocado seu próprio bastão. Balançou a cabeça afirmativamente para o guerreiro, e eles começaram a cantar na língua antiga. Jace sentiu a magia crescer sob a pele. Luzes verdes, azuis e roxas, semelhantes às da aurora boreal, ondulavam ao redor deles. O poder aumentou até que Jace pensou que sua pele iria rachar. Com um olhar de soslaio para Gerrick, eles jogaram a magia no grande vestíbulo. Uma porta mística se formou e uma elegante sala de estar, com móveis antigos e painéis de madeira, tornou-se visível do outro lado do portal. Um aroma sensual de canela flutuou pela abertura.
O coração de Jace parou quando Jax entrou na sala de estar embalando Cailyn.

Capítulo Dois
— Cailyn, oh, meu Deus. Você está bem? – gritou Elsie e Cailyn virou a cabeça dolorida.
Elsie, Zander e Jace a olhavam. O seu coração acelerou ao ver Jace. Ele era tão sexy quanto ela se lembrava e estava ali, para salvá-la. A casa atrás deles lhe parecia familiar. Ela percebeu que um portal havia sido criado para chegar até ela e Jessie. A porta mágica parecia exatamente com aquela que os feiticeiros haviam criado na noite da festa de formatura da irmã. Era um lembrete terrível do momento em que fugiram da batalha com os demônios, do lado de fora do Clube Confetti.
Elsie correu até ela, murmurando palavras de conforto. Cailyn queria afastar a preocupação da irmã e tranquilizá-la. Odiava ver Elsie com medo ou infeliz. Não que sua irmã precisasse de garantias, agora que era uma vampira. Elsie havia mudado de muitas maneiras, além de apenas essa, desde que se tornara a Rainha Vampira. Sempre foi confiante e capaz, mas agora havia um poder em torno dela que exigia respeito.
A Deusa Morrigan havia escolhido com sabedoria, pensou Cailyn, quando escolheu Elsie para ser a companheira de Zander. Cailyn se lembrava de ter visto a Deusa na cerimônia de acasalamento da irmã. O curso de mitologia que tivera na universidade havia lhe ensinado que Morrigan era a deusa da guerra e da morte, mas Cailyn viera a saber que esse era um pequeno aspecto de sua divindade.
Era também a deusa do nascimento, tendo criado o Reino de Tehrex, junto com os sobrenaturais que ali moravam. Era estranho pensar que aquele reino coexistia com o dos humanos, na Terra. Elsie agora era uma parte vital desses sobrenaturais, mas velhos hábitos eram difíceis de superar, e Cailyn não achava que algum dia deixaria de ser mãe de sua irmãzinha.
— El. Vou ficar bem. Esses rapazes nos acharam a tempo – acalmou Cailyn, tentando mascarar a agonia.
Um baixo rosnado masculino a fez se virar nos braços de Jax. Incapaz de esconder o estremecimento que a dor lhe provocou, ela notou que Jace estava rapidamente se aproximando dela.
— Entregue-a a mim – exigiu Jace, com a raiva estampada nas feições masculinas.
A maneira gentil com que ele a tirou dos braços de Jax foi surpreendente, tendo em vista como estava irritado. Ainda assim, ela cerrou os dentes com a movimentação. Sentia como se um atiçador quente estivesse sendo enfiado nos músculos e ossos de sua perna, e sua cabeça estava matando-a.
— A ghra, sua irmã está segura. Devemos voltar pelo portal até Zeum para que Jace possa recuperar sua força e cuidar dela. Jace a colocará de pé e em boas condições em um instante. Pare de se preocupar. Vamos sair daqui – instruiu Zander enquanto Bhric, irmão de Zander, tirava Jessie de outro guerreiro.
— Jessie recuperou a consciência? – perguntou Cailyn ao Príncipe Vampiro. Ela estava apavorada de preocupação com a melhor amiga e nunca se esqueceria de ter visto o demônio mordê-la.
— Não totalmente. Jace, você precisa fazer algo por esta pobre moça. Ela está se contorcendo e gemendo. Aqui, vou levar Cailyn e você pode levá-la – respondeu Bhric.
— Infelizmente, Bhric, não há muito que eu possa fazer por Jessie agora. Essa marca de mordida no pescoço dela não é de uma escaramuça. É a mordida de um arquidemônio. Ela foi envenenada. O portal está a dez passos de distância. Leve-a e fique atrás de mim. O portal vai fechar rapidamente. Nosso poder está diminuindo e não podemos mantê-lo aberto por muito mais tempo – respondeu Jace, sem deixar de dar um passo.
Sua grave voz masculina abalou e acalmou Cailyn ao mesmo tempo. Ela só poderia descrevê-la como pura e primitiva. Ela fez seu corpo ganhar vida.
Cailyn aninhou-se mais para perto do peito quente dele, deliciando-se quando ele reagiu, agarrando-a com mais força. Estava certa em não querer ficar sozinha com ele. Estar tão perto dele confundia os pensamentos, o que não a ajudava a resolver o seu dilema.
Amava John, mas desejava Jace, e não via uma solução rápida e fácil para tais sentimentos. Em vez disso, forçou os pensamentos para um assunto mais fácil.
— O que há de errado com Jessie? O que ele fez com ela?
— Primeiro, diga-me o que aconteceu – respondeu Jace, enquanto continuava andando e carregando-a.
Ela olhou em volta enquanto pensava na melhor forma de resumir o que acabara de passar. Era incompreensível pensar que, com alguns passos, eles haviam pulado um Estado inteiro e ido de San Francisco a Seattle por meio de um portal mágico.
Cailyn ainda estava tentando entender tudo o que acontecia no Reino de Tehrex, que ela só havia conhecido alguns meses antes. Devido às próprias habilidades especiais, não foi difícil para ela acreditar que havia mais no reino, mas aquilo era algo completamente diferente.
O silêncio na sala era desconfortável e ela percebeu que um grande grupo de pessoas esperava sua resposta. Estava surpresa que alguns dos Guerreiros das Trevas de San Francisco tivessem ido a Zeum com eles e a olhassem com expectativa.
Ela se concentrou nos eventos da noite.
— Estávamos voltando do aeroporto e um utilitário cheio de escaramuças nos tirou da rodovia. Assim que nos isolaram, Azazel e Aquiel apareceram no meio da estrada. As escaramuças no carro me atingiram na lateral e perdi o controle do carro. Rolamos várias vezes antes de eu bater em uma árvore. Foi a coisa mais assustadora pela qual já passei – explicou Cailyn.
A memória fez as palmas de suas mãos suarem. Ela olhou para a amiga para se assegurar de que Jessie estava viva. Pequenos tremores sacudiam o corpo de Jessie, e Cailyn não achava que a amiga estava consciente do que acontecia ao seu redor, apesar de estar com os olhos bem abertos.
— Antes que pudéssemos sair do carro, a fada me agarrou e o demônio agarrou Jessie. – Cailyn lutou contra as emoções e piscou antes de continuar. – Ele a mordeu depois que ouviram vocês vindo nos salvar. Ele disse algo sobre ela ser uma de suas escaramuças, a mais bonita ou algo parecido. Tentei lutar e ajudá-la, mas a fada falou algumas palavras em uma língua estranha e não pude me mover. Não muito depois disso, eles desapareceram – concluiu Cailyn.
— O que exatamente a fada disse? – perguntou Jace, com a tensão envolvendo cada palavra dita.
A severidade em seu tom a surpreendeu. Ela presumiu que a raiva dele era dirigida à fada e ao demônio, não a ela. De qualquer maneira, parecia que ele poderia rasgar algo em pedaços.
— Não faço ideia. Não consegui entender o idioma. Pelo que sei, poderia ter sido chinês. Não importa o que falou agora. Quero saber o que está acontecendo com Jessie. Diga-me que ela vai ficar bem – implorou Cailyn.
— Preciso saber o que a fada falou. Fadas são capazes de lançar encantamentos que nenhum dos feiticeiros no reino sabe como contra-atacar – respondeu Jace, apertando-a mais contra si. – Quanto a Jessie, acredito que ela pode estar se transformando em uma escaramuça. E isso significa que estará sob a influência do arquidemônio que a transformou.
— Que maldita confusão – praguejou Zander. – Kadir e Azazel são ousados, mas não muito espertos, se acham que permitiremos rédeas soltas a esta escaramuça em nosso complexo. – Cailyn não gostou do que Zander dizia.
— Devemos dar um jeito nela agora, antes que seja um risco – acrescentou Gerrick.
Um pavor gelado percorreu a espinha de Cailyn.
— Ninguém vai dar um jeito em Jessie, a menos que seja para curá-la e fazê-la melhorar – disse, indignada com o que estavam insinuando.
Como podiam ser tão insensíveis ao falar sobre matar a sua amiga? Cailyn estava determinada a impedir que qualquer outra coisa acontecesse a Jessie. A amiga já havia passado por coisas demais por causa de Cailyn e pela conexão que esta possuía com aquelas criaturas. Cailyn se recusava a deixá-la passar por mais dor por sua causa. Ela se remexeu, tentando se aproximar de Jessie, mas Jace se recusou a deixá-la ir.
— Pare com isso. Cailyn, não temos ideia do que enfrentaremos quando ela acordar. Normalmente, as escaramuças são consumidas pela sede de sangue e matam quando se alimentam. Elas se alimentam de humanos e agora você é a única humana neste complexo – falou Jace, mantendo o olhar fixo nela.
A empatia e a tristeza refletidas nele apenas a irritaram mais. Ele já havia concluído que sua amiga também era um risco. Estava claro que ele concordava com a decisão de confiná-la e depois matá-la.
— Não posso acreditar que alguma vez pensei que vocês eram melhores do que a escória da humanidade. Nada disso é culpa de Jessie. Foram seus inimigos que fizeram isso, mas nenhum de vocês está disposto a lutar pela vida dela. Vocês estão tirando uma conclusão precipitada sobre a condição dela. Bem, eu me recuso a acreditar que não há esperança e não vou permitir que algo aconteça com ela – declarou Cailyn, desejando poder ficar de pé sozinha para assumir uma posição melhor. Doía ainda mais o fato de estar ferida e sem condições de defender melhor Jessie.
Zander colocou a mão gentilmente em seu ombro.
— Acalme-se, puithar. Ninguém vai machucá-la, mas tenho que dizer que, em todas as décadas de pesquisa, nossos cientistas não foram capazes de encontrar uma maneira de lidar com o veneno de escaramuça, muito menos reverter os efeitos de uma mordida de arquidemônio – explicou Zander.
A compaixão nos olhos dele disse a Cailyn que ele acreditava que Jessie precisaria ser morta. Não ia acontecer.
— Mas nós nunca vimos uma mulher transformar-se antes, também – acrescentou Jace. – Talvez o processo seja diferente com as mulheres. Olhe para o pescoço dela. A mordida tem tons de azul nas bordas, em vez de preto. O sangue dela ainda está vermelho e, pelo breve exame que fiz, suas ondas cerebrais estão ativas e normais, se não intensificadas. Agora, não fiz um exame completo, mas todas as indicações mostram que ela não está se transformando no mesmo padrão de uma escaramuça masculina, pelo menos não fisicamente – informou ele ao grupo, e o coração de Cailyn disparou. Talvez houvesse esperança, afinal.
Jace se virou para ficar de frente para Bhric e Jessie. Cailyn estendeu a mão e agarrou a mão mole de Jessie, odiando a forma como as contrações dela estavam mais pronunciadas.
Jace mudou Cailyn de posição nos braços e passou a mão pelo braço dela. Cailyn estremeceu, mas não com a dor pelo movimento que ele fez. Uma excitação intensa percorreu seu corpo com aquele leve toque. Ele instruiu Bhric a abrir a mandíbula de Jessie para que ele pudesse examinar os dentes.
— Os incisivos delas estão soltos, então acredito que vão crescer presas. A questão é: o que enfrentaremos quando a transição dela estiver concluída? – perguntou Jace.
Cailyn se recusava a acreditar que Jessie se transformava em um assecla demoníaco irracional.
— Não pode ser tarde demais para reverter a transição. Ela não está ciente do seu reino, ou de que os sobrenaturais sequer existem. E agora vai ter presas? Vai ter que beber sangue, pelo amor de Deus! – exclamou Cailyn, temerosa pelo que Jessie poderia enfrentar.
Mais uma vez, Cailyn se culpou pela condição da amiga. Se não tivesse pedido a Jessie para buscá-la no aeroporto, a amiga estaria dormindo, sã e salva, em sua cama. Naquele momento, ela se odiou por ser tão materialista a ponto de recusar a deixar sua Mercedes estacionada no aeroporto. Tudo parecia tão sem importância agora.
— Jace está certo, eles nunca transformaram uma mulher antes. Sempre presumi que as mulheres morriam se fossem envenenadas. Entendo sua preocupação por sua amiga, Cailyn, mas não posso permitir que ela vagueie livremente pela casa até que entendamos a situação melhor. É meu dever zelar pela proteção de Elsie e pela sua. Não colocarei nenhuma de vocês em risco desnecessário – ordenou Zander.
Cailyn notou a forma como Jace enrijeceu com as palavras de Zander, e estava curiosa para saber o motivo. Ela se perguntou se ele também se irritava com a supremacia do rei. Foi preciso que Cailyn se esforçasse muito para recuar e considerar o perigo que corria. Ela já havia visto o que uma escaramuça era capaz de fazer e não queria colocar ninguém nessa posição. Mas o que iriam fazer?
Enquanto Cailyn pensava em como proteger Jessie, ela observou a pele da amiga mudar diante de seus olhos. A textura suavizou e qualquer gordura que havia em seu corpo desapareceu, substituída por músculos. Aquilo não poderia ser boa coisa. Jessie poderia se tornar a ameaça que temiam. Jessie poderia arrancar a garganta de alguém e tirar a vida deles? A Jessie que Cailyn conhecia era muito bondosa e atenciosa para se transformar nesse ser. Mas ninguém entendia exatamente em que Jessie estava se transformando. Eles haviam admitido esse desconhecimento e Jace já percebera diferenças em Jessie. Isso não significava que Cailyn iria aceitar que Jessie fosse eliminada, e se recusava a ficar parada enquanto Zander ou Gerrick a matavam. Não, tinha que haver outra maneira.
— Nós podemos contê-la. O que precisamos descobrir é o que Kadir ganha com isso. Ele não pode estar planejando usá-la para nos prejudicar diretamente. Deve saber que não permitiríamos que ela vagasse livremente pelo complexo, o que significa que não haverá nenhuma oportunidade de procurar pelo amuleto. Ele aumentou a aposta pelo Amuleto Triskele, e assumiu riscos maiores do que qualquer arquidemônio antes dele. Simplesmente não vejo o que ele consegue com isso – contemplou Zander, passando a mão pelo cabelo. – Talvez ele espere criar dissensão entre nós. Veja como estamos discutindo sobre o assunto. Não vou permitir que isso cause uma divisão entre nós. Agora, mais do que nunca, precisamos permanecer unidos. As apostas estão mais altas do que nunca. Está claro que ele ainda está atrás da minha companheira. Nem ela nem Cailyn devem deixar o complexo sem proteção. Jace, envie o sangue de Jessie para os cientistas testarem e certifique-se de lhes dizer que essa é a prioridade mais alta. Devemos saber o máximo possível, o mais rápido que pudermos. Até então, ela ficará trancada na masmorra – ordenou Zander.
— Jessie não é um perigo que precisa ser trancado e não é cobaia de ninguém. É uma contadora de vinte e oito anos e tem importância – protestou Cailyn.
Jace agarrou o queixo dela entre o polegar e o indicador, forçando-a a encará-lo. Ela se viu presa pelo olhar cor de ametista por vários segundos. Algo cintilou entre eles, alimentando o fogo lento no ventre dela, apesar da dor excruciante que sentia.
Finalmente, ele quebrou o silêncio, fazendo-a perceber que todos na sala haviam se calado.
— Cailyn, temos que contê-la. Precisamos estudá-la para podermos ajudar. Ela está se transformando, sim, mas não posso dizer com certeza o que vai acontecer a seguir. Prometo-lhe que ela não será torturada ou machucada durante o teste – disse Jace para tranquilizá-la. Infelizmente, ocorreu exatamente o oposto.
A dor que brotou foi poderosa. Devido ao fato de ele estar agindo de forma tão protetora e por estar segurando-a tão perto, ela pensou que ele sentia algo por ela. No momento em que a tirou dos braços de Jax, a eletricidade percorreu os dois. Essa declaração parecia uma traição a tudo isso. Era ridículo se sentir assim, principalmente porque era impossível criar expectativas em tão pouco tempo. Ainda assim, a dor estava lá. Cailyn precisava manter a cabeça no lugar. Jessie e Elsie eram tudo para ela, e ela nunca se perdoaria se algo acontecesse a qualquer uma das duas.
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* * *
Tremendo incontrolavelmente, Jace temia deixar Cailyn cair caso não se acalmasse. Sentia-se se afogando na torrente de suas emoções. Estava impressionado com a beleza dela e, ao mesmo tempo, a excitação o percorria, queimando o seu corpo. A saliva se acumulava na boca e o estômago se agitava. Em silêncio, amaldiçoou a repulsa com que seu corpo reagia à excitação. Queria implorar à Deusa que lhe desse uma noite na qual não se sentisse mal e pudesse se dar ao luxo de satisfazer uma mulher. Deveria saber que, depois de sete séculos de náuseas, não iria experimentar mais nada.
Por sorte, convivia com a sensação por tempo suficiente para agir de modo bem normal. No entanto, isso não impedia a vergonha de ter o fogo percorrendo suas veias. Desejou ser um homem normal, em vez da concha destruída na qual havia se transformado.
Queria, mais do que tudo, ser capaz de se perder no corpo de uma mulher. Mas não qualquer mulher. Queria aquela, mais do que já havia desejado outra. Mas nunca procurou Cailyn porque se recusava a contaminá-la. As coisas nunca poderiam ir mais longe entre eles. Ninguém precisava viver com o inferno com o qual ele lidava noite e dia. Ainda assim, sentia-se atraído por ela como uma mariposa pela chama, e ficaria feliz se tivesse uma noite com ela.
Queria aqueles exuberantes lábios carnudos pressionados sobre os seus. Ou, melhor ainda, envolvendo seu membro dolorido. Podia imaginá-la de joelhos, lambendo a cabeça carnuda enquanto sorria para ele. E bem rápido ele enrijeceu como aço dentro das calças, certo de que o zíper iria se romper.
A fantasia que se desenrolava em sua cabeça fez com que olhasse para o belo rosto dela. Respirou fundo, inalando o aroma picante de canela. Sabia que seus olhos deviam estar brilhando, exibindo a excitação mais claramente do que sua ereção. Sentia-se incapaz de desviar os olhos e observou o olhar dela tornar-se cauteloso. Ela não fazia ideia do que seus olhos lhe diziam, mas não parecia estar com medo. Ele viu a curiosidade e o desejo que ela tentava esconder.
— Prometa-me que nada vai acontecer com ela. Mesmo que ela se torne uma irracional máquina de matar, que ninguém a machuque. E que você encontrará uma cura para o que aconteceu com ela – pediu Cailyn.
Jace admirou-se com a força e determinação dela, e soube que iria lhe prometer qualquer coisa.
— Farei tudo ao meu alcance para ajudar sua amiga, mas precisamos contê-la até que saibamos mais. Trabalhei em estreita colaboração com os cientistas durante séculos, mas este é um caso inédito. Precisamos de tempo – declarou.
— Eu, por exemplo, prometo que nada acontecerá sem o seu envolvimento, Cai – jurou Elsie, chamando a atenção de Cailyn.
— A ghra, não faça promessas que não pode cumprir – repreendeu Zander.
— Oh, mas posso manter esta promessa. Afinal, sou sua rainha. E você, meu rei, vai se certificar de que isso aconteça – disse-lhe Elsie docemente.
Jace observou a interação dos dois e sentiu um aperto no peito. Invejava a conexão deles. Nunca desejou que alguém lhe pertencesse, mas em algum momento nos últimos meses, começou a esperar por mais. Desde o momento em que conheceu Cailyn, sentiu algo mais do que uma admiração por uma bela e inteligente mulher. Deveria se lembrar que nunca teria uma mulher só dele. Não merecia.
— Obrigada, El. Sinto-me melhor sabendo disso – sussurrou Cailyn, com os olhos um pouco caídos. Aquela noite devia estar cobrando seu preço, e o corpo dela ainda estava ferido.
Sem pensar, ele se inclinou e roçou o nariz ligeiramente no de Cailyn. Seu olhar dirigiu-se logo para os lábios dela. Ela tinha um sinal no lado direito da boca deliciosa. Uma boca que ele queria desesperadamente provar. Ela suspirou, assustada, e ele se deteve antes de agir impelido por aquele desejo especial, procurando, com o olhar, o abismo cor de avelã dos olhos dela. De repente, ele percebeu que os olhos dela combinavam com os olhos da serpente em seu bastão. Mais uma vez ele se perguntou o motivo pelo qual aquela mulher havia entrado em sua vida.
A tensão na sala o lembrou de que não se encontravam sozinhos. Ignorando os olhares preocupados de Elsie e dos outros queimando suas costas, ele empurrou a porta para o que agora se tornara o quarto de Cailyn.
— Vamos cuidar de você e curá-la, certo? – perguntou Jace, enquanto tentava deitá-la na cama. Seus braços se recusaram a cooperar, puxando-a para mais perto do peito.
Com metade dos residentes do complexo o seguindo, aquele momento não era a hora de ceder ao desejo. Forçando os dedos a se abrirem, ele a deitou suavemente na cama. Ela estremeceu de dor e um leve brilho de suor cobria seu corpo. A pele ficou ainda mais pálida e ele sabia que ela estava com uma dor terrível, embora não emitisse nenhum gemido. Ele admirava a força dela. Até mesmo os guerreiros reclamaram quando ele precisou curar suas feridas. Aquela pequena mulher continuava a surpreendê-lo.
— Sinto muito. Vou tirar a sua dor e você vai ficar como nova – ele a tranquilizou, colocando o cabelo solto dela atrás das orelhas, precisando manter o contato.
Tocar naquela pele macia lhe dava uma sensação de alívio e o acalmava, ao mesmo tempo em que o deixava retesado como um tambor. Um desejo sombrio e insidioso se enraizava nele. Pela primeira vez na vida, ele precisava provar uma mulher, explorar o corpo exuberante e se perder em sua intimidade aquecida, e isso o assustava muito.
Jace odiava como suas mãos tremiam, nervosas, enquanto percorriam os braços dela, não decidido a curá-la e assim perder a desculpa para tocá-la. Ele segurou as mãos dela por vários momentos silenciosos antes de se concentrar na perna quebrada. Ela era tão macia e flexível sob suas palmas… Foi preciso um grande esforço para deixar a luxúria de lado e acessar sua habilidade de cura. Surpreendentemente, o poder chegou sem muito esforço em seus dedos, apesar da energia gasta na abertura do portal. Ele direcionou a magia para o corpo dela e seu sangue congelou ao sentir de repente uma explosão derrubando todos na sala. Ele se viu sendo lançado para longe dela, aterrissando bruscamente ao bater na parede.
— Que diabos aconteceu? – murmurou Cailyn, enquanto Jace se esforçava para voltar para o lado dela.
— Nada de bom. Lembra-se daquelas palavras que a fada entoou? Foi um feitiço que acabei de ativar – respondeu Jace, sério, enquanto os demais se levantavam, parecendo perplexos.
— Que tipo de feitiço? Você pode desfazer? – perguntou Cailyn, mostrando que a letargia claramente pesava sobre ela.
— Não faço ideia. O que eu não daria para ver o Grimório Místico aparecendo agora – refletiu Jace, mas ele percebia mais do que dizia. O medo se instalou em suas entranhas ao pensar no que poderia acontecer a Cailyn naquele momento.

Capítulo Três
Jace gemeu quando as costas caíram sobre a laje. Não havia nada para amortecer seu corpo ou protegê-lo do mármore gelado. Ele estremeceu de frio e náusea. Quanto tempo levaria até ela voltar? Por falar nisso, quanto tempo havia se passado desde que ela havia saído? O tempo não significava nada para ele. Não sabia quantos dias, meses ou anos haviam se passado desde sua captura, e se esqueceu de tentar decifrar se era de dia ou de noite, inverno ou verão.
— Deusa, maldita cadela – rangeu ele.
Algemas de metal enferrujado envolviam seus pulsos e tornozelos, ligadas a correntes que o prendiam ao altar de mármore. No início, ele orava dia e noite para ser libertado da prisão, mas a esperança de qualquer resgate ou fuga desapareceu com o tempo.
A água pingava do teto até um buraco raso no solo. Pela deusa, ele estava com tanta sede, daria qualquer coisa para poder beber algo. Mas isso fazia parte de sua tortura. Negue-lhe tudo, e ofereça comida, água ou um banho em troca do que ela queria. Ele se recusava a lhe dar qualquer coisa. Não que ele pudesse lhe dar o que ela desejava. Não tinha o livro e não sabia onde estava.
Jace abriu os olhos e olhou ao redor, para as paredes de pedra ásperas. Sem janelas, sem quadros. Nada o rodeava, além de pedras sem fim. Ele mal conseguia se lembrar da cor do céu ou do cheiro do ar livre. Enquanto seu corpo estremecia, ele tentou conjurar um fogo na palma da mão. Recitou o feitiço repetidas vezes, como havia feito milhares de vezes antes, mas nada aconteceu. A coleira atenuante em volta do pescoço garantia que isso acontecesse.
Ele puxou as correntes de novo, querendo se libertar e arrancar a coleira, mas não conseguiu movê-las nem um pouco. Ela o havia tornado tão fraco quanto um humano. Cada centímetro enferrujado e mofado da prisão havia sido reforçado misticamente por um dos feitiços dela.
Seu corpo enrijeceu e a bile subiu pela garganta quando o incenso de sândalo atingiu suas narinas. Ela estava chegando. Seu pênis tentou rastejar para dentro do corpo para escapar das garras dela. Se pudesse, teria cortado a maldita coisa. A raiva que sentia por sua situação aumentou e ele lutou mais uma vez.
Odiava o que ela fazia com ele, e seu corpo odiava ainda mais. Ele afastou o desespero, o ódio e a repulsa. Mostrar-lhe qualquer emoção apenas alimentava os desejos dela e piorava as coisas. A porta rangeu quando a madeira pesada foi empurrada para o lado por um dos adoradores dela. Jace parou, preparando-se para o que viria a seguir.
Lady Angelica deslizou pela porta com seu vestido cor de esmeralda. Com um aceno de mão e uma palavra, ela acendeu as tochas que revestiam a cela. Ele poderia passar muito bem sem ter que ver as feições perfeitas dela. A pele cor de cacau brilhava com saúde e esplendor. Ela era realmente linda, com cabelos castanhos escuros caindo bem no meio das costas, mas ele nunca tinha visto nada mais asqueroso.
— Olá, querido. Tirou uma boa soneca? – sussurrou, bem próximo ao ouvido dele. Ela passou a língua pela concha da orelha dele, enquanto as unhas arranhavam o seu estômago, forçando-o a se afastar do toque dela.
Ele olhou desafiadoramente para os olhos negros como a noite, recusando-se a responder. A pupila branca sempre o enervava, antecipando a natureza maligna dela.
— Não? Bem, terei o prazer de lhe fornecer uma cama bonita e macia. – Ela fez uma pausa esperando um efeito que se encontrava perdido nele. – Diga-me onde posso encontrar o livro.
Era a mesma música e dança que vinham fazendo, só a Deusa sabia há quanto tempo. Mais uma vez, Jace utilizou sua única arma. Silêncio. Isso a deixava louca e ele gostava disso.
— Odeio machucá-lo, querido. Diga-me onde está o Grimório Místico. Nós governaremos juntos – murmurou ela, enquanto esfregava o braço dele.
Que droga, ela adorava machucá-lo. Na verdade, ele estava certo de que ela atingia o orgasmo sempre que começava a torturá-lo.
— Quantas vezes tenho que lhe dizer que não sei onde está – proferiu ele antes que pudesse se conter. Não imaginava para onde o livro havia sumido quando seu pai foi morto e, mesmo que imaginasse, nunca diria àquela desgraçada onde estava.
Sua família havia sido encarregada de manter e proteger o Grimório Místico enquanto o reino de Tehrex existisse. O livro continha todos os feitiços de magia e as profecias do reino, bem como informações sobre os feitiços de outras criaturas. Estava magicamente conectado à linha de sangue de sua família, mas o livro decidia quem poderia acessá-lo e quando.
Ele não era um dos que tinha acesso a ele. Não podia contar quantas vezes, durante a prisão ele precisou do livro, mas não foi atendido em seu chamado. Estava convencido de que estava amaldiçoado. Essa era a única explicação de por que o livro se recusava a ajudá-lo. Ele o queria mais do que ela, mas por razões diferentes. Havia feitiços contidos no livro que ele poderia usar para quebrar os encantamentos colocados nas amarras.
Lady Angelica o esbofeteou, deixando sulcos de suas unhas. O sangue pingou em seu cabelo, grudando nos anos de fuligem e sujeira.
— Agora veja o que você me obrigou a fazer. Coopere e terá uma refeição de verdade esta noite. Vai ajudá-lo a curar esse rosto lindo.
Jace cuspiu na cara dela.
— Vai se arrepender disso, escravo – gritou ela.
Seu arrependimento foi instantâneo quando as palavras em gaélico do feitiço saíram dos lábios dela e a bile subiu até sua garganta. Ele vomitou o pão mofado com o qual havia sido alimentado na noite anterior, enquanto sentia o membro se encher de sangue e enrijecer contra sua vontade. Orou à Deusa pelo fim daquele tormento.
— Não, Angelica, não faça isso. Não tenho ideia de onde está o livro. Ele não vai me atender. Juro – afirmou ele, odiando como estava fraco e indefeso. Odiava ainda mais estar implorando a uma vadia sem coração.
— Hmmm, assim é melhor – ronronou ela, alimentada pelo som de seu desespero e a visão de sua ereção crescente. Ele fechou os lábios, recusando-se a lhe proporcionar mais prazer.
Ele ficou imóvel enquanto ela corria os dedos sobre seus testículos. Qualquer movimento e ela afundaria as garras em sua carne.
— Traga-me o óleo – ordenou a um criado.
Passos arrastados ecoaram, seguidos por um líquido escaldante derramado sobre seu peito e abdômen. As mãos de Angelica brincaram com o óleo, espalhando-o em seu corpo dominado. Ele não conseguiu evitar o estremecimento quando a mão dela rodeou seu membro. Foi recompensado com unhas cravadas sobre sua ereção. Infelizmente, o feitiço dela o impedia de desinchar. Ela subiu no altar com ele, montando em seus quadris. Novamente, Jace tentou acessar seus poderes e neutralizar os feitiços. Nada.
— Você não pode me recusar. Vamos tornar isso interessante. – Ela estalou os dedos e uma bengala foi imediatamente colocada na palma da sua mão. Ela rastejou até o rosto dele e colocou o sexo sobre sua boca fechada. Esfregando-se sobre a linha de seus lábios, ela desceu a bengala em sua ereção. Jace gritou de dor e ela atingiu o clímax em seu rosto. Ela adorava causar-lhe dor e humilhação. Ele desistiu de orar à Deusa para salvá-lo daquele inferno. Nunca conseguiria escapar.
Jace se ergueu de um salto, confuso e encharcado de suor, o coração batendo forte. Era impossível afastar o medo e a ansiedade, então ele se preparou para lidar com o que Angelica o forçaria a seguir. Procurando se orientar, ele olhou ao redor do quarto e viu Cailyn dormindo, com espasmos, na cama ao lado dele.
Quando a lucidez lhe atingiu, percebeu que era apenas um sonho. Não estava de volta à câmara de tortura. Graças à Deusa. Seu alívio durou pouco, pois a náusea o dominou e ele correu para o banheiro.
Ele se curvou sobre o vaso sanitário e vomitou, esfregando a pulseira de prata que estava no pulso. A pulseira de Draiocht aliviou seus nervos e acalmou o estômago revolto.
Jace odiava os pesadelos. Em seiscentos anos, eles ainda não o haviam deixado e ele raramente tinha uma noite inteira de sono. Não foi o suficiente que seu cativeiro lhe roubasse a capacidade de ter intimidade com uma mulher. Lady Angelica havia tirado tudo dele e continuava tirando.
Mais do que tudo, Jace queria uma vida normal. O problema era que ele não fazia ideia de como assumir o controle e tornar isso realidade. Ela havia cravado as garras e deixado o veneno ali, e não importava o que acontecesse, ele não conseguia extirpá-lo de seu corpo. Ele deu a descarga e lavou as mãos e o rosto antes de voltar ao quarto para ver que Cailyn ainda dormia.
Ele bloqueou as imagens do pesadelo e se lembrou do motivo pelo qual estava em um quarto com a mulher que vinha ocupando suas fantasias por meses. Olhou para o relógio e viu que havia dormido por algumas horas. Todos haviam seguido para os seus quartos para descansar, logo depois de seu insucesso em curar Cailyn. O fracasso ainda lhe doía. Ela sofria porque ele caiu direto na armadilha da fada.
Afastando a culpa, ele mandou uma mensagem para Bhric para ter certeza de que Jessie estava protegida nas masmorras. A resposta do guerreiro foi instantânea: a mulher dormia pacificamente em uma cela. Trancar a amiga aborrecia Cailyn, mas eles não tinham escolha, com tantas incógnitas. Pelo menos Jessie ainda estava viva.
Jace inclinou a cabeça, ouvindo os outros guerreiros. A casa estava quieta àquela hora do dia, com todos dormindo. Jace havia usado sua posição como médico e insistido que fosse ele a ficar ao lado de Cailyn, enquanto Elsie podia ter seu descanso do dia.
Foi difícil arrancar Elsie do lado da irmã, mas sendo uma recente vampira, Elsie precisava descansar durante as primeiras horas da manhã. Mais uma vez verificando rapidamente a hora, Jace viu que tinha mais algum tempo para ficar sozinho com Cailyn.
Jace foi até a cama e sentou-se ao lado de Cailyn, que estava longe de ter paz em seu sono. Ele pressionou os dedos no pulso dela e notou que o ritmo ainda estava acelerado. Levantando as cobertas, viu que a tala e as ataduras estavam bem ajustadas em torno da perna quebrada. Os hematomas e o inchaço aumentavam acima da bandagem. Sua capacidade de cura não resultou em nada, a não ser desencadear o feitiço daquela maldita fada. Seu polegar percorreu o pulso dela; em seguida, um ruído fez com que ele olhasse para o rosto dela. Ela se mexeu e as pálpebras se abriram.
— Oi, linda – murmurou ele.
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* * *
— Ei – resmungou Cailyn, engolindo em seco, tentando molhar a garganta ressecada. Sentia-se muito mais velha do que seus vinte e nove anos. – Preciso de um pouco de água – gemeu, tentando se sentar e alcançar o copo na mesa de cabeceira. Jace já estava ali, ajudando assim que ela esticou o braço.
— Deixe-me pegar. Você não pode se mover muito. Aqui, vamos deixá-la mais confortável – falou, enquanto empilhava travesseiros sob as costas dela. O braço dele passou por suas costas e Cailyn se inclinou no calor do peito dele, inalando o perfume masculino. Ele tinha cheiro de uma tempestade, forte e potente.
Em vez de se encostar nos travesseiros, ela permaneceu aninhada ao lado dele. Ela o sentiu enrijecer antes de relaxar, então retirou o braço e pegou um copo d'água para ela. Ele colocou o copo nos lábios dela.
— Obrigada – sussurrou ela, entre goles.
— Não beba demais. Não quero que você passe mal. Como está se sentindo? – perguntou ele enquanto passava a mão pela cabeça e pelo braço dela. Ela gostava um pouco demais da sensação do toque dele.
— Sinto como se tivesse sido atingida por uma bola de demolição algumas dezenas de vezes. Posso tomar um pouco de ibuprofeno para essa dor de cabeça?
— Deixe-me examiná-la primeiro. Preciso ter certeza de que não causaria mais danos do que benefícios. Vou desenfaixar sua perna e isso vai doer, mas quero ter certeza de que está estável – respondeu ele, enquanto se inclinava para trás e pegava uma caneta-lanterna da mesa de cabeceira.
Ela imediatamente sentiu falta do calor dele. Estar perto dele parecia natural e certo, como se ela pertencesse àquele lugar. Aparentemente, a dor a deixara sentimental.
Ele mudou de posição para ficar totalmente de frente para ela. Uma luz brilhante cintilou em seus olhos, fazendo-a estremecer e fechá-los com força.
— Argh, isso dói como o inferno – reclamou ela enquanto sua cabeça explodia e estrelas piscavam por trás das pálpebras fechadas.
Ela entreabriu os olhos quando a luz diminuiu de intensidade e notou que as belas feições dele estavam contraídas pela concentração, enquanto ele começava a medir sua pressão arterial. Algo estava errado. Ela tentou usar a telepatia, mas doía muito.
— O que há de errado? – perguntou ela.
Ele fez uma pausa, mas não disse nada. Terminando de medir a pressão arterial, ele puxou as cobertas.
O instinto a fez agarrar o cobertor para cobrir as pernas nuas. Ela devia se lembrar de que ele era um médico e vira muitas mulheres nuas. Cailyn não vestia grande coisa, uma vez que estava apenas com uma camiseta e calcinha, mas ainda assim corou até a raiz dos cabelos.
Ele parou seus movimentos e no momento em que suas peles se tocaram, e ela sentiu a eletricidade ser enviada direto para seu abdômen. O calor aumentou e ela se esforçou para evitar que se espalhasse mais baixo. Cailyn olhou nos olhos cor de ametista e percebeu que eles brilhavam, púrpuros. Lembrou-se de Elsie dizendo que os olhos de Zander brilhavam quando ele ficava excitado.
Saber que Jace estava tão afetado quanto ela fez com que fosse mais fácil deixá-lo continuar e permitir que a examinasse. Ele levantou a camisa e sondou seu estômago. O toque dele parecia mais íntimo do que qualquer exame médico que ela já havia feito.
— Sem fazer as imagens, não posso dizer com certeza o que está acontecendo, mas algo não está certo. Como disse esta manhã, você teve uma pequena concussão junto com hematomas, e sua perna quebrada – disse ele. enquanto colocava a palma da mão quente em seu estômago.
Ele ficou com a mão assim por vários e longos minutos. Cailyn sentiu o calor aumentar e pensou que a mão dele estava tremendo. Quando ela abriu a boca para perguntar se ele estava bem, Jace a rolou para o lado, explorando a área logo abaixo de sua caixa torácica. Ela ouviu o suspiro pesado e olhou para trás para ver uma expressão furiosa no rosto dele.
— Não gosto dessa expressão. Diga-me em que está pensando.
— Como eu disse…
Ela cortou o que certamente seria mais uma das trivialidades dele. Não precisava dele para protegê-la naquele momento. Sabia que algo estava errado.
— Não esconda nada de mim. Tenho o direito de saber. Além disso, não sou tão frágil a ponto de quebrar – interrompeu Cailyn.
Ele ergueu a mão e segurou o rosto dela. Automaticamente, ela se virou para a palma da mão dele e a beijou. Havia perdido a cabeça? Pelo jeito, sim, porque não conseguia impedir suas reações àquele homem.
— Você é frágil, muito frágil. Seu ferimento na cabeça piorou, quando deveria melhorar. Não posso dizer com certeza, mas acho que você pode estar com hemorragia interna. Seu fígado está ligeiramente aumentado quando apalpado. Nada disso deveria estar acontecendo. Além da perna quebrada, seus ferimentos no acidente não foram tão graves. Acredito que seja o feitiço e não faço a menor ideia de como quebrá-lo. E o que é pior, não conheço ninguém que possa ajudar – explicou Jace, e ela viu a frustração dele quando o vinco se aprofundou em sua testa.
Ela estendeu a mão e acariciou as linhas, ignorando o próprio medo. Queria tranquilizá-lo e não sabia o motivo. Era ela quem estava sob algum feitiço nefasto.
— Mas isso não significa que não haja uma maneira. Zander disse que iria ver a rainha das fadas. Com certeza ela vai ajudar, certo? – perguntou Cailyn.
Ele fechou os olhos e se inclinou ao toque dela. A esperança se instalou nela, afirmando-lhe que talvez ele gostasse dela.
— A rainha não é tipicamente sentimental ou prestativa, a menos que beneficie seu povo. Entregar segredos das fadas vai totalmente contra os princípios deles. Pedir-lhe ajuda é um tiro no escuro, mas é nossa única opção – disse Jace, rangendo os dentes, e ela detectou amargura na voz dele.
O estômago dela se apertou com o tom dele. Estava em desacordo com o que ela vira dele até então. Isso a fez se perguntar sobre a história dele com as fadas. Ela tentou estender a mão e agarrar a dele, mas estava tão fraca que a mão caiu desajeitadamente sobre o braço dele. Estava piorando.
— Devo dizer, não me sinto otimista quanto às minhas chances aqui. E o que você mencionou esta manhã? Alguma coisa mística sombria? Você disse que gostaria que aparecesse. Poderia ajudar? – perguntou Cailyn, com voz fraca pelo esforço.
— O Grimório Místico – respondeu ele, entrelaçando os dedos nos dela.
Ela não achou que ele estivesse ciente do que estava fazendo, mas seu coração deu um salto. Tocá-lo aliviava a dor e colocava o seu coração em um ritmo mais regular. Era assustador e confuso o quanto ele a afetava.
— Grimório. É como um livro de magia ou algo assim, certo? Se ele tiver as respostas, vá buscá-lo. Ou Zander pode pegá-lo, basta lhe dizer onde está – sugeriu Cailyn.
— Isso é impossível, Cai.
Ela estremeceu ao ouvi-lo dizer seu nome assim. Apenas Elsie e Jessie a chamavam desse jeito. Ele o mencionou como quem profere uma bênção e o corpo dela reagiu. Cailyn se contraiu pelo desejo ardente entre as pernas.
— Ele desapareceu há mais de setecentos anos e nunca mais foi visto desde então. Não há como recuperá-lo.
— Como um livro desaparece? – gracejou ela, pensando que a ideia era absurda.
Jace parecia um milhão de milhas de distância, perdido em pensamentos. Distraidamente, ele estendeu a mão, torcendo uma mecha do cabelo dela em torno do dedo.
— É uma longa história. Você precisa entender mais sobre as criaturas da Deusa que compõem o reino de Tehrex. Os feiticeiros fazem parte de uma dessas raças. Usamos magia, como sabe. Bem, meu pai, chefe da família Miakoda, ocupou o cargo de Mestre da Guilda por milênios, até a Grande Guerra, que matou minha mãe e ele. Depois disso, meu primo, Evzen, foi nomeado para a posição de Mestre da Guilda para os feiticeiros, na minha ausência – disse ele, e então fez uma pausa, engolindo em seco.
Suas belas feições se contorceram de dor e ele segurou o cabelo dela com mais força. A ação enviou uma pontada de dor para a cabeça de Cailyn, mas ela sufocou o estremecimento, sentindo que ele precisava do contato.
De repente, ele percebeu o quão forte estava segurando o cabelo dela e afrouxou a mão, mas não a soltou.
— O Grimório desapareceu muitos anos antes da guerra. A Deusa dotou de poderes mágicos o livro encadernado em couro, e ele aparece e desaparece por conta própria. Meu pai sempre me disse que era a maneira de o livro proteger seu conteúdo. Está ligado à minha linhagem e só aparecerá para mim ou para Evzen, uma vez que somos tudo o que resta da minha linhagem. De qualquer forma, o livro não apenas contém feitiços e encantamentos, mas também profecias de oráculos do reino, bem como maneiras de neutralizar vários tipos de magia – explicou Jace.
Cailyn tentou se aproximar do corpo dele, precisando de mais calor. Estava ficando mais fria. Ele percebeu e aproximou mais o corpo do dela. Ela suspirou de contentamento e se concentrou no que ele lhe disse.
— É tudo tão bizarro – refletiu ela. – Posso entender por que você quer o livro. Chame-o de novo e continue chamando por ele. Até que ele responda, precisamos encontrar uma maneira de convencer a rainha das fadas a nos ajudar – pediu ela.
Encontrar a resposta não seria fácil, mas ela se recusava a desistir. E não ia deixar Jace desistir também.

Capítulo Quatro
Cailyn sobressaltou-se quando Zander e Elsie entraram no quarto. Com o susto, Jace caiu da cama, afastando-se às pressas. A reação quase arrancou um punhado do cabelo de Cailyn, o que doeu como o inferno, mas ela logo sentiu falta do contato. Droga, queria rastejar até o colo dele e ficar ali para sempre.
Cailyn desconfiava que Jace não demonstrava para os outros a vulnerabilidade que lhe mostrava. Ela via claramente a criança indefesa, perdida, quando os pais foram mortos. A intimidade daquele momento os conectava, mesmo que ela sentisse que ele lutava a cada passo.
Zander os olhou com uma questionadora sobrancelha levantada. Cailyn se virou para a irmã e balançou levemente a cabeça. Zander percebeu a comunicação silenciosa e deixou passar.
— Estou pronto para visitar Elvis e questionar Zanahia sobre o feitiço em Cailyn. Quero que venha comigo, Jace. Ou Gerrick. Preciso de alguém que conheça magia – instruiu Zander.
— Eu irei – disse Jace, ao mesmo tempo em que Elsie perguntava:
— Quem é Elvis?
A pergunta de Elsie trouxe imagens do famoso astro do rock à mente de Cailyn, com seu terno de poliéster esmaltado. Ele poderia ser um sobrenatural e ainda estar vivo? Ela riu quando imaginou os lábios curvados do cantor com presas salientes.
— É um ogro sob a ponte Fremont. Controla um dos portais para o Reino das Fadas – respondeu Zander.
Tudo bem, nada do que Cailyn esperava. Em casa, ela possuía uma foto dela e de Elsie ao lado do ogro durante sua primeira visita a Seattle. Era difícil imaginar que a grande escultura de concreto fosse uma parte viva daquele reino. As coisas estavam ficando cada vez mais estranhas.
— Você quer me dizer que a estátua enorme é um ogro de verdade e protege um portal? Já disse isso antes: você realmente precisa de um manual explicando o seu mundo. Poderia usar um lugar-comum e chamá-lo de “Reino Tehrex para Leigos” – brincou a irmã, dando tapinhas no peito de Zander.
— Sim, é Elvis. E coloquei Gerrick nessa tarefa, companheira. Você deve ter o livro em cerca de uma década. – Zander se inclinou e beijou Elsie com um sorriso indulgente no rosto.
— Vocês começaram de novo? Destravem esses lábios, temos uma crise para lidar – deixou escapar Orlando, enquanto entrava na sala, seguido por cerca de metade dos guerreiros.
Cailyn percebeu a ansiedade no tom de Orlando e soube que ele não havia superado seus sentimentos pela irmã. O guerreiro era discreto e respeitava o relacionamento de Zander, mas o shifter felino não conseguiu esconder os sentimentos da telepatia de Cailyn. Era uma mensagem confusa, mas ela entendeu a essência da paixão dele por Elsie.
Cailyn olhou para os homens na sala e, de repente, se sentiu muito nua sob as cobertas. Como se estivesse lendo sua mente, Jace se inclinou, puxou o cobertor até o pescoço dela, alisando-o, a mão se demorando sobre sua coxa.
— Mais tarde, companheira – sussurrou Zander para Elsie com expressão sonhadora e apaixonada antes de se virar para o grupo. – Orlando está certo. Precisamos descobrir a cura para sua irmã. Enquanto Jace e eu estivermos fora, quero que todos vocês, exceto Bhric, saiam em patrulha, mantendo os ouvidos abertos para qualquer conversa sobre o acidente. Se tivermos sorte, uma das escaramuças se gabará das intenções de Kadir. Bhric, permaneça por aqui e fique de olho em Jessie – ordenou Zander.
— Sem problemas, brathair, mas Kyran não está aqui agora – disse Bhric, encostando-se na parede.
Não era necessariamente algo ruim que o outro Príncipe Vampiro tivesse partido. Seu comportamento mordaz assustava Cailyn.
— Onde diabos ele está? – Era impossível não notar a raiva no tom de Zander.
— Onde mais? No Bite – respondeu Bhric.
— Ora! Vou castrá-lo quando ele voltar. Nunca está aqui quando preciso dele – rosnou Zander. – Vão patrulhar seus setores, agora. – O quarto imediatamente se esvaziou com a ordem de Zander.
Elsie se virou nos braços de Zander e Cailyn pode ver que seu sorriso era forçado.
— Quer ligar para John, enquanto os caras estão fora? Tenho certeza de que seu noivo está preocupado com você.
O coração de Cailyn se contraiu ao pensar em John. Sentia-se culpada por não ter contado à irmã que havia rompido o noivado. Não quis arruinar a cerimônia de acasalamento da irmã e manteve segredo sobre a notícia. Agora não era a hora de lhe contar também. Cailyn não desejava lidar com o aborrecimento de Elsie até que estivesse se sentindo melhor.
Ela desviou o olhar da irmã, voltando-o para Jace. Notou como ele congelou ao lado dela, e os poucos no quarto o observavam. A tensão entre os dois poderia ser cortada com uma faca, e Cailyn não tinha dúvidas de que os demais sentiam a atração que um desenvolvia pelo outro.
— Hmmm, não tenho certeza se estou pronta para conversar com ele ainda – respondeu Cailyn.
Além de não querer contar à irmã, ela não queria ter que explicar na frente de todos, especialmente de Jace, por que havia terminado o noivado. Ela mesma não entendia totalmente os motivos. O que sabia era que, desde o momento em que Jace entrou no apartamento da irmã meses antes, algo dentro dela fez sua atenção se voltar para ele, prendendo-a, como um míssil teleguiado.
O corpo sexy dele a cativou e a levou a ter fantasias com um homem diferente de seu noivo. Era algo que nunca havia vivido e foi o que acabou levando-a a romper o noivado.
Cailyn encontrou o olhar de Elsie e viu descrença e confusão, fazendo sua culpa aumentar.
— Você tem razão. Eu deveria ligar para ele – admitiu.
Cailyn não estava ansiosa pela conversa. A última vez que havia falado com John, ela o rejeitara de novo e não queria piorar a ferida ainda mais.
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* * *
A virilha de Kyran se retesou quando ele colocou um grampo de metal no mamilo da mulher. A bela ninfa mordeu a tira de couro que mantinha na boca e choramingou. Ele amava o medo e a excitação nos olhos azul-prateados dela.
E odiava como o gemido dela alimentava seus desejos pervertidos.
Perdido na luxúria, apertou o outro mamilo e deu um passo para trás para admirar a imagem diante dele. As botas pretas de cano alto dela brilhavam enquanto ele examinava seu corpo, da cabeça aos pés.
Enquanto seu olhar subia pelo corpo dela, ele notou sangue escorrendo de um dos seios. Era a razão pela qual ele usava grampos de metal em vez de plástico. Dor e prazer. A visão do sangue enrijeceu ainda mais o seu membro. Ele se inclinou e lambeu o sangue da pele úmida, sentindo o gosto de sal misturado com cobre. Gemeu quando a pré-ejaculação vazou de seu pênis.
O sangue dela o remeteu ao limite do controle. Rudemente, ele agarrou-lhe as mãos e puxou-a para um banco. Ela tropeçou e caiu sobre a madeira, de bruços. Posição perfeita. Ele prendeu os pulsos dela nas algemas de couro sob o banco. A parte superior do corpo dela estava imóvel e seu delicioso traseiro, no alto. De novo, perfeito. Ele passou a mão pelas esferas brilhantes e bateu em uma delas. Ela gemeu, mas não foi o suficiente. Ele precisava de mais força do que sua mão permitia e Kyran virou-se para ver as opções.
Pulando a enorme cama de dossel, ele pensou em prendê-la ao X de madeira ou colocá-la no balanço pendurado no teto, mas decidiu que já se encontrava no limite. Estava sobre o fio da navalha e precisava fazer sua seleção antes de perder ainda mais controle. Ao longo da parede oposta havia uma variedade de chicotes. Ele caminhou rapidamente pelo quarto, as botas com bico de aço ecoando no chão de cimento. Percorreu os dedos pelas várias bengalas de madeira. Ele as pulou e decidiu que o chicote de nove pontas se encaixaria em seu humor atual.
Com a arma na mão, caminhou de volta para a mulher que esperava. Assim que ela estava dentro do seu alcance, sua mão arqueou para trás e as cordas bateram nas costas dela, provocando-lhe um profundo gemido, assim como um dele. Ele nem mesmo havia ordenado que sua mão atacasse. Estava mais tenso do que havia percebido.
Ele se abaixou e passou a mão nos pelos entre as pernas dela e encontrou a pele feminina molhada. Afrouxou a tensão nas tiras de couro e a virou. Bateu com o couro nos seios dela, apreciando os vergões vermelhos que imediatamente se formaram. Voltando para a cômoda, ele passou pelos brinquedos e outros apetrechos para pegar uma vela preta ali em cima.
A riscada de um fósforo a fez arregalar os olhos. Ela sabia o que estava por vir e ansiava por isso. Ele se aproximou dela e acariciou os seios inchados e vermelhos enquanto pingava cera negra em seu clitóris. Ela arqueou, em um movimento para trás e gritou.
Ele afastou a tira de couro de sua boca e abaixou-se para sussurrar em seu ouvido:
— O que foi?
— Mais, me chicoteie mais. Por favor, senhor – choramingou.
Ele se levantou e sorriu. Foi por isso que havia ido até aquele clube abandonado pela Deusa. O chicote atacou a carne dela repetidas vezes, ampliando sua excitação. Suas calças de couro já estavam na altura dos joelhos e o membro nas mãos antes mesmo que ele piscasse. Ele o estimulou com movimentos rápidos e, em seguida, a virou de costas. O traseiro dela era tão macio e carnudo… O chicote atingiu as esferas aveludadas, tornando-as vermelhas de um modo muito atraente. Ele empurrou o pênis para dentro do traseiro dela e parou.
Agarrando um punhado de cabelo, ele puxou a cabeça dela em sua direção e resmungou em seu ouvido:
— Diga-me, vadia. Diga-me agora.
— Hmmm… – gemeu ela de prazer, e ele sentiu o orgasmo dela começar. Ele puxou o cabelo dela mais uma vez e agarrou-o com força quando a raiva o percorreu. Ela deixou escapar: – Por favor, não me mate…
Ouvir essas palavras foi a deixa e ele entrou em um insensato e brutal ritmo punitivo de sexo, buscando um breve alívio das vozes que ecoavam de seu passado.
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* * *
— Isso pode ser a coisa mais desagradável que já vi. Acho que minhas retinas estão queimando – comentou Jace, enquanto ele e Zander seguiam pela North 36th Street, em direção à casa de Elvis sob a ponte Fremont.
Ele não fazia ideia de que ogros faziam sexo e gostaria de ainda ignorar esse fato. O corpo do ogro feminino era grotesco, o traseiro grande como uma casa. Elvis estava usando um carro pequeno como brinquedo sexual, empurrando-o para lugares onde nenhum carro deveria ir.
— Och, concordo. A Rainha vai ficar irritada porque seu portal está sendo usado como vibrador. Não creio que lhe diria que ela está rastejando por um dispositivo que foi enfiado no traseiro de um ogro – estremeceu Zander.
— Nunca tinha visto um ogro feminino antes – observou Jace, enquanto virava a cabeça para dar uma olhada, os olhos dirigindo-se das partes íntimas para o rosto –, e eu teria pago dois pedágios para evitar de ver essa maldita cena.
Zander riu e o olhou.
— Sim, eu também. Acho que ela é nova na ponte Montlake. Ouvi um boato de que houve uma nova transferência. Elvis parece ser um grande jogador.
— Isso é errado de muitas maneiras, amo. Devemos esperar que eles terminem ou devemos interromper? Não tenho certeza sobre os hábitos de acasalamento dos ogros e não temos a noite toda, mas também não quero acabar com a diversão dele. Ele poderia nos esmagar com um golpe de seu punho.
— Também não conheço os hábitos dos ogros, mas pelos sons frenéticos, acho que estão perto de terminar – observou Zander. – Vou estacionar aqui e iremos com calma até lá. Dessa forma, podemos detê-los antes que comecem outra rodada.
Jace pisou na calçada úmida, grato por ainda não estar muito frio naquele final de verão, e olhou de novo para Zander.
— Odeio que sua “Véspera da União Eterna” tenha sido interrompida. Sei que não está de castigo com Elsie, já que estão ocupados salvando a amada irmã dela, mas vocês deveriam ficar na cama por semanas. Estávamos fazendo uma aposta sobre quanto tempo vocês dois ficariam enfurnados nos seus aposentos. Perdi uma fortuna na minha aposta.
Um sorriso secreto surgiu no rosto de Zander, dizendo exatamente onde estavam seus pensamentos. Trancado em um quarto com sua bela companheira. Pela primeira vez, Jace ficou ciúmes do que Zander tinha com Elsie.
— Vou arrancar membro por membro daquele maldito demônio e retalhar suas entranhas por interromper o tempo que eu e ela deveríamos ficar juntos. Deveria estar dentro da minha Rainha agora, em vez de assistir esses ogros em atividade. Mas não, aquele maldito demônio teve que chegar e aumentar a aposta — vociferou Zander.
— Você se sente diferente agora que está acasalado? – perguntou Jace, olhando para Zander.
Quase que de imediato, Jace quis engolir essas palavras, mas não conseguira conter a curiosidade. Sabia que era algo que nunca experimentaria. Por que a Deusa daria a um homem arruinado como ele um presente como uma Companheira Predestinada?
— Sim, eu me sinto muito diferente. Como se pudesse derrubar os arquidemônios e suas escaramuças com uma flexão do dedo mínimo, então enfrentar os demônios no inferno sem derramar uma gota de suor. Essa nova força é revigorante. Nunca soube o que estava perdendo antes, mas ter nossas almas entrelaçadas é algo indescritível. Qualquer descrição que você recebeu sobre as mudanças sexuais pelas quais vai passar é deploravelmente inadequada – murmurou Zander.
Jace se perguntou como seria ejacular quando tivesse um orgasmo. Não que ele soubesse o que era ter um orgasmo. No ponto em que estava, ele se contentaria em ficar excitado sem vomitar. Infelizmente, estava condenado a desconhecer tudo isso.
Um berro, como o de um T-Rex, interrompeu a conversa.
— Espero que eles não tenham derrubado a ponte – admitiu Jace.
Zander riu.
— Pela expressão no rosto dele, eu diria que foi o grand finale. Ora, aposto que foi registrado na escala Richter dos humanos.
Ouviu-se o som de pedras se atritando e Jace percebeu que era Elvis falando.
— Essa é a caverna mais doce que saqueei por um bom tempo, querida. Tenho certeza de que está feliz por ter se transferido para cá – trovejou Elvis.
Essa era a ideia que ele fazia de uma conversa íntima? De repente, sua grande cabeça cinza girou na direção deles.
— Rei Vampiro, você tem sorte de não nos ter interrompido, ou perderia um membro ou dois – continuou Elvis, enquanto se afastava do ogro fêmea.
— Maldição. Perder um membro seria preferível a ter minhas órbitas sangrando pelo que vi. Elvis, você arruinou a felicidade da minha Véspera. Estou surpreso que a Rainha permita que você use seu portal dessa forma – rebateu Zander.
— A mágica que o portal tem provoca uma vibração irresistível. Não é verdade, Priscilla? – murmurou Elvis, ignorando Zander.
Jace estremeceu ao pensar onde aquele fusca tinha estado. Não havia alvejante suficiente para remover aquela imagem de seu cérebro.
— Hmmm, sim, provoca. Quem são essas criaturas bonitas, Elvis? – ronronou o ogro fêmea.
— Seu nome é Priscilla? Assim como Elvis e Priscilla Presley? – Jace deixou escapar.
— Sim, mas sou muito mais bonito do que aquela doninha humana. O que você quer? – perguntou Elvis, lacônico. – Temos muito que fazer antes que o amanhecer nos transforme em pedra.
Zander tirou um grande pingente de rubi do bolso e estendeu a oferenda para o ogro.
— Houve um incidente com a irmã da minha rainha e precisamos de uma audiência com sua Alteza.
— Oooh, isso é lindo – gritou Priscilla, e Jace estremeceu ao ouvir o tom.
Era como ouvir unhas arranhado um quadro-negro e o tom agudo não combinava com seu grande corpo.
Aparentemente, Elvis estava ansioso para voltar às suas atividades extracurriculares, pois não perdeu tempo, pegando o rubi e chamando a Rainha. Os olhos de Elvis brilhavam como prata, tornando-se maiores do que calotas e uma névoa envolveu a área ao redor do fusca.
O coração de Jace saltou de esperança quando Zander se inclinou e sussurrou:
— A Rainha virá se encontrar conosco.
Jace reprimiu o desespero quando a encantadora Rainha Fada emergiu do veículo. Distraído, ele se perguntou se a engenhoca cheirava mal, dado onde estivera.
— Zander Tarakesh, que surpresa. Não esperava vê-lo em uma noite tão importante. Espero que sua cerimônia de acasalamento não tenha sido interrompida – murmurou Zanahia, chamando sua atenção.
Os longos cabelos loiros da rainha fluíam livremente por suas costas e sua coroa de prata combinava com os olhos prateados. Jace nunca a tinha visto e teve que admitir que a Rainha Fada era hipnotizante.
— Vossa Alteza. – Zander curvou-se e pegou a mão de Zanahia, beijando os dedos pálidos. – A cerimônia foi concluída, mas nossa noite foi interrompida quando Elsie teve uma visão sobre a irmã, Cailyn. Vou direto ao ponto. Meus feiticeiros me disseram que Cailyn está sob algum tipo de feitiço das fadas, e como sabe, Aquiel é o responsável. Preciso da sua ajuda para revertê-lo.
— Fico feliz em saber que a cerimônia correu bem. Você deve me contar sobre a experiência. Certamente, há algo novo a ser aprendido, dada a singularidade de sua companheira. – O interesse da Rainha era sincero, mas Jace sentiu uma certa inquietação percorrer sua espinha com esse interesse.
Jace entendia a necessidade de política e sutilezas, mas sentia vontade de gritar. Não tinham tempo para aquela conversa. Cailyn precisava de ajuda naquele momento. Ele não havia sentido ansiedade ou medo desde sua prisão, mas havia sido golpeado por ambos em relação à condição de Cailyn. Quanto mais Cailyn ficava sob a magia, pior se tornava. Ele temia que quanto mais demorassem, maior a chance de ela não sobreviver. Era humana, e o tempo não era amigo dela.
— Com todo o respeito, Zanahia, não tenho tempo para compartilhar nada sobre meu acasalamento agora. Cailyn está com problemas e precisamos agir rapidamente para ajudá-la – interrompeu Zander. Jace ficou aliviado por Zander ter ido direto ao assunto.
— Sim, claro. Peço desculpas, estou tão curiosa sobre seu acasalamento quanto todos os demais. Afinal, foi um acontecimento importante. Com relação a Cailyn, temo não ser de muita ajuda. Tudo o que posso dizer é que a sua única opção é procurar a Rainha Vudu. No entanto, é uma viagem perigosa, quase impossível. Não posso dizer mais nada. Devo me proteger e proteger o meu povo, você entende – divulgou Zanahia, e então um sorriso irônico se espalhou por seu adorável rosto.
O sorriso continha mais veneno do que suas palavras inofensivas. Jace não parou para considerar o humor dela. Eles tinham um lugar por onde começar e, se os boatos fossem verdadeiros, a viagem para Marie Laveau seria mortal.
Até onde sabia, a Rainha Vudu era um mito. assim, ele não fazia ideia de como encontrá-la. Vasculhou o cérebro por outras opções, mas não havia nenhuma.
— Não temos tempo para ir a Nova Orleans e procurar Marie Laveau. Cailyn não está estável o suficiente para fazer o que certamente será uma jornada traiçoeira. Se não nos ajudar, ela vai morrer – praguejou Jace, impetuosamente.
O suor escorria por suas costas enquanto o coração martelava de ansiedade contra as costelas.
— Calma, Jace. Zanahia, certamente há algo mais que possa oferecer. Sei que não quer ver uma inocente sofrer – implorou Zander, tentando apelar para a empatia da Rainha.
Zander perdera a cabeça, se achava que aquela mulher iria dar-lhes alguma informação útil.
A Rainha fez uma pausa e juntou as mãos na frente do corpo.
— Realmente sinto muito, Zander. Não tenho mais nada a dizer – declarou, subindo mais uma vez no fusca e desaparecendo.
— Ah, isso é muito ruim, rapaz das presas. Agora, saia, a menos que vocês dois queiram nos observar – afirmou Elvis, enquanto agarrava os seios enormes de Priscilla e os apertava.
Eles não conseguiriam sair de lá rápido o suficiente.

Capítulo Cinco
Elsie sentou-se na cama ao lado de Cailyn e colocou a cabeça no colo da irmã, como faziam inúmeras vezes quando eram crianças. Foi necessário algum esforço, mas Cailyn estendeu a mão e acariciou os longos cabelos cacheados de Elsie. Elas compartilhavam um vínculo especial devido às suas habilidades únicas. Quando eram pequenas, era Cailyn a quem Elsie procurava quando era provocada pelos colegas, o que acontecia constantemente. Era a irmã mais velha, e protegia Elsie como uma leoa protegendo os filhotes.
Elsie tinha premonições desde que Cailyn conseguia se lembrar, e as outras crianças a xingavam e a rejeitavam por causa disso. Cailyn aprendeu desde cedo a manter a ocultar dos outros a sua capacidade telepática e, na sequência, disse a Elsie para não dividir suas premonições com ninguém, além dela.
Não precisou de muito tempo para que os pais de Cailyn a ameaçassem de levá-la a um psiquiatra, então ela passou a fingir que era normal. Não tinha ninguém cuidando dela e garantiu que a sanidade de Elsie nunca fosse questionada. Cailyn era o sistema de apoio de Elsie e lutaria contra qualquer um que desafiasse a estabilidade da irmã.
Não era fácil ser diferente. Tinha sido difícil para Cailyn fazer amigos quando criança, quando sabia o que as outras crianças estavam pensando, tanto as boas quanto as más. A coisa só piorou quando se tornou uma adolescente e podia sair para namorar. Na maioria das vezes, os namoros eram de curta duração porque ela não fazia o tipo que se sentava para jantar com alguém que ficava pensando em seus seios ou em fazer sexo com ela. Ela odiava como os homens cobiçavam seu corpo e não a viam como uma pessoa.
A telepatia foi uma das razões pelas quais ela jurou nunca se casar. Queria ser aceita por alguém que conhecesse sua habilidade. Queria dividir cada aspecto seu com o marido. O fato de que podia ouvir os pensamentos dos pais, pensamentos que nunca deveriam ser compartilhados, também impediu Cailyn de se aproximar de qualquer pessoa, em especial de forma romântica. A verdade podia ser muito dolorosa.
Esse desejo mudou quando conheceu John. Ele era diferente. Ele a desejou, mas viu a verdadeira Cailyn. John amava sua devoção a Elsie e Jessie, apreciava sua ética de trabalho e nunca reclamava das longas horas que ela passava trabalhando. Ela não havia confidenciado suas habilidades para ele, mas tinha certeza de que ele a amaria, apesar de sua anormalidade. Isto é, se eles se reconciliassem.
Ela suspirou e abandonou os pensamentos ao ver Elsie observando-a.
— Quero ligar para John, mas primeiro preciso lhe contar uma coisa – confessou Cailyn.
— Você sabe que pode me contar qualquer coisa – assegurou Elsie.
— Eu sei – Cailyn fez uma pausa, pensando na melhor forma de contar a Elsie.
Nenhuma palavra bonita lhe veio à mente. Nada a fazer a não ser despejar a verdade.
— Rompi meu noivado com John.
O queixo de Elsie caiu antes de responder.
— Quando, Cai? Por quê, o que aconteceu?
— Vários meses atrás. Não sei como explicar, mas isso tem a ver com Jace. Senti que estava fazendo muito mal ao nosso relacionamento se não desse um tempo até colocar minha cabeça no lugar – admitiu ela.
— Oh, meu Deus! Não fazia ideia de que alguma coisa estava acontecendo entre você e Jace. Como conseguiu esconder isso? Por que diabos não me contou antes? Sou sua irmã, e sei que você tem Jessie, mas pensei que éramos mais próximas do que isso – questionou Elsie, e a dor estava evidente em seus olhos.
Cailyn se sentiu péssima por esconder tudo da irmã. Respirou fundo, o que provocou uma pontada de dor no peito. Seu corpo doía por inteiro. E o cansaço era sufocante. Ela se esforçou para colocar a mão sobre a de Elsie, precisando do contato.
— As coisas não são assim. Não há nada acontecendo entre Jace e eu. Antes de hoje, ele não havia dito mais do que algumas palavras para mim. Eu nem tinha certeza se ele se lembrava do meu nome. Meu problema é minha reação à presença dele. Desde o momento em que nos conhecemos, fiquei encantada. Penso nele constantemente. Apenas não poderia continuar com um noivado quando desejo outro homem com tanta intensidade – sussurrou, tentando reunir um pouco de energia.
— Oh, Cai, você deveria ter me contado. Eu teria entendido e talvez até ajudado. Você sempre cuidou de mim. É hora de retribuir o favor – declarou Elsie, apertando de forma carinhosa a mão de Cailyn.
— Eu não queria estragar sua cerimônia de acasalamento e, antes disso, você já tinha muita coisa com que se preocupar. Não precisava do meu lixo empilhado em cima de suas preocupações. Além disso, o que poderia fazer? Preciso descobrir por que estou atraída por ele e o que fazer a respeito. Ainda amo John, mas essa conexão com Jace é inegável – respondeu Cailyn.
— Seu lixo é meu lixo. Somos irmãs até o fim. Sempre estarei aqui, ao seu lado, não importa o que esteja acontecendo na minha vida. E você ficaria surpresa com o quanto entendo o que está passando. Quero dizer, eu amava Dalton e prometi ser fiel a ele pelo resto da vida, e nunca pensei que haveria outra pessoa para mim. No entanto, depois que ele foi assassinado, eu me vi ansiando por… – Elsie parou de falar, e seus olhos se arregalaram enquanto ela colocava os dedos sobre a boca aberta.
O estômago de Cailyn se apertou de medo. Não tinha certeza se queria saber o que sua irmã estava pensando naquele momento.
— Estou imaginando se você poderia ser a Companheira Predestinada de Jace. Com certeza, é bem parecido com o que senti com Zander – explicou Elsie.
Cailyn sentiu o sangue drenar do corpo. Não poderia ser a companheira daquele homem. Ela morava em San Francisco e amava John, apesar da intensa atração por Jace.
— Não, não posso ser. Como eu iria saber? Como você descobriu?
— Os Companheiros Predestinados descobrem que o são quando fazem sexo um com o outro. Não há outra maneira que eu conheça. Não faço ideia a quem podemos perguntar sobre isso. Gostaria que eles já estivessem de volta, talvez Zander tivesse algumas respostas.
Uma batida as interrompeu e suas cabeças se voltaram em direção à porta.
— Por favor, não conte nada a ninguém até conversarmos mais um pouco – implorou Cailyn, enquanto Orlando colocava a cabeça para dentro do quarto, e seu olhar logo dirigiu-se para Elsie. Cailyn sustentou o olhar de Elsie e ficou aliviada quando a irmã concordou, com um movimento da cabeça.
— Ei, O. O que houve? – perguntou Elsie, voltando-se para o Guerreiro das Trevas.
O cabelo loiro platinado estava espetado em todas as direções. Cailyn tinha que admitir que o cara era bonito, mas sua beleza empalidecia em comparação com a do feiticeiro sexy. Desde que conhecera Jace, não podia deixar de julgar os outros pelos padrões dele. Ninguém nunca chegou perto.
— Só queria passar por aqui e ver como estão. Como está se sentindo, Cai? – perguntou Orlando ao se aproximar e se posicionar ao lado da cama dela.
— Tive dias melhores. Gostaria que a dor fosse embora. Não tenho energia para nada e, entre essas duas coisas, mal consigo pensar. Jace e Zander estarão de volta em breve com a cura – respondeu Cailyn, enfática.
Ela precisava acreditar que eles trariam algo para ajudá-la. Ela se recusava a aceitar que um feitiço iria matá-la.
— Vocês duas precisam estar preparadas, pois eles podem não trazer as respostas que desejam. As fadas são de uma maldita inconstância e provavelmente não ajudarão. Mas não vamos desistir. Nós vamos procurar em cada canto do reino por uma maneira de suspender o feitiço – prometeu ele, sentando-se na cama ao lado de Elsie.
— Sinto muito, Cai. É tudo minha culpa. Você estaria segura em casa se não fosse por mim – sussurrou Elsie.
Antes que Cailyn pudesse responder, Orlando interrompeu.
— Você não deve se culpar. Como já aprendeu, ninguém está a salvo dos estragos desta guerra – respondeu Orlando, solene. Cailyn conhecia Elsie muito bem para saber que as palavras dele não a acalmariam.
Outra batida ecoou por toda o quarto.
— Ei, Chiquita, Cailyn, vocês duas parecem abatidas. Meu parceiro está incomodando de novo? – perguntou Santiago, entrando no quarto com séria determinação.
As rugas profundas em seu rosto disseram a Cailyn que algo estava acontecendo. Ela fez uma oração silenciosa para que Jace e Zander estivessem bem. Não sabia se poderia receber outras más notícias naquele momento. Ele e Orlando eram detetives de homicídios do Departamento de Polícia de Seattle e ela esperava que fosse uma questão mundana na mente dele.
— O que está acontecendo? Notícias de Zander ou Jace? – perguntou Elsie, sentando-se.
— Não tive notícias deles. Olhe, eu lhe trouxe uma daquelas bebidas energéticas que você adora. Achei que poderia querer um estimulante. O, preciso conversar com você sobre uma ligação que recebi do Tenente. – A tensão óbvia na voz de Santiago fez Cailyn se preocupar com o que ele tinha a dizer.
Algo estava acontecendo e ela queria ouvir o que era, mas não tinha o relacionamento que a irmã tinha com aqueles guerreiros formidáveis. Cailyn ainda se sentia intimidada com a presença deles, especialmente daqueles dois.
Orlando era um shifter felino e ela o tinha visto se transformar em um enorme leopardo da neve durante a batalha do lado de fora do clube Confetti. Santiago era um shifter canino e ela o viu se transformar em um imenso lobo. Ver os animais selvagens deles e Kadir, que parecia a encarnação do demônio, foi alguns de seus momentos mais assustadores.
— Volto logo…
A resposta concisa da irmã interrompeu Orlando.
— Você não pode rodopiar por aqui, parecendo tão sério, e me manter às escuras, Santi. Vocês podem ter essa conversa bem aqui. Sou a rainha e não ficarei de fora dos acontecimentos – exigiu Elsie.
— Não é que queiramos deixá-la de fora dos acontecimentos, Chiquita. Este é um assunto oficial da polícia e não há necessidade de se preocupar desnecessariamente com essas coisas – respondeu Santiago.
— Se é sobre o Reino de Tehrex, então é da minha conta – ironizou Elsie, e se levantou, com as mãos nos quadris.
O peito de Cailyn inchou de orgulho de sua irmãzinha. Estava segura de si, enfrentando guerreiros tão fortes.
Orlando riu.
— Ela lhe deu uma lição, mano. É sobre mais ataques de escaramuças às mulheres?
— Sim, e houve outro – transmitiu Santiago sombriamente, olhando para Elsie – e a última vítima era um membro do SOVA.
O suspiro de Elsie ecoou alto no quarto. Cailyn não fazia ideia do que eles estavam falando, mas aquilo claramente irritou a irmã.
— O quê? Ai, meu Deus. Qual o nome dela? Por favor, diga-me que não foi Mack – pediu Elsie.
— Quem é Mack e o que é SOVA? – interrompeu Cailyn. A conversa era estranha para ela.
— Mack é a líder de um grupo chamado Sobreviventes dos Ataques dos Vampiros, ou SOVA, para abreviar. Eles caçam o que acham que são vampiros, mas na verdade são escaramuças. Quem era essa vítima, Santi? – perguntou Elsie para o guerreiro de cabeça raspada.
— A vítima não tinha nenhuma identidade com ela. Tudo o que posso dizer é que ela tinha cabelo escuro, um metro e setenta e cinco e usava uma jaqueta de couro dos SOVA – respondeu Santiago.
— O cabelo dela era preto? E curto? Tinha tatuagens nos braços? – As perguntas frenéticas da irmã fizeram Cailyn despejar adrenalina no sangue.
— Não, o cabelo dela era castanho escuro e ela não tinha tatuagens – respondeu Santi.
— Então não era Mackendra, graças a Deus. Ellen tem cabelo castanho escuro, mas estive fora de contato com ela por um tempo. O, você mencionou que há mais ataques a mulheres. Tem havido um aumento nos últimos tempos? Quais são os perfis das vítimas? – perguntou Elsie.
Cailyn estava impressionada com a forma como a irmã assumiu o controle e se dedicava àquele problema de forma tão confiante. Como uma rainha.
— Tem havido um aumento acentuado de vítimas femininas e mulheres desaparecidas desde o seu sequestro, El. São de várias classes sociais e não se enquadram em nenhum perfil. Já ocorreu com loiras, morenas e ruivas. Os ataques ocorrem em qualquer lugar, desde os mais pobres aos muito ricos. Não há um padrão claro, o que é frustrante, porque não sabemos quais áreas atacar – explicou Orlando.
Cailyn sentiu a espinha formigar ao perceber que ela e Jessie também haviam sido vítimas quando foram atacadas e quase mortas. A escória que fez aquilo com elas teve muito tempo para quebrar os pescoços delas, mas não quebrou. Suas entranhas se apertaram quando considerou que o demônio e a fada tinham algo mais planejado para ela e Jessie. Sentia-se grata por Zander ter tomado a precaução de ter seus Guerreiros das Trevas a seguindo porque eles chegaram a tempo.
— O tenente está subindo pelas paredes por causa dessa última vítima, pensando que há um grupo de justiceiros loucos, tentando obter justiça para as vítimas dos “Twikills”. Você fez parte do grupo deles, Elsie. Diga a Mackendra que os SOVA precisam parar com o que estão fazendo. A vida deles corre muito risco e agora o tenente quer as cabeças deles. Nenhum de nós quer que algo aconteça com seus amigos – acrescentou Santiago.
Elsie nunca havia mencionado para Cailyn fazer parte de um grupo de justiceiros. O que ele estava sugerindo era loucura.
— Do que ele está falando, El? Você fazia parte desse grupo? – perguntou Cailyn, encontrando o olhar da irmã.
Ela observou Elsie se contorcer e se remexer. Aparentemente, ela não era a única a guardar segredos.
— Sim, juntei-me a eles depois que Dalton foi morto – disse Elsie, voltando-se para Santiago. – Mackendra não vai gostar nada disso, Santi. Posso ligar para ela e marcar uma reunião, mas já lhe digo agora, ela não vai parar. Ela acha que caçar vampiros é sua vocação. A dor que sente é profunda… – A voz de Elsie foi sumindo e o quarto ficou em silêncio.
— O que foi, El? – perguntou Orlando, atravessando o quarto até o lado dela.
— Estou tendo vislumbres de várias mulheres, tanto humanas quanto aquelas do reino. Estão presas e imundas. Algumas delas estão nuas e cobertas de sangue. Não consigo ver os rostos, mas estão sendo torturadas pelos demônios – gemeu Elsie, agarrando a cabeça.
Ouvir vozes já era ruim o suficiente, mas ver as imagens que Elsie descreveu faria Cailyn ter pesadelos por semanas. Ela moveu os dedos sobre o cobertor e apertou levemente a perna da irmã, oferecendo segurança, enquanto Elsie continuava.
— Não sei onde estão, mas posso sentir que são importantes para o reino. Será que, de algum modo, os demônios seriam capazes de detectar que essas mulheres são companheiras? Sei que as marcas normalmente não aparecem antes de fazerem sexo com seus parceiros predestinados, mas há outra maneira?
— Droga. Mulheres em cativeiro são as piores notícias que poderíamos receber. Para responder à sua pergunta, não faço ideia se existe uma maneira de os demônios identificarem os Companheiros Predestinados. Zander e Jace precisam retornar. Precisamos ter uma reunião – disse Santiago, praguejando.
À menção de Jace, Cailyn pensou no dia em que o viu pela primeira vez. Um fogo se acendeu e queimou, sem controle, por todo o seu corpo. Era tão quente que ela não conseguia apagá-lo. Sua atração pelo feiticeiro era atômica e fez seu coração disparar no peito.
Estava dividida entre se reconciliar com John e seguir Jace. Amava a vida em San Francisco. Seu trabalho, sua casa e John. Qualquer coisa com Jace significava desistir de tudo. Valeria a pena, sussurrou uma voz traiçoeira.
Ela imaginou os lábios dele, como queria beijá-los e, em seguida, explorar seu corpo. O corpo esbelto e musculoso acendia uma excitação tão intensa que ela desejou ser possuída. Fazer amor com ele iria reduzi-la a cinzas.
Com esse pensamento, a incerteza a atormentou. Era bonita o suficiente para Jace? Ela viu a mulher com quem ele estava no clube. Era o oposto de Cailyn. Alta e magra, com um corpo perfeito. Cailyn tinha uns cinco quilos a mais, o que só aumentava sua insegurança. Odiava estar cheia de dúvidas e insegurança.
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* * *
No segundo em que Jace entrou no complexo, ondas tentadoras de canela dançaram, entrando em suas narinas. Cailyn estava excitada. Por alguma razão insana, ele esperava que ela estivesse pensando nele. Seu pênis pulsou ansiosamente, reagindo a esse pensamento. Ele colocou a mão sobre o estômago revolto e fechou os olhos, respirando profundamente.
Deusa, ele queria aquela mulher. Nunca desejou uma assim, com tanta força. A intensidade de seu desejo o fez questionar mais uma vez se ela poderia ser sua Companheira Predestinada.
Ele balançou a cabeça e colocou um pé trêmulo na frente do outro enquanto subia as escadas atrás de Zander, que subia os degraus de dois em dois, claramente ansioso para encontrar Elsie. Momentos depois, Zander irrompeu pela porta da suíte dos aposentos de Cailyn e a expressão do rei perdeu o tom duro, suavizando-se.
— Lady E, seu companheiro voltou – grunhiu Zander, agarrando-a nos braços.
Jace notou Orlando olhando de modo fixo para o casal enquanto Zander beijava profundamente a companheira.
— Vão para um quarto – disse Orlando, e Jace não deixou de notar o tom amargo.
O guerreiro tinha tanta inveja do que o casal tinha quanto Jace? Nenhum guerreiro jamais havia pensado em ter uma companheira, até Elsie surgir. Agora, Jace se perguntava quantos deles ansiavam por isso, assim como ele. Seu olhar dirigiu-se para Cailyn e ele notou que os círculos sob os olhos dela estavam mais escuros e a pele, mais pálida. Uma atração magnética o fez atravessar o quarto e ir para o lado de Cailyn.
— Boa ideia. Vamos – respondeu Zander, com os lábios ainda pressionados nos de Elsie.
A Rainha deu um tapa de brincadeira em seu braço.
— Mais tarde. Primeiro, diga-me o que conseguiu – respondeu Elsie.
— Zanahia não nos deu nenhuma informação útil. Ela deu a entender que o antídoto está em Nova Orleans, o que significa que precisamos viajar para lá imediatamente – disse Zander, enquanto acariciava a face de Elsie com um dedo.
O amor entre o par recém-acasalado era tangível e Jace invejava a boa sorte do rei.
— Por que um de vocês não pode dar sangue para curá-la? Vocês me trouxeram de volta da beira da morte com o sangue de vocês – assinalou Elsie.
As palavras caíram dos lábios de Jace antes que ele pudesse detê-las.
— Ninguém dará sangue a Cailyn além de mim, e mesmo isso não vai acontecer, porque o sangue não vai resolver nosso problema. Ele foi induzido magicamente e o feitiço precisa ser revertido.
Ele respirou fundo para recuperar o controle de suas emoções, sem saber o que havia acontecido com ele.
— Precisamos de um agente apropriado para quebrar o vínculo da magia estabelecido com sua irmã, e o sangue não é esse agente – acrescentou Jace.
— Tudo bem, então não temos uma solução fácil. Você mencionou Nova Orleans. O que há ali que pode me ajudar? – perguntou Cailyn, com voz fraca.
Jace se abaixou e agarrou a mão de Cailyn, odiando como a pele dela parecia fria. Definitivamente, ela estava piorando. O pânico cresceu, desencadeando uma nova urgência.
— Orlando, chame todos de volta para Zeum. As patrulhas podem esperar. Temos que traçar estratégias e planejar a viagem. Quero vocês na estrada o mais rápido possível – ordenou Zander, ignorando a pergunta de Cailyn.
— Espere só um minuto. O que você quer dizer com “vocês”? Você não vai também? – perguntou Elsie, dirigindo um olhar feroz para o poderoso rei vampiro.
— Não, a ghra, ficarei aqui com você e Cailyn. Jace e outros dois irão – respondeu Zander, tentando trazer a companheira de volta para seus braços, mas ela o empurrou para longe.
— Não, Zander. Preciso que você vá. Preciso de alguém nesta missão que cuide de minha irmã tanto quanto eu. Odeio a ideia de você estar em perigo, mas Cailyn precisa disso – falou Elsie, mantendo o olhar fixo em Zander.
— Vocês podem ficar parados, discutindo o dia todo, mas eu vou. Não me importo com quem vai comigo, mas partirei em breve – declarou Jace, olhando Cailyn fixamente.
Os olhos dela brilharam quando ele estendeu a mão e acariciou seu cabelo. Os fios pareciam seda entre seus dedos. Ele segurou a parte de trás da cabeça dela com a palma da mão.
— Você vai melhorar. Ninguém vai lutar mais para conseguir o antídoto do que eu – prometeu ele, chocado com a sinceridade com que pronunciou cada palavra.
— Confio em você, mas você precisa ficar seguro e voltar para mim – sussurrou Cailyn.
A confiança dela derreteu algo nele. Ninguém havia olhado para ele do jeito que Cailyn olhou. Algo estava acontecendo entre eles e a conexão que ele sentia se intensificou. Incapaz de resistir, ele se inclinou e tocou os lábios nos dela.
Faíscas voaram onde a pele dos dois se tocaram, e ele sentiu o fôlego abandonar o peito. Rapidamente, ele se afastou e viu que Cailyn estava igualmente afetada. Ele desejou que ninguém tivesse testemunhado o beijo. Pertencia a eles e a mais ninguém. Foi o momento mais íntimo que havia compartilhado com uma mulher, e aquilo não tinha nada a ver com sexo.

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