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Jeremy (Anjos Caídos #4)
L. G. Castillo
Ele é reverenciado entre seus semelhantes, um arcanjo que nunca faz nada de errado. Mas quando surgem tentações e escolhas, o seu pedestal desmoronará. Como o Arcanjo da Morte, Jeremy se orgulha de sua lealdade e status no alto escalão entre seus semelhantes. Do lado de fora, parece que ele realmente merece o maior respeito e admiração, mas ele sabe a verdade - um segredo que poderia destruir sua família. Deixar-se levar e se entregar aos seus desejos interiores seria a traição final, uma traição que ele nunca poderá arriscar. Quando Jeremy recebe uma tarefa que sabe que vai destruir todos que ama, ele é forçado a escolher entre família e dever. Sua decisão choca a todos, até a si mesmo, e leva uma angústia inescapável para todos que ele ama. Será que o arcanjo que uma vez foi reverenciado se tornará um dos caídos?


Jeremy

Contents
Livros de L.G. Castillo (#u9ab902b4-ada7-5a48-afc0-b12bb9205525)
Capítulo 1 (#uac3829ae-3b42-561e-a362-1ad187e5b021)
Capítulo 2 (#u7b227d30-eaa5-5c79-9e43-3095ff41ac2a)
Capítulo 3 (#u598dcd63-22c1-53d7-ab78-c5b92f0067a4)
Capítulo 4 (#u7da2800a-4419-54b1-9df0-4bb901730faa)
Capítulo 5 (#ud7e2bbcc-5bda-5887-a742-f145d39d236b)
Capítulo 6 (#u3e7f3484-3cd1-57ee-a5a6-7a9439ad73c8)
Capítulo 7 (#ud246fb54-7d88-5da2-935a-79c03954952f)
Capítulo 8 (#ufaf61705-f7ee-5b9f-afcf-4fbbbe6a1981)
Capítulo 9 (#litres_trial_promo)
Capítulo 10 (#litres_trial_promo)
Capítulo 11 (#litres_trial_promo)
Capítulo 12 (#litres_trial_promo)
Capítulo 13 (#litres_trial_promo)
Capítulo 14 (#litres_trial_promo)
Capítulo 15 (#litres_trial_promo)
Capítulo 16 (#litres_trial_promo)
Capítulo 17 (#litres_trial_promo)
Capítulo 18 (#litres_trial_promo)
Capítulo 19 (#litres_trial_promo)
Capítulo 20 (#litres_trial_promo)
Capítulo 21 (#litres_trial_promo)
Capítulo 22 (#litres_trial_promo)
Capítulo 23 (#litres_trial_promo)
Capítulo 24 (#litres_trial_promo)
Capítulo 25 (#litres_trial_promo)
Capítulo 26 (#litres_trial_promo)
Anjo de Ouro (Anjos Caídos #5) (#litres_trial_promo)
Agradecimentos (#litres_trial_promo)
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Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são produtos da imaginação do autor. Lugares e nome públicos são usados com propósitos de ambientação. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas ou negócios, empresas, eventos, instituições, ou locais é completamente coincidência.
Design de capa: Mae I Design (http://www.MaeIDesign.com)

Livros de L.G. Castillo
Série dos Anjos Caídos
Lash (Anjos Caídos #1) (https://books2read.com/AnjosCaidos1)
Após a Queda (Anjos Caídos #2) (http://smarturl.it/AnjosCaidos2)
Antes da Queda (Anjos Caídos #3) (http://smarturl.it/AnjosCaidos3)
Jeremy (Anjos Caídos #4) (http://smarturl.it/AnjosCaidos4)
Anjo de Ouro (Anjos Caídos #5) (http://smarturl.it/AnjosCaidos5)
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Versão em Inglês
CONTEMPORARY ROMANCE
Stillwater Dusk (https://www.books2read.com/StillwaterDusk)
Strong & Wilde (Texas Wild Hearts #1) (https://books2read.com/StrongWildeNovel)
Secrets & Surrender (Texas Wild Hearts #2) (https://books2read.com/SecretsSurrenderNovel)
Your Gravity (https://books2read.com/YourGravityNovel)
PARANORMAL ROMANCE
Lash (Broken Angel #1) (https://books2read.com/LASH)
After the Fall (Broken Angel #2) (http://books2read.com/AftertheFall)
Before the Fall (Broken Angel #3) (https://books2read.com/BeforeTheFall)
Jeremy (Broken Angel #4) (https://books2read.com/JeremyBrokenAngel4)
Golden Angel (Broken Angel #5) (https://books2read.com/GoldenAngel)
Archangel’s Fire (https://books2read.com/ArchangelsFire)
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1
Jeremy arrastou os dedos carinhosamente pelo braço do anjo adormecido. Seus olhos de safira captaram cada uma de suas gloriosas feições com espanto: a mão delicada em seu peito, os longos cílios roçando contra as bochechas rosadas, os lábios cheios curvados em um sorriso suave. Ela era perfeita.
Ele não sabia que seu coração estava vazio até que a encontrou. Levara uma vida feliz como o arcanjo da morte, nunca lhe faltara atenção feminina. Na verdade, quanto mais subia na hierarquia, mais atenção recebia. E, no entanto, algo estava faltando. Olhando para ele cercado por anjos femininos, ninguém acreditaria que estava solitário. Ele disfarçava bem com sorrisos, piscadelas de paquera ou apenas mostrando as covinhas até o dia em que ela entrou em sua vida. Ela havia mexido algo nele que não sentia há séculos. Com uma simples inclinação de sua cabeça, aquela luz nos olhos e um toque gentil, seu coração estava completo.
Seus dedos traçaram a pele aveludada na sua lateral, ao longo da curva de seus quadris e voltaram para cima novamente. Ele ainda não podia acreditar que ela estava em seus braços.
Ele imaginara esse momento desde o dia em que a viu pela primeira vez, mas nunca ousou esperar que se tornasse realidade. De alguma forma e em algum momento, a sorte o encontrou. E agora, aqui estava ela em sua cama, amando-o.
Mergulhando a cabeça em seu cabelo espesso, ele inalou. O jasmim e o amadeirado encheram seus sentidos e cada célula do seu corpo ganhou vida. O anjo estava em toda a sua volta: seu perfume; sua bochecha pressionando contra seu peito nu e as pernas entrelaçadas ao redor do seu corpo.
Ela se mexeu, soltando um gemido suave enquanto se aconchegava mais em seus braços fortes. Lábios macios roçaram sua pele, espalhando calor de seu coração para todo o corpo e ele intensificou o seu aperto.
— Jeremy — o anjo de cabelos negros murmurou.
— Sim?
— Há algo que eu preciso te dizer.
Ele olhou para tal beleza, prendendo a respiração. Acabou? Isso era tudo o que ele poderia ter dela? Seu coração batia contra o peito enquanto seus cílios escuros se levantavam lentamente. Piscinas de um azul pálido finalmente encontraram os dele, acalmando seus medos, antes que sua doce voz proferisse as palavras.
— Eu te amo.
Ela o amava. Ele.
Ele nunca pensou que ouviria essas palavras de alguém como ela. A primeira vez que as ouviu, pensou que estava alucinando. Mas, enquanto ela repetia essas palavras com cada beijo, cada toque íntimo, ele sabia que o sonho de sua vida, um sonho que havia começado desde quase o próprio tempo, finalmente havia se tornado realidade.
Naomi o amava.
Naomi. Naomi. Naomi. Ele repetiu o nome, enchendo sua mente com o seu amor, como se tivesse medo de pensar em alguma coisa ou em qualquer outra pessoa. Não importava o quanto tentasse, ele não conseguia esquecer. Não podia tirar Lash da cabeça. Seu irmão passou por sua mente, um lembrete de que, enquanto Naomi enchia seu coração e seus braços, outro coração estava vazio.
Ele a beijou profundamente, afastando a culpa que ameaçava manchar o momento. Ele queria esquecer o fato de que Naomi era o amor da vida de Lash, a única pessoa em toda a Terra e Céu, pelo qual seu irmão viveria e morreria. Tudo o que Jeremy queria, era estar com Naomi e fazer com que ela acordasse em seus braços todas as manhãs, olhando para ele como se ele fosse o sol.
— Jeremy — ela gemeu, tecendo os dedos em seu cabelo. Ela repetia o nome dele enquanto beijava cada centímetro de seu belo rosto ‒ pálpebras, bochechas e finalmente, seus lábios. Seus beijos faziam o mundo desaparecer.
— Jeremy? — Ela fez uma pausa. Sua respiração quente bateu suavemente contra sua bochecha.
Ele abriu os olhos e olhou para os seus que esperavam por sua resposta.
— Eu também te amo.
Rolando, seu corpo a pressionou profundamente na cama. Seus lábios se moveram sobre os dela, sua língua girando em sua doce boca, saboreando cada pedaço. Ela soltou outro gemido suave, fazendo todos os músculos do seu corpo ficarem tensos. Ele queria tê-la novamente, sentir-se profundamente dentro dela e ver seu belo rosto se perder em êxtase enquanto ela gritava seu nome.
Ele tentou não amá-la, lutou contra seus sentimentos a cada segundo de cada dia desde que ela veio para o céu, mas não podia negar a atração que o puxava para ela. E por um milagre maior que todos os milagres, ela o amava também. Ele ouvia isso em sua voz a cada vez que ela pronunciava seu nome.
— Jeremy.
Pernas longas enroladas em volta de sua cintura, segurando-o apertado contra ela. Seus dedos deslizando por seus ombros largos e depois por suas costas musculosas. Lentamente, ela se esfregou contra ele.
— Jeremy.
Ele estava perdido nela, perdido no som de sua respiração, o bater do seu coração, sua voz.
— Jeremy. Olá, terra para Jeremy. O que você fez com ele, Lash?
— Eu? Ele que quis nadar mais cedo. Não foi minha ideia ver quem conseguia segurar a respiração por mais tempo debaixo d'água. Oh, espere, foi minha sim.
Jeremy piscou. O quarto, a cama e uma Naomi nua desapareceram lentamente e foram substituídos por um par de olhos cor de avelã que o estudavam do outro lado da mesa.
Há quanto tempo ela estava chamando o seu nome? Ele não podia acreditar que tinha feito isso de novo – sonhar acordado com ela, com eles juntos.
— Você está bem, irmão? — Lash olhou para ele com curiosidade.
Os olhos de Jeremy se moviam entre seu irmão e uma Naomi completamente vestida. Ela franziu a testa, obviamente preocupada com ele.
— Sim — ele disse, ignorando a sensação persistente dos lábios de Naomi nos dele. Era um sonho que não ia embora, não importava o quanto tentasse tirar isso da cabeça. Embora no fundo, ele não tivesse certeza se queria que fosse embora.
O que estava pensando? Nadar no riacho na frente de sua casa tinha sido uma má ideia. Levara tudo o que tinha para não admirar Naomi enquanto ela nadava. Ele pensou que jogar pôquer seria uma atividade mais segura, pensou que encarar um baralho de cartas em vez da bela figura de Naomi deslizando pela água ajudaria a mantê-lo sob controle. Teria, se sua insana mente não tivesse decidido ir para a terra da fantasia e sonhado com ela enquanto Lash jogava cartas na mesa para ele.
Eu poderia ser mais insano?
Lash inclinou a cabeça, estudando-o atentamente. Jeremy rapidamente olhou para suas cartas.
Talvez ele não tenha notado.
Jeremy mexeu-se em seu assento nervosamente enquanto sentia o peso do olhar de seu irmão até que, finalmente, as palavras de Lash cortaram o ar parado.
— Deixe de enrolação, Jeremy, você não me engana.

2
Jeremy respirou fundo.
Ele sabe.
Ele tinha de alguma forma relaxado e revelado seus verdadeiros sentimentos? Ele se esforçou tanto para esconder seu amor por Naomi de seu irmão e até mesmo de si mesmo.
— Enganar você? — Ele observou seu rosto de uma forma que esperava que parecesse normal. Então, lentamente, seus cílios se levantaram até que seus olhos de safira se encontraram com os de seu irmão, seu melhor amigo, o homem pelo qual ele sacrificou sua vida no Lago de Fogo.
Sorrindo, Lash jogou as cartas restantes no centro da mesa.
— Eu não acho que você tenha conseguido dessa vez.
Jeremy soltou um suspiro quando jogou suas cartas na mesa, aliviado ao ver o sorriso presunçoso de Lash.
— Você me pegou, mano. — Ele forçou um sorriso, desejando não olhar para Naomi.
— Você pode apostar que sim. E eu te peguei ontem… e no dia anterior... e no dia antes desse.
— Lash, um pouco de humildade, por favor — disse Naomi.
— Hum, você sabe, quando penso sobre isso, a última vez que ganhei várias vezes seguidas foi quando... Uau! Você não está me mandando em outra tarefa maluca, não é?
Jeremy olhou nos olhos preocupados de seu irmão, lembrando-se da última vez que intencionalmente perdeu um jogo de pôquer para ele. Foi antes da tarefa que levou Lash a ser expulso do céu. Lash tinha sido instruído a proteger Javier Duran, o menino que cresceu para ser o pai de Naomi. A tarefa teria sido fácil se Lash tivesse apenas protegido Javier, mas Lash não foi capaz de resistir a salvar a menina que estava sentada a frente de Javier, Jane Sutherland.
Jeremy se mexeu desconfortavelmente ao pensar no alívio que fora para ele. Por causa do que Lash fez, ele não teve que cumprir sua própria missão de transportar a menina para o Céu. Ser o anjo da morte tinha suas dificuldades, mas quando se tratava de crianças, era sempre mais do que um pouco difícil para ele. Era insuportável.
— Não — ele disse, mexendo nas cartas. — Tenho estado um pouco distraído ultimamente.
— Sim, um-hum. — Lash olhou para ele com ceticismo. — Você não está trabalhando em algum plano elaborado para roubar a minha mulher, não é?
— Eu não… eu nunca… o que você… — Jeremy olhou para Naomi. Ele desejou que não tivesse. Uma dor ensurdecedora se apoderou de seu peito quando um lampejo de pena brilhou sobre lindos olhos azuis.
— Não é engraçado, Lash — disse ela.
— Ah, eu estou apenas brincando. Jeremy sabe disso, não sabe, mano?
Ele soltou uma risada enquanto juntava as cartas. — Cara, eu estou distraído com a nova serafim ruiva que apareceu ontem. Estou tentando convidá-la para nadar.
— Falando em nadar… — Lash pulou da cadeira.
— Lash! — Naomi gritou quando Lash a pegou em seus braços. — O que você está fazendo?
— Eu estou reivindicando minha aposta.
— Eu não apostei nada.
— Oh, como nos esquecemos rápido. Eu me lembro de uma certa pessoa dizendo que se eu ganhasse três jogos consecutivos ‒ um recorde para mim, por sinal ‒ eu ganharia uma pequena surpresa.
Jeremy observou enquanto Lash segurava Naomi apertada contra seu peito. Ele não deveria olhar, mas não conseguia tirar os olhos deles. Ele não deveria se sentir do jeito que estava naquele momento, desejando ser o único a fazê-la sorrir, desejando que fossem seus lábios que ela estivesse beijando, sua bochecha sendo acariciada por sua mão, e fosse o seu rosto para o qual ela olhava cheia de amor nos olhos. E, no entanto, ele não poderia arrancar seu coração fora do peito. Então, ele sorriu.
Era tudo que conseguia fazer.
Ele deu um sorriso tão grande que doeu. A dor em seu peito continuava a crescer, independente do quanto lutasse contra isso. Ele queria estar feliz por seu irmão. Lash pertencia ao lado de Naomi. Após séculos separados, Lash merecia sua felicidade.
Eu tenho que esquecê-la. Por que não posso esquecê-la?
— Eu não disse isso. Você que sugeriu. — Ela riu quando Lash acariciou sua cabeça contra sua garganta.
— Ah, mas você não disse não — Lash murmurou. — Eu chamo isso de consentimento passivo.
— Não aqui — ela sussurrou.
Jeremy apertou os dedos nas suas palmas grossas quando os pálidos olhos azuis encontraram os dele brevemente. Lá estava novamente. Pena. Pena dele, por estar sozinho, por ser aquele olhando de fora. Ela sabia que ele ainda tinha sentimentos por ela. Talvez não tivesse sido tão cuidadoso em escondê-los afinal.
— Ah, vamos lá, Naomi. Eu quero ver o maiô vermelho de novo — disse Lash. — Estou surpreso que você o esteja usando. Você sabe que só dura dois minutos com isso. Vamos nadar de novo. Jeremy não se importa, não é?
Rindo, ela bateu nas mãos de Lash enquanto ele puxava sua camiseta.
Jeremy apertou mais forte a palma da mão, lutando contra as memórias que desejava nunca ter recuperado. Lembranças de um passado na cidade de Ai inundaram sua mente: ele caminhando ao lado de Naomi depois que a salvara do ataque de Saleos no rio, seu cabelo preto úmido brilhando como a noite em suas costas, pálidos olhos azuis olhando para ele através de cílios úmidos e escuros e lábios rosados dizendo seu nome e agradecendo-o. Fora o único momento que ele a teve só para si. Fora o momento em que ele se apaixonara por ela. Quando vira seu espírito feroz e a bravura com que ela lutou contra Saleos, protegendo um Lash ferido, fora então que ele soube que queria se casar com ela.
— Jeremy? — Lash repetiu seu nome, sacudindo-o da memória.
Os rostos das duas pessoas que mais amava no mundo entraram em foco. Ele nunca tinha visto seu irmão tão feliz e despreocupado quanto nas últimas semanas. Seu irmão finalmente sentia que pertencia ao céu, estava até se dando bem com Gabrielle. E Naomi, ela tinha o brilho de uma mulher apaixonada. Ela amava Lash.
Não eu.
E ela nunca me amará.
— Ah, com certeza. Divirtam-se. — Ele sorriu mais amplamente, sentindo a fissura se alargando. Ele estava prestes a desmoronar, precisava sair. Agora. — Se você me der licença, eu preciso…
Sem terminar sua sentença, ele ficou de pé. A cadeira caiu no chão quando saiu apressado pela porta.
— Jeremy!
Ele parou do lado de fora da porta quando a voz frenética de Naomi o chamou. Ele lutou contra o desejo de se virar e dizer-lhe tudo, dizer que mentiu, que a amava mais agora do que ele jamais imaginou, dizer a ela que vivia em um mundo de sonhos onde ela estava apaixonada por ele e se fosse possível, ele viveria sua vida dormindo só para poder estar com ela.
O sol acariciava seu rosto enquanto ele fechava os olhos, tentando desesperadamente lutar contra o amor que sentia por ela. Ele faria qualquer coisa por seu irmão, e se isso significava sacrificar sua própria felicidade por Lash, ele faria isso. E isso significava manter seus sentimentos por Naomi em segredo. A única maneira de fazer isso era ficar longe deles.
Ignorando Lash e Naomi o chamando para voltar, ele tirou a camisa enquanto corria e pulou, abrindo as asas ao alcançar o céu.

3
As poderosas asas brancas de Jeremy agitaram-se contra o céu azul brilhante. Ele voou tão rápido quanto suas asas eram capazes de carregá-lo. Ele estava fugindo.
Fugindo do amor em seu coração que exigia ser libertado.
Fugindo do medo de que a qualquer momento ele perdesse o controle.
Fugindo da verdade.
Seu irmão e família veriam a verdade em breve. E então, saberiam que ele mentiu sobre confundir seus sentimentos por Naomi, pensando que era amor verdadeiro. Suas mentiras o alcançariam, e ele perderia a família por isso.
O vento frio bateu em seu rosto enquanto subia mais rápido, percebendo o momento em que decidiu fechar seu coração para a verdade de amar a esposa de seu irmão. Ele não queria mentir. Não era algo que ele tinha planejado. Apenas aconteceu. Depois de ouvir todo mundo compartilhar sua versão do que havia acontecido há muito tempo em seu passado, as memórias voltaram e com elas, todos os sentimentos que teve por Naomi.
E ainda tinha.
Ele se lembrava de cada momento que teve com ela: seu primeiro sorriso quando a conheceu e suas irmãs na cidade de Ai; seu primeiro toque quando ele segurou a mão dela ao serem apresentados e o primeiro beijo deles.
Aquele beijo. O momento ficou gravado em sua mente. Ele podia ouvir o som da multidão cantando seu nome depois que ele ganhou a corrida contra Saleos, e então pedindo que coletasse seu prêmio e beijasse Naomi. O rugido da multidão ainda ecoava em seus ouvidos quando seus lábios se encontraram com os dela, e os aplausos aumentaram quando a pegou em seus braços, aprofundando o beijo.
Todas as suas memórias e emoções ligadas a ambos tinha voltado no momento em que Raphael e Rebecca contaram a história de seu passado. Ao reviver essas memórias, foi como se o tempo tivesse congelado para ele e tivesse acordado com o mesmo amor por Naomi agora, que tinha sentido naquela época. Não havia como negar seus sentimentos por ela, sempre estiveram lá. Mas agora, o passado finalmente alcançou o presente e tudo, e todos, estavam completos novamente. Uri estava de volta ao lado de Rachel, sua mãe se reuniu com seu pai e Lash com Naomi unidos como um só.
Ele pensou no instante que decidiu mentir, como Naomi tinha se agarrado a Lash quando Rebecca disse a eles como Jeremy esteve lado a lado com Lash, pronto para lutar para proteger a ela e Naomi. Jeremy se sentiu esmagado ao ver a expressão devastada no rosto de Naomi quando Rebecca falou sobre ver as espadas dos soldados cortar seus filhos. Ele se lembrava de como Naomi se agarrara a Lash como se estivesse com medo de que ele desaparecesse caso ela soltasse. Lash tinha sido tão gentil com ela, acalmando suas preocupações de que ele não iria a lugar algum e que sempre estaria com ela. Quando Raphael proferiu suas últimas palavras sobre seu passado mais antigo, foi então que Jeremy percebeu o quão difícil deve ter sido para Lash, viver sempre à sua sombra. E apesar de tudo, seu corajoso irmão o amava.
Jeremy lembrou claramente do dia em que mentiu. Começou com uma simples afirmação para Lash. E Jeremy deu uma resposta que tinha vivido no seu coração desde o dia em que ele conheceu Naomi.
— Você a queria.
— Sim.
E então, veio a mentira. Ele soube no momento em que a palavra deixou seus lábios, que se arrependeria de dizer. Mas afastou esses pensamentos para o fundo de sua mente porque de alguma forma, ele encontraria uma maneira de seguir em frente.
— Eu pensei muito sobre isso, acho que você pode estar certo sobre eu ter confundido os sentimentos que tenho sobre você. Com o jeito que as coisas terminaram em Ai, eu nunca tive a chance de saber o que é o amor verdadeiro.
— Você irá. Algum dia, eu sei que vai.
Ele queria ter respondido a Naomi que ele já tinha. Que já sabia como era o verdadeiro amor quando olhava nos olhos dela e como era se sentir atraído pelo seu espírito feroz e pela fé imortal que tinha nos outros.
Mas quando ele olhou em volta de seu círculo de amigos e familiares, viu que tudo estava finalmente como deveria estar. Sua mãe abraçada ao seu pai, Rachel firmemente no colo de Uri, e Lash segurando Naomi. E então, ele finalmente olhou para a única pessoa que realmente poderia entendê-lo... Gabrielle.
Olhos de safira trancados com esmeraldas, e suas palavras sussurradas em seu ouvido, como quando retornou de sua tarefa estendida.
Use a sua cara de poker.
E assim ele tinha feito.
Todos os dias, ele usava a máscara do alegre e despreocupado irmão de Lash e Naomi. E a cada dia que passava, a máscara rachava peça por peça. Com cada olhar amoroso que Naomi dava a Lash, cada toque terno de seus dedos em sua bochecha, se partia um pouco mais.
Sim, todos estavam completos novamente.
Todos, menos eu.
Ele circulou o céu sem rumo, suas poderosas asas movendo-se lentamente, como se também sentissem o peso em seu peito. Era um fardo que estava disposto a carregar, e na época, ele pensou que seus sentimentos acabariam desaparecendo.
Ele estava errado.
O que eu vou fazer?
Ele estava exatamente no mesmo lugar que esteve apenas algumas semanas atrás, depois da briga com Lash na frente da Sala das Oferendas. Suas vidas foram viradas de cabeça para baixo a partir do momento em que ele derrubou Lash no topo de Shiprock. Ele sabia que quando Lash descobrisse sobre seus sentimentos por Naomi, iria querer destrui-lo.
Apenas algumas semanas se passaram? Ou foram meses? A diferença de tempo entre o Céu e a Terra nunca o incomodou. Ele não se importava que o tempo na Terra se movesse mais lentamente do que o tempo no céu. Ele apenas nunca havia notado... até agora. O tempo o pressionava com cada tique-taque do relógio, deixando-o sozinho enquanto os outros, Lash e Naomi, Rachel e Uri, até mesmo seu pai e mãe, seguiam em frente.
Ele circulou os aposentos dos anjos, pensando no dia em que Gabrielle lhe contara sobre a designação de Lash para levar uma mulher chamada Naomi Duran para Shiprock. Um nó se formou na sua garganta quando se lembrou das mentiras que contara a Lash. Bem, não exatamente mentiras, mas ele reteve a verdade de seu melhor amigo sobre como ele tinha sido ordenado a atacá-los quando chegassem ao topo da Shiprock. Claro que Lash se sentiu traído, e ele tinha todo o direito. Quem não estaria quando você estava sentado no topo de uma montanha na chuva, segurando o amor da sua vida, rezando para que ela não morresse, apenas para descobrir que seu melhor amigo estava lá para matar os dois?
Era o seu trabalho, e foi a coisa mais difícil que teve que fazer em sua vida. Mas se ele tivesse suas memórias de volta, se soubesse sobre a história de Lash e Naomi, ele o teria avisado?
Jeremy se impulsionou mais e mais rápido, desejando poder escapar da resposta que gritava alto e claro em sua cabeça. O dever sempre foi sua prioridade. Ele sempre fez o que foi pedido, e se tivesse que fazer tudo de novo, ele faria,
Ele cerrou os punhos, lutando contra uma verdade sobre si mesmo que não queria encarar enquanto se aproximava do pico mais alto da cordilheira. Uma brisa fresca atingiu sua pele, enviando arrepios ao longo de seus braços musculosos e abdômen. Não havia como escapar do que ele teria feito se tivesse que fazer tudo de novo, e a culpa fez seu estômago revirar.
Ao passar pelo chalé de montanha de Lash e Naomi, ele olhou para a janela aberta na parede, e se deteve quando uma sombra se lançou pelo chão. Algo ou alguém estava lá. Esperando, ele observou as cortinas brancas flutuando ao vento. Houve uma série de fracos cliques e ele viu de novo a sombra. Ele voou para dentro, aterrissando com um baque suave no brilhante chão de cerejeira do quarto.
— Quem está aí? — Ele olhou ao redor da sala, imaginando quem seria louco o suficiente para invadir a residência particular de outro anjo.
Saleos.
O soldado de infantaria de Lúcifer ousaria aparecer no céu? Jeremy sacrificou sua própria vida para matar Lúcifer, os afundando no Lago de Fogo - a única maneira de um anjo ser morto. Depois que o Arcanjo Michael o ressuscitou, ele foi informado de que Sal e seus irmãos haviam escapado.
Jeremy prendeu a respiração, ouvindo atentamente qualquer movimento. Saleos não era idiota. Ele sabia que todos os anjos tinham audição e visão superiores, tornando difícil mover-se pelo Céu sem ser detectado, mas Saleos estava sedento de poder o suficiente para fazer algo insano como recomeçar de onde seu chefe havia parado.
Uma brisa forte atravessou a sala. A saia da cama tremulou, fazendo as sombras dançarem pelo chão reluzente. Ele soltou um suspiro, rindo para si mesmo.
— Ótimo. Eu estou perdendo a cabeça. Estou vendo coisas que não existem. Estou sonhando com a esposa do meu irmão e agora estou falando sozinho.
Ele passou a mão pelo cabelo, sentindo falta do comprimento. Em algum momento, a vida voltaria a ser o que era antes? Até mesmo Rachel notou que ele estava fora de si. Ela estava tão preocupada que ela e Uri o pegaram no pátio e o arrastaram para a suíte deles, nos aposentos dos anjos. Ela tinha sido inflexível em dar-lhe um corte de cabelo. Ele não podia acreditar que havia cedido.
— Vai fazer você se sentir melhor — ela disse.
— Uri me deixa fazer nele o tempo todo — assegurou a ele.
— Que cheiro é esse?
— Que cheiro? Não há cheiro de amônia — ela disse inocentemente, piscando seus cílios.
Horas depois, seu cabelo estava mais curto e mais escuro, e ele ainda se sentia como merda.
Suspirando, ele guardou as asas e entrou no quarto. Ele olhou para a cama macia coberta de dezenas de almofadas decorativas em branco e azul pálido, então pegou um travesseiro azul-claro. Era da mesma cor dos olhos de Naomi. Ele deixou sua mente vagar, e pensou sobre seu sonho e o jeito que ela estava em seus braços, seus beijos ternos e suas palavras de amor.
Sem pensar, ele levou o travesseiro ao nariz, fechou os olhos e inalou. Seu cheiro, o amadeirado inebriante que parecia se prender em tudo o que tocava, encheu seus sentidos. Ele estava perdido novamente em memórias antigas do único beijo que compartilhou com ela, o único, o último. Memórias mudaram para sonhos. Ele sabia que não era real. Ele sabia que era errado desejá-la. Mas em seu sonho, ela era dele. Ela o amava.
— Naomi — ele respirou. — Como eu posso tirar você do meu coração?
Seus olhos se abriram com um som de clique na sala.
Alguém está aqui.

4
Houve um rosnado baixo. E então, do nada, uma bala marrom-avermelhada entrou no quarto e parou a seus pés.
— Bear! Sua louca bolinha de pelo. Sou eu — disse ele, rindo do chihuahua. Depois que Bear faleceu, Jeremy fez uma viagem especial para recuperá-la para Naomi e Lash. Depois de todo esse tempo, a cadelinha ainda não parecia gostar dele.
Bear arqueou as costas. Seu pequeno rosto estava baixo no chão enquanto ela continuava a rosnar.
— Por que você não gosta de mim? Eu sou um cara legal, você verá se me der uma chance. — Ele se abaixou para acariciá-la.
Ela rosnou, mordiscando seus dedos.
— Ei! — Ele puxou a mão para trás.
Ela correu em círculos, suas pequenas patas estalando contra o chão enquanto latia.
— Bear, pare com isso.
Jeremy ficou de pé ao ouvir o som da voz de Naomi.
— Naomi! Eu… hum…
Sua voz sumiu no momento em que ele a viu, e ele esqueceu o que ia dizer. Ela ficou parada na entrada da sala, as cortinas brancas tremulando atrás dela. Olhos azuis pálidos seguravam os dele, e tudo o que ele pensava era afogar-se neles para sempre. Então, seus olhos desceram para o travesseiro em sua mão.
Horrorizado, ele o jogou na cama e rapidamente se afastou. Como ele ia explicar isso?
Bear correu entre seus pés, latindo, e seu pé acidentalmente pousou na ponta de sua cauda. Ela chorou, correndo para o lado de Naomi.
— Desculpe, Bear.
Bear olhou para Naomi, depois se curvou no chão, fazendo-a parecer ainda menor, e rosnou. Era como se Bear soubesse o que ele estava pensando e estivesse protegendo Naomi por Lash.
— Pare com isso, Bear. O que aconteceu com você? — Naomi estendeu a mão, esfregando a cabecinha da cadela.
— É minha culpa. Eu pensei que vi… depois o travesseiro.... Eu cometi um erro. Eu não deveria estar aqui. — Ele deu um passo em direção à janela, imaginando como iria tirá-la do caminho sem tocá-la.
— Por favor, não vá.
Ele fez uma pausa, contemplando os olhos brilhantes olhando para ele com amor fraternal e nada mais.
— Lash e eu estamos preocupados com você — disse ela.
Não. Ele gemeu, Lash estava com ela. Com todo esse absurdo de sonhar acordado, ele não viu seu irmão entrar. Ele examinou o quarto em pânico. Levou tanto tempo para reconquistar a confiança de seu irmão, não queria perder de novo. Por que ele veio até aqui? E por que não conseguia ir embora?
— Lash, eu não…
— Ele não está aqui, está com Uri e Rachel. Eu disse a ele que queria falar com você sozinha, — disse ela.
Ele suspirou, agradecido que Lash não o pegou agindo como um tolo apaixonado por sua esposa.
— Você não vai dizer a ele que eu estava aqui, não vai? — O pensamento de seus braços e pernas entrelaçadas ao redor dele passou por sua mente e ele rapidamente olhou para baixo, afastando as imagens. Ele não podia nem olhar para ela agora sem pensar nesses sonhos. A atração por ela era muito intensa.
— Eu não vou.
— Bom. — Ele abriu as asas, concentrando-se no pequeno espaço vazio ao lado dela. Havia apenas espaço suficiente para ele se espremer sem fazer qualquer contato. Ele se apressou para frente.
— Jeremy, por favor. Diga-me o que está errado. — Ela agarrou seu bíceps, parando-o.
Ele se encolheu, a dor não era um desconhecido para ele. Sabia como era queimar célula por célula quando esteve no Lago de Fogo, mas nada era tão doloroso quanto o toque dela. O choque correu das pontas de seus dedos diretamente através de seus braços e para seu peito.
— Eu não posso fazer isso. — Sua voz era um sussurro rouco.
— Fazer o que?
Te segurar. Te adorar. Te amar.
Ele não podia responder a essa pergunta, não do jeito que queria. Ele tinha que ir, mas o toque delicado de sua mão em seu braço o segurou como mil correntes. Mechas de cabelo bateram contra seu lindo rosto, clamando seu coração.
Olhe para longe.
Os olhos de safira escureceram quando travaram com os dela. Sua respiração quente bateu contra sua bochecha áspera.
Afaste-se.
Ele se aproximou. Seus cílios escuros abaixaram quando seus olhos desceram para os lábios rosados dela.
Só um beijo. Um abraço.
Bear latiu.
Ele parou, chocado com o que quase fez, mas seu coração estava pesado porque não tinha feito. Ele olhou para Bear, agradecido por ela ter visto o que Naomi obviamente não podia ou se recusara a ver.
— Eu não posso — disse ele, afastando-se de seu alcance.
— Por favor, Jeremy. Deixe-me te ajudar. Apenas fale comigo, você pode me dizer qualquer coisa. Você é meu…
— Pare! — Doloridos olhos correram para os dela antes que ela pudesse dizer a palavra que iria matá-lo. — Não me pergunte o que está errado. Você não tem o direito de perguntar.
No segundo em que sua expressão mudou, ele desejou que pudesse pegar as palavras de volta. A fachada do arcanjo feliz que ele construiu cuidadosamente, estava rachando. Ele não sabia quanto tempo poderia aguentar.
Então, quando seu rosto se transformou de mágoa para raiva e seus olhos se iluminaram com um fogo azul, ele soube que estava a segundos de puxá-la em seus braços e levá-la até a cama, que estava a apenas alguns passos de distância.
— Eu tenho todo o direito de perguntar. Eu me preocupo com você. Você é meu irmão...
— Droga, Naomi! Você não consegue ver o que está fazendo comigo?
— Estou tentando ajudar você.
— Você não está ajudando. Eu não posso estar aqui com você assim.
— Assim como? Me importando com você?
— Sim! Você não consegue ver que isso me machuca mais do que qualquer outra coisa? Você se importar comigo como uma irmã.
— O que há de errado com isso?
— Nada… tudo. Eu sei que deveria ser grato por qualquer pedaço de você que eu possa ter. Ter você como minha irmã deveria ser o suficiente. Ter meu irmão e minha família comigo deveria ser suficiente. Eu quero que seja, mas não é porque eu...
Ele cerrou os dentes antes de deixar as palavras saírem de seus lábios. Se as deixasse ir, não haveria como voltar atrás.
— Oh, Jeremy, já falamos sobre isso antes. Eu pensei que você havia concordado.
— Eu sei. Eu sei. Você acha que esses sentimentos que tenho por você estão na minha cabeça. Mas não estão, Naomi. Estão aqui. — Ele bateu a mão no peito nu. — Está tudo aqui. Tudo por você, porque você é tudo o que posso pensar, tudo o que eu sonho. E eu não deveria pensar em você... não desse jeito. Eu não posso mais fazer isso.
— O que você está dizendo?
— Eu preciso ir embora.
Ela piscou, incrédula. — Você não pode. Vai magoar o Lash. E seus pais? Você não pode simplesmente ir.
— Não há outra maneira. Gabrielle me concederá licença de longo prazo na Terra se eu precisar, tenho certeza disso. — Ele olhou para o rosto devastado dela e se perguntou quanto tempo ele poderia viver uma vida separada dela e de sua família. — Eu tenho que me afastar por tempo suficiente para que quando voltar, eu possa amar você como uma verdadeira irmã.
Se isso sequer é possível. Ele engoliu o nó na garganta ao pensar em nunca mais a ver ou a sua família.
Ele foi até a beirada da janela, colocando as asas perto do corpo, pausou. Virando-se para Naomi, ele se aproximou dela. Sua mão gentilmente acariciou sua bochecha.
— Diga ao meu irmão que vou sentir falta dele.
— Não. Diga você mesmo. — Uma lágrima rolou por sua bochecha, molhando seu polegar.
Ele baixou a mão e balançou a cabeça, afastando-se dela antes de mudar de ideia. — Será melhor para todos nós se não fizer. Por favor, faça isso por mim, Naomi.
Sem ouvir sua resposta, ele saltou da borda, caindo livre no céu. Quando seu corpo disparou pela montanha, o vento passou, enchendo seus ouvidos com ruído branco e bloqueando os soluços de Naomi. Quando ele estava prestes a bater no chão, abriu suas asas e levantou seu corpo para cima, evitando o chão por apenas alguns metros. Ele foi para o Salão do Julgamento, o único lugar quieto onde poderia ficar sozinho e pensar em como iria convencer Gabrielle a deixá-lo ir.

5
Abrindo as pesadas portas de mogno, ele entrou na sala escura. Velas se alinhavam nas paredes. No outro extremo da vasta sala, situada no alto de uma plataforma de três andares, havia uma alta cadeira feita de madeira. A almofada de veludo vermelho brilhante reluzia sob as dezenas de velas que cercavam o Salão do Julgamento. Ele esteve na sala dezenas de vezes com Lash, e às vezes com outros anjos que tinham caído. Ele sempre ficava de lado, observando Michael realizar o julgamento, imaginando como seria se ajoelhar na frente do poderoso arcanjo, vulnerável, pedindo perdão e sendo levado de volta ao céu. Embora ele ignorasse as regras de tempos em tempos, nunca pensara em ir contra a lei celestial ao ponto de ser banido. Por que faria? Ele tinha tudo o que ele precisava ou queria… até agora.
As chamas cintilaram quando ele caminhou rapidamente para a cadeira de Michael e se ajoelhou diante dela. Sua cabeça caiu em direção ao peito. Ele não precisava mais se perguntar como os outros se sentiam nessa posição, ele sentia em cada parte de seu corpo. Seu peito ficou pesado quando as últimas semanas passaram por sua mente. Lutando contra Lash, desejando a esposa de seu irmão, sonhando com uma vida em que seu irmão não existisse para que pudesse tê-la.
— Perdoe-me, irmão.
Sua voz pesada ecoou na câmara silenciosa. Ele lutou tanto para reconquistar a confiança de Lash, não queria perder seu irmão novamente. No entanto, o pensamento de sair e nunca mais ver sua família ou Naomi novamente estava rasgando seu coração, arrancando seu coração pedaço por pedaço. Ele não podia ficar, mas também não podia ir.
— Ajude-me a encontrar um caminho.
Uma brisa fresca passou por sua nuca, seguida por um toque em seu ombro. Ele ficou de pé e girou ao redor.
— Gabrielle! — Por que ela estava aqui? Anjos não entravam na sala a menos que precisassem.
— Eu estava… eu estava... — Ele passou a mão pelo cabelo enquanto examinava a sala, procurando por uma desculpa. — Eu estava procurando por uma vela extra.
Ele pegou uma na prateleira, xingando quando a cera quente espirrou em sua mão. Esfregando a mão, ele olhou para Gabrielle. Seu estômago se contorceu com a expressão em seu rosto. Era o mesmo olhar que Naomi lhe dera... pena.
Naomi lhe contara o que havia acontecido? Ele não conseguia pensar em nenhum outro motivo pelo qual Gabrielle, que sempre era toda focada nos negócios, olharia assim para ele. Que patético. Até o arcanjo mais forte sentia pena dele.
— Ah, droga, desculpe por isso.
Por que ela estava parada ali?
Diga algo. Me repreenda. Me jogue para fora. Qualquer coisa.
— Faz um tempo desde que este corpo teve cera quente sobre ele. — Ele piscou suas covinhas, esperando que ela entendesse a sua insinuação e chutasse sua bunda deplorável para fora da sala.
— Jeremiel. — Ela soltou um suspiro lentamente. Seus cílios escuros se fecharam por um momento, depois se levantaram. Olhos esmeralda suaves o olhavam com ternura. Ela estava com medo de que ele se partisse.
Ele deu um passo para trás, sorrindo com tanta força que seus dentes estalaram.
Vamos, Gabrielle. Me mande parar com isso. Me castigue. Só não olhe para mim assim. Eu não posso aguentar isso de você também.
O silêncio encheu a sala. Seu coração batia em seus ouvidos, o tempo passando enquanto esperava Gabrielle responder.
— Para alguém que é um grande jogador de pôquer, você é um péssimo mentiroso — ela finalmente disse.
— Sim, já me disseram isso antes.
— Eu não queria te incomodar. Se você precisa de alguns momentos sozinho, posso pedir a alguém que fique de guarda na porta para garantir que ninguém entre.
— Não, terminei aqui. — Ele soltou um suspiro. Ela não fez nenhuma pergunta sobre por que estava sozinho, ajoelhado como um dos caídos na frente da cadeira de Michael. Ela era muito educada para isso. Era a única coisa de que ele gostava nela.
Seus lábios se curvaram em um sorriso suave. Se quisesse pedir permissão para ficar na Terra, deveria fazê-lo agora. Ele abriu a boca, mas as palavras ficaram presas na garganta.
— Há algo que você quer me perguntar?
Pergunte a ela, idiota.
Sua boca ficou seca, com medo que tivesse que explicar por que estava pedindo isso. Como um arcanjo, ele não precisava de permissão para ir à Terra, mas para qualquer estadia prolongada, ele precisava obter aprovação dela ou de Michael. Gabrielle era sua melhor tentativa. Ela era rigorosa quando se tratava de seguir a lei dos anjos, e sempre estava comprometida ao seu dever, mas não se intrometia. Na primeira vez que ele fora embora depois da briga com Lash, fora ela quem o mandou ir. De alguma forma, ela sabia que ele precisava ir. E quando ele retornou, ela nunca questionou por onde esteve.
— Eu, uh… — Ele olhou para a vela em sua mão, nervosamente passando-a entre o polegar e o dedo.
Ele não podia fazer isso. Sabia que deveria ir, mas não suportava pensar em deixar Naomi e não vê-la todos os dias. E Lash... sua garganta ficou apertada novamente. Naomi estava certa. Depois de tudo que ele e seu melhor amigo tinham passado, isso iria partir seu coração. Lash finalmente estava feliz, e ele não queria ser aquele que destruiria seu mundo feliz.
— Deixe-me ajudá-lo. — Gabrielle se aproximou e colocou uma mão delicada sobre a dele.
Seus olhos se elevaram e olharam para o rosto deslumbrante. Ele nunca esteve tão perto dela. Ele observou o jeito que o seu vestido creme abraçava suas curvas e o modo como as mechas douradas pendiam como seda fina. Seus olhos eram tão vívidos, um caleidoscópio de amarelo e tons de verde. Ele olhou mais fundo nos olhos dela. Era como se um véu tivesse sido levantado e ele pudesse ver nas profundezas de sua alma. Havia muita força nela... e tristeza.
Lentamente, ele levantou a mão e acariciou sua bochecha. Ela era linda. A mão dele não zumbiu com eletricidade como quando tocava Naomi. Mas havia uma certa paz quando estava com ela. Ela o entendia. Talvez eles estivessem destinados a ficarem juntos, ligados por seu amor não correspondido... dela por Raphael e dele por Naomi.
Eu me pergunto como seria.

6
Não havia nada. Nenhum fogo correndo pelo seu corpo. Nenhuma agitação no seu estômago com a antecipação de algo mais. Era como beijar sua mãe.
— Não é isso que eu quis dizer, Jeremiel. — Ela inclinou a cabeça, afastando-se.
— Me desculpe, eu não sei o que deu em mim. — Ele sentou-se no último degrau da plataforma e abaixou a cabeça sobre as mãos. Ele estava bagunçando de tudo. Era isso que ele poderia esperar a partir de agora, fazer coisas inapropriados nos lugares mais sagrados? Ele beijou Gabrielle, meu Deus do céu!
Ele balançou sua cabeça. Tinha que haver algo que pudesse fazer sobre isso. De alguma forma, Gabrielle conseguiu se manter intacta, e ela vinha fazendo isso há séculos.
Lentamente, ele levantou a cabeça. Ela tinha as respostas, e tinha que dizer a ele o que fazer.
— Como você conseguiu?
— Desculpe?
— Como você conseguiu, vê-lo todos os dias, sabendo que Raphael não…?
Dor atravessou seu rosto adorável. Ele respirou fundo ao ver sua angústia. Durante todos os anos que trabalharam juntos, ele nunca a viu assim. Sua testa franziu enquanto lutava para controlar a expressão do rosto e afastar séculos de dor e saudade. Antes que pudesse pedir desculpas por ter mencionado Raphael, ela ergueu a mão, silenciando-o.
— Você sabe — disse ela.
Ele assentiu.
Ela fechou os olhos por um momento, pensando. Quando ela os abriu, respirou hesitante como se estivesse indecisa sobre fazer uma pergunta para a qual queria desesperadamente uma resposta. Depois de respirar, as palavras se espalharam.
— Alguém mais sabe?
— Acho que não.
Ela acenou levemente, depois se virou e andou de um lado para o outro. Seu vestido ondulando enquanto se movia. Ela torceu as mãos, resmungando: — Eu preciso melhorar, ou todos vão saber.
Ótimo. Ele estava piorando as coisas, não deveria ter mencionado Raphael.
— Eu não direi nada sobre você e…
Ela congelou, sua expressão horrorizada.
Eu deveria calar a boca agora. Ele fez uma careta e fechou a boca.
— Eu não estou preocupada com isso, eu confio em você. Eu pensei... Não importa. — Ela balançou a cabeça como se estivesse eliminando o que quer que estivesse a preocupando e soltou um suspiro lento. — Então, você quer saber como eu faço isso?
— Sim.
Ela ficou em silêncio por um momento. Seu belo rosto mudando de desejo para felicidade para dor e, finalmente, para a familiar expressão severa.
— Você simplesmente... faz.
— É só isso? Não há mais nada? — Tinha que haver alguma coisa. Ele tentaria qualquer coisa.
— Não há mais nada. Melhora com o tempo, ou pelo menos é o que ouvi de filósofos humanos. Não tenho certeza se isso se aplica aos anjos. O tempo dos humanos é finito, enquanto para os anjos é…
— Para sempre — ele gemeu. Recostando-se contra os degraus, ele olhou para o teto abobadado. Sombras da luz das velas dançavam em seu rosto bonito enquanto estudava os intrincados desenhos góticos que cobriam o vasto salão. Era engraçado como os humanos queriam viver para sempre. Se eles soubessem como realmente é viver para sempre.
O que ele ia fazer?
— Então a primeira vez que você foi embora não ajudou? — Ela perguntou.
— Sim… não… Eu não sei. No começo, foi difícil esquecer Naomi. Eu pensava nela todos os dias, e não sabia por que não podia esquecê-la. Saber sobre o nosso passado juntos fez isso...
Ele parou e virou a cabeça para Gabrielle enquanto ela se sentava no degrau ao lado dele.
— O que você está fazendo? — Seus olhos se arregalaram quando ele se inclinou para perto, inalando.
— Esse cheiro. — Ele fechou os olhos, cheirando seu pescoço novamente. Era uma mistura de jasmim e coco.
— É o hidratante que você me trouxe quando voltou de sua estadia na Terra, lembra?
— Sim, certo. — Inclinando-se para trás, ele colocou os cotovelos nos degraus, deixando sua mente vagar enquanto se lembrava de seu tempo na ilha jardim, como Kauai era conhecida. Memórias de árvores grandes com flores de jasmim, praias de areia branca e pranchas de surfe percorreram sua mente.
— Então, seu tempo na ilha... Eu pensei que ficar longe havia ajudado.
— Sim, ajudou. — Tanto aconteceu desde que ele retornou de Kauai, parecia que tinha sido anos. Na verdade, foram anos, no tempo da Terra.
— Você parecia ter se divertido enquanto esteve fora.
Ele olhou para cima. O que ela tinha visto? A maior parte do tempo que passou lá, ele andava deprimido, andando pelas praias até conhecer Sammy e Leilani.
Ele sorriu, relembrando. Que dupla eram esses dois. Algumas semanas com eles e voltou a se sentir como o seu antigo eu de novo, até…
Ele engoliu em seco, rapidamente voltando sua atenção para Gabrielle.
— Você viu?
— Claro que sim. Eu te dei o máximo de privacidade que pude, mas Michael queria que eu ficasse de olho em seu mais precioso arcanjo. Existem tão poucos de nós. Ele não queria arriscar perder outro. Além disso, eu nunca visitei Kauai. É uma linda ilha.
— Sim.
Ela o estudou por um momento, observando a camisa preta casual e jeans. Era tão diferente dos ternos finos sob medida que ele costumava usar. — Você mudou muito desde que foi. Você também fez alguns amigos humanos.
— Você viu isso.
E lá vamos nós. Ele esperou por sua reclamação e aviso. Anjos, especialmente o arcanjo da morte, nunca deveriam se aproximar dos humanos. Não fazer amizade com humanos e, acima de tudo, não se apaixonar por eles. Nublava o julgamento e os impedia de cumprir o seu dever. Ele não precisava ser lembrado do que poderia acontecer quando um anjo se aproximava de um humano. Tudo o que ele tinha que fazer era olhar no espelho.
— Sim, eu vi... alguns momentos. Minha parte favorita era o chiclete. Ela é uma garota adorável. Qual era o nome dela?
Ele levantou uma sobrancelha, surpreso pela reação dela. Ou estava aliviando mais as regras, ou ele realmente parecia confuso e ela tinha um coração para... como os humanos diziam? ... chutar um homem quando ele já está caído.
— Leilani. — Quando o nome saiu da sua língua, ele ficou surpreso com a sensação de calor em seu peito. Era como se fosse transportado de volta para Kauai para Leilani e Sammy.
— Você quer voltar.
— Eu… — Ele não sabia como responder. Emoções batalhavam dentro dele. Ele deveria ficar com sua família onde era o pobre coitado apaixonado pela esposa de seu irmão e ter que viver com a pena nos olhos de Naomi? Ou ele deveria ir para outro lugar onde era olhado com admiração?
— Não tenho certeza.
— Não vejo nenhum motivo para você não ir por um dia ou dois. Todos nós precisamos de uma pausa de vez em quando.
Ele sabia o porquê. Se ele fosse embora, provavelmente nunca voltaria. Era tentador ir a um lugar onde pudesse esquecer Lash, Naomi, todo mundo. Talvez até esquecer que ele era um arcanjo.
— Isso é generoso da sua parte. Vou pensar sobre isso. Então me diga, sobre o que você queria me ver?
Gabrielle tirou um papel do bolso. Ela fez uma pausa, batendo-a contra a palma da mão e depois dobrando. — A tarefa pode esperar. Eu gostaria de saber mais sobre o seu tempo em Kauai.
Ela está sorrindo.
Ele franziu a testa. Por que ela estava sorrindo? Gabrielle nunca conversava com ninguém, mesmo com Raphael. Ela era toda séria.
— Bem, é o paraíso. Foi preciso uma amizade especial para trazer algum sentido a minha cabeça antes que pudesse me divertir.
— Leilani?
— Sim, Leilani.
— Então, foi o surfe ou o seu rosto batendo na areia que melhorou o seu humor? — Seus olhos brilharam.
— Ugh, eu não posso acreditar que de todo o tempo que eu passei na ilha, esse foi o momento em que você decidiu me espiar.
— Eu vou ser sincera, eu também precisava de uma boa risada, especialmente depois de você e Lash…
A sala ficou quieta enquanto se olhavam. Ele não percebeu que a briga com seu irmão a afetou tanto. Claro, foi mais que uma briga. Foi o começo de uma nova vida para ele, uma vida em que seus olhos finalmente se abriram.
Abaixando a cabeça, ele fechou os olhos e lembrou-se do momento em que sua vida mudou, o instante em que o Arcanjo Raphael revelou que ele era mais do que um mentor e querido amigo, as lembranças momentâneas de um passado muito antigo emergiam dos recessos mais profundos de sua mente.
Foi o momento em que seu coração traíra seu irmão pela primeira vez.

7
Três meses antes
— Eu sou seu filho? — Jeremy sussurrou.
Sua mente girou com o que acabara de ouvir. Ele deveria ter ouvido errado. Raphael, o terceiro arcanjo mais poderoso do Céu, com apenas Michael e Gabrielle mais poderosos acima dele, não poderia ter dito a ele que era seu pai.
Sim, ele definitivamente tinha ouvido errado. Às vezes, era confuso entender Raphael, que preferia falar na língua antiga. Houve momentos em que ele até mesmo mudava para o hebraico no meio da conversa. Isso raramente acontecia hoje em dia, e apenas quando estava sob muita pressão. Obviamente este era um desses momentos. A batalha com Lúcifer em Shiprock, Novo México, não aconteceu como planejado. De alguma forma, Lúcifer conseguiu escapar, e Raphael mencionou que era uma questão de tempo antes que o poderoso anjo das trevas voltasse com números ainda maiores. Todo mundo estava no limite.
Então, por que seu coração estava acelerado?
— Você é meu pai? — A voz de Jeremy ecoou alto no quarto.
Houve um gemido e seus olhos dispararam para a cama onde Naomi Duran dormia. Raphael fez uma pausa, suas mãos pairando sobre o corpo dela.
— Sim — disse Raphael calmamente.
Ele é meu pai. Jeremy afundou no assento em frente a ele. Raphael continuou seu trabalho de cura sobre Naomi, a mulher que seu melhor amigo lutou tanto para proteger.
Não é possível. Será? Séculos atrás, ele nasceu de uma mãe humana, Rebecca. Lash era seu irmão. Seus filhos perderem todas as lembranças de sua vida passada, de todos, incluindo o pai deles, o que acabou sendo o castigo de Raphael.
Ele observou os olhos de safira e os cabelos dourados de Raphael, tão parecidos com os seus e as suas mãos. Aquelas mãos...
Ruído branco seguido pelo som de um bebê chorando encheu sua mente. As imagens piscaram em sua mente: uma cabana pequena, uma cabra e a mão de uma criança ao lado de mãos grossas e musculosas.
— Pai, suas mãos são como as minhas.
Ele se engasgou, e seus olhos dispararam para Raphael. Era verdade. E, no entanto, era como se ele sempre soubesse. No fundo, sempre sentiu uma forte conexão com o homem que ele chamava de mentor e amigo.
— E eu estava prometido a ela. — Seus olhos se moveram para Naomi.
Tudo fazia sentido agora. A repentina atração por Naomi no momento em que ele a viu em Houston; o jeito que ela constantemente assombrava sua mente enquanto ele observava Lash para ter certeza que ele completaria sua tarefa; e a dor em seu peito que quase o deixou de joelhos quando viu Lash segurá-la protetoramente em seus braços, pressionar seus lábios contra sua bochecha e professar seu amor por ela. E quando os cílios escuros se ergueram e os pálidos olhos azuis olharam para o melhor amigo e os lábios tingidos de azul sussurraram: "Eu te amo", seu coração parou, esmagado por alguma razão incompreensível. Por um momento, ele pensou que Lúcifer ou Saleos havia escapado e estava atacando-o através de algum tipo de força invisível. Agora ele entendia o porquê.
Ele a amava.
Mesmo agora, seu coração doía ao olhar para Naomi deitada quase sem vida na cama, pálida, com o cabelo escuro espalhado pelos travesseiros. Ele fez isso com ela. Ele tomou sua vida humana. Ele a levou para longe da família que tanto amava.
Depois que ele a destruiu no topo de Shiprock, ele a levou para os aposentos dos anjos, para um quarto privado. Ele esperou ao lado dela enquanto Raphael cuidava de Lash na Sala das Oferendas, curando suas feridas. Mesmo que estivesse preocupado com Lash e cuidar de Naomi fosse trabalho de Rachel, ele se recusou a sair do lado dela. Em vez disso, implorou a Rachel para ir buscá-lo assim que Lash acordasse. Sua culpa por não estar ao lado de seu irmão foi diminuída quando Raphael lhe disse que Lash ficaria bem.
— Sim, você estava — disse Raphael enquanto movia as mãos sobre o estômago de Naomi. Parando, ele olhou para Jeremy atentamente. — Você tem as memórias, meu filho?
Os olhos de Jeremy passaram por Naomi. A cor estava lentamente voltando para suas bochechas e lábios perfeitamente formados. Sua respiração prendeu quando mais imagens passaram por sua mente. Elas se moviam tão rapidamente que ele não conseguia segurá-las. Uma bolsa de couro. Lábios rosados. Uma faixa vermelha.
A atração por ela se intensificou. Ele estendeu a mão para ela, querendo desesperadamente passar o dedo sobre a curva dos lábios dela. E então, como se perdido em um passado que não sabia que existia até agora, ele sentiu: lábios nos lábios, quentes, molhados, sensual… eletrizante.
— Jeremiel?
Piscando, ele olhou para Raphael e teve um vislumbre de si mesmo no espelho do chão encostado na parede oposta. Sua mão pairando a centímetros dos lábios de Naomi. Desejo e saudade escritos por todo o seu rosto.
Ele puxou a mão de volta, enfiando-a no bolso. O que quer que estivesse sentindo, ele tinha que acabar com isso e rápido. Lash ia ficar puto quando acordasse. E quando Lash ouvisse sobre Naomi ser prometida a ele em casamento... bem, isso não ajudaria na situação. Ele conhecia seu melhor amigo. Agir primeiro; pensar depois. Lash pensaria que ele estava intencionalmente tentando roubar Naomi dele.
Olhando para Naomi, uma pequena voz sussurrou no fundo de sua mente.
E ele estaria certo.
Jeremy pigarreou, compondo-se. — Na verdade, não. Acho que me lembro de algo sobre ganhar uma corrida e uma bolsa de couro cheia de moedas de ouro… e talvez uma cabra.
— Séculos depois e aquela cabra ainda tem controle sobre todos nós. Cabra teimosa. — Rindo, Raphael colocou a mão gentilmente na testa de Naomi. — Ela era a única que conseguia fazer a cabra velha se mexer e a única que conseguia fazer com que Lahash sorrisse. Ela o fez muito feliz e fará isso novamente.
— Ela já o faz — Jeremy murmurou enquanto olhava carinhosamente para a mulher que trouxe a luz do sol para a vida de seu melhor amigo.
Nas últimas semanas, ele nunca tinha visto Lash tão feliz como quando estava com Naomi. Mesmo antes de ser expulso do Céu, Lash sempre parecia ter uma sombra sobre ele. Jeremy achava que era apenas o jeito de Lash. Agora sabia que era porque ele estava sentindo falta do seu coração e nem sabia disso.
Se ela foi feita para o meu irmão, então por que meu espírito ganha vida em simplesmente estar sentado ao lado dela?
— Meu trabalho aqui está feito. Foi bastante simples. — Raphael se inclinou e beijou a testa de Naomi. — A raiva do seu irmão, no entanto, será um assunto diferente.
— Eu deveria ir com você? — Por mais que quisesse ficar com Naomi, talvez fosse melhor se ele ficasse longe.
— Eu sei que você está ansioso para fazer as pazes com Lahash, assim como eu. Devemos proceder com cautela. Deixe-me falar com ele primeiro.
Assim que Raphael saiu da sala, Jeremy voltou para Naomi. Ela estava melhor, sua respiração lenta e firme. Cílios escuros formavam uma meia lua contra o topo de suas bochechas. Suas bochechas estavam rosadas e seus lábios entreabertos em um rosa adorável. Ele gemeu. Deveria ter saído com o Raphael, deveria ter feito Rachel ficar com ele.
Ele ouviu atentamente, esperando ouvir os passos de Rachel indo em direção ao quarto. Tudo o que ouviu foi música vinda do pátio. Deixando o seu lugar, ele foi até a janela e olhou para fora. Sentados embaixo das cerejeiras havia um grupo de anjos ouvindo um dos serafins cantando. Ela parecia com Rachel, pequena com olhos azuis em vez de marrom. Flores de cerejeira rosa e brancas flutuavam no ar, caindo no chão ao redor dela e da plateia de anjos. Sua doce voz de soprano era pura, sem vibrato enquanto cantava, pedindo que seu amor sonhasse com ela. Suas mãos cheias se moviam graciosamente com o fraseado musical da canção celta.
Enquanto ele ouvia o anjo cantando sobre ser levada para as nuvens onde o amor dela estava esperando, ele se virou para Naomi. Ela estava sonhando? Ela sonhava em se reunir com Lash?
Ele se inclinou sobre ela, hipnotizado pela curva de seus lábios rosados. Seu cabelo estava em um emaranhado no travesseiro. Suas bochechas manchadas de traços de sujeira, e ainda assim ela era a coisa mais linda que já vira. Nem mesmo Gabrielle, que era considerada a mais bela dos anjos, podia se comparar a beleza que estava diante dele.
Ela se lembrará de mim?
Com as costas da mão, ele gentilmente roçou a bochecha dela.
Ela soltou um gemido suave.
Ele puxou a mão de volta. Ele não deveria estar fazendo isso, deveria apenas pegar sua cadeira e colocá-la no canto do outro lado da sala e esperar. Ele estava prestes a fazer isso quando seus lábios se moveram levemente. Ele segurou a respiração. Ela estava falando com ele?
Ele se inclinou para mais perto para ouvi-la. Sem importar que, com suas habilidades auditivas superiores angélicas, ele a ouviria perfeitamente bem de onde estava.
Ele estava tão perto, a respiração dela acariciando contra a sua bochecha. Hipnotizado por seu rosto suave, ele tocou sua bochecha novamente. Ele só queria verificar se ela estava bem. Afinal de contas, foi ele quem a acertou com os relâmpagos.
Ele passou a ponta do polegar sobre a maçã do rosto dela, saboreando a suavidade aveludada. Seus lábios se curvaram em um sorriso delicado. Seu coração disparou quando ela se transformou em seu toque e se aninhou contra a sua mão, suspirando.
Seus lábios se separaram quando ele avançou. A lembrança de seu beijo estava gravada em sua mente. Doce. Suave.
Sua respiração acelerou. Cada músculo em seu corpo ficou tenso enquanto sua boca pairava sobre a dela. Então, suavemente, seus lábios tocaram os dela.
Ele cerrou as mãos, segurando um punhado do lençol enquanto a eletricidade subia por seu corpo como um incêndio. Ele apertou os olhos, lutando contra o desejo de tomá-la em seus braços e arrebatá-la.
Memórias de Naomi do passado, um passado que ele não deveria ser capaz de lembrar, inundaram sua mente. Ele recordou a sensação de seus braços ao redor dele quando ela agradeceu por lutar contra Saleos quando Lash foi ferido, o lindo sorriso em seu rosto quando ele a levou de volta para a cidade, do jeito que ela falava gentilmente com ele toda vez que visitava a estalagem da sua família, como olhos azuis pálidos olhavam para ele com admiração após o primeiro beijo em Ai.
Foi apenas um beijo, mas ele queria mais. Encostando sua testa na dela, ele sussurrou: — Era para você ser minha esposa uma vez. Certamente, você deve ter tido algum amor por mim? Você poderia aprender a me amar?
Ele respirou fundo com as palavras familiares. Foi algo que ele disse a ela antes? Ele deve ter. Como ainda poderia sentir do jeito que fazia agora se eles não tivessem compartilhado algo tão intenso no passado?
Ele precisava saber. Ele pressionou os lábios firmemente contra os dela, desesperado para sentir o amor dela. E nesse breve momento, tudo o que ele ouviu foi o bater do coração dele sincronizando com o dela enquanto se beijavam. Ele não ouviu o rangido da porta se abrindo ou o suspiro vindo da porta. Ele estava perdido no beijo até ouvir um grito estridente.
— Jeremy! O que você está fazendo?

8
Jeremy pulou da cama e cambaleou para trás quando perdeu o equilíbrio. Culpa borbulhava em seu peito. Como ele poderia ser tão egoísta, beijar a amada de seu irmão?
— Rachel, eu, uh, eu… — Sua voz sumiu quando olhou para Rachel em pé na porta, o queixo caído e os olhos castanhos arregalados de choque. Que desculpa poderia inventar para se explicar?
Pense, cara. Não fique aí parado.
— Eu achei a respiração de Naomi estranha, queria ter certeza de que ela estava bem.
— Jeremy. — Ele estremeceu com a leve bronca em sua voz. Ela não acreditou. Ele também não teria. Ele estava perdendo seu jeito, fora uma desculpa fraca.
— Você não vai contar ao Lash, vai?
— Não, eu não vou. — Ela entrou no quarto, fechando a porta atrás dela. Ela olhou para Naomi, que felizmente ainda estava dormindo profundamente.

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