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De Volta À Terra
Danilo Clementoni
VOLUME 1/3 - (Português Brasileiro) ”Estávamos no caminho de volta. Apenas um dos nossos anos solares se passou desde que fomos forçados a deixar o planeta às pressas, mas para eles, em anos terrestres, se passaram 3.600. O que encontraríamos?” Nibiru, o décimo segundo planeta do nosso sistema solar, tem uma órbita extremamente elíptica e retrógrada, muito maior do que todas as outras. De fato, leva aproximadamente 3.600 anos para completar uma volta em torno do Sol. Seus habitantes, aproveitando essa aproximação cíclica, têm realizado visitas sistemáticas por centenas de milhares de anos, todas as vezes influenciando a cultura, o conhecimento, a tecnologia e até a própria evolução da raça humana. Nossos ancestrais referiam-se a eles de muitas formas, mas talvez a que melhor os represente seja ”deuses”. Azakis e Petris, dois amáveis habitantes desse exótico planeta, a bordo da astronave Theos, estão retornando à Terra para recuperar um misteriosa e preciosa carga, que fora escondida em uma visita anterior. Uma história irresistível e divertida, ao mesmo tempo cheia de suspense e de releituras potencialmente devastadoras de eventos históricos.


Danilo Clementoni
De volta à Terra
As aventuras de Azakis e Petri

Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real é mera coincidência.

De volta à Terra
Direitos autorais © 2013 Danilo Clementoni

1° edição: novembro 2013
Publicação e impressão independente

blog: dclementoni.blogspot.it
e-mail: d.clementoni@gmail.com (mailto:d.clementoni@gmail.com) Tradução de Christina Yaghi

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida em qualquer forma, incluindo qualquer tipo de sistema mecânico e eletrônico, sem prévia permissão por escrito da editora, exceto para breves passagens para fins de resenha.
A minha esposa e a meu filho pela paciência que tiveram comigo e por todas as sugestões que me deram, ajudando a melhorar a mim e a este romance.
Um grande obrigado a todos os meus amigos que continuamente me incentivaram e estimularam para que eu avançasse na conclusão deste trabalho que, talvez sem eles, nunca teria sido concebido.
Índice
Introdução 7 (#ulink_80f36450-e3d4-525c-97f9-481ace06cb14)
Astronave Theos – Um milhão de quilômetros de Júpiter 9 (#ulink_74d38b24-32e4-5d52-b5c5-b4b20dc62b28)
Planeta Terra Tell El-Mukayyar Iraque 13 (#ulink_6190e466-16f2-588a-8c60-6d1d9a18bafb)
Astronave Theos Órbita de Júpiter 17 (#ulink_2f7b0bf0-1ba5-5c1c-9916-c2d02ab34cd7)
Nassíria O hotel 21 (#ulink_c3758b9b-558a-5fd8-b40f-8f437de9ad3d)
Astronave Theos Alarme de proximidade 25 (#ulink_c64f0391-cd89-5d05-88e0-ebd0b06d4190)
Nassíria O restaurante Masgouf 29 (#ulink_e9d80d2c-c323-52f2-8bc3-63fb5214472c)
Astronave Theos O objeto misterioso 35 (#ulink_8042c92e-ce9c-5e6e-866f-29e9c7e949f0)
Nassíria O jantar 41 (#ulink_ca33f8e8-76d1-5c59-8b83-1367a132bd83)
Astronave Theos Análise de dados 49 (#ulink_78d7d1e2-6308-570f-bfef-4d4bb521b1c6)
Nassíria Depois do jantar 53 (#ulink_0a5dfa6e-c409-5712-9e81-0bd348915864)
Astronave Theos Os (#litres_trial_promo)Anciãos (#litres_trial_promo) 62 (#litres_trial_promo)
Nassíria Despertando 67 (#litres_trial_promo)
AstronaveTheos Imagens da Terra 73 (#litres_trial_promo)
Tell El-Mukayyar As escavações 83 (#litres_trial_promo)
Astronave Theos A terrível descoberta 91 (#litres_trial_promo)
Tell El-Mukayyar O sarcófago 97 (#litres_trial_promo)
Astronave Theos O Cinturão de Asteroides 109 (#litres_trial_promo)
Tell El-Mukayyar A invasão noturna 115 (#litres_trial_promo)
Astronave Theos O rosto em Marte 123 (#litres_trial_promo)
Tell El-Mukayyar A invasão noturna 129 (#litres_trial_promo)
Astronave Theos Órbita terrestre 135 (#litres_trial_promo)
Tell El-Mukayyar O desmascaramento 143 (#litres_trial_promo)
Astronave Theos As preparações finais 155 (#litres_trial_promo)
Tell El-Mukayyar Os quatro guardiões 161 (#litres_trial_promo)
Tell El-Mukayyar Contato 173 (#litres_trial_promo)
Tell El-Mukayyar Recuperação 185 (#litres_trial_promo)
Astronave Theos Visitantes a bordo 199 (#litres_trial_promo)
Astronave Theos Revelação 207 (#litres_trial_promo)
Referências Bibliográficas 215 (#litres_trial_promo)
"Estávamos no caminho de volta. Decorrera somente um dos nossos anos solares desde que fomos forçados a deixar o planeta às pressas, mas para eles, em anos terrestres, decorreram 3.600. O que encontraríamos?"

Introdução
O décimo segundo planeta, Nibiru (o planeta de passagem), como foi chamado pelos sumerianos, ou Marduk (o rei dos céus), apelidado pelos babilônios, na verdade é um corpo celeste que orbita em torno do nosso sol, em um período de 3.600 anos. A sua órbita é substancialmente elíptica, retrógrada (gira em torno do sol na direção oposta à dos outros planetas) e é muito inclinada em relação ao plano do nosso sistema solar.
Cada aproximação cíclica quase sempre resultou em enormes perturbações interplanetárias no nosso sistema solar, tanto nas órbitas, quanto na configuração dos planetas dos quais faz parte. Em particular, foi em uma de suas passagens mais tumultuosas, que o planeta imponente Tiamat, localizado entre Marte e Júpiter, com uma massa de cerca de nove vezes a da Terra, rico em água e equipado com onze satélites, fora devastado por uma colisão enorme. Uma das sete luas que orbitam em torno de Nibiru bateu no gigante Tiamat, dividindo-o praticamente ao meio e forçando as duas seções a seguirem órbitas diferentes. Em um segundo momento (o segundo dia da Gênesis), os satélites restantes de Nibiru completaram o feito, destruindo completamente uma das duas partes formadas na primeira colisão. Os detritos gerados pelos múltiplos impactos, em parte, criaram o que hoje conhecemos como o "Cinturão de Asteroides" ou "Anel de Fragmentos", como era chamado pelos sumerianos, que então foram incorporados aos planetas vizinhos. Foi Júpiter, em particular, que capturou a maioria dos detritos, aumentando consideravelmente a sua massa.
Os satélites causadores do desastre, incluindo os sobreviventes do ex-Tiamat foram, em sua maioria, lançados para fora das órbitas, formando o que atualmente conhecemos como cometas. A porção que escapou da segunda colisão se posicionou em uma órbita estável entre Marte e Vênus, levando consigo o último satélite, e assim formou o que conhecemos na atualidade como Terra, juntamente à sua companheira inseparável, a Lua.
A cicatriz causada pelo impacto cósmico, que ocorreu há cerca de 4 bilhões de anos, ainda é parcialmente visível hoje. A parte danificada do planeta está completamente coberta por águas do que agora é chamado de Oceano Pacífico. Ele ocupa cerca de um terço da superfície da Terra, com uma área de mais de 179 milhões de quilômetros quadrados. Ao longo desta vasta área, praticamente não existem áreas de superfície, mas apenas uma grande depressão, com profundidades superiores a dez quilômetros.
Atualmente, a configuração de Nibiru é muito semelhante à da Terra. Dois terços dele são cobertos por água, enquanto o resto está ocupado por um único continente que se estende de norte a sul, com uma área total de mais de 100 milhões de quilômetros quadrados. Alguns de seus habitantes, por centenas de milhares de anos, aproveitando a aproximação cíclica do planeta ao nosso, nos fazem visitas sistemáticas, cada vez influenciando a cultura, o conhecimento, a tecnologia e até a própria evolução da raça humana. Nossos ancestrais se referiam a eles de muitas formas, mas talvez o nome que melhor os represente seja "deuses".

Astronave Theos – Um milhão de quilômetros de Júpiter
Azakis estava deitado confortavelmente na sua poltrona escura auto moldável, que o seu velho amigo Artesão construiu com as próprias mãos, dando-lhe de presente há alguns anos, na ocasião de sua primeira missão interplanetária.
— Vai te dar sorte — disse aquele dia. — Servirá para você relaxar e tomar as decisões certas quando for preciso.
Sentado ali, havia tomado várias decisões desde então e a sorte de fato e amiúde, estivera ao seu lado. Por essa razão, ele sempre se lembrava dessa estimada recordação, mesmo a despeito de muitas regras que o teriam impedido, especialmente em uma nave espacial como a Bousen-1, na qual encontrava-se agora.

Uma linha fina de fumaça azulada subia reta e rápida do charuto entre o polegar e o indicador da mão direita, enquanto com os olhos, tentava seguir a 4,2 UA
que ainda o separava do seu destino. Embora fizesse esse tipo de viagem há muitos anos, o charme da escuridão do espaço e de bilhões de estrelas que o salpicavam sempre foram capazes de capturar seus pensamentos. A grande abertura elíptica, logo à sua frente, permitia-lhe ter uma visão completa da direção do curso e ele ficava sempre surpreendido como esse campo de força, tão fino quanto uma teia, era capaz de protegê-lo do frio do espaço sideral, impedir o escape repentino de ar e de ser sugado pelo vácuo exterior. A morte seria quase imediata.
Deu uma tragada rápida no seu charuto e voltou a olhar para a tela holográfica à sua frente, onde apareceu o rosto cansado e barbudo de Petri, seu companheiro de viagem, que na outra parte da nave, reparava o sistema de controle dos tubos de exaustão. Brincou um pouco, distorcendo a imagem soprando a fumaça que acabara de inalar, criando um efeito de onda que lembrava muito os movimentos sinuosos das dançarinas sensuais que costumava encontrar, quando finalmente voltava para a sua cidade natal e podia desfrutar de um merecido descanso.

Petri, seu amigo e companheiro de aventuras, tinha quase trinta e dois anos e era a sua quarta missão deste tipo. Sua enorme estatura e físico imponente incutiam sempre muito respeito em todos os que passavam a conhecê-lo. Com olhos negros como o espaço exterior, cabelo longo, escuro e bagunçado que ia até os ombros, quase dois metros de altura e trinta, peito e braços vigorosos, capazes de levantar um Nebir
adulto sem esforço, ainda conservava a alma de uma criança. Ele era capaz de se comover vendo desabrochar uma flor de Soel
; podia ficar por horas, enlevado, assistindo as ondas do mar quebrarem na costa branca do Golfo do Saraan
. Um indivíduo incrível, confiável e leal, disposto a dar sua própria vida por ele sem hesitação. Ele nunca teria partido sem Petri ao seu lado. Era a única pessoa no mundo em quem confiava cegamente e a quem nunca trairia.

Os motores da astronave, ajustados para a navegação dentro do sistema solar, transmitiam o clássico e reconfortante zumbido bifásico. Para seus ouvidos treinados, o som confirmava que tudo estava funcionando perfeitamente. Com sua sensibilidade auditiva, seria capaz de perceber uma variação nas salas de câmbio de apenas 0,0001 Lasig, bem antes que o sofisticadíssimo sistema de controle automatizado. Por isso lhe fora concedido, já em idade jovem, o comando de uma astronave da classe Pegasus.
Muitos fariam absolutamente qualquer coisa para estar no posto dele. Mas lá estava ele.

O implante intraocular O^OCM fez com que a nova rota recalculada se materializasse à sua frente. Era notável como um objeto de apenas alguns mícrons podia executar todas aquelas funções. Inserido diretamente no nervo ótico, era capaz de exibir um painel de controle inteiro, sobrepondo-se à imagem que na realidade estava à sua frente. No início, não fora fácil se acostumar com aquele dispositivo e mais de uma vez não conseguira conter a náusea. Agora, no entanto, não podia trabalhar sem ele.
O sistema solar inteiro girava em torno dele com toda a sua fascinante magnificência. O pequeno ponto azul perto do gigante Júpiter representava a posição da sua astronave, e a linha vermelha fina e curvada um pouco mais que a anterior agora transparente, indicava a nova trajetória em direção à Terra.
A atração gravitacional do maior planeta do sistema era alarmante. Era essencial ficar a uma distância segura e somente a potência dos dois motores Bousen permitiria a Theos escapar do abraço mortal.
— Azakis — resmungou o comunicador portátil sobre o painel de comando à sua frente. — Devemos verificar a condição das conexões no compartimento seis.
— Você ainda não fez isso? — respondeu em tom de brincadeira, sabendo que enfureceria o seu amigo.
— Jogue fora esse charuto fedorento e venha me dar uma mão! — Petri bradou.
Eu sabia.
Conseguira irritar o amigo e estava se divertindo à beça.
— Aqui estou, aqui estou. Estou a caminho, meu amigo, não fique exaltado.
— Vamos, estou no meio desta porcaria há quatro horas e não estou a fim de brincadeiras.
Resmungão como sempre. Porém, nada nem ninguém seria capaz de separá-los.
Eles se conheciam desde a infância. Petri o tinha salvado mais de uma vez de uma surra certa (sempre fora muito maior do que os outros, desde criança), intervindo com o seu tamanho respeitável entre seu amigo e a turma habitual de valentões, da qual ele fora alvo com frequência.
Quando menino, Azakis não sabia se era o tipo pelo qual os membros mais atraentes do sexo oposto brigariam para ter. Vestia-se sempre bastante desalinhado, com a cabeça raspada, magricela e sempre conectado à Rede
, da qual absorvia um número vasto de informações a uma velocidade dez vezes superior à média. Com dez anos, graças ao seu excelente desempenho acadêmico, obtivera um acesso de nível C, com a opção de adquirir conhecimento que não estava disponibilizado para a maioria de seus pares. O implante neural N^OCM que garantia aquele tipo de acesso, no entanto, tinha alguns pequenos efeitos colaterais. Durante a fase de aquisição, a concentração tinha de ser absoluta, e uma vez que passava a maior parte do seu tempo assim, tinha quase sempre uma expressão ausente, com o olhar perdido, isolado de tudo o que acontecia ao seu redor. Na verdade todos acreditavam que, ao contrário do que diziam os Anciãos, ele fosse meio retardado.
Ele nunca se importou com isso.
Sua sede de conhecimento não tinha limites. Mesmo durante a noite permanecia conectado, e embora durante o sono a capacidade de aquisição, por causa da necessidade de concentração absoluta, fosse reduzida misteriosamente para 1%, não queria perder nem um segundo da sua vida sem aproveitar a oportunidade de desenvolver a própria bagagem cultural.
Acordou com um leve sorriso e foi em direção ao compartimento seis, onde seu amigo o estava esperando.

Planeta Terra Tell El-Mukayyar Iraque
Elisa Hunter estava tentando pela enésima vez enxugar as malditas gotas de suor que, da sua testa, teimavam em cair lentamente na direção do seu nariz, e em seguida, mergulhar na areia quente aos seus pés. Já havia muitas horas que estivera de joelhos, com a sua inseparável Espátula Marshalltown
, raspando delicadamente o solo, na tentativa de trazer à luz, sem danos, aquela que parecia ser a parte superior de uma lápide. Desde o começo, essa teoria não a tinha convencido. Estivera trabalhando por quase dois meses perto do Zigurate de Ur.
Graças a sua fama de arqueóloga e especialista em língua sumeriana, tinham lhe dado permissão para trabalhar. Muitas sepulturas foram encontradas desde o começo das escavações no início do séc. XX, mas em nenhuma delas tinham visto um artefato como aquele. Dada a forma quadrada particular e o grande porte, maior que um sarcófago, parecia a "tampa" de uma espécie de recipiente enterrado ali milhares de anos antes, para proteger ou esconder não se sabia o quê.
Infelizmente tendo descoberto, pelo momento, apenas uma porção da parte superior, ainda não era capaz de determinar a altura do suposto recipiente. As incisões cuneiformes que cobriam toda a superfície visível da tampa não se assemelhavam a nada que já tivesse visto antes.
Para traduzir, levaria vários dias e muitas noites sem dormir.
— Doutora.
Elisa levantou a cabeça, e com a mão direita logo acima dos olhos para protegê-los do sol, viu o seu ajudante Hisham se apressando em sua direção.
— Doutora — repetiu o homem — uma chamada para você da base. Parece urgente.
— Já vou. Obrigada Hisham.
Aproveitou a pausa forçada para beber um gole de água, já quase fervendo, do cantil que ela sempre levava preso ao cinto.

Uma chamada da base… Só pode ser problema.

Levantou-se, deu uns tapas nas calças levantando várias nuvens de poeira e caminhou determinada para a tenda que servia de base de apoio para pesquisas.
Ela abriu o zíper que mantinha a tenda semifechada e entrou. Demorou um pouco para seus olhos se habituarem à mudança de luz, mas isso não a impediu de reconhecer, no monitor, o rosto do Coronel Jack Hudson, que severamente, olhava para o nada, esperando ela aparecer.

O Coronel era oficialmente responsável pela equipe estratégica antiterrorismo em Nassíria, mas a sua verdadeira tarefa era coordenar uma série de estudos científicos encomendados e controlados por um departamento enigmático: o ELSAD
. Esse departamento era cercado pela aura de mistério que normalmente envolve esse tipo de corporação. Quase ninguém sabia exatamente os objetivos precisos e as metas dessa organização. Sabia-se apenas que o comando operacional reportava diretamente ao Presidente dos Estados Unidos.
No fundo, Elisa não se importava muito. A verdadeira razão pela qual ela tinha decidido aceitar a oferta de participar de uma das expedições era que, finalmente, poderia voltar para o lugar que mais amava no mundo, fazendo o trabalho que adorava e em que, apesar da sua idade relativamente jovem (trinta e oito), era uma das mais talentosas e importantes no setor.

— Boa noite, Coronel — disse ela, mostrando o seu melhor sorriso. — A que eu devo esta honra?
— Doutora Hunter, pare com essas pieguices. Sabe muito bem por que estou ligando. A autorização que foi concedida para completar o seu trabalho já expirou há dois dias e a senhora não pode mais ficar aí.
Sua voz era clara e firme. Desta vez, nem mesmo o seu charme inegável seria suficiente para arrancar um adiamento. Decidiu jogar sua última cartada.

Desde 23 de março de 2003, quando a coalizão liderada pelos Estados Unidos havia decidido invadir o Iraque, com o propósito expresso de depor o ditador Saddam Hussein, acusado de manter armas de destruição em massa (alegação que se revelou infundada depois) e de apoiar o terrorismo islâmico no Iraque, toda a pesquisa arqueológica, já muito difícil em tempos de paz, havia sofrido uma parada forçada. Foi apenas com o fim formal das hostilidades em 15 de Abril de 2003 que reanimou a esperança de arqueólogos de todo o mundo de poderem voltar aos lugares em que, presumivelmente, as civilizações mais antigas da história tinham se desenvolvido e em seguida, espalhado a cultura em todo o globo. A decisão das autoridades iraquianas no final de 2011 de reabrir as escavações de alguns dos locais com valor histórico inestimável, a fim de "continuar a aperfeiçoar a sua herança cultural" finalmente transformou a esperança em certeza. Sob a bandeira da ONU e com inúmeras autorizações assinadas previamente e confirmadas por um número incontável de "autoridades", vários grupos de pesquisadores, selecionados e supervisionados por funcionários competentes da comissão, poderiam operar por períodos limitados, nas áreas arqueológicas mais significativas do território iraquiano.

— Caro Coronel — disse ela, aproximando-se tanto quanto possível da webcam, de modo que seus olhos verdes-esmeralda pudessem obter o efeito que esperava: — o senhor tem toda a razão.
Sabia bem que dar razão ao interlocutor, o teria preparado de forma mais positiva.
— Mas agora que estamos tão perto.
— Perto do quê? — o Coronel gritou, levantando-se da cadeira e apoiando os punhos sobre a mesa. — Há semanas que persistiu com a mesma história. Não estou disposto a confiar mais sem ver com os meus próprios olhos algo de concreto.
— Se o senhor me der a honra da sua companhia esta noite no jantar, terei o maior prazer de lhe mostrar algo que irá fazê-lo mudar de ideia. O senhor aceita?
Os dentes brancos ostentavam um sorriso bonito e o passar de mão pelo cabelo louro e comprido fazia o resto. Ela tinha certeza que o tinha convencido.
O Coronel franziu o cenho, tentando manter um olhar furioso, mas sabia que não resistiria a essa proposta. Elisa fazia o seu tipo e um jantar tête-à-tête o intrigava muito.
Além do mais ele, apesar dos seus quarenta e oito anos, era ainda um homem atraente. Corpo atlético, traços marcantes, cabelos grisalhos curtos, olhar forte e decidido de um azul intenso, uma boa cultura geral que lhe permitia manter discussões sobre muitos temas, tudo combinado com o charme indiscutível do uniforme, fazia dele um exemplar do sexo masculino ainda muito interessante.
— Ok — bufou o Coronel — mas se esta noite realmente não me mostrar algo de extraordinário, já pode começar a recolher toda a sua bugiganga e fazer as malas — ele tentou usar o tom mais autoritário possível, mas sem muito sucesso.
— Às vinte e zero horas esteja pronta. Um carro irá buscá-la no seu hotel — e desligou, um pouco arrependido de não ter se despedido.

Raios, tenho que me apressar. Tenho poucas horas antes de escurecer.

— Hisham — gritou, espiando para fora da tenda. —Reúna toda a equipe. Preciso de toda a ajuda possível.
Ela caminhou apressadamente os poucos metros que a separavam da área de escavação, deixando para trás uma série de pequenas nuvens de poeira. Em minutos, todos se reuniram ao seu redor, esperando por suas ordens.
— Você, por favor, remova a areia daquele canto — ordenou, indicando o lado da pedra mais longe dela. — e você, ajude-o. Sugiro que tomem muito cuidado. Se é o que penso, esse objeto salvará a nossa pele.

Astronave Theos Órbita de Júpiter
O pequeno, mas extremamente confortável módulo esférico de transferência interna estava correndo a uma velocidade média de cerca de 10 m/s, o condutor número três, que levaria Azakis até a entrada do compartimento onde o seu companheiro Petri o esperava.

A Theos também tinha forma esférica e um diâmetro de noventa e seis metros, equipada com dezoito condutores tubulares, cada um com pouco mais de trezentos metros, como meridianos, construídos com dez graus de distância um do outro e cobrindo toda a circunferência. Cada um dos vinte e três níveis tinha quatro metros de altura, exceto o hangar central (décimo primeiro nível) que media o dobro; eram facilmente acessíveis graças às paradas que cada condutor fazia em cada andar. Na prática, para atravessar os dois pontos mais distantes da nave, levaria no máximo quinze segundos.

A freagem foi quase imperceptível. A porta se abriu com um leve chiado e atrás dela apareceu Petri, parado com as pernas abertas e os braços cruzados.
— Há horas que espero — disse num tom decididamente pouco convincente. — Você já terminou de entupir os filtros de ar com aquela porcaria fedorenta que sempre carrega? — a alusão ao charuto era ligeiramente velada.
Indiferente à provocação, com um sorriso, Azakis pegou do cinto o analisador portátil e o ativou com um gesto do polegar.
— Segure isso e vamos logo — disse, passando o aparelho para Petri com uma das mãos, enquanto com a outra tentava colocar o sensor dentro do conector à sua direita. — Chegada prevista em aproximadamente 58 horas e estou ficando um pouco preocupado.
— Por quê? — Petri perguntou ingenuamente.
— Não sei. Tenho a sensação de que vamos ter uma grande surpresa desagradável.
A ferramenta que Petri tinha na mão começou a emitir uma série de sons em diferentes frequências. Ele olhava o aparelho sem ter ideia do que estava indicando. Olhou em direção ao amigo à procura de algum sinal, mas não viu nenhum. Azakis, movendo-se com muito cuidado, apontou o sensor no outro conector. Uma nova série de sons ininteligíveis saiu do analisador. Depois, silêncio. Azakis pegou o instrumento da mão do seu companheiro, olhou atentamente para os resultados, e em seguida sorriu.
— Tudo bem. Podemos prosseguir.
Só então Petri percebeu que prendia a respiração. Expirou todo o ar e imediatamente sentiu uma sensação de relaxamento. Uma falha de um desses conectores, por menor que fosse, poderia acabar com a missão, obrigando-os a voltar o mais rápido possível. Seria a última coisa que desejariam. Estavam tão perto.
— Vou tomar um banho — disse Petri, tentando sacudir um pouco da poeira. — a visita aos tubos de exaustão é sempre assim… — e acrescentou, franzindo o lábio superior: — instrutiva!
Azakis sorriu: — Vejo você na ponte de comando.
Petri chamou o módulo e um segundo depois, se foi.
O sistema central anunciou que a órbita de Júpiter fora superada sem problemas e que eles estavam indo sem impedimento em direção à Terra. Com um leve mas rápido movimento dos olhos para a direita, Azakis pediu ao seu O^OCM mostrar a rota novamente. O ponto azul que se movia na linha vermelha agora tinha se movido um pouco mais para perto da órbita de Marte. A contagem regressiva indicava o tempo estimado de chegada em 58 horas exatas e a velocidade da nave em 3.000 km/s. Estava cada vez mais nervoso. Por outro lado, aquela em que estava viajando era a primeira astronave equipada com os novos motores Bousen, completamente diferente de designs anteriores. Os projetistas afirmavam que seriam capazes de impulsionar a aeronave a uma velocidade perto de um décimo daquela da luz. Ele ainda não se atrevia a ir tão longe. Para o momento, 3.000 km/s pareciam mais do que suficientes para uma viagem inaugural.
Dos cinquenta e seis membros da tripulação que normalmente teriam de ser acomodados a bordo da Theos nessa primeira missão, haviam sido selecionados somente oito, incluindo Petri e Azakis. As razões dadas pelos Anciãos não foram muito exaustivas. Limitaram-se a explicações como, diante da natureza da viagem e do destino, poderiam encontrar muitas dificuldades e que, portanto, seria melhor não colocar mais vidas em risco desnecessário.

Então nós seríamos descartáveis? Que tipo de conversa era essa? Era sempre assim. Quando tinham que arriscar a pele, quem ia na frente? Azakis e Petri.

Afinal de contas, a propensão deles por aventura e também a notável capacidade de resolver situações complicadas resultaram em uma série de vantagens.
Azakis vivia em uma casa enorme, na linda cidade de Saaran, localizada ao sul do continente, que tinha sido usada até recentemente como um depósito pelos artesãos da cidade. Ele, graças às "vantagens", tinha conseguido a posse e a permissão para alterá-la à vontade.
A parede sul havia sido totalmente substituída por um campo de força semelhante ao utilizado na sua nave espacial, de modo a permiti-lhe ver, diretamente da sua inseparável poltrona auto moldável, a maravilhosa baía. Em caso de necessidade, toda a parede podia ser transformada num sistema tridimensional gigante, onde podiam ser exibidas simultaneamente até doze transmissões da Rede. Mais de uma vez, esse sofisticado sistema de controle e gestão lhe tinham permitido obter informações decisivas antecipadas, possibilitando-o assim resolver com sucesso até crises de grande importância. Ele não saberia renunciar.
Uma parte do ex-depósito era reservada para a sua coleção de souvenirs recuperados em todas as suas missões espaciais realizadas durante os anos. Cada um deles lhe lembrava de algo especial e cada vez que ele estava no meio daquela confusão absurda de objetos estranhos, não podia deixar de agradecer a sua boa sorte, e acima de tudo, seu fiel amigo que, mais de uma vez, tinha salvado a sua vida.
Petri ao contrário, embora sempre se destacasse brilhantemente nos estudos, não era um amante da tecnologia de ponta. Embora fosse capaz de dirigir com facilidade praticamente todos os tipos de veículos em circulação, conhecer perfeitamente cada modelo de arma e todos os sistemas de comunicação locais e interplanetários, preferia, muitas vezes, confiar nos seus instintos e nas suas habilidades manuais para resolver os problemas que se apresentavam. Mais de uma vez, diante de seus olhos, o vira transformar em pouquíssimo tempo, um amontoado disforme de sucata de metal em um meio de transporte ou uma incrível arma de defesa. Poderia construir qualquer coisa que precisasse. Certamente em parte era devido à hereditariedade transmitida pelo seu pai, um hábil artesão, mas acima de tudo, à sua grande paixão pelas artes. Desde jovem, na verdade, se encantava com as habilidades manuais dos artesãos que conseguiam transformar matéria incapacitada em algo de muito útil e tecnológico, deixando intacta dentro deles a beleza.
Um som desagradável, intermitente e alto, o surpreendeu, trazendo-o imediatamente de volta à realidade. O alarme automático de proximidade soou de repente.

Nassíria O hotel
Certamente o hotel não era “cinco estrelas”, mas para alguém como ela, que estava acostumada a passar semanas em uma tenda no deserto, até mesmo um banho de chuveiro podia ser considerado um luxo. Elisa deixou a água quente e reanimadora caindo massagear o pescoço e os ombros. Seu corpo parecia apreciar muito, porque uma série de arrepios agradáveis passou várias vezes por suas costas.

Só percebemos a importâncias de certas coisas quando não as temos mais.
Ela decidiu sair do chuveiro somente dez minutos depois. O vapor tinha embaçado o espelho que estava visivelmente torto. Tentou endireitá-lo, mas assim que soltava, voltava à sua posição original. Preferiu ignorá-lo. Com um pedaço da toalha secou uma gota de água que permanecia sobre ele e se admirou. Quando mais jovem, havia sido repetidamente contatada para trabalhar como modelo e até mesmo como atriz. Talvez agora poderia ser uma estrela de cinema ou a esposa de um rico jogador de futebol, mas o dinheiro nunca a atraíra muito. Preferia suar, comer poeira, estudar textos antigos e visitar lugares remotos. A aventura sempre esteve no seu sangue e a emoção que sentia ao descobrir um artefato antigo, o desenterrar dos restos de milhares de anos, não podia ser comparado a nenhuma outra coisa.
Ela se aproximou do espelho, demais, e viu aquelas malditas rugas finas nas laterais dos olhos. A mão foi automaticamente dentro da necessaire, da qual tirou um desses cremes que “rejuvenescem dez anos em uma semana”. Com cuidado passou por todo o rosto e se olhou atentamente. O que queria, um milagre? Além disso, o efeito seria visível somente após “sete dias”. Ela sorriu para si mesma e para todas as mulheres que foram facilmente enganadas pela publicidade.
O relógio na parede acima da cama marcava 19:40. Nunca conseguiria se preparar em apenas vinte minutos.
Secou-se o mais rápido possível, deixando o cabelo loiro ligeiramente molhado, e ficou na frente do guarda-roupa de madeira escura, onde guardava as poucas roupas elegantes que tinha conseguido levar consigo. Em outros momentos, ela poderia passar horas decidindo o vestido para a ocasião, mas, naquela noite, a escolha era muito limitada. Optou, sem pensar muito, pelo vestido preto curto. Muito bonito, muito sexy, sem ser vulgar, com um decote generoso que certamente valorizaria os generosos seios. Pegou-o e, com um elegante movimento, jogou o vestido na cama.
19:50. Apesar de ser mulher, detestava se atrasar.
Ela olhou pela janela e viu um carro escuro, incrivelmente brilhante, exatamente em frente à porta do hotel. Aquele que deveria ser o motorista, um rapaz vestido com roupas militares, estava encostado no capô, aproveitando a espera para calmamente fumar um cigarro.
Usou lápis e rímel para salientar os olhos, passou um batom rapidamente, e enquanto tentava distribui-lo uniformemente com uma série de beijos no ar, colocou seus brincos favoritos, com dificuldade em achar os “buracos”.
Na verdade, fazia muito tempo que não saía à noite. O trabalho fazia com que ela estivesse sempre viajando ao redor do mundo e nunca fora capaz de encontrar uma pessoa para um relacionamento estável, que durasse mais do que alguns meses. O instinto maternal inato que toda mulher e que ela habilmente fazia questão de ignorar, agora, com a aproximação da maturidade biológica, se fazia presente sempre mais. Talvez fosse hora de pensar seriamente em começar uma família.
Abandonou esse pensamento o mais rápido possível. Colocou o vestido, calçou o único par de sapatos de salto alto de doze centímetros que tinha trazido, e com gestos largos, jogou em ambos os lados do pescoço o seu perfume favorito. Xale de seda, grande bolsa preta. Estava pronta. Uma última olhada no espelho perto da porta confirmou a perfeição do seu vestuário. Deu uma volta e saiu com ar satisfeito.

O jovem motorista, depois de colocar o queixo no lugar, que caíra pela visão de Elisa quando saiu do hotel, jogou o segundo cigarro que acabara de acender e correu para abrir a porta do carro.
— Boa noite, Doutora Hunter. Podemos partir? — o militar perguntou com voz hesitante.
— Boa noite — disse ela, testando o seu maravilhoso sorriso. — Vamos.
— Obrigada pela viagem — acrescentou enquanto entrava no carro, sabendo muito bem que a saia subiria ligeiramente e teria parcialmente mostrado as pernas ao militar envergonhado. Ela sempre gostou de se sentir admirada.

Astronave Theos Alarme de proximidade
O sistema O^OCM fez materializar, bem na frente de Azakis, um objeto estranho cujos contornos, por causa da baixa resolução da visão de longo alcance que o levavam, ainda não estavam bem definidos. Estava se movendo e andava em direção a eles. O sistema de aviso de proximidade avaliou a probabilidade de impacto entre a Theos e o objeto desconhecido em mais de 96%, se ninguém alterasse a rota.
Azakis rapidamente entrou no módulo de transferência mais próximo. — Sala de controle — ordenou ao sistema automatizado.
Depois de cinco segundos, a porta se abriu assobiando e a grande tela central da sala de controle mostrava, ainda muito turva, o objeto que estava se movendo em rota de colisão com a nave.
Quase simultaneamente, outra porta perto dele se abriu e Petri saiu fatigado.
— Que diabos está acontecendo? — perguntou o seu amigo, — Não deveria ter meteoritos nesta área — exclamou com espanto, olhando para a grande tela.
— Não acho que seja um meteorito.
— Se não é um meteorito, então o que é? — Petri perguntou, visivelmente preocupado.
— Se não corrigirmos imediatamente a rota, poderá ver com seus próprios olhos quando estivermos espalhados pela ponte de comando.
Petri imediatamente mexeu nos controles de navegação e ajustou uma ligeira variação na trajetória predefinida.
“Impacto em 90 segundos” comunicou sem emoção a voz feminina do sistema de aviso. “Distância do objeto: 276.000 km, em aproximação.”
— Petri faça alguma coisa e já! — gritou Azakis.
— Estou fazendo, mas essa coisa é muito veloz.
A estimativa da probabilidade de impacto, visível na tela do lado direito do objeto, estava diminuindo lentamente. 90%, 86%, 82%.
— Não vamos conseguir — disse Azakis com um sussurro.
— Meu amigo, ainda não inventaram um “objeto misterioso” que possa esmagar a minha nave — disse Petri, sorrindo diabolicamente.
Com uma manobra que fez os dois perderem o equilíbrio por um instante, Petri acionou os dois motores Bousen em uma inversão de polaridade instantânea. A nave espacial tremeu por longos momentos e somente o sistema sofisticado de gravidade artificial, assegurando uma compensação imediata na variação, que impediu que toda a tripulação acabasse esmagada na parede à frente deles.
— Ótimo trabalho — disse Azakis, dando um tapinha vigoroso no ombro do amigo. — mas agora, como você vai parar a rotação? — os objetos na sala já tinham começado a subir e girar, dando voltas no ambiente.
— Só um minuto — disse Petri, pressionando botões e mexendo os controles.
— É só… — uma série de gotas de suor escorria lentamente da sua testa. — abrir a… — continuou ele, enquanto tudo o que estava na sala voava descontroladamente. Os dois até começaram a se erguer do chão. O sistema de gravidade artificial já não podia compensar a imensa força centrífuga gerada. Eles estavam se tornando cada vez mais leves.
— a… a porta… três! — por fim gritou Petri, enquanto todos os objetos caíram no chão. Uma grande caixa pesada atingiu Azakis exatamente entre a terceira e quarta costela, forçando-o a emitir um gemido enfadonho. Petri, a partir da altura de meio metro de onde foi parar, caiu sobre o painel de instrumentos, em uma posição nem um pouco natural e absolutamente ridícula.
A estimativa do impacto tinha baixado para 18% e continuou a baixar rapidamente.
— Tudo bem? — logo perguntou Azakis, tentando esconder a dor no lado atingido.
— Sim, sim. Estou bem, estou bem — disse Petri, tentando se levantar.
Um momento depois Azakis estava chamando o resto da tripulação, que prontamente comunicou ao seu comandante a ausência de danos a pessoas e bens.
A manobra há pouco executada tinha desviado um pouco a Theos da rota anterior e a queda de pressão causada pela abertura da porta havia sido imediatamente compensada pelo sistema automatizado.

6%, 4%, 2%.
“Distância do objeto: 60.000 km” anunciou a voz.

Ambos estavam segurando a respiração, esperando chegarem à distância de 50.000 km, quando seriam acionados os sensores de curto alcance. Esse momento parecia interminável.
“Distância do objeto: 50.000 km. Sensores de curto alcance: ativos.”
A figura borrada na frente deles de repente ficou nítida. O objeto apareceu na tela, tornando cada detalhe visível. Os dois amigos se olharam, espantados, olhos nos olhos.
— Inacreditável! — exclamaram em uníssono.

Nassíria O restaurante Masgouf
O Coronel Hudson caminhava nervoso para lá e para cá, pela diagonal do corredor em frente à sala principal do restaurante. Praticamente olhava, a cada minuto, o relógio tático que sempre usava em seu pulso esquerdo e que nunca tirava, nem mesmo para dormir. Ele estava tão entusiasmado quanto um adolescente em seu primeiro encontro.
Para matar o tempo, pediu um Martini com gelo e uma fatia de limão ao barman bigodudo que, por baixo de sobrancelhas grossas, observava com curiosidade, enquanto limpava ociosamente alguns copos.
O álcool, obviamente, não era permitido em países islâmicos, mas, para essa noite, havia feito uma exceção. O pequeno restaurante inteiro fora reservado para os dois.
O Coronel, logo após terminar a conversa com a Dra. Hunter, havia imediatamente entrado em contato com o proprietário do restaurante, especificamente pedindo o prato especial Masgouf, do qual o restaurante levava o nome. Devido à dificuldade em encontrar o ingrediente principal, o esturjão do rio Tigre, queria ter certeza de que o local pudesse servi-lo. Além disso, sabendo que são necessárias pelo menos duas horas para prepará-lo, queria que tudo fosse cozinhado sem pressa e com absoluta perfeição.
Para a noite, como o uniforme de camuflagem não seria adequado à situação, decidiu tirar o pó do seu terno escuro Valentino, combinando-o com uma gravata de seda regimental, com listras cinzas e brancas. Os sapatos pretos, engraxados como somente um militar saberia engraxar, eram também italianos. Claro, o relógio tático não combinava com nada, mas jamais poderia ficar sem ele.
— Chegaram — a voz saiu crepitante do receptor, parecido com um telefone celular, que guardava no bolso interno do terno. Desligou o aparelho e olhou através da porta de vidro.
O grande carro escuro desviou de um saquinho amassado que esvoaçava na ligeira brisa da noite e rodopiava preguiçosamente no meio da rua. Com uma manobra rápida, parou em frente à entrada do restaurante. O motorista deixou a poeira abaixar, e em seguida, cautelosamente saiu do carro. Do fone de ouvido escondido na sua orelha direita, escutou vários avisos de “all clear”. Ele olhou atentamente para todas as posições previamente definidas, até estar certo de que tinha identificado todos os seus homens que, em uniforme de combate, cuidariam da segurança dos dois convidados durante o jantar.
A área estava protegida.
Abriu a porta traseira e gentilmente estendendo a sua mão direita, ajudou a convidada a descer do automóvel.
Elisa agradeceu o militar pela gentileza e saiu suavemente do carro. Ela olhou para cima e encheu os pulmões do ar limpo da noite clara, pausando um momento para contemplar o magnífico espetáculo que só o céu estrelado do deserto poderia proporcionar.
O Coronel ficou por um momento indeciso se ia ao seu encontro ou se ficava dentro da sala esperando a sua entrada. Por fim, escolheu se sentar, na esperança de disfarçar melhor a sua agitação. Em seguida, fingindo indiferença, se aproximou do balcão, sentou-se em um banco, descansou o cotovelo esquerdo na madeira escura, balançou um pouco o licor em seu copo e parou para observar a semente do limão se depositar lentamente no fundo.
A porta se abriu com um leve chiado e o motorista militar se inclinou para verificar se tudo estava em ordem. O Coronel deu um leve aceno de cabeça e o militar acompanhou Elisa, convidando-a para entrar com um amplo gesto de mão.
— Boa noite, Dra. Hunter — disse o Coronel, levantando-se do banco e mostrando o seu melhor sorriso. — A viagem foi confortável?
— Boa noite, Coronel — Elisa respondeu com um sorriso deslumbrante. — Foi tudo bem, obrigada. O motorista foi muito gentil.
— Você pode ir, obrigado — o Coronel disse ao motorista com uma voz autoritária. Com uma saudação militar, o jovem se virou e desapareceu na noite.
— Uma bebida, doutora? — perguntou o Coronel, chamando com um aceno da mão o barman bigodudo.
— O mesmo que o senhor — Elisa respondeu imediatamente, apontando para o copo de Martini que o Coronel ainda estava segurando. Então, ela acrescentou: — pode me chamar de Elisa, Coronel, se preferir.
— Perfeito. E você pode me chamar de Jack. “Coronel” vamos deixar para os meus soldados.
É um bom começo, pensou o Coronel.

O barman preparou cuidadosamente o segundo Martini e entregou à recém-chegada. Ela aproximou o próprio copo ao do Coronel e brindou.
— Saúde — exclamou alegremente e deu um grande gole.
— Elisa, devo dizer que esta noite você está realmente maravilhosa — disse o Coronel, passando o olhar da cabeça aos pés da sua convidada.
— Você também não está nada mal. O uniforme pode até ser charmoso, mas prefiro você assim — disse, sorrindo maliciosamente e inclinando a cabeça ligeiramente para um lado.
Jack, um pouco sem jeito, voltou sua atenção para o conteúdo do copo que tinha na mão. Ele o observou por um momento, então bebeu tudo num gole.
— Que tal seguirmos para a mesa?
— Boa ideia — disse Elisa. — estou faminta.
— Pedi que preparassem a especialidade da casa. Espero que você goste.
— Não me diga que você conseguiu que cozinhassem o Masgouf! — ela exclamou com espanto, abrindo os belos olhos verdes. — é quase impossível encontrar o esturjão do Tigre nessa época do ano.
— Para uma companhia como a sua, não poderia faltar o melhor — disse satisfeito o Coronel, vendo que a escolha parecia ter sido apreciada. Ele gentilmente estendeu a mão direita e convidou a doutora para segui-lo. Ela, com um sorriso maroto, apertou a sua mão e se deixou acompanhar à mesa.
O local era decorado no estilo típico local. Luz acolhedora e suave, grandes cortinas em quase todas as paredes, descendo do teto. Um grande tapete com desenhos Eslimi Toranjdar cobria quase todo o chão, enquanto alguns menores foram colocados nos cantos da sala, como que para enquadrar o total. E claro, de acordo com a tradição, a refeição deveria ser consumida enquanto estivessem sentados no chão em almofadas agradáveis e macias, mas, como bom ocidental, o Coronel havia preferido uma mesa “clássica”. Essa fora cuidadosamente preparada e as cores escolhidas para a toalha eram perfeitamente compatíveis com o resto da sala. Um fundo musical em que uma Darbuka
acompanhava a batida Maqsum
com a melodia de um Oud
preenchia de modo delicado a sala toda.

Uma noite perfeita.

Um garçom alto e magro se aproximou e educadamente, com uma reverência, convidou os dois para se sentar. O Coronel fez Elisa se sentar primeiro, ajudando-a com a cadeira e em seguida, sentou-se à sua frente, tomando cuidado para não deixar a gravata cair dentro do prato.
— Aqui é realmente lindo — disse Elisa, olhando ao redor.
— Obrigado — disse o Coronel. — devo confessar que estava preocupado com a sua opinião. Então me lembrei da sua paixão por esses lugares e achei que seria a melhor escolha.
— Pois acertou em cheio! — Elisa exclamou, mostrando mais uma vez seu maravilhoso sorriso.
O garçom abriu uma garrafa de champanhe, e enquanto enchia os copos de ambos, outro se aproximou com uma bandeja na mão, dizendo: — Para começar, por favor, aceite um Most-o-bademjan.

Os dois convidados pareciam satisfeitos. Pegaram os dois cálices e beberam novamente.

A aproximadamente cem metros do local, dois tipos estranhos em um carro escuro mexiam em um sofisticado sistema de vigilância.
— Você viu como o Coronel mima a donzela? — disse sorrindo um homem indiscutivelmente obeso, que estava no banco do motorista, enquanto mordia um enorme sanduíche e derrubava migalhas na barriga e nas calças.
— Foi uma ideia genial colocar um emissor no brinco da doutora — respondeu o outro, muito mais magro, com olhos grandes e escuros, que bebia café de um copo grande de papel marrom. — daqui, podemos ouvir perfeitamente tudo o que eles dizem.
— Não faça asneira e grave tudo — avisou — caso contrário, vão nos fazer pagar por esses brincos.
— Não precisa se preocupar. Conheço muito bem esse aparelho. Não vai escapar nem mesmo um sussurro.
— Devemos averiguar o que a doutora, de fato, descobriu — acrescentou o gordo. — nosso líder tem investido muito dinheiro para seguir com esta investigação secreta.
— Com certeza não será fácil, tendo em vista a forte estrutura de segurança que o Coronel preparou — o homem magro olhou para o céu com cara de sonhador e acrescentou: — se tivessem me dado um milésimo de todo aquele dinheiro, agora estaria deitado sob uma palmeira em Cuba, tendo como única preocupação escolher entre uma Margarita ou uma Piña Colada.
— E talvez com um monte de garotas de biquíni, passando filtro solar em você — disse o gordo, caindo na gargalhada, enquanto o movimento da barriga fazia cair parte das migalhas no chão.

— Esse aperitivo é delicioso — a voz da doutora saiu ligeiramente distorcida pelo pequeno alto-falante no painel. — Devo confessar que não esperava encontrar, por trás dessa fachada de militar rude, um homem tão refinado.
— Bem, obrigado Elisa. Eu também não esperava que, por trás de uma doutora tão altamente qualificada, além de muito bonita, estivesse também uma mulher muito gentil e agradável — disse a voz do Coronel, sempre um pouco distorcida, mas com um volume ligeiramente mais baixo.
— Olha como eles flertam — disse o grandalhão no banco do motorista. — acho que eles vão acabar na cama.
— Eu não tenho tanta certeza — afirmou o outro. — a nossa doutora é muito, muito inteligente e não acho que um jantar e alguns elogios decadentes sejam suficientes para fazê-la cair em seus braços.
— Aposto dez dólares que vão chegar aos finalmentes — disse o homem gordo, estendendo a mão direita para o colega.
— Ok, aceito — exclamou o outro, apertando a mão grande.

Astronave Theos O objeto misterioso
O objeto que se materializou diante dos dois companheiros atônitos definitivamente não era nada que a natureza, apesar de sua imaginação infinita, pudesse ter criado de forma independente. Parecia uma espécie de flor metálica com três pétalas longas, sem haste, e um pistilo central levemente cônico. O lado de trás do pistilo tinha a forma de um prisma hexagonal, com a superfície da base ligeiramente maior que a do cone no lado oposto, e que servia como suporte para a estrutura inteira. As pétalas retangulares se ramificavam dos três lados equidistantes do hexágono, medindo pelo menos quatro vezes mais do que a base.
— Parece um velho tipo de moinho de vento, como aqueles que eram usados séculos atrás, nos grandes prados do leste — disse Petri, sem tirar os olhos do objeto nem por um segundo, à mostra na grande tela.
Azakis sentiu um arrepio nas costas, ao se lembrar de alguns protótipos antigos que os Anciãos sugeriram para ele estudar antes da partida.
— É uma sonda espacial — concluiu Azakis. — vi alguns assim, com design parecido nos velhos arquivos da Rede — disse, enquanto se apressava em encontrar, por meio do N^COM, mais informações sobre o assunto.
— Uma sonda espacial? — Petri disse, e se virou com ar assustado para seu companheiro. — e quando foi lançada?
— Não acho que seja uma das nossas.
— Não é nossa? O que quer dizer, meu amigo?
— Quero dizer que não foi construída nem lançada por nenhum dos habitantes do nosso planeta Nibiru.
A expressão no rosto de Petri estava ficando cada vez mais desnorteada. — Como assim? Não me diga que você acredita naquela estupidez sobre alienígenas também?
— O que eu sei é que nada desse tipo jamais fora construído no nosso planeta. Verifiquei todo o arquivo da Rede e não há nenhuma correspondência com o objeto que vemos. Nem mesmo nos projetos nunca realizados.
— Não é possível! — disse Petri. — o seu N^COM deve estar fora de fase. Verifique de novo.
— Sinto muito, Petri. Já verifiquei duas vezes e tenho certeza de que essa coisa não é nossa.
O sistema de visualização de curto alcance gerou uma imagem tridimensional do objeto, recriando meticulosamente seus mínimos detalhes. O holograma flutuava suavemente no meio da sala de controle, suspenso a meio metro do solo.
Petri, com um movimento da sua mão direita, começou a fazê-lo girar lentamente, examinando cuidadosamente cada detalhe.
— Parece ser feito de uma liga de metal leve — disse Petri, em um tom mais técnico, comparado ao de espanto que inicialmente o arrebatou. — os motores devem ser alimentados por essas três pétalas, que parecem estar cobertas com um tipo de material sensível à luz solar — ele havia finalmente começado a mexer nos comandos do sistema. — o pistilo deve ser uma espécie de antena transceptora e o prisma hexagonal é definitivamente o "cérebro" dessa coisa.
Petri estava movendo o holograma cada vez mais rápido, inclinando-o em todas as direções. De repente parou e disse: — Olhe aqui. Na sua opinião, o que é isso? — perguntou, no momento em que ampliava os detalhes.
Azakis se aproximou o máximo possível. — Parecem símbolos.
— Eu diria dois símbolos — corrigiu Petri — ou melhor, um desenho e quatro símbolos próximos.
Azakis ainda estava procurando ativamente, no N^COM, algo na Rede. Mas não havia absolutamente nada que correspondesse ao objeto à sua frente.
O desenho representava um retângulo, composto por quinze listras horizontais vermelhas e brancas. No canto superior esquerdo, havia um outro retângulo azul, contendo cinquenta estrelas brancas de cinco pontas. À sua direita, estavam quatro símbolos:

JUNO

— Parece uma espécie de escrita — opinou Azakis. — Talvez os símbolos representem o nome de quem criou a sonda.
— Ou talvez seja o seu nome — rebateu Petri. — a sonda se chama “JUNO" e o símbolo dos criadores é aquela espécie de retângulo colorido.
— Seja o que for, não foi feita por nós — afirmou Azakis. — Você acha que poderia ter alguma forma de vida nela?
— Acho que não. Pelo menos, não de nosso conhecimento. O espaço da cápsula posterior, que é o único lugar onde poderia haver qualquer coisa, é muito pequeno para manter um ser vivo.
Enquanto falava, Petri já havia começado a digitalizar a sonda, procurando qualquer sinal de vida dentro. Após alguns momentos, uma série de símbolos apareceu na tela e ele rapidamente os traduziu para o companheiro.
— De acordo com os nossos sensores, não há nada “vivo” ali. Nem parece ter armas de qualquer tipo. Em uma primeira análise, eu diria que essa coisa é uma espécie de nave de reconhecimento de exploração do sistema solar, em busca do quê, não sabemos.
— Pode ser — disse Azakis, — mas a pergunta que devemos nos fazer é: enviada por quem?
— Bem — supôs Petri — se excluirmos a presença dos misteriosos alienígenas, eu diria que os únicos capazes de fazer tal coisa só poderiam ser seus velhos amigos terráqueos.
— O que você está dizendo? A última vez quando os deixamos, mal conseguiam montar um cavalo. Como podem ter atingido um nível de conhecimento como esse em tão pouco tempo? Enviar uma sonda pelo espaço não é uma piada.
— Pouco tempo? — contestou Petri, olhando-o diretamente nos olhos. — não esqueça que, para eles, já se passaram quase 3.600 anos. Considerando que a vida média era de no máximo cinquenta ou sessenta anos, quer dizer que se passaram pelo menos sessenta gerações. Talvez eles se tornaram muito mais inteligentes do que pensamos.
— E talvez seja por isso — acrescentou Azakis, tentando completar o raciocínio do seu amigo — que os Anciãos estavam tão preocupados com esta missão. Eles haviam previsto isso, ou pelo menos, consideraram essa possibilidade.
— Bem, eles poderiam ter mencionado algo para nós. A visão dessa coisa quase me deu um treco.
— Ainda estamos no nível de conjecturas — disse Azakis, esfregando o polegar e o indicador no queixo — mas parece fazer sentido. Vou tentar entrar em contato com os Anciãos e arrancar um pouco mais de informações, se eles tiverem. Você, por sua vez, tente descobrir mais sobre essa coisa. Analise sua rota atual, velocidade, massa, etc. e tente fazer uma previsão sobre o seu destino, quando partiu e quaisquer dados armazenados. Quero saber o máximo possível do que nos espera lá.
— Ok, Zak — disse Petri, enquanto hologramas coloridos com uma infinidade de números e fórmulas flutuavam no ar à sua volta.
— Ah, e não se esqueça de analisar a parte que você identificou como uma antena. Se for real, é capaz de transmitir e receber. Eu não gostaria que o nosso encontro já tivesse sido comunicado para seja quem for que mandou essa sonda.
Dito isto, Azakis caminhou rapidamente em direção à cabine do H^COM, a única, em toda a nave, equipada para comunicações de longa distância, e estava entre as portas dezoito e dezenove dos módulos de transferência interna. A porta se abriu com um leve chiado e Azakis entrou na cabine estreita.
Por que será que a fizeram tão pequena, me pergunto… Pensou ao tentar instalar-se sobre o assento, esse também decididamente minúsculo, que abaixava automaticamente. Talvez queriam que fosse usado o mínimo possível…
Quando a porta se fechou atrás dele, ele começou a executar uma série de comandos no console à sua frente. Precisou esperar vários segundos para o sinal estabilizar. De repente, na tela holográfica, semelhante à que tinha em seus aposentos, começou a aparecer a face magra e marcada pelos anos do seu superior Ancião.
— Azakis — disse o homem sorrindo e lentamente erguendo a mão ossuda em saudação. — o que o fez chamar, com tanta urgência, este pobre velho?
Ele nunca foi capaz de saber exatamente a idade do seu superior. Ninguém tinha a permissão de saber informações tão pessoais de um membro dos Anciãos. Claro que já tinha visto vários voltas ao redor do sol. No entanto, seus olhos dançavam da esquerda para a direita com uma vitalidade que nem ele tinha.
— Fizemos um contato muito surpreendente, pelo menos para nós — começou Azakis sem preâmbulos, tentando olhar diretamente nos olhos do seu interlocutor. — quase nos chocamos com um objeto estranho — continuou ele, estudando a expressão do rosto do Ancião.
— Um objeto? Explique melhor, meu rapaz.
— Petri ainda está analisando, mas pensamos que possa ser algum tipo de sonda e tenho certeza de que não é nossa — o Ancião arregalou os olhos. Até mesmo ele parecia surpreso.
— Encontramos alguns símbolos estranhos gravados na nave em uma língua desconhecida — acrescentou. — estou enviando todos os dados.
O olhar do Ancião pareceu se perder por um momento no vazio, enquanto pelo seu O^OCM, analisava o fluxo de informações que chegava.
Depois de alguns longos momentos, seus olhos voltaram para o seu interlocutor e, em um tom que não deixou escapar nenhum tipo de emoção, disse: — Convocarei imediatamente o Conselho dos Anciãos. Tudo indica que suas deduções iniciais estão corretas. Se de fato for o caso, devemos rever imediatamente os nossos planos.
— Aguardaremos notícias — e assim dizendo, Azakis encerrou a comunicação.

Nassíria O jantar
O Coronel e Elisa já estavam esvaziando a terceira taça de champanhe e o clima se tornando decididamente mais casual.
— Jack, tenho que dizer: esse Masgouf é divino. É impossível terminá-lo, é enorme.
— Sim, é realmente ótimo. Devemos dar os parabéns ao chef.
— Talvez eu devesse casar com ele e fazê-lo cozinhar para mim — disse Elisa, rindo de modo exagerado. O álcool já estava surtindo seus efeitos.
— Bem, não, deve entrar na fila. Cheguei antes — arriscou, pensando que a frase não seria exatamente inapropriada. Elisa fingiu não perceber e continuou a mordiscar o seu esturjão.
— Você não é casado, é?
— Nunca tive tempo para essas coisas.
— É uma desculpa muito velha — disse ela, o olhando maliciosamente.
— Bem, na verdade cheguei perto uma vez, mas a vida militar não é exatamente adequada para o casamento. E você? — acrescentou, fugindo de um assunto que parecia que ainda doía. — Já foi casada?
— Está brincando? E quem suportaria ter uma mulher que passa a maior parte do tempo viajando pelo mundo para escavar o subsolo como uma toupeira e que gosta de profanar túmulos de milhares de anos?
— É — disse Jack, sorrindo amargamente — obviamente não somos feitos para o casamento — e quando levantou a taça, propôs um melancólico "saúde a nós".
O garçom chegou com mais Samoons
fresquinhos, felizmente interrompendo o momento de ligeira tristeza.
Jack, aproveitando a interrupção, tentou dissipar rapidamente uma série de memórias que voltavam à sua mente. Eram coisas do passado. Agora ele tinha uma bela mulher ao seu lado e tinha que se concentrar apenas nela. Não era tão difícil.
A música de fundo, que parecia envolvê-los suavemente, era apropriada. Elisa, iluminada pelas três velas colocadas no meio da mesa, estava radiante. Seu cabelo era de tons de ouro e cobre e sua pele era lisa e bronzeada. Seus olhos penetrantes de um verde profundo. Os lábios macios estavam lentamente tentando separar um pedaço de esturjão do osso entre os dedos. Era tão sexy.
Elisa não sabia se deixava escapar aquele momento de fraqueza do Coronel. Apoiou o osso na borda do prato e sugou, com aparente descuido, o indicador, e em seguida, o polegar. Abaixou a cabeça e olhou para ele tão intensamente, que Jack pensou que seu coração fosse saltar para fora do peito e acabar diretamente no prato.
Percebendo que já não controlava a situação e acima de tudo, a si mesmo, o Coronel logo tentou se recuperar. Era um menino crescido demais para fazer a figura do adolescente apaixonado, mas aquela garota tinha algo que o atraía terrivelmente.
Ele respirou fundo, esfregou o rosto com as mãos e tentou dizer: — Que tal terminar também esse último pedacinho?
Ela sorriu, delicadamente pegou o pedaço de esturjão, e inclinando-se para frente, levou-o até a boca dele. Nessa posição, o decote mostrava parcialmente os seios fartos. Jack, visivelmente constrangido, deu apenas uma mordida, porém, sem evitar que os dedos dela tocassem seus lábios. Sua excitação cresceu mais e mais. Elisa estava brincando com ele como um gato brinca com um rato, e Jack não conseguia se opor de forma alguma.
Então, com um ar de menina inocente, Elisa sentou-se confortavelmente no seu lugar e, como se nada tivesse acontecido, fez um gesto com a mão para o garçom alto e magro, que prontamente chegou.
— Eu acho que é hora de um agradável chá com cardamomo. O que acha, Jack?
Ele, que ainda não tinha se recuperado do clima anterior, balbuciou algo como “Bem, sim, ok… " E enquanto endireitava a jaqueta, tentando ser mais informal, acrescentou: — Deve ser ótimo para a digestão.
Percebeu ter dito algo ridículo, mas naquele momento não conseguia pensar em algo melhor.
— É tudo muito gostoso Jack, é uma noite muito agradável, mas não se esqueça da finalidade para a qual estamos aqui esta noite. Eu tenho que mostrar uma coisa, lembra?
O Coronel estava pensando em tudo no momento, exceto trabalho. Mas ela tinha razão. Existiam coisas em jogo muito mais importantes que um estúpido flerte. O fato era que, para ele, aquele flerte não parecia nada estúpido.
— Claro — respondeu tentando recuperar seu ar autoritário. — mal posso esperar para saber o que você descobriu.

A essa altura, o homem gordo do carro a pouca distância, que estava ouvindo tudo disse: — Essa cachorra! Todas as mulheres são iguais. Elas nos seduzem, nos levam para as estrelas, e depois agem como se nada tivesse acontecido.
— Eu acho que seus dez dólares em breve estarão em meu bolso — disse o magro, com uma grande risada.
— Na verdade não me importa nada quem a nossa doutora leva pra cama ou não. Não esqueça que estamos aqui apenas para descobrir tudo o que ela sabe — E enquanto tentava ficar mais confortável na cadeira devido a dores das costas, acrescentou: — devíamos ter colocado uma boa câmera dentro daquele maldito restaurante.
— Sim, talvez debaixo da mesa, desse jeito poderíamos ter olhado suas coxas.
— Cretino. Mas quem foi o idiota que selecionou você para esta missão?
— Nosso chefe, meu amigo. E eu aconselho você a não insultá-lo, pois ele sabe muito bem como colocar escutas e não teria dificuldade até mesmo em colocar neste carro.
O gordo se assustou e por um momento pensou que seu coração tivesse parado de bater. Estava tentando ter uma carreira e insultar o superior imediato não era a melhor maneira de avançar.
— Pare de falar besteira — disse, tentando ser sério e profissional. — pense em fazer um bom trabalho e vamos retornar à base com algo de concreto — Dizendo isso, olhou fixamente para um ponto indefinido na escuridão da noite através dos para-brisas levemente embaçados.

Elisa tirou da sua bolsa o seu inseparável tablet, apoiando-o sobre a mesa, e começou a rolar pelas fotos. O Coronel, curioso, tentou focalizar algo, mas o ângulo não permitia. Ela, encontrando o que queria, levantou-se e sentou-se na cadeira ao lado dele.
— Então — começou Elisa — fique confortável porque a história é longa. Vou tentar resumir o máximo possível.
Rolando rapidamente com o indicador na tela, ela abriu uma foto de uma tábua entalhada com desenhos estranhos e escritas cuneiformes.
— Esta é uma foto de uma das tábuas que foram encontradas no túmulo do rei Balduíno II de Jerusalém — continuou Elisa — que foi supostamente o primeiro, em 1119, a abrir a Maarat Hamachpelah, também conhecida como a Caverna dos Patriarcas, onde parece que estão sepultados Abraão e seus dois filhos Isaac e Jacó. Estas sepulturas deveriam se encontrar no subsolo do que é hoje chamado de Mesquita ou Santuário de Abraão em Hebron, na Cisjordânia — Nesse momento, ela mostrou uma foto da mesquita.
— Dentro dos túmulos — continuou Elisa — o rei teria encontrado, além de inúmeros objetos de vários tipos, até mesmo um número de tábuas que pertenciam a Abraão. Acredita-se que possam representar uma espécie de diário que ele teria mantido e no qual escreveu os momentos mais importantes da sua vida.
— Uma espécie de “anotações de viagem” — Jack tentou antecipar, na esperança de fazer uma boa impressão.
— De certa forma, sim, já que para a época, ele realmente cobriu muitos quilômetros.
Ao deslizar em outra fotografia, Elisa continuou explicando: — Os maiores especialistas da sua língua e do modo gráfico do tempo tentaram traduzir o que foi gravado nessa tábua. As opiniões eram, naturalmente, bastante divididas em algumas partes, mas todos concordaram que este — e ampliou um detalhe da imagem — seja traduzível como “vaso” ou “ânfora dos Deuses”. Além disso, existem palavras como “enterro”, “secreto” e “proteção”, também bastante claras.
Jack estava começando a ficar um pouco confuso, mas, acenando com a cabeça, tentou convencer Elisa de que estava seguindo tudo perfeitamente. Ela olhou para ele por um momento, em seguida, passou a dizer: — Por outro lado, este símbolo — e tocou na tela para torná-lo o mais claro possível — segundo alguns, deve ser uma sepultura: o túmulo de um Deus. E esta parte deve descrever um dos Deuses que adverte ou, até mesmo, ameaça o povo reunido em torno dele.
O Coronel, um pouco por causa do álcool, um pouco pelo perfume inebriante de Elisa que emanava ao seu redor, e um pouco mais pelos olhos dela, nos quais estava mergulhado, não estava entendendo mais nada. Ele continuou, no entanto, a acenar como se tudo estivesse claro.
— Então, resumindo — prosseguiu Elisa, notando a confusão de Jack — os peritos interpretaram o conteúdo desta tábua como sendo uma representação de um evento que ocorreu na época de Abraão em que um suposto deus, ou, mais genericamente deuses, teriam sido secretamente enterrados perto de sua sepultura, algo muito precioso, pelo menos para eles.
— Parece uma afirmação muito genérica — começou Jack, tentando opinar. — dizer que existe algo valioso enterrado perto da sepultura dos deuses certamente não é como ter as coordenadas do GPS. Pode se referir a qualquer coisa, em qualquer lugar.
— Você está certo, mas todas as inscrições, especialmente aquelas mais antigas, de alguma forma devem ser interpretadas e contextualizadas. E é para isso que existe os especialistas e, aliás, eu sou um deles — Ao dizer isso, começou a imitar os movimentos de uma modelo sendo fotografada por paparazzi.
— Ok, ok. Eu sei que você é competente. Mas agora tente explicar para nós, pobres mortais.
— Basicamente — falou Elisa, se recompondo — depois de analisar e comparar artefatos históricos de todos os tipos, histórias verdadeiras, lendas, rumores e assim por diante, os maiores cérebros do mundo afirmaram que esta reconstrução, de fato, tem um fundo de verdade. Com esse embasamento, eles têm lançado arqueólogos de todo o mundo em busca desse lugar misterioso.
— Mas então, onde o ESALD se encaixa nisso? — O Coronel estava recuperando as suas funções cerebrais. — disseram-me que esta pesquisa tinha como escopo recuperar artefatos imaginários, de origem alienígena.
— E talvez seja exatamente isso — disse Elisa. — e agora a opinião geral é que estes famosos deuses, que nos tempos antigos vagavam pela Terra, seriam simplesmente humanoides vindos de um planeta fora do nosso sistema solar. Devido à superioridade tecnológica e grandes conhecimentos médicos e científicos, não seria tão difícil serem confundidos com deuses capazes de realizar todo tipo de milagre.
— Sim — Jack interrompeu. — eu também, se chegasse em um helicóptero Apache no meio de uma tribo da Amazônia central e começasse a lançar mísseis por toda parte, poderia ser confundido com uma divindade zangada.
— Esse é exatamente o efeito que essas criaturas provocariam nos homens da época. Alguns dizem até que os alienígenas teriam incutido a semente da inteligência no Homo Erectus, transformando-o, em poucas dezenas de milhares de anos, no que hoje conhecemos como Homo sapiens.
Elisa olhou atentamente para o Coronel, que parecia estar cada vez mais surpreendido e decidiu dar uma rasteira. — Na verdade, como chefe desta missão, pensei que você estivesse mais informado.
— Eu também pensei — Jack falou. — obviamente, os superiores seguem a filosofia de que quanto menos se sabe, melhor — A raiva estava começando a substituir o sentimentalismo anterior.
Percebendo isso, Elisa colocou sua mão sobre a mesa e ficou a poucos centímetros do rosto do Coronel, que por um momento prendeu a respiração pensando que ela queria beijá-lo, e exclamou: — Agora vem a melhor parte.
Com um movimento rápido voltou ao seu lugar e mostrou outra fotografia. — Enquanto todos se jogaram na busca por essa famosa "sepultura dos deuses", indo vasculhar as pirâmides egípcias, os túmulos dos deuses por excelência, formulei uma interpretação diferente da que está gravada na tábua e acho que é o caminho certo. Veja isto — e mostrou orgulhosa a imagem que representava o texto de acordo com a sua interpretação.

Os dois comparsas, que de dentro do carro estavam ouvindo a conversa entre os dois, dariam qualquer coisa para poderem ver as fotos que a doutora mostrava ao Coronel.
— Droga! — o gordo praguejou. — temos de encontrar uma maneira de pôr as mãos nesse tablet.
— Tomara que um dos dois leia em voz alta — disse o magro.
— Tomara também que este “jantar romântico” acabe logo. Estou cansado de ficar aqui no escuro e além do mais, estou morrendo de fome.
— Fome? Do que você está falando? Você comeu até os meus sanduíches.
— Nem todos, meu caro. Sobrou um e pretendo devorá-lo — e rindo satisfeito, se virou para pegar o saquinho de papel no banco de trás. Ao girar o joelho bateu exatamente no botão de liga/desliga do sistema de gravação, que emitiu um fraco bip e desligou.
— Seu idiota desajeitado, tome cuidado! — O magro se apressou para ligar o instrumento de novo. — agora tenho que reiniciar o sistema e isso vai levar no mínimo um minuto. Reze para que eles não digam nada de importante, caso contrário, vou encher sua bunda gorda de chutes e pontapés daqui até o Golfo Pérsico!
— Desculpe — disse o homem gordo, quase sussurrando. — acho que é hora de começar uma dieta.

"Os deuses enterraram um vaso com um valioso conteúdo ao sul do templo e ordenaram para que as pessoas não se aproximassem até que eles voltassem, caso contrário, terríveis calamidades se abateriam sobre todas as nações. Quatro guardiões flamejantes foram posicionados para proteger o local."

— Essa é a minha tradução — Elisa disse com orgulho. — a palavra exata para mim não é “sepultura” mas “templo”, e Zigurate de Ur, onde eu estou conduzindo minha pesquisa, não é nada mais que um templo erguido para os deuses. Claro, dirá que de Zigurate por aqui há muitos, mas nenhum é tão perto da casa que pertencia ao homem que supostamente escreveu as tábuas, o nosso amado Abraão.
— Interessante — O Coronel estava examinando de perto o texto. — na verdade, o lugar que tem sido indicado por todos como a “Casa de Abraão” está a apenas umas centenas de metros do templo.
— Além disso, se esses seres fossem realmente extraterrestres, — continuou Elisa — imagine o quão interessante esse “vaso” poderia ser para os militares. Talvez até mais do que o seu “conteúdo valioso”.
Jack pensou por um momento, depois disse: — Esse é o motivo de todo esse interesse por parte do ELSAD. O vaso enterrado poderia ser muito mais do que um simples recipiente de barro.
— Exatamente. E agora, a reviravolta — disse Elisa teatralmente. — Senhoras e senhores, eis o que eu encontrei hoje de manhã.
Tocou a tela e uma nova foto apareceu. — Mas é o mesmo símbolo que estava na tábua — exclamou Jack.
— Exato. Mas só tirei essa foto hoje — disse Elisa, satisfeita. — Aparentemente Abraão usou o mesmo símbolo que os sumerianos já tinham usado para representar os deuses: uma estrela com doze planetas em torno de si e que, aliás, achei gravada na tampa do “recipiente” que estamos desenterrando.
— Pode não significar nada — disse Jack. — talvez seja apenas uma coincidência. Esse símbolo poderia ter mil significados.
— Ah é? E o que acha deste?— e ela lhe mostrou a última foto. — nós tiramos esta do lado de fora do recipiente, com o nosso equipamento de raio-X portátil.
Tudo o que Jack podia fazer era olhar estupefato, com os olhos esbugalhados.

Astronave Theos Análise de dados
Petri ainda estava absorto na análise da sonda quando Azakis, retornando à ponte, disse ao seu amigo: — Mais tarde vão nos avisar.
— Isso significa que estamos por nossa conta — disse Petri amargamente.
— Mais ou menos como sempre, não? — Azakis respondeu, dando um tapinha nas costas do companheiro de viagem. — O que você pode me dizer sobre esse monte de sucata?
— Além do fato de que boa parte da fuselagem ficou arranhada, posso assegurar que nenhuma mensagem foi enviada pelo nosso amigo de três pás. A sonda parece ter sido projetada com o objetivo de analisar e estudar corpos celestes; um tipo de viajante solitário no espaço, que registra os dados e os transmite periodicamente para a base — e mostrou o detalhe da antena no holograma que flutuava na sala.
— Provavelmente passamos perto muito rápido para ter registrado a nossa presença — Azakis arriscou uma suposição.
— Não sei, meu velho. Seus instrumentos de bordo são programados para analisar objetos a distâncias de centenas de milhares de quilômetros e nós passamos tão perto que, se não estivéssemos num vácuo, o movimento do ar faria ele girar como um pião até agora.
— E agora que nos afastamos, você acha que poderia detectar a nossa presença?
— Acho que não. Somos pequenos e rápidos demais para sermos de interesse.
— Bem — exclamou Azakis — essa me parece uma boa notícia, finalmente.
— Eu tentei fazer uma análise do método de transmissão de dados utilizado pela sonda — continuou Petri. — Parece que ainda não está equipada com tecnologia de “vórtice de luz” como a nossa, mas utilizando um antigo sistema de modulação de frequência.
— Não era o que usaram os nossos antecessores antes da Grande Revolução
? — perguntou Azakis.
— Exato. Não era muito eficiente, mas nos permitiu trocar informações em todo o planeta por um longo período e definitivamente nos ajudou a chegar onde estamos agora.
Azakis sentou na cadeira de comando, mordendo por um momento o dedo indicador, e depois disse: — Se este é o sistema de comunicação atualmente em uso na Terra, talvez possamos captar um pouco de suas transmissões.
— Sim, talvez um bom filme pornô — disse Petri, mostrando levemente a língua no lado esquerdo da boca.
— Pare com essas bobagens. Em vez disso, por que não tenta ajustar o nosso sistema de comunicação secundário com essa tecnologia? Gostaria de chegar lá o mais preparado possível.
— Entendi. Serão muitas horas de trabalho nesse compartimento minúsculo.
— O que você acha de comer algo antes? — começou Azakis, antecipando o pedido de seu amigo, que imaginou, viria em seguida.
— Esta é a primeira coisa sensata que eu ouvi você dizer hoje — respondeu Petri. — toda essa agitação abriu meu apetite!
— Ok, vamos fazer uma pausa, mas eu decido o que pegar. O fígado de Nebir que você escolheu ontem ficou no meu estômago tanto tempo que parecia ter criado raízes.

Dez minutos depois, enquanto os dois companheiros de viagem consumiam sua refeição, na Terra, no controle de missões da NASA, um jovem engenheiro observou uma estranha variação na rota da sonda que estava monitorando.
— Chefe — disse ele ao microfone acoplado ao seu fone de ouvido. — Acho que temos um problema.
— Que tipo de problema? — prontamente respondeu o engenheiro responsável pela missão.
— Parece que Juno, por alguma razão ainda desconhecida, sofreu uma ligeira variação na rota estabelecida.
— Variação? De quanto? Mas, devido a quê? — Já estava suando frio. O custo dessa missão era exorbitante e nada podia dar errado.
— Estou analisando os dados neste momento. A telemetria indica uma mudança de 0,01 grau sem razão aparente. Parece que tudo está funcionando corretamente.
— Poderia ter sido atingida por um pedaço de rocha — arriscou o engenheiro sênior. — na verdade, o cinturão de asteroides não está tão longe.
— Juno está praticamente na órbita de Júpiter, e lá não deveria existir nenhuma — afirmou com tato o jovem.
— Então, o que aconteceu? Deve ser uma falha de algum tipo — Pensou por um segundo, então, ordenou: — eu quero um duplo controle sobre toda a instrumentação de bordo. Resultados dentro de cinco minutos no meu computador — e desligou.
O jovem engenheiro ficou subitamente consciente da responsabilidade que recebera. Observou as próprias mãos: tremiam ligeiramente. Decidiu ignorá-las. Pediu ajuda a um colega para executar um check-up diferencial da sonda e cruzou os dedos. Os computadores começaram a realizar sequencialmente todos os controles programados, e alguns minutos mais tarde, em sua tela, apareceram os resultados:

Check-up completo. Todos os instrumentos estão em funcionamento.

— Parece tudo em ordem — disse o colega.
— Mas que diabos aconteceu? Se não descobrirmos dentro dos próximos dois minutos, o chefe vai nos massacrar — começou fervorosamente a digitar no teclado que estava na frente dele.
Nada. Tudo estava funcionando perfeitamente.
Tinha que inventar alguma coisa e rápido. Começou a tamborilar os dedos sobre a mesa. Continuou por cerca de dez segundos, em seguida, decidiu apelar para a primeira regra não escrita do manual de conduta no local de trabalho: nunca contradizer o chefe.
Ligou o microfone e disse: — Chefe, você estava certo. Foi apenas um pequeno asteroide troiano que desviou a sonda. Felizmente, ele não bateu diretamente, só passou perto. Evidentemente, a massa do asteroide criou uma pequena força gravitacional na nossa Juno, desse modo, causando a ligeira modificação do curso. Estou mandando os dados — e prendeu a respiração.
Depois de intermináveis segundos, no fone de ouvido veio a voz orgulhosa do chefe: — Eu tinha certeza. Rapaz, o instinto do velho lobo nunca erra — E acrescentou: — preparem-se para ativar os motores da sonda e corrigir a rota. Erros não serão admitidos — e encerrou a chamada. Um segundo depois, voltou dizendo: — bom trabalho, rapazes.
O jovem engenheiro percebeu que o sangue começava a fluir de novo em seu corpo. Seu coração batia tão forte que podia senti-lo batendo em seus ouvidos. No fim das contas, poderia ser exatamente o que acontecera. Ele virou seu olhar para o colega, e erguendo o polegar, fez o sinal de ok. O outro respondeu com uma piscadela. Tinham se safado, pelo menos até o momento.

Nassíria Depois do jantar
O sistema de registro emitiu um duplo bipe e se reativou. A voz da doutora voltou a ser reproduzida pelo pequeno alto-falante no interior da máquina. "Acho que é hora de ir, Jack. Amanhã de manhã preciso levantar cedo para continuar as escavações."
"Ok." respondeu o Coronel. "Vou agradecer o chef, e depois podemos ir."
— Porca miséria — disse o magro — por sua causa perdemos a melhor parte.
— Ah por favor, não fiz de propósito — o gordo se justificou. — podemos dizer que houve um mau funcionamento do sistema e que não conseguimos gravar a conversa toda.
— Sou sempre eu a salvar a sua pele — disse o outro.
— Vou compensar isso. Já tenho um plano para colocar as mãos no tablet da nossa doutora — Ele espremeu o nariz entre o polegar e o indicador, depois disse: — vamos entrar esta noite em seu quarto e copiar todos os dados sem que ela perceba.
— E o que faremos se ela acordar, botar uma canção de ninar?
— Não se preocupe, amigo. Tenho alguns truques na manga — e piscou.

Enquanto isso, no restaurante, Jack e Elisa estavam se preparando para sair. O Coronel ligou o comunicador portátil e contatou a escolta: — Estamos saindo.
— Aqui fora está tudo tranquilo, Coronel — respondeu uma voz no fone de ouvido.
Cautelosamente, o Coronel abriu a porta e observou atentamente a área à sua volta. Do lado de fora, em pé ao lado do carro, ainda estava o soldado que havia acompanhado Elisa.
— Você pode ir, rapaz — ordenou o Coronel. — acompanharei a doutora de volta.
O soldado ficou em posição de sentido, fez continência e dizendo algo em seu comunicador, desapareceu nas sombras.
— Foi uma noite maravilhosa, Jack — disse Elisa ao sair. Respirou profundamente o ar fresco da noite e disse: — Há muito tempo que não passava uma noite assim. Muito obrigada — e abriu um dos seus maravilhosos sorrisos.
— Vamos, não é muito seguro ficar ao ar livre nesta área — e dizendo isso, abriu a porta e ajudou a doutora a entrar no carro.
O grande carro escuro, dirigido pelo Coronel, partiu veloz, deixando para trás uma grande nuvem de poeira.
— Eu também me diverti muito. Nunca pensei que uma noite com uma "doutora sabe tudo" pudesse ser tão agradável.
— Sabe tudo? É assim que me considera? — e virou para o outro lado, fingindo estar ofendida.
— Sabe tudo sim, mas também muito simpática, inteligente e muito sexy — Como ela estava olhando para fora, ele aproveitou a oportunidade para acariciar suavemente o cabelo atrás de sua nuca.
O contato causou-lhe uma série de arrepios agradáveis que percorreram sua coluna vertebral. Não podia ceder tão rápido. Sua excitação, no entanto, estava aumentando cada vez mais. Decidiu não dizer nada e aproveitar aquela pequena e agradável massagem. Jack, encorajado pela falta de resistência, continuou acariciando o longo cabelo. De repente, ele começou a deslizar sua mão, primeiro em seu ombro, em seguida, no braço, seguindo mais e mais para baixo, até tocar em seus dedos suavemente. Ela, sempre virada para a janela, pegou a sua mão e segurou com firmeza. Era uma mão grande e forte. Esse contato lhe dava segurança.

Não muito longe dali, um outro carro escuro estava seguindo os dois, tentando desvendar algum outro diálogo interessante.
— Acho que aqueles dez dólares vão acabar no meu bolso, meu velho — disse o homem gordo. — agora ele a leva ao hotel, ela o convida para uma bebida e pronto.
— Reze para que não acabe assim, senão como vamos copiar os dados do tablet?
— Raios, não tinha pensado nisso.
— Você nunca pensa em nada que não acabe no seu estômago furado.
— Vai, não deixe que fiquem muito longe — disse o gordo, ignorando a provocação. — não quero perder o sinal de novo.

Ficaram de mãos dadas, sem dizer nada, olhando através dos para-brisas. O hotel estava ficando mais perto e Jack se sentia desajeitado. Não era a primeira vez que ele saía com uma mulher, mas naquela noite, sentiu surgir de novo toda a timidez que o havia torturado na juventude e que pensou ter superado. Esse contato tão prolongado estava paralisando-o. Talvez ele devesse falar alguma coisa para quebrar o silêncio constrangedor, mas temendo que qualquer palavra arruinasse o momento mágico, decidiu postergar.
Graças à transmissão automática, ele não precisava remover a mão para mudar de marcha e dirigir na noite.
No entanto, voltavam à mente de Elisa, um por um, todos os supostos homens da sua vida. Diferentes histórias, tantos sonhos, projetos, tanta alegria e felicidade, mas sempre terminando em decepção, amargura e dor. Era como se o destino já tivesse decidido tudo para ela. No nível profissional, certamente levara uma vida de satisfação e reconhecimento, mas parecia que ninguém estaria ao seu lado para compartilhar. Lá estava, em um país estrangeiro, na noite, de mãos dadas com um homem que até então, meramente considerara um obstáculo para seus planos, mas que a tratava com muita ternura e afeição. Perguntou-se, mais de uma vez, o que deveria fazer.
— Está tudo bem? — perguntou Jack com preocupação, vendo os olhos dela lacrimejarem mais e mais.
— Sim, obrigada, Jack. É só um momento de tristeza. Já vai passar.
— Será que é por minha causa? — perguntou depressa o Coronel. — disse ou fiz algo de errado?
— Não, pelo contrário — ela respondeu rapidamente, e com uma voz muito doce, acrescentou: — fique perto de mim, por favor.
— Estou aqui. Não se preocupe. Não deixarei que nada te aconteça, ok?
— Obrigada, muito obrigada — disse Elisa, enquanto tentava enxugar as lágrimas que lentamente caíam por suas bochechas. — você é um tesouro — Jack permaneceu em silêncio e apertou sua mão ainda mais firmemente.
O letreiro do hotel apareceu no fim da estrada. Fizeram todo o caminho sem dizer uma palavra. Em seguida, o Coronel diminuiu a velocidade e parou o carro junto à entrada. Os dois se olharam intensamente. Por um longo momento ninguém se atreveu a falar. Jack sabia que seria sua vez de dar o primeiro passo, mas Elisa se antecipou: — Agora você deve me dizer que foi uma bela noite, que sou maravilhosa e eu devo convidá-lo a subir para uma bebida.
— É a prática habitual — disse Jack, um pouco surpreso. — deveria ser assim se você fosse como as outras, mas não é o que eu penso — Ele respirou fundo e continuou: — eu acho que você é alguém muito especial e passar esta noite juntos me deu a oportunidade de conhecê-la melhor, e descobri muitas coisas que eu não esperava de uma “arqueóloga”.
— Considero isso um elogio — disse ela, tentando diminuir um pouco o drama.
— Por trás dessa armadura de mulher forte e indestrutível, acredito que se esconde uma menina delicada e assustada. Você é uma garota doce e com uma sensibilidade única.
Talvez ele se arrependeria do que estava para dizer, mas tomou coragem e continuou: — francamente, não tenho interesse em uma noite de sexo que será arquivada depois, como tantas outras absolutamente inúteis e que na manhã seguinte não deixam nada além de um imenso vazio. Eu quero mais de você. Confesso que sempre gostei de você — Agora ele não podia mais se conter. Pegou as duas mãos dela com as suas, e apertando-as, continuou: — desde que nos conhecemos em meu escritório, percebi que havia algo de singular em você. Inicialmente eu estava, obviamente, atraído por sua beleza, mas então, a sua voz, sua maneira de falar, seus gestos, sua maneira de andar, seu sorriso… — parou por um momento, e então acrescentou: — fui enfeitiçado pelo seu charme. Você roubou meu coração. Não sabia como viveria sem você e esta noite não me fez mudar de ideia.
Elisa, que não esperava uma declaração desse tipo, ficou muda por um momento. Lentamente, sem olhá-lo nos olhos, aproximou-se dele. Hesitou por um momento, então o beijou.
Foi um beijo longo e intenso. Emoções antigas e novas surgiram nas mentes de ambos. Elisa de repente interrompeu o beijo e, permanecendo apenas a poucos centímetros dele, disse: — Obrigada por suas palavras, Jack. Eu também não queria que nosso encontro terminasse com uma noite barata de sexo. Essa noite me deu a oportunidade de saber mais sobre você e apreciar o tipo de homem que você é. Jamais teria pensado que além do “coronel” severo havia uma pessoa terna e sensível. Devo confessar que não sentia meu coração bater tão forte há muito tempo. Sei que já não sou mais uma garotinha, mas não quero fazê-lo subir comigo agora e estragar tudo — Fez uma longa pausa, depois acrescentou: — eu gostaria muito de vê-lo de novo.
Ela o beijou mais uma vez, saiu do carro e entrou correndo no hotel. Tinha medo de olhar para trás e não conseguir manter sua palavra.
Jack a seguiu com os olhos até desaparecer além porta giratória do hotel. Ficou observando as portas girando até pararem completamente. Nesse ponto, deu uma última olhada no letreiro cintilante do hotel, apertou o acelerador e, com um cantar de pneus, desapareceu na noite.

As duas figuras sombrias, que seguiam o casal, estacionaram o carro na parte de trás do hotel, tomando cuidado para não serem notados. De lá, podiam ver a janela do quarto de Elisa. Depois de quase um minuto, a luz foi acesa.
— Ela entrou e está sozinha — disse o gordo.
O magro logo lembrou ao outro que tinha perdido a aposta. — Amigo, passa a grana pra cá — e esfregou o indicador e o polegar.
— Bem, esperava de tudo, menos que fosse acabar assim — disse o homem obeso. — nosso querido Coronel parece estar caidinho.
— Sim, e ela também.
— Realmente um lindo casal — disse o homem gordo com risada habitual. — agora vamos esperar até que a garota vá pra cama, depois, entramos no quarto dela e copiamos todos os dados do tablet — Saiu do carro e acrescentou: — enquanto isso, prepare o equipamento. Fique atento para ver se ela apagou a luz.

Elisa se sentia torturada por mil pensamentos. Tinha feito bem em deixá-lo assim? O que ele estaria pensando? Ele realmente queria vê-la novamente? Afinal, foi ele mesmo a propor um adiamento. Sem dúvida, Jack tinha lhe dado uma ótima demonstração de seriedade. Eram realmente sinceros os sentimentos que, com tantas palavras maravilhosas, tinha expressado ou eram apenas uma estratégia para jogá-la cada vez mais em uma rede inteligentemente preparada? Não suportaria outra decepção amorosa, mais dor, mais sofrimento. Decidiu não pensar, por enquanto. O objetivo que estabelecera para si mesma fora alcançado: o Coronel concedeu mais duas semanas para concluir a sua pesquisa. O resto eram apenas expectativas e agora ela tinha aprendido a não ter muitas ilusões. Ela não podia dar-se o luxo de cair em armadilhas novamente. Não seria capaz de levantar-se mais uma vez.
Tirou a roupa e se jogou na cama. O álcool tinha surtido seu efeito. Agora, seu maior desejo era apenas dormir profundamente. Apagou a luz e quase no mesmo instante adormeceu.
Jack, enquanto dirigia em direção à base, pensava mais ou menos as mesmas coisas. Havia decepcionado ela? Ela realmente queria vê-lo novamente? Apesar de tudo, estava certo de ter causado uma boa impressão, adiando, nobremente, a oportunidade de ir para a cama com ela. Poucos o fariam e ela tinha apreciado. Afinal, se realmente estavam começando alguma coisa, teriam todo o tempo do mundo para ficar juntos. Um dia a mais ou a menos não teria feito qualquer diferença.

— Ela apagou a luz — disse o magro em voz baixa, como se tivesse medo de acordá-la. Pegou um grande saco do porta-malas e disse: — Podemos ir.
Os dois, com passo ligeiro, foram em direção à entrada da casa ao lado do hotel, onde haviam alugado um quarto.
— Tem que ser agora — disse o mais gordo. — Ela mantém aquele maldito tablet consigo como se fosse lingerie. A única maneira de conseguir tocar nele é quando ela dormir.
Subiram as escadas devagar evitando fazer barulhos desnecessários. Um clique da fechadura e a porta se abriu, rangendo. O quarto estava cheio de caixas, envelopes e tralha de todos os tipos. Era quase como um armazém abandonado. Um lampadário sujo de poeira depositada ao longo dos anos mal iluminava o ambiente.
— Vamos entrar saltando o divisor entre o nosso terraço e o dela — disse o obeso.
— Vamos entrar? Quer dizer que eu vou entrar — exclamou o outro. — Como você vai conseguir saltar do outro lado com toda essa banha?
— Está questionando minhas qualidades atléticas?
— Não, imagina. Nem em sonho — disse o esguio, com um tom sarcástico. — Chega de besteira e me dê essa corda. Se eu escorregar pelo menos tente me segurar. Não quero morrer despedaçado na calçada desta cidade miserável."
— Não se preocupe, eu vou segurar.
Ele passou a corda em torno da cintura e amarrou-a no corrimão.
— Segura isso — acrescentou, enquanto passava uma pequena arma de tranquilizantes com mira laser. — Uma alfinetada desta coisa e a nossa garota vai dormir como um bebê por toda a noite. A agulha é tão pequena que, na pior das hipóteses, ela vai achar que foi picada por um pernilongo.
O magro subiu no parapeito e com um salto ágil aterrou na varanda do quarto ao lado. Agachou-se o máximo possível e, muito lentamente, se aproximou da grande janela do quarto de Elisa.
Ele olhou para dentro com prudência, espiando entre o batente e a tenda. Mesmo com a fraca iluminação, podia ver que Elisa estava deitado de bruços, com a cabeça virada para o outro lado, de calcinha e sutiã.
Olha só, que belo traseiro! O nosso Coronel tem bom gosto.
Ele inseriu o microdardo cheio do poderoso tranquilizante na arma e colocou o cano na fresta da janela aberta. O pequeno ponteiro laser projetou um ponto vermelho exatamente na nádega esquerda de Elisa. Prendeu a respiração por um instante e puxou o gatilho. Com um som abafado, o dardo partiu e entrou na carne macia dela. Elisa, somente bateu, com a mão esquerda, o ponto onde o dardo entrou como se para afastar um inseto, e logo em seguida, voltou a dormir profundamente.

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