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Mercedes Sosa – Uma Lenda
Anette Christensen
Mercedes Sosa - Uma Lenda, traça a jornada espiritual, política e artística de Sosa, e explora o segredo por trás do significativo impacto gerado por ela. A narrativa traz um perfil psicológico que revela como a criação, circunstâncias políticas e tragédias pessoais moldaram a vida e a carreira de Sosa.
A cantora popular argentina Mercedes Sosa foi uma artista de alto nível, cuja influência foi muito além das fronteiras da música. Apelidada de “A voz dos sem voz”, Sosa foi uma força dinâmica na configuração da América Latina, transmitindo a garra e a chama necessárias para uma mudança cultural, pessoal e política.
Hoje, sua vida permanece como um exemplo de como o poder heróico da voz de alguém é capaz de fazer uma diferença significativa nas questões humanas. Sosa foi uma artista que transformou o sofrimento pessoal em arte e ativismo visando um mundo mais empático e solidário. Sua vida é para todos nós uma inspiração nos tempos conturbados em que vivemos.
Mercedes Sosa - Uma Lenda explora o segredo por trás do significativo impacto gerado por ela e revela como a criação, circunstâncias políticas e tragédias pessoais moldaram sua vida e carreira.
Se gosta de mulheres corajosas e histórias originais de heroísmo, solidariedade e compaixão, então vai amar esta poderosa biografia.
”Uma homenagem sincera e afetuosa que honra a vida da minha mãe” - Fabián Matus, filho de Mercedes Sosa e presidente da Fundação Mercedes Sosa








“Se Mercedes o tivesse abraçado, você jamais esqueceria. Ela tinha o talento de abraçar as pessoas como ninguém mais no mundo; a sensação era sempre a de ter sido abraçado pela própria Mãe Natureza. Ela abraçou a todos nós com sua voz, com essa inigualável voz de bel canto que sempre foi uma expressão pura de sua alma. Nunca houve nada de artificial nessa mulher maravilhosa, essa mulher corajosa, esse ícone de destemida resistência à ditadura militar. Para mim, ela irradiava o que de mais importante há em um grande ser humano: bondade.”
- Konstantin Wecker, cantor e poeta, Alemanha








“Nesta obra, você encontrará uma nova e tocante perspectiva sobre a nossa amada Mercedes. É uma homenagem sincera e afetuosa que honra a vida da minha mãe. Obrigado, Anette, por todo o seu esforço, em nome da Fundação Mercedes Sosa.”
- Fabián Matus, filho de Mercedes Sosa e presidente da Fundação Mercedes Sosa até o seu falecimento, em março de 2019.




Anette Christensen


Mercedes Sosa
Uma Lenda
Um tributo à vida de uma das
maiores artistas da América Latina
(1935 – 2009)

Traduzido por Mariana D'Angelo


Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida em nenhum
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Editora: Tektime
Editores: Daniel Loedel - NY Book Editors e David Larkin
Tradução: Mariana D’Angelo
Capa: © Mariana D'Angelo
Projeto Gráfico: © Tribute2Life Design
Ilustrações de Abertura de Capítulos: © Monica Gaifem
Desenhos Internos: © Anette Christensen
Fotografia da Autora: © Pernille Schmidt
Fontes Utilizadas: Lora e Antonio
(Capa Comum)
(eBook)
Primeiras Edições
Original title: Mercedes Sosa More than a song
Mercedes Sosa-Uma Lenda
© 2020 de Anette Christensen. Todos os direitos reservados.

Dedicatória
Em homenagem a Fabián Matus, filho de Mercedes Sosa, falecido em 15 de março de 2019, menos de dez anos após a morte de sua mãe. Você trabalhou de corpo e alma para sua mãe enquanto estava viva, e talvez ainda mais para estabelecer o legado dela após a sua morte.
Às Avós da Praça de Maio, que mesmo em uma idade avançada, ainda estão ativas na busca pelos filhos roubados de seus pais e entregues aos generais durante a Guerra Suja. Vocês são um exemplo para todos nós, de que idade não é impedimento para mudar o mundo.
Às pessoas que Mercedes Sosa amou e ajudou durante toda a vida. Aqueles que sofrem com o fardo da pobreza, da perseguição, da censura, da tortura e de qualquer forma de injustiça social, como os indígenas, os marginalizados, os oprimidos, os desabrigados, os órfãos, os deprimidos, os solitários e todos aqueles que nunca foram vistos e amados por quem são.
Índice
Prefácio por Maria Rita (#u2265d085-6b49-5b38-817e-a151fb11bebf)
(#u2265d085-6b49-5b38-817e-a151fb11bebf)
Introdução (#u831aaedd-866c-51bb-8e24-6b13131c2dab)
(#u8ee9463b-dd3a-5b46-a8d4-5386f78b0bd4)
Dinamarca, 4 de outubro de 2009 (#ub212b06f-c5b4-5184-8444-583705af6fc4)
(#ub212b06f-c5b4-5184-8444-583705af6fc4)
Buenos Aires, 4 de outubro de 2009 (#uffbcc9ef-1a8b-59ad-ba02-ec247614669e)
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Tempo antes do exílio (#u20ba663f-2ec7-5c8a-986a-0155bccf7365)
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Exílio (#ubadd8d85-fa11-5a81-822b-82b7ebb0cade)
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Tempo depois do exílio (#ufcdde6e1-de76-57e6-8649-813a8bb72a0f)
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Doença e os últimos anos (#u0a34d0a2-5c96-5978-92e7-02c87daa0b4f)
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Conclusão (#ubd461061-e9cc-5f49-b893-7be54eef0e25)
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Epílogo (#u2c3705c8-97d1-5bec-a962-41a6f6f9fdcc)
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Depoimento - Raimundo Fagner (#ue96af09a-4e3d-53fe-bd93-7d8807c445f7)
(#ue96af09a-4e3d-53fe-bd93-7d8807c445f7)
Apêndices (#uf9c3484d-e43b-5685-a241-96f398f588e2)
(#u647e30a1-5498-5b76-9716-175e497a61cf)
Sobre a autora (#u56d67e98-abfe-5dfd-b6c4-9044f225fa60)
(#uc4fd472f-6c08-5646-81bc-629620e6b898)
A Fundação Mercedes Sosa (#ud6ad707b-a210-563b-924d-26adfc5055dd)
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Notas finais (#ua8c00ce2-6e8d-5b63-894c-372dbec5ca00)
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Gravações (#u913fc85e-cddc-5a73-a599-8bca03f2b9ed)
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Fontes (#u4dce362a-9d66-5c56-ba9c-521b714d052f)
Bibliografia (#u54ec5b7d-c218-5ee7-b2a3-7ba47d840225)

Prefácio por Maria Rita
Eu não me lembro quando conheci Mercedes Sosa — de nome, pelo menos, não. Fico provocando minha memória, tentando resgatar um momento que seja — mas o que volta para mim de concreto é a minha própria voz cantarolando “Gracias a la vida”. Eu devia ter uns 14, 15 anos. Foi na época que eu busquei conhecer minha mãe, entender aquela mulher pr’além da cantora: a força, a entrega, a beleza, a inteligência, a sensibilidade, a coragem. Durante esse período alguém me deu algum disco e essa canção (ou seria um hino?) apareceu com toda a profundidade que tem. Me arrebatou. E me despertou para uma outra voz, que também cantou essa mesma canção. A voz de uma mulher também forte, entregue, bela, inteligente, sensível, corajosa. Era Mercedes Sosa.
Quando estudava na NYU (1996 — 2000), fiz “estudos latino-americanos”, além de “comunicação social”, e pude mergulhar um pouco mais na realidade dessas mulheres todas, na realidade de um tempo que há muito tinha ido mas que, por algum motivo, vibrava forte em mim. Construí uma ponte entre essas mulheres à frente do tempo. Destemidas, apesar de tanta sombra. Entendi o papel social da mulher naquele período triste, entendi a fibra da mulher, em especial da mulher latino-americana.
Ouvir Mercedes me trazia um colo, um entendimento do que é ser força, do que é ser arte. (especialmente por que ouvir minha mãe me causava uma dor, uma saudade que nem sempre foi fácil de lidar). Era uma voz que me causava uma emoção inexplicável. Sua versão de “Gracias a la vida”, tão absolutamente diferente da versão de minha mãe, me instigou: como é que Mercedes conseguia trazer tanta doçura e leveza à uma narrativa que, em outra voz, soava como uma demanda, um rasgo na alma?
Tenho para mim que encontrei a resposta no dia que a conheci pessoalmente, na sala de estar do seu apartamento em Buenos Aires. Ela era tudo isso: uma força descomunal saindo de um corpo pequeno, olhos brilhando e me olhando firme, um abraço silencioso que disse tanto. Eu, ali, entendi que Mercedes sabia que nem tudo precisava ser rasgo na alma, e que também podemos fazer revolução com doçura e leveza. Mercedes me trouxe uma calma que eu, honestamente, não imaginei que sentiria diante de tamanha lenda. Mercedes me olhou e me abraçou e me acolheu como quem entende o peso da história, o tamanho de sua contribuição para essa história. Me acolheu com respeito e com saudade. Me observou com generosidade. Mercedes, para mim, é toda essa complexidade que só uma mulher poderia ser. E ela me inspira justamente por isso. Me inspira a ser vida, a ser arte, a ser o olhar adiante. Me inspira a carregar a doçura e o rasgo na mesma alma feminina. Seja em meio à sombra, seja em meio à luz. Cheia, repleta, completa. Gigante!




Maria Rita, Rio de Janeiro, 10 de outubro de 2020
Mercedes Sosa e Maria Rita: Gracias a la Vida, ao vivo (https://www.youtube.com/watch?v=ZMVIpuKaLe4&list=PL5PuhOi-6caSe9qrHR_XJKQhJEZTsxSYw&index=1)

www.maria-rita.com (http://www.maria-rita.com)You Tube (https://www.youtube.com/user/mariaritaoficial)Facebook (https://www.facebook.com/MariaRitaOficial/)Instagram (https://www.instagram.com/mariaritaoficial/)

Introdução
FOI EM 4 DE OUTUBRO de 2009, quando sua morte foi anunciada no noticiário, que eu vi Mercedes Sosa pela primeira vez. Era um curto vídeo onde ela cantava “Gracias a la vida” em um show acústico na Suíça em 1980. A primeira coisa que me impressionou foi sua autenticidade. Eu podia sentir que ela era uma pessoa verdadeiramente íntegra. O que ela expressava parecia estar em completa sintonia com quem ela era. A intensidade e a firmeza em sua voz, o entoar de cada nota e de cada palavra pareciam refletir a minha alma. Sua sensibilidade, profunda paixão, presença marcante e carisma me emocionaram intensamente. Comecei a ver e ouvir Mercedes Sosa na internet e logo me vi completamente imersa em sua vida — um universo de música e amor. Lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto eu a assistia e ouvia suas músicas, e intuitivamente comecei a usar seus olhos como um espelho, refletindo aquilo que eu havia perdido na infância. Em seus olhos encontrei o olhar de uma mãe, um olhar que dizia: “Eu vejo quem você é, e para mim você é maravilhosa”.
Como a descoberta de Mercedes Sosa teve um impacto tão profundo e inquietante em mim, comecei a procurar por qualquer informação que conseguisse encontrar sobre ela. Logo descobri que não era só eu que me sentia revigorada e transformada em sua presença. Ao me aprofundar na vida de Mercedes, descobri que seus fãs muitas vezes se referiam a ela como uma “presença mística”. Isso despertou minha curiosidade em saber mais sobre sua vida pessoal — a relação que tinha com a família, os fãs e os amigos, e também sobre os eventos que moldaram sua vida pessoal e profissional. Eu embarquei em uma jornada para descobrir o segredo por trás de seu enorme impacto e dessa tal “presença mística”.
O que descobri me afetou em vários níveis. Ver como Mercedes lidava com problemas sociais e políticos aumentou minha consciência social. Observar como ela se relacionava com os outros, fossem camponeses ou presidentes, amigos ou inimigos, me tocou profundamente e despertou em mim um desejo de me tornar mais respeitosa e compassiva, e prestar mais atenção aos outros.
Eu sou uma pessoa sensitiva e intuitiva, e sempre busco o melhor nos outros. Às vezes, quando encontro uma pessoa pela primeira vez, meu sexto sentido me diz que encontrei ouro. É uma sensibilidade que me permite sentir a essência de uma pessoa e ver de imediato sua beleza interior. Foi exatamente isso que aconteceu quando Mercedes Sosa apareceu em meu radar. Eu senti que tinha encontrado um tesouro, e quanto mais eu descobria sobre ela, mais convencida ficava de que tinha encontrado uma lenda.
Naturalmente, me interessava em conversar com outras pessoas sobre ela, então perguntava a quem quer que encontrasse se a conheciam, mas nunca tive uma resposta positiva. Perceber que ela ainda era uma figura anônima entre os falantes da língua inglesa, aliado à minha vontade de conhecê-la, aprender sobre ela e me conectar com ela, trouxe-me inspiração para escrever este livro. Lembro-me de estar sentada na escada do lado de fora de casa, olhando para as estrelas, quando essa ideia passou pela minha cabeça pela primeira vez, apenas um mês depois de sua morte.
Escrever este livro tem sido como montar um quebra-cabeça de mil peças, começando com apenas uma e sem saber como seria a imagem completa. Eu estava tão atraída por aquela única peça encontrada, que tinha que procurar pelas outras novecentos e noventa e nove. Eu sou uma pessoa empenhada e extremamente persistente, e o desafio de não ter acesso às fontes em espanhol só aumentou a minha motivação. Os primeiros quatro anos foram uma solitária jornada, já que eu não tinha ninguém com quem pudesse compartilhar minha paixão. Mas isso mudou em 2013, um ano depois de meu marido e eu termos nos mudado da Dinamarca para a Turquia.
Eu voltava da praia quando passei em frente a uma pequena loja, pela qual passo todos os dias. Neste dia em particular notei um lindo vestido em batik turquesa pendurado do lado de fora. Como turquesa era minha cor preferida na época, decidi parar e experimentar. Até então, só tínhamos conhecido duas pessoas turcas que falavam inglês, então quando a moça da loja se aproximou e percebi que ela falava inglês muito bem, fiquei surpresa e muito feliz.
Também fiquei um pouco chocada porque ela parecia muito com a Mercedes Sosa quando jovem. Ela era uma pequena mulher de aparência exótica, com longos cabelos negros e intensos olhos escuros. Além disso, eu identifiquei imediatamente que sua essência era parecida com a de Mercedes. Evidentemente não poderia deixar de fazer a ela a mesma pergunta que fiz a todos que cruzaram o meu caminho nos últimos quatro anos, mesmo sem nunca ter tido uma resposta positiva. Eu perguntei: “Você conhece a Mercedes Sosa?”
Sua resposta fez meu coração acelerar. “É claro que eu conheço, eu adoro ela!”
Quando eu disse que estava escrevendo um livro sobre a Mercedes, ela ficou animada, falou que queria ler e até mesmo vender o livro em sua loja. Ela disse também que trabalhou a maior parte da vida na indústria literária na Turquia e que se interessava em traduzir o livro para turco. Eu ainda não tinha acabado quando nos conhecemos, mas encontrá-la me incentivou a terminar e publicar o livro. Foi o começo de uma amizade muito especial, e acredito que foi a maneira que a vida encontrou de me encorajar a seguir com o projeto.
Ao escrever este livro, entrei em contato com a família de Sosa, na Argentina, com a esperança de obter informações sobre a vida dela e também a aprovação deles para este projeto de documentação de sua vida, infância, carreira na música e o ambiente sócio-político em que viveu. Sinto-me muito feliz com a aprovação deles no estágio inicial do livro e também que tenham achado interessante minha abordagem psicológica.
Além disso, conversei com alguns fãs e amigos pessoais de Mercedes Sosa e incluí também suas histórias. Através da minha conexão com pessoas da América Latina no Facebook, onde tenho atualmente mais de 16.000 seguidores, comecei a entender a profunda afeição de Mercedes Sosa por seu povo. Os latino-americanos se tornaram muito especiais para mim também, e seu carinho, apoio e incentivo tocaram meu coração.
Não considero este livro uma biografia completa de Mercedes Sosa — é mais propriamente um perfil pessoal dela. Eu usei minha imaginação em alguns trechos para preencher lacunas sem reduzir a credibilidade da história como um todo. Essas passagens estão listadas nos apêndices. Lá também explico como usei uma abordagem empática para conhecer Mercedes bem o bastante para escrever este livro sem ter acesso às fontes em espanhol.
Talvez você se pergunte o porquê do meu empenho em descrever a situação política na América do Sul. Através da Mercedes eu me afeiçoei pela América do Sul e percebi que o continente é muito negligenciado pela mídia fora dos países de língua espanhola. Como disse certa vez o cantor cubano Pablo Milanés, amigo de Mercedes, é impossível contar a história da América Latina sem mencionar Mercedes Sosa. Acredito que o oposto também seja verdade. É impossível falar de Mercedes Sosa sem mencionar esse conturbado mas vibrante continente, ao qual Mercedes se dedicou sua vida inteira. Refiro-me à América do Sul como o continente no hemisfério ocidental constituído pelos países e ilhas ao sul do Panamá. Uso América Latina como entidade cultural de nações de línguas espanhola e portuguesa em ambas as Américas.
Em meu canal no YouTube, Mercedes Sosa – The Voice of Hope, você encontrará uma playlist com muitas das músicas e acontecimentos que descrevo no livro. Ao deparar-se com eles, recomendo visitar o canal para ter uma melhor compreensão do que está sendo descrito.
Estou feliz por, após quase dez anos analisando, ouvindo, assistindo, pesquisando e escrevendo, poder finalmente apresentar a você esta incrível mulher, que influenciou um continente inteiro usando seu talento inigualável e sua personalidade marcante, e que mudou a minha vida mesmo após a sua morte. Em Mercedes Sosa – The Voice of Hope, poderá saber mais sobre minha jornada pessoal com Mercedes, onde conto como curei feridas emocionais ao me relacionar com ela como uma mãe. Acredito que minha história, assim como as perspectivas científicas que sustentam minha experiência, podem ser úteis para qualquer pessoa que esteja se sentindo presa a experiências limitadoras, devastadoras ou atormentadoras do passado. Esta edição foi publicada para marcar o 10º aniversário da morte de Mercedes Sosa e contém apenas a parte biográfica do livro original.
Escrevi este livro por profundo respeito a Mercedes Sosa e a tudo o que ela representa. Esta é minha canção de amor a Mercedes Sosa. Em sua voz, a vida se transforma em uma canção com o perfume da esperança (https://www.youtube.com/watch?v=1BSdK3YTkxA&list=PL5PuhOi-6caR5wHIxHNztgxvP8OlgdkSm&index=14), tão doce e belo quanto as flores que crescem nos caminhos daqueles que olham para o futuro. Sua voz representa uma mulher que, por sua vez, representa sonhos, ideais e um amor que vai muito além das fronteiras da música.
Mercedes Sosa foi mais do que uma canção. Ela foi a voz da esperança para muitos. Que este livro amplifique sua voz e a esperança que ela despertou.













“As pessoas mais belas que conhecemos são aquelas
que conheceram a derrota,o sofrimento, as dificuldades, as perdas, e encontraram o caminho para fora das profundezas. Essas pessoas têm uma apreciação, uma sensibilidade e uma
compreensão da vida que as enche de compaixão, gentileza
e uma profunda preocupação amorosa. Pessoas belas não surgem ao acaso.”
Elisabeth Kübler-Ross (http://www.goodreads.com/author/quotes/1506.Elisabeth_K_bler_Ross)

Dinamarca,
4 de outubro de 2009
“A cantora argentina e heroína popular Mercedes Sosa morreu devido à falência múltipla dos órgãos após ter sido internada em um hospital em Buenos Aires há três semanas. Sua carreira se estendeu por mais de seis décadas e ela gravou mais de quarenta álbuns, fazendo apresentações no mundo todo. Sosa foi o ponto de referência de resistência para muitos argentinos durante o período da ditadura e, através de suas canções, deu vida ao movimento de protesto entre a classe trabalhadora, o que levou ao colapso da junta militar em 1983. Mercedes Sosa ficou famosa na Europa no período em que viveu exilada na Espanha e na França, de 1979 a 1982. Ela viveu até os setenta e quatro anos de idade.”

ÉUMA NOITE de domingo e me sento para assistir ao noticiário com meu marido. Junto com o relato sobre a morte de Mercedes Sosa, um curto vídeo é exibido na tela da TV, mostrando uma linda mulher de longos cabelos negros. Ela usa um vestido preto com um poncho andino vermelho por cima. Com uma paixão extraordinária e uma voz marcante e comovente ela canta uma canção, “Gracias a la vida” (https://www.youtube.com/watch?v=bcrjPkQEDSE&list=PL5PuhOi-6caR5wHIxHNztgxvP8OlgdkSm&index=3&t=0s) (Graças à vida). Fico encantada com sua autenticidade e carisma, e não demora até perceber que estou assistindo a uma mulher verdadeira e sincera, tão pura e extraordinária que começo a questionar-me por que não tinha ouvido falar nela até agora. Como se nada mais importasse, levanto-me para usar a internet e descobrir mais sobre ela. Aparecem numerosos links do YouTube. Começo a assistir e a ouvir.
No primeiro vídeo, Mercedes canta gloriosamente “Zamba por vos” (https://www.youtube.com/watch?v=B3tWo10z-W4&list=PL5PuhOi-6caR5wHIxHNztgxvP8OlgdkSm&index=3) (Zamba para você), com o quarteto folclórico argentino Los Chalchaleros. Radiante e graciosa, como um abraço gentil, Mercedes sobe ao palco com um sorriso reconfortante nos lábios e os olhos brilhando de entusiasmo. Em meio a intermináveis aplausos, ela cumprimenta os membros do conjunto, envolvendo-os em calorosos abraços. Ela então se volta para o público e, calmamente, começa a cantar em sua voz de contralto — intensa, agradável e suave.
O segundo vídeo a que assisto é “Todo cambia” (https://www.youtube.com/watch?v=g8VqIFSrFUU&list=PL5PuhOi-6caR5wHIxHNztgxvP8OlgdkSm&index=4) (Tudo muda), gravado em 1993 no Festival de Viña del Mar, no Chile. Vestida de preto da cabeça aos pés, ela aparece mística e monumental, soando tão poderosa e convincente quanto aparenta. Conforme conquista o palco, dando passos de dança latino-americana enquanto balança a echarpe sobre sua cabeça, sinto emanar dela uma enorme energia. Vejo uma pessoa dinâmica e determinada, sem medo de expressar seu verdadeiro eu. Seu olhar carinhoso e sincero, embora firme, cativa-me e sinto como se ela estivesse, através da tela do computador, olhando diretamente para minha alma. Há algo nela, uma “presença mística”, que alcança as partes mais íntimas do meu ser e me toca profundamente. Lágrimas escorrem pelo meu rosto quando percebo que achei algo que sempre esperei encontrar.
Instintivamente compreendo que ela é uma cantora com uma mensagem e uma missão. Eu quero descobrir quais são.

Buenos Aires,
4 de outubro de 2009
EM SEGUIDA AO anúncio oficial da presidente, que marca o começo de três dias de luto nacional, as bandeiras são hasteadas a meio mastro por toda a Argentina. Ao redor do país, concertos e shows programados para esse período são cancelados e condolências de chefes de estado — da América Latina e do resto do mundo — não param de chegar.
“La Negra” (A Negra), como era carinhosamente chamada por causa dos cabelos pretos e sua ascendência andina do norte da Argentina, repousa serenamente em seu caixão na sala mais formal do Congresso, o Salón de los Pasos Perdidos, honra reservada apenas aos mais notáveis ícones nacionais. Na Avenida Callao, rua que leva ao Congresso, admiradores fazem fila para prestar homenagens.1 (#u4dce362a-9d66-5c56-ba9c-521b714d052f)
Nos Pasos Perdidos, coroas de flores luxuosas enfeitam o impressionante hall de mármore. Lustres imensos e enormes velas iluminam a penumbra do amplo salão, com o caixão aberto posicionado bem ao centro. A presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, acompanha a família de Sosa enquanto prestam condolências à cantora. A família, incluindo o filho de Mercedes, Fabián Matus, e os dois netos, Agustín e Araceli, mantém-se próxima, com os braços entrelaçados como em um meio abraço, enquanto Cristina acaricia a mão sem vida de Mercedes Sosa. Néstor Kirchner, ex-presidente e marido de Cristina, permanece ao seu lado, discreto e com um olhar atento.
A população também está presente. Respeitosamente, um crescente grupo de pessoas passa pelo caixão aberto (https://www.youtube.com/watch?v=uzaQQ1lPe2U&list=PL5PuhOi-6caR5wHIxHNztgxvP8OlgdkSm&index=4) onde ela jaz com seu vestido azul bordado. Os longos cabelos negros, que aos 74 anos não têm um único fio grisalho, emolduram a face serena com maçãs do rosto salientes. As mãos, cuidadosamente dobradas em seu ventre, envolvem um buquê de rosas brancas. O cantor Argentino Luna toca suas músicas enquanto fãs chorosos cantam em coro e se revezam para levar flores ao ataúde.


5 de outubro de 2009
OS FAMILIARES próximos de Fabián e Mercedes seguem o caixão de madeira marrom que é levado ao carro funerário estacionado do lado de fora do Congresso. Multidões de todas as idades se juntam na Avenida Rivadavia para assistir à partida de sua última viagem, do Congresso ao crematório. Estão todos unidos em um momento histórico para a Argentina, que ultrapassa diferenças políticas e sociais.
A procissão de carros funerários passa vagarosamente. Pelo caminho, muitas pessoas carregam cartazes com dizeres carinhosos sobre Mercedes. Um velho revolucionário, em seus sessenta anos, segura uma faixa que diz: "Obrigado pela sua vida e pela sua luta”. Várias pessoas são vistas aplaudindo e acenando à bandeira argentina com honroso entusiasmo. Os jovens cantam animadamente várias e várias vezes “Olé Olé Olé Olé, Negra Negra”, como se fosse a seleção voltando após vencer um campeonato de futebol. Em praticamente todas as esquinas, grupos de pessoas munidas com diferentes instrumentos começam a cantar. Uma linda melodia ecoa pelas ruas de Buenos Aires — música que por décadas trouxe esperança e conforto, desafiando a ditadura e apoiando a democracia.
É um dia de tristeza que toca profundamente a alma argentina. A heroína popular nacional, a mãe da nação, está morta. Mas o que ela proporcionou através da sua vida e sua música nunca morrerá. Continuará existindo para sempre.
A procissão deixa lentamente o Congresso. Os primeiros carros levam as flores. O último leva o caixão.



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