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Cativeiro
Brenda Trim
Lawson Scott está preso há três anos. Foi submetido à tortura, degradação e numerosos testes, por humanos que queriam sangue shifter. Está convencido de que passará o resto de sua vida acorrentado a uma parede até que uma cientista sexy, Liv Kimbro, é designada para o seu caso. Lawson Scott está preso há três anos. Foi submetido à tortura, degradação e numerosos testes, por humanos que queriam sangue shifter. Ele está convencido de que passará o resto de sua vida acorrentado a uma parede até que uma cientista sexy, Liv Kimbro, é designada para o seu caso. É a primeira humana a mostrar um pingo de compaixão e sua atração se inflama, apesar do desprezo que sente pela espécie dela. Um plano de fuga se desenrola e Lawson percebe até onde Liv irá para poder libertá-lo. A paixão irrompe e uma necessidade primitiva e bruta é desencadeada quando enfim sucumbem ao desejo que sentem um pelo outro. Lawson alcançará seu refúgio seguro e encontrará uma companheira para toda a vida quando Liv capturar seu coração, ou suas diferenças os destruirão e a todos que ele ama?


Cativeiro

Contents
1. Capítulo Um (#u44a75b5e-3efa-506f-b132-93c00f522030)
2. Capítulo Dois (#u09a6f4b4-8aeb-57af-b1d6-e662e5aa8a66)
3. Capítulo Três (#ub8986c3c-7763-53a5-a6e5-db47bc343595)
4. Capítulo Quatro (#u613edac9-4830-5380-9184-d08eb887f645)
5. Capítulo Cinco (#uadff440e-0adf-5ceb-a094-59bbbbbb18bb)
6. Capítulo Seis (#ua84537fa-afa5-534d-bc34-b6f25e739cfd)
7. Capítulo Sete (#ue0c407ff-b868-5189-b379-f44f4fbf5b8c)
8. Capítulo Oito (#u80b90d9e-ccfb-5e53-8b1a-9c4862e3b011)
9. Capítulo Nove (#u53a6e7a3-2a7b-5ac2-a0d8-41fad1aabe82)
10. Capítulo Dez (#ubcc082e2-f576-5044-90cf-0edc9cb5b309)
11. Capítulo Onze (#u7d7929fe-28bb-538b-8575-f23d2424cd12)
12. Capítulo Doze (#uc036d356-4169-5ad3-9e56-20adb6d0b1ec)
13. Capítulo Treze (#u082fcd91-e915-5571-b46e-0cfde33a54db)
14. Capítulo Quatorze (#u858b3bb2-f5a3-5d0d-a820-11092a4f3e49)
15. Capítulo Quinze (#u525105db-1fcb-537a-b1e5-f894409ea069)
16. Capítulo Dezesseis (#ue93edcfc-80b5-52ef-b0f1-d0a99c9bd3ea)
17. Capítulo Dezessete (#u852cd84f-7448-53f8-9fe6-a02f62e81380)
18. Capítulo Dezoito (#uacc4d3ef-fc3c-53a6-9e9a-27c1d327b9a6)
19. Capítulo Dezenove (#u1485f0e3-2639-5457-abd8-a5b89d381844)
20. Capítulo Vinte (#u7a66e3dc-2a0c-59c5-a393-e039eb566b72)
21. Capítulo Vinte E Um (#u46ea2372-f5a5-5d71-9a2a-97f94313e472)
22. Capítulo Vinte E Dois (#u96ecec5b-9dc2-5071-b76f-5d859a73532e)
23. Capítulo Vinte E Três (#uf348527d-ea29-577a-8684-07056d80752e)
Nota da Autora (#u2e92dda6-4dae-5c9b-a09f-88511d04e5fc)
Notes (#ucbf9a6e8-1bbe-5471-b11c-c9dce8ba1f5c)
Copyright © outubro de 2017 por Brenda Trim

Editor: Amanda Fitzpatrick
Arte da capa por: Madison Trim
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* * *
Este livro é um trabalho de ficção. Os nomes, personagens, lugares e incidentes são produtos da imaginação dos escritores ou foram usados de maneira fictícia e não devem ser interpretados como reais. Qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, eventos reais, localidades ou organizações é inteiramente coincidência.
AVISO: A reprodução não autorizada deste trabalho é ilegal. A violação criminal de direitos autorais é investigada pelo FBI e é punível com até 5 anos de prisão federal e uma multa de 250 mil dólares.
Todos os direitos reservados. Com exceção das citações usadas em resenhas, este livro não pode ser reproduzido ou usado no todo ou em parte por qualquer meio existente sem a permissão por escrito dos autores.
[bad img format] Created with Vellum (http://tryvellum.com/created)
O destino sussurra para o lobo: "Você não pode suportar a tempestade", e o lobo responde, sussurrando: "Sou a tempestade"

~ Autor desconhecido

Capítulo Um



Passando o cartão de acesso pelo leitor do teclado, Liv abriu a porta quando a luz verde piscou, e depois entrou em uma verdadeira sauna.
— Droga, está quente aqui! — murmurou, olhando para o corredor vazio. O ar condicionado estava desligado ou com defeito?
Nos últimos dois meses, ela havia trabalhado quase todo fim de semana e sabia que o ar condicionado pifava sete dias por semana. Então, lembrou-se de seu chefe, Jim, mencionando um novo guarda de segurança que começaria a partir daquele sábado; assim, talvez ele o tivesse desligado sem saber que alguns funcionários trabalhavam nos finais de semana. Não havia como cumprir um turno de oito horas naquele dia, pensou, abanando o rosto. Precisaria descobrir mais sobre o sistema de climatização.
Liv apressou o passo até o laboratório enquanto o suor escorria por sua testa. Livrando-se da bolsa, da lancheira e de uma braçada de pastas, ela retirou uma presilha da bolsa para prender os longos cabelos ruivos que caíam sobre a nuca. Ah, sim, muito melhor, pensou, enquanto seu corpo esfriava um pouco. Por mais que amasse seus longos cabelos, a cada verão ela pensava em cortá-los, porque eles se tornavam um terrível pesadelo quando ela estava com calor.
Caminhando até o termostato, verificou as configurações. Aquilo era estranho. Estava ajustado para vinte graus, o que era normal para o seu laboratório. Normalmente, ela ficava gelada até os ossos enquanto trabalhava e mantinha sempre um suéter leve com ela. Não precisaria dele naquele dia, pensou, limpando as gotas de suor acima do lábio superior.
Estava suando como um leitão e mal conseguia pensar direito. Um short e uma camiseta pareciam ótimos no momento. Infernos, despir-se até ficar de sutiã e calcinha seria ainda melhor. Em vez disso, ela usava calças compridas e blusa sob o jaleco. Se não conseguisse encontrar onde estava o problema e o reparasse, despiria o jaleco e não se importaria com quem pudesse vê-la e denunciasse a infração. Tinha dezenas, senão centenas, de lâminas para examinar e, com o calor que emanava de seu corpo, a lente do microscópio embaçaria.
Tirando o celular do bolso, Liv mandou uma mensagem para o chefe para ver se ele estava ciente de algum problema.
Lembrando-se de que o painel de controle central ficava na sala de descanso, ela se virou e seguiu pelo corredor principal, colocando os fones de ouvido rosa e conectando-os ao telefone celular. Com um toque de dedo, a música favorita de Liv se fez ouvir e ela aumentou o volume até o máximo. Cantarolando pelo corredor, ela tentou esquecer a temperatura e aproveitar sua música.
O longo corredor do Laboratório Principal de Pesquisa — LPP — parecia se estender por quilômetros e, é claro, a sala de descanso ficava no outro extremo. O piso de ladrilhos cinza e as paredes coloridas combinando adicionavam um ar clínico ao ambiente e faziam a caminhada parecer o proverbial corredor da morte.
Supondo que estava sozinha no edifício, Liv de repente sentiu vontade de acompanhar o ritmo de dança two-step com suas botas de caubói; seus braços também seguiram o balanço, em uníssono com o ritmo rápido. Por Deus, ela adorava dançar e mal podia esperar para encontrar sua vizinha, Cassie, mais tarde naquela mesma noite. Elas sempre se divertiam quando saíam e Liv precisava de uma folga após trabalhar um zilhão de horas.
Enquanto sacudia o traseiro ao som do boom-boom de Luke Bryan, ela não pôde deixar de notar uma porta aberta à frente. De repente, sua dança parou e o calor inundou seu pescoço e faces. Talvez não estivesse sozinha, afinal.
Normalmente, todas as portas dos vários laboratórios ficavam fechadas e trancadas, a menos que a equipe estivesse trabalhando. Liv esperava que alguém tivesse entrado para terminar seus projetos e pudesse explicar o que estava acontecendo com o ar condicionado. Uma rápida olhada na tela do celular lhe disse que Jim não havia respondido à sua mensagem. Não era de surpreender, dado que o homem praticamente morava no campo de golfe nos finais de semana.
À medida que se aproximava da porta aberta, ficou surpresa ao perceber que era uma porta que ficava sempre fechada. De fato, nos quatro anos em que trabalhou ali, Liv nunca a viu aberta nenhuma vez. Presumia que era um depósito mas, enquanto a empurrava lentamente, percebeu que era outro longo corredor.
Uma rajada de ar fresco atingiu sua pele úmida, tentando-a a se aventurar mais. Tudo bem, aquilo era estranho. O que havia ali que precisava de uma unidade de refrigeração diferente? E, por que esta funcionava enquanto o resto do edifício parecia o deserto do Saara?
Instantaneamente alerta, ela tirou os fones de ouvido para se concentrar no ambiente. Aquele corredor tinha a mesma combinação monótona de tons cinzentos do resto do edifício e várias portas se alinhavam de um lado. A única iluminação no corredor vinha de pequenas janelas em cada porta. As janelinhas eram mais altas do que seria a lógica e, quando se aproximou da primeira porta, Liv teve que ficar na ponta dos pés para espiar por ela.
Colocando a palma da mão suada na porta para se apoiar, ela olhou para dentro da sala. Estava vazia, mas havia um colchão no chão e, acima da espessa plataforma, duas correntes estavam presas à parede de pedra.
— Que diabos…? — murmurou Liv, baixinho.
O colchão e as correntes eram bastante perturbadores, mas foram os punhos de metal no final das correntes que fizeram seu coração disparar e martelar no peito. O que estava acontecendo naquela sala? É certo que estava impecável e desocupada, mas ela não conseguia imaginar qual o uso para haver um colchão ou correntes no laboratório. Embora a sala estivesse vazia, seu sexto sentido gritava que algo estava errado.
Curiosa, seguiu até a janela seguinte e espiou. Também estava vazia. Droga, pensou Liv, enquanto examinava cada sala. Cada uma delas estava vazia, exceto pelos colchões e correntes presas às paredes. O que poderia estar acontecendo naquela seção do edifício?
Era do conhecimento geral que eles realizavam vários testes e experimentos no LPP, alguns realizados em animais, mas aquilo parecia algo completamente diferente. Os animais ficavam em gaiolas em uma grande área, não em salas individuais como aquelas. Aquilo que ela estava olhando lembrava celas de prisão e, pela primeira vez, teve medo de estar sozinha no trabalho. Onde estava aquele novo guarda quando mais precisava dele?
Um metal retiniu, assustando Liv, e ela pulou. Seu coração martelou no peito quando percebeu que vinha de uma das últimas cinco portas ao longo do corredor. Agachando-se, considerou suas opções. Deveria sumir dali e perguntar a Jim na segunda-feira?
Parecia razoável, pois o suor encharcava suas costas inteiras, o que não se devia inteiramente ao mau funcionamento do ar condicionado. A cena a fez lembrar-se de um filme de terror, e ela era a mulher idiota que andava cegamente pelas vias do inferno.
Sim, ela deveria dar o fora dali. Mas… seria capaz de pensar em mais alguma coisa durante o resto do fim de semana? Seria capaz de aproveitar a noite ou qualquer outra coisa?
Não. Aquilo enlouqueceria Liv e ela não pensaria em nada além desse corredor misterioso. Precisava saber o que provocava aquele barulho e o que estava acontecendo naquele setor do edifício. Esqueça o som assustador, pensou ela, enquanto decidia seguir em frente com resolução impulsiva.
Respirando fundo várias vezes para acalmar o nervosismo, Liv deu vários pequenos passos bem devagar e ficou na ponta dos pés para olhar pela pequena janela. O que ela viu a horrorizou e ela piscou duas vezes para se certificar de que não era uma alucinação. Ela forçou os olhos para poder ver melhor através da fraca iluminação da sala.
Não, não estava tendo alucinações… ou talvez estivesse. De jeito nenhum ela poderia estar olhando para um homem, um homem anormalmente grande, dormindo no colchão. Suas mãos estavam algemadas e acorrentadas à parede. Ele estava imundo, vestindo nada além de uma calça de moletom preta coberta de sujeira. O homem estava enroscado como uma bola e tremendo. Sua pele era bronzeada, mas ele parecia doente naquela posição fetal.
Querendo ajudar, ela pegou a maçaneta e a girou, mas estava trancada. Estava prestes a bater no vidro quando ouviu sons abafados vindos da sala ao lado.
Caminhando silenciosamente para a porta vizinha, com o coração martelando um milhão de batimentos por segundo, ela avançou ao longo da parede até que pudesse ver pela janela da porta, ainda que com pouca clareza. Outro homem estava de quatro, cobrindo a cabeça e o rosto com os braços, enquanto um segurança o espancava com o bastão. Ela notou que ele também estava acorrentado à parede, completamente à mercê do guarda.
Liv não reconheceu o segurança, mas percebeu que ele estava vestindo o uniforme preto da empresa. O guarda estava sendo cruel em seu ataque. Havia sido esse o novo cara que Jim havia contratado?
Ela sentiu-se presa nesse momento terrível de indecisão entre lutar ou fugir, enquanto observava o abuso, incrivelmente atordoada. A honra lhe dizia que não podia ir embora, mas não fazia ideia de como poderia agir contra o homem armado. Em comparação a ele, ela era pequena.
Ao lado do guarda estava David Cook, outro cientista pesquisador. Liv havia trabalhado em estreita colaboração com David em vários projetos e gostava do sujeito. Não conseguia imaginar como ele não parecia se sentir mal ao permanecer ao lado, observando tanta brutalidade, mas sua postura, com pernas afastadas e braços cruzados, desmentia isso. E então ela ouviu David ordenar que o homem fosse golpeado novamente. Estavam espancando um homem indefeso. Que tipo de experimento estavam realizando?
Uma coisa era certa. Liv se sentiria péssima se fosse embora naquele momento.
Alcançando a maçaneta, Liv quase desejou que estivesse trancada, mas ela girou e cedeu. Ela abriu a porta de metal pesado e entrou com confiança e determinação. Talvez, se agisse como se devesse estar ali, eles a tratassem adequadamente. Finja até conseguir, como Cassie sempre dizia.
— Alguém pode me explicar o que está acontecendo? — exigiu Liv, com as mãos nos quadris.
Os dois homens se viraram e o outro no chão a olhou. Ele estava tão sujo quanto o outro homem na sala ao lado. Vestindo a mesma calça de moletom preta, ele parecia não ter tomado banho ou se barbeado por meses, possivelmente anos. Seus cabelos negros estavam emaranhados e caíam pelas costas. Uma barba cheia cobria a maior parte do rosto e era longa e pegajosa. Ele parecia um homem das Montanhas Great Smokies. Seu corpo era grande como o do seu vizinho e foi então que Liv percebeu. Aqueles dois homens eram shifters.
— Olivia, o que está fazendo aqui? — perguntou David, obviamente chocado ao vê-la ali, parada. — Isso realmente não lhe diz respeito — acrescentou.
— Não entendo o que estão fazendo. Por favor, explique por que esses homens estão acorrentados e sendo maltratados. Não é isso que fazemos aqui — implorou ela, com a voz trêmula de emoção.
Ela odiava deixar transparecer suas emoções tão abertamente. Por que não conseguia ser a Srta. Durona, agir com energia e ameaçar denunciá-los?
— Querida, é melhor você ir embora. Detestaria colocá-la sobre os meus joelhos e lhe ensinar o que acontece com garotinhas que não se metem com os próprios assuntos — zombou o guarda e então lambeu os lábios. O estômago de Liv se revirou ao pensar na possibilidade de o homem chegar a menos de três metros dela.
Ele era um homem grande e corpulento, e parecia que ficaria feliz em concretizar sua ameaça. Imaginando que pudesse estar com quarenta e tantos anos, ele parecia estar em excelente forma física. Foram seus olhos castanhos e enlouquecidos que a deixaram tão nervosa.
O homem no chão se moveu e o guarda ergueu o bastão e bateu nas costas dele com dois golpes consecutivos. O shifter caiu sobre o peito e rosto, cobrindo a cabeça o melhor que pôde.
Liv deu outro passo à frente.
— Isso é necessário? Ele nem consegue se defender. David, por favor, faça alguma coisa — implorou ela.
— Olivia, não é o que parece. Ele é um shifter e não se pode confiar nele. São selvagens e imprevisíveis. As algemas servem tanto para a proteção dele quanto para a nossa. Apenas vá. Agora! — exigiu David com severidade, mas Liv ouviu a sinceridade em seu tom.
Ela sabia muito pouco sobre shifters e não havia passado qualquer tempo com um deles, mas ouvira histórias. As notícias retratavam os shifters exatamente como David descrevia. Selvagens, violentos e imprevisíveis. Os humanos reconheciam os shifters por seu grande tamanho. Eram mais altos, mais musculosos, com mãos e pés maiores. O homem no chão parecia que poderia ganhar um concurso de Mr. Universo sem esforço. Se estivesse limpo e barbeado, é claro.
Liv reconhecia que a convivência entre humanos e shifters era muito segregada, e ambos preferiam assim. Os shifters viviam em suas comunidades isoladas e geralmente possuíam os negócios ali dentro. Uma vez que pagassem impostos e obedecessem a leis e regulamentos, todos ficavam felizes.
Havia rumores de que os shifters eram extremamente violentos, selvagens mesmo. O homem no chão estava agitado, rosnando para o guarda que pairava sobre ele e Liv se perguntou se ela estava prestes a testemunhar sua capacidade em primeira mão.
— Vou embora se vocês dois vierem comigo. Não posso ir, se acho que vocês continuarão batendo nele — declarou Liv, cruzando os braços sobre o peito. Sim, ela poderia ser teimosa e desafiadora, e sentiu que aquele homem poderia precisar de um amigo agora.
— Ora, sua pequena cadela, vou lhe mostrar o que é uma punição — retrucou o guarda, começando a se dirigir até Liv.
Com a velocidade da luz, o shifter se pôs de pé e agarrou o guarda com uma gravata. Antes que Liv pudesse reagir, ele envolveu a corrente de metal em volta do pescoço do homem e puxou, quebrando-o. Liv só podia imaginar a força necessária para fazer uma coisa dessas. Imediatamente, o guarda caiu no chão como uma boneca de pano.
O grito agudo de Liv ricocheteou nas paredes de concreto, ao mesmo tempo que David avançava em direção ao shifter, com a arma tranquilizante na mão.

Capítulo Dois



Lawson não conseguiu controlar a raiva. Seu lobo estava prestes a assumir o controle e ele teve que lutar contra o desejo de se transformar. Acorrentado à parede, os movimentos de seu lobo seriam limitados. Precisava de uma chance melhor em sua forma humana para uma possível fuga.
O desgraçado daquele guarda mereceu o que recebeu. Ele não havia visto aquele homem até então, mas eram todos iguais. Eles entravam, exigiam que ele se transformasse e, quando Lawson não obedecia como um filhote bem treinado, eles começavam a espancá-lo.
Danem-se todos.
Ele sabia o que estavam tentando fazer. Bem… o que eles pensavam que estavam tentando conseguir e ele não iria colaborar com o jogo.
Danem-se todos.
A fêmea gritou e Lawson viu o outro homem correndo em sua direção. Sim, aquele bastardo com a arma tranquilizante não fazia ideia. Aquele homem já estivera em sua cela muitas vezes e sempre ficava nas proximidades como um covarde, vendo Lawson levar surras após surras com uma expressão presunçosa no rosto. Ele estava prestes a sentir a ira de Lawson e este ia gostar de ver o técnico do laboratório se urinar de medo.
Assim que o homem chegou ao seu alcance, Lawson se agachou e varreu a perna direita. O homem rapidamente caiu no chão e Lawson agarrou seus pés, puxando-o na sua direção. Segundos depois, suas correntes enrolavam-se no pescoço de seu captor e ele pôde sentir a vida se esvair do corpo do homem enquanto apertava com toda sua força. Quando os olhos do homem reviraram, Lawson liberou o corpo sem vida.
Um outro grito da mulher o fez se virar para encará-la. Olhos verdes horrorizados o perfuraram mais profundamente do que as inúmeras agulhas que enfiavam nele. Ele podia sentir o cheiro do medo dela, sem mencionar o do sexo dela. Suas narinas sensíveis não cheiravam uma fêmea havia muito tempo. Foi avassalador e seu corpo instintivamente reagiu.
Uma necessidade primordial percorreu suas veias e um rosnado baixo escapou de sua garganta enquanto seu lobo rondava a superfície, exigindo ser liberado.
— Saia! — gritou ele, puxando as correntes. — Não vou me transformar para você ou qualquer outra pessoa. Chegue perto de mim e você ficará no chão ao lado desses dois! — vociferou ele, chutando o segurança morto na direção dela.
Ela deu um passo na direção dele, os braços estendidos em sinal de rendição.
— Não sei o que você está falando. Não conhecia essa área do prédio. Deixe-me ajudá-lo — implorou ela.
À medida que ela se aproximava, um perfume doce provocou e tentou o corpo dele. Seu pênis enrijeceu, precisando de alívio, mais do que ele precisava de ar para respirar. Ele nem ficava atraído por humanas, mas agora ele estava pronto para despi-la, curvá-la e fazer sexo com ela.
Tremendo incontrolavelmente, ele se virou. Não para bater nela, mas para assustá-la. Se ela desse mais três passos em sua direção, ele teria a fêmea em suas garras, e não havia como dizer o que faria com ela.
— Dane-se, mulher. Quer ajudar? Abra isto — exigiu ele, puxando os punhos de metal novamente.
Ela hesitou e Lawson se sentiu inseguro, mas ela parecia estar contemplando as palavras dele quando, de repente, virou-se e fugiu da sala. Parte dele queria chamá-la de volta e explicar que não era um assassino a sangue frio. Lawson não gostava do horror que representou, mas não viu outra opção. Não podia ficar na presença dela sob tal excitação.
Lawson puxou as correntes de novo, tentando se libertar. Não que não tivesse passado todos os momentos em que estivera acordado tentando escapar, mas a porta estava entreaberta, e essa poderia ser a única chance que teria. Precisava sair daquele lugar infernal. Se tivesse que suportar mais uma surra ou, sem querer, derramar mais uma gota de sangue, poderia ceder.
Há muito tempo ele havia parado de contar os dias em que estivera em cativeiro. Pela sua estimativa, estava preso por pelo menos dois anos, talvez mais. Não tivera uma refeição decente, um banho quente ou uma cama aquecida o tempo todo. Era alimentado uma vez por dia, lavado com água gelada uma vez por semana e dormia no colchão sujo sem um lençol para se aquecer.
Determinado a não passar mais uma noite naquele buraco, Lawson apoiou o pé na parede de concreto para ter mais força. Respirando fundo, puxou as correntes pesadas. Nada. Tentou de novo. Nem mesmo um leve movimento no fixador preso à parede. Ele colocou os dois pés na parede e puxou até que os músculos do braço pareciam rasgar de tensão.
De repente, ocorreu-lhe que o guarda provavelmente tinha seu cartão de acesso. Havia um pequeno teclado na base das algemas que os travava eletronicamente. Tudo naquele maldito lugar estava ligado através do sistema de segurança.
Desejando não ter chutado o guarda para longe de seu alcance, ele caminhou até onde as correntes permitiam. Esticou-se e alcançou os pés do homem. Finalmente, seus dedos tocaram as botas de couro e ele agarrou a sola. Puxando o melhor que pôde, ele finalmente trouxe o homem perto o suficiente para poder agarrar os tornozelos.
Arrastando-o para perto, Lawson rapidamente procurou dentro do uniforme do homem. Poderia finalmente escapar se encontrasse a droga do cartão. A alegria encheu seu coração. Precisava desesperadamente ir para casa. Sua mãe, pai, irmão e irmãs deveriam estar muito preocupados. Pensavam que ele estava morto? Estavam seguros? Ele sabia que outros estavam sendo mantidos em cativeiro porque ouviu batidas nas proximidades, mas não fazia ideia de quantos estavam lá ou se os conhecia.
Uma maldição saiu de seus lábios quando não encontrou nada nos bolsos da frente ou de trás do guarda. Era difícil para Lawson, com suas mãos grandes, mexer na jaqueta e procurar. Droga, ele estava tremendo por causa da pressa. Lado esquerdo, vazio. Quando se moveu para o bolso direito, uma voz grave perturbou sua concentração.
— E que diabos você pensa que está fazendo?
Lawson olhou para cima e viu Jim Jensen. O bastardo covarde, ridículo e grosseiro encarregado de toda aquela operação. Lawson havia fantasiado estrangulá-lo com as próprias mãos. Mais cinco homens entraram na cela e a felicidade de Lawson rapidamente esvaziou junto com sua esperança de sair da prisão.
— Agarre-o, Kevin. Parece que nosso amigo aqui cometeu um crime — zombou Jim, esfregando a covinha do queixo em desaprovação, enquanto examinava os corpos no chão. Lawson daria um olho para socá-lo naquele queixo em forma de bunda apenas uma vez.
Kevin deu um passo em sua direção e Lawson avançou, mostrando as presas. Enquanto o grupo de homens o cercava lentamente, Lawson agachou-se em posição de luta. As probabilidades estavam contra ele, e Lawson decidiu que, se tivesse que cair, cairia lutando.
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* * *
Jogando uma nota de dez dólares na direção do caixa, Liv entrou correndo na casa noturna, ainda se recuperando do que havia acontecido. Estava morrendo de medo e pegou seu telefone uma dúzia de vezes, dividida entre ligar para o chefe ou alertar a polícia sobre o que havia testemunhado. Por fim, decidiu conversar com Cassie antes de fazer qualquer coisa, porque, francamente, ficou perturbada com a ideia de que sua importante empresa pudesse estar envolvida em algo tão hediondo.
Examinando o salão, ela localizou Cassie e correu na direção da mesa onde ela estava sentada. Despencando na cadeira em frente à amiga, Liv pegou a bebida diante de Cassie e a bebeu de um gole só. A tequila parecia um maçarico, queimando-a garganta abaixo
— Ei, que diabos aconteceu? Esperei quinze minutos para ter essa bebida — gritou Cassie, acima do barulho alto da música. — E você está atrasada. Tive que dar umas malditas desculpas para três desventurados dando em cima de mim. Onde você esteve?
— Garota, você não faz ideia. Onde está essa maldita garçonete, afinal? Preciso de uma garrafa inteira, depois do que acabei de passar — explicou Liv, examinando o clube e procurando a familiar regata esportiva com os dizeres “SUGUE-ME” no peito, nas moças de seios excessivamente aumentados que costumavam trabalhar no Popsicles, o local “quente” de Chattanooga.
— Bem, desembuche. É melhor que seja bom, porque boa era essa droga que você acabou de beber. Esta não é uma noite romântica, e tenho certeza de que você não vai me colocar para dormir mais tarde — exclamou Cassie, mascando um chiclete.
— Pare de reclamar e ouça-me. Sério, você não vai acreditar no que aconteceu no trabalho — interveio Liv, agitando os braços com excitação. — Acabei de ver dois homens sendo estrangulados bem na minha frente. Mortos. Você me ouviu? Mortos! — Mesmo enquanto gritava as palavras, mal podia acreditar nelas.
Os olhos castanhos esbugalharam-se como se Liv tivesse admitido ser viciada em heroína, fumando crack em uma igreja.
— Hummm, diga de novo? Devo ter ouvido errado, Liv. Você disse… mortos?
— Sim! Mortos. Dois homens. Mortos! Como, tipo, o oposto de vivo — gritou Liv, vendo uma funcionária caminhando na direção delas. Quando Liv percebeu que os peitos aos saltos estavam diretamente alinhados com a mesa dos turbulentos universitários, ela se moveu para a linha de visão da moça.
— Gostaria de uma garrafa de tequila. Não um copo, mas toda a maldita garrafa. E, não posso comprar coisas realmente boas, lembre-se disso, se você espera que seja eu a pagar. Ah, e dois copos e alguns limões, por favor. — Liv fez um biquinho e estampou o que sabia ser um sorriso desequilibrado, tentando parecer calma, mesmo que estivesse prestes a explodir de ansiedade.
— Claro, querida. Deixa comigo. Volto em um instante — respondeu a loira fatal, digitando em seu tablet.
Liv exalou, tentando recuperar a calma e depois se apertou na mesa ao lado de Cassie. Todo mundo no clube provavelmente pensaria que eram lésbicas, mas ela não se importava. Precisava conversar em particular com a amiga.
— Ok, acalme-se e comece do começo — pediu Cassie, colocando uma reconfortante mão sobre a de Liv e sorrindo, solidária. Liv não poderia ter pedido por uma vizinha e amiga melhor que Cassie. Haviam passado por muitas coisas juntas, desde celebrações a corações partidos, e se havia alguém com quem Liv podia contar, era Cassie. Era o tipo de amiga que, se Liv dissesse que precisava se livrar de um corpo, ela pegaria uma pá sem hesitar.
Liv recordou a primeira vez em que se encontraram. Estava morando em sua casa havia mais ou menos uma semana, e ouviu batidas na porta da frente. Quando atendeu, Cassie estava lá, de camiseta masculina, e nada mais, querendo mel emprestado. Depois, Liv descobriu que o mel seria usado para ser espalhado por todo o corpo de Cassie e do namorado dela. Ela disse a Cassie para ficar com o mel, mas rapidamente se tornaram amigas e parceiras de crime.
Despertando de suas recordações, ela organizou os pensamentos antes de explicar os eventos no trabalho. Depois que começou a falar, não conseguiu mais parar. Contou-lhe sobre o corredor secreto, os shifters sendo mantidos prisioneiros e sobre como o guarda e outro cientista haviam morrido nas mãos do homem que então ameaçou matá-la. O estranho era que ela não havia acreditado nele. Os olhos cinzentos dele guardavam calor e bondade, embora ele mostrasse presas afiadas.
— Caramba! O que vai fazer? Seu chefe respondeu sua mensagem? — perguntou Cassie, enquanto a garçonete, Penny, se aproximava da mesa e pousava uma garrafa de tequila Camarena, dois copos e uma tigela pequena de fatias de limão sobre a mesa.
Era uma tequila decente. Provavelmente, para se cobrar o dobro do que ela pagaria na loja de bebidas, um pouco acima dos recursos de Liv, mas pelo menos ela não ficaria enjoada ou teria uma ressaca terrível no dia seguinte.
— Posso ajudar em mais alguma coisa? — perguntou Penny, desatenta, piscando para um dos caras na mesa perto da delas.
— Não. Estamos bem, obrigada — respondeu Liv, e Penny rapidamente correu para o cara musculoso com um sorriso lindo. Voltando a atenção para Cassie, Liv respondeu: — Não faço ideia. O que você acha? Envolver a polícia? Ligar para o meu chefe e me despedir? Realmente preciso desse emprego. Talvez os homens não estivessem mortos, mas apenas desmaiaram — sugeriu Liv.
A verdade era que ela não sabia ao certo. Aconteceu tão rápido. Talvez estivesse errada sobre eles estarem mortos.
— Eu não ligaria para a polícia, especialmente se você estiver errada. Isso a faria ser demitida, com certeza. Eis o que sugiro. Vá trabalhar segunda-feira e aja como se tudo estivesse normal. Você saberá em breve o que aconteceu. Com sorte, você está enganada sobre o LPP. Jim me pareceu bem agradável quando o conheci no piquenique do ano passado. Talvez você tenha deixado sua imaginação prevalecer — explicou Cassie, enquanto servia uma dose para cada uma e entregava o copo com logotipo em relevo para Liv.
Liv bebeu tudo e pegou um limão, enquanto seu rosto se contraía com o gosto forte. Ela mordeu e sugou. Melhor combinação de sempre. A acidez do limão acalmou seu paladar, e de um zunido reconfortante veio logo a seguir.
— Você está certa. Fingir até conseguir, certo? — brincou Liv, servindo outra dose a cada uma delas.
— Vou beber em homenagem a isso! falou Cassie, com voz estridente, brindando os pequenos drinques.
Liv sentiu uma vibração no bolso e percebeu que ainda estava vestindo seu jaleco. Ok, aquilo era embaraçoso como os diabos. Não era de se admirar que nenhum homem tivesse se aproximado de sua mesa. Eram elas as lésbicas tolas se pegando na mesa do canto, pensou ela enquanto pegava o celular.
— Oh, droga, isso não pode ser bom — deixou escapar Liv, enquanto olhava para a mensagem na tela.
— O quê? Quem é? — perguntou Cassie, curiosa.
— É o Jim. Ele diz que a primeira coisa que precisa fazer amanhã de manhã é me ver — suspirou Liv, olhando para o telefone.
Ela tinha a sensação de que aquela porcaria estava prestes a atingir o ventilador e que ela se encontrava em pé, na frente dele, coberta de estrume.

Capítulo Três



— Entre — vociferou Jim, por detrás da porta fechada do escritório.
Liv se encolheu com a voz rude e tentou decifrar o humor dele. Não queria ser questionada sobre o que viu com os shifters. Havia ficado obsessiva com o encontro da tarde anterior e a tequila não ajudou em nada além de lhe dar dor de cabeça. E ela que pensava que era de uma marca decente. Então, mais uma vez, elas beberam a garrafa inteira.
Desistindo de seu exame, Liv abriu a porta e foi recebida por uma expressão solene. Aparentemente, ele estava irritado. Não era o dia certo para chegar ao trabalho sem ter dormido e de ressaca.
Entre o incidente no laboratório, a bebida e a mensagem de texto de seu chefe, ela não havia fechado os olhos. Tomou três xícaras de café antes de sair de seu apartamento, esperando que isso a ajudasse a se concentrar. Infelizmente, ao ouvir a agitação de Jim, havia uma alta probabilidade de vomitar o café.
A grande questão era se Jim estava ciente do possível duplo homicídio e, mais importante, se ele sabia que ela os havia testemunhado. Ela fechava e abria os punhos ao lado do corpo, enquanto seu coração dava a impressão de ser um boneco de molas em uma caixinha de surpresas, pronto para saltar do peito a qualquer momento. O suor escorria por sua espinha enquanto ela caminhava em direção à mesa dele.
— Bom dia, Jim. Espero não tê-lo deixado esperando — gaguejou, odiando o tremor em sua voz.
Se o cara não soubesse os detalhes da noite anterior, em breve saberia. A culpa devia estar estampada em todo o seu rosto. Ela sabia que sua expressão gritava: estou escondendo algo, em grandes letras de néon. Ser evasiva e usar de subterfúgios não eram seus pontos fortes.
Mesmo quando criança, Liv não conseguia escapar através da mentira. Uma declaração acusatória e ela cederia, contando tudo e confessando seus pecados. É claro que, quando criança, seus pecados consistiam em não escovar os dentes antes de dormir, roubar um biscoito ou não terminar o dever de casa.
Agora, ela havia avançado para crimes muito maiores, envolvendo brutalidade e assassinato. Não havia participado, mas ficou inerte enquanto um shifter estava sendo brutalizado e depois viu o homem retaliar, tirando vidas.
Oh, inferno. Liv não considerou o que isso poderia significar para ela. Poderia ir para a cadeia? Ela se amaldiçoou por não ter chamado a polícia. O que a polícia faria com ela por permanecer calada? Isso fazia dela uma cúmplice? Oh, Deus, ela seria presa.
Sua mente girava com as possibilidades. Havia se prendido à ideia, na noite anterior, de que Jim iria lhe poupar, e agora ele a demitiria e, depois, a entregaria à polícia.
Sua respiração ficou irregular e a cabeça girou. Droga, ela precisava se sentar antes de desmaiar. A bebida cafeinada chacoalhava e agitava seu estômago. Ugh. Graças a Deus, ela não havia conseguido comer nada de substancial naquela manhã ou estaria jogando-a na cesta de lixo de Jim antes que ele pronunciasse a primeira palavra.
— Bom dia. Estou aqui há um tempo, mas não por sua causa. Obrigado por vir em um domingo. Por favor, sente-se — ofereceu, com um gesto rápido para a cadeira em frente à sua mesa.
Liv caminhou até a poltrona de couro preto e sentou-se.
— Cuidei do problema do ar condicionado que você me relatou em uma mensagem ontem. Espero que não tenha sido muito difícil trabalhar. Conseguiu fazer alguma coisa? — continuou Jim, erguendo uma sobrancelha curiosa.
O homem forte estava sentado atrás de sua grande mesa, com os braços cruzados sobre o peito. Ele era grande e corpulento, para não dizer intimidador.
Era sério que ele a chamara para perguntar sobre trabalhar no calor? Ele sabia que não devia questioná-la. Ela havia sido a funcionária do mês mais vezes do que se lembrava. Fugir dos deveres não fazia parte da composição genética de Liv.
Ele estava testando-a para ver o que ela sabia? Os olhos azuis escuros dele não davam pistas sobre seus pensamentos interiores. O homem conseguia fazer uma tremenda cara de paisagem, e ela pensou em lhe sugerir que ele jogasse cartas em vez de golfe.
— Hum, na verdade o calor estava insuportável e terminei mais cedo. Sem dúvida, ele está funcionando agora — expressou ela, esfregando os braços, com frio.
Estava gelado no escritório de Jim e um calafrio percorreu a espinha dela. Era verdade que seus tremores tinham mais a ver com o medo que sentia de que ele a despedisse e a entregasse à polícia.
— Olivia, gosto de você, realmente, e é por isso que você precisa parar enquanto está vencendo — aconselhou ele, estreitando os olhos enquanto se inclinava para a frente e apoiava os cotovelos na mesa.
— Não sei se estou entendendo bem o seu raciocínio, senhor — respondeu ela com cautela, descruzando as pernas e remexendo-se na cadeira.
Torcendo as mãos no colo, Liv sentiu um rubor nas faces. Nossa, ela era patética. O desejo de confessar agitava seu estômago. Se não vomitasse a verdade, tinha certeza de que desmaiaria.
— Vamos ser francos, não é? — perguntou ele. — Cheguei ontem à noite para acabar encontrando dois homens mortos em um dos laboratórios. Você pode imaginar meu choque e preocupação. Não é o tipo de coisa que precisamos vazar para a mídia. Esta é uma empresa respeitável e eu gostaria que continuasse assim. Agora, por que estou compartilhando isso com você? Bem, digamos que revi as fitas de segurança da noite passada. Quer conversar sobre o que viu? — perguntou Jim.
O tom dele perdeu a aspereza e seus olhos se arregalaram de preocupação. Liv se perguntou se a preocupação que ela via no rosto dele era sincera. Ele não parecia aborrecido ou preocupado por dois homens estarem mortos. Ela não viu remorso, o que era alarmante.
— Sr. Jensen, juro que não estava bisbilhotando. Estava a caminho da sala de descanso quando notei uma porta aberta. Esperava que outra pessoa estivesse trabalhando e pudesse me ajudar com o problema do ar — despejou ela, quando finalmente as comportas se abriram e as palavras saíram de sua boca.
— Está bem. Não estou acusando-a. Você deve ter perguntas sobre o homem acorrentado. Por favor, sinta-se à vontade para dizer o que estiver pensando — persuadiu ele, com um sorriso de escárnio, antes de rapidamente mascarar sua expressão.
Os cabelos na nuca de Liv se arrepiaram. Ela precisava proceder com cautela até descobrir a verdadeira intenção dele. O seu instinto lhe dizia que sua vida estava em risco. O perigo vinha dele, não da polícia. Ele sabia dos abusos ocorridos em seu laboratório e os tolerava. O que isso dizia sobre o chefe dela? Nada de bom.
— Bem, não vou mentir. Ver aquele homem acorrentado e espancado foi chocante, horrível — murmurou ela, sabendo que ele vira sua reação inicial na fita. — Por que estamos mantendo-o contra sua vontade? O que ele fez para merecer esse tratamento? — perguntou ela, esperando não ter cruzado nenhuma linha com seu desafio.
— Você está ciente de que ele é um shifter? — perguntou ele, incrédulo, como se isso explicasse tudo.
— Sim, mas isso não me responde por que estamos mantendo-o prisioneiro — admitiu ela, enquanto se levantava da cadeira.
Seu sangue acelerou nas veias e sua raiva esquentou, sabendo que aquele homem poderia considerar as ações do guarda como justificadas. O shifter estava agindo puramente em legítima defesa. Sim, ele parecia mais um animal raivoso, mas quem não seria assassino sob aquelas condições? De repente, seu senso de autopreservação voou pela janela.
— Olivia — interveio ele, levantando-se da cadeira, contornando a mesa e agarrando as mãos dela. Elas estavam frias e úmidas e, sem pensar, ela as puxou das mãos dele.
Estreitando os olhos, ele continuou:
— Sei que você está ciente sobre a nossa pesquisa contínua sobre câncer, para encontrar uma cura para a doença mortal. Esse é um dos pilares desta empresa. Dito isto, devemos realizar experiências e pesquisas difíceis para obter as respostas que buscamos.
Conhecer os pilares deles? Claro que sim. Era um dos queridinhos dela. Ela tinha milhares de horas investidas no arquivo número 4467557. Sem mencionar que ela havia perdido a avó por causa de um câncer de ovário quando tinha apenas dez anos de idade. Observá-la definhar e morrer, uma sombra da mulher que havia conhecido deixara uma marca indelével.
Liv esfregou o anel com pedra de ametista na mão esquerda enquanto pensava na avó. Era a única joia que sua avó usava, e ela a entregara à mãe de Liv para que a guardasse até Liv completar dezoito anos. Foi o amor e a devoção de Liv por sua avó que a deixaram tão determinada a encontrar uma cura para a doença.
— Claro que estou ciente. O que isso tem a ver com o shifter? — perguntou ela, sem saber o que Jim estava querendo com aquilo.
— Temos motivos para acreditar que o sangue de um shifter é a chave. Todo mundo sabe que eles têm uma capacidade superior de cura. Estamos no caminho certo… sei disso. Olivia, podemos estar à beira de uma descoberta. Imagine o reconhecimento que minha empresa, nossa empresa, receberia se fôssemos os primeiros a encontrar a cura — vangloriou-se ele, entusiasmado, sorrindo de orelha a orelha.
Mais uma vez, o cabelo da nuca de Olivia se arrepiou. Algo não estava encaixando. Ela desejava a cura tanto quanto qualquer pessoa, mas não às custas dos outros. Lembrou-se do shifter gritando com ela, recusando-se a lhe dar sangue ou a qualquer outra pessoa.
Como o LPP encontrou aquelas cobaias? Era contra a lei fazer experimentos em humanos, até mesmo em shifters. Ela não conseguia imaginar aqueles homens respondendo a um anúncio para ganhar dinheiro extra doando seu sangue. Além disso, nenhum dos homens que ela viu estava ali voluntariamente. A única maneira de obter respostas era voltar para a sala onde estava o shifter e conversar com ele. E Jim era seu bilhete de entrada.
— Que notícia maravilhosa, Jim. Nada me agradaria mais do que encontrar uma cura. Muitas vidas foram perdidas. O que exatamente você está me dizendo? Como conseguiu permissão para que esses shifters participassem e por que a situação é tão instável? Ele está se recusando a cooperar? É por isso que está acorrentado? — perguntou ela, tentando uma aliança com Jim.
— Sim e não — afirmou ele, exalando e ignorando completamente a pergunta sobre a legalidade do estudo. — O homem que você viu afirma que seu sangue não pode ajudar. Ele se recusa a mudar de forma por nós, o que acho que precisa acontecer. Minha teoria é que o sangue em sua forma animal difere daquele de seu estado como humano, e esse é o sangue que procuro. Além disso, você viu como ele se torna violento. Está acorrentado para que mais funcionários meus não sejam mortos. Recuso-me a arriscar suas vidas — explicou Jim, enquanto começava a andar pelo escritório espaçoso.
— Posso entender por que você está dizendo isso. Não estava preparada para a raiva e violência que ele mostrou. Sabia que não deveria ter saído correndo da sala, mas estava apavorada. Ele ameaçou me matar também — disse Liv ao seu chefe, e outro tremor percorreu sua espinha ao se lembrar dos olhos cinzentos do shifter, cheios de fúria.
Novamente, ela questionou a ameaça dele. Ela estava perto o suficiente para que ele pudesse agarrá-la se quisesse, mas ele não o fez.
— Sim, ouvi tudo quando vi a fita. Então, você pode entender por que aquela seção do edifício está bloqueada. Temos mais de cinquenta funcionários e não posso me arriscar a repetir os acontecimentos da noite passada. Não quero você perto daquele corredor de novo. Estamos entendidos? — perguntou Jim, mas não era um pedido. Era uma ordem.
Parte de Liv queria evitar aquele corredor terrível. Não estava mentindo quando disse que era assustador. Nada em sua vida foi tão horrível quanto testemunhar dois assassinatos. Saber que aconteceu através das mãos desarmadas do shifter a assustava terrivelmente. Ele poderia quebrar seu pescoço apenas com uma de suas mãos.
Ela colocou a palma da mão sobre o estômago revolto enquanto sua mente continuava com a rotina de Sherlock Holmes. Precisava se aprofundar no assunto. Sem dúvida, Jim queria que aquilo fosse mantido em segredo. Duas vidas foram perdidas. Como ele poderia esconder isso? E quanto às famílias? Ela não lembrava se David tinha família, mas certamente alguém sentiria sua falta. E, por que diabos Jim não envolveu a polícia?
Liv tinha inúmeras razões para evitar o shifter. E, ainda assim, nenhum deles iria mantê-la longe. Seus olhos cinza-metálico ficaram marcados em sua mente e ela não conseguia se livrar deles. Apesar das ações dele, ele estava sendo torturado. Se ficasse parada e não fizesse nada, era a mesma coisa que colocar uma arma na cabeça dele e puxar o gatilho.
Por que ela não podia ser um capacho e balançar a cabeça como uma boa menina e continuar com sua vida? Seria a escolha mais segura, mas ela não conseguia. Não à custa da vida de outra pessoa. Precisava ter acesso ao shifter e descobrir exatamente o que estava acontecendo nos bastidores da empresa para a qual trabalhava, mas precisava abordar o assunto com cautela. E pelo ângulo certo.
— Jim, posso ser de ajuda — sugeriu, colando um sorriso sedutor no rosto e batendo os cílios enquanto se aproximava e colocava a palma da mão no peito dele. Ela poderia ser péssima em mentir e ser uma grande cara de pau, mas sabia como apelar para o sexo oposto.
Como esperado, o comportamento dele abrandou, e seus olhos percorreram todo o corpo dela. Com frequência, ela o pegava olhando para o seu traseiro, mas nunca deu ao homem casado a menor atenção. Agora, enquanto flertava com ele, ele estava praticamente se babando.
— O que tem em mente? — murmurou ele, com a voz tomada pela luxúria.
Manipular Jim era muito fácil. Pelo amor de Deus, ele não tinha qualquer integridade. Era um idiota por ser tão facilmente vítima dos avanços de uma mulher. Eram homens como ele que faziam Liv evitar o altar. Parecia que ninguém mais conseguia ser fiel. Na primeira oportunidade de se perder, a maioria não pensava duas vezes antes de trair.
— Percebi que o shifter parecia ter um fraco por mim, se você pode imaginar isso — incitou ela, enquanto girava um longo cacho vermelho ao redor do dedo.
— Sim, posso imaginar isso. Posso imaginar muito mais — insinuou ele, retirando o cacho de sua mão e envolvendo-o em torno de seu dedo grosso. Ela imaginou o dedo nas calças dele ficando mais grosso a cada minuto.
Dando dois passos para trás, ela colocou espaço suficiente entre eles para que ele soltasse seu cabelo.
— Bem, o que estou pensando é que posso tentar ganhar a confiança dele. Se ele se sentir confortável comigo, talvez considere mudar de forma. Afinal, se o sangue deles é a chave, quero a cooperação dele tanto quanto você quer. Apenas acho que você pega mais moscas com mel — brincou ela, com uma piscadela.
— Aposto que seu mel é o mais doce — professou ele, lambendo os lábios.
Sim, esse cara é um grande ator. Liv não pôde deixar de sentir pena da esposa dele. Ela a havia encontrado uma vez, e a mulher parecia boa pessoa. Por que tantos homens traem? Faltava alguma coisa no casamento deles ou eles estavam simplesmente ansiosos para provar algo diferente? Mais uma vez, razão suficiente para evitar a ida até o altar.
Tentar conseguir que o homem excessivamente excitado se concentrasse era um desafio.
— Posso começar a passar um pouco de tempo com o shifter e ver o que acontece. Talvez precise ficar sozinha com ele — instruiu Liv, esperando obter a aprovação de Jim sem causar alarme.
— Não sei se é bom. Ele é imprevisível. A última coisa que quero é que aquele animal a machuque de alguma forma. Gosto de ter seu belo traseiro por perto — admitiu ele abertamente e estendeu a mão, golpeando seu traseiro. Pervertido.
Não demorou muito para que aquele idiota pensasse que ela havia lhe dado sinal verde. Ela não podia deixar de se perguntar quantas outras mulheres ele havia perseguido no trabalho. Não ouvira nenhum boato por ali, mas isso não significava nada. Casos no escritório aconteciam o tempo todo.
— Vamos apenas experimentar e ver. Se ele mostrar qualquer agressão, vou afastar meu belo traseiro de lá, mais rápido do que ele poderia se transformar — brincou ela, virando-se para que Jim pudesse admirar seu traseiro.
Ela estava vestindo sua calça jeans favorita que cobria seu traseiro da maneira certa e queria que ele visse o que ela tinha a oferecer. Os olhos dele se arregalaram, apreciativos, e Liv não deixou de notar a ereção esticando as calças dele. Antes que ele pudesse agir de acordo com qualquer pensamento malicioso passando por sua mente, ela saiu rebolando do escritório.
— Vejo-o pela manhã, chefe. Aproveite a sua noite — gritou ela, enquanto levantava o braço e dava um até logo sem se virar para olhá-lo. Ela ouviu um gemido quando dobrou a quina do escritório dele e rapidamente se dirigiu para a saída do prédio.
Saindo para a tarde ensolarada, ela pensou que precisava se livrar dos avanços sinistros de Jim. Infelizmente, era provável que haveria mais por vir. Ela teria que dar-lhe corda até saber o que estava acontecendo na área de segurança do LPP.
De um modo geral, ela considerou aquela reunião uma vitória para o Time da Liv. Agora, tudo o que precisava era fazer com que o shifter confiasse nela. Se a história de Jim fosse legítima, ela esperava poder convencer o homem a cooperar. E se o sangue dele contivesse a cura? Pensar nas vidas que eles poderiam salvar a fez pular de alegria durante todo o percurso até o seu jipe. Ela não poderia trazer sua avó de volta, mas poderia salvar outras pessoas, e isso fez seu coração encher de felicidade.
Sem mencionar o que aquilo poderia significar para a sua carreira. As portas que se abririam. Talvez ela não tivesse que viver de salário em salário, pela primeira vez na vida.
Atenção, pessoal. Olivia Kimbro estava pronta para dominar o mundo.
Logo depois de comer, claro. Agora que seu estômago havia se acalmado, estava louca por uma pizza.

Capítulo Quatro



O temido clique da maçaneta alertou Lawson. Ele detestava o som. Para ele, significava mais uma rodada de agulhadas em sua pele ou espancamento em seu corpo. Sentando-se rapidamente, ele agarrou a cabeça quando uma dor aguda explodiu ao redor dos olhos.
Seu rosto não havia se recuperado dos ferimentos recebidos durante sua última surra e ele mal conseguia ver com o olho direito. Normalmente, seu corpo se curava em vinte e quatro horas, mas aquela foi a pior surra até então.
Lawson estava com feridas abertas por ter sido chicoteado com uma corrente de metal, e várias costelas quebradas por chutes repetidos no peito e abdômen. Lembrava-se de ter cuspido sangue bem antes de um golpe na cabeça o ter deixado inconsciente.
Eles o torturaram porque ele havia matado dois homens, mas sua compaixão por aqueles humanos cruéis se foi. Ninguém havia lhe demonstrado um pingo de simpatia. Ele havia sido tratado pior do que um animal.
Seu corpo tinha mais buracos do que um queijo suíço, e ele estava todo preto e azulado. Poderia se curar rapidamente, mas os golpes e agulhadas constantes, juntamente com a falta de comida adequada e instalações de banho, o deixaram mais fraco do que o normal. Mental e fisicamente. Com honestidade, gostaria que drenassem todo o sangue de seu corpo e o deixassem morrer. Seria melhor do que aquele sofrimento contínuo.
As chicotadas se tornaram mais frequentes, e Lawson não tinha certeza de quanto mais seu corpo poderia aguentar antes de desistir. Não ajudava o fato de sua vontade de viver estar desaparecendo lentamente. Se não encontrasse uma maneira de escapar logo, iria morrer naquele maldito buraco e isso só o irritava ainda mais.
Pelo menos ele conseguiu causar um pequeno dano aos lacaios de Jim antes que eles o deixassem inconsciente. Lawson sorriu com a lembrança de ter quebrado o braço de um homem e a perna de outro. Droga, doía como o inferno mover qualquer músculo em seu rosto.
Abrindo o olho esquerdo o melhor que podia, ele ficou chocado ao ver a mulher ruiva entrar no aposento e fechar a porta atrás dela. Era a última pessoa que ele esperava ver novamente. Nunca.
Ele imaginou que ela permaneceria em seus sonhos, ao invés de em carne e osso, diante dele. Infelizmente, ela havia consumido Lawson nas últimas duas noites, assombrando os sonhos dele com seus olhos verdes aterrorizados. Ele se sentia mais preso ao eco interminável do grito horrorizado dela do que às correntes que o prendiam à parede de cimento às suas costas.
Fazendo um balanço rápido, ele se sentiu profundamente humilhado por sua aparência. A calça de moletom que usava desde o primeiro dia estava tão suja que o deixava doente. Não pela poeira, mas pelo mau cheiro de roupas rançosas que precisam desesperadamente de uma lavagem. O cheiro o enojava, e ele só podia imaginar como aquilo devia ser ruim para ela.
O que ele podia ver de seu cabelo escuro e longa barba estava emaranhado, e as unhas de suas mãos e pés estavam crescidas demais e descoloridas. Era uma vergonha e ele queria rastejar para dentro de um buraco e se esconder.
Muitos assumiam que os shifters eram sujos por natureza por causa de seu lado animal, mas não era verdade. Louco por limpeza era um termo que sua família lhe atribuía, devido às suas tendências obsessivas. A maioria dos shifters eram fanáticos por higiene, e ser essa esquálida figura deixava Lawson fisicamente doente.
A pior parte era o seu banheiro. Consistia em um grande balde no canto da cela, que não era descartado regularmente, o que aumentava os odores. Ele estava lá há tanto tempo que seus sentidos estavam abafados, mas seu estômago ainda embrulhava-se ao pensar em suas péssimas condições de vida.
— Oh, meu Deus, o que fizeram com você? — exclamou ela, correndo até ele.
Ele rapidamente ergueu a mão, interrompendo os passos dela.
— Não. Fique longe — ordenou Lawson.
Ele ficou impressionado com a bravura dela. Ela o vira cometendo um ato violento contra dois humanos e teve a coragem de retornar para a sua cela. Sozinha. Estava correndo para o lado de um assassino. Tinha desejo de morrer?
Com toda certeza, ele jamais teria voltado para a cena do crime, especialmente para aquele lugar desagradável.
Ela ergueu as mãos defensivamente e recuou.
— Tudo bem, não vou chegar perto de você. Se estiver bem para você, vou apenas me sentar no chão bem aqui, e manter certa distância — murmurou a fêmea, agachando-se no chão frio. Ela se atrapalhou com seu jaleco na altura do joelho enquanto cruzava as pernas.
Ele notou que ela usava calças bege e uma blusa preta sob o jaleco. Seu doce aroma ainda o intoxicava, mas ele descobriu que estava um pouco mais no controle de sua libido naquele momento. Outro resultado de seu encontro no jantar com os guardas. Eles o espancaram tanto que ele não conseguia nem ficar excitado.
Ela colocou uma sacola vermelha no chão ao lado dela. Vermelha. Combinava com os longos fios de seu cabelo sedoso. Também era a cor favorita dele. De repente, ocorreu a Lawson que seu cativeiro estava vazio de cor, e aquela mulher era um farol em seu mundo escuro.
De todas as cores, ela era o vermelho. Para ele, representava amor, vida e paixão. Tudo isso era, naquele momento, lembranças distantes do que sua vida havia se tornado.
Sua voz suave chamou a atenção dele.
— Meu nome é Olivia Kimbro, mas meus amigos me chamam de Liv. Sou uma das cientistas pesquisadoras aqui no LPP. Qual é o seu nome? — perguntou ela, alcançando a bolsa e tirando uma prancheta com alguns papéis presos a ela.
Durante todo o tempo em que ele estivera naquele maldito buraco, nem uma única pessoa teve a decência de lhe perguntar algo tão simples como o seu nome.
Não que saber seu nome lhes concedesse o conhecimento que buscavam, mas havia mostrado como aqueles humanos pouco se importavam com a situação dele. Ele a olhou sem dizer nada. Por que deveria compartilhar algo com ela?
Aqueles humanos não lhe trouxeram nada além de dor, tortura e sofrimento. Por que, então, uma mulher de repente estava mostrando interesse, se era isso que acontecia? Poderia ser uma armadilha, por tudo o que ele já conhecia. Na verdade, ele se perguntou por que não haviam enviado uma mulher antes para coagi-lo a mudar de forma.
— Não posso dizer que o culpo pelo seu silêncio. Provavelmente, eu faria a mesma coisa. Que tal isso? Vou contar um pouco sobre mim, e você pode decidir depois se quer conversar comigo. Tenho que avisá-lo, porém, minha história é bastante tediosa — divulgou ela, enquanto enfiava a mão na sacola de novo e puxava uma maçã verde, jogando-a rapidamente para ele.
Levantando a mão, ele a agarrou no ar.
— Uau, bons reflexos — disse Liv, com uma risada. — Presumo que seja uma característica shifter. Nunca havia conhecido um shifter, então perdoe-me se sou uma ignorante.
Lawson gostava do som da voz dela. Era rouca e suave, o que o intrigava. Na verdade, queria se deitar e ouvi-la falar ou talvez ler para ele. Um romance completo, do início ao fim. Ele nem se importava com o que seria, contanto que levasse horas para que ela o concluísse.
Olhando para a fruta verde brilhante em sua palma, ele a virou, estudando-a mais de perto. Mais uma vez, ver cores era uma lufada de ar fresco. A firmeza e a casca imaculada da maçã eram perfeitas, em sua opinião. Ele vivia de aveia fria e pão velho desde que o capturaram. Oh, eles o encheram de vários suplementos para mantê-lo saudável, mas a comida fornecida era sem graça e sem gosto. Ele não sabia se deveria comer a maçã ou pendurá-la na parede como uma bela obra de arte.
— Vai estragar se não comer — comentou ela, como se lesse seus pensamentos.
Ele levou a fruta à boca e deu uma grande mordida. Um gosto agridoce explodiu em sua língua, e ele fechou os olhos, saboreando a experiência. Não conseguia se lembrar de comer nada com tanto sabor. Dando outra mordida, ele gemeu de prazer. Estava fresca e crocante, e tinha o perfume de um dia ensolarado. Mais uma coisa que ele não via há muito tempo.
— Uau, talvez eu devesse tê-la guardado para mim. Minha vizinha, Cassie, chamaria essa expressão em seu rosto de orgástica — disse Olivia, rindo.
Os olhos de Lawson se arregalaram ao vê-la boquiaberta de interesse. Seus atraentes olhos verdes se fixaram nos dele e ele não conseguiu evitar a excitação que disparou em sua virilha com o olhar caloroso dela. Tudo bem, a surra não desencorajou o seu desejo, porque imagine se ele não a desejava.
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* * *
Liv sentiu um rubor se espalhar pelo rosto e rapidamente desviou o foco, olhando para a prancheta enquanto examinava os papéis em anexo. Não havia nenhuma informação pessoal em seu arquivo, apenas os resultados do que os outros cientistas encontraram nas amostras de sangue dele.
Infelizmente, ela não viu nada além de um borrão devido ao seu desconforto, mas manteve o foco em qualquer lugar, menos nele. Os penetrantes olhos cinzentos do shifter a atingiam e brincavam de esconde-esconde. Liv jurou que ele podia ver diretamente em sua alma e isso a fez cruzar e descruzar as pernas enquanto mordia o lábio. Muito enervante. Ela tinha segredos escondidos como qualquer outra pessoa e certamente não precisava daquele homem dissecando seus erros e falhas.
Respire fundo e volte ao seu objetivo, disse a si mesma. Precisava ganhar a confiança dele. Do contrário, ele nunca mudaria de forma e eles precisavam do sangue da forma animal dele. Ela se perguntou em que animal ele se transformava. Urso? Leão? Era impossível dizer apenas olhando para ele, e ela se sentia péssima vendo os múltiplos ferimentos cobrindo o corpo dele.
O que quer que tivesse acontecido entre ele e seu chefe na noite anterior não foi a favor do shifter. Sim, ele matou dois homens, mas eles o estavam espancando sem piedade. Ela viu, com seus próprios olhos. Eles o estavam atacando enquanto ele permanecia indefeso, tentando se proteger.
Agora, o rosto dele estava inchado a ponto de parecer desfigurado. Um olho estava fechado e o outro não estava muito melhor. A parte superior do tronco estava coberta de vergões e a pele, aberta em vários pontos. Seu coração se condoeu pelo abuso que ele suportou.
Julgando pelos músculos enormes, Liv sabia que o homem era incrivelmente forte, mas mesmo um shifter devia ter limitações. Ele parecia que as tinha excedido.
Novamente, sua mente se perguntou sobre o lado animal dele. Ela ouviu que, quando eles se transformavam, não tinham controle sobre as ações de sua fera. Como isso deveria ser primitivo e duro para eles. Parte dela reconhecia que poderia ser libertador, também. A curiosidade sobre o animal dele a estava consumindo. Liv reconheceu que estava um pouco excitada com isso.
Afastando os pensamentos inadequados, ela considerou por onde começar em sua recapitulação de vida nada interessante.
— Então, sou do Tennessee. Cresci não muito longe de Chattanooga e fui para a faculdade comunitária aqui na cidade. Meu pai desapareceu quando eu era muito jovem. Para ser sincera, mal me lembro dele. Não tenho irmãos ou irmãs, mas minha mãe e eu somos muito próximas. Ela é minha melhor amiga. Você tem algum irmão? — divagou ela, finalmente encontrando os olhos dele mais uma vez.
Nenhuma resposta, mas Liv viu algo faiscar nas orbes cinza-aço do shifter. Seria porque ela falou sobre a família dele? Ele tinha uma família, e eles o estavam procurando? Muitas perguntas passaram por sua mente.
Há quanto tempo ele vinha sendo mantido em cativeiro? Como havia sido capturado? Por que era tão resistente? Parecia que ele deveria querer ajudar a salvar vidas, se pudesse. Ela precisava fazer com que ele se abrisse, se quisesse descobrir o que estava acontecendo em seu local de trabalho.
— De qualquer forma… tenho trinta anos, não tenho filhos e nunca me casei. Hmmm, minha cor favorita é rosa, gosto de dançar, amo comida italiana, não bebo muito álcool, mas tomo chá doce como se estivesse para acabar e… oh, o mais importante, vou dominar o mundo, assim que descobrir o segredo de como ganhar dinheiro em tubos de ensaio — declarou ela, com naturalidade, e começou a rir. Sim, essa última parte foi uma piada. Ela e Cassie diziam que elas viviam um dia de cada vez.
Olhando para o Sr. Conversa Fiada, ela pensou ter notado uma leve curvatura em seu lábio superior. Ele estava ouvindo. O problema era que isso não significava que ele estava falando. Talvez ele questionasse os motivos dela. Quem sabe quanto tempo estava preso ali, naquela cela horrível? Ela presumia que ninguém havia lhe demonstrado um grama de bondade. Provavelmente, ele precisaria saber onde estava a lealdade dela.
— Então, o negócio é o seguinte. Quero ajudá-lo. Por mais que eu queira destravar as algemas e libertá-lo, isso não é uma opção. Você tem algo de valor para este centro de pesquisa, e eles não vão deixá-lo partir sem concedê-lo. Mas o que posso fazer é ser uma espécie de mediadora e prevenir qualquer abuso futuro contra você. Se você me ajudar, farei o que puder para ajudá-lo. Mas você precisa confiar em mim. Meu chefe não gostou da minha vinda até aqui, mas concordou em dar uma chance — admitiu ela, abertamente.
Jim não iria deixá-la continuar aquelas visitas se ela não fizesse nenhum progresso. Para ele, era perfeitamente adequado bater naquele homem até a sua submissão. Liv não queria que isso acontecesse. Estava propensa a ajudar aquele homem, se ele a deixasse ajudá-lo.
Olhando para o relógio, ela entrou em pânico quando viu há quanto tempo estava com ele. Seu tempo estava quase acabando. Jim esperava que ela se reportasse a ele após aquela primeira reunião. Se fosse de mãos vazias, ele poderia cancelar o acordo.
— Vamos. Ajude-me. Qualquer coisa, por favor — pediu ela, ficando de joelhos e implorando. Era dramático demais, mas ela estava tentando provar seu ponto de vista. O homem apenas a olhou, sem expressão. Ele não iria ceder um centímetro.
Exalando derrota, ela enfiou a mão na bolsa e tirou seu velho iPod Nano e um conjunto de fones de ouvido. Pelo menos, ela poderia deixar alguma música para ele. Se estivesse acorrentada a uma parede, a música seria sua salvação. Um meio de escapar de sua infelicidade.
— Quero que você fique com isso, caso eu não tenha permissão para voltar. Certifique-se de escondê-los dos outros, sob o colchão — aconselhou Liv, jogando o conjunto na direção dele.
Ele o pegou sem desviar os olhos dos dela. Olhando para trás, ela sentiu o rubor retornar às suas faces, mas não desviou o olhar desta vez.
Se nunca mais o visse, queria que ele soubesse que ela realmente se importava com ele. Esperava que ele o visse em seu íntimo, onde o olhar dele penetrava em sua alma.
Forçando-se a interromper o controle que ele exercia sobre ela, ela se virou para sair da sala.
— Lawson.
O tom de barítono grave enviou um arrepio por sua espinha, e ela se virou para encará-lo. Olhos cinza-aço roubaram seu fôlego e enfraqueceram seus joelhos. Ele lhe disse o seu nome. Uma palavra, mas foi o suficiente.
Sorrindo, ela respondeu:
— É um prazer conhecê-lo, Lawson. — Outra curvatura no lábio superior dele lhe disse que o sentimento era mútuo.
Saindo da sala e fechando a porta, Liv despencou no chão do corredor. Que Deus a ajudasse, estava ofegante. Exultante, triunfante, tonta. Estava em êxtase. Outra vitória para o Time da Liv
Animada para contar a Jim sobre seu pequeno milagre, ela se dirigiu à sala de descanso, onde disse que o encontraria. Certamente haveria vários funcionários almoçando, o que significava que ela não estaria sozinha com ele. Ela não estava com humor para flertar ou lhe dar esperanças, e, com certeza, não estava com humor para seus avanços indesejados. Com sorte, a informação dela agradaria Jim, e ele concordaria que ela deveria continuar vendo Lawson.
E logo após seu encontro com Jim, havia um velho amigo que ela precisava ver. Ele era a única pessoa que conhecia que tinha conexões influentes, para não mencionar bolsos profundos. Se alguém podia ajudar Lawson, era ele.
Lawson.
Só de pensar no nome dele, sentiu outro arrepio percorrer sua espinha.

Capítulo Cinco



Liv levou seu jipe até a guarita de segurança e parou, apertando o botão da janela enquanto Nick saía da pequena construção de tijolos.
— Ei, Srta. Kimbro. É bom vê-la de novo — cumprimentou ele com um largo sorriso.
Nick era o guarda do dia na casa de Bart e Liv gostava dele. Era um amor de pessoa, lembrando-a do Papai Noel, com seus cabelos brancos e barba bem aparada.
— Ei, você, Papai Nick. Fico feliz em vê-lo também. Já faz algum tempo — respondeu ela, retribuindo o sorriso.
Os olhos dele brilharam e ele piscou. Estava acostumado com o apelido que ela lhe deu e não parecia nem um pouco ofendido.
— Realmente, faz. Bart está ansioso para vê-la, então vá até a casa. Mas certifique-se de se despedir antes de sair — gritou ele, enquanto ela se afastava de sua posição na guarita.
— Irei — gritou ela de sua janela antes de apertar o botão novamente para evitar o calor do verão. Era um dos verões mais quentes já registrados, e a umidade havia subido muito nos últimos tempos. Não havia nada pior do que sair de casa e sentir que precisava tomar outro banho antes de chegar ao veículo.
Quente ou não, ela amava sua cidade. Belas montanhas, mudança de estações, cultura artística vibrante e uma seleção infinita de restaurantes e vida noturna. Ela gostava de caminhadas, ciclismo e passeios de barco, e as três coisas estavam ao seu alcance em sua cidade natal. Se quisesse se vestir bem para uma noite fora ou relaxar com uma cerveja à beira do lago, ela poderia pular em seu jipe e fazer qualquer coisa, em um espaço de tempo de trinta minutos de sua casa.
E, para sorte dela, Bart tinha um barco incrível que sempre estava disponível para ser levado para um cruzeiro. Como Cassie sempre dizia, você não precisa de um barco, precisa de um amigo com um barco. Liv riu enquanto pensava em sua amiga louca, então desceu de seu jipe e caminhou até os degraus da frente da grande mansão.
Sim, Bart tinha se dado muito bem, supôs ela, olhando para a casa de tijolos aparentes. Ela o conhecia desde o ensino fundamental e foram namorados no ensino médio. Seguiram caminhos separados quando foram para a faculdade, mas permaneceram muito próximos. Bart havia sido presidente do clube de debate e orador da turma de formandos, então Liv não se surpreendeu quando ele seguiu carreira política.
O que a chocou, e a muitas outras pessoas, foi a nomeação de Bart como governador de seu Estado. Era o homem mais jovem a ser empossado no cargo, e isso foi divulgado em todos os noticiários do ano anterior.
Olhando em volta para a grande propriedade, Liv não conseguia imaginar como sua vida teria sido se eles tivessem ficado juntos. A esposa de um governador estava muito longe de sua vida de cupons e lojas de descontos. Felizmente, Bart nunca a tratou com condescendência ou agiu de maneira superior. Não era o estilo dele. Ele era pé no chão e muito carinhoso.
Estendendo a mão para bater na intrincada porta de vidro e chumbo, ela se assustou quando ela porta se abriu e Bart a abraçou com força. Ele era vários centímetros mais alto do que seu metro e setenta e cinco, então seus pés deixaram o chão quando ele a puxou para perto.
— Droga, TKO
, onde você esteve no mês passado? Senti falta do seu traseiro — admitiu ele, apertando-a com mais força. Se ele não a soltasse, ela poderia acabar com uma costela quebrada.
— Ei, BS — gritou ela, empurrando o peito dele até ele afrouxar o abraço.
Ele lentamente a colocou no chão, e ela não deixou de notar a rigidez entre as pernas dele quando ela deslizou por sua virilha. Liv não tinha certeza de como agir. Bart era, de longe, o solteiro mais cobiçado da cidade e ela ouvira boatos de que sua cama nunca esfriava. Perto dela, ele era apenas um bom amigo.
Se Bart ainda tinha um fraco por ela, ele nunca mencionou ou tomou uma atitude a respeito. Eram amigos próximos e ela sempre poderia contar com ele, mas terminava aí. Então, mais uma vez, ele era um homem, e o Sr. Feliz entre suas pernas provavelmente não precisava de muito incentivo.
— Não deixe ninguém por aqui ouvi-la me chamar assim. Iria se espalhar como um incêndio — brincou Bart, agarrando a mão de Liv e levando-a para a cozinha.
— Você não precisa ser um Einstein para descobrir. São suas iniciais, seu bobo — provocou ela.
Os apelidos que deram um para o outro começaram no ensino médio. TKO era o dela, porque ele disse que ela era um nocaute total. O de Bart era BS, que, por acaso eram suas iniciais, mas significava “boca suja” porque ela nunca sabia quando ele estava brincando ou sendo sincero. Mais uma vez, grandes qualidades de um político.
— Ha, ha, muito engraçada, espertinha. Está com fome? Pedi a Patricia para fazer um almoço. Espero que possa ficar um pouco. Estou com a agenda livre esta tarde — informou-lhe Bart, quando eles entraram na grande cozinha gourmet.
— Sim, estou morrendo de fome. Posso ficar um pouco. Teria trazido um biquíni se soubesse que você tinha o dia de folga — respondeu ela, enquanto os dois se sentavam em banquinhos ao redor de uma grande bancada no centro da cozinha. De novo, ela não precisava de piscina, apenas de um amigo com piscina.
Patricia aproximou-se e colocou duas travessas, uma cheia de carnes e queijos variados, e a outra com biscoitos e um cacho com as maiores uvas que Liv já havia visto. Pareciam ameixas, de tão grandes, e seu estômago roncou ao vê-las.
— Olá, Srta. Olivia. Chá doce, suponho? — perguntou ela, pegando dois copos de um armário próximo.
— Sim, por favor. Parece delicioso, Patricia. Obrigada — respondeu Liv e, em seguida, aceitou um copo alto de chá gelado que a mulher alta e magra lhe deu.
A bebida gelada era exatamente o que ela precisava naquele dia escaldante de verão, e ela tomou um grande gole, aproveitando a sensação gelada. Bart pegou um pequeno quadrado de queijo e um biscoito, e os colocou na boca. Liv interpretou isso como uma deixa e fez o mesmo.
— Nem pensei em nadar. Acho que usei a piscina duas vezes desde que me mudei. Você sabe que pode usá-la a qualquer hora, esteja eu disponível ou não. Mi casa es su casa — proferiu ele, enquanto enfiava uma uva na boca.
Patricia colocou dois pratos na bancada antes de sair da cozinha.
Patricia tinha uma elegância que exigia respeito. Portava o título de chef na casa de Bart, mas poderia facilmente ser a dona da casa, com sua graça e porte. E sua paixão por estilo era impressionante. Cada vez que Liv ia àquela casa, Patricia estava vestida como se fosse a uma festa chique. A escolha daquele dia havia sido um terninho verde esmeralda com uma blusa rosa-clara, o que fez seus olhos parecerem ainda mais verdes.
Um aroma delicioso chamou a atenção de Liv, e ela olhou para os dois pratos. Salmão grelhado em cima de uma salada mista de verduras era o prato principal. O cheiro era divino. Liv adorava visitar Bart porque tudo ali era o que havia de melhor. Não poupar despesas parecia ser a regra de ouro na mansão do governador. Empurrando o prato de queijos para mais perto de Bart, ela pegou seu prato de peixe e os talheres.
— Vou me lembrar disso. Não se surpreenda quando você sair e vir Cassie e eu bebendo cerveja barata e tocando música country para todos os seus vizinhos ouvirem — provocou ela, dando uma mordida em seu peixe.
— Ei, contanto que vocês duas estejam usando trajes de banho sexy, podem fazer o que quiserem. Este lugar precisa de um pouco de ação. Tenho estado tão ocupado ultimamente, que esqueci o que é diversão — confessou ele, e Liv podia ver que ele foi sincero em cada palavra que disse, mesmo que a conversa fosse leve e divertida. Ela não havia considerado o estresse e a pressão do trabalho dele.
— Não é isso que ouço, Sr. Playboy — brincou ela, dando uma piscadela.
— O quê? Eu, playboy? Acho que está lendo aqueles jornais de fofoca de novo. Não tenho tempo para isso — repetiu ele, com uma expressão zombeteira de choque.
Sim, ele estava brincando com ela. Os tabloides acertaram, tanto quanto ela podia perceber. Bart era lindo de morrer. Cabelo loiro, curto e arrepiado, com olhos castanhos escuros fazendo contraste com a pele bronzeada. Ele parecia um californiano nativo em vez de um político arrogante.
— Bem, teremos que remediar essa vida monótona que você leva. Assim que você estiver disponível, vamos planejar uma festa na piscina. Você fornece a comida e as bebidas, e eu fornecerei as mulheres lindas. Espero que tenha alguns amigos elegíveis no Capitólio — professou ela.
Rindo, ele respondeu:
— Temos um acordo. Tenho certeza de que posso reunir algumas vítimas dispostas. De qualquer forma, sem querer mudar de assunto, mas você parecia bastante perturbada ao telefone quando ligou. O que está acontecendo? — perguntou, curioso.
Por onde começar aquela história? Ela não sabia o quanto deveria lhe contar. Afinal, ele era o governador e ela não queria colocá-lo em uma situação comprometedora, contando-lhe sobre o assassinato que testemunhou. Considerando seu dilema, ela precisaria selecionar as palavras com cuidado.
— O que sabe sobre shifters? — perguntou ela.
Bart inclinou a cabeça.
— Não muito, realmente. Eles tendem a permanecer com sua própria espécie. Não estão envolvidos politicamente; então, não me aventuro em suas comunidades. Existe um tabu em torno deles, e os especialistas dizem que eles são violentos e causam a maior parte de nossos crimes. Por que pergunta?
— Bem, o LPP está fazendo pesquisas nas análises de sangue deles. Jim acredita que a capacidade aprimorada que eles têm de se curar pode ser a chave para a cura do câncer — revelou ela, mordendo o lábio inferior enquanto observava a reação dele.
— Uau, isso seria incrível! Que grande avanço para sua empresa, se isso for verdade. Então, qual é o problema, Liv? Quando você começa a morder o lábio, é porque está preocupada ou nervosa. Desembuche. — Ele abaixou a cabeça de forma que ela teria que fazer contato visual. Os olhos castanhos e calorosos dele procuraram os dela e ela pôde ver a preocupação e o cuidado neles.
Soltando um suspiro que não percebeu que estava segurando, ela continuou:
— O problema é que temos um shifter no laboratório. Ele está sendo mantido contra sua vontade. Jim afirma que é porque o homem é uma fera selvagem e que está protegendo seus funcionários, mas não tenho tanta certeza. Algo em meu íntimo está me dizendo que é muito mais grave do que isso — declarou ela, colocando o garfo no prato. De repente, seu apetite sumiu e ela se sentiu enjoada.
Bart se recostou na parte de trás da banqueta e cruzou uma perna sobre o joelho, considerando as palavras dela. Depois de alguns momentos, ele falou, com expressão séria:
— Essa é uma acusação muito forte. Você tem alguma prova de que Jim não está dizendo a verdade, porque eu vou lhe contar uma coisa… Jim Jensen é altamente considerado na comunidade. Maldição, em todo o Estado, por falar nisso.
— Eu sei, eu sei. Jim também é um desgraçado que trairia sua esposa com qualquer mulher que tirasse a calcinha, então não saia dizendo como ele é considerado. Estou lhe dizendo, Bart. Não tenho provas concretas, mas eu vi este shifter ser espancado. Ele está acorrentado a uma parede, pelo amor de Deus. Não há nada que você possa fazer? — implorou ela.
O coração dela acelerou, fervendo o sangue, enquanto pensava em Lawson e na maneira como ele foi tratado. Estava tão furiosa, que aquilo chegava a assustá-la. Era ilegal e desumano, e depois de se sentar com ele, percebia que não podia simplesmente cruzar os braços e não fazer nada.
— Uau, desacelere um segundo. Não posso começar a lançar acusações sem provas sólidas. Você tem que saber que poderia haver sérias repercussões para mim e meu trabalho, se eu estiver errado. Devo lembrá-la que o relacionamento entre eles e nós não é o melhor? Não confiamos nos shifters e eles não confiam em nós. Simples assim. Nós coexistimos e isso é tudo — explicou ele e Liv sentiu que a chance de salvar Lawson escorregava por entre seus dedos.
— Mas e quanto a ele estar acorrentado e ser espancado? Não pode ser legal — retrucou ela, cruzando os braços sobre o peito. Bart deveria estar do lado dela, não do de Jim, e isso a irritava.
Ele estendeu as mãos e descruzou os braços dela, pegando suas mãos nas dele.
— Concordo, isso soa horrível. Ninguém deve ser tratado dessa forma. Mas escute-me. Se houver uma pequena possibilidade de que Jim descobriu algo sobre o sangue de shifters, você tem que saber que ele não vai parar até que obtenha as respostas. É certo prender alguém contra sua vontade? Não. Mas e se a chave para a cura do câncer estiver aí? Não valeria a pena? — perguntou ele, esfregando levemente os polegares no topo das mãos dela.
Bart sabia que a avó dela havia falecido de câncer. Também sabia como ela era apaixonada sobre encontrar uma cura. Talvez ele tivesse razão.
— Sim, suponho — murmurou Liv, então balançou a cabeça. — Não, não à custa das vidas deles. Esse é o meu problema com toda essa bagunça. Qual é o custo real da cura? Jim me designou para o caso e estarei trabalhando junto com Lawson. Saberei se eles o maltratarem novamente — comunicou ela.
Suas palavras refletiam o trem da culpa que estava estacionado na estação e se recusava a partir. Então, ela se sentia responsável pelo que estava acontecendo com Lawson, e odiava isso com cada fibra de seu ser.
— Você está mordendo o lábio de novo. Tem certeza de que está bem? — questionou Bart, apertando as mãos dela com força.
— Sim, estou bem. Obrigada pela atenção. Estou feliz por ter vindo procurá-lo — admitiu ela.
Bart era o seu ouvinte e protetor. Havia sido seu ombro, onde pôde chorar na faculdade, quando pegou o namorado de dois anos a traindo. Bart saiu furioso do apartamento dela e rastreou Joe, espancando-o por magoá-la.
Ele era seu irmão mais velho quando se tratava de defender sua honra e era ela quem lhe dizia as verdades, quer ele quisesse ou não. Eram bons um para o outro e ela valorizava a amizade dele.
— Vou lhe dizer uma coisa. Tenho algumas conexões que são próximas à comunidade shifter. Deixe-me ver se há algum boato sobre sequestros ou espancamentos de humanos contra eles. Ligarei para você em alguns dias para avisar, se eu souber de alguma coisa, está bem? — perguntou ele, dando um tapinha no joelho dela.
— Oh, isso seria ótimo — respondeu ela, sentindo o alívio a inundar. Ela se inclinou para frente e colocou os braços em volta do pescoço dele, apertando com força. — Você é o melhor amigo que uma garota poderia ter! — gritou ela.
Ele se afastou e olhou profundamente nos olhos dela, compartilhando um momento. Ela pensou que ele poderia beijá-la e entrou em pânico, retirando rapidamente os braços do pescoço de Bart. Ela se recostou na banqueta.
— Este sou eu. Seu melhor amigo — zombou ele, com um sorriso, mas ela percebeu o vislumbre de outra coisa.
Ele ficou magoado por ela ter se afastado?
Eles não eram mais um casal desde muito jovens e ela não se sentia mais dessa maneira em relação a ele. Ele era importante para ela como amigo, e ela nunca arriscaria perder essa amizade por alguma brincadeira rápida na cama.
— Ei, não mude de apelido, BS. Ele se encaixa perfeitamente em você — brincou ela, tentando aliviar o clima.
Uma centelha brilhou nos olhos castanhos dele e ele sorriu, mostrando dentes perfeitos.
— BS, então. Você sempre será minha TKO — disse ele, beijando-a levemente na testa.
Olhando para o relógio, Liv percebeu que precisava ir.
— Oh, tenho que sair correndo. Obrigada pelo almoço. Estou falando sério sobre aquela festa na piscina. E ligue-me se ouvir alguma coisa sobre o LPP — disse ela, enquanto se levantava para sair.
Bart a acompanhou até a porta da frente e ela o abraçou, despedindo-se.
Pensando no trabalho, Liv saltou para dentro de seu jipe. Pulou, de verdade. Por que estava tão contente em relação ao trabalho?
E, por alguma razão estranha, estava pensando no que vestiria no dia seguinte. O que estava acontecendo com ela? Certamente não tinha nada a ver com o fato de que veria Lawson no dia seguinte.
Bem, talvez só um pouco.

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