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Historia Romanceada Da Guerra De Tróia
Dionigi Cristian Lentini
Romance para rapazes… e não só.
Um romance baseado na Ilíada de Homero. Um mito é um modo para dar um sentido a um mundo sem sentido. Os mitos são modelos narrativos que dão um significado à nossa existência. (Rollo May). A mitologia não é uma mentira, a mitologia é poesia, é metáfora. Certamente foi dito que a mitologia é a penúltima verdade – penúltima porque não pode ser expressa com palavras. É mais que palavras. (Joseph Cambell).

Fascinante epopeia histórica - mitológica, com a sua enorme carga de dor e de morte, tem início a partir de um triângulo amoroso cujos lados são: Elena, “femme fatale” ante litteram da lenda homérica; Paride, herói do clássico fascínio viril; Menelao, pálido soberano de Sparta, sobrecarregado da contenda com o valoroso irmão Agamennone. O encontro entre estas personagens vai activar um destino denso de Pathos: Paride, filho do rei Priamo e loucamente apaixonado põe Elena, foge com ale; Menelao, já esposo de Elena, ofuscado pelo ciúme e desejo de vingança, vai declarar guerra em Tróia dando inicio a uma catastrófica tragédia que durará dez anos. Em torno a este núcleo central, ganharão vida, ora emaranhando-se ora dissolvendo-se, infinitas vicissitudes ligadas entre elas do invisível Destino: insondável e misterioso, verdadeiro deus ex machina da mitologia grega, o Destino supera, com o seu determinismo absoluto, até a vontade dos deuses. Nesta versão romanceada da epopeia troiana o autor parece já saber que o leitor ficará, contra a sua vontade, seduzido pela trama e que, como as crianças postas diante de uma fábula, no fim de cada capítulo procurarão saber com curiosidade irresistível: “E depois?”.


HISTÓRIA ROMANCEADA DA GUERRA DE TRÓIA
Um romance livremente inspirado na Ilíada de Homero

de Dionigi Cristian Lentini

Tradução de Aderito Francisco Huo



Todos os direitos reservados @ Copyright 2021
AO meu pai
Por ter-me transmitido
O amor pela mitologia clássica
PREFÁCIO

Ao cuidado da Dr.ª Consiglia Mosca

Num livro editado dois anos atrás, com o título Triângulos diabólicos, pesquisa sobre um arquétipo do mal, vem escrito entre outras coisas:
“O ciúme é um sentimento omnipresente. Mais, é uma das principais declinações da alma humana, releváveldesdeasnoitesdostempos e substancialmente avulsa dos condicionamentos histórico - sociais. Não é poracasoque a mitologiaclássica o representou e tipificado”1.
E mais a frente o conceito vem melhor definido:
“No mito……………………, o ciúme é parteira da tragédia e do sangue”.1
Aqui prevemos que este sentimento, sempre susceptível de desvios alarmantes, representantes da outra face do amor: sejam um como o outro estado da alma, movem na medida proeminente as acções dos homens e, por dentro do mito, mesmo aquelas dos próprios deuses.
A guerra de Tróia, com a sua enorme carga de dor e de morte, toma justamente início a partir de um triângulo amoroso cujos lados são: Helena, “femme fatal” ante litteram da lenda homérica; Páris, herói do clássico fascínio viril; Menelau, pálido soberano de Esparta, sobrecarregado pela contínua contenda com o valoroso irmão Agamenon.
O encontro entre estas personagens vai activar um destino denso de pathos: Páris, filho do rei Príamo e loucamente apaixonado por Helena, foge com ela; Menelau, já esposo de Helena, cegado por ciúme e desejo de vingança, vai declarar guerra em Tróia dando inicio a uma catastrófica tragédia que vai durar dez anos.
Em volta deste núcleo central, ganharão vida, ora emaranhando-se ora dissolvendo-se, infinitas vicissitudes ligadas entre elas a partir do invisível Destino: insondável e misterioso, verdadeiro deus ex machina da mitologia grega, o destino supera, como o seu determinismo absoluto, até a vontade dos deuses.
Como Ilíada, cuja escrita de Cristian se refere, assim todos os mitos da antiguidade, longe de propor simplesmente uma pequena história inventada, absolviam à mesma função que hoje vem assumida pela psicanálise. Denso de simbolismo, efectivamente, o mito escavava profundamente na alma do homem tornando-o consciente das usas ocultas pulsões e libertando-o da escravidão do incógnito.
O triangulo amoroso constitui portanto a dinâmica de fundo – ele-ela-o outro – sobre a qual implantam-se infinitas variações, conforme um cenário espácio-temporal que nunca se repete nas suas exigências/instâncias fundamentais. E isso acontece tanto na vida real como na reproposição artística, sobretudo no teatro, no cinema e na literatura.
A história de Helena, Páris e Menelau, representa pois “um arquétipo”, um modelo primário recorrente na complexa lógica dos sentimentos humanos. Até ao ponto de ser considerado o arquétipo do mal em absoluto.
Nada de estranho se o enredo homérico, não obstante o transcorrer de séculos íntegros, volta de vez em quando para fascinar e envolver.

Poucas semanas atrás, repentinamente, este escrito muito fluido e cativante de Cristian, solicitou a minha mente restituindo-lhe o prazer perdido de “ouvir contos”, aquela ancestral atitude infantil para seguir as míticas fabulações, desde a narração fantástica dos avôs, até os enredos empolgantes de fábulas e lendas.
Comecei a ler e continuei até ao fim, duma só vez, detendo-me frequentemente nas páginas porque, continuamente, nomes e situações engatavam-se em inumeráveis pormenores ha tempo submersos na minha memória apinhada. As sinapses tornadas preguiçosas retomando altitude e reconduzindo-me a leituras que pareciam esquecidas.
Desta forma voltei com satisfação aos anos do liceu, quando, entre estudantes, brincava-se ridicularizando às vicissitudes emaranhadas e incríveis desta acólita ruidosa, feita de personagens e divindades que, entre a mesquinhice e paixão, muitas vezes roçavam o fascínio da loucura.
Mesmo, aprisionados contra a nossa vontade entre livros e velhos bancos, não teríamos por ventura admitido agora que, no fundo, aquelas vicissitudes nos encantarão. Podia suceder que, depois da aula, permanecesse em nós a forte curiosidade de saber quais aspectos teriam tido a história da qual estávamo-nos ocupando pelo mero dever escolar.
Tem razão quem sustenta que o poema homérico não seja outra coisa que o resultado harmónico e poético de uma tradição oralmente transmitida: bastante correspondente à existência terrena, são os conflitos e as situações nele reportadas.

Com esta sua versão romanceada da epopeia troiana, parece que Cristian propõe-se acenando, entre o convidativo e o divertido. Uma espécie de jogo…quase uma aposta.
Parece já saber que o leitor ficará, contra a sua vontade, seduzido pelo enredo e que, como as crianças postas diante de uma fábula, no fim de cada capítulo procurará saber com curiosidade irresistível: “e depois?”.

Consiglia Mosca

Mottola, 10 de Junho de 2009

ÍNDICE

Prólogo (#ulink_9a2dfdac-b800-5229-8ddd-6af168eaf940)
Prometeu, as núpcias de Tétis e Peleu e o pomo da discórdia (#ulink_0d26de06-4e49-5284-b9c5-2da4a8d811ea)
O julgamento de Páris e o regresso à Tróia (#ulink_f7f6e38e-61ea-531e-b7ac-fb74b1b047d4)
O rapto de Helena (#ulink_934922ac-291b-5056-96a2-3752663df933)
O princípio da guerra (#ulink_037eab72-dcea-5bee-835e-26c164dbbdff)
À procura de Ulisses e de Aquiles (#ulink_c3644f03-f0e3-590b-a968-95cdd0234be8)
A injúria à Artemísia e o sacrifício de Efigénia
A perda de Filoctetes (#ulink_8b6eecbf-5cf0-5387-ab15-2cd53898ab70)
O primeiro ano de guerra (#ulink_d1fda726-896d-5418-a99d-f363255b3eb5)
Criseida e Briseida, o abandono de Aquiles e a vingança de Ulisses (#ulink_30669022-b000-5cec-9d01-1ccf59b18f9c)
O duelo entre Páris e Menelau (#ulink_2dc6edd0-6997-5a8e-b339-529318f44855)
Diomedes e Glauco
O encontro de Heitor e Andrómaca
O duelo entre Heitor e Ájax Telamónio (#ulink_98377d26-a8de-51be-91ea-ee5243c9e732)
O duelo entre Pátroclo e Serpedonte e a morte de Pátroclo (#ulink_6f7998bc-e9ba-5411-8209-992372ce87e1)
O duelo entre Aquiles e Heitor (#ulink_1d1b3668-0042-5a4d-9d28-ba5ae173b3fa)
Os funerais de Pátroclo (#ulink_edd8fb41-d08a-52dc-9261-e092b4258e5e)
A humilhação de Príamo e a restituição do corpo de Heitor (#ulink_fba1b1b1-418d-597b-aa2c-d99b6dc353a9)
As Amazonas de Pentesiléa e os Etíopes de Memnon (#ulink_7ebfa533-7922-5eae-9251-7b7728184612)
A morte de Aquiles
A demência de Ájax (#ulink_74740b83-84bb-5a34-ab6f-c1475a68b6fa)
As três condições (#ulink_6fed0450-de3d-518d-841c-75a200412045)
Filoctetes, Neoptólemo e a morte de Páris (#ulink_a7f9c3ce-9c6a-5586-9135-5b2ee529a1d9)
O rapto de Paladio (#ulink_d8c68f67-2366-5dbf-a05d-cd197dc5d950)
O cavalo e Sinone
A queda de Tróia (#ulink_b5a71ea6-5566-55bc-89ed-81771350592e)
Apêndice A – “Os deuses gregos”
Apêndice B – “Genealogias” (#ulink_37217bde-8bf2-5914-bf1e-dedb45477c52)
Apêndice C – “A Grécia e Tróia” (#ulink_bc129a5e-ab66-5f51-9dc4-bfbba937f97c)
O Autor
Bibliografia (#ulink_1b96497c-d94d-5d31-ac5f-e9f8022bd09d)


Prólogo
No tempo em que homens, deuses e heróis eram os únicos verdadeiros donos do seu Tempo, entretendo as próprias existências, confundindo o próprio comportamento/actos, assimilando e partilhando os próprios sentimentos, o Destino deixava reviver, assim como já tinha feito milhões de outras vezes, assim como faz todos os dias não obstante a nossa inconsciência e assim como fará até ao último dia da existência humana, a vicissitude histórica, fantástica e sobretudo do intimo que com a extraordinária acção, a dinâmica narrativa, o enredo épico, os aspectos psicológicos, os eternos indeléveis valores, inspirou, marcou e condicionou o natural curso da história.



Prometeu, as núpcias de Tétis e Peleu e o pomo da discórdia
Tudo teve o seu inicio numa alegre manhã primaveril…
Nos montes da Tessália nascia o sol do dia tanto esperado por mortais e imortais.

Finalmente as divinas asas de Hermes, deus da sorte e das viagens mas também mensageiro dos deuses, repousavam exaustos sobre uma confortável cadeira de ebonite, depois de ter distribuído o ditoso convite em toda a parte do universo. No entanto o pequeno Eros, deus do amor, aproveitava brincar com pouco zelo e irregularmente com o Caduceu, na apaixonada espera de atingir com as suas flechas os dois jovens noivos que enfim todos esperavam, o mundo celebrava o banquete nupcial de Tétis e Peleu.

Tétis, ou Tétide, era a mais bela das cinquenta ninfas filhas de Nereu, antigo deus dos abismos marinhos. A sua juventude e os seus modos fascinantes tinham feito perder a cabeça mesmo ao pai dos deuses, deus do céu e da terra, Zeus, que, não obstante estivesse já casado com a sua irmã Era, deusa da abundância, era normal entregar-se em desleais aventuras com as mais lindas mocinhas do mundo.

Acontecera que próprio quando Zeus, sob falsos espólios, estava prestes para unir-se com Tétis, chegou inesperadamente o tempestivo Hermes, levando ao seu pai uma urgente missiva: o Titã Prometeu, há anos preso por Zeus num penhasco do Cáucaso por ter roubado o fogo divino e tê-lo oferecido aos homens, estava por referir algo que se tivesse sido ignorado teria feito perder ao deus supremo o trono e a supremacia no Olimpo.

Assim, o divino sedutor precipitou-se como uma flecha de Prometeu e a estes prometeu de pôr fim ao cativeiro e ao atroz suplício ao qual lhe tinha condenado se este último lhe tivesse desvendado imediatamente o que atentava ao seu trono e incomodava desde sempre os seus sonos. E enquanto fazia solene juramento, deixou voar uma enorme águia, majestosa, impressionante, a qual lançou-se com as suas garras contra um abutre que no entanto chegava inesperadamente de Oriente. Aquele tétrico abutre devorava a fígado do pobre Prometeu durante o dia, abandonando a sua vítima nas horas nocturnas, durante as quais o órgão abdominal, por vontade divina, fatalmente e cruelmente se recompunha, pronto para ser devorado no dia seguinte. Era aquele o infinito suplício escolhido pelo pai dos deuses.

Só depois que o bico da ave de rapina estatelou-se no chão e que a águia voltou aos pés do seu senhor, Prometeu ergueu a cabeça esgotado e enquanto um chuvisco ligeiro molhava os seus lábios áridos, aceitou o compromisso ditado pelo seu carrasco, revelando que se Zeus tivesse concebido um filho com Tétis, estes teriam feito ao seu pai o que o seu pai tinha feito ao seu avô.

À tal, advertência, o pai dos dois apavorou-se, o céu trovejou, um raio rasgou a terra e as águas transbordantes do Ponto recordaram a Zeus a hedionda modalidade com a qual na noite dos tempos tinha matado o seu pai Cromo destituindo do trono dos tronos.

Prometeu foi logo libertado e Zeus renunciou para sempre à Tétis sentenciando que nenhum ser da natureza divina poderia por acaso unir-se à filha de Nereu, a qual viria a ser esposa de um humilde mortal, o mais forte dos príncipes naquela altura vivos em Peleu, filho de Eac, rei de Tessália, aquele que depois de mil peripécias tinha conseguido efectuar a proeza do tosão de ouro em seguimento de Jasão e dos outros 54 argonautas, aquele que tinha sido formado pelo Centauro Chitone, aquele que nem que mortal poderia combater como um deus, aquele que devotíssimo a Zeus teria vigiado dia e noite à futura esposa a custo da sua própria vida.

Eis porque, não obstante a heterogénea natureza dos noivos, as núpcias que se estavam a preparar eram abençoadas pelos homens como pelos deuses, eis porque as testemunhas das núpcias eram Era e Zeus em pessoa e eis porque deuses e numes de toda a parte da terra, do mar e do céu acorriam para o monte Pelio para festejar o clamoroso evento.
Finalmente, escoltados pela carroça dourada de Apolo, chegaram os dois noivos e entre mil festejos ocuparam os seus lugares no centro da mesa posta com as suas saborosas guloseimas da terra; logo ao lado deles sentavam as divinas testemunhas e depois Poseidon, deus do mar, Ade, deus dos infernos, a sua mulher Perséfone, deusa da exuberância primaveril e do verão, e Apolo, deus do sol e das artes, e Ares, deus da guerra, e Atena, deusa da sabedoria e da fortaleza, e Afrodite, deusa da beleza, Artemísia, deusa da caça, e ainda Hermes, Demetria, deusa das mensageiras e da fecundidade da terra, Hefesto, deus do fogo e da operacionalidade, Temes, deusa da justiça, Irene, deusa da paz, Éolo, deus dos ventos, Dionísio, deus do vinho e do jogo, etc. etc., até todos os reinantes e notáveis da terra.
Tudo estava organizado nos mínimos detalhes, tudo estava perfeito, ou melhor divino, a felicidade era notoriamente legível nos olhos de todos os convidados e o amor naquele dos noivos, ainda antes que Eros esticasse o seu arco e lançasse sobre eles as flechas fatais.
Um cheiro de néctar e ambrósia inebriava e espalhava-se no ar todas as vezes que os dois copeiros, Ganímedes, filho do rei Troo, e Ebe, deusa da juventude, serviam de cada vez todos os convidados.
Apolo, aconselhado pelo seu pai, chamou junto de si as Musas (Clio, Euterpe, Talia, Melpómene, Terpsícore, Erato, Polímnia, Calíope e Urânia), mais as três deusas (Aglaia, Eufrosina e a outra Talia) e começou, acompanhando-se com a cetra (escudo), a cantar as gestas de Peleu.
O som daquele instrumento divino encantou todos os presentes e ressoou em toda a terra até que chegou aos ouvidos também dos surdos e da feiíssima Eris, deusa da discórdia, o único nume a não ter sido convidado ao banquete. No dia anterior ela tinha tentado introduzir-se ao ajuntamento divino mas foi escoltada por Eros e pelo Dionísio que se tinham escondido num bosque com as Nereides e Oceânides às ocultas de Poseidon.
Também Ares, que depois de ter animosamente discutido com a Irene tinha-se afastado com Afrodite, notou aquela sombra suspeita e, agarrada pela garganta, fez andar aos tombos a indesejada deusa por toda a parte lateral ocidental do monte Pelio, intimidando-a para não voltar mais.
Mas o canto de Apolo e vozearia calorosa dos participantes acresceu a raiva e a indignação de Eris até ao ponto que esta ultima forjou um diabólico plano das mais insuspeitadas e imprevisíveis consequências...
A Discórdia foi até aos confins da terra, ali onde Atlante, irmão de Prometeu, tinha sido relegado a suster a volta celeste culpado por ter participado na guerra dos Gigantes contra Zeus. Na horta das julianas/Hespérides, filhas de Atlante, cresciam as árvores dos pomos de ouro; Eris colheu por engano o pomo mais bonito e com ele logo regressou em Tessália.
Chegou ao banquete já quando os festejos encaminhavam-se para o seu fim e os convidados, um por um, faziam exibicionismo das prendas trazidas aos noivos: Poseidon ofertou a Peleu dois lindíssimos cavalos, Balio e Xanto, os mais velozes do mundo, dotados de palavras e de previdências, Era ofereceu a Tétis um magnifico peplo historiado bordado, Afrodite ofereceu uma taça de bronze e um diadema de ouro, Atena uma flauta de ouro, Hermes uma carroça de bronze e marfim, uma pesada lança de flechas em bronze.
Assim, enquanto todos admiravam as feições daqueles estupendos brindes, Eris conseguiu intrometer-se na festa e esconder-se num canto obscuro onde ninguém podia vê-la mas suficientemente próximo para poder lançar sobre a mesa, já quase vazia, o “pomo da discórdia” que tinha há pouco roubado às filhas de Atlante.
Não obstante que fosse pouco lúcido pelas 99 gotas de vinho bebidas na competição com Dionísio, Zeus foi o primeiro a dar-se conta do pomo; ele conhecia bem aqueles frutos e, antes que todos os outros lançassem inevitavelmente o olhar sobre aquele extraordinário fruto sentenciou: “é da horta das Hespérides!”.
De repente todos, inclusive os noivos, foram capturados por aquele pomo que sobressaia no centro da mesa e alguém supôs que fosse um outro presente para aquelas inesquecíveis núpcias.
Sempre Zeus notou que naquele fruto havia uma escrita, mas o vinho absorvido lhe impedia de distinguir perfeitamente as letras e então mandou o pomo para Atena, a mais douta entre os deuses, pedindo-lhe para ler a escrita para todos. Atena não hesitou e leu a curiosa mensagem: “Para a mais bela”, reenviando o fruto ao seu pai para que decidisse ele a quem destiná-lo.
Estava, certa que o seu marido não tivesse tido dúvidas, nem custou muito ao apresentar as suas razões de esposa e primeira deusa a fim de apoderar-se daquele extraordinário presente. Logo depois interveio Afrodite, recordando a Zeus que não é por acaso que lhe pertencia o título de deusa da beleza. Enfim avançaram outras deusas e ninfas, todas com razoáveis argumentações, mas no fim a terceira candidatura reuniu-se em volta de Atena que, além da corporeidade estatuária, vangloriava também uma beleza interior e intelectual indiscutível.
Na tal contenda, até Zeus manifestou o seu embaraço e, quando o murmúrio cresceu à desmedida até tornar-se disputa, emitiu um grito poderoso como cem raios, deixando a todos mudos. Encolerizado e titubeante deu alguns passos distanciando-se do banquete deixando a Temes, deusa da justiça, o fardo da escolha.
Temes, por sua vez, depois de ter convencido a todos que cada um tinha as próprias boas razões e que ninguém entre os presentes estava em condições de julgar objectivamente uma vez que, quem por um motivo, quem por um outro, envolvido emocionalmente, por cima do cargo recebido, sentenciou: “A escolha caberá a Páris do monte Ida, aquele que será o mais lindo entre os homens”.
Só agora, Zeus, que não via a hora de fazer passar com o repouso a bebedeira acusada, exprimiu a sua paterna aprovação para com o sentenciado e decretou definitivamente concluída a questão.
Assim, depois de vários anos, quando Páris alcançou a máxima beldade juvenil, as três deusas candidatas, precedidas por Hermes, partiram em direcção do monte Ida.



O julgamento de Páris e o regresso à Tróia
Durante a viagem Afrodite, sem o conhecimento das outras deusas, conseguiu seduzir Hermes e surripiar deste o segredo de Páris, desvendado naquela noite ao deus pelo seu filho Pan: o jovem pastor era na verdade Alexandre, príncipe de Tróia, filho de Príamo e Hécuba. Ele foi abandonado ao seu nascimento no monte Ida pelos seus progenitores, visto que um adivinho tinha a eles profetizado que aquele filho seria a causa da queda de todo o reino de Tróia. O Rei Príamo, incapaz de provocar com sua manu a morte do filho, ordenou que fosse deixado naquele monte conhecido de todos pelos invernos rigorosos e pela presença de feras ferozes.

A criança mandada ao encontro da morte certa que foi amamentada e protegida por uma grande ursa e sucessivamente cuidado e criado por uma família de pastores e que nas mãos desta cresceu forte e lindo, a mesma, a tinha descoberto seguindo a ursa até ao covil e fortuitamente descobriu também a cesta do recém-nascido.

Quando Hermes e as três deusas alcançadas por Páris, estas estavam na sombra de um carvalho tocando a sua fistula de sete tubos, reparando com satisfação o rebanho, ignorando a incrível visita.
Manifestando-se diante do jovem, Era começou dizendo que, sendo seu, o privilégio de distribuir riqueza e poder aos mortais, se ele tivesse recebido tal prémio teria feito de Páris o mais rico e poderoso dos homens.
Atenas, pelo contrário, em troca do pomo oferecia inteligência, sabedoria e valor na vida e na guerra.
No fim apareceu Afrodite, bela mais do que nunca; explicou a Páris que ele já possuía tudo o que as suas concorrentes lhes ofereciam visto que ele na realidade era filho de pai rico e poderoso e na sua natureza já tinham todos preexistentes os carismas prometidos e que muito em breve lhe revelariam a sua nobre origem. Afrodite, pelo contrário, teria oferecido a ele o amor da mulher mortal mais linda, cujo nenhum homem poderia resistir à primeira vista.
Páris entreabriu os olhos, viu com a mente riqueza e poder, ficou fascinado pela suprema sabedoria, mas à imagem de Helena, a mulher prometida por Afrodite, não pôde não apaixonar-se instantaneamente e o resto dissolveu-se como as nuvens com o sol; ele abriu naquele momento os olhos e, enfim obcecado por amor, sem nenhuma hesitação deu o pomo nas mãos de Afrodite, não despreocupado pelo desdém e pelas ameaças de Era e Atenas que, derrotadas, sumiram.
Hermes correu de imediato para informar a Zeus da escolha de Páris, enquanto Afrodite prometia ao jovem pastor que muito em breve conheceria a sua nobre estirpe e o amor; deveria contudo correr para recuperar a roupa que envolvia na cesta o seu corpo de infante e partir o mais rápido possível para Ílio, a esplêndida capital chamada também Por Tróia; lá se inscrevera aos jogos do reino pelos quais estava em jogo o touro gordo que antes os soldados do rei tinham-no confiscado ao gado daquele que o julgava seu pai.
Páris, encantado e estupefacto, obedeceu sem delongas e, com uma rústica lança, um arco e a sua característica fístula, chegou finalmente em Tróia, a “cidade dos muros de ouro”. Ela nascia sobre uma amena colina entre o Helesponto e o mar Egeu. Aos pés da colina corriam dois rios, o Scamandro a ocidente e o Simoenta a norte.
Lá, com Afrodite ao seu lado, bateu, um depois do outro, todos os participantes ao torneio, sob o olhar dos soberanos e do príncipe Heitor, o mais forte e valoroso herói troiano.
No momento da distinção, o vencedor aproximou-se ao palco real para receber a investidura e a bênção de Príamo, mas, quando ficou a uma dezena de passos da cadeira do rei, a princesa Cassandra emitiu um estridente grito de desgraça; Príamo e a sua senhora gelaram, reconhecendo só naquele momento a roupa que aquele jovem trazia em vida; só então concretizam exactamente que aquele deselegante pastor vindo do monte Ida, armado de simples armas mas capaz de bater todos os mais fortes nobres troianos, não podia que ser o seu amado filho Alexandre, abandonado entre as lágrimas há vinte anos.
Tróia foi festa durante 7 dias e 7 noites e, não obstante a inicial inveja e o surdo rancor mantido dos seus cinquenta irmãos, das doze irmãs e dos jovens nobres troianos, Páris conseguiu bem cedo fazendo-se estimar e amar por todos, sobretudo por Heitor, o seu irmão mais velho. Apenas Cassandra continuava a desconfiá-lo e a amaldiçoá-lo em todas ocasiões que se encontravam, incitando muitas vezes o seu pai e a sua gente a expulsá-lo da cidade antes que se executasse a fatal profecia: Tróia viria a ser destruída e a sua família exterminada dentro das chamas. Cassandra, efectivamente, na tenra idade, por ter rejeitado de corresponder o amor de Apolo, tinha sido condenada por vontade divina para não ser por ventura dado crédito nas suas profecias que o seu divino amante lhe inspirava. A infeliz princesa conseguia predizer todas as desgraças que pontualmente arrasavam a sua gente mas de todas as vezes ninguém fiava-se dela nem lhe dava crédito, ou melhor era evitada por todos e considerada pouco sã de mente.


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