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José, O Grande Servo
Juan Moisés De La Serna


JOSÉ,
O GRANDE
SERVO
Juan Moisés de la Serna

Traduzido por Ju Pinheiro

Tektime Editorial

2019
“José, o Grande Servo”
Escrito por Juan Moises de la Serna
Traduzido por Ju Pinheiro
© Juan Moises de la Serna, 2019
© Tektime Editorial, 2019
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Distribuído por Tektime
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© Juan Moisés de la Serna, 2019
Dedicado aos meus pais
Conteúdo
1.INFÂNCIA SOLITÁRIA 6
2.AS ABELHAS 10
3.CONHECE MARIA 15
4.VÊ O CAJADO PELA PRIMEIRA VEZ 19
5.CONHECE O EREMITA 49
6.QUEDA E CASTIGO 81
7.MAIORIDADE 93
8.O PAI CONTA SOBRE SEU CHAMADO 111
9.EVITA UMA GUERRA 133
10.CONHECE A MARIA CRIANÇA 145
11.AJUDA O REI 177
12.ENCONTRO COM MARIA 194
13.CASAMENTO DE JOSÉ E MARIA 228
14.É PAI, NASCE JESUS 246
15.MESTRE DE JESUS 272
16.MORTE DE JOSÉ 319

INFÂNCIA SOLITÁRIA

Esta é a história de um príncipe cujo nome era José. Descendente direto do Rei Davi que, de acordo com a tradição de Israel, era dele que surgiria aquele que seria chamado de MESSIAS. Um grande Rei que viria com tal poder que conseguiria que Israel fosse uma Nação, a mais poderosa, ainda maior do que na época do Rei Davi ou Salomão, que foram os maiores Reis que já havia existido até então.
A história que vou contar começa quando José era criança. Ele tinha a idade de quatro anos e era um menino normal que vivia perto de uma cidade, em um palácio no campo, pois era príncipe da casa real. Seu pai tinha muitos criados, campos, casas e muitas pessoas para servi-lo.
Um dia, José saiu para o quintal e viu outras crianças que estavam brincando. Eram os filhos dos criados. Naquele dia choveu muito e estavam fazendo algo com o barro. Eles molhavam-no e viravam enquanto o modelavam lentamente. Isso o entusiasmou e pediu-lhes que o ensinassem. As crianças perguntaram para que, se ele era um príncipe e de nada adiantaria saber fazer panelas pois somente com a prática se conseguia fazer algo que fosse útil.
Tanto insistiu José que todos se puseram a fazer uma vasilha de barro e vendo como os outros faziam, ele aprendeu. Acontece que o dele foi o melhor de todos e por isso começaram a brigar, pois ele dizia que não era difícil fazer isso e os demais que sim, que ele só se saiu bem por acaso.
Durante a briga, a vasilha caiu e quebrou e José começou a chorar e os criados que o ouviram chorar, saíram e vendo que o príncipe estava chorando e as outras crianças rindo, pegaram uma vara e bateram nelas.
Depois, quando todos estavam chorando, perguntaram ao príncipe o que havia acontecido e José respondeu que havia deixado cair a vasilha de barro que havia feito e que ela quebrou.
E assim, as crianças receberam uma surra sem ter nenhuma culpa e seus familiares, aqueles que bateram nelas, em vez de dizer que haviam se equivocado, disseram:
- Foi bem empregado por brincar com o príncipe!
Assim, quando as crianças viam o príncipe se aproximando, saíam correndo e José perguntava ao vê-las indo embora:
- Por que vocês não querem brincar? O que eu fiz para vocês?
- Meu senhor, você não nos fez nada, mas nossos pais fazem se nos veem brincando todos juntos – as crianças responderam.
E assim, de maneira casual, ele descobriu que não tinha amigos da sua idade.

AS ABELHAS

Em outra ocasião, quando tinha dez anos, foi um dia até a montanha perto da sua casa e encontrou um favo de mel e disse para si mesmo que gostaria de comer este favo de mel, mas assim que me aproximasse, elas iriam picá-lo. O que ele tinha de fazer era deixar que picassem outra pessoa e quando se cansassem, ele iria e comeria o mel.
E enquanto pensava assim, passou por ali um homem e José disse:
- Sou o príncipe. Você quer pegar este favo de mel para mim?
- Como você é mais importante, você vai primeiro e assim você o pega e eu aprendo – respondeu o homem e foi embora rindo.
O menino, ao ver que o ardil não deu resultado, pensou que se com os homens não conseguiria comer o mel, se sairia melhor com os animais.
E pensando nisso viu ali perto um pastor que tinha ovelhas e aproximando-se dele, disse:
- Você me empresta uma que daqui a pouco eu a devolvo?
O pastor, vendo que era uma criança, pensou que ela nada poderia fazer com o animal e como conhecia José, respondeu:
- Leve-a, mas você tem de devolvê-la como ela está e se não for assim, vai ter de pagar por ela.
José concordou e levou o animal. Ele o colocou debaixo do favo de mel e de longe, atirou pedras até conseguir que caísse e o favo caiu ao lado da ovelha.
A ovelha vendo tantas abelhas vindo na sua direção, começou a correr e atrás dela foram todas as abelhas que podiam voar. O animal correu na direção do rebanho e levou o enxame inteiro atrás dele.
Enquanto isso, José pegava o favo de mel com um pau e escondia em uma árvore que havia caído, de tal maneira que não fosse visto. E ao terminar de fazer isso, o pastor chegou correndo, irritado e com vontade de bater no menino, mas ao ver que nada estava acontecendo com ele, parou de repente e perguntou:
- Senhor, como que a ovelha chegou cheia de abelhas e todos nós fomos picados?
- Conto a verdade? Estava longe dela quando começou a correr e atrás dela ia um punhado de abelhas. Depois eu a perdi de vista e estava preocupado pois temia que tivesse se extraviado, mas vejo que você recuperou o que é seu. E agora me diga, bom homem, o que aconteceu? - o menino perguntou.
Mas o homem que estava cheio de picadas, disse:
- Senhor, deixo isso para outro dia pois tenho de recolher o rebanho que se espalhou – e foi embora gritando pelo que havia acontecido.
É claro que se fosse descoberto que o menino era o culpado, ele não se salvaria de uma boa surra nem por ser príncipe.
José, vendo que o pastor tinha ido embora, aproximou-se do favo de mel que ainda tinha algumas abelhas e disse:
- Se eu pego, as poucas que sobraram me picarão. Terei de levá-lo para longe e tirar o mel com fumaça.
Pois havia visto em outras ocasiões como se fazia. E pegando uma vara comprida, espetou o favo em uma extremidade e pela outra ele o carregou no ombro e por estar longe, as abelhas não lhe picaram.
Chegou à casa onde morava e chamou sua mãe. E ao ver o favo de mel ela se assustou e perguntou:
- Como você pegou isso?
- Mãe, quando estava vindo para casa, com esta vara atravessei o favo e colocando-a no ombro vim para cá com o favo para poder comer o mel saboroso e além disso, as abelhas que haviam nele foram embora e não sei mais nada sobre elas – respondeu o menino.
Todos comentaram sobre o que havia acontecido como algo extraordinário e tudo estava bem até que alguns dias depois o pastor apareceu por ali reclamando e contou o que o menino havia feito. Isso causou uma grande risada em todos, menos no pastor que queria bater no menino pela desfeita pois ainda tinha as picadas das abelhas no rosto e nas mãos, mas como a mãe o protegeu, nada aconteceu com José.

CONHECE MARIA

Agora vou contar o que aconteceu em outra ocasião. Ele tinha então a idade de treze anos.
Estava um dia no pátio da casa e chegou uma carroça com uma família e com ela vinha uma garota. E ao vê-la José se apaixonou loucamente por ela porque a menina era muito bonita.
Sem saber como falar com ela, José se aproximou da carroça e perguntou se eles vendiam algo. A garota, que também havia ficado chocada ao ver o jovem, ficou corada e nada disse. E ao ver isso, ele cresceu diante dela e ficando muito empertigado, disse, - Jovem! – e fazia gestos de homem da alta sociedade e se pavoneava de tal maneira que os olhos da jovem arregalaram ao ver um garoto tão bonito lhe dirigindo a palavra.
E ela, ao querer responder, ficou mais atordoada e ele voltou a se aproximar dizendo:
- Que bonita! – e tinha apenas treze anos.
E naquele momento saiu detrás da carroça um velho que não ouvia bem e perguntou:
- Você disse alguma coisa?
E José levou um susto tão grande e ficou tão sem graça que agora era a jovem quem estava rindo e José envergonhado, retirou-se.
De longe ele continuava olhando para a jovem e ela, ao perceber, e sendo mais determinada que o menino se aproximou de onde ele estava meio escondido e disse:
- Você gosta de mim?
E ele ficou vermelho como um tomate e se inclinou para trás e ela riu muito. E a risada da menina o animou e ele respondeu:
- Sim, gosto! Mas me diga o que você veio fazer aqui?
- Olhe – a menina respondeu – estamos de passagem e trazemos coisas da cidade que nos encarregaram de entregar. Mas eu não como ninguém e não quero que você tenha medo de mim- e estendeu a mão para ele.
O menino mais envergonhado do que qualquer outra coisa a aceitou. E quando sentiu a mão da menina entre as suas, ele sentiu dentro de si um calor enorme que invadiu seu corpo, mas pensou que tinha de ser homem e disse:
- Você quer que eu te mostre a casa enquanto espera pelos seus pais?
E a garota gosto disso. De mãos dadas, ele mostrou a casa, o pátio e os campos próximos e nenhum dos dois fez nada para separar as mãos. Ele a levou até a cozinha e deram de comer aos dois. De repente eles a chamaram e ele descobriu que ela se chamava Maria. Este não era um nome comum. E a garota foi embora correndo.
José ficou pensando em uma maneira de conseguir saber onde e quando voltaria a vê-la. E olhe que demorou muito tempo para fazê-lo, mas quando o fez, ainda tinha imagem daquela garota, seus olhos e sua risada, gravados em seu coração de menino.

VÊ O CAJADO PELA PRIMEIRA VEZ

Quando aconteceu o que vou contar, ele já tinha dezesseis anos. Com esta idade saía com seu pai para caçar e assim lhe ensinava o manejo das armas que existiam naquela época. Ele sabia atirar bem com a funda e também com o arco, além disso usava um pouco o chicote e a espada e principalmente era um especialista em receber surras quando se tratava de aprender a se defender com o cajado. Ele recebia tantas surras, que seu pai dizia que quando o mandava treinar com o cajado, ele já começava a reclamar. Mas também era uma das armas que mais se usava naquela época.
Um dia, enquanto caçava e levando o arco com ele, pareceu-lhe ver um coelho. Ele pegou o arco, mirou e quando a flecha saía, mal teve tempo de desviá-la pois viu que era seu próprio pai que estava dormindo atrás de um matagal.
O pai nem ficou sabendo pois não foi atingido, mas ele passou tanto medo naquele momento que desde então, quando saia para caçar, queria ter todo mundo atrás dele e os companheiros protestavam e diziam:
- Claro, assim você pode caçar bem! Se você vai primeiro, sempre consegue mais caça do que qualquer outro.
Mas voltando ao relato, quando seu pai acordou, encontrou seu filho muito nervoso e ainda por cima ele estava lhe dando uma bronca tremenda e o pai não sabia o porquê, enquanto José dizia:
- Homem, como você pode pensar em dormir ao abrigo de um arbusto? Não vê que qualquer um que passar por aqui poderia confundi-lo com um coelho e tê-lo matado ou machucado?
E sem saber de nada, o pai teve de aguentar a bronca do filho e além disso agradecer pelo seu interesse.
Quando passou algum tempo, o garoto contou o que aconteceu e por que ele não queria que ninguém ficasse na sua frente quando saíam para caçar e o pai começou a rir, então disse:
- Além de quase me matar, você me dá uma bronca e eu vou e agradeço. – E depois ele disse: – Como prudência, a medida me parece boa, mas neste caso você tem de deixar que os outros disparem primeiro de vez em quando, caso contrário vai parecer que você está se aproveitando das circunstâncias.
Estes são os pequenos detalhes da vida de um menino de província, como se poderia dizer agora. No entanto, a seguir, você verá algo que realmente lhe causou uma grande impressão e marcou-o para o resto da sua vida.
Foi durante uma viagem que fez à Capital, já que ele morava em uma cidade vizinha. Ele marchava a cavalo com outros que também eram jovens como ele. Eles iam na frente e no meio do caminho encontraram um pobre velho que mal conseguia andar e que andava carregado com um fardo de lenha para vendê-la no mercado.
Quando passaram com os cavalos, o ancião caiu ao chão. Os companheiros de José, em vez de descer para ajudá-lo ou ver se havia acontecido alguma coisa com ele, começaram a zombar e assim, o homem assustado e entre as patas dos cavalos, mal conseguia gritar.
E teve um azar tão grande que um dos cavalos pisou em sua perna a ponto de quebrá-la. O velho gritou tão forte, que as pessoas nos cavalos ficaram em silêncio e percebendo o que haviam feito foram embora correndo.
José viu tudo lá de trás e embora também tivesse rido, não interviu. Ele ficou, desceu do cavalo e tentou ajudar o velho e este cheio de raiva acertou-o na cabeça com o cajado que levava, mas José disse:
- Mereço o que você me deu por ter rido em vez de ajudá-lo, por isso estamos em paz. Deixe-me ajudá-lo e diga para onde posso levá-lo pois você não pode caminhar.
- Tenho de levar a lenha até a cidade para vender pois é o único meio que tenho para viver – o velho respondeu após se acalmar um pouco.
-Não se preocupe com isso! - disse José. – Eu a compro e agora me diga para onde posso levá-lo. E como se chama?
- Eu me chamo José e sou carpinteiro. Um dia fui um homem que tinha dinheiro, mas agora como estou muito velho e não posso trabalhar, eu me dedico a recolher lenha e levá-la para vender e com o que me dão eu vivo como posso. Eu e minha mulher, que se chama Maria e que também é velha como eu – respondeu o velho.
Isso surpreendeu o menino já que também tinha o mesmo nome. Ele também lembrou daquela menina, que tinha o mesmo nome que o velho havia dito que tinha sua mulher e enquanto ficava pensando percebeu que o velho continuava no chão e da sua boca saiu um gemido enquanto apertava a perna ferida. Com cuidado José o colocou no cavalo e quando quis se pôr a caminho, o velho disse:
- Senhor, a lenha! – ao mesmo tempo em que apontava para a lenha caída.
José a recolheu e colocando-a no alto do cavalo disse ao velho:
- Indique o caminho e irei levá-lo em casa!
Ele indicou e quando chegaram viu que tinha uma oficina que um dia foi importante por causa do seu tamanho, mas que agora parecia completamente arruinada. Tudo estava por cair!
E saiu uma mulher que mal ficava em pé e que se assustou muito e perguntou o que havia acontecido. E o velho contou tudo enquanto José não dizia nada.
Quando a mulher se acalmou um pouco, José pegou o velho em seus braços e ajudado pelo cajado que ele tinha, entrou na casa. Na verdade, ele nunca esteve em uma casa tão grande e tão miserável ao mesmo tempo. Ele perguntou para a mulher:
- Onde fica o lugar onde ele descansa? – pois não se atreveu a dizer cama já que não sabia se havia alguma.
Ela respondeu que eles dormiam no chão, em umas esteiras e algumas peles que havia ali.
Quando deixou o velho em cima das esteiras, fez intenção de ir embora, mas o velho disse:
- Já que você tem bom coração e é bondoso, faça a caridade completa. Pegue água no poço já que minha mulher não tem força para subir o balde e era eu quem fazia isso e agora não posso.
José fez o que lhe pediam e tirou a água do poço. Ele tirou um balde e como o poço era profundo, estava pesado. E segurando o balde, ele disse a mulher:
- Diga-me, onde coloco a água? Na verdade, ele não me explicou. Como seu marido consegue tirá-la pois é extremamente pesado.
- Muito mais pesam os anos que temos e a ingratidão das pessoas e inclusive a sua, embora sem saber. Pois desde que entrou aqui, só pensou em ir embora e não em curar a ferida que seus amigos causaram -respondeu a mulher.
- Mulher, você lê meus pensamentos e eu peço perdão por isso. Mas como ainda há tempo de reparar o que não fiz, deixe-me fazê-lo – respondeu José envergonhado, pois ela dizia a verdade.
E dizendo isso, ajoelhou-se ao lado do velho, descobriu sua perna e olhou para ela. Ele pensou que não havia remédio, pois, a perna estava esmagada e por ser ossos velhos, estavam destruídos. José voltou a se dirigir a mulher, dizendo:
- Não sei nada sobre como curar isso. Diga-me você o que tenho de fazer e tentarei fazê-lo da melhor maneira possível!
E a velha disse que fosse ao bosque, procurasse algumas ervas; depois pegasse alguns galhos, limpasse uma árvore e mais algumas coisas.
O menino apressado foi para o bosque, fez o que lhe haviam dito e voltou carregado com tudo. Ele estranhou não ver o velho deitado e meio que morrendo. Ele estava muito melhor e com a perna que não parecia a mesma, pois quase não tinha nenhum machucado. E o que havia parecia ser superficial. E dirigindo-se à mulher, ele perguntou surpreso:
- O que você deu para ele que realizou tal maravilha, pois a perna que eu vi estava em tal estado que quase não tinha remédio e agora vejo que amanhã ele poderá caminhar e isso só pode ser obra do céu.
- Preste atenção no que estou dizendo, sua bondade, seu bom coração e sua generosidade são o melhor remédio que eu poderia ter. Deixe tudo naquele lugar e siga-me! – disse o ancião.
Ele se levantou sem nenhum esforço e José não saia do seu espanto. E o velho disse:
- Venha que vou te mostrar uma carpintaria e você verá como se pode fazer maravilhas com ela.
Ele foi mostrando todos os instrumentos, que embora velhos, os conservava em bom estado. Ele mostrou algumas peças que ainda conservava como amostras para demostrar o que sabia fazer. Ele disse:
- Se você quiser, com um pouco de esforço, em pouco mais de um ano você poderá conseguir maravilhas, pois tudo depende da força de vontade que cada um coloca e o empenho em consegui-lo. E assim, aquele que se entrega por completo a uma obra consegue totalmente, produz cem por cento e não se cansa nada além do que é justo. Mas aquele que se entrega pela metade não consegue nada e a única coisa que faz é perder tempo. Se você quiser, eu lhe ensino a arte da madeira, que como todas as artes, não depende apenas da força de cada um, mas daquilo que se aprende com paciência e ouvindo os bons conselhos.
José estava impressionado com tudo que estava acontecendo e disse:
- Meu senhor – pois o respeito havia lhe chegado de repente – sou uma pessoa inútil, pois nasci como príncipe da casa de Davi, e ele não deixou muito dinheiro de herança, mas honras e além de saber que um dos seus descendentes seria o MESSIAS. Mas também nos deixou sem saber fazer nada e ficar o dia inteiro ocioso - e o próprio José estava surpreso com as palavras que saiam da sua boca, pois nunca havia pensado assim e continuou: - Se você quiser vamos fazer uma coisa. Venho todos os dias e você me ensina sem dizer nada a ninguém, pois se ficarem sabendo dão por encerrado o que pretendemos.
- Se quer aprender e você parece bem disposto, poderia ficar com tudo isso já que nós só queremos um lugar como este onde descansar e eu poderia instruí-lo em tudo que você precisa saber para ser um carpinteiro de primeira classe - disse o velho.
O menino considerou isso adequado, mas disse:
- Deixe-me pensar!
- Daqui a uma semana vou esperar por você. Se você não vier, entendo que não quer e vou procurar outro menino que pareça melhor – disse o velho.
- Não, vou responder em dois dias! – José o corrigiu.
Quando se dirigia para a porta encontrou a mulher e olhando em seus olhos descobriu uma bondade tão grande que encheu seu coração de alegria e ele disse:
- Já vi estes olhos antes, mas não me lembro onde! – ele se despediu.
- Olha – o velho disse antes dele ir embora - para que não se esqueça, vou te dar algo que pode ser útil para você – ele deu seu cajado e continuou – É de uma madeira muito especial e eu entendo disso, pois trabalhei com madeira durante toda minha vida e tem a virtude de dar força quando falham, de apoiar quando alguém cai e de ajudar a se levantar quando se está caído no chão. Além disso o defende, dá segurança e protege de todo mal que possa vir de fora e dá justiça àquele que quer desonrá-lo e você verá por si mesmo que tem muito mais propriedades que lhe serão reveladas quando levá-lo na mão e tiver um carinho especial por ele como eu tenho, mas eu o deixo com você até que você retorne pois como não posso caminhar por estar machucado, não tem nenhuma utilidade para mim agora. Mas se você voltar, eu o darei a você como um presente para sempre e você vai descobrir que, através dele, chegará aonde não conseguiria sem ele – e assim o velho se despediu.
A velha estava na porta e quando ia embora, ela disse:
- Deixe-me segurar sua mão! – e ao fazê-lo, o menino sentiu o mesmo calor de quando aquela jovenzinha havia segurado sua mão e pensou ter reconhecido seus olhos na mesma velha que tinha diante dele.
Quando chegou em casa seus amigos estavam esperando por ele e quando o viram chegar com um feixe de lenha em cima do cavalo, suas mandíbulas quebraram de tanto rir. É que José não se deu conta de descarregar a lenha que havia recolhido do velho e disse aos seus amigos:
- Deixem-me em paz que já causaram danos só por rir.
E neste momento saiu o pai de José que ouviu o comentário e perguntou o que estava acontecendo. Os meninos explicaram que no caminho haviam atropelado um ancião carregado de lenha e que José ficou para ajudá-lo e agora vinha com lenha em cima do cavalo.
O pai questionou o filho e ele respondeu dizendo que seus amigos haviam contado somente meias-verdades e que por causa da sua zombaria o ancião havia sido atropelado. E que ele o levou até a casa que o velho tinha, não distante do lugar onde ocorreu o incidente e que havia ajudado a curar seus ferimentos. E quando começava a contar sobre as maravilhas que acabara de presenciar, a prudência o fez calar e ele ignorou o resto e disse:
- Veja o que ele me deu de presente. Ele o considera como um bom amigo – e mostrou o cajado ao seu pai.
Ele o pegou, examinou e viu que era muito especial e disse:
- Creio que conheço este cajado pois se parece com um que vi há muitos anos. Era de um homem que também encontrei no caminho e se me lembro corretamente me disse algo sobre uma carpintaria. Eu era um menino naquela época, mas me lembro do cajado pois eu o peguei para entregá-lo e assim pude ver que era igual a este. Ele tinha gravado os nomes dos nossos antepassados e isso me surpreendeu muito. Veja José, aqui tem vários gravados que vão até Davi e depois vários que chegam a um que diz O MESSIAS e depois tem vários outros e no final coloca uma linha e nada mais. E isso é muito estranho, pois as pessoas que descendem de Davi e que estão gravadas até aqui onde diz MESSIAS, são todas da mesma linhagem que foi esculpida no cajado.
O pai mostrou ao seu filho e os outros também conseguiram ver. O pai continuou dizendo:
- Aqui diz como cada um morre e aqui diz quantos anos tinham. E onde diz MESSIAS, tem a palavra crucificado e, por último, ao lado da palavra MESSIAS tem uma seta apontando na direção oposta e isso não compreendo – e ele continuou – mas são os sacerdotes do tempo que saberão ler isso, pois isso - e apontou para o cajado – é a maneira como as informações eram transmitidas dos pais aos seus filhos. E o maior tesouro que era transmitido era um cajado que tivesse gravado todos seus antepassados e aqueles que eram da casa real tinham um cajado especial, de uma madeira que segundo diziam tinha grandes poderes para aquele que o tivesse.
E enquanto José ouvia seu pai, lembrava de tudo que que o velho tinha dito sobre o cajado sendo especial. E todos compreenderam que o cajado tinha um grande valor e exclamaram:
- Que sorte! – e foram embora invejando a sorte que seu companheiro teve.
José ficou a tarde inteira meditando e no dia seguinte apresentou-se no templo procurando um sacerdote entre aqueles que ensinavam a doutrina deixada por Abraão. E que, como seus irmãos, os mulçumanos das areias, receberam a responsabilidade de instruir a todos que passassem pelas suas cidades.
Para este fim, nasceu em Israel uma casta especial de sacerdotes que se dedicavam a ensinar e responder a todos aqueles que queriam saber. José foi até um deles e apresentou-se. Pegando o cajado, o sacerdote o estudou como não conhecia bem todos os símbolos, chamou alguém que era considerado o sacerdote entre os sacerdotes. E o mesmo aconteceu com ele, pois disse:
- É um cajado especial e deve ser muito valioso por causa da maneira como foi esculpido. Sua madeira deve ter mais de dez mil anos e, no entanto, parece nova e sem nenhum arranhão. Ele disse a José: Deixe-o no Templo para que possamos estudá-lo e assim aprender com ele.
- Não é meu. Foi deixado comigo e em alguns dias tenho de devolvê-lo – respondeu José.
- É um homem velho? – perguntou o sacerdote.
Surpreso, José respondeu que sim e o sacerdote disse:
- Dizem que uma vez na vida de cada um dos descendentes diretos de Davi aparece um velho com alguns símbolos especiais. Lembro que algo semelhante foi dito ao seu pai, assim como ao pai dele antes dele, mas ninguém sabe o que o velho quer nem de onde vem. Mas é singular que ele apareça para todos os descendentes e que ninguém mais tenha mencionado algo assim – e então disse a José: - Ouça um conselho. Pergunte ao velho qual é o significado do cajado e certifique-se de que ele lhe dê uma resposta. Depois venha e nos conte o que ele disse – e permitiu que José fosse embora.
José, cada vez mais atônito, foi embora. E quando chegou em casa contou ao seu pai o que lhe disseram. Seu pai disse:
- Na verdade, eu me lembro que em determinada ocasião meu pai me contou algo assim. José, tenha cuidado pois ninguém sabe quem ele é ou se é humano pois ninguém poderia viver por tantos anos. Você precisa desconfiar. Vá até ele e com prudência, questione. E você, que por natureza é prudente e reservado, use estas habilidades pois ouvindo se aprende mais do que falando – e foi isso que seu pai disse. E ele não havia comentado com ninguém sobre a velha.
No dia seguinte, José levantou muito cedo e pegando o cajado foi ver os velhos. Com todas as confusões que aconteceram, não havia perguntado ao seu pai se ele permitiria que ele aprendesse o ofício de carpinteiro.
Quando chegou na casa, viu que o velho estava tirando água do poço e José disse para si mesmo: - É realmente surpreendente como ele se curou. Embora não compreenda muito bem, seu ferimento era tão significativo que se tivesse acontecido com qualquer outra pessoa, ela não poderia fazer mais nada pelo resto da sua vida.
E pensando nisso, aproximou-se de onde o velho estava e disse:
- Bom dia, meu senhor!
- Bom dia e louvores sejam dados ao ALTÍSSIMO, pois todos os dias ELE nos dá o céu, a terra, o sol e tudo que pode ser visto por aqui – ele respondeu.
José considerou isso adequado, mas não respondeu. Naquele momento a velha saiu e olhou para ele. Ele sentiu em seu olhar um calor igual àquele que havia sentido quando segurou sua mão. Ele ficou atordoado, mas disse:
- Bom dia!
- Louvado seja! Mas me diga seu nome que ainda não sei e também se você comeu esta manhã pois como acordou muito cedo provavelmente não o fez – respondeu à velha.
- Não, eu realmente não me lembrei de comer – respondeu o menino e depois disse seu nome. E ela olhando atentamente sorriu para ele.
José foi convidado a entrar na casa e quando o fez ,viu que o interior havia mudado. Havia uma mesa e algumas banquetas. Ele não tinha visto nada disso antes e também havia um fogo onde fazer bolos. Os bolos já estavam prontos e havia mel e leite. Ele não se lembrava de ter visto nenhuma cabra ou ovelha. Ele observou tudo, mas não disse nada e aguardou. O velho aproximou-se com o balde e quando o viu, ficou corado de vergonha e disse:
- Meu senhor, perdoe-me! Ao obedecer a sua mulher me esqueci de ajudá-lo.
Mas o velho, que carregava o balde cheio de água com uma mão como se fosse algo leve, respondeu:
- Não se preocupe. Quando se é jovem e alguém fala sobre comer, você se esquece de tudo. Mas antes que você coma, vou lhe dizer algo e se você concordar, poderá fazê-lo. Tudo que se come nesta casa não é comida deste momento e faltará em outro quando chegar a hora e será você quem sentirá sua falta pois já deve ter percebido que o fato do meu nome ser igual ao seu não é uma coincidência. Nós somos o homem e a mulher que um dia serão marido e algo parecido. Somos você no futuro e estamos aqui porque se não o corrigimos vamos perdê-lo e não poderá realizar uma missão para a qual foi convocado.
- Meu senhor, diga-me primeiro e depois determinarei se posso comer ou não - disse José.
- Meu nome é José e sou carpinteiro em uma cidade que se chamará Nazaré. Lá tenho isso que você vê agora - disse o velho enquanto mostrava a carpintaria.
José olhou ao redor e viu que tudo havia mudado e disse assombrado:
- Ontem parecia tudo velho e hoje tudo está em bom estado!
- Bem, – disse o velho – é assim que vai estar quando você tiver a minha idade.
E naquele exato momento, o menino olhou para o velho que aparentava ter cerca de quarenta anos e mais nada e se assustou. Mas o velho disse:
- Seja prudente e ouça! Somos Servidores do ALTÍSSIMO e queremos servi-LO da maneira que ELE nos ordenar e temos uma missão que está em perigo pois quando alguém é jovem e insensato como você é, muitos erros podem ser cometidos que irão marcá-lo pelo resto da sua vida e o tornarão inútil para servir a um Senhor tão importante – e o velho, que se transformou em um homem, continuou: - o ALTÍSSIMO nos enviou para adverti-lo de que está seguindo pelo mau caminho e que se não mudar, nunca será capaz de conhecer a missão que está reservada para você.
O menino, um pouco assustado por tudo que estava ouvindo, disse:
- Por acaso isso tem algo a ver com o fato de eu não ter dito que quero trabalhar de carpinteiro?
- Isso é uma das coisas – respondeu o homem enquanto ria - a outra é sua falta de oração e sua falta de austeridade consigo mesmo.
- Meu senhor, e como eu alcanço isso? Faço tudo que me dizem e não sei mais nada - respondeu José.
- Veja – disse o homem - de agora em diante, se você estiver de acordo, uma voz em seu pensamento lhe dirá o que você precisa fazer e assim você poderá saber tudo que precisa fazer a cada momento, como seu antepassado o Rei Davi, de quem você já ouviu falar. Você será ensinado e será informado de tudo que precisa saber. Mas terá sua liberdade para fazê-lo ou fracassar, como aconteceu com Davi, que começou fazendo tudo o que lhe diziam e que no final das contas parou de ouvir e passou a servir o Senhor do mal e quando quis se corrigir, tinha tanta miséria em sua Alma que nunca conseguiu se desfazer disso. Sabe como ele morreu? Doente, pois o ALTÍSSIMO vendo que ele estava arrependido e que já não tinha mais remédio, e em pagamento por tudo que havia feito na sua juventude, deu-lhe uma recompensa que foi pagar todos seus pecados na Terra e, portanto concedeu-lhe uma doença grave e seu corpo desintegrou até que ele morreu. Quando sua Alma foi levada diante daquele que julga, foi-lhe dito: - Pelas suas ações, você não seria admitido no Paraíso, mas pela misericórdia do ALTÍSSIMO um lugar foi reservado para você. E sendo o primeiro na Terra, foi o último no Paraíso e Davi ficou muito feliz por ter conseguido entrar. Mas este seu antepassado, quando ainda era amigo do ALTÍSSIMO, um dia lhe disse: - Entre aqueles que saírem da sua semente, um dia nascerá aquele que se chamará O MESSIAS. Mas ele fracassou naquilo que deveria ser, desvirtuando tudo o que estava previsto. Vou explicar. O ALTÍSSIMO vendo que ele já não era digno de ocupar a posição que lhe era destinada disse: - Vamos lhe dar o castigo apropriado! Então organizou para que tudo que tinha de acontecer começasse a desaparecer. E será assim até chegar a ele. E se quando chegar, não tiver mudado, vamos ter de excluí-lo também. Portanto, foi retirando as pessoas que tinham de ser, chegou até sua casa e parou em você. E quando morreu, você poderia ter tido como filho aquele que seria o MESSIAS, mas isso também não acontecerá, pois, seus filhos também foram excluídos e, portanto, do seu sangue e da sua carne não sairá nenhum filho que assim possa ser chamado.
Isso entristeceu o rosto do menino que quase não compreendia nada, mas o homem continuou dizendo:
- Mas ainda não explicamos nossa presença, sendo como somos, o que você será no futuro. Somos enviados do futuro para fazê-lo ver que você tem uma missão e também para dizer e questionar se você quer realizá-la. Você terá de deixar os luxos, as riquezas e os criados e se casará com uma mulher que já tem nome e que você já conhece. MARIA. Sim, aquela menina que um dia você tanto gostou. Você terá de trabalhar, sofrer. Muitas coisas acontecerão e você criará uma família com o suor do seu rosto e com o trabalho das suas mãos. Seu trabalho será o de carpinteiro, mas tudo isso se você aceitar.
José disse que sim e o homem respondeu:
- Espere um pouco, não seja tão rápido quando tem de responder. Lembre-se dos conselhos do seu pai que tanto o ama. Ouça primeiro, pense e finalmente responda com calma.
- Meu senhor, não preciso pensar muito pois quero servir ao ALTÍSSIMO a qualquer momento e lugar. E sobre as coisas que me contou, não sei nada e a única referência que tenho são as suas palavras. Como você diz, também tenho liberdade. Se em determinado momento for contra minha consciência ou meus princípios tudo fica em paz, mas pelo menos minha resposta não vai me fechar uma porta que está se abrindo - respondeu José.
- Você se expressou bem! – respondeu o homem.
Eles se sentaram à mesa prontos para comer, mas o menino disse:
- Espere, explique sobre o fato de que o que eu comer agora depois não poderei degustá-lo.
E o homem riu com vontade e disse:
- Esta comida é a comida que um dia você terá em sua casa e como é sua, coma sem arrependimentos pois como você pode ver há muita e não irá faltar.
Neste momento entrou a mulher vindo da cozinha. O menino olhou para ela e viu espantado que era uma mulher que deveria ter cerca de dezoito anos e tinha uma beleza muito especial. Ela olhava em seus olhos e mais uma vez ele sentiu o rosto corar. Ela disse:
- José, olhe para mim. Você já sabe meu nome. É MARIA. Um dia vamos ser marido e mulher, mas nosso casamento será diferente de todos pois não teremos filhos naturais. E apesar de vivermos e dormirmos juntos e dos nossos corpos se aquecerem, em nenhum momento seremos marido e mulher da maneira como as pessoas compreendem. E sua semente nunca estará em mim e vamos criar um filho que será o MESSIAS.
Ela disse tudo isso enquanto o servia, depois sentou-se à mesa e comeu.
Eles conversaram sobre vários assuntos e quando terminaram de comer, José disse:
- Espere que tenho várias perguntas e quero que você me responda. Conforme você diz, você é o que eu um dia serei e está aqui por ordem do ALTISSIMO para me informar sobre meu futuro e para que eu não me desvie DELE. E eu aceitei. Por outro lado, novamente conforme você diz, serei carpinteiro e tudo o que está aqui será meu e eu vou me casar com a menina que conheci. E embora estejamos casados, não terei uma mulher para ter filhos. E além disso, você diz que da minha casa sairá aquele que será o MESSIAS.
E os dois assentiram. Então ele continuou dizendo: - Não entendo nada! Explique novamente o que eu perdi.
Os dois riram ao mesmo tempo e quando José ouviu a risada da mulher, sentiu algo tão especial que não pôde deixar de olhar para mulher ao seu lado e dizer:
- Você é realmente a mesma pessoa que eu conheci. Jamais poderia esquecer sua risada.
E a mulher assentiu e em seus olhos havia tanta bondade e tanto amor que José não conseguiu se conter e segurou sua mão. Todos ficaram em silêncio e quando José soltou a mão da mulher, o homem disse:
- De fato é ela! Mas este gesto que você fez será uma das coisas mais difíceis para você. Pois ao ter a mulher que ama ao seu lado continuamente, você vai querer coabitar com ela e terá de se conter. Ela também é muito especial e quando chegar o momento, você verá. Só de tocar suas mãos ou olhar em seus olhos será o suficiente para transformar o desejo em amor puro e assim você passará por aquelas provas que são extremamente difíceis.
Dizendo isso, eles terminaram de comer. O homem continuou:
- Venha, vou te dar a primeira aula de como você precisa trabalhar.
- Espera! – disse o menino e colocou dinheiro em cima da mesa. Era muito.
- Para que é isso? – perguntou o homem, parecendo surpreso.
- Em primeiro lugar, tenho de pagar pelo que levei ontem. É pela carga de linha. Em segundo lugar, pela comida. E em terceiro lugar, porque se este é o meu futuro, gostaria que alguém viesse e me desse dinheiro em quantidade suficiente para viver melhor – respondeu o menino.
- Você realmente não entendeu nada! – disse o homem rindo e separando uma moeda, devolveu o resto. Ele disse: - Com isso as duas coisas estão pagas, a carga de lenha e a comida. O resto não vou cobrar pois você vai trabalhar e este será meu pagamento.
E ele levou o menino para o bosque. Eles passaram o dia inteiro de um lado para o outro e a única coisa que o homem fazia era falar e mostrar as árvores. Ele explicava:
- Esta tem madeira para fazer bons móveis, mas ainda é jovem. É preciso esperar pelo menos dois anos antes de cortá-la pois mais tarde a madeira estragaria e os donos dos móveis viriam reclamar. Assim como as pessoas, é preciso dar às árvores tempo necessário para que possam ser úteis.
Eles retornaram na parte da tarde e o menino foi convidado a cear com eles. Muitas perguntas foram feitas e todas foram respondidas, mas em determinado momento José disse:
- Tenho várias perguntas para fazer sobre o cajado. Fiz uma consulta e me disseram que é um cajado muito especial. No Templo me disseram que é tão antigo que ninguém sabe interpretá-lo. Peço, por favor, se você puder, falar sobre ele.
- O cajado é o da sua casa. Você está aqui! – respondeu o homem. O menino olhou e viu apenas um símbolo que não compreendia. O homem continuou: - Antigamente a escrita não era conhecida nem onde se poderia escrever. E como mantinham contato com a natureza, os conhecimentos eram transmitidos oralmente. Chegou um momento, em que se percebeu que as coisas transmitidas de um para outro mudavam, então por inspiração do ALTÍSSIMO alguém pensou em esculpir em um cajado as coisas mais importantes. Procurou-se então um que fosse de uma madeira especial, que com o tempo se tornasse mais dura e que não perdesse o que estivesse escrito nela. E também por inspiração tal madeira foi encontrada. Uma árvore que nascia somente em determinado lugar. Pegou-se então um bom pedaço de madeira, como este que você vê. E posso dizer que naquela época não havia com o que cortá-la e como era de tal dureza que não poderia ser quebrada, teve de ser queimada aos poucos. Queimou-se a parte de cima e a parte de baixo. E no mesmo fogo endureceu-se a ponta para que não quebrasse. E estava cortada. A casca foi retirada e antes de secar, começou-se a trabalhar nela. E isso era fácil e difícil ao mesmo tempo. Em primeiro lugar, porque era necessário muito tempo e muita paciência e isso era feito nos momentos de folga. E em segundo lugar, porque as letras não eram conhecidas e não se sabia como colocar isso de tal maneira que, quando chegasse aos outros, eles as reconhecessem. E também por inspiração foi determinado que se fizesse símbolos. Veja que ao final do nome do pescador se coloca um peixe e aqui onde diz MESSIAS somente se vê um sol com muitos raios.
O homem estava explicando como se fazia isso, mas o menino que já estava intrigado disse:
- Espere, não corra tanto. Você diz que é a história da minha casa. Como isso é possível, se você também me disse que quando Davi pecou foram apagados todas as pessoas e símbolos daqueles que deveriam ser e não serão e que no cajado está escrito tudo que aconteceu, mas também me fala sobre o futuro e um homem que se chamará o Pescador. Não compreendo nada disso!
- Você é realmente curioso! – disse o homem rindo novamente – Você vai entender o que eu explico, mas é melhor começar pelo início. Veja que aqui há um espaço que não tem nada além de uma linha para cima. No momento em que isso foi feito, não se recordava do que existia antes. E, portanto, vos digo que antes de nós existiram muitos povos e culturas que chegaram às estrelas e voltaram a Terra. Você é descendente daqueles que voltaram. E com o passar do tempo, as guerras e catástrofes naturais tiveram de recomeçar, mas isso não é importante porque não é importante que o homem progrida, mas que cumpra sempre a vontade do ALTÍSSIMO. Aqui você pode ver o símbolo da arca e esta história você já conhece porque seus pais já falaram sobre ela. Você também pode ver o símbolo de Abraão e depois o de Moisés, mais adiante o símbolo de Davi. E aqui está o seu - e ele apontou para um lugar em que já havia um martelo - e aqui está o símbolo do MESSIAS que também tem o símbolo da Cruz. Você deve ter notado que este cajado é muito especial pois nele estão esculpidos os símbolos do passado, que eram os mesmos que eram feitos antes e também os símbolos do futuro. Não é um cajado para você levar agora porque você não sabe o que fazer com ele. Haverá um momento em que ele será usado e aquele que o levar, terá em suas mãos tudo o que a Terra precisa recordar sobre seu passado. E com ele percorrerá o mundo inteiro e a todos irá ensinar. Agora devolva-o que preciso guardá-lo - e o homem segurou o cajado em suas mãos e com muita relutância, o menino o soltou.
- O que eu preciso fazer? – perguntou José – Acredito que você não vai querer ficar muito tempo aqui. Se é verdade que você é meu futuro, você terá de me deixar em algum momento.
- Você realmente tem razão! – respondeu o homem – Nós já cumprimos nossa missão. Portanto hoje vamos estar aqui e amanhã já não estaremos. Mas ainda nos restam algumas horas e gostaria de lhe mostrar algo.
Ele levou o menino até uma clareira no bosque e disse:
- Vê está árvore? - e mostrou ao jovem uma árvore que estava brotando.
- Se permitem, ela brotará saudável e crescerá bem, mas se vem alguém e coloca um peso em um lado - e dizendo isso pegou a árvore com a mão e torceu – Então ela sairá torcida. O mesmo acontece com o homem, que nasce correto, mas as coisas do mundo, a família, amigos, riquezas ou o que quer que seja, o deturpam. E estou dizendo isso porque, se você contar tudo isso, seu pai pode perguntar porque apareceu outro velho para ele quando era jovem ou por que aconteceu a mesma coisa com o pai dele. E você poderia perguntar sobre todos os descendentes de Davi. A explicação é que quando Davi era amigo do ALTÍSSIMO lhe foi concedido o dom de que um dos seus descendentes fosse o MESSIAS. E ele perguntou: - Qual deles será? Gostaria de conhecê-lo. E ele foi informado que ninguém sabia porque cada um deles seria testado e que dependendo do resultado, então teria um filho e este seria o MESSIAS. E desde então todos foram testados da mesma maneira que você. E mesmo assim seu pai também não se saiu bem. Apareci para ele em circunstâncias estranhas para que tivesse de me socorrer como você o fez, mas ele já tinha o coração tão duro que não conseguiu se endireitar.
E dizendo isso ele soltou a árvore que ainda segurava na mão. E a árvore endireitou-se de repente.
- E, no entanto, embora seu pai não tenha servido para esta missão nem por isso ele foi descartado pois me socorreu. Ele não disse mais nada sobre o assunto.
- Você tem ao seu alcance a possibilidade de ter o MESSIAS entre os seus descendentes – disse o homem olhando em seus olhos - e embora ele não seja seu filho, você poderá criá-lo. A escolha é sua!
- Meu senhor, quero ser o pai do MESSIAS - respondeu rapidamente o menino. - O que eu preciso fazer?
- Continue vivendo sua vida - respondeu o homem – mas se algum dia você for chamado novamente, não espere pelas mesmas pessoas. Isso acontecerá de tal maneira que você ficará surpreso. Mas antes direi que você precisa fazer uma oração para o ALTÍSSIMO todos os dias para que Ele possa fornecer a voz que falará em sua mente. Será ela que dirá a todo momento o que está certo e o que está errado. Você fará muitas coisas certas e nenhuma errada.
Dizendo isso, eles voltaram para a casa. E assim que o menino entrou, procurou a mulher com o olhar. E o homem vendo isso, disse:
- Vejo que você tem um grande carinho pela minha mulher e que ela chama muito sua atenção. Mas lembre-se que antes dela você conhecerá outras e irá compará-las. As outras entregarão seus corpos a você, mas ela não fará isso. Você vai conhecer a sexualidade antes do casamento, mas não pecará por isso porque é a maneira de lhe dizer a que você terá de renunciar - e dizendo isso, a mulher entrou e serviu a comida.
Eles começaram a comer quando o menino disse:
- Caramba, como está bom! E além disso nunca havia comido algo assim.
Ele perguntou o que era e responderam que eram frutos do campo que foram cozidos com água e sal e depois foi acrescentado um molho e mais nada.
Depois serviram a carne e ele perguntou o que era. E foi-lhe dito:
- A carne que você come é apenas frango. Mas a maneira de prepará-la é igual a anterior, cozida com sal e mais nada.
Terminada a refeição, o menino disse que precisava ir embora e a mulher respondeu:
- Espere, vou te dar um presente! Meu marido disse que você precisa fazer uma oração para o ALTÍSSIMO todos os dias. Pois bem, vou dizer uma oração especial que ele gosta muito e assim, pelo seu próprio esforço, poderá agradá-lo mais.
MEU PAI QUE ESTÁS NOS CÉUS
SANTIFICADO POR TODOS SEJA SEU NOME
FAÇA-SE EM MIM A SUA VONTADE
E QUE ESTA SE CUMPRA NA TERRA E NO CÉU
- Somente isso e mais nada é o que você precisa dizer todos os dias. Mas para isso você vai se colocar em um lugar afastado e solitário e ficará de joelhos com a cabeça apoiada no chão. Invoque-O e diga esta oração que ELE gosta muito que também deverá ser feita nesta posição.
José se levantou da mesa e saiu da casa. Quando se virou para se despedir, descobriu que não havia nada atrás dele, somente as árvores que havia ali perto. Nem casa, nem pessoas, nem poço, nada.
E assustado, esfregou os olhos e disse para si mesmo: - Foi tudo um sonho!
Mas uma voz em sua mente disse:
- José, tudo é verdade. Você viu, ouviu e comeu. E vai poder contar. Mas como aqueles para quem contar não compreenderão que estas pessoas vieram do futuro, dê a cada uma delas outro nome. E poderá contar aos outros o que elas fizeram e disseram. Mas lembre-se do seu pai e tenha cuidado! Não o machuque dizendo que fracassou quando a oportunidade se apresentou. E em relação a todo o resto, seja prudente e fique calado.

CONHECE O EREMITA

Agora vou contra uma história completamente diferente da anterior. Nesta ocasião, JOSÉ estava com dezoito anos. Já era um homem alto e bem visto porque comia bem e estava em estado de graça. Todos os dias fazia a oração para o ALTÍSSIMO como havia aprendido. E embora seus companheiros fossem farristas, ele se mantinha são.
Enquanto os demais se entregavam a comida, bebida e a ostentar o dinheiro, ele ia para o campo e se informava sobre as finanças da fazenda. E embora no começo seu pai gostasse disso, por outro lado ficava surpreso que fosse assim e inclusive, em determinado momento, chegaram a conversar sobre enviá-lo para algum lugar para que ele tirasse estas ideias estranhas da cabeça, como não beber vinho e coisas semelhantes.
Estando um dia em casa, chegou por ali um homem bem vestido, montado a cavalo e perguntou a seu pai por JOSÉ. E ele saiu porque o visitante era uma autoridade que disse ser um homem do rei e percebia-se isso pelo seu porte.
Seu pai o fez entrar e fez as honras. O homem descansou em sua casa por dois dias e depois seguiu seu caminho, mas antes de ir embora disse ao seu pai:
- Deixe que seu filho venha comigo e me acompanhe que assim terei com quem conversar. E quando voltar, eu o devolverei.
Seu pai concordou e chamou José e disse-lhe para se preparar. E José foi embora com o cavalheiro.
Ao longo do caminho eles conversaram e José descobriu que ele era um homem do Rei e que tinha uma missão estranha. Havia recebido uma mensagem de que ali perto vivia um eremita que dizia ser o profeta e o Rei queria saber se era verdade. E se assim fosse, que lhe fizesse algumas perguntas, onde e quando o MESSIAS viria, porque segundo os sábios que haviam estudado os pergaminhos que foram escritos o momento estava muito próximo e ele precisava saber.
Eles conseguiram localizar o eremita em uma caverna na montanha. Quando estavam se aproximando, a voz na mente de José disse:
- Tome cuidado para não falar demais porque o homem que você vai é um homem do ALTÍSSIMO e irá reconhecê-lo. Se ele disser alguma coisa, deixe que ele fale e não responda. Apena ouça e mais nada.
Quando chegaram ao local, o homem do Rei chamou o eremita, que saiu da caverna. Ele estava extremamente sujo e vestia farrapos, mas em seus olhos havia algo especial. Ele olhou para os dois e se fixou especialmente no jovem. E antes que eles dissessem alguma coisa, perguntou:
- Vocês vieram me perguntar quando será o nascimento do MESSIAS? É curioso que venham até mim já que deveria ser eu a questioná-los.
E então o homem do Rei disse:
- Como sabe o que viemos perguntar?
- Sou um homem do ALTÍSSIMO e ELE tem todo o poder. Portanto, sei quem vocês são e o que serão, mas minha boca só abre quando sou mandado – disse o eremita e dirigindo-se ao homem, perguntou: - Diga-me quem quer saber e eu lhe responderei.
- Meu Rei e Senhor me envia para perguntar como e quando nascerá o MESSIAS para que esteja preparado para recebê-LO e colocar o trono à sua disposição – ele respondeu.
- O MESSIAS está perto, mas não a ponto de ter de colocar o trono à disposição de ninguém. Está escrito que ELE nascerá por volta desta data e assim será. O lugar será Belém – disse o eremita enquanto se virava para o menino e dizia: - Agora me diga, o que você quer saber?
E José que não esperava a pergunta respondeu:
- Nada, senhor. Só venho acompanhar o cavalheiro – mas de repente, pensando rápido disse – mas se quer responder a uma pergunta será esta. Você verá que é um enigma. Uma autoridade tem um filho, riquezas, dinheiro e bens. A sorte sorri para ele, mas ele está vazio por dentro e não sabe o que fazer. Diga-me, que solução você pode dar para sua vida?
O eremita olhando em seus olhos respondeu:
- Que se ponha ao serviço do ALTÍSSIMO! ELE lhe dará trabalho porque está procurando por um trabalhador. E embora tenha chamado, ninguém respondeu. Mas parece que há um que pode ser merecedor.
Dizendo isso, ele deu meia volta e entrou na caverna. E enquanto estava indo embora ouviu que ele cantava, mas não entendeu o que ele estava dizendo.
Eles desceram da montanha e enquanto faziam isso o cavalheiro perguntou ao menino que impressão o eremita havia lhe causado porque em determinados momentos parecia lúcido e em outros, completamente louco. E enquanto desciam, o cavalheiro tropeçou e caiu montanha abaixo.
José o pegou, surrado pelos golpes, enquanto o cavalheiro dizia:
- Eu realmente quase me mato. Como vamos chegar a um lugar habitado se mal consigo me mover?
- Senhor, irei ajudá-lo, mas será melhor curar suas feridas. Vou pedir ajuda ao eremita, caso ele conheça alguma erva ou tenha água com a qual você possa ser curado - respondeu José.
Após dizer isso e sem esperar pela resposta, ele subiu a montanha correndo e chamou o eremita. Ele chegou até onde esteve antes, mas ninguém saiu. Voltou a chamar e vendo que ninguém respondia, decidiu entrar na caverna e o fez chamando continuamente, mas sem obter resposta. E quando entrou o suficiente, descobriu que a caverna descia e se transformava em uma grande cavidade interna e que havia luz que saía das paredes. E tal foi a impressão que isso lhe causou, que ficou parado e não percebeu que o eremita estava na sua frente. Quando reagiu, ele disse o motivo da sua visita. E o eremita respondeu:
- Isso aqui - e com a mão apontou as maravilhas da gruta em que estavam – é como seu interior, que por fora é uma montanha nua e por dentro tem uma maravilha, mas esta maravilha precisa sair para o exterior. Do que adiante o que você tem guardado se ninguém pode desfrutar? Mas não mostre esta maravilha aos porcos, mostre àqueles que podem vê-la e deslumbrar-se com ela. Eu lhe direi que tudo isso é obra do ALTÍSSIMO, que todo o ouro que um Rei possa ter não vale a metade da beleza aqui encerrada. Logo você vai conhecer a mulher que um dia será sua esposa e, mesmo que a conheça agora, também não poderá possui-la, pois ainda não nasceu.
José não entendeu e disse:
- Meu senhor, eu já a conheci quando era menino.
- Sim, assim como quando era velha e as duas são a mesma. E, no entanto, nenhuma das duas ainda tem vida pois não nasceram. Mas logo terá nascido e você irá conhecê-la. Digo tudo isso para que você compreenda que em relação as coisas do ALTÍSSIMO, só precisa fazer Sua Vontade, sem sequer pensar em compreendê-lo. E se você parar para fazê-lo, perderá o tempo e a oportunidade – disse o eremita e ele continuou: - Você terá de fazer uma viagem em breve e irá parar em uma aldeia e em uma casa você pedirá água e as pessoas que irão atendê-lo serão os pais da sua mulher. Respeite-os e fale com eles que, apesar de serem pessoas simples têm dentro do si o ALTÍSSIMO e sabem quando estão diante DELE. Agora vamos cuidar do cavalheiro, mas não será uma cura fácil. Você terá de levá-lo com cuidado para sua casa. Ele vai mandar que você leve um recado ao Rei e você terá de fazê-lo. E é sobre esta viagem que eu falei – o eremita concluiu.
Os dois desceram a montanha e pegaram o cavalheiro. Após cuidar dele um pouco, eles o colocaram com cuidado no cavalo e o rapaz o levou para casa. Eles levaram dois dias para chegar e quando o fizeram, colocaram o cavalheiro na cama e o homem disse ao pai de José:
- Preciso informar ao Rei!
E perguntou se ele poderia ir em seu lugar. O pai se recusou porque suas costas estavam incomodando, mas disse:
- Deixe que eu cuido disso e não há ninguém melhor do que o meu filho para informar ao Rei o que ele mesmo ouviu.
O cavalheiro concordou e decidiu-se que no dia seguinte José sairia para a Capital e embora o Rei não estivesse ali, deveria avisar na casa do cavalheiro para que viessem buscá-lo. Depois ele iria até onde o Rei estava, que era muito longe, em um lugar onde tinha uma fazenda em que gostava de ficar pois era fresco quando fazia calor.
José, com um bom cavalo e uma boa vestimenta, foi à procura do rei. Na Capital, ele deu o recado à família do cavalheiro e seguiu seu caminho. A noite o surpreendeu e ele chamou em uma casa, próxima a uma aldeia que não conhecia e pediu pousada. E disseram-lhe para entrar, apesar de não se dedicarem a fornecer pousada. Mas ele poderia passar uma noite em casa, pois o costume os obrigava a serem caridosos com aqueles que pediam corretamente. Quando entrou, ele percebeu que era a casa que o eremita havia indicado. Eles disseram:
- Meu senhor, somos pobres, mas honrados por isso em nossa mesa não existe muita comida e é possível que você não goste como é preparada, mas não podemos prepará-la de outra maneira.
E voltaram a servir aqueles ensopados que ele tanto gostou quando foi servido pela velha daquela casa. E assim que o viu e provou, ele se lembrou e não conseguindo se conter, disse:
- Está magnífico, como na outra vez.
E a mulher ficou olhando para ele e disse:
- Meu senhor, você já esteve aqui alguma vez para se lembrar do ensopado? Pois como você pode ver, não tem nada porque não temos nada. Está apenas cozido, são produtos do campo e só tem sal para temperá-lo e como molho, tem um pouco de azeite e de pimenta moída.
- No entanto, está magnífico! - disse José.
Depois serviram um frango e aconteceu a mesma coisa. Ele comentou como estava bom e a mulher voltou a dizer:
- Meu senhor, não tem nada de mais e só está cozido com sal e mais nada.
José notou que a mulher estava grávida e perguntou:
- Para quando é a criança?
- Falta pouco, mas precisamos fazer uma viagem até a casa de alguns parentes e é possível que nasça ali - ela respondeu.
Era costume que quando uma mulher fosse ter um filho se reunisse na casa de algum parente que cuidaria dela pelo tempo que fosse necessário, desde o parto até que ficasse em pé.
- Se você tivesse passado na próxima semana, não teria nos encontrado – acrescentou o homem – pois é a semana que tínhamos planejado reiniciar a viagem já que tem de ser a pé e pelo fato do parto estar próximo, leva-se muito tempo para chegar.
- Por que vocês não vão de carroça? - perguntou José.
- Senhor – respondeu a mulher – não temos nem carroça nem cavalo para puxá-la e também não podemos alugá-la pois não temos dinheiro. Além disso, é bom para as mulheres caminharem bastante quando chega a hora, porque isso nos fortalece e temos os filhos quase sem sofrimento. Portanto, não pense nisso – e eles agradeceram pelo seu interesse.
José, querendo fazer algo por aquela família, disse:
- Eu gostaria de voltar para ver o que vocês tiveram, se um varão ou uma fêmea, para trazer um presente. Porque ele ou ela estão me servindo agora – dizia isso pelo fato da mãe estar lhe servindo e a criança estar em seu ventre.
O homem riu da ideia de José e perguntou:
- Diga-me, pois eu não o conheço destas redondezas e você parece sério. Você conheceu a voz do ALTÍSSIMO?
José olhou para ele surpreso e os dois olharam para ele esperando pela sua resposta. José respondeu:
- Eu a conheci e a carrego dentro de mim, guiando meus passos.
- Estava esperando por isso! – disse o homem – já que eu também a tenho e ELE já havia me informado. Não queremos presentes pois algum dia você terá de nos presentear, mas de outra maneira. Agora dorme nesta cama e pela manhã cumpra sua tarefa. E mesmo que demore muito tempo para nos encontrarmos novamente, lembre-se que o ALTÍSSIMO sempre escolhe as pessoas, os lugares e as maneiras. E o homem só tem de obedecer para fazer sua Vontade.
O casal foi dormir no outro quarto e José ficou no cômodo em que comeu, pois, a casa não tinha outros. E ele dormiu maravilhosamente.
No dia seguinte, seguiu seu caminho, mas não sem se despedir deles calorosamente. E ele perguntou à mãe:
- Posso, por favor, segurar sua mão?
E não era comum que os homens tocassem as mãos das mulheres casadas. E ela, sem se surpreender, estendeu a mão. E quando José a segurou, sentiu o mesmo calor que havia sentido nas duas ocasiões anteriores. E isso encheu todo seu ser. Ele olhou nos olhos da mulher e viu que eram da mesma cor que viu naquela menina e naquela velha e pensou que tinha de ser assim porque é a mãe daquela que será minha mulher. E sem conseguir se conter, beijou a mão que tinha entre as suas. A mulher permitiu e retirou suavemente a mão. E olhando em seus olhos disse:
- Este beijo não é para mim e eu sei!
José continuou a viagem e chegou onde o rei se encontrava. Ele se pôs elegante, pegando a roupa que levava guardada em um pacote para não manchá-la no caminho.
Ele se apresentou ao Rei e transmitiu a mensagem. E não lhe dando ouvidos, o Rei disse:
- Está bem! Coma o que quiser e depois volte para sua casa, porque você ainda não tem idade para andar sozinho por estas estradas.
Isso ofendeu José, que respondeu:
- Meu senhor, realmente não tenho idade para fazer isso, somente para escoltar seu cavalheiro e salvar sua vida quando foi necessário e também para servi-los e trazer a mensagem que você estava esperando. Portanto, vou embora para obedecer, mas você não tem razão!
Dizendo isso, ele começou a ir embora, mas o Rei o impediu, surpreso com a resposta e disse:
- Seu nome, qual é?
José disse e o Rei disse a seguir:
- Você tem razão em dizer estas coisas, mas quando um Rei pede que você vá embora, você vai embora e mais nada! Porque o Rei pode ter outros assuntos neste momento que está despachando ou apenas não quer ser importunado. E é privilégio seu ouvir ou dispensar as pessoas e mais nada. Diga-me uma coisa, pois apesar de ter razão, você se mostrou insolente e a juventude tem seus impulsos que costumam ser justos. Você considera que eu não lhe dei a atenção devida já que percorreu um longo caminho para transmitir um recado que poderia ter sido enviado por um criado? Você tem razão, portanto me desculpe. Fique hoje e aproveite as coisas do palácio e amanhã, descansado, vai embora para sua casa.
José ficou pensativo e perguntou:
- Como posso fazer duas coisas diferentes ao mesmo tempo já que o próprio Rei me mandou embora. Se fico, desobedeço. Se vou embora, também desobedeço. Portanto, meu senhor, diga a terceira para ver o que eu tenho de fazer.
O Rei começou a rir de bom grado e disse:
- Pois bem, a terceira é que você se sente aqui - e indicou um lugar ao seu lado.
José obedeceu e encontrou-se sentado ao lado do Rei que perguntou de onde ele era e quem era seu pai. E assim descobriu que José era descendente da casa real, em linha direta e brincando, o Rei disse aos presentes:
- Coma bem, porque você pode ser o pai do MESSIAS e trouxe a boa notícia que não preciso deixar o trono – e dizendo em voz baixa para José, continuou – em segredo te digo que não pretendia fazê-lo senão matar o recém-nascido e assim evitar que surja outro que possa tirá-lo de mim.
José viu que tinha diante de si um assassino e não um Rei, ou melhor dizendo, um Rei assassino pois pretendia matar uma criança sem sequer provar que ela era culpada de alguma coisa. Uma criança cujo único delito era ser filho de uma pessoa e que o ALTÍSSIMO havia abençoado. Ele pensou que precisava sair logo dali ou ficaria doente.
Naquele momento lhe ofereceram uma bebida e pegando o copo, ele o levou à boca. Mas como nunca bebia, ele pensou: - O que eu faço agora? E ocorreu-lhe a solução, que rapidamente colocou em prática. Ele tomou um gole e com ele molhou o Rei que era quem estava ao seu lado e começou a tossir sem parar. O Rei se irritou de tal maneira que, embora José continuasse tossindo, ele gritou:
- Saia da minha vista! Que desajeitado você é que nem sabe beber. Vá para casa e não volte até que não tenham lhe ensinado mais algumas coisas.
Sem parar de tossir e segurando a barriga para não rir ao mesmo tempo, José foi embora correndo entre os risos daqueles que estavam presentes. E assim conseguiu sair daquele aposento e dar ao Rei uma pequena lição de sabedoria e ao mesmo tempo uma pequena repreensão como aquelas empregadas por aqueles que o ALTÍSSIMO tinha por amigos.
Foi assim que o príncipe conheceu o Rei e digamos que o primeiro encontro não foi muito feliz, mas a verdade é que nenhum dos dois sentiu saudades do outro.
Quando o príncipe foi embora, o Rei falou muito mal dele, chamando-o de grosseiro e coisas assim e o príncipe também disse o que quis sobre ele, mas de maneira mais comedida e em voz baixa porque alguém poderia ouvi-lo e ele ainda estava no palácio.
Mas como nunca estivera em nenhum lugar tão luxuoso, ele ficou estupefato e quase se chocou com o chefe da Guarda que ia despachar com o Rei, exatamente na direção oposta que o garoto estava vindo.
Quando o chefe da Guarda tropeçou, ele o agarrou pela camisa com uma mão. E ele realmente muito forte porque deu um empurrão em José que o derrubou com os pés para cima e sem olhar para ele, disse:
- Afaste-se pirralho que está impedindo a passagem!
E José, que não tinha nada de covarde, do chão gritou:
- Claro, como é tão grande pode me atropelar! Mas com certeza quando era do meu tamanho não fazia estas coisas com as outras pessoas.
O chefe da Guarda ficou pregado no chão, virou-se e olhando para ele, perguntou:
- Você sabe quem eu sou?
- Não, senhor! - respondeu José – Mas com certeza o que eu disse é verdade.
- Sou o chefe da Guarda – respondeu o homem - e como sou aquele que mais manda depois do Rei, preciso ter trânsito livre. E você tem realmente razão no que diz. Há muito tempo algo semelhante ao que aconteceu com você aconteceu comigo, mas não me atrevi a tanto como você. Será que os jovens de hoje em dia são mais corajosos ou mais imprudentes? Espere que já volto! Vou falar com o Rei e saio logo – e ele foi embora.
José, que estava assustado, ouviu sua voz interior que disse:
- Não precisa ter cautela porque ele é uma boa pessoa, mas como tem este cargo, precisa se comportar como uma fera senão seus inimigos o devorariam.
Quando o chefe da Guarda saiu, ele disse:
- Venha que quero falar com você! – e ele levou José para sua casa.
Lá, ele chamou sua esposa e filho, que tinha uma idade aproximada a de José e disse o seguinte:
- Vocês têm uma pessoa corajosa diante de si e como aconteceu comigo quando um soldado me derrubou no chão de barriga para cima, eu fiz o mesmo com ele. Naquela ocasião eu não me atrevi a abrir a boca de medo e, no entanto, este menino que tem a mesma idade que você – referindo-se ao seu filho - me jogou isso na cara. E bem jogado, é verdade, que fizesse tal coisa. Portanto, enquanto ele estiver neste lugar, quero que você cuide dele e o trate como um amigo pois pessoas com bom senso e corajosas nem sempre são encontradas e chegam a ser importantes na vida.
O homem os deixou sozinhos e o garoto que não sabia sobre o que falar, perguntou:
- De onde você é? Qual é o seu nome? – e outras preguntas.
José respondeu a todas e também fez perguntas, assim descobriu seu nome e onde ele havia nascido e que sempre tinha de ir como criados atrás do Rei e que o garoto estava cansado de ir de um lugar para o outro atrás do Rei. José disse:
- Diga ao seu pai que você vai passar alguns dias na minha casa e assim poderá descansar um pouco desta vida que você não gosta, mas entenda que seu pai não tem outra escolha além de aguentar ou deixar seu posto para outro. E ele não vai querer fazer isso porque quando se chega a certa altura, é difícil deixar as coisas e ir embora.
O jovem disse ao seu pai, que descobriu quem era o pai de José e onde ele vivia. E por acaso, ele o conhecia há muitos anos.
Ele os deixou partir, aconselhando-os a terem muito cuidado. Eles partiram juntos e note que vendo os dois amigos ao longo da estrada eles pareciam diferentes e o que aconteceu a seguir provou isso.
Eles encontraram algumas pessoas que viajavam a pé em um lugar estreito e José permitiu que eles passassem primeiro, parando o cavalo, mas o outro menino não fez isso e tiveram de esperar que ele passasse e o jovem perguntou a José:
- Por que você permitiu que eles passassem primeiro se você é a pessoa mais importante? Você não precisa fazer isso! Porque se você não os trata com uma mão dura, eles não te respeitam – e ele dizia isso não porque fosse uma pessoa má, mas porque ele foi ensinado assim.
José lembrou-se da árvore jovem que quando se coloca um peso se deforma e disse: Será possível que ele não consiga se endireitar? Vou tentar porque ele me é simpático. E ele perguntou:
- Você reza para o ALTÍSSIMO?
- O que você está dizendo? Isso são coisas de mulheres e sacerdotes para que eu não seja ferido em batalha! Mas quando existe uma guerra muitos morrem, pessoas boas e más. Então me diga, do que adianta fazer isso?
José ficou pensativo e disse:
- No caminho irei lhe mostrar um lugar especial que me deixou fascinado pela sua beleza natural – já pensando que se o jovem falasse com o eremita, ele poderia endireitar a árvore com sua sabedoria.
Eles fizeram um desvio antes de chegarem à casa e passaram pela caverna do eremita. Quando chegaram ao sopé da montanha onde ficava a caverna, José disse:
- Vem, quero te mostrar algo.
O outro protestava e dizia:
- Como uma autoridade sobe as rochas como se fosse um pastorzinho?
Contrariado, ele o seguiu. Quando chegaram onde ficava a entrada da caverna, José gritou e o eremita saiu. José o cumprimentou e disse:
- Lembra-se de mim?
Mas o eremita estava olhando para seu companheiro e disse:
- De você sim, mas tenha cuidado com este que o acompanha pois não é confiável.
Os dois jovens ficaram petrificados com a resposta, mas o eremita continuou:
- Digo isso porque você sabe que eu leio as mentes das pessoas e vejo isso. Pode entrar, olhar e depois ir para sua casa, mas vou dizer que quero que você venha em outra ocasião. Você saberá quando, mas venha sozinho para ficar alguns dias comigo porque temos que conversar muito e demoradamente.
Eles entraram na caverna e José estava muito triste por causa das coisas que o eremita disse sobre seu acompanhante, mas logo suas palavras foram confirmadas. Assim que entraram e viram aquelas maravilhas, o jovem exclamou:
- Por que você me trouxe aqui? Um lugar tão escuro, que está tão úmido e cheira tão mal?
José se esforçava, dizendo:
- Mas veja a maravilha que você tem diante dos seus olhos!
- Vamos embora, não me provoque! – respondeu o outro.
E eles saíram da caverna e ao sair José olhou para o eremita que devolveu o olhar, mas nada disse.
Eles seguiram pela estrada e chegaram em casa, mas José já não sabia como mandá-lo de volta para casa porque estava arrependido de tê-lo convidado.
Quando chegou a hora da refeição, as coisas do campo pareceram estranhas para ele e como a maneira de cozinhar era diferente, ele disse em voz alta:
- Que nojo!
E empurrou o prato para um lado e então a solução para seu problema ocorreu a José, que foi falar com sua mãe e disse:
- Não sei como me livrar deste jovem que parecia uma coisa e acontece que não sabe se comportar.
A mãe, que também havia notado isso, respondeu:
- No entanto, é o filho do chefe da Guarda do Rei. Vamos ter de nos contentar com ele até que ele queira ir embora porque pode se incomodar se o mandamos embora.
- Veja o que pensei que podemos fazer – disse José - todos os dias você coloca a mesma comida, aquela que ele não gostou e se ele protesta, você diz que no campo se come o que se colhe e agora está sendo colhido este grão, o que é verdade.
A mãe gostou da artimanha, apesar dela ser sacrificada porque era uma boa cozinheira e poderia ter brilhado diante do convidado.
No dia seguinte, ela colocou a mesma comida e no outro dia também. E o jovem perguntou à mulher:
- Não se come outra coisa?
Ela respondeu o que José havia dito e o jovem perguntou:
- E falta muito para colher? – porque ele observava que todos os dias tinha de comer a mesma coisa.
- O que o ALTÍSSIMO quiser! – respondeu a mulher.
O jovem compreendeu que faltava muito e naquela noite, com o pretexto de que tinha o que fazer em casa, disse que na manhã iria embora e assim o fez.
Quando ele foi embora, a mãe disse:
- Na verdade, já era hora dele ir embora porque se ficasse mais um dia nem eu conseguiria comer mais a comida.
E para variar, ela preparou uma boa refeição para todos os presentes que celebraram que o jovem tivesse ido embora.
O jovem quando chegou na casa do seu pai, disse:
- A família é muito simpática, mas você precisa fazer alguma coisa por eles porque só tem para comer o que colhem do campo - e contou o que havia acontecido. – Peço que você fale com o Rei sobre eles, já que sendo da família real, ele pode mandar um pouco de dinheiro para que possam variar um pouco a comida - e explicou tudo com detalhes, acrescentando: - Tenho certeza de que alguém ficou sem comer para que eu comesse!
O pai falou com o Rei, que disse:
- Não fazia ideia de tal coisa. Há anos não me relaciono com eles e a renda deles, pelo que você me diz, tem de ser escassa. Portanto, fale com o Ministro da Fazenda e que seja dado a eles o necessário para que viviam de acordo com sua condição.
Assim, por causa da artimanha de um jovem para expulsar outro, seu pai encontrou-se com o Ministro da Fazenda em sua casa dizendo que havia sido enviado pelo chefe da Guarda.
Quando José ficou sabendo, saiu correndo para a cozinha para falar com sua mãe e disse:
- Você tem de colocar aquela comida que colocou quando o jovem esteve aqui - comida que não voltaram a repetir - e não deixe de colocá-la até que este homem tenha ido embora.
A mãe que confiava no bom senso do seu filho fez o que ele pedia.
Assim, quando foram comer, ela colocou a mesma comida e no dia seguinte também. Quando terminaram, o pai se levantou da mesa e encolerizado foi até a cozinha e disse:
- Você também quer que ele vá embora?
E José que estava ali com sua mãe, respondeu:
- Meu senhor, com certeza ele vem comprovar o que o jovem contou e se você lhe der uma boa refeição, ele vai descobrir o truque.
O pai achando que ele tinha razão, permitiu que eles fizessem isso.
No terceiro dia, repetiu-se a mesma comida e o comensal que não saía do seu assombro disse em voz alta:
- Eu sabia que vocês comiam todos os dias a mesma comida, mas foi-me dito que era porque a colheita estava sendo feita, mas a colheita já terminou há muito tempo e isso não é colhido agora.
José que estava comendo com eles e antes que seu pai pudesse falar, disse:
- Meu senhor, perdoe que eu responda em vez do meu pai, mas você vai ver que ele tem vergonha. Esta comida é a melhor que temos da colheita que agora se colhe e tínhamos para comer quando a colheita anterior acabou, mas amanhã terá mudado ao seu gosto.
- Isso espero porque não há quem consiga comer isso! – disse o homem.
À tarde, José foi para o campo com os criados para ver o que estava sendo colhido naquele momento e não encontraram nada no campo porque o calor já estava bem intenso e ele se questionou: - O que digo agora para o comensal? Mas sua voz interior disse:
- Olhe bem para o campo porque tem muitas coisas que podem ser comidas – e olhando ao redor viu alguns ratos do campo que havia por ali, ervas e algumas favas. No entanto, ele nunca havia comido nada daquilo e disse aos criados:
- Digam-me, de tudo que vemos, o que é comestível.
- Meu senhor, os ratos são muito bons, embora nunca estiveram em sua mesa e as favas são amargas, mas como prato também se come, e dos cactos se faz um licor, embora com um sabor especial – eles responderam.
- Recolham tudo o que temos que possamos colocar em bom banquete para o homem do Rei - disse José e assim eles fizeram. Ele acrescentou: - Vejam o que vamos fazer. Como não podemos entrar com tudo isso na cozinha para prepará-lo, preparem isso como vocês sabem e depois sirvam como se viesse da cozinha.
Assim eles fizeram e José foi correndo fazer a oração ao ALTÍSSIMO e na oração de todos os dias, acrescentou:
- E dá também aos seus filhos bons alimentos para comer – enquanto pensava que se não resolvesse isso, ficaria com as costas doloridas.
Chegou a hora de comer e os pais estavam com muito medo de ver o que seu filho havia trazido já que ele guardava grande mistério pois havia dito que cuidaria da cozinha naquele dia e os criados, da comida. E não queria que ninguém trabalhasse nela.
Na hora de comer, colocaram na mesa um prato de favas amargas que ele não gostou, mas não disse nada. No entanto, José havia garantido que eles iriam gostar e para isso os deixou sem comer o dia inteiro. Assim quando a comida foi colocada diante deles, eles estavam com tanta fome que tudo parecia bom. O convidado observava como os outros comiam.
Depois chegou a vez da carne e todos comeram dela, menos o convidado. Quando terminaram de comer, ele perguntou:
- De que animal era a carne porque tem um sabor um tão estranho que não consigo saber se é cabrito, mas certamente é um animal pequeno.
José, adiantando-se ao seu pai, respondeu:
- Meu senhor, eu lhe asseguro que é tudo o que cresce no campo neste momento. Quando terminar de comer, eu o levarei até a cozinha para que veja.
E, naquele dia, no lugar de vinho serviram suco de cacto. O pai de José experimentou, fingindo beber, mas sem consumi-lo enquanto dizia para si mesmo: - Assim que o convidado for embora, acertarei as contas com você! Irei contar suas costelas. Veja o que você nos serviu para beber em vez de pegar o melhor vinho que temos. E ele olhava de soslaio para seu filho, mas nada dizia observando que os demais estavam bem orientados e diziam que tudo estava muito bom.
Encerrada a refeição, o homem se levantou e pediu a José que lhe mostrasse a cozinha porque queria saber de onde eles haviam pego a comida, pensando que seria de algum campo plantado especialmente. José o levou até a cozinha que estava vazia e limpa. O homem estranhou e perguntou:
- Como é possível que não haja nada na cozinha de comer? Mostre-me de onde os alimentos saíram!
- Meu senhor, venha comigo! - disse José. E ele o levou até o campo e disse: - Veja, o primeiro prato! – e mostrou as favas. – Veja a carne! – e mostrou-lhe os ratos – E esta é a bebida! – e mostrou-lhe o cacto.
O homem vendo aquilo ficou assombrado com o que via e disse:
- Vim com uma missão que resistia cumprir porque vossa pobreza chegou aos ouvidos do Rei. Trago grandes bens para a família, mas o Rei e eu concordamos que primeiro deveríamos ver se tudo era verdade, porque as referências que tínhamos eram pouco confiáveis. Mas eu vi e verifiquei tudo que me foi encarregado. Amanhã começarão a chegar algumas carroças carregadas com um bom vinho e outras provisões para passar o inverno. Além disso, o Rei envia uma renda que vocês recolherão todos os anos e retira todos os impostos. Além disso, ele quer que todo o mobiliário que eu vi seja renovado que, embora não esteja mal, não é novo. Ele vai pagar por tudo. Da minha parte, irei dar a vocês uma renda particular que, embora não seja muita, poderá ajudar porque não se pode consentir que a família real tenha de viver nestas condições. Mas como seu pai é um homem de honra e eu não quero ofendê-lo, eu imploro que me desculpe diante dele e que explique tudo o que eu disse quando tiver ido embora.
Em pouco tempo, o homem foi embora e quando José explicou ao seu pai o que ele havia dito, seu pai não saía do seu espanto. E pegando uma correia, disse ao seu filho:
- Agora você vai ver. Você me deixou no ridículo! Como eu me apresento agora na corte? Porque eu costumava ir uma ou duas vezes por ano.
E ele tentou pegar José, que dando um passo para trás para que ele não conseguisse, disse:
- Meu senhor, espere e pense um pouco sobre o que você ganhou e verá que cresceu diante do próprio Rei e das pessoas importantes porque eles estarão pensando que apesar da maneira como vivemos não deixamos de pagar os impostos e isso cairá bem para sua fama de homem de honra.
Isso fez seu pai pensar, que se conteve e disse:
- Vamos ver o que vai acontecer! – e deixou a correia de lado.
As carroças levaram dois dias para chegar, mas quando o fizeram, traziam tal quantidade de alimentos e móveis que parecia que tinham de mobiliar um palácio inteiro.
Além disso, chegou um homem escoltado por cinco soldados que traziam uma arca com dinheiro. Ele se apresentou, dizendo ser um emissário do Ministro da Fazenda e trazer a arca como um presente para o jovem que o serviu. E todos ficaram muito contentes.
Quando terminaram de levar tudo, José se apresentou diante do seu pai e disse:
- Pai, isso não é justo! É como se estas coisas tivessem caído do céu e nós ficamos com elas e não compartilhamos com aqueles tem menos.
E tanto insistiu que seu pai após protestar, disse:
- Eu te dou três dias para que chame os mais necessitados para que venham pegar o que puderem, depois deste tempo ninguém levará nada. Mas se você der alguma coisa para alguém que não seja necessitado, eu te darei uma surra que os ossos das suas costelas doerão por uma temporada.
José se viu em um dilema. Por ter um coração bom estava em uma situação que não sabia o que fazer e sua voz interior lhe disse:
- Vá ao eremita e peça um conselho. Ele saberá o que fazer.
No dia seguinte ele partiu e ao fazê-lo, disse ao seu pai:
- Já pode começar a contar!
Quando chegou onde o eremita estava, contou tudo o que havia acontecido e o homem riu e disse:
- Não queria que o ALTÍSSIMO o ajudasse? Pois veja quão bem ELE o ajudou! Agora você tem tudo de sobra e por isso tem um problema, mas venha que vamos pedir ajuda novamente.
E ambos entraram na caverna e o eremita o levou a um lugar onde orar e ambos se ajoelharam com a cabeça no chão e ouviu-se:
- Oh, ALTÍSSIMO que conhece o coração dos seres humanos nos dê a solução para este problema, de tal maneira que o maior número de pessoas possa se beneficiar de tudo o que nos foi dado, mas apenas aquelas que sejam dignas disso.
E José ouviu em sua mente a voz que disse:
- José, meu servo, estou muito satisfeito com você e irei ajudá-lo, portanto ouça o que você precisa fazer. Dentro de um dia, você viajará em uma direção e a todos que encontrar dirá para se apresentarem em sua casa que seu pai irá ajudá-los. E depois faça o mesmo em outra direção e diga que se apressem porque está terminando o que há para ser distribuído. E eles se apressarão mais do que os primeiros e assim chegarão quase ao mesmo tempo.
José agradeceu ao ALTÍSSIMO e assim disse:
- Oh, ALTÍSSIMO que quero servi-LO, me diga qual caminho preciso escolher para fazer isso.
E a voz surgiu outra vez em seu pensamento e disse:
- Você tem ao seu lado o homem que irá lhe dizer e quando tiver de procurar uma profissão, lembre-se dos velhos que você encontrou.
Nada mais se ouviu. Ele se levantou e disse ao eremita:
- O ALTÍSSIMO falou comigo. Vou embora correndo fazer Sua Vontade.
- Acho muito bom que se apresse para fazer a vontade do ALTÍSSIMO – respondeu o eremita – mas não comece a correr agora para que não aconteça com você o que aconteceu com o cavalheiro. Desça a montanha primeiro e depois, quando estiver na estrada, comece a correr.
José se despediu dele e começou a descer tão devagar que deu um tropeção que quase acaba como o cavalheiro. E o eremita, vendo o tropeção lá de cima, disse: - Como você sobe muitas vezes, vou ter de procurar algo para curar seus ferimentos porque é óbvio que você vai acabar com a cabeça quebrada.
José partiu e fez tudo que lhe foi ordenado. E foi assim que começaram a chegar à casa do seu pai muitas pessoas que foram alimentadas. Algumas também receberam roupas e móveis. E continuaram chegando até o ponto em que o pai disse:
- Já chega! Porque demos mais do que recebemos e não quero que agora, por fazer caridade, me encontre precisamente na miséria e se torne realidade o que foi dito ao homem do Rei.
Alguns dias depois, enquanto estavam comendo, o pai de José perguntou:
- Que comida era aquela que você nos deu? Que não estava tão mal, mas a única coisa que não consegui engolir foi aquele licor que você nos serviu.
- Meu senhor e meu pai - respondeu José – se conto, o que você está comendo irá fazê-lo se sentir mal. É melhor respondê-lo hoje à tarde, depois da sesta.
E diante da insistência do pai, José voltou a dizer:
- Meu senhor e pai, não é prudente dizê-lo agora.
E seu pai se encheu de raiva e levantando-se, disse:
- Quando você me chama de meu senhor e pai é que algo está errado. Diga agora, de uma vez por todas porque eu estou mandando!
- Bem, meu senhor e pai - disse José que se afastava dissimuladamente – não havia outra coisa que não fosse do campo e para que sua honra não fosse maculada com uma mentira, tive de pegar o que surgiu na minha frente. E como não conheço nada sobre o campo, levei dois dos seus criados que foram criados no campo e que não tem segredo para eles. Eles me aconselharam a pegar tudo o que via e eu segui seu conselho. E tirando o licor, que saiu muito ruim, o resto não esteve tão mal.
O pai, segurando sua mão, disse:
- Sim, concordo com você, mas me diga mais uma coisa porque deve haver algo mais para seu corpo sentir tanto medo e você querer se posicionar para sair correndo.
José, que se viu preso, pensou: - É a hora de se portar como um homem! E ele respondeu:
- Meu pai, existe mais alguma coisa, mas é melhor me segurar com mais força porque você vai precisar das duas mãos – o pai não deu ouvidos a isso e José continuou – A carne que foi servida era de ratos do campo.
O pai levou ambas as mãos à boca, por causa de uma ânsia de vômito. E o rapaz que se viu livre, saiu correndo e o pai saiu atrás dele e mandou que os criados o pegassem porque queria lhe dar uma surra.
Ao longe, ele foi pego por um daqueles que o acompanharam e José disse:
- Essa é boa! Você me segura em vez de correr porque ele quer bater naqueles que se envolveram com a comida do outro dia.
E o outro que havia entendido muito bem, respondeu:
- Meu senhor, é melhor que batam em você porque assim deixam de bater em mim.
José vendo que seu pai se aproximava, disse:
- Não pense nisso. Mas se o filho recebe alguns golpes que não serão dados ao criado, então ele receberá uma dose dupla, primeiro da parte do pai e depois da parte do filho.
O criado, que era esperto, disse:
- Meu senhor, você tem razão! Por isso dizem que você é inteligente. Vá correndo e não fique na minha frente porque não quero atropelá-lo.
E eles correram juntos vendo quem chegava primeiro à saída da casa que dava para o campo.

QUEDA E CASTIGO

Isto aconteceu em outra ocasião quando José tinha a idade de vinte e um anos de idade.
Ele estava passando por um período em que tinha o estado de ânimo em baixa e parou de fazer a oração para o ALTÍSSIMO e também de ouvir a voz que de vez em quando se dirigia a ele e o advertia quando poderia cometer uma ação que não era correta.
Ele descobriu que era como os outros, aqueles que não se importavam em cair em tentação e começou a falhar, ainda que em coisas leves e quando isso acontecia, tinha grandes remorsos.
Foi nesta situação que aconteceu o seguinte. Preste atenção que foi na frente dos demais que descreveu como havia perdido a virgindade e esta foi a primeira vez que ele dormiu com uma mulher.
Estava um dia em sua casa, atravessando um período de depressão, por assim dizer, algo que é comum nos rapazes desta idade, quando vieram visitá-los algumas pessoas da cidade. Com elas veio uma jovem bonita que estava procurando marido. Elas vinham ver se pescavam José, porque sabiam que seus pais tinham uma grande fortuna e eram parentes do Rei.
Além disso, por ser também descendente direto do Rei Davi, poderia ser ele aquele que teria como filho o MESSIAS.
Lembre-se que, para o povo de Israel, MESSIAS, significava grande Rei, maior do que qualquer outro.
Elas vieram caçar o rapaz e além disso, como tinham dinheiro, acertariam as contas para dar um bom casamento aos dois.




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